A Pedagogia da Circularidade na Psicologia e na Educação

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Tendo como base a obra “Pedagogia da Circularidade Afrocênica: diretrizes metodológicas inspiradas nas ensinagens da tradição do Candomblé Congo-Angola” de Ferreira (2019) abordaremos neste texto sobre a Pedagogia da Circularidade e a sua aplicabilidade.  Para o autor, a concepção de circularidade permeia a experiência humana ao considerarmos o desenvolvimento por meio de ciclos de aprendizagem. Esses ciclos não se fecham em si mesmos; ao contrário, mantêm-se em constante movimento, persistindo mesmo após a morte, sem encontrar um ponto final definitivo. Se traduzindo em algo que está atrás de nós, e não pode ser visto pelos nossos olhos, é facilmente decifrado pelos nossos corpos, os quais detém a faculdade de ver, ouvir, sentir e falar, sem mesmo que eu precise usar os meus órgãos do sentido.

Quando citamos a Pedagogia da Circularidade devemos lembrar que ela tem consigo a inspiração na cultura Bantu e no cotidiano do Unzó ia Kisimbi ria Maza Nzambi. Para eles, a filosofia seguida é a Ubuntu, na qual parte do princípio da horizontalizações das interações sociais, políticas e culturais; acesso universal a essas esferas. Assim, a existência individual torna-se viável apenas ao reconhecermos a diversidade e a presença do outro. No qual se crê que “Tudo está e é movimento. Nada é estável, nem fechado. As conexões gerais são possíveis, desde que horizontalize e permita o acesso de todos”.

Ao pensar na Pedagogia da Circularidade é evidente ter em mente que ela sirva como base para reflexão sobre as práticas de ensino em todos os níveis, abrangendo desde a educação infantil até o ensino superior. Em resumo, a Pedagogia da Circularidade busca estruturar orientações metodológicas que ponderam sobre as ensinagens afrodiaspóricas. Essas, compreendidas aqui como processos de ensino-aprendizagem inspirados em contextos como o terreiro de candomblé, bem como em práticas tradicionais como a capoeira, o Congado, o Samba de Roda, entre outros, se diferenciam das práticas convencionais da educação oficial brasileira. Educação esta que considera o indivíduo como produtor de conhecimento, ativando 229 sua ancestralidade por vezes oprimida pela colonialidade, estimulando-o a integralizar o mundo em todas as suas esferas, costurando.

Desse modo, ele integra o entendimento de alguns pontos no processo de ensino-aprendizagem, estando contido na imagem abaixo:

Conforme exposto, Ferreira (2019) traz que estes cinco caminhos se configuram como fundamentos de ensino que subsidiam a prática de ensino na esfera da Pedagogia da Circularidade, com seu repertório conteudístico atemporal. Em que recuperando os caminhos de aprendizagem na Pedagogia da Circularidade, temos aqui a cognição substanciada através de ciclos que se atravessam e este conjunto reuniu estrutura filosoficamente os fundamentos de ensino colididos nesta pesquisa.

Sendo dessa maneira a Pedagogia da Circularidade, assim como outras abordagens pedagógicas afrodiaspóricas mencionadas aqui, não busca estabelecer um binarismo entre o horizonte eurocêntrico e africano; pelo contrário. De tal modo a cultura negra, posicionada na encruzilhada, permite que seu discurso seja enriquecido por três vozes que contribuem para a formação do discurso afrodiaspórico: a expressão autêntica da pessoa negra em sua essência, a manifestação proveniente de sua ancestralidade e a expressão moldada pela influência do colonizador no processo de construção identitária. Portanto, o discurso jamais pode ser redutivo, pois essa abordagem não está alinhada com a visão de mundo africana, como será explicado mais detalhadamente adiante.

Conforme breve exposição dos diálogos trazidos na obra de Ferreira (2019) acerca da Pedagogia da Circularidade, é notável que a Pedagogia da Circularidade considere como partida para todo e qualquer disparador cognitivo o lugar de origem, o muntu, o ser integralizado com toda a sua história.

Referência:

Ferreira, Tássio. Pedagogia da Circularidade Afrocênica: diretrizes metodológicas inspiradas nas ensinagens da tradição do Candomblé Congo-Angola / Tássio Ferreira. — Salvador, 2019. 271 f. : il.

