A própria piada da vida adulta

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César, pai de uma criança de quatro anos e casado com Marta, apresenta um perfil significativamente comum e padrão sociável. Pai, casado, assalariado, quita suas dívidas e estão todas em dia, apresenta uma vida de adulto bem típico. Era habitual nos dias rotineiros de César, no trajeto da sua casa até a escola do seu filho João, acontecer diálogos breves, mas complexos entre o filho e o pai, pois a criança gostava de dialogar com ele. A partir disso acabava levantando muitos questionamentos que para a criança eram simples, mas para o pai, geram ponderações intensas. 

Quando isso acontecia, o pai acabava desconversando e distraía a criança com outro assunto ou alguma brincadeira que inventava de última hora. Depois, deixava a criança na escola e tentava refletir sobre, mas terminava os questionamentos angustiados. Muitas vezes, preenchia seus pensamentos com outros conteúdos menos complexos, como o rendimento do seu jogador predileto de futebol preferido no último jogo do seu time. 

Em um desses episódios, a criança começou a falar que na escola, tinha conhecido dois novos amigos e que eles estavam se divertindo bastante nas aulas durante alguns intervalos e no recreio. Seu pai, curioso, perguntou do que brincavam. Ele disse inocentemente: 

-De boneca pai, e de carro, e de salão de beleza, e de futebol…

Seu pai, um pouco assustado com a resposta pois não esperava que seu filho tivesse essa iniciativa, de brincar de boneca ou afazeres sujeitos socialmente a mulheres, perguntou pacientemente:

-Filho, quem te ensinou a brincar dessas coisas? 

Fonte: encurtador.com.br/apzN7

 

A criança espontaneamente respondeu:

-Ué, você papai, me ensinou tudo! Os meus amigos começaram a brincar de vida adulta, imitando os pais, e eu resolvi te imitar. 

O pai, cada vez mais curioso e preocupado com o que as pessoas iriam pensar a seu respeito, já que o meio no qual estava inserido assim como a sua criação eram machistas, perguntou já um pouco alterado:

-Mas desde quando nós brincamos de boneca, de ir ao salão, de fazer comida, filho?!

A criança prontamente respondeu:

-Papai, você faz tudo com a mamãe. Ela pede pra vc ir deixar ela no salão e você me leva e fala que vai brincar de boneca, porque você fica lá com ela. Ela te chama para cozinhar e então você brinca de comidinha comigo e com ela. E no futebol também papai. Eu fiz algo de errado, papai?

A criança já tinha reparado a mudança brusca no humor do seu pai e se intimidou com sua reação, se expressando com uma feição de choro e de arrependimento. Seu pai, que ouviu e ficou perplexo, ao mesmo tempo ficou constrangido pois a resposta da criança a partir da sua concepção infantil fazia total sentido. Reconhecendo isso, abraçou seu filho, o acalentou e falou amorosamente a ele:

-Não meu filho, não fez nada de errado. Pelo contrário, você foi bastante criativo! E gostaram da brincadeira?

Fonte: Google Imagens

 

A criança respondeu que sim e riu com certo alívio, em seguida detalhou cada vez mais as brincadeiras, assim como a participação dos seus coleguinhas. Contudo, seu pai já não estava mais prestando atenção e se concentrou na resposta do filho, que ainda ressoava em seus pensamentos. 

Percebeu, como se fosse uma explosão em seu cérebro, que já não era tão machista assim como era no início do casamento. E que com a chegada do filho, ficou menos ainda. Concluiu que toda sua criação, que a separação de papéis sociais por gênero era uma eterna piada para as crianças e se sentiu um bobo perto do filho. Riu de si mesmo como uma piada ruim e deixou seu filho na escola.

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‘Bao’ e o crescimento que se impõe com a força da vida

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Concorre com 1 indicação ao OSCAR:

Melhor animação.

Em situações recorrentes, os filhos são educados e preparados para experimentarem autonomia e, chegada a maturidade, saírem de casa e cuidarem de suas próprias vidas.

