A ascensão dos podcasts: vantagens e desafios na era da informação sob demanda

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A ascensão dos podcasts: como o formato transforma nosso consumo de conteúdo e traz novos desafios na era digital.

Os podcasts ganharam espaço na vida das pessoas e se consolidaram como uma mídia de grande impacto e acessibilidade, especialmente no contexto digital contemporâneo. Graças ao formato em áudio e à possibilidade de serem escutados em praticamente qualquer lugar, os podcasts atendem a uma demanda crescente por conteúdos que conciliam praticidade e diversidade (Souza & Lima, 2022). A oferta variada de temas atrai ouvintes de diferentes interesses e idades, e a praticidade do formato possibilita que o consumo de informação ocorra em meio às atividades diárias. Contudo, o crescimento acelerado desse meio traz não apenas benefícios, mas também desafios complexos que vão desde o excesso de informações até o risco de desinformação e impactos cognitivos.

As vantagens do podcast: flexibilidade e diversidade temática

A principal vantagem do formato de podcast é a flexibilidade. Segundo Pereira e Costa (2022), o público pode ouvir conteúdos enquanto realiza outras atividades, como exercícios físicos ou tarefas domésticas. Essa conveniência faz com que o consumo de podcasts se adeque bem ao cotidiano multitarefa e digitalizado, onde o tempo é escasso e a preferência é por conteúdos acessíveis e rápidos. Além disso, o formato oferece uma vasta diversidade temática, abrangendo tópicos que vão desde saúde e bem-estar até ciência e cultura, atraindo públicos específicos e permitindo uma experiência de aprendizado acessível a todos (Johnson, 2023). Esse caráter diversificado e personalizado torna o podcast uma importante ferramenta para democratizar o acesso ao conhecimento, promovendo a educação continuada e informando sobre temas atuais e relevantes.

Outro aspecto positivo do formato é a experiência de escuta mais próxima e pessoal. Para o ouvinte, a voz do apresentador cria uma conexão que facilita o engajamento. Albuquerque et al. (2022) destacam que essa sensação de intimidade, muitas vezes, leva os ouvintes a criarem laços com o apresentador ou com o programa, o que promove um senso de pertencimento e de comunidade entre os ouvintes. Esse efeito é particularmente significativo na construção de audiências fiéis, que muitas vezes participam ativamente nas redes sociais e interagem diretamente com os criadores de conteúdo. Essa proximidade também beneficia os criadores, que conseguem obter um retorno direto do público e adaptar o conteúdo com base no feedback recebido.

                                                                                                                                       Fonte: www.freepik.com

Os desafios da ascensão dos podcasts

Apesar das inúmeras vantagens, a popularidade dos podcasts também apresenta desafios que devem ser cuidadosamente avaliados. O fácil acesso às ferramentas de produção e os baixos custos de entrada permitiram um crescimento exponencial na quantidade de conteúdos disponíveis. Isso, porém, gera uma grande dificuldade para o ouvinte comum, que muitas vezes não sabe como identificar quais fontes são confiáveis (Gomes & Almeida, 2023). A saturação de conteúdos e o risco de desinformação tornam-se, então, problemas complexos. Segundo Morris (2023), a ausência de regulamentação específica sobre o conteúdo de podcasts facilita a disseminação de informações não verificadas, prejudicando a credibilidade do formato e expondo os ouvintes a conteúdos enganosos.

A sobrecarga de informações é outro desafio. A multiplicidade de opções pode provocar um sentimento de ansiedade, um fenômeno conhecido como information overload, em que o excesso de conteúdo torna a escolha mais difícil e causa angústia (Silva & Oliveira, 2022). Isso é especialmente relevante em uma época em que o tempo livre é reduzido e a atenção fragmentada é uma realidade. Em um estudo recente, Gomes e Almeida (2023) apontam que a superexposição a informações, mesmo que por meio de podcasts, pode impactar negativamente a saúde mental e aumentar a dificuldade de concentração em outras atividades, como a leitura ou o trabalho.

Ainda no campo dos impactos cognitivos, Silva e Oliveira (2022) destacam que o consumo excessivo e contínuo de conteúdo em áudio pode prejudicar o tempo que as pessoas dedicam a outras formas de entretenimento ou aprendizado, como a leitura de livros ou a prática de atividades que requerem atenção plena. Essa exposição frequente pode levar a uma redução da capacidade de concentração e afetar o desenvolvimento de habilidades mais profundas de reflexão. Assim, embora os podcasts ofereçam uma experiência de aprendizado acessível, é importante estar atento para evitar que o consumo excessivo prejudique outras áreas da vida cognitiva.

A responsabilidade dos criadores e a consciência do público

Para que o formato de podcast continue sendo uma ferramenta confiável e educativa, é essencial que criadores e ouvintes adotem uma postura consciente. Por parte dos criadores, a verificação rigorosa de informações e o compromisso ético com a qualidade do conteúdo são fundamentais. Conforme Medeiros (2023) afirma, ao produzir conteúdo para um público amplo e heterogêneo, os criadores devem priorizar a ética, evitar sensacionalismos e valorizar a exatidão da informação. Essa responsabilidade é essencial para que o formato mantenha sua credibilidade e para que o público confie nos conteúdos que consome.

