Dioniso, o deus grego: Uma perspectiva arquetípica do olhar da psicologia analítica de Jung

Compartilhe este conteúdo:

O deus nascido de uma mortal e uma divindade, que fez sua jornada até o Olimpo.

Gabriel Primo – gabriel.primo@rede.ulbra.br

A divindade grega do vinho, do êxtase e da folia, Dionísio, ou para alguns mitólogos Dioniso, há muito tempo chama a atenção das pessoas. Vamos nos aprofundar nas muitas facetas de Dionísio neste texto e examinar seu significado na mitologia grega clássica, com um olhar junguiano como possibilidade do mito nas nossas vidas. Nisso o que as ideias psicológicas da psicologia analítica de Carl Jung iluminam o arquétipo de Dionísio, dando-nos uma melhor compreensão do simbolismo e significado do deus na mente humana. Dionísio era um deus da mitologia grega ligado ao vinho, à fertilidade e ao prazer espiritual. Ele era conhecido como o “deus nascido duas vezes”, e pensava-se que ele era filho do poderoso Zeus e da mortal Sêmele. Dionísio é um personagem difícil e fascinante porque incorpora os traços contraditórios tanto do sagrado quanto do mortal, dualidade presente nas nossas vidas.

Do ponto de vista analítico junguiano, a ideia do arquétipo dionisíaco lança mais luz sobre as características de Dionísio e seu significado na psicologia humana. De acordo com Jung, os arquétipos são padrões ou símbolos primordiais herdados que existem no inconsciente coletivo da humanidade. Eles aparecem em todas as culturas e épocas e são universais e repetitivos. Como arquétipo, Dionísio representa os lados animalesco e irracional da natureza humana. Ele representa as forças selvagens, ferozes e caóticas que se escondem logo abaixo do nível da consciência humana. Esse arquétipo está frequentemente ligado à busca do prazer, da emancipação e da violação de tabus sociais. O impulso dionisíaco, que anseia por encontros eufóricos, autoexpressão desenfreada e conexão com a energia primordial, é representado por Dionísio.

O arquétipo apolíneo, que representa ordem, razão e lógica, pode ser considerado o contraponto do arquétipo dionisíaco de uma forma mais rasa. O arquétipo dionisíaco promove a investigação dos sentimentos, desejos e do inconsciente, enquanto o arquétipo apolíneo enfatiza a estrutura e o controle. As pessoas podem acessar seu potencial criativo, espontaneidade e conexão com seu eu interior, abraçando a energia dionisíaca. Essas partes intuitivas e ilógicas da experiência humana são fundamentais, como mostra a existência do arquétipo dionisíaco no inconsciente coletivo. Enfatiza como é crucial que as pessoas reconheçam e incorporem esses componentes dentro de si mesmas, a fim de alcançar a completude e o equilíbrio psicológico.

O arquétipo dionisíaco também tem a capacidade de transformar. As pessoas podem experimentar um tremendo crescimento pessoal e desenvolvimento espiritual explorando as partes caóticas e apaixonadas de sua psique. A energia dionisíaca fornece um caminho para a individuação, que é o processo de integração de toda a identidade, incluindo a própria sombra, para se tornar uma pessoa mais genuína e completa. Em geral, o arquétipo dionisíaco oferece uma estrutura para compreender os aspectos primitivos, absurdos e transformadores da natureza humana. As pessoas podem explorar e abraçar os lados selvagens, apaixonados e criativos de si mesmas ao estarem cientes e interagirem com esse arquétipo, o que acaba levando a uma maior compreensão da psique humana e a uma vida mais integrada e satisfatória.

Nesse ponto se falarmos sobre o arquétipo dionisíaco e a sombra, faz total sentido. Na psicologia junguiana, o termo “sombra” refere-se às facetas ocultas e frequentemente reprimidas do caráter de uma pessoa. Dionísio representa o arquétipo da escuridão por causa de seu temperamento selvagem e extravagante. Ele representa as inclinações e desejos reprimidos que a sociedade frequentemente vê como inaceitáveis. As pessoas são forçadas a enfrentar seus impulsos reprimidos por meio da representação de Dionísio, que as obriga a compreender e integrar seus lados mais sombrios.

Jung também introduziu a ideia de “individuação”, que descreve o processo de integração e harmonização das muitas facetas da psique. Como arquétipo, Dionísio é essencial para esse procedimento. As pessoas podem acessar seu potencial criativo e se sentir liberadas das restrições culturais ao abraçar a força dionisíaca interior. De acordo com a mitologia grega, os devotos de Dioniso participavam de folias selvagens e cerimônias extáticas conhecidas como “Mistérios Dionisíacos”. Esses ritos forneciam às pessoas oportunidades de mudança de vida para transcender o ego e se envolver profundamente com o divino. Da mesma forma, de acordo com a psicologia junguiana, o caminho para a individuação frequentemente envolve uma viagem ao inconsciente, onde as partes da sombra devem ser enfrentadas e integradas.

O arquétipo de Dionísio ainda tem uma forte presença na era contemporânea e assume muitas formas diferentes. Observamos um anseio por autoexpressão irrestrita, um desejo por encontros transcendentes e uma busca por um significado mais profundo além da razão e do controle na sociedade moderna. Mesmo nos campos da psiquiatria e da psicoterapia, onde se valoriza a investigação do inconsciente, o impacto de Dionísio pode ser sentido. 

O misterioso deus grego Dionísio personifica a complexidade da alma humana. Podemos ver sua relevância como um arquétipo que incorpora os componentes instintivos, irracionais e transformacionais da natureza humana através do prisma da psicologia analítica junguiana. Podemos aceitar nossas próprias sombras, trilhar o caminho da individuação e liberar nosso potencial criativo investigando o arquétipo dionisíaco. Dessa forma, o simbolismo duradouro de Dionísio serve para nos motivar e nos direcionar enquanto buscamos o autoconhecimento e a totalidade. Já percebeu esse arquétipo na sua vida?

Referências

Jung, C. G. (2000). O homem e seus símbolos. Editora Nova Fronteira.

Jung, C. G. (2011). O eu e o inconsciente. Editora Vozes.

Vernant, J. P. (1990). Mito e pensamento entre os gregos. Editora Paz e Terra.