O curta metragem de animação Bao, vencedor do Oscar deste ano em sua categoria, é dirigido por Domee Shi e aborda de modo terno e emocionante o delicado tema da ‘Síndrome do Ninho Vazio’, problema psicológico que acomete inúmeros pais – sobretudo mães – ao redor do mundo.

Bao foi lançado pela Disney através da Pixar. A exibição, de modo inicial, ocorreu paralelamente aos ‘Incríveis 2’ e, de saída, já era o favorito para levar a estatueta mais cobiçada do cinema. Tem duração aproximada de 8 minutos e relata a estória de uma mãe que sofre com o ‘ninho vazio’ após seus filhos saírem de casa, num movimento natural rumo à independência.

De modo bastante criativo e com a assessoria de sua mãe, a diretora Domee Shi dá vida aos bolinhos artesanais produzidos pela mãe/personagem do curta. Neste sentido, quando a vida eclode em um dos bolinhos, a experiência da maternidade é colocada novamente diante da genitora e, similarmente ao que já havia ocorrido com os outros filhos, esta mãe é convidada a perceber que, no passar do tempo, a vida impõe o seu próprio ritmo e as ‘crias’ – mesmo as mais ‘doces’ e, eventualmente, apegadas – acabam por buscar a própria independência e identidade. Foi isso o que ocorreu com o bolinho artesanal. Ele cresce, se envolve com outras pessoas e não quer viver sob a influência exclusiva dos pais. Até desenvolve certa rejeição pela família nuclear – o que, em linhas gerais, ocorre com parte dos jovens em situação similar.

A mamãe da animação, então, vivencia e atualiza as mesmas frustrações e desencontros, o que causa profundo sofrimento psíquico. Este fenômeno abordado no curta metragem é a famosa ‘Síndrome do Ninho Vazio’, que em psicologia é caracterizada como um estado psicológico perturbador – patológico, quando associado a quadros depressivos –, marcada por sentimentos de tristeza e desânimo (sobretudo por parte da mãe) diante do processo de amadurecimento e independência dos filhos.

Foto: https://www.collater.al/en/bao-pixars-short/

Em situações recorrentes, os filhos são educados e preparados para experimentarem autonomia e, chegada a maturidade, saírem de casa e cuidarem de suas próprias vidas (conseguir emprego, relacionar-se afetivamente, constituir família, etc.). Alguns pais, no entanto, ao perceberem que dedicaram boa parte de suas vidas para os filhos, sem que tivessem a oportunidade de criar novos papeis para suas vidas, têm dificuldades de aceitar este processo de separação. Como já pontuado anteriormente, este movimento acomete, sobretudo, as mães, notadamente num cenário sociocultural de enfraquecimento da imago paterna, que pela Psicanálise edipiana é tradicionalmente vinculada a figura daquele que se responsabiliza por ‘acelerar’ a entrada dos filhos na dimensão pública (de enfrentamento do mundo).

Alguns dos desdobramentos da ‘Síndrome do Ninho Vazio’ abordados na animação e que, de fato, acometem muitas mulheres são distúrbios do sono, depressão, melancolia, raiva, distúrbios alimentares e diminuição da libido. Também há casos na literatura psicanalítica – no que se refere às fases do desenvolvimento humano e da psicologia das relações familiares – de pais que acabam por entrar num período de crise, após a saída dos filhos. Isso ocorre porque muitos casais giram em torno das demandas dos filhos e, na ausência destes, não conseguem reavaliar e ressignificar a própria relação. É neste momento que, em alguns casos, percebem não haver mais nenhum projeto em comum entre eles. É como se, inconscientemente, o vínculo marital só sobrevivesse à garantia da educação e independência dos filhos.

Para superar o ‘luto’ da saída dos filhos e a ‘Síndrome do Ninho Vazio’, a maioria das correntes teóricas da Psicologia prescrevem que é necessário reconhecer a naturalidade da saída dos filhos – isso pode ocorrer com a ajuda de um processo psicoterápico –, ao se debruçar sobre o fato de que a fase de proteção já passou. Algumas técnicas são aliadas poderosas deste processo, como a prática de atividades físicas, o engajamento no trabalho, em serviços comunitários e no próprio relacionamento afetivo, além da busca por atividades que reforcem o autodesenvolvimento e o desenvolvimento espiritual.