Já os ouvintes, por sua vez, precisam desenvolver uma postura crítica diante do que escutam. Escolher fontes confiáveis, buscar referências adicionais e verificar a origem das informações são práticas que podem ajudar a combater a desinformação. Além disso, a moderação no consumo de podcasts e a diversificação das fontes de aprendizado e entretenimento são essenciais para manter o equilíbrio (Pereira & Costa, 2022). Assim como em outras plataformas digitais, o consumo consciente de conteúdo em áudio é fundamental para que o ouvinte tire proveito das vantagens oferecidas pelo formato sem prejudicar seu bem-estar.

O futuro dos podcasts e o desafio da sustentabilidade

A ascensão dos podcasts reflete um desejo crescente por conteúdos flexíveis e acessíveis, mas a sustentabilidade desse formato depende de um equilíbrio entre a liberdade criativa e a responsabilidade informativa. O podcast tem o potencial de continuar sendo uma ferramenta poderosa na disseminação de conhecimento e cultura, mas esse potencial só poderá ser plenamente realizado se os produtores e o público contribuírem para criar um ecossistema de mídia mais ético e confiável (Souza & Lima, 2022).

Nesse contexto, Albuquerque et al. (2022) ressaltam que o futuro dos podcasts passa por uma valorização da qualidade sobre a quantidade, estimulando a criação de conteúdos mais aprofundados e informativos. A implementação de práticas de verificação de dados, a criação de parcerias com fontes confiáveis e o investimento em pesquisas para entender melhor o comportamento do público podem ajudar a garantir que os podcasts mantenham sua relevância sem comprometer a integridade das informações transmitidas.

Considerações finais

Embora a popularidade dos podcasts apresenta riscos, como a desinformação e a sobrecarga de conteúdos, com práticas adequadas de consumo e produção, é possível maximizar os benefícios desse formato. A responsabilidade ética dos criadores e a postura crítica dos ouvintes são essenciais para que os podcasts permaneçam como uma fonte confiável e rica de conhecimento e entretenimento. Aproveitar as vantagens do formato com moderação e comprometimento permite que o podcast continue sendo uma ferramenta relevante e positiva na sociedade digital.

 

Referências:

ALBUQUERQUE, M.; CARVALHO, A.; MOURA, L. A experiência do podcast no Brasil: conexões e potencialidades. Revista Brasileira de Estudos da Comunicação, v. 45, n. 2, p. 58-72, 2022.

GOMES, P.; ALMEIDA, R. A multiplicidade dos podcasts e a sobrecarga de informações: um estudo sobre hábitos de consumo. Estudos de Mídia e Tecnologia, v. 14, p. 110-124, 2023.

JOHNSON, L. The rise of podcast culture: exploring intimacy and engagement in digital audio. Journal of Digital Media Studies, v. 10, n. 1, p. 33-48, 2023.

MEDEIROS, F. A responsabilidade ética na criação de conteúdo para podcasts. Comunicação e Sociedade, v. 36, n. 1, p. 93-105, 2023.

MORRIS, D. Podcast misinformation and the risks of unchecked digital platforms. Digital Ethics Quarterly, v. 8, n. 3, p. 22-36, 2023.

PEREIRA, L.; COSTA, S. A versatilidade do podcast e o impacto no aprendizado contemporâneo. Revista Educação e Tecnologia, v. 12, n. 4, p. 145-159, 2022.

SILVA, M.; OLIVEIRA, J. Podcasts e atenção fragmentada: desafios na era da informação. Jornal Brasileiro de Psicologia e Tecnologia, v. 17, n. 3, p. 185-199, 2022.

SOUZA, T.; LIMA, R. Democratização do conhecimento: o papel dos podcasts na era digital. Cultura e Sociedade, v. 30, p. 203-217, 2022.

 

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É preciso ir além da sala de aula e se engajar em estudos externos, diz estudante de Psicologia

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A acadêmica de Psicologia do Rio de Janeiro, Luana Venâncio, alerta aos colegas para se alinharem a grupos de estudos extraclasse, caso os estudantes de fato queiram se aprofundar mais nas abordagens escolhidas.

Em entrevista para o (En)Cena, a acadêmica do curso de Psicologia Luana Venâncio, de 28 anos, dá dicas preciosas para os estudantes que estão em todas as fases de formação no curso. Talvez a mais sintomática seja não perder tempo e se aprofundar nas abordagens que geram mais curiosidade. Ou seja, isso também envolve participar de grupos de estudos para além das salas de aula da universidade, uma vez que a tendência dos cursos – na maioria das universidades – é ser generalista, o que inviabiliza, no decorrer da formação, um mergulho profundo no campo teórico escolhido.

Luana, que está no quarto período de Psicologia no Centro Universitário Augusto Motta, do Rio de Janeiro, participa de três grupos de estudos em Psicologia Analítica/Junguiana – inclusive um deles de Palmas, vinculado ao Ceulp/Ulbra – e comenta sobre a riqueza de participar de coletivos compostos por estudantes de Psicologia, professores, psicólogos e profissionais de áreas afins.