Compartilhe este conteúdo:

Manejo da Ansiedade na Clínica Junguiana

Compartilhe este conteúdo:

Pensei em diversas formas para tratar esse assunto de modo a se tornar uma ferramenta acessível para quem a lê. É importante dizer que Jung não se baseava nos transtornos mentais para desenvolver alguma estratégia de tratamento, apesar de ter partido deles para o desenvolvimento de suas teorias. Podemos verificar isso em seus estudos da dementia praecox, encontrada atualmente dentro dos transtornos e distúrbios advindos das síndromes psicóticas. Mas e o que dizer da ansiedade? Nem sempre o paciente aparece com a demanda de uma psicose acoplada a ela. Talvez uma base neurótica. Então, como lidar com a ansiedade em uma visão junguiana?

A ansiedade não é a causa de sofrimento do sujeito, na verdade ela é o efeito, e esta pode aparecer como resposta do organismo psíquico para lidar com algum fato ainda não processado, podemos dizer que ela é um sintoma. Situações como abuso sexual ou psicológico, acidentes, relações mal resolvidas, amores não correspondidos, perdas de entes queridos, tudo isso pode desencadear uma ansiedade. Cada caso é um caso. Não se pode adivinhar nem prever que a ansiedade seja o efeito de uma causa específica para todos os casos. Pensando desta forma, existe algo por trás da ansiedade que é especificamente do indivíduo que a manifesta e que por uma seletividade do ego, estrutura central e organizadora da consciência, acaba se encontrando no inconsciente deste. Com isso um dos processos mais interessantes que Jung desenhou em seus escritos é o modelo dinâmico como o inconsciente se manifesta.

Seja através de uma pintura, seja por um poema, ou mesmo num sonho, o inconsciente se projeta para a consciência constantemente buscando uma homeostasia psíquica, uma forma natural de equilibrar os conteúdos conscientes e inconscientes. No inconsciente, mais especificamente o inconsciente pessoal, existem estruturas que chamamos de complexos, conglomerados de informações afetivas que estão constantemente em movimento absorvendo energia psíquica e se transformando. Quando uma massa enorme de energia psíquica entra em contato com um complexo, este se desestabiliza criando uma força afetiva intensa, diz-se que está constelado. Traduzindo, alguma situação fora de nós lança um estímulo para dentro gerando uma desestabilização emocional, tendo como resultado a ativação de lembranças e quaisquer outras reações sintomáticas, inclusive a ansiedade. Presume-se que o inconsciente, na tentativa de buscar a homeostasia da psique, lança suas projeções para fora se manifestando em pessoas, relações, quadros, poemas, músicas, experiências religiosas, entre outros. Através dessas manifestações o terapeuta pode encontrar o caminho para ajudar o indivíduo a retornar à estabilidade. Mas como ajudar a psique a retornar ao equilíbrio? Assim como Jung notou que os mitos de diversas civilizações eram na verdade ferramentas de aprendizagem, vou me furtar na tentativa de explicar esse processo através de uma história fictícia, porém lúdica. 

  1. é uma paciente que sofre tendo crises de ansiedade. Toda vez que precisa apresentar um trabalho na faculdade, três dias antes sofre de cólicas intestinais e insônia, além de crises de choro constantes. No consultório ela está sentada roendo as unhas e balançando as pernas. Em sua frente em uma cadeira é colocada uma almofada. Peço-lhe que se utilize de sua imaginação para transportar a ansiedade para a almofada. Desta forma ela traz para o concreto algo que internamente estava muito abstrato e indiferenciado, confuso. Imaginar a ansiedade sendo aquela almofada pode ajudar a diferenciar a sua sensação e torná-la mais palpável. Sendo assim, V. agora pode conversar com a sensação que a desequilibra. 

É importante que o terapeuta não faça induções em sua condução para que possa alcançar informações plausíveis da paciente. O terapeuta pode perguntar se para o paciente seria interessante personificar a ansiedade. Transformá-la numa figura humana pode facilitar o processo de diálogo que será necessário no processo de diferenciação. 

Sugiro a ela então que observe bem a almofada que agora é a sua ansiedade. Pergunto a V. 

  • O que você gostaria de dizer para a ansiedade? 
  • O que você quer de mim? Por que faz isso comigo? – V. pergunta diretamente à ansiedade. 
  • O que ela te responde? Consegue ouvi-la?
  • Ela quer me destruir. 
  • Quer perguntar mais alguma coisa?
  • Quero. Por que você quer me destruir? – V. fica um tempo em silêncio e depois continua – Ela disse que eu não mereço estar viva. 
  • Como assim V.?
  • Ela me disse que não tenho valor nenhum e que todo mundo me odeia.
  • Quem é todo mundo?
  • Meus colegas de faculdade, meus professores.
  • Por que te odeiam?
  • Não sei.
  • Quer perguntar a ansiedade?
  • Por que eles me odeiam? – mais um breve silêncio – Porque nunca fiz nada certo.
  • Nada certo? Como é isso? 
  • Desde pequena eu ouço meus pais me criticando em tudo que eu faço, como me sento, como tenho que falar, não atrapalhar eles no trabalho, como ando, como me visto. 
  • Você acha que a ansiedade tem haver com o que você viveu com os seus pais? 
  • Não sei. 
  • Quer perguntar a ela?
  • Você tem haver com os meus pais? – ela aguarda a resposta – Sim, ela disse que sim. Inclusive agora vejo minha mãe nela.

Paremos por aqui para pontuar neste exemplo o que estava por trás da ansiedade. As repressões vindas dos pais acabam por se tornar energias afetivas ligadas aos complexos maternos e paternos de V.. Quando ela passa por uma situação em que terá que se expor para alguma situação em que receberá um possível julgamento, este estímulo irá constelar os complexos que irão se desestabilizar causando um desequilíbrio emocional com sintomas físicos resultando na ansiedade, o medo premente de reviver as mesmas condições do passado. Mas o processo terapêutico não finaliza por aqui.

A ansiedade é um aspecto natural do nosso organismo, sendo utilizada sempre que o corpo esteja em perigo. Neste caso, a ansiedade de V. aparece na situação em que ela acredita que irá correr algum risco e o organismo psíquico a lembra disso.  Ela começa a revisitar as memórias em um processo regressivo, lembrando-se das reprimendas e críticas de sua mãe. Essas mesmas reprimendas foram isoladas da consciência a fim de que o ego se mantivesse ileso e protegido, lançando-as para o inconsciente.  Agora precisa reformular e ressignificar esses fragmentos de memórias para que a energia volte a fluir para fora, para que continue a progredir em sua vida se adaptando aos obstáculos. 

