“Muito Além do Peso” – a realidade assustadora da alimentação infantil

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Come o que vê pela frente, tudo o que seja atraente, é uma fome absorvente.

O documentário Muito Além do Peso, lançado em 2012 dirigido por Estela Renner, revela a realidade da alimentação infantil e as implicações da publicidade de alimentos. Através de uma investigação feita por diversas regiões do país, na qual foi possível mostrar o quanto os efeitos de uma má educação alimentar podem trazer prejuízos à posteridade, pois, a alimentação infantil quando não é conduzida sob os cuidados de um adulto, educando-a para uma alimentação saudável consequentemente acabam se tornando crianças que sofrem com obesidade e outras complicações.

São apresentadas crianças que já fazem uso de medicação para tratamento de doenças crônicas. Com isso, percebe-se as consequências de uma alimentação desregulada no aumento da incidência de doenças graves como quadros de hipertensão, diabetes tipo 2 e colesterol alto, além de problemas respiratórios, dificuldade para dormir, sensibilidade nas articulações, entre muitos outros.

Logo no início do documentário, a música cantada por diversas crianças transpõe o que acontece com a maioria das crianças que estão com excesso de peso, visto que, os efeitos dessa má educação alimentar é capaz de trazer malefícios às novas gerações, que sofrem precocemente.

“Gente, tô ficando impaciente, come frio, come quente, come o que vê pela frente, tudo o que seja atraente, é uma fome absorvente”

 

Para mais, é relatado que uma das grandes preocupações da população em relação às causas de mortes são as derivadas de homicídios, assassinatos e etc. Contudo, em uma tabela apresentada no documentário é possível perceber que as principais causas de mortes nos Estados Unidos são devido a problemas cardíacos, podendo ter sido evitadas se fossem tratadas. Segundo Elza et al. (2004) a prevenção da obesidade desde idades precoces pode ser uma alternativa para reverter o aumento acelerado dessa doença. Os estudos de intervenção da obesidade infantil em longo prazo, são escassos, porém necessários para o desenvolvimento de políticas públicas efetivas.

Outrossim, a entrevistadora pergunta a várias crianças acerca de alimentos saudáveis como frutas e legumes para saber se elas as conhecem ou até mesmo se já experimentaram. No entanto, algumas crianças não sabem identificar os nomes desses alimentos, mas conseguem detectar o nome e os componentes de salgadinhos e biscoitos. Além disso, optam por comerem alimentos que são industrializados. De acordo com o documentário, 33,5% das crianças no Brasil sofrem sobrepeso.

Um dos fatores prejudiciais que influenciam na desinformação de uma alimentação mais saudável refere-se a linguagem publicitária, uma vez que as crianças passam grande parte do tempo conectados às telas. Posto isso, é de suma importância que os pais estejam atentos e forneçam a seus filhos informações que estimulem e forneçam alimentos que sejam mais nutritivos.

 

                                                                                                                                                     Fonte: IBGE

Em conformidade com o documentário, se os pais não intervirem o quanto antes em uma alimentação adequada, seus filhos podem viver menos devido ao ambiente alimentar que é construído. Posto isso, deve-se observar quais alimentos estão sendo distribuídos às crianças. Conforme Tenório et. al. (2011), a prevenção da obesidade desde idades precoces pode ser uma alternativa para reverter o aumento acelerado dessa doença. Os estudos de intervenção da obesidade infantil se fazem necessários para o desenvolvimento de políticas públicas efetivas.

 

                                                                                                                                                    Fonte: Pixabay

Posto isso, é de suma importância este documentário, tendo em vista o alerta acerca da realidade assustadora da alimentação infantil. Uma questão muito relevante na área da saúde é a tendência culpabilizante que individualizar um comportamento pode ter. Deve-se levar em consideração a má qualidade da alimentação, a insegurança alimentar e financeira, dentre outros.

                                                                                                         Fonte: Pixabay

 

 FICHA TÉCNICA

 

Título original: Muito Além do Peso

Elenco: Nenhum

Ano: 2012

País: Brasil

Gênero: Documentário

 

 

Referências:

Mello, Elza D. de, Luft, Vivian C. e Meyer, Flavia. Obesidade infantil: como podemos ser eficazes?. Jornal de Pediatria [online]. 2004, v. 80, n. 3 [Acessado 17 Setembro 2023], pp. 173-182. Disponível em: <https://doi.org/10.2223/JPED.1180>. Epub 05 Ago 2004. ISSN 1678-4782. https://doi.org/10.2223/JPED.1180.