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A Pedagogia da Circularidade: tecendo redes de conhecimento entre educadores

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Em um mundo onde a educação é frequentemente vista através de uma lente de resultados e métricas, a pedagogia da circularidade surge como um sopro de inovação e humanidade. Esta abordagem, profundamente enraizada nas teorias de educadores visionários como Paulo Freire, desafia as estruturas tradicionais e propõe um modelo de aprendizado colaborativo e dinâmico, onde o conhecimento é compartilhado e a sabedoria coletiva é valorizada. Ao invés de perpetuar a dinâmica de poder desigual entre professor e aluno, a circularidade promove um ambiente de aprendizado recíproco e respeito mútuo, onde todos são vistos como contribuintes valiosos no processo educativo. Neste contexto, os educadores são convidados a reimaginar o ensino como um diálogo contínuo, uma jornada compartilhada de descoberta e crescimento. A pedagogia da circularidade não é apenas uma metodologia; é um manifesto para uma educação mais equitativa, empática e eficaz, que reconhece e celebra a interconexão e a interdependência de todos os envolvidos no ato de aprender.

Essa pedagogia embasada na filosofia de Paulo Freire, é uma resposta ao modelo educacional hierárquico e unidirecional que historicamente tem caracterizado as instituições de ensino. Freire (1970) argumenta que a educação deve ser libertadora, um processo dialógico onde o educador e o educando aprendem em conjunto, desafiando o tradicional “modelo bancário” de educação, onde o conhecimento é depositado nos alunos. A circularidade, portanto, é uma prática pedagógica que encoraja a troca de saberes em um espaço democrático e participativo, promovendo uma aprendizagem significativa e transformadora.

Este conceito é reforçado pelas teorias de LAVE e WENGER (1991), que introduziram a noção de “comunidades de prática”. Nestas comunidades, a aprendizagem ocorre em um contexto social, onde os membros compartilham um ofício ou uma profissão. A circularidade dos saberes docentes é uma manifestação deste fenômeno, onde os professores, como membros de uma comunidade educacional, engajam-se em um processo contínuo de aprendizado colaborativo. Eles não apenas compartilham conhecimentos e experiências, mas também constroem novos entendimentos através da interação e do engajamento mútuo.

WENGER (1998) expande essa visão ao enfatizar a importância da identidade na prática de aprendizagem. Na circularidade, os professores constroem suas identidades profissionais não isoladamente, mas em relação uns aos outros e ao coletivo do qual fazem parte. Isso é particularmente relevante na educação pública, onde os desafios são muitos e os recursos, muitas vezes, limitados. DARLING-HAMMOND (1997) destaca que o desenvolvimento profissional dos professores é crucial para a eficácia do ensino e, consequentemente, para o sucesso dos alunos. A circularidade dos saberes docentes, portanto, não é apenas uma questão de eficiência pedagógica, mas também de justiça social e equidade educacional.

A circularidade também se alinha com a ética do cuidado proposta por NODDINGS (2005), que argumenta que a educação deve ser fundamentada no relacionamento de cuidado entre professores e alunos. Este cuidado se estende aos colegas de profissão, criando uma cultura de suporte e empatia. A circularidade dos saberes docentes, neste contexto, é uma expressão de cuidado profissional, onde os educadores se apoiam mutuamente em sua jornada de ensino.

No entanto, a implementação da pedagogia da circularidade enfrenta obstáculos. As estruturas educacionais rígidas e a falta de tempo e recursos podem inibir a colaboração e a reflexão crítica. Além disso, a valorização da competição em detrimento da colaboração pode desencorajar a partilha de saberes. Apesar desses desafios, a circularidade oferece um caminho promissor para a renovação da prática educativa. Ela convida os educadores a repensarem seus papéis, a se abrirem para novas possibilidades de aprendizagem e a se comprometerem com a transformação contínua da educação.

Em suma, a pedagogia da circularidade é mais do que uma metodologia; é uma postura ética e uma visão de mundo que coloca a colaboração, o diálogo e a reflexão crítica no centro do processo educativo. Ao adotar essa abordagem, os educadores podem não apenas enriquecer suas práticas individuais, mas também contribuir para a construção de um sistema educacional mais justo, eficaz e humano.

Referências:

DARLING-HAMMOND, L. The Right to Learn: A Blueprint for Creating Schools That Work. San Francisco: Jossey-Bass, 1997.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1970.

LAVE, J.; WENGER, E. Situated Learning: Legitimate Peripheral Participation. Cambridge: Cambridge University Press, 1991.

MEIRIEU, P. Frankenstein Educador. Rio de Janeiro: Desiderata, 1998.

NODDINGS, N. The Challenge to Care in Schools: An Alternative Approach to Education. New York: Teachers College Press, 2005.

POUBEL, V. R. Pedagogia da circularidade: uma conversa com professoras da educação pública. Alfabetização em Foco, [S.l.], 25 mar. 2021. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=gmPsXteyn9M. Acesso em: 05 nov. 2023.