O direcionamento é ajudar o paciente a trazer de volta à consciência o que se perdeu e dar uma função para a sua ansiedade. Neste caso, V. perdeu a capacidade de acreditar em si e com isso a sua ansiedade, que deveria lhe ajudar a lutar por si, passa a lhe consumir e machucar. 

Na clínica junguiana o uso da imaginação é um processo importante do qual o psicólogo pode se usar para trazer até a superfície as informações que estejam latentes no inconsciente. E aqui é importante enfatizar que os conteúdos do inconsciente não se escondem, mas sim se revelam em símbolos, sintomas e sonhos. A dificuldade pode aparecer quando o psicólogo não consegue ajudar na leitura da linguagem do inconsciente que não se traduz por uma lógica racional, já que tudo que dele emana tem diversas dimensões.  

Quando V. dá forma à sua ansiedade e passa a conversar com ela, está conversando com algo vivo dentro de si mesma. Esse movimento ajuda a dialogar com partes suas que têm vida própria e estão entremeadas de energia afetiva. Ao estabelecer esse diálogo através de sua imaginação, V. terá a possibilidade de redimensionar sua dor diferenciando e dando a si uma condição concreta de superação da situação. O Inconsciente parece querer ser descoberto, mas na verdade é uma questão de homeostase de um organismo que não é somente físico, mas psíquico e dinâmico, criativo e lógico ao mesmo tempo. 

Referências:

JUNG, C. G.. A Energia Psíquica. 8.ed. cor. Petrópolis: Vozes, 2002.

A natureza da psique. 4.ed. Petrópolis: Vozes, 1998.

Ainon. Estudos Sobre o Simbolismo do Si-mesmo. 6.ed. Petrópolis: Vozes, 2000.

Símbolos da Transformação. 3.ed. Petrópolis: Vozes, 1995.

Compartilhe este conteúdo:

Alunos de Psicologia Analítica participam de mesa redonda sobre Terapia Junguiana e Ecopsicologia

Compartilhe este conteúdo:

Na última segunda-feira, dia 10, das 19h às 20h15, os acadêmicos de Psicologia da disciplina de TTP 2- Psicologia Analítica (da manhã e da noite) assistiram a uma mesa redonda virtual promovida pelo Instituto do Imaginário, de São Paulo – SP.

O evento, que contou com a participação dos professores doutores Malena Contrera, Marco Aurélio Bilibio e Jorge Miklos, discutiu a solidão a partir da perspectiva da Anima Mundi. O tema é fruto da interface entre a terapia junguiana e a ecopsicologia.

A mesa redonda alertou para o fato de a Psicologia voltar-se para a necessidade de os pacientes se (re)encantar-se com o mundo, sobretudo a partir de uma nova forma de se relacionar com a natureza, questionando o modo utilitarista e mecanicista de interagir com o mundo e com os seres. Isso seria um dos antídotos para a atual epidemia de sofrimentos psíquicos.

Compartilhe este conteúdo:

Psicologia realiza evento extensionista com curso de Filosofia da UFG

Compartilhe este conteúdo:

O curso de Psicologia da Ulbra Palmas, a partir da disciplina de Teoria e Técnicas Psicoterápicas II – Psicologia Analítica, sob a condução do prof. Ms Sonielson Sousa, estabeleceu uma parceria interinstitucional com o curso de Filosofia da Universidade Federal de Goiás – UFG, sob o comando do prof. Dr. Pedro Gomes Neto, para a realização de uma ação extensionista com o objetivo de apresentar e problematizar as bases kantianas da Psicologia Analítica Junguiana. 

A ação, denominada de Diálogos Ulbra e UFG: a teoria kantiana na psicologia complexa junguiana, irá ocorrer em dois sábados deste mês de abril (em datas a confirmar), pela manhã, e contará com a participação de alunos da Ulbra Palmas e da UFG, além da parceria do Instituto Olhos da Alma Sã, de Goiás, e do Coletivo Junguiano do Tocantins, que contarão com vagas para participar do evento. Espera-se que ação – que é gratuita – conte com a participação de 100 pessoas, entre docentes e discentes. As inscrições serão lançadas em breve, e os participantes receberão certificados.

O projeto tem como objetivos incentivar o olhar crítico dos acadêmicos, a partir de um estímulo à diversidade de epistemologias dentro do curso de Psicologia, sobretudo ao tentar abandonar a busca por uma verdade; Descrever e refletir sobre a teoria do conhecimento Kantiana; e apresentar e debater sobre a influência da teoria kantiana na psicologia complexa.

Kant no pensamento junguiano

O evento objetiva discutir, analisar e refletir sobre a importância da teoria kantiana na psicologia analítica, especificamente ao trabalho de Carl Gustav Jung (1875-1691). Kant revolucionou a teoria do conhecimento ao propor que o caminho seguro para as ciências é a investigação dos fenômenos, e não dos númenos (essência; verdade). A ciência, para Kant, deve se ater ao que pela sensibilidade se torna possível ter um conceito, entendimento, e isto só é possível se a investigação for direcionada por objetos sensíveis ou fenômenos. Esta reviravolta na teoria do conhecimento impactou decididamente as novas empiricidades, como afirma Foucault, ou as novas ciências emergentes no século XIX, inclusive a psicologia. Esta faz uso da teoria kantiana reconsiderando o próprio conceito de psicologia, bem como a sua atuação.

Compartilhe este conteúdo:

Psicologia analítica e a religiosidade

Compartilhe este conteúdo:

Ao considerarmos que o ser humano é um indivíduo biopsicossocial, por que não considerar o aspecto religioso? No registro da obra Psicologia e Religião, Jung traz essa visão como algo a ser considerado pelos profissionais da saúde mental pois é o que há de mais antigo e universal no ser humano. Para Jung, a religiosidade é considerada uma atitude extremamente interligada com a subjetividade humana. 