Tenorio, Aline e Silva e Cobayashi, Fernanda. Obesidade infantil na percepção dos pais. Revista Paulista de Pediatria [online]. 2011, v. 29, n. 4 [Acessado 17 Setembro 2023], pp. 634-639. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0103-05822011000400025>. Epub 17 Fev 2012. ISSN 1984-0462. https://doi.org/10.1590/S0103-05822011000400025.

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Interfaces da Anorexia no filme “O Mínimo para Viver”

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Restringir a alimentação ou passar por períodos de compulsão e purgação podem ser sinais de um transtorno alimentar. Se não tratados, os distúrbios alimentares podem ter efeitos devastadores na saúde mental e física do indivíduo.

“O Mínimo para viver”, tradução do filme “To the Bone”, é um filme lançado na Netflix em 2017 que mostra a história de Ellen sobre a luta contra a anorexia e o sofrimento que surge com esse transtorno alimentar.

O filme conta que Ellen abandonou a faculdade e está lutando para concluir o tratamento hospitalar para seu diagnóstico e, como resultado, volta a morar com o pai e a madrasta. A história segue Ellen através de seu processo de tratamento, que é auxiliado por familiares próximos, amigos e terapeutas que querem ajudá-la a continuar progredindo nessa busca pela cura. Este filme captura o impacto psicológico que a anorexia pode ter na pessoa e também na sua rede de apoio. Ele fornece uma visão sob a ótica do paciente, e seus pensamentos e sentimentos experimentados durante o diagnóstico e o tratamento do transtorno.

Após diversas internações e tratamentos frustrados Ellen conhece o médico Dr. William Beckham (Keanu Reeves), famoso pelo seu método nada comum de tratar doenças como a dela. Depois de se convencer que o tipo de tratamento que ele oferece é sua melhor e talvez até sua última opção, Ellen começa a frequentar a clínica de Beckham, um lugar diferente, mais confortável e com ares de lar, onde ela divide o teto com outros seis pacientes.

A trama demonstra a complexidade da doença, e todas as nuances que a envolvem. Não se trata apenas de voltar a se alimentar normalmente. Como em uma relação de causa e efeito, outras enfermidades podem surgir em decorrência da anorexia, desde o mal funcionamento de órgãos à osteoporose.

A decepção consigo mesma é repetidamente vivida no corpo, entre comer e vomitar, controlando severamente e castigando seu corpo nos exercícios doloridos, para conseguir um pouco de alívio no seu sofrimento psíquico.

Fonte: encurtador.com.br/finLP

A Anorexia Nervosa (AN) é um transtorno alimentar (TA) caracterizado pela auto-inanição, ou seja, é a própria pessoa provocar um estado de debilidade extrema por falta de alimentação que leva o corpo a consumir os seus próprios tecidos para obter as calorias necessárias para se manter vivo, degradando órgãos, músculos e gordura corporal. Se caracteriza também pela preocupação exacerbada da forma física e um medo extremo de comida.

A Anorexia Nervosa tem sido associada a vários fatores de risco e manutenção de transtornos. Os fatores de risco são quaisquer situações que aumentem a probabilidade de ocorrência de uma doença ou agravo à saúde. Os fatores de manutenção predizem persistência de sintomas versus remissão ao longo do tempo em indivíduos já sintomáticos para um transtorno.

Em algumas cenas durante o filme, Ellen contava as calorias presentes na comida que estava em seu prato além de mostrar ela fazendo abdominais e medindo o braço para verificar se ela conseguia fechar a mão ao redor do bíceps. A menção ao uso de laxantes também aparece, além de mostrar a rotina da instituição na qual ela estava fazendo tratamento, com altos e baixos, recaídas e a real dificuldade do tratamento.

Estas cenas demonstram como a anorexia não só reflete na saúde física de alguém, como impacta muito a saúde mental do indivíduo, e tal fator é determinante no curso da doença. Como citado anteriormente, além da alteração física, há o medo de ganhar peso e alteração da imagem corporal e da consciência sobre o transtorno. Os pensamentos a respeito do problema influenciam fortemente na manutenção do transtorno, pois a pessoa se olha no espelho e enxerga alguém gorda ou que não está suficientemente magra, e não há evidências externas que façam a pessoa se convencer do contrário.