Fonte: https://goo.gl/NDmuu9

Os filhos de pais que desenvolvem a ‘Síndrome do Ninho Vazio’, de acordo com a literatura especializada, tendem a fazer um movimento de afastamento e de atrito em relação aos progenitores. Isto porque observam que o próprio princípio da liberdade está em crise, e em alguns casos passam a culpar os pais pelas suas demandas mais elementares, para a idade, como eventuais dificuldades para estabelecer vínculos e/ou outras inadequações que consideram ser fruto do processo de criação. Mais à frente, já como adultos, muito provavelmente estes filhos terão que se reconciliar com as imagos paternas e maternas, sob pena de carregarem um mal estar que pode interferir de modo negativo em suas ações cotidianas.

E é justamente neste cenário de resgate dos afetos que ocorre o desfecho de Bao, a partir de um enredo poético e emocionante em que mãe e filho se reconciliam, depois do tempo necessário para que a compreensão chegue e a cura se instale. O curta faz jus ao Oscar pela qualidade e função pedagógica que exerce. Um modo criativo de abordar um tema atual e desafiador.

FICHA TÉCNICA:

BAO

Título original: Bao
Direção:
Domee Shi
Elenco: Daniel Kailin – TV Son – e Sindy Lau – Mom
Ano: 2018
País: EUA
Gênero: Animação

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Em “O menino feito de blocos”, autor se inspira na própria vida para contar história de reconexão com o filho autista graças ao Minecraft

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No texto “A verdadeira história por trás de ‘O menino feito de blocos’”, Keith conta como a experiência de sua família inspirou a trama. Leia no Blog da Record: bit.ly/KeithStuart.

Keith Stuart virá ao Brasil em dezembro para falar sobre o assunto na Comic Con Experience. O autor participa da mesa “Games como conexão com mentes especiais”, no dia 3 de dezembro, às 15h30.

O jornalista britânico Keith Stuart é editor de games do jornal The Guardian e, portanto, acostumado a ter uma série de jogos e consoles espalhados pela casa. Zac, o filho de Keith, é autista. Aos 6 anos, ele descobriu o Minecraft, e a relação do menino com o jogo foi uma revelação para a família: a nova experiência o ajudou a se expressar e, principalmente, fez com que os pais entendessem melhor quem ele era. A história da vida real é a inspiração para o romance “O menino feito de blocos”, que chega às livrarias pela Record no fim de novembro.

Na trama, Keith conta a história de Alex, um homem que incorpora perfeitamente o sentimento de “estar perdido”. Casado há 10 anos com Jody, ele é o pai de Sam, um menino autista de 8 anos. Alex nunca soube lidar com o filho. Para se afastar de todo o choro, dos ataques de fúria e das reações inexplicáveis, se afundou num trabalho burocrático do qual nem gosta. Sua ausência deixa o casamento por um fio, e Jody decide que os dois precisam de uma “separação experimental”. Não ajuda muito o fato de Alex ainda guardar um trauma de infância: a morte de seu irmão mais velho, George, quando eram crianças.

Agora, Alex está vivendo no colchão inflável do melhor amigo e precisa dar um jeito de se reerguer. E, ele logo percebe, grande parte disso passa por conhecer de verdade o próprio filho. Um dia, por acaso, os dois começam a jogar Minecraft.  O jogo é uma espécie de Lego mais elaborado e online, onde é possível construir mundos com blocos feitos de materiais diversos. Naquele ambiente, Sam se ilumina e se expressa como nunca fez antes. Ali, no “Mundo do Sam e do Papai”, como eles batizam sua criação, eles vão trabalhar juntos e se conectar de uma forma que acaba influenciando também a vida real, para além do virtual.