Fonte: encurtador.com.br/uAXY1

A experiência do numinoso (Contato com o desconhecido, com o sagrado) pode ser uma experiência com bastante dualidade quando se fala na psicologia clínica, pois a luta pela parte da ciência da psicologia às vezes apaga a importância dessas experiências para a construção do self.

Dentro da história da humanidade há um apelo por conhecer a origem de tudo, ter uma explicação para a vida em si. Esse conceito pode ser relacionado intimamente com os arquétipos e a simbologia que eles trazem, algo que está no inconsciente coletivo e que move os seres humanos.

“[…] Em nossa época há muitas pessoas que perderam sua fé em uma ou em outras religiões do mundo. Já não reservam nenhum lugar para ela. Enquanto a vida flui harmoniosamente sem ela, a perda não é sentida. Sobrevindo, porém, o sofrimento, a situação muda às vezes drasticamente. A pessoa procura então subterfúgios e começa a pensar sobre o sentido da vida e sobre as experiências acabrunhadas que a acompanham.” (JUNG, Espiritualidade e Transcendência, p.86).

Neste trecho, Jung fala sobre a importância que a religiosidade e as religiões têm para o sentido da vida dos seres humanos. Quando tais pensamentos de falta de sentido aparecem, é necessário a ajuda de um profissional, antes pessoas dentro da religião, hoje, psicólogos.

Fonte: encurtador.com.br/cNOP9

A relação entre psicologia e religião é íntima, visto que acreditar e ter vontade são conceitos utilizados em ambos. Ao tratar uma pessoa em sofrimento é necessário olhar profundamente no consciente e no inconsciente, a religião sendo uma parte importante dos dois não pode ser deixada de lado.

“No âmbito das interações entre indivíduo e psique coletiva, entende Jung que a existência de uma atitude  religiosa  viva  e  válida  é  o  único  meio capaz de promover esta conciliação” (ARANHA, 2004).

Referências 

ARANHA, Maurício. Alguns aspectos da religião na psicologia analítica. Ciências & Cognição, v. 1, 2004.

JUNG, Carl Gustav. Espiritualidade e transcendência: Seleção e edição de Brigitte Dorst. Editora Vozes Limitada, 2015.

Compartilhe este conteúdo:

CAOS 2022 promove lançamento do livro “Fator Judas” de Piettro Lamonier

Compartilhe este conteúdo:

Nesta terça-feira (22) ocorrerá o lançamento do livro “Fator Judas”, como parte da programação do Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia (CAOS) de 2022. O congresso ocorrerá dos dias 21 a 26 de novembro, com o tema “Saúde Mental no Trabalho” e contará com minicursos, palestras, momentos artísticos, Psicologia em Debate e sessões técnicas. O congresso tem como intuito proporcionar conhecimento e reflexões a respeito da saúde mental no ambiente de trabalho.

O escritor Piettro Lamonier é psicólogo, egresso do Centro Universitário Luterano de Palmas (CEULP/ULBRA), atua na clínica com a abordagem Psicologia Analítica e Fenomenológica Existencial. Além disso, traz em si conteúdos artísticos como a música, a atuação, a direção e escrita. Com mais de 15 anos de carreira na psicologia e 23 anos caminhando pelas artes, Piettro se arrisca a juntar suas experiências em seu primeiro livro, no qual demonstra de forma simbólica o caminho de desenvolvimento de sua alma.

Para a acadêmica de psicologia, Ana Paula Silva, ter um espaço para o lançamento de um livro dentro da programação do CAOS, “gera uma motivação tanto para quem está iniciando o curso, quanto aos formados, pois demonstra o vínculo e valorização da Universidade para com os acadêmicos e egressos do CEULP”.

O evento ocorrerá a partir das 18h30, no Auditório Central no Centro Universitário Luterano de Palmas – CEULP/ULBRA. Para inscrições e maiores informações acesse  o link https://www.ulbra-to.br/caos.

 Acadêmica: Ellen Risia Moraes Alves

Compartilhe este conteúdo:

Os sonhos e a compreensão teleológica de Carl G. Jung

Compartilhe este conteúdo:

A psique é uma dinâmica complexa, que desafia o cientista na sua compreensão. O trabalho feito por Carl Gustav Jung, na tentativa de compreendê-la em conceitos cognoscíveis, foi um árduo exercício de pesquisa, que se baseou na observação empírica de si e de seus pacientes. A pesquisa da alma é das mais difíceis, haja visto que o objeto de pesquisa é o mesmo que seu próprio observador.

Essa constatação é um ponto vernal, que funda uma das regras mais essenciais para a formação analítica e psicanalítica: a necessidade de o próprio analista ser analisado (FREUD, 2010), exigência primeiramente demandada por Jung (2013c) quando ainda contribuía no movimento psicanalítico. Dado estes pontos, se constata que a pesquisa da psique se sustenta em um método essencialmente empírico.

            Na sua pesquisa, Jung percebeu que, na alma, a produção de imagens e fantasias não são apenas produtos de antecedentes e tendências históricas individuais. Há também um movimento simbólico dirigido e orientado para determinados fins. O desenrolar desse processo possui uma direção, um objetivo (JUNG, 2013a).

Neste caso, a orientação ativa para um fim e uma intenção seria um privilégio não só da consciência, mas também do inconsciente, de tal modo que este seria capaz, tanto quanto a consciência, de assumir uma direção orientada para uma finalidade (JUNG, 2013b, § 491).

Fonte: Jung (2009)

Essa constatação complementa a sua teoria que, junto da perspectiva causalista redutiva freudiana, compõem os dois lados do movimento psíquico, essenciais para compreender a psicologia analítica. A este aspecto interpretativo se dá o nome de método sintético ou construtivo, que se refere à elaboração dos produtos inconscientes como uma expressão simbólica que antecipa uma fase do desenvolvimento psicológico (JUNG, 2015).

Sabemos que todo produto psíquico, encarado do ponto de vista causal, é a resultante de conteúdos psíquicos que o precederam. Sabemos, além disso, que esse mesmo produto psíquico, considerado sob o ponto de vista de sua finalidade, tem um sentido e um alcance que lhe são próprios dentro do processo psíquico. Este critério deve ser aplicado também aos sonhos (JUNG, 2013b, § 451).