SENGE, P. Schools That Learn: A Fifth Discipline Fieldbook for Educators, Parents, and Everyone Who Cares About Education. New York: Doubleday, 2000.

WENGER, E. Communities of Practice: Learning, Meaning, and Identity. Cambridge: Cambridge University Press, 1998.

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Encruzilhadas da Educação no Brasil: transformações históricas e o emergir de uma Pedagogia Plural

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Por Arlindo Goncalves De Araújo Neto (Acadêmico de Psicologia) – arlindo.netto@rede.ulbra.br

A educação no Brasil, desde o período colonial, tem sido marcada por uma série de transformações que refletem as complexidades e os desafios de um país em constante evolução. Os jesuítas, como primeiros educadores, não apenas introduziram as práticas educativas europeias, mas também deram início a um processo de formação que se entrelaçava com a missão de evangelizar, criando assim as primeiras escolas elementares com um forte enfoque na catequização (Gomes, 2000).

                                                                                          Fonte: Imagem gerada por DALL·E

No entanto, é crucial reconhecer que a educação, como fenômeno social, não é estática. Ela se desenvolve e se transforma, muitas vezes, em resposta às necessidades e desafios emergentes de seu tempo. Nesse sentido, a “Pedagogia das Encruzilhadas” surge como uma abordagem que reconhece a multiplicidade de identidades e a necessidade de uma educação que vá além do eurocentrismo histórico. Lilliane Miranda Freitas, em seu trabalho sobre desvios necessários na formação inicial docente, destaca a importância de “questionar as produções discursivas que formam a identidade docente e subjetivam os indivíduos ao longo de sua formação” (Freitas, 2011, p.1).

Freitas (2011, p.13) argumenta que é “essencial para os professores em formação perceberem que existem múltiplas maneiras de ser professor e que não há uma única ou verdadeira forma de ser um bom professor”. Isso ressoa com a ideia de que a educação deve ser um espaço para “questionar e desconfiar dos discursos tradicionais que muitas vezes naturalizam diferenças e encobrem realidades sociais” (Freitas, 2011, p.5).

A “Pedagogia das Encruzilhadas” propõe, portanto, um currículo vivo, que seja co-construído e em constante diálogo com a diversidade de seus atores, reimaginado diariamente através das interações entre alunos e professores. É um convite para que a escola se torne um espaço de reconhecimento e celebração da pluralidade humana, onde a diversidade é vista como uma ponte para uma compreensão mais profunda e compartilhada da humanidade (Simões, 2022).

A escola municipal Prof. Waldir Garcia, em Manaus, exemplifica a aplicação prática dessa pedagogia. Nela, a educação transcende a mera transmissão de conhecimento para se tornar um ato de reconhecimento e celebração da pluralidade humana. A educação é vista como um direito humano fundamental, onde cada estudante é um agente ativo, trazendo para a sala de aula um universo de experiências e conhecimentos que enriquecem o coletivo.

Portanto, a “Pedagogia das Encruzilhadas” é mais do que um método de ensino; é uma forma de vida, um exercício de resistência e uma fonte de esperança para a construção de um futuro mais justo e inclusivo. Como Freitas sugere, essa abordagem pedagógica desafia as estruturas educacionais tradicionais, promovendo uma educação que é integral, holística e comprometida com a justiça social e cognitiva. É um caminho que reconhece as encruzilhadas teóricas como desvios necessários para uma formação docente que esteja alinhada com as realidades contemporâneas e as demandas de um mundo em constante mudança. (Simões, 2022).

                                                                        Fonte: Imagem gerada por DALL·E

Referências:

FREITAS, Lilliane Miranda. Encruzilhadas teóricas: desvios necessários na formação inicial docente. Revista Ensaio, Belo Horizonte, v.13, n.01, p.1-42, jan-abr 2011.

GOMES, Candido Alberto. A educação em novas perspectivas sociológicas. São Paulo: EPU, 2000.

SIMÕES, Ceane Andrade. Nas diásporas e encruzilhadas do cotidiano escolar: As travessias dos currículos praticados de uma escola municipal de Manaus. Revista Teias, Rio de Janeiro, v. 23, n. 69, p. 50-59, abr./jun. 2022. Disponível em: http://educa.fcc.org.br/pdf/tei/v23n69/1982-0305-teias-23-69-0050.pdf. Acesso em: 05 de novembro de 2023.

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O Empoderamento (invisível) feminino: a rotina de uma mãe solteira empreendedora

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Uma mulher que tem o árduo dever de criar e educar seus filhos sozinha, muitas vezes, não tem o devido reconhecimento de suas habilidades. Quando esta se arrisca, enfrenta as dificuldades e adversidades no campo empreendedor, seus feitos passam desapercebidos, mesmo que tenham impacto extremamente significativo na sociedade diante de suas contribuições.