Nesses casos a tendência de o sujeito com anorexia falar que está com tudo sob controle ou de negar a doença é alta. Geralmente a busca por tratamento acontece já em um estado avançado e os prejuízos já estão muito acentuados.

O filme também enfatiza como é essencial a participação da família na prevenção e no curso do tratamento. É importante que os familiares estejam alinhados sobre o transtorno para o sucesso neste processo.

No caso da família da personagem principal, o filme mostrou as dificuldades que eles tinham de lidar com o transtorno. A mãe não suportou o quadro da filha e fez com que Ellen se mudasse para a casa do pai o qual é ausente e aparentemente irritado, tenta constantemente se manter alheio de todas as situações, encontrando pretextos para não se encontrar com a filha e não comparecer à terapia familiar.

A madrasta e a irmã são as mais presentes e as que mais encorajam o tratamento de Ellen, porém ambas (assim como a mãe também), fazem menções inadequadas que atingem ela, como por exemplo falar constantemente sobre como sua aparência está, e falas que não contribuem como  “coma Ellen” e “se você morrer eu te mato”.

Fonte: encurtador.com.br/uwDGQ

A Terapia Cognitivo Comportamental tradicionalmente se concentra em relatos baseados em sintomas, sugerindo que tanto o controle quanto a supervalorização do peso e forma física mantêm a AN. A TCC se baseia em dois princípios: o primeiro diz que nossas cognições têm influência sobre o nosso comportamento; o segundo refere-se ao fato de que o modo como agimos afeta nossas emoções e pensamentos.

Algumas características em relação à AN podem incluir: perfeccionismo clínico, baixa autoestima, intolerância ao humor e dificuldades interpessoais como focos adicionais de tratamento.

O tratamento pode conter diversas complicações, com probabilidade de recaídas, já que o fator psicológico tem muita influência, como ilustrado no filme. Utilizando técnicas cognitivas e comportamentais, a TCC busca aumentar a motivação para a mudança, aumentar diretamente o ganho de peso ao mesmo tempo em que aborda preocupações com peso e forma e se prepara para contratempos para manter os ganhos obtidos a longo prazo. A TCC também é importante para o trabalho da imagem corporal e dos padrões estéticos que são muito elevados nas pessoas com AN.

Dentre alguns objetivos, levar o paciente a desenvolver um padrão regular e flexível de alimentação é um grande passo na recuperação da saúde e bem estar deste indivíduo. E este resultado está intimamente ligado ao surgimento de um indivíduo com capacidade de tomar consciência, dar sentido, regular, aceitar, expressar e transformar a experiência emocional, usando-a de forma flexível e adaptativa para se conhecer, buscar formas saudáveis de agir consigo mesmo, nos seus relacionamentos e no mundo.

FICHA TÉCNICA

Título: O Mínimo para Viver
Dirigido por: Marti Noxon
Data de Estreia: 22 de janeiro de 2017
Duração: 107 minutos
Classificação: 14 anos
Gênero: Comédia/Drama
País de Origem: EUA

REFERÊNCIAS

NARDI, Helena Beyer; MELERE, Cristiane. O papel da terapia cognivo-comportamental na anorexia nervosa. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, São Paulo, v. 16, 2014. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-55452014000100006. Acesso em: 31/05/2022.

VTM Neurodiagnóstico. Tratamento para anorexia e o filme “O Mínimo Para Viver”. Disponível em: https://vtmneurodiagnostico.com.br/cine_psiconeurologia/tratamento-para-anorexia-e-o-filme-o-minimo-para-viver/. Acesso em: 2/06/2022.

DESENVOLVIVER. O mínimo para viver: conscientizações e problematizações. Disponível em: https://desenvolviver.com/psicoterapia/o-minimo-para-viver-conscientizacoes-e-problematizacoes/#:~:text=%E2%80%9CO%20m%C3%ADnimo%20para%20viver%E2%80%9D%20%C3%A9,a%20realidade%20que%20este%20mostra.. Acesso em: 02/06/2022.

FRONTEIRAS PSICOLOGIA. Anorexia Nervosa e um Eu Emocional Perdido: Uma Formulação Psicológica do Desenvolvimento, Manutenção e Tratamento da Anorexia Nervosa. Disponível em: https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fpsyg.2019.00219/full#F1. Acesso em: 31 mai. 2022.