Keith narra com sensibilidade a jornada de Alex, um personagem que reflete de forma muito verdadeira algumas das angústias comuns aos adultos contemporâneos. Sua experiência também permite uma sinceridade tocante ao falar sobre as dificuldades de lidar com uma criança com autismo, e as delícias de conseguir criar uma relação verdadeira com os filhos.

O autor virá ao Brasil para participar da Comic Con Experience.  Keith vai conversar com o apresentador Marcos Mion (que também tem um filho autista) e com o quadrinista Flavio Soares, que escreve uma história em quadrinhos sobre sua relação com o filho que tem síndrome de Down.

TRECHOS:

.“Enquanto trabalhamos, me dou conta de uma coisa. Em geral, quando brincamos juntos – nos preciosos momentos em que ele está disposto a se concentrar –, o que experimentamos é uma solidão compartilhada: ou eu observo, ou o guio, ou me preocupo com ele. Ou, quando brincamos com blocos de montar ou de LEGO, eu faço alguma coisa com a qual ele brinca por alguns minutos ou simplesmente a destrói. Mas aqui, por algumas horas, estamos trabalhando como se fôssemos um só – bem, contanto que eu faça o que tenho de fazer. Mas esse é outro ponto positivo. Nesse universo, onde as regras são precisas, onde a lógica é clara e infalível, Sam está no controle.”

.“Típico da Jody – ela sempre conseguiu explicar o mundo para o Sam, converter as experiências dele em uma linguagem que ele utiliza e entende. Isso é algo que vivo esquecendo – que, de várias maneiras, ele é um turista no nosso mundo, um viajante desorientado sem noção das peculiaridades e dos costumes do lugar. Ela é o Google Tradutor dele. Enquanto eu paraliso, recuo e me retiro, Jody o pega pela mão e o guia. Eu sou um merda. Tenho que parar de ser um merda.”

.

Keith Stuart é editor de games do jornal britânico The Guardian e escreve sobre o assunto desde 1995. Ele recebeu enorme retorno, de diversos pais com experiências semelhantes, depois de contar sobre sua dinâmica com o filho autista no jornal. A repercussão acabou rendendo um convite da editora inglesa para que escrevesse “O menino feito de blocos”.

FICHA TÉCNICA

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O MENINO FEITO DE BLOCOS

Autor: Keith Stuart

Tradução: Ana Carolina Delmas

Páginas: 378

Editora:  Record

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Pai que participa da criação dos filhos gera filhos mais educados e felizes, diz estudo.

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Um relatório recém-divulgado por uma organização ativista defende a ideia de que filhos se tornam mais educados e felizes quando seus pais participam ativamente da criação das crianças. A interação do pai também é importante para o desenvolvimento da empatia e as habilidades sociais.

O relatório (“O Estado dos Pais do Mundo“, em tradução livre) foi o primeiro publicado pelos ativistas da MenCare e tem 288 páginas, analisando quase 700 estudos de vários países onde este tipo de informação está disponível.

De acordo com a pesquisa, “quando os homens assumem um papel de ‘cuidador’, pesquisas mostram que o envolvimento do pai afeta a criança da mesma forma que o envolvimento da mãe. O envolvimento dos pais foi ligado a um maior desenvolvimento cognitivo e melhor desempenho na escola, mais saúde mental para meninos e meninas e taxas menores de delinquência entre os filhos.”

O relatório ainda afirma que os próprios pais são beneficiados quando se envolvem na educação de seus filhos, com melhoras na saúde física e mental.

“Homens que têm um envolvimento profundo com os filhos relatam que este relacionamento é uma das mais importantes fontes de bem-estar e felicidade. (…) Pais que relatam conexões próximas e não violentas com os filhos vivem mais, têm menos problemas de saúde mental ou física, são menos propensos ao abuso de drogas, mais produtivos no trabalho e relatam ser mais felizes do que os pais que não relatam esta conexão com os filhos”, afirma o relatório.

Ilustração: Álbum Pé de Pai. Autor(es) Isabel Martins, Bernardo Carvalho (Ilustrador). Editora Planeta Tangerina. S. Pedro do Estoril, 2006.