Pensando nisto, o Portal (En)Cena entrevista Luciene Vieira Mota, mãe, recém formada em Pedagogia, e empreendedora, para que esta conte um pouco de sua experiência profissional e das dificuldades e sucessos adquiridos durante sua jornada como mulher.

(En)Cena – A Covid-19 alterou o modo de vida de quase toda humanidade. Medidas de restrição, uso de máscaras, dentre outras ordens para conter sua propagação e evitar, com isto, maiores prejuízos para a sociedade em geral. Quando iniciou a quarentena, qual era sua realidade familiar e profissional?

Luciene Mota: Então, sem dúvida que a Covid-19 modificou a vida e a rotina de todos (as) nós. Porém, a minha realidade diante da quarentena era: um contrato de auxiliar de sala no município, com data para finalizar, isso em 2020. Seria uma situação que expressava preocupação diante daquela realidade, e, para a minha surpresa tudo melhorou no âmbito profissional e financeiro, pois comece a dar aulas particulares e alfabetização.

(En)Cena – Sua profissão, pedagoga, é essencial para a sociedade, pois tem como finalidade o preparo das jovens mentes para o futuro. Você consegue descrever os principais desafios da sua profissão neste cenário pandêmico?

Luciene Mota: Bem, eu consigo descrever cada um dos meus desafios vividos. Porém, vou abreviar aqui o mais importante: desde quando decidi me tornar Pedagoga, foi um desafio atrás do outro. Cursar Pedagogia seria uma válvula de escape para ter trabalho como professora de educação infantil, na qual sempre me identifiquei. Então, com a pandemia montei uma sala para alfabetizar. No começo, não foi fácil, mas, aos poucos presenciei a mudança e amei o resultado da mesma. Redescobri-me como educadora e tive a plena certeza do que quero ser, Pedagoga, educadora, para fazer a diferença na vida das crianças e viver essa mesma diferença em minha vida.

Fonte: Acervo pessoal da entrevistada

(En)Cena – Para solucionar os problemas financeiros de uma mãe solo, como foi a forma que encontrou para ter renda com seu curso superior?

Luciene Mota: Montando a minha salinha de aula em minha residência, ao passo que ao mesmo tempo, faço meu papel de mãe, pai, dona de casa, mulher, empreendedora, pedagoga e etc.

(En)Cena – Quais são seus planos para o futuro, em que área (as) pretende atuar, e porque escolheu atuar na área da educação?

Luciene Mota: Meus planos para o futuro??…eu vejo a minha escolha e vejo a mesma sendo modelo de transformação no cenário da educação, e sem dúvida pretendo sim atual e me aperfeiçoar cada vez mais nessa área, por que foi a descoberta de um amor tão grande por ensinar, por aprender, por mudar e promover a mudança, e tudo isso é o que me faz seguir adiante, é minha base.

(En)Cena – Você acha que é possível ir além da sala de aula, além de outros papéis que desempenha como mãe, mulher, etc., e se engajar em estudos externos para se aperfeiçoar na docência?

Luciene Mota: Acho???…tenho a mais plena certeza que sim, que posso ser muitas coisas sem deixar de ser mãe, mulher, enfim. E, afirmo que busco todos os dias me aprimorar. E, assim como foi um desafio a escolha do tema do meu TCC pelo qual eu defendi com esplendor (Libras e inclusão social no ensino regular”), um desafio que deu certo e que me trouxe a certeza de que “sou capaz de fazer o que eu quiser”.

(En)Cena – Há algo a mais que você gostaria de dizer aos estudantes não só do curso que escolheu como de outras áreas? E, baseado em tudo o que você disse até aqui até onde pretende chegar com seus estudos?

Luciene Mota: O que eu gostaria de dizer para todos os estudantes é que tenham sonhos, que busquem à vontade, que saiam da sua zona de conforto, que lutem pela realização daquilo que querem e que aprendam sempre!

No momento, ainda estou fazendo uma pós na área da psicopedagogia. Mas, quero sim chegar no doutorado, e o principal motivo disso é desafiar-me cada vez mais e mais, sentir aquele frio na barriga, enfim, chegar ao título de Dra. Muito obrigada, Luciene Mota, “TIA LU”!

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Um olhar sobre “Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa

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A obra de Paulo Freire, “Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à prática Educativa”, pontua a necessidade da relação Teoria/Prática, uma vez que a teoria pode se tornar somente ideias, sendo necessário garantir a prática, sob a forma de ativismo consciente. Então, a obra assinala que ensinar não é só transmitir conhecimento, mas sim a construção de saberes. Para Paulo Freire, compreende-se que homens e mulheres são seres históricos em processo de mudança. Diante disso, entende-se que ensinar e aprender, são dois verbos que estão interligados; no decorrer da história, os seres humanos aprenderam socialmente e historicamente, logo descobriram que era possível ensinar. 