Para Jung (2013d), uma compreensão satisfatória e completa acerca do pensar inconsciente do sonho, passa necessariamente tanto pelo ponto de vista de sua determinação causal, quanto seu sentido teleológico ou prospectivo. Ou seja, depois que os símbolos do sonho forem reduzidos, decompostos em suas reminiscências ou anseios pessoais, deve-se partir em seguida para um processo de síntese. Este, integra o material simbólico numa expressão conjunta e coerente, que tende a informar à consciência a situação dos movimentos inconscientes (JUNG, 2014).

O inconsciente é aquilo que não se conhece em determinado momento, e por isto não é de surpreender que o sonho venha acrescentar à situação psicológica consciente do momento todos aqueles aspectos que são essenciais para um ponto de vista totalmente diferente. É óbvio que a função do sonho constitui um ajustamento psicológico, uma compensação absolutamente indispensável à atividade ordenada (JUNG, 2013b, §469).

Como dito na citação, o sonho tenta acrescentar aspectos essenciais à consciência. Tal fenômeno serve ao princípio de progressão da libido, que busca constantemente adaptar a consciência a uma nova situação, satisfazendo a exigência das condições ambientais (JUNG, 2013a). Com isso, se infere o quanto o ponto de vista final concorre para a educação prática da personalidade, pois além de a adaptar ao mundo externo, a leva à assimilação de funções inconscientes (JUNG, 2013b), ou seja, uma adaptação também ao mundo interno.

Fonte: encurtador.com.br/DLOX5

A partir daí, se começa a compreender o que Jung queria dizer ao resumir como função geral do sonho a compensação. Quando se diz isso, se quer dizer que o inconsciente, através do sonho, contrabalanceia a atitude unilateral consciente. Por isso é tão importante observar suas ideias e sugestões, elas fornecem o conhecimento das leis próprias do indivíduo. Estas, mantém o sujeito em contato com seus instintos individuais, aquilo que dá viço para ele e para sua existência (JUNG, 2013c).

Quanto mais unilateral for a sua atitude consciente e quanto mais ela se afastar das possibilidades vitais ótimas, tanto maior será também a possibilidade de que apareçam sonhos vivos de conteúdos fortemente contrastantes como expressão da autorregulação psicológica do indivíduo. Assim como o organismo reage de maneira adequada a um ferimento, a uma infecção ou a uma situação anormal da vida, assim também as funções psíquicas reagem a perturbações não naturais ou perigosas, com mecanismos de defesa apropriados. O sonho faz parte, segundo meu modo de entender, dessas reações oportunas, porque ele proporciona à consciência, em determinadas situações conscientes e sob uma combinação simbólica, o material inconsciente constelado para este fim. (JUNG, 2013, § 488)

Não estar minimamente em contato com o inconsciente, significa separar-se da vida instintual, o que estagna o sujeito e é causador de inúmeras neuroses. Isso se dá, devido a excessiva unilateralidade da consciência, gerando uma compensação proporcional por parte do inconsciente, que passa a contestá-la abertamente (JUNG, 2015). O resultado são “duas tendências, que estão em estrita oposição uma à outra, sendo que uma delas é inconsciente” (JUNG, 2014, § 16)

Fonte: encurtador.com.br/bmNU4

O exemplo da neurose é didático para a compreensão da dinâmica da compensação, na medida que se percebe que esse fenômeno é geral, e se manifesta de formas diferentes, de acordo com a situação atual do sujeito. Dentre outras razões, é por isso que muitas vezes a compensação exercida pelo sonho não se evidencia à primeira vista. Por isso, torna-se preciso analisar o conteúdo manifesto para se chegar aos elementos compensadores de seu conteúdo latente (JUNG, 2013b).

Nesta perspectiva existem três possibilidades. Se a atitude consciente a respeito de uma situação dada da vida é fortemente unilateral, o sonho adota um partido oposto. Se a consciência guarda uma posição que se aproxima mais ou menos do centro, o sonho se contenta em exprimir variantes. Se a atitude da consciência é “correta” (adequada), o sonho coincide com esta atitude e lhe sublinha assim as tendências, sem, contudo, perder a autonomia que lhe é própria (Ibid., § 546).

A partir de suas conclusões, Jung em seu texto: “Aspectos gerais da psicologia do sonho” de 1928, que consta dentro das suas obras completas no volume 8/2: “A natureza da psique” (2013b), tenta fazer uma classificação de diferentes formas gerais de compensação que o sonho pode manifestar. A primeira, seria aquela considerada apropriada, pois fala de uma autorregularão do organismo psíquico. Nela, o sonho acrescenta à situação consciente todos os elementos que, no estado de vigília não alcançaram o limiar da consciência, devido ao recalque, ou por serem muito débeis para conseguir chegar por si à consciência.

Ela é uma antecipação de atividades futuras conscientes, uma espécie de exercício preparatório, ou um esboço preliminar do inconsciente, um plano traçado antecipadamente, uma função prospectiva.

Seria injustificado qualificá-los de proféticos, pois, no fundo, não são mais proféticos do que um prognóstico médico ou meteorológico. São apenas uma combinação precoce de possibilidades que podem concordar, em determinados casos, com o curso real dos acontecimentos, mas que pode igualmente não concordar em nada ou não concordar em todos os pormenores (Ibid., § 493).

A função prospectiva, por resultar da fusão de elementos subliminares que, devido ao seu fraco relevo, escaparam à consciência, é muitas vezes superior à combinação consciente. Além disso, o sonho conta com memórias inconscientes, o que acrescenta em suas possibilidades perceptivas.

Fonte: encurtador.com.br/isHLT

Jung prossegue dizendo que, apesar disso, é muito importante compreender que a atitude para com o sonho – e o inconsciente em geral – deve ser a partir do ponto de vista da consciência. Tomá-lo em consideração com exclusividade, como uma espécie de oráculo, em detrimento da consciência, seria inadequado, e só serviria para confundir e destruir a atividade consciente.

Somente em presença de uma atitude manifestamente insuficiente e deficiente é que se tem direito de atribuir ao inconsciente um valor superior. […] Se a atitude consciente, portanto, for mais ou menos suficiente, a importância do sonho se limita à sua significação puramente compensadora. Este caso é a regra geral para o homem normal e que vive em condições externas e internas normais (Ibid., § 494)

Quando o indivíduo se encontra com uma atitude consciente subjetiva e/ou objetivamente inadaptada, como Jung continua explicando no texto, a função exercida pelo inconsciente passa para uma categoria de função prospectiva dirigente, que imprime à atitude consciente uma orientação diferente e bem melhor do que a anterior exercida pela consciência.