O Assistente de Compras Pedro Garcia, pai da Cecília de 12 anos e do João Pedro de 3 anos, afirma ter uma ligação muito forte com seus dois filhos, apesar de morar apenas com o filho mais novo.

“Convivo diariamente com o menino. (…) Participo de qualquer decisão relacionada a sua criação. Tenho uma ligação muito intensa com ele. Brincamos, assistimos TV, saímos a rua, dou banho, comida, bronca. Mesmo que eu não tenha com a Cecília o contato diário que tenho com o João Pedro, consigo manter o mesmo respeito, admiração e carinho. Além de ter construído ao longo dos anos uma excelente relação, falo com ela diariamente, somos amigos e confidentes”.

Ainda segundo Pedro, é preciso pique para acompanhar o ritmo das crianças, por isso os pais acabam sendo beneficiados também, física e mentalmente.

“Lidar com as crianças demanda energia e disposição. Eles nunca se cansam! Direta ou indiretamente você acaba se exercitando. Os benefícios mentais são tantos! Sinto muito mais os benefícios mentais que os físicos”.

Outro dado relevante abordado pelo estudo é que pais mais envolvidos permitem que mulheres e meninas consigam atingir seus potenciais completos, no presente e para as futuras gerações.

“Globalmente, as mulheres ganham, em média 24% menos do que os homens, em grande parte devido à carga maior no trabalho de cuidadoras. Ao dividir o (trabalho) de cuidadores e o trabalho doméstico, homens dão apoio à participação das mulheres na força de trabalho e à igualdade das mulheres em geral.”

Segundo o relatório, o maior envolvimento dos pais nas tarefas domésticas e cuidado com os filhos influencia gerações futuras, levando as filhas a escolherem mais carreiras consideradas masculinas e que pagam melhores salários e os filhos a encararem com mais naturalidade trabalhos domésticos.

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Diálogos (Contemporâneos) – Entre Pai e Filho

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CAPÍTULO I

– Filho, que tal um cinema amanhã?

– Ah pai, não vai dar, meu ritmo tá uma loucura. Escola de manhã, educação física à tarde, aula de inglês, academia, personal trainer; e à noite, estudar para o ENEM três vezes por semana…

– Pô filho, que e isso? Você tem 15 anos! Pega leve!

– Leve, pai, pirou? Tô estressadíssimo! Você já viu a concorrência? Não tenho tempo para vacilar. Se piscar, fico pra trás! Aliás, queria te pedir pra me arrumar consulta com uma nutricionista, pode ser?

– Estressadíssimo? Ficar pra trás? Nutricionista, pra que?

– Preciso regular minha alimentação e saber certinho quais os nutrientes adequados para ganhar massa magra no treino.

– Mas do que você tá falando, moleque? Que nutrientes? Que massa magra?

Ah, só me faltava essa! Filho, nutriente é pra vaca! Ser humano come comida, pois come também pelo prazer, pela fantasia, desejo, aparência da  comida… Para com essa frescura de massa disso e daquilo e vive rapaz!

– Vai entender, pai! Canso de ouvir que é pra evitar fritura, açúcar,  que devemos ingerir ômega 3, 6; malhar, não beber, não fumar, não engordar, estudar muito… Fui na psicóloga, fono, fisio, no muaythai, no judô; tomo  ritalina, complemento alimentar; não fumo cigarro, um ‘beck’ de vez em quando, muito menos; transar, só de camisinha…E agora você vem e me fala tudo isso?? Pois eu não sou da geração saúde como vocês queriam?

– Pior que é filho! Mas, não precisa exagerar, entende? Você tá parecendo o menino robotizado em1984 de George Orwell que denuncia o pai para o Partido, ou da juventude maoísta que o acusa de gostar de música  clássica… Que horror, que coisa mais pasteurizada e sem gosto que vocês  se tornaram!

– O que você tá falando PAI????

– Nada filho, esquece, tô ficando deprimido com nossa conversa.