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Avaliação Psicológica para Cirurgia Bariátrica

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A cirurgia bariátrica e metabólica, também conhecida como cirurgia da obesidade, ou popularmente, redução de estômago, reúne técnicas com respaldo científico, destinadas ao tratamento da obesidade mórbida e ou obesidade grave e das doenças associadas ao excesso de gordura corporal ou agravadas por ela. Inclusive, este tema será debatido durante o Simpósio de Avaliação Psicológica, que ocorre em 25 de maio no CEULP/Ulbra.

O tratamento da obesidade é multidisciplinar, e o psicólogo exerce um importante papel neste processo, e que será o responsável pela realização da avaliação psicológica. Por se tratar de uma cirurgia que implica em um impacto muito grande na anatomia do corpo do paciente e, consequentemente, em seu estado psicológico e emocional, é preciso um acompanhamento psicológico pré e pós-operatório da cirurgia bariátrica para o sucesso da intervenção.

A avaliação psicológica neste contexto é um processo técnico-científico que têm início com uma entrevista semiestruturada minuciosa, onde o profissional fará um levantamento psicossocial do indivíduo, e será indispensável compreender quais são as expectativas em relação à cirurgia, além das alterações no estilo de vida, motivos que o levaram a realizar a cirurgia, entender se o paciente está preparado e principalmente se compreendeu sobre todas as alterações que ocorrerão em sua vida e se poderá colocá-las em prática. Este  suporte serve para a compreensão de todos os aspectos envolvidos, decorrentes do pré-cirúrgico e pós-cirúrgicos, para a aquisição de uma melhor qualidade de vida a longo prazo para o indivíduo.

Fonte: encurtador.com.br/blG45

É de extrema importância a aplicação de testes psicológicos para complementar todo o levantamento de informações realizado na entrevista, pois confere uma dimensão objetiva em relação ao estado psicológico do candidato.

Um dos principais objetivos da avaliação psicológica é a de proporcionar a compreensão das mudanças necessárias em relação ao período pós-operatório do paciente bariátrico, aumentando assim as chances de sucesso da cirurgia. A avaliação é imprescindível nesse processo, pois o paciente deve ter total segurança na tomada de decisões em relação ao processo, seja ele de realização imediata ou futura, ou na não realização.

Ao final do processo é feito um documento (laudo) que deve ser entregue ao paciente para que junto com seu médico avalie o melhor momento para a realização da cirurgia ou a opção da não realização.

 

REFERÊNCIAS

ALBERT EINSTEIN. OBESIDADE. Disponível em: https://www.einstein.br/doencas-sintomas/obesidade. Acesso em: 07/05/2022.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIRURGIA BARIÁTRICA E METABÓLICA. A Cirurgia Bariátrica. Disponível em: https://www.sbcbm.org.br/a-cirurgia-bariatrica/. Acesso em: 07/05/2022.

MUNDO PSICOLOGIA. Avaliação Psicológica para Cirurgia Bariátrica. Disponível em: https://www.mundopsicologia.com.br/avaliacao-psicologica-para-cirurgia-bariatrica-contra-obesidade-e-compulsao-alimentar. Acesso em: 07/05/2022.

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Relato de experiência: de cara com a balança

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Os anos de 2020 e 2021 trouxeram grandes desafios para a maioria das pessoas. O caos da catástrofe imposta pelo novo coronavírus modificou radicalmente a rotina de muitos, impôs adaptações a curtíssimo prazo a todos e também favoreceu o aparecimento de sintomas de ansiedade, depressão e pânico.

Isso se deu em decorrência das situações de luto, isolamento social, medos constantes do futuro, da doença, do desemprego e do outro que poderia portar o vírus. Além da exaustão causada pelo acúmulo de tarefas domésticas e laborais em decorrência do teletrabalho, das aulas remotas/online das crianças e das demissões em massa.  

Nesse sentido aponta a pesquisa do Observatório Febraban/Ipespe que ouviu três mil pessoas nas cinco regiões do país: “entre as principais mudanças na vida dos brasileiros provocadas pela pandemia do coronavírus, a saúde mental e emocional foi mencionada por 57%”.

 

Fonte: https://medicinasa.com.br/saude-mental-emocional/

É preciso esclarecer que a Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que no Brasil 11,5 milhões de pessoas sofrem com depressão e que até 2030 essa será a doença mais comum no país.  