Dando continuidade à classificação, o autor fala daqueles casos em que o indivíduo, cujo caráter idiossincrático não está de acordo com sua manifestação consciente, é compensado pelo sonho de forma redutora. Trata-se de indivíduos em que a atitude consciente e seu esforço de adaptação ultrapassam as suas capacidades individuais, querendo parecer em certos âmbitos melhores e mais valiosos do que de fato são.

O sonho redutor tem a tendencia de desintegrar, dissolver, depreciar, e até mesmo destruir e demolir partes e características da personalidade que não vão de encontro com o sujeito. Por isso, Jung (Ibid.) comenta, muitas vezes ele tem um efeito altamente salutar, pois afeta apenas a atitude especifica, e não a personalidade como um todo.

A função redutora do inconsciente, que se aplica a esse tipo de sonho, constela materiais compostos, em sua essência, de desejos sexuais inferiores recalcados (inserir aqui o link do texto: “Sonhos – a interpretação causalista redutiva freudiana”) e de vontades de poder infantis, bem como de resíduos arcaicos e supraindividuais. Tudo nele é retrospectivo, e conduz a um passado que há muito se acreditada estar sepultado

A reprodução de tais elementos com seu caráter totalmente arcaico é apropriada, mais do que nenhuma outra coisa, para minar efetivamente uma posição excessivamente elevada, para lembrar ao indivíduo a insignificância do ser humano e reconduzi-lo aos seus condicionamentos fisiológicos, históricos e filogenéticos. Toda aparência de grandeza e de importância falaciosas se dissipa diante das imagens redutoras de um sonho que analisa sua atitude consciente com implacável senso crítico, pondo às claras materiais arrasadores que se caracterizam por um registro completo de todas as suas fraquezas e inquietações (Ibid., 497).

Fonte: encurtador.com.br/lEV67

Apesar de retrospectivo, este ainda mantém sua função finalista, pois é um sonho compensador, que tem como objetivo provocar uma melhor adaptação do indivíduo diante do seu ambiente.

Em continuidade, o autor oferece outras classificações mais específicas que não se encaixam necessariamente à psicologia geral do ser humano, pois dependem de circunstancias específicas, como lesões físicas no sistema nervoso, e por isso não serão acrescentadas a este texto. No que tange a demais classificações extraordinárias, é de utilidade e curiosidade acrescentar aqui os sonhos que expressam o fenômeno telepático.

Jung (Ibid.) não nega a existência desse tipo de fenômeno pelo fato de haver suficientes ocorrências verificadas, mas no presente texto não se arrisca a teorizar qualquer explicação para tanto, chegando mesmo a dizer que “O fenômeno existe, sem nenhuma dúvida, embora a sua teoria não me pareça tão simples” (Ibid., § 503). Ele apenas levanta alguns pontos que acrescentam à reflexão, como a criptomnésia e possibilidade de concordância de associações entre duas ou mais pessoas, com seus processos psíquicos paralelos que podem manifestar tal fenômeno por uma identidade ou semelhança muito grande de atitude. Tal situação é muito comum no seio das famílias.

Fonte: encurtador.com.br/cfjLT

A única coisa que Jung pontua no mesmo texto sobre o sonho telepático, é que segundo todas as suas observações já feitas acerca deles, o conteúdo telepático se encontra invariavelmente no conteúdo manifesto do sonho, e nunca no latente. Ou seja, ele sempre se apresentará da forma como o sonho já o apresenta, sem a necessidade de uma interpretação subjetiva do mesmo.

Resumidamente, Jung dá para o sonho um status de mecanismo psíquico para a regulação do indivíduo em relação ao inconsciente, encontrando como melhor conceito para esse fenômeno a compensação. Demonstrando as várias formas como ela pode se manifestar, ele expressa que esse mecanismo é um processo plástico, que se adapta à situação do sujeito, e que por isso, se expressa diferentemente em cada um. Sua única lei postulada é: “Sempre é útil perguntar, quando se interpreta clinicamente um sonho: que atitude consciente é compensada pelo sonho?” (JUNG, 2012, § 330).

Por fim, deixo uma citação direta, onde Jung, em sua primeira obra que se diferencia da psicanálise (“Símbolos da transformação”), argumenta sobre a função prospectiva do inconsciente por vias um tanto diferentes.

[…] indubitavelmente o inconsciente contém as combinações psicológicas que não atingem o limiar da consciência. A análise decompõe estas combinações em suas determinantes históricas. Ela trabalha em retrocesso, como a história. Assim como grande parte do passado está tão recuada no tempo que o conhecimento histórico não mais pode alcançá-la, assim também grande parte da determinação inconsciente é inalcançável. Mas a história não sabe de duas coisas: aquilo que está oculto no passado e aquilo que está oculto no futuro. Ambas, porém, talvez pudessem ser alcançadas com certa probabilidade, a primeira como postulado, a última como prognóstico político. À medida que no hoje já está contido o amanhã e toda a trama do futuro já está tecida, uma percepção mais profunda do presente poderia tornar possível um prognóstico do futuro mais ou menos distante. Se transportarmos este raciocínio para o campo psíquico, chegaremos necessariamente ao mesmo resultado: assim como vestígios de recordações de há muito subliminares ainda são acessíveis ao inconsciente, assim também o são determinadas combinações subliminares para a frente muito tênues, que são da maior importância para os acontecimentos futuros, à medida que estes são determinados por nossa psicologia. Mas, assim como a história não se preocupa com combinações para o futuro, que são objeto da política, tampouco as combinações psicológicas para o futuro são alvo da análise, mas constituiriam antes objeto de uma síntese psicológica refinada, que soubesse acompanhar os cursos naturais da libido. Não somos capazes disto, ou só muito imperfeitamente, mas o inconsciente o é, pois aí isto acontece, e parece que de tempos em tempos, em determinados casos, fragmentos importantes deste trabalho vêm à tona, pelo menos em sonhos, de onde viria então o significado profético dos sonhos, de há muito afirmado pela superstição. Os sonhos não raro são antecipações de modificações futuras do consciente (JUNG, 2011, § 78¹⁹).