– Mas, eu tô fazendo algo de errado?

– Não, nada! Esse é o problema! Queria que você transgredisse um pouco,  ficasse de bobeira sem fazer nada…sabe, sentar na praça com seus amigos, jogar conversa fora, falar de mulher, comer um espetinho na esquina, sei lá, deixar o tempo passar sem compromisso algum.

– Sem chance pai, vou perder tempo, além do que, a praça é ponto de droga e um menino foi esfaqueado outro dia lá. Prefiro ficar jogando no meu iphone  em casa mesmo. E não esquece que comer porcaria é só um dia na semana. Não sabe mais o que é colesterol e gordura trans?

– Deus meu! Temos que parar o mundo. Estamos produzindo imbecis! Escuta  filho, deixa tudo isso pra lá, faz o seguinte, no último fim de semana  deste mês, vamos à praia relaxar e não fazer absolutamente nada, que tal?

– Xi véio, tenho grupo de estudo. Não dá pra faltar.

– Mas que droga moleque! Tem prova de que agora?

– Não é prova, é o grupo que se reúne para estudar pra faculdade.

– Que faculdade, filho? Você tem 15 anos ainda!!

– Véio, 3 anos passam voando!!

– Que merda, depois o véio sou eu! Chega de conversa. Quer saber? Vou tomar uma pinga e dormir. Boa noite filho.

– Toma vinho, pai, tem Polifenol que é bom para o coração.

– Eu mereço…

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Afinal, o que é “SER PAI?”

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Já dizia Camões “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”……… Mas afinal, o que mudou?

Cresci ouvindo a expressão PAI É PAI…e pronto! . Talvez por isso a materialização do conceito de PAI seja tão abrangente e difícil de se pescar com a rede das palavras.

Talvez essa seja a razão do amor enigmático, forte e indecifrável que sinto por meu PAI.

Afinal, sou de um tempo em que os comportamentos diferenciavam-se um pouco da contemporaneidade. Pai era sinônimo de total respeito. Logo, sou do tempo de tomar bênção do pai na hora de acordar, na saída, na chegada e antes de dormir. Por incrível que pareça, quando ligo para meu pai, antes de tudo, peço a bênção. E, estamos em pleno século XXI!

Pai para mim era o chefe da casa. Ele sentava sempre à cabeceira da mesa e trabalhava fora para o sustento da nossa família. A última palavra era sempre a dele, embora minha mãe governasse junto, mas ela fizesse com que ele acreditasse que ele governava sozinho. E o interessante que nos entendíamos tão bem. Digamos que era uma espécie de regime político em que meu pai ordenava, com ajuda de minha mãe nas entrelinhas do poder,e esse status de chefe de família era consentido por todos.

Aprendi com meu pai que “Só se vence na vida pelo trabalho” e que “ O nome de um homem precisa refletir sua dignidade”. E como eu achava meu pai digno e admirável! Uma espécie de Deus da Sabedoria. Pois para mim, meu pai sempre soube todas as respostas. Embora eu nem sempre concordasse com elas.

Alguns, que porventura estejam lendo este texto, talvez não se identifiquem com essa descrição de pai. Infelizmente, nem todos convivem ou conviveram com um pai tão sério e ao mesmo tempo tão amável. Lembro que meu pai nos repreendia com um simples olhar. E quando levávamos bronca, recebíamos a mais cruel de todas as surras, porque as palavras proferidas doíam na nossa alma.

Contudo, esse mesmo pai tão austero tinha a capacidade lírica de nos contar histórias à noite. E como éramos oito filhos, ele contava histórias e depois observava nas camas e redes se todos já estávamos dormindo. Verdadeira educação com disciplina e amor.

Hoje quanta coisa mudou…….

Tomar bênção de pai, muitas vezes, se tornou memória de escritor saudosista.

Mas há mudanças que precisam ser compreendidas. Hoje, desmistifiquei a figura do pai-homem, sempre homem.