Paulo Freire – Fonte: https://nova-escola-producao.s3.amazonaws.com/D2eaCsMJ5tvhRzRCBMCv2rmRNSutraW4aE32gcqF8PZScppWQbyUBEgvyKeC/paulo-freire.png

 Freire argumenta que o educador vivencia de modo autêntico a prática do aprendizado, de tal modo que esse docente insere em um contexto político o conhecimento pedagógico; à medida que mais exercita de forma crítica a capacidade de aprender, mais se aproxima da curiosidade epistemológica. Então, o professor não só faz a transferência de conteúdo, mas sim da leitura verdadeira com intuito de transformar o indivíduo em sujeito, para conhecer o seu contexto e de intervir no mundo.  

Assim, a obra Pedagogia da Autonomia pontua por meio da construção da articulação entre conhecimento e ação que é necessário que os educadores respeitem o conhecimento do senso comum do educando.  Então, o educador vai ao encontro da construção dos saberes referente às classes populares, como nas práticas comunitárias. Diante desse fato, o educador respeita as vivências dos alunos nos seus contextos para discutirem certas injustiças; o professor dialoga com o aluno em relação à realidade concreta, e interliga saberes curriculares com experiência social. 

Compreende-se a importância das experiências cotidianas seja nas ruas, nas praças, nas salas de aula, nos pátios na hora do intervalo, em diversas condutas dos alunos, dos trabalhadores da escola, dos professores para a formação do sujeito sócio-histórico. Entende-se que a prática educativa necessita do reconhecimento dos sentimentos, das emoções, do desejo para a transformação do indivíduo em um ser autônomo.

De acordo com Freire, a curiosidade é uma inquietação discursiva; uma vez que essa conduta potencializa a criatividade para que o sujeito intervenha no mundo de maneira dialógica e dialética. Em outras palavras, o sujeito por meio da reflexão sobre a prática, de modo curioso tem como consequência uma transformação de pensamentos e atitudes e, consequentemente, ele é empoderado.

Freire pontua a importância da luta do professor por seus direitos e dignidade; isso deve ser um momento crucial e não transformar a prática docente em um bico. O comportamento do educador necessita ser dialógica, curiosa, questionadora de modo que tira o indivíduo da situação passiva e coloca em uma posição de agente que indaga, que atua no mundo. A prática da curiosidade, isto é, a instigar o aluno a ser um pesquisador vai em busca da imaginação, das emoções, da intuição, da capacidade de interligar, de fazer analogias. 

Diante disso, autoridade e a liberdade se afirmam. Acredita-se que as características principais da autoridade dos docentes democráticos deve mostrar em suas atitudes que tenham liberdade e auto segurança.  É a segurança que se expressa na firmeza com que o docente atua, com que respeita a liberdade, com que discute as suas próprias posições que aceita rever-se, é necessário que tenha competência profissional, isso não quer dizer que a prática democrática do professor, seja determinada somente pela sua competência científica.

Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/fd/Painel.Paulo.Freire.JPG

Paulo Freire explica que a autonomia é originada na responsabilidade de assumir as escolhas. Assim que os indivíduos fazem as suas escolhas, a autonomia vai sendo construída por diversas decisões que vão sendo tomadas. Outro ponto importante nessa obra freiriana, é a importância do Saber Escutar de forma democrática e solidária, conversando com o outro de forma horizontal, o docente que escuta aprende o árduo trabalho de transformar o seu discurso.

Diante disso, a obra pontua a escuta de modo correto, de tal modo que, o sujeito tenha abertura para a fala do próximo sem preconceitos, em relação aos gestos do outro, as diferenças do outro. Isso não quer dizer em se anular em relação à fala do outro. A verdadeira escuta não tira o empoderamento do sujeito em relação a discordar, a se opor, a se posicionar. É o contrário.

Por fim, o docente democrático tem competência que testemunha a favor da vida, esperança num mundo melhor, que enfrenta os desafios do cotidiano, seu respeito as diversidades, saber cada vez mais o valor que tem a transformação da realidade, a forma que tem suas vivências no mundo.

REFERÊNCIA: FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessário à prática educativa 25° edição. São Paulo:  Editora Paz e Terra (Coleção Leitura) 1996.