 

 

REFERÊNCIAS:

FREUD, Sigmund. História de uma neurose infantil: O homem dos lobos; Além do princípio do prazer e outros textos: 1917 [1920]. In: História de uma neurose infantil: O homem dos lobos; Além do princípio do prazer e outros textos: 1917 [1920]. 2010. p. 424-424.

JUNG, Carl Gustav. A energia psíquica. 14. ed. Petrópolis, Rj: Vozes, 2013. 99 p. (OC 8/1). Tradução de Maria Luiza Appy.

JUNG, Carl G.. A natureza da psique. 10. ed. Petrópolis, Rj: Vozes, 2013. 416 p. (OC 8/2). Tradução de Mateus Ramalho Rocha.

JUNG, Carl G.. A prática da psicoterapia: contribuições ao problema da psicoterapia e à psicologia da transferência. 16. ed. Petrópolis, Rj: Vozes, 2013. 156 p. (OC 16/1).

JUNG, Carl Gustav. Ab-reação, análise dos sonhos e transferência. 9. ed. Petrópolis, Rj: Vozes, 2012. (OC 16/2). Tradução de Maria Luiza Appy; revisão técnica de Jette Bonaventure.

JUNG, Carl Gustav. Freud e a psicanálise. 7. ed. Petrópolis, Rj: Vozes, 2013. 366 p. (OC 4). Tradução de Lúcia Mathilde Orth; revisão técnica Jette Bonaventure.

JUNG, Carl Gustav. Psicologia do inconsciente. 24. ed. Petrópolis, Rj: Vozes, 2014. 168 p. (OC 7/1). Tradução de Maria Luiza Appy.

JUNG, Carl Gustav. Símbolos da transformação: análise dos prelúdios de uma esquizofrenia. Petropolis, Rj: Vozes, 2011. (OC 5). Tradução de Eva Stern ; revisão técnica Jette Bonaventure.

JUNG, Carl Gustav. The Red Book: liber novus. New York, Ny. London: W. W. Norton & Company, 2009. (Philemon Series). Edited by Sonu Shamdasani; translated by Mark Kyburz, John Peck and Sonu Shamdasani.

JUNG, Carl Gustav. Tipos psicológicos. Petrópolis, Rj: Vozes, 2015. (OC 6). Tradução de Lúcia Mathilde Endlich Orth.

Compartilhe este conteúdo:

Coletivo Junguiano promove palestra sobre “Separação amorosa e Individuação”

Compartilhe este conteúdo:

18O coletivo Quíron promoverá uma palestra aberta ao público com o tema: Separação amorosa e individuação. O evento será no dia 27/09/2022 às 20h. A palestrante convidada é a Psicóloga Silvana Parisi. Silvana é formada em psicologia pela PUC/SP e é mestre e doutora em Psicologia escolar e do desenvolvimento humano pela USP. É candidata a membro do IJUSP, vinculado à AJB e à IAAP. Supervisora clínica e profa. de pós-graduação Latu Sensu em Psicoterapia Junguiana na UNIP. Autora do livro: “Amor e separação: reencontro com a alma feminina”.

As inscrições ocorrem pelo link no formulário do Google Forms. Os interessados podem se inscrever no link: https://forms.gle/4rdPbDTSXQGb6J6Z6. O evento terá Certificação pelo Ceulp/Ulbra e o mesmo será gratuito. O link será enviado no dia do evento, por e-mail.

O Quíron – Coletivo Junguiano do Tocantins, é formado por alunos de Psicologia do Ceulp/Ulbra e egressos de Psicologia da Ulbra e de outras instituições adeptos da abordagem junguiana. No momento, é composto por cerca de 30 integrantes (entre alunos e psicólogos). Realiza atividades semanais, como grupos de estudos sobre as obras junguianas históricas e atuais, além de palestras e mesas-redondas. As palestras e grupos de estudos do Quíron são abertas e gratuitas, e recebem em média 150 pessoas por evento. O objetivo do coletivo é ser referência estadual nos estudos e produção de pesquisa científica tendo como base a Psicologia Analítica/Junguiana.

O coletivo Quíron mantém uma parceria com o curso de Psicologia do Ceulp/Ulbra, rede de livrarias Leitura, Editora Vozes (RJ) e alunos do Instituto de Psicologia Social da USP (IPUSP), além de professores do IJEP (Instituto Junguiano de Ensino e Pesquisa – SP), e professores do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Analítica da UNIP (Universidade Paulista).

As atividades do Quíron são realizadas a partir de mediações rotativas, em que cada integrante tem uma função no coletivo. Além dos parceiros supracitados, está em andamento a efetivação de novas parcerias, sobretudo com professores de Psicologia Analítica da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

Compartilhe este conteúdo:

Sonhos: a interpretação causalista redutiva freudiana

Compartilhe este conteúdo:

Os primórdios da psicanálise têm seu gérmen a partir do momento em que Freud entra em contato com a escola de hipnotismo francesa (JUNG, 2013c). Ali, através da hipnose, ele experimenta diretamente a presença e influência do inconsciente na personalidade. Por razões de efetividade terapêutica, mais tarde, junto de Josef Breuer, eles abandonam a prática hipnótica, e passam a usar como prática terapêutica exclusivamente a associação livre. É consolidado assim o método psicanalítico.

Jean Martin Charcot fazendo uma demonstração da hipnose em uma mulher histérica
Fonte: encurtador.com.br/cgJR0

A via para o inconsciente agora se dava através de uma forma interpretativa do discurso, a partir da análise de sintomas e repetições, de forma que o paciente era, ao contrário do método hipnótico, agente participante do seu processo terapêutico. Faltava, porém, uma via direta de diálogo com o inconsciente, sem o filtro da consciência. É nesse contexto então, que se dá a grande descoberta de Freud: o sonho como a via régia para o inconsciente, publicando assim em 1900 a obra “A interpretação dos sonhos”. “[Este livro] contém, mesmo segundo meu julgamento atual, a mais valiosa descoberta que tive a felicidade de fazer. Um insight como esse só nos ocorre uma vez na vida” (FREUD, 2018, contracapa).