E, ainda, neste sentido, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) pesquisou o impacto da pandemia e do isolamento social na saúde mental de trabalhadores essenciais e mostrou que sintomas de ansiedade e depressão afetam 47,3% desses trabalhadores durante a pandemia, no Brasil e na Espanha. Destaque-se que mais de 50% destes sofre de ansiedade e depressão ao mesmo tempo. Além disso, a pesquisa indica que 44,3% têm abusado de bebidas alcoólicas; 42,9% sofreram mudanças nos hábitos de sono; e 30,9% foram diagnosticados ou se tratou de doenças mentais no ano anterior. Por fim, a Associação Brasileira de Empresas de Saúde e Segurança no Trabalho (Abresst) aponta que a síndrome de Burnout ou esgotamento profissional também vem crescendo como um problema a ser enfrentado

 

Fonte: encurtador.com.br/qxEIS

Em resumo, trata-se de um tempo muito difícil, que, certamente, trará consequências ainda imprevisíveis à saúde física e mental dos envolvidos.

A minha experiência com a pandemia não foi tão aguda ou desafiadora de modo que eu me autorize a reclamar. Tenho consciência do privilégio que é estar atravessando a calamidade tendo emprego, filhos na escola particular, saúde física e, ainda, viver com relativa estabilidade no caos, apesar do ônus imensurável de ter perdido meu tio para COVID em março deste ano.

Contudo, tais regalias não afastaram o sofrimento mental, nem as consequências físicas da experiência na pandemia.  

Foram muitas crises de ansiedade, insônia continuada, irritabilidade, esgotamento físico e mental por excesso de trabalho, perda de concentração, cortisol nas alturas, compulsão alimentar e, de cara com a balança encontrei 10 quilos a mais. 

Fonte: encurtador.com.br/dBKS9

 

Situações de estresse, tensão, ansiedade e irritação, promovem uma liberação excessiva de cortisol no organismo para diminuir o estresse e restaurar o equilíbrio do corpo. Condições adversas, tais como a pandemia, aciona os mecanismos de fuga e alerta do organismo. 

Todavia, em excesso, como no meu caso, o cortisol pode ser muito prejudicial à saúde, pois faz com que o corpo mobilize as reservas de energia, o que retarda o metabolismo e o fluxo sanguíneo, dificultando o emagrecimento e o ganho de massa magra, aumentando as chances de doenças como infarto e diabetes.  

Para mim, o ganho de peso significou perdas importantes para a saúde física e mental. No campo físico, meu colesterol chegou a níveis recorde que me levaram a iniciar a trágica e necessária prática de tomar remédios para o resto da vida. E no campo mental, a minha autoestima era atacada pelo desafio de passar horas olhando o meu próprio rosto, cada dia mais gordo, na tela do meet durante mais de 12 horas por dia entre home office e aulas online na faculdade de psicologia. 

Confesso! Eu pensei que não fosse suportar quando: parei de me olhar no espelho; nenhuma roupa servia; procurei duas nutricionistas, fiz dietas e exercícios físicos, mas nada adiantava. Eu continuava a comer compulsivamente, especialmente nos dias e horários em que estava muito cansada. De um modo estranho, comer era uma forma desesperada de obter energia para continuar produzindo.

 

Fonte: https://veja.abril.com.br/blog/letra-de-medico/pandemia-engordavirus/

Eu pude fazer análise durante toda a pandemia. Mais um privilégio a ser anotado! E tenho certeza de que teria sido muito mais difícil sem esse precioso recurso. Porém, ainda assim eu estava sofrendo muito com o resultado no meu corpo.

Em agosto deste ano, após grande relutância e me sentindo vencida e impotente, procurei auxílio de médico endocrinologista e iniciei um tratamento medicamentoso, bastante invasivo, para perda de peso. Minha falta de autoestima e minhas crises de ansiedade haviam chegado ao ápice.  

O primeiro passo do tratamento que promoveria minha mudança foi a realização de uma bioimpedância. Um procedimento que apresenta os percentuais de gordura, massa magra, água e, considerando o funcionamento metabólico define a idade do organismo do paciente. No meu caso, mesmo com todos os privilégios, tinha ganhado 17 anos na pandemia.

Meus hormônios derivados do sistema de alerta (luta e fuga) estavam muito alterados e eu precisei de medicamentos para regulação de metabolismo, sono, apetite e, é claro, ansiedade.

Fiz dois meses do tratamento prescrito, em conjunto com a terapia, e perdi 8 dos 10 quilos. E sigo firme, mas muito assustada com a quantidade de intervenções que precisarei fazer no meu organismo afim de oportunizar a regularização do funcionamento hormonal e metabólico que foi severamente afetado pelo sofrimento emocional durante a pandemia. 