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A escuta sensível na interface Psicanálise-Paulo Freire

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A Psicanálise faz uso do discurso que coloca o outro da relação na posição de sujeito e o psicanalista consegue recuar da sua posição de saber e poder para escutar o outro na sua verdade. Conteúdo este, que vem de encontro com a pedagogia de Paulo Freire com essa posição discursiva, de escutar o outro em sua verdade e, assim, produzir a aprendizagem e a comunicação política. Entra-se então a importância política da escuta, em tempos de cultura do ódio e do cancelamento.

Paulo Freire usou a escuta como uma grande ferramenta em sua teoria, essa escuta freiriana na prática pode mudar relações. O autor em sua obra Pedagogia da Autonomia (2009), aborda sobre a importância de respeitar o conhecimento que o discente leva para a escola. Isso implica na troca que pode ocorrer entre professor e aluno.

Outro ponto importante a se retirar importância de lidar com o outro, é praticar essa escuta sem objetificação. A escuta política surge como uma arma potente para aqueles que querem utilizá-la. “Tem significação precisamente porque os sujeitos dialógicos não apenas conservam sua identidade, mas a defendem e assim crescem um com o outro” (FREIRE, 2009, p. 118).

Fonte: encurtador.com.br/htFN0

Freud em sua essência traz essa preocupação com a escuta qualificada, abordando sobre o valor dado ao autoconhecimento e consequentemente a liberdade pessoal, a partir essa escuta trabalhada, isto foi considerado como um diferencial entre a psicanálise e as demais abordagens.

A importância dessa escuta para Freud é evidenciada a partir do momento em que você começa a ler os seus textos. Para além, pode observar uma crítica ao analista:

É possível pretender que fórmulas simples permitam compreender o processo analítico? Não, analisar é hipercomplexo: escutar com atenção flutuante, representar, fantasiar, experimentar afetos, identificar-se, recordar, auto-analisar-se, conter, assinalar, interpretar e construir (2003, p. 105).

Fonte: encurtador.com.br/cFJWY

Observa-se a preocupação entre os dois autores em relação a escuta, uma vez que esta prática está interligada a compreensão de realidades concretas, do seu contexto histórico, para além disso, observa a sua inserção no mundo a partir dessa escuta.

A escuta produz a conscientização libertadora e transformadora. Conscientização esta que traz um caminho para reinvenção de novos seres, cada um com a sua subjetividade, buscando a necessidade de coerência para ação e reflexão do ser existencial.

REFERÊNCIA

HORNSTEIN, L. Intersuibjetividad Y clínica. Buenos Aires: Paidós, 2003.

SOUZA, Anna Inês. Paulo Freire: vida e obra. São Paulo: Expressão Popular, 2001.

FREIRE, Paulo. Pedagogia Autonomia: Saberes Necessários à prática da educativa. Editora Paz Terra, Rio de Janeiro. 2009. Disponível: https://nepegeo.paginas.ufsc.br/files/2018/11/Pedagogia-da-Autonomia-Paulo-Freire.pdf

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Professores da Psicologia atualizam demandas em Semana Pedagógica

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Os docentes da Psicologia se dividiram em grupos para participar de todas as ações desenvolvidas na Semana. 

 

Os professores do colegiado de Psicologia estão participando da Semana Pedagógica 2020.1 do Ceulp/Ulbra, que teve início no último dia 22 e segue até o dia 31/01.

Neste semestre, a semana irá abordar a “Reestruturação Pedagógica: novas práticas e cenários no Ensino Superior”, cujo objetivo é preparar os docentes e coordenadores para a profunda mudança pedagógica que o Ceulp irá conduzir nos próximos semestres.

Durante a abertura do evento, que foi marcado por muita emoção, o prof. Adriano Chiarani da Silva, que agora irá assumir a vice-reitoria da Ulbra-Canoas, passou o cargo para o prof. Marcelo Müller. Os discursos de ambos enfocaram, sobretudo, o lugar de excelência ocupado pelo Ceulp/Ulbra no cenário tocantinense e regional, tendo em vista que a instituição ocupa o primeiro lugar no Estado, de acordo com o índice IGC do MEC (Índice Geral dos Cursos). Na mesma noite, a profa. Adriana Ziemer Gallert palestrou sobre a necessidade de repensar constantemente as práticas pedagógicas. Adriana também conduziu todas as reuniões com o NDE – Núcleo Docente Estruturante.