O tempo me ensinou que pai é todo aquele que trabalha, leva os filhos à escola, paga as contas, dá a primeira e nem sempre a última palavra, que conta histórias, aconselha, dá bronca. Mas , sobretudo, cuida dos filhos. Veio à minha mente um ditado popular “Pai é quem cria”

Entendo que ser pai não é uma regra, mas uma condição que não tem sexo, idade nem status definidos. Observem quantas MÃES que são PAIS.

Importante é constatar que os papéis podem mudar de personagem. Todavia, o conceito de PAI é insubstituível. Essa afirmativa é uma constatação.

Ser PAI é abstração concreta que se manifesta em todo aquele que aceitar a missão de vida de se tornar EXEMPLO DE AMOR E ADMIRAÇÃO. Modelo de personalidade, trabalho e caráter para seus filhos, que podem não ser biológicos, bastam ser do coração.

Então, independente do tempo e das vontades, SER PAI é SER PAI….e pronto!

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Uma Lição de Amor: a importância do cuidado nas relações parentais

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“Uma lição de amor” é um filme produzido e dirigido por Jessie Nelson, cuja direção permite que seus filmes sejam dotados de um incrível equilíbrio, entre a tensão e o lado cômico que norteia temas tão densos quanto este. O filme narra a história de Sam (Sean Penn) um homem de aproximadamente 40 anos, deficiente mental que luta na justiça pela guarda de sua filha, Lucy (Dakota Fanning), de sete anos.

São poucas as informações sobre a doença de Sam, o que podemos notar é que sua patologia está ligada a limitação da inteligência. Sam possui a capacidade intelectual de uma criança de sete anos, um dos fatores que o faz perder a guarda de Lucy.

Segundo Dalgalarrondo (2008) a inteligência é um conceito fundamental para psicologia, no entanto não há um único conceito para defini-la, o que se pode dizer é que a inteligência pode ser definida como um conjunto das habilidades cognitivas do indivíduo.

Com base na literatura, podemos considerar que Sam possui retardo mental moderado, conhecido também por oligofrenia moderada ou imbecilidade. Isso porque, portadores de Retardo Mental Moderado apresentam (baseando-se em testes de inteligência) um QI na faixa de 35 a 49, o que equivale a idade mental de uma criança de 6 a 9 anos. Apresentando sintomas tais como: desenvolvimento neuropsicomotor lentificado e incompleto (particularmente na linguagem e na compreensão) (DALGALARRONDO, 2008).

Apesar de sua condição mental, Sam tem uma vida normal, sua rotina é como a de qualquer outra pessoa; trabalha durante o dia, cuida de Lucy, sai com os amigos, faz compras e respeita as regras. Destaco aqui que, em casos de retardo mental moderado, a vida completamente independente na idade adulta dificilmente é alcançada. Não se sabe o histórico de vida dele e nem quais foram as condições de tratamento (estrutura, técnicas e supervisão) que ele recebeu. Pelo contexto do filme, podemos associar que o ambiente em que Sam foi criado possibilitou que ele desenvolvesse sua autonomia, podendo levar uma vida normal. É um homem apaixonado por Beatles, sabe todas as músicas e informações sobre a banda, até mesmo o nome de Lucy foi em homenagem a uma música da banda.Cenas assim, em que ele mostra sua paixão pela banda, ou quando está com seus amigos, que permitem que o filme tenha uma leveza e desvia um pouco do drama e tensão pelo quais estão passando Lucy e Sam.

Sam é o único responsável por Lucy, isso porquê a mãe da criança os abandonou logo após o nascimento da menina, ele, no entanto, não deixa de criar Lucy, e recebe a ajuda de alguns amigos (a maioria também com problemas mentais, sendo eles responsáveis pela parte cômica e leve do filme). Aqui associamos a outra característica de indivíduos com retardo mental moderado: apesar de serem desajeitados no contato interpessoal, eles gostam de interagir e estabelecem diálogos sempre.

O drama de pai e filha começa quando uma assistente social julga que Sam é incapaz de criar Lucy, levando em conta seu retardo mental e de que a criança está evitando seu desenvolvimento para se igualar ao pai. A justiça então fica com a guarda de Lucy e a encaminha para a adoção.