Por outro lado, esta experiência tem me feito refletir sobre a importância das técnicas não medicamentosas em psicoterapias e psicanálise a serem oportunizadas às pessoas em sofrimento decorrente dos sintomas que decorrem da experiência com a calamidade da COVID 19, bem como daqueles que advirão no pós-pandemia. 

Fonte: encurtador.com.br/dkCFK

 

De outro modo, também me pego pensando no texto de Eliane Brum “Exaustos – e correndo e dopados” que utiliza a teoria de Byung-Chul Han para nos localizar numa “sociedade do cansaço” e identificar nossa condição de escravo de nós mesmos advinda dessa necessidade de trabalho e desempenho sem que haja o devido tempo para o luto, a melancolia e o sofrimento. Sobre este ponto, me admirei da quantidade de psicofármacos que me foram ofertados pela equipe médica para que eu pudesse, mesmo nos dias difíceis, conseguir produzir muito, mais e até melhor que nos dias bons. Bastava uma pílula de um tarja preta e tudo ficaria controlado. Afinal, “o depressivo é o inválido da guerra internalizada da sociedade de desempenho” (Brum, 2016). Pois, o mercado de trabalho, os afazeres domésticos e a faculdade não podem esperar o reequilíbrio das baixas causadas pelo sofrimento emocional.

 Referencias Bibliográficas

BRUM, Eliane. Exaustos – e Correndo – e Dopados. https://brasil.elpais.com/brasil/2016/07/04/politica/1467642464_246482.html

CAMPOS, Lediomar Silva, LEONEL, Camila Ferreira Silva e GUTIERREZ, Denise Machado Duran, Relação entre estresse e obesidade: uma revisão narrativa. 2020. https://periodicos.ufam.edu.br/index.php/BIUS/article/view/8255 

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Sofrimento e arte – (En)Cena entrevista a artista Laís Freitas

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“A resposta é que homens amam homens, podem até ser heterossexuais mas pelo prazer sexual. Homens glorificam o mesmo sexo, não consomem conteúdos feitos por mulheres, tem apreço apenas ao que eles próprios fazem”.

O Portal (En)Cena entrevista a artista plástica Laís Freitas, de Palmas-TO, para conhecer o que significa ser mulher no Brasil na pandemia pelo olhar da jovem pintora de 18 anos que utiliza das redes sociais como meio para divulgar e comercializar seu trabalho.

Durante a conversa, Laís explica como é ser jovem, mulher e pretender viver de arte no Brasil, apontando os desafios impostos pelo machismo estrutural. A artista também fala sobre os aspectos de saúde mental na sua obra mais recente, a série de quadros “ilusão”. Para ela, o pintar e a possibilidade de se expor e se expressar têm efeito terapêutico e chama a arte de “salvação” que oportuniza tanto ao artista como ao expectador, acessar e entender sentimentos que nunca haviam sido percebido.

(En)Cena –  Considerando o seu lugar de fala, mulher, jovem, artista  e usuária ativa das redes sociais: o que é ser mulher no Brasil, durante a pandemia da COVID-19?

Laís Freitas (@aloisam_) – Como jovem artista, vejo que ser mulher nos dias atuais de pandemia é uma constante luta, em todos os aspectos. Ao longo da história conseguimos como feministas muitas conquistas, mas ainda existem muitas pautas a serem tratadas. Com um olhar sensível, observo que o sofrimento da mulher, incluindo o meu, parte de um sentimento de solidão, diante de uma cobrança muito grande que fomos ensinadas desde pequenas, o peso do mundo em nossas costas, que claro, parte de um machismo estruturado da nossa convivência.

Fonte: Arquivo Pessoal – @aloisam_

(En)Cena –  Ao falar sobre a sua série de quadros “ilusão” no post do Instagram , @aloisam, do dia 25/04/2021  você afirma ter descoberto que o pintar te salva, quando permite contar a sua história. Como você entende a relação entre arte e saúde mental?

Laís Freitas (@aloisam_) –  Como disse na minha postagem, vejo o momento da pintura como uma “quase meditação”, é o momento que mais me sinto conectada comigo mesma, pelo processo ser demorado e estar transcrevendo meus sentimentos em símbolos.