No decorrer da semana os professores se debruçaram sobre dispositivos a serem usados para reestruturar o trabalho pedagógico da instituição, além de planejar estratégias metodológicas articuladas com o processo de avaliação da aprendizagem. “Também é importante destacar que, neste semestre, voltamos a debater os cenários de mudanças e adversidades que impactam alunos e professores, cientes da nossa responsabilidade na criação de ambientes mais saudáveis e acolhedores”, comentou a coordenadora do curso, profa. Dra. Irenides Teixeira.

encurtador.com.br/aBHT2

Os docentes da Psicologia se dividiram em grupos para participar de todas as ações desenvolvidas na Semana. Além dos que integraram as reuniões do NDE, que debateu as principais mudanças metodológicas e do processo de Aprendizagem e Avaliação, outros participaram de oficinas sobre estresse entre acadêmicos, uso adequado de ferramentas digitais, orientações sobre o Comitê de Ética, além de demandas sobre ENADE.

“Todo semestre temos a possibilidade de reavaliar nossas práticas e reestruturar nosso posicionamento, do ponto de vista da aprendizagem, avaliação e o sentido que tudo isso tem na vida dos docentes, dos alunos e da comunidade. Trata-se de um movimento necessário e enriquecedor para todos nós”, finalizou Irenides. As aulas retornam no próximo dia 3 de fevereiro. Já as mudanças estruturais na dinâmica pedagógica irão entrar em vigor dentro de um ano.

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Seu filho tem dificuldades com operações matemáticas? Ele pode ter discalculia!

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Você sabe o que é discalculia? No vocabulário de muitos pais, essa palavra pode ser nova ou nem existir. Mas saiba que ela pode ser indício de que seu filho precisa de ajuda? Muitas crianças, adolescentes e até adultos enfrentam obstáculos na vida acadêmica por conta dela.

A psicopedagoga do Instituto NeuroSaber Luciana Brites explica que a discalculia é um distúrbio de aprendizagem caracterizado pela dificuldade em desempenhar tarefas ligadas a toda e qualquer operação matemática. Ela ressalta que essas barreiras incluem também a compreensão de conceitos numéricos e a utilização de fórmulas, símbolos ou qualquer outro ícone que faça alusão ao saber matemático.

– É bem provável, por exemplo, que um aluno não consiga associar a palavra quatro ao algarismo correspondente. No entanto, o distúrbio de aprendizagem não é o mesmo que a dificuldade que todos nós podemos ter na compreensão de uma disciplina específica. Não se trata de algo que pode ser resolvido com aulas particulares – comenta.

Fonte: encurtador.com.br/aGKQS

Segundo a psicopedagoga, cada pessoa pode manifestar uma característica em relação à ocorrência da discalculia, desde a escolinha até mesmo na universidade. Por exemplo, no período da pré-escola, o aluno pode não conseguir discernir os diferentes algarismos. “O estudante não segue a ordem correta dos números (1 a 5, por exemplo), a criança demonstra dificuldades para aprender a contar os dedinhos da mão. Seu progresso é aquém dos demais coleguinhas.”

– No ensino fundamental, é comum esse estudante ter problemas na aprendizagem de operações básicas, como adição e subtração. Usa os dedos para contagem simples por não ter facilidade para raciocinar. No ensino médio, apresenta dificuldades para compreender valores e lidar com medidas, não consegue olhar as horas em relógio de ponteiro. Já na universidade, pode ter problemas para ler gráficos e infográficos e dificuldade de obter sucesso em provas de vestibular que envolva números e fórmulas – esclarece.

Fonte: encurtador.com.br/jpZ49

Luciana explica que a discalculia é causada pelo mau desenvolvimento do cérebro, lesão cerebral, genética e pelo ambiente. Porém, o diagnóstico deve ser feito por psicopedagogo, psicólogo escolar e neuropediatras.

– O tratamento deve ser realizado por uma equipe multidisciplinar e também deve ser desempenhado por professores em educação especial para a utilização estratégica da matemática. Tudo isso para impulsionar o percurso pedagógico do aluno – conclui.

Luciana Brites

Uma das fundadoras do Instituto NeuroSaber, Luciana Brites é Pedagoga especializada em Educação Especial na área de Deficiência Mental e Psicopedagogia Clínica e Institucional pela Unifil Londrina. Também é especialista em Psicomotricidade pelo Instituto Superior de Educação Ispe – Gae São Paulo, além de coordenadora do Núcleo Abenepi em Londrina.

Fonte: Divulgação

NeuroSaber 

O projeto nasceu da necessidade de auxiliar familiares, professores, psicólogos, fonoaudiólogos, psicopedagogos, terapeutas ocupacionais, médicos e demais interessados na compreensão sobre transtornos de aprendizagem e comportamento. A iniciativa tem como objetivo compartilhar informações valiosas para impactar as áreas da saúde e educação, além de unir especialistas do Brasil e do exterior.

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A autoestima feminina nas séries iniciais do ensino fundamental

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O maior exemplo depois dos pais são os professores. Quem nunca teve um “tio” ou “tia” na época estudantil que sempre lembra agora na vida adulta? Na classe dos educadores o número maior de profissionais são mulheres e sua presença é significativa para alunos das séries iniciais até o 5º Ano.