Sam ao se deparar com a situação se desespera e decide procurar por um advogado, com a intenção de recuperar a guarda de sua filha. Sabendo que se trata de algo muito difícil ele vai em busca de uma das melhores advogadas da cidade, que é claro, recusa o caso pelo fato de Sam não ter dinheiro para pagá-la. Mas, como quer provar que é capaz de aceitar causas humanitárias, que não trabalha só por dinheiro, Rita (Michelle Pfeiffer) volta atrás e resolve ajudá-los.

A partir daí começa a difícil tarefa de convencer o juiz que Sam é capaz de criar Lucy sem que isso afete seu desenvolvimento.  E não só a vida de Sam se transforma, Rita também aprende muito com seu cliente, principalmente ao que diz respeito a importância da atenção dos pais no desenvolvimento de seus filhos. Ela, por ser uma advogada tão famosa, acaba que deixando o filho sozinho, o que resulta num conflito entre mãe e filho. Quando começa a trabalhar no caso de Lucy, Rita se envolve no caso de maneira que beneficia a todos.

Não podemos analisar uma história, um caso ou um filme de um único ângulo, isso porque não existe somente “um lado da moeda”. “Uma lição de amor” traz além do tema central, outros temas que merecem atenção, que vale a pena serem discutidos e que possibilita muitas reflexões. Existe toda uma crítica por trás dos cuidados que os pais devem ter com seus filhos e da importância da participação dos pais no desenvolvimento dos filhos: atenção, carinho, amor, proteção, ensinamentos (regras, deveres, direitos). Podemos perceber também uma crítica em relação a forma como limitamos as pessoas portadoras de transtornos mentais. Será que realmente damos à elas autonomia suficiente? Por que um pai com deficiência mental não pode ajudar na criação de seus filhos?

Sam, durante toda sua luta pela guarda da filha, tenta de todas as maneiras provar que dentro das suas limitações é capaz de cuidar da filha, e é isso que ele mais gosta de fazer. É capaz de esquecer qualquer outra coisa, menos o que ajuda a criança a dormir quando está com dificuldades de “pegar no sono”. São detalhes pequenos, mas que, quando somados, mostram a grandiosidade e incrível capacidade de Sam de criar sua filha.

O que todos julgavam em Sam era se ele tinha capacidade de criar Lucy sozinho, mas ninguém se atentou que ele não queria essa exclusividade, a única coisa que Sam desejava era cuidar de Lucy. “O amor de Sam pela filha e a sua vontade de criá-la, nos faz refletir sobre até que ponto o ser humano é julgado por causa de seu estereótipo (FERNANDES e LEDUC. 2009, s/p)”.

Assim, o filme acaba por trazer, mais uma vez, a importância de se observar, de prestar mais atenção no “olhar para o outro”, mas de forma completa, sem pré-conceitos. Buscar entender o que o outro quer e espera, para depois obter alguma conclusão, se é que existe uma única conclusão.

“A inocência, a sinceridade e a bondade do personagem Sam nos transmite que tudo é possível quando há amor! A importância desse sentimento é demonstrada por uma das falas da personagem Lucy: “Tudo o que eu preciso é amor!”  (FERNANDES e LEDUC, 2009, s/p).

 

 

FICHA TÉCNICA

UMA LIÇÃO DE AMOR

Título Original: I’ am Sam.
Gênero: Drama
Direção:Jessie Nelson
Roteiro: Jessie Nelson, Kristine Johnson
Elenco: Brad Silverman, Dakota Fanning, Dianne Wiest, Doug Hutchison, Eileen Ryan, Janet Adderly, JennaBoyd, Joseph Rosenberg, Laura Dern, Loretta Devine, Michelle Pfeiffer, Richard Schiff, RussFega, Scott Paulin, Sean Penn, Stanley DeSantis, Wendy Phillips, Will Wallace
Produção: Richard Solomon
Fotografia: Elliot Davis
Ano: 2002

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