 Nunca fui de me abrir conversando sobre meus problemas, mas sinto que me encontrei na minha pintura. Acho mais fácil escrever sobre o que estou passando e transformar em desenhos, me expresso dessa forma. Às vezes quando falo sobre esse processo com alguém, brinco que se não pintasse eu explodiria, porque desconheço forma mais eficiente de expressão. A arte é salvação, tanto para o artista quanto para o expectador, com ela conseguimos acessar e entender sentimentos que nunca tínhamos percebido, ela é sensível, conta uma história.

(En)Cena –    Como artista jovem em 2021, qual sua perspectiva diante do mercado de trabalho tão modificado e adaptado pela pandemia, com inúmeras possibilidade de interações comerciais online por meio das redes sociais?

Laís Freitas (@aloisam_) –  Com a pandemia, todos tivemos que nos reinventar. Já havia o pensamento de ter uma renda com o mercado online, mas não como eixo principal. Essa adaptação, para mim, abriu meus olhos para outras oportunidades e uma interação com o público muito rápida. A necessidade de criar conteúdo nas redes sociais confesso que me assusta um pouco, percebo que é mais fácil falar com mais pessoas, mas conseguir manter uma visibilidade e crescer em cima disso é mais difícil. Em relação a vendas, uma queda bem grande, a arte querendo ou não, no sistema econômico que vivemos quem compra é quem tem dinheiro, e com a pandemia trabalho está escasso então ninguém tem renda para contribuir no trabalho de um artista.

Fonte: Arquivo Pessoal – @aloisam_

(En)Cena – Quais os desafios de ser mulher e querer viver de arte no Brasil?

Laís Freitas (@aloisam_) –   Lembro-me da primeira vez que fui ao MASP, logo quando entrei havia um poster enorme do grupo Guerrilla Girls (de Nova York) com um texto adaptado “as mulheres precisam estar nuas para entrar no Museu de Arte de São Paulo?” e logo embaixo dados afirmando que apenas 6% dos artistas do acervo em exposição eram mulheres (2017).

Como mulheres, não temos visibilidade, ainda mais na arte que temos pouquíssimas referências ao longos dos movimentos. Por exemplo, em 1909 foi lançado o “Manifesto Futurista” de F. T. Marinetti que fundamentou a vanguarda europeia “futurismo”, em que dizia em seu texto ”Queremos glorificar a guerra – única higiene do mundo -, o militarismo, o patriotismo, o gesto destruidor dos anarquistas, as belas ideias pelas quais se morre e o desprezo da mulher.”. Sabemos que a arte, assim como todas práticas intelectuais, sempre foram afastadas das mulheres mas, porque ainda não temos visibilidade até hoje?

A resposta é que homens amam homens, podem até ser heterossexuais mas pelo prazer sexual. Homens glorificam o mesmo sexo, não consomem conteúdos feitos por mulheres, tem apreço apenas ao que eles próprios fazem. Essa, na minha visão, é a maior dificuldade de ser mulher e querer viver de arte, não temos a representação e a fama que um homem teria fazendo a mesma coisa. Por isso acho tão importante o movimento de mulheres apoiarem umas as outras, pois outros não vão fazer isso por nós.

Fonte: Arquivo Pessoal – @aloisam_

(En)Cena –   Alguns dos seus quadros trazem imagens de rostos, mãos e órgãos humanos. Num tempo de pandemia em que o corpo e a saúde viraram pauta de constantes sofrimentos físicos e mentais, de que tratam os corações da retratados na sua arte?

Laís Freitas (@aloisam_) –    A arte que faço é completamente minha, todas as faces mesmo que não sejam meu rosto, de alguma forma sou eu, assim como os corações e mãos. Minha última série “ilusão”, foi uma tentativa de me colocar em primeiro lugar, sem ter vergonha de mostrar fragilidade, por isso são todos autorretratos. Antes me escondia por medo de demonstrar sentimentos, tanto que publicava os quadros, mas não conseguia escrever sobre eles para explicar para o público o intuito do quadro.

Com muito esforço de passar por um processo de autodescoberta e aceitação, consegui parar de ter medo de demonstrar sentimentos através dos textos sobre os quadros. No primeiro quadro da minha série, que deu início a todos os outros, explico sobre essa “ilusão” de idealizar o sofrimento e até fugir dele, com medo da solidão. Mas a partir do momento que me permito sentir essa dor e percebo que faz parte do processo, essa solitude não incomoda mais, e até passo a gostar dela.

Para mim, o coração é o símbolo dos sentimentos e desse sofrimento. Demonstro as etapas da minha vida como as sensações que sentia no meu coração. Demonstrei ele pertencente a alguém, livre, sereno e também com fome.