Tendo essa visão, o Portal (En)Cena entrevistou a jovem Ana Patrícia Aires, estudante de Pedagogia que desde cedo vem atua nesta área. Ela começou nas classes dominicais da sua comunidade religiosa. Hoje, continua neste caminho, agora também exercendo a profissão de ensinar em colégio regular. Atualmente, Ana Patrícia leciona no Sesc Escola.

A professora Ana Patrícia Aires – Foto: Arquivo pessoal

(En)Cena – Conte um pouco da sua vida como educadora.

Ana Patrícia – Sou acadêmica do curso de Pedagogia da Universidade Federal do Tocantins, tenho 21 anos e há seis trabalho com crianças e tem cinco meses que comecei a trabalhar na escola regular. Sou estagiária auxiliar da professora regente, em uma turma de crianças com cinco anos de idade. Na escola em que eu trabalho, a Educação Infantil, se organiza em grupos conforme a faixa – etária das crianças. Eu dou aula no grupo 3 que é o de crianças com cinco anos, depois deste as crianças passam para o 1º ano do Ensino Fundamental. Tenho praticamente as mesmas atribuições da professora regente. Todas as segundas – feira é o meu dia de dar aulas, pois é o dia do planejamento da professora e ai eu que assumo o comando da sala, faço planejamento também, porque todos os dias tenho uma atividade para realizar.

(En)Cena – O que é autoestima, para você?

Ana Patrícia – Autoestima para mim é eu estar de bem com a vida e comigo mesma, confiante de que estou preparada para fazer aquilo que esteja sobre minha responsabilidade e fazer isso com amor e dedicação.

(En)Cena  – O que te motiva todos os dias?

Ana Patrícia – Já ouvi algumas pessoas falarem que quando a gente faz o que gosta a gente não trabalha. E o que me motiva todos os dias é isso, amo o que faço, amo meus alunos e o fato de saber que um dia vou olhar para trás e lembrar que de alguma forma pude fazer a diferença na vida de uma criança, é isso que me motiva todos os dias.

A professora Ana Patrícia Aires em atividade de sala de aula – Foto: Arquivo pessoal

(En)Cena  – Como são suas turmas?

Ana Patrícia – Eu dou aulas apenas em uma turma a maior parte do tempo. Ás vezes, quando falta algum professor ou troca entre nós estagiários é que dou aulas em outra turma, mas isso é muito raro acontecer. A minha turminha é muito boa, são crianças esforçadas na busca da construção do seu próprio conhecimento e nós professoras participamos como mediadoras deste processo.

(En)Cena  – Existe aquele aluno-problema, ou é apenas um mito?

Ana Patrícia – Existe sim, sempre tem aqueles que querem chamar a atenção a qualquer custo, mas eu penso que tudo depende dos professores, sabendo levar estes alunos no final dá tudo certo. Eu penso que está nas mãos do professor permitir ou não que um aluno com problemas de indisciplina, por exemplo, desestabilize ou não sua aula.

(En)Cena – Como lidar com alunos com algum tipo de problema emocional, psicológico ou social? Exemplo, um aluno muito tímido ou até agressivo.

Ana Patrícia – Nos exemplos citados acima, acredito que o professor deve se aproximar aos poucos destes alunos, na intenção de ganhar a confiança deles e tentar também aos poucos inseri-los no grupo, buscando sempre maios para se trabalhar o problema destes alunos.

(En)Cena  – Já houve casos extremos, momentos de alto estresse na sala de aula?

Ana Patrícia – Comigo sempre ocorreu tudo bem, nunca houve um momento como esses não.

A professora Ana Patrícia Aires em atividade de sala de aula – Foto: Arquivo pessoal

(En)Cena  – Interação com os alunos. Você é sempre a professora “tia”, ou você tem que assumir outro papel na sala de aula?

Ana Patrícia – Ah, eu sou a professora ‘tia’.. rsrs Procuro me aproximar ao máximo dos meus alunos, ganhar a confiança deles, mas sem deixar de ser a professora, sou muito carinhosa e demonstro isso a eles todos os dia, mas o respeito a mim enquanto professora deles nunca deixou de existir, tanto por parte deles como dos pais.

(En)Cena  – Para encerrar, o que você tira da sua vida como educadora para sua vida pessoal?

Ana Patrícia – O respeito às diferenças e amor que devo oferecer ao meu próximo seja ele quem for. Convivo com pessoas um tanto diferentes de mim, amá-los e respeitá-los é um desafio que me faz crescer enquanto ser humano.

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