Fonte: Arquivo Pessoal

Confira este e outros tópicos na entrevista que segue.

(En)Cena: Como está sua vida acadêmica no momento?

Luana Venâncio – Eu estudo na Unisuam (Centro Universitário Augusto Motta) no Rio de Janeiro e, atualmente, estou cursando o 4º período em Psicologia. Em época de pandemia, tive que me adaptar a uma nova rotina de estudos. Ter aulas online é um desafio para mim que sinto muita falta do ambiente acadêmico, mas estou otimista que tudo vai passar!

(En)Cena: Você participa de grupos de estudos para além da universidade… o que te motivou a procurar estes grupos?

Luana Venâncio – Acredito que a minha vontade de me aprofundar na abordagem analítica. Sinto que a Universidade traz muito conhecimento em todas as áreas da Psicologia e traz vivências, experiências, mas a Psicologia Junguiana não tem muito espaço na universidade onde estudo.  Com os grupos de estudo, tenho a oportunidade de desenvolver mais os conhecimentos da prática clínica. O primeiro grupo que entrei é daqui do Rio de Janeiro, chamado Lampeju,  que  é composto por estudantes e profissionais (psicólogos clínicos, pedagogos, professores e entre outros). É comum debatermos sobre textos e, também, discutirmos sobre casos clínicos das obras.

(En)Cena: Você considera que só o estudo acadêmico, dentro dos limites da universidade, é suficiente para a formação?

Luana Venâncio – Não considero. Acredito que a academia prepara o profissional para o mercado, mas a qualidade do profissional Psicólogo exige muito conhecimento que vai muito além da universidade. Filmes, livros, séries, documentários, grupos de estudos, feiras, encontros ajudam muito, mas é fundamental que além disso o graduando possa também estar em sua análise (psicoterapia individual). Muitos alunos ainda não têm o contato com a psicoterapia por falta de condições financeiras, o que traz consequências a sua qualidade como profissional. Isso reforça que ainda infelizmente o curso é elitizado (custo alto) em muitas universidades. Acredito que projetos que venham trazer a psicoterapia de forma mais acessível é sempre uma abertura, não só para este público, mas para todos.

(En)Cena: Qual a dica que você dá aos alunos que ainda ficam em dúvida, mesmo tendo avançado bastante no curso? Esta indecisão pode atrapalhar o mergulho na abordagem?

Luana Venâncio – Acredito que a dúvida faz parte do caminho dos graduandos (Risos). É comum flertarmos com outras abordagens e, também, com outras áreas (clínica, educacional, organizacional, jurídica…). Acredito que não exista um caminho padrão para lidar com essa dúvida, porque cada aluno vai lidar com a sua forma de resolver esta indecisão. Algo que pode ajudar muito é estudar mais sobre a área de atuação , conversar com profissionais e pesquisar materiais destes profissionais afim de ter mais conhecimento. Antes de entrar na universidade eu tinha uma ideia definida de ser somente Psicóloga Clínica, e hoje estou pensando em fazer mais um estágio além da clínica. Estou em dúvida sobre a Psicologia Social ou a Escolar como segundo estágio. Ainda não decidi (Risos).

(En)Cena: Você tem um perfil no Instagram onde narra, de forma bastante interessante, as cartas de Jung… como surgiu a ideia, e qual a reação do público?

Luana Venâncio – Quando li a primeira carta do Jung fiquei impressionada com tanta sensibilidade. A ideia surgiu na minha cabeça como forma de tornar este conhecimento acessível de uma forma diferente. A ideia da página é de levar conhecimento as pessoas, mas também uma forma de aprender com os textos, cartas e pensamentos da Psicologia Junguiana. As pessoas gostam muito e se sentem sensibilizadas com as cartas, principalmente aquelas em que Jung escreveu a pacientes. Pacientes que estavam muitas vezes em grandes conflitos sobre suas escolhas e caminhos.

(En)Cena: Você pensa em transformar estes posts em podcasts?

Luana Venâncio – Penso sim. Na verdade, essa é a proposta dos posts.

(En)Cena: Você pretende atuar na clínica?

Luana Venâncio – Sim. É o meu maior sonho! Ver as mudanças de uma pessoa, acompanhar sua história, suas escolhas, caminhos, para mim é o prazer da clínica.

(En)Cena: Há algo a mais que você gostaria de dizer aos estudantes de Psicologia?

Luana Venâncio – Eu gostaria de deixar uma frase do Jung que resume o meu pensamento. “Quem olha fora sonha, quem olha dentro desperta”. Acredito que toda vez que a dúvida bater à porta ou mesmo diante daqueles dias ruins, seria voltar o olhar para dentro. A resposta que procuramos sempre está dentro de nós. É isso que estou aprendendo. É muito importante trilharmos em caminhos que condizem com caminhos do nosso coração. Tudo que é feito com amor tem um grande diferencial.

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