Fonte: Arquivo Pessoal – @aloisam_

(En)Cena –   Na sua opinião, qual seria o caminho para as mulheres no pós-pandemia?

Laís Freitas (@aloisam_) –   Acredito que com essa pandemia, conseguimos ver ainda mais o que as mulheres passam em casa. As taxas de feminicídio só aumentam, relações abusivas disfarçadas de amor é o que mais têm. Que essa solidão que falei sirva de aprendizado, o sofrimento da cobrança em cima de nós é muito grande.

Revoluções assim, são de extrema importância. Todas entendemos o conceito de feminismo, ainda que tenha muito tabu em cima, devemos nos apoiar, creio que seja a única saída, o movimento de mulheres para mulheres.

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Na semana do Dia Internacional da Obesidade, especialista em Nutrição oferece vídeos gratuitos

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Entre 04 e 06 de março, Sophie Deram – PhD em Nutrição, especialista em distúrbios alimentares e autora
do best-seller “O Peso das Dietas”- libera gratuitamente vídeos do “Manifesto para o novo olhar sobre
a obesidade”, com palestrantes renomados; conteúdo pode ser 
acessado no site

São Paulo, fevereiro de 2020 – Além da pandemia do coronavírus, o mundo todo -inclusive o Brasil- vive uma outra pandemia crônica, a da obesidade, que prejudica a qualidade de vida e mata milhares de pessoas todos os anos. O dia 4 de março marca o Dia Mundial da Obesidade (World Obesity Day), data em que estudiosos do mundo todo se mobilizam pela conscientização contra a doença.

Pensando em ajudar no combate à obesidade, a PHD em nutrição Sophie Deram, autora do best-seller “O Peso das Dietas”, disponibilizará para o público em geral oito vídeos gratuitos do evento online “Manifesto para o novo olhar sobre a obesidade”, realizado em novembro de 2020. O conteúdo poderá ser acessado pelo site do Manifesto, de forma 100% gratuita, entre os dias 04 e 06 de março”.

“Vemos a data mundial (World Obesity Day) como uma oportunidade para chamar a atenção para a doença, além de promover a mudança no enfoque do tratamento dado aos obesos. Enquanto o foco principal for a perda de peso, o quadro de saúde da população tende a piorar. A saúde é um conceito que engloba o bem estar físico, mental e social da pessoa e sua qualidade de vida, não somente o seu peso”, explica Sophie.

Fonte: Arquivo Pessoal

Palestrantes

Além da idealizadora, o manifesto contou com a mediação da jornalista Fabíola Cidral e com as participações de palestrantes renomados: o sociólogo e antropologista francês Claude Fischler; o coordenador da Assistência Clínica do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HCFMUSP), o psiquiatra Táki Cordás; a médica Paula Teixeira, fundadora do centro brasileiro de Mindful Eating; e os pesquisadores e também nutricionistas Dennys Cintra e Maria Carolina Mendes, da UNICAMP.

O evento visa despertar a reflexão sobre como lidar de forma mais atualizada e humana com o tratamento da obesidade. Foram apresentadas alternativas para enfrentar a condição, que afeta 19,8% da população brasileira, segundo o Ministério da Saúde. Os convidados também apresentaram estudos científicos que apontam possíveis caminhos para tratar o obeso sem recorrer a dietas restritivas.

O encontro não teve fins lucrativos nem conflito de interesses com as indústrias alimentícia e farmacêutica.
“Com o ‘Manifesto’, vamos na contramão do discurso tradicional e do posicionamento da maioria dos profissionais da saúde, e pretendemos chamar a atenção das autoridades para o novo olhar sobre a obesidade. É necessário rever a abordagem com urgência, adotando um olhar novo e mais empático”, defende.

Serviço
Vídeos Gratuitos- “Manifesto para o novo olhar sobre a obesidade”
Quando: 04 a 06 de março
Como acessar: Pelo site 

Sobre Sophie Deram: Autora do livro “O Peso das Dietas”, é engenheira agrônoma de AgroParisTech (Paris), nutricionista franco-brasileira e doutora pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) no departamento de Endocrinologia. Além de especialista em tratamento de Transtornos Alimentares pelo AMBULIM – Programa de Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria do HCFMUSP, é coordenadora do projeto de genética e do banco de DNA dos pacientes com transtorno alimentar no AMBULIM no laboratório de Neurociências.

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