Primeira edição da obra “Die Traumdeutung” (1900), traduzido para “A interpretação do sonhos”
Fonte: encurtador.com.br/iwEU0

A partir de 1907, Carl Gustav Jung dá início ao seu contato com Freud, que dura até 1913, período de parceria e coparticipação em descobertas psicanalíticas. É embasado na noção psicanalítica, que se inicia o conhecimento de Jung sobre o sonho. Mais tarde, ele a coloca como parte integrante de sua compreensão sobre a fenomenologia do sonho, a nomeando de perspectiva causalista (JUNG, 2013a).

Sigmund Freud (parte inferior esquerda) e Carl G. Jung (parte inferior direita) na mesma foto durante visita aos Estados Unidos em 1909.
Fonte: encurtador.com.br/dUY36

Nessa teoria, o sonho é compreendido como produto de uma complicada conexão de fenômenos psíquicos, uma obra que tem seus motivos, advindos de cadeias prévias de associações, sempre referindo-se a algo anterior, um passado psíquico, e possui, portanto, um significado. Esse método baseia-se em um procedimento redutivo, exclusivamente causal, que decompõe o sonho nos componentes de reminiscências e nos processos instintivos que lhe constituem a base (JUNG, 2014). Ante a obscuridade e confusão que se apresenta o sonho como o lembramos, dá-se o nome de conteúdo manifesto. Ele seria a fachada pelo qual se esconde a verdadeira ideia do sonho, o conteúdo latente (FREUD, 2018).

“O “sonho manifesto”, isto é, o sonho tal como nos lembramos dele, segundo Freud, é como a fachada de uma casa: à primeira vista nada revela de seu interior, que fica oculto por detrás da chamada censura do sonho. Permitindo-se que a pessoa fale sobre os detalhes de seu sonho – obedecidas determinadas regras técnicas – vemos que as ideias que lhe ocorrem seguem todas uma mesma direção, concentrando-se em torno de um assunto específico, de significado pessoal. Inicialmente, essas ideias assumem um sentido que se dissimulava por trás do enredo do sonho. […] Esse complexo específico de pensamentos em que se concentram todos os fios do sonho é o conflito procurado, que se apresenta numa variação condicionada pelas circunstâncias.” (JUNG, 2014, § 21)

A forma toda especial que adquirirá o conteúdo manifesto do sonho corresponde a disposição psíquica do indivíduo, ou seja, sua individualidade. Nosso estado de espírito no presente depende de nossa história, e, por isso, os elementos de valores, na diversidade de cada pessoa, são os determinantes da constelação psíquica. Acontecimentos que provocam fortes reações de sentimento são de grande importância para o desenvolvimento psíquico posterior. Essas recordações, dotadas de forte carga emocional, formam complexos de associações mais ou menos extensos, que Jung (2013c) dá o nome de “complexos ideoafetivos”.

São, portanto, as associações consteladas pelos complexos que dão forma para o conteúdo manifesto do sonho, e é através dele que se pode fazer o caminho reverso para compreender seu conteúdo latente. Nesse método interpretativo, se volta ao passado para reconstituir certas experiências anteriores, a partir da manifestação de determinados motivos oníricos. Esse percurso é de utilidade em contexto terapêutico por abrir à possibilidade da conscientização de conteúdos inconscientes, ou de revelar fatos que o paciente não queria contar.

“Se alguém sonha, por exemplo, com uma mesa, estamos ainda bem longe de saber o que a palavra “mesa” do sonho significa, embora a palavra “mesa” em si pareça suficientemente precisa. Com efeito, há qualquer coisa que ignoramos, e é que esta “mesa” é precisamente aquela mesa à qual estava sentado o pai do sonhador, quando lhe recusou qualquer ajuda financeira posterior e o expulsou de casa como um sujeito imprestável. A superfície lustrosa desta mesa está ali, diante de seus olhos, como o símbolo de uma inutilidade catastrófica tanto no estado de vigília, como nos sonhos noturnos. Eis o que o sonhador entende por “mesa” (JUNG, 2013a, § 539).”

Fonte: encurtador.com.br/cnrzW

Os elementos do conteúdo manifesto, em relação ao conteúdo latente, apresentam-se não só de forma difusa e distorcida, como também uma espécie de resumo de um conglomerado de conteúdos psíquicos inconscientes. Em um único sonho, a partir de uma reflexão sobre o mesmo, é possível obter uma infinidade de observações, percepções e associações subjacentes, de forma que todas façam sentido. Esses, revelam os pensamentos oníricos, que são processos correntes na dinâmica psíquica, uma espécie de pauta inconsciente levantada e eliciada pelos processos vivenciados em vigília. São produtos da constelação psíquica do dia a dia.

Segundo Freud (2018), essa multiplicidade se dá devido o trabalho de condensação realizado pela elaboração onírica, um processo em que se incute uma diversa cadeia de significantes em um único sonho. Portanto, da mesma forma que um sonho pode se ligar a mais de um fato, um objeto do sonho pode condensar e se referir a mais do que apenas um elemento. Um bom exemplo é quando no sonho, nos deparamos com uma pessoa que se parece com alguém que conhecemos, mas ao mesmo tempo nos lembra outra pessoa.

Fonte: encurtador.com.br/bxAG4

Outro processo comum e importante do sonho é o deslocamento. Aqui, o pensamento onírico é encoberto por uma espécie de disfarce. “[…] seu conteúdo é ordenado em torno de elementos centrais diferentes dos pensamentos oníricos […] ou seja, arrancado do contexto e, dessa maneira, transformado em algo estranho” (FREUD, 2018, p. 328).

Esse mecanismo do sonho contribui com o processo de censura do conteúdo latente, pois encobre seu significado. A citação usada acima é um ótimo exemplo. A mesa de pinho, como conteúdo manifesto, é um deslocamento do real conteúdo latente: a recusa de auxílio financeiro e expulsão de casa realizada pelo seu pai, que no momento se sentava à mesa de pinho.

Fonte: encurtador.com.br/nuGP8

Freud (2018) em sua teoria interpretativa, postula uma regra geral que se aplicaria ao sentido de todo sonho: ele representa a realização de um desejo reprimido. Todo o processo de censura realizado pelo contudo manifesto – que segundo ele, acontece no processo do acordar – seria justamente para mascarar aquilo que há de recalcado pela consciência. Mesmo os sonhos de angústia seriam distorções devido à defesa contra um desejo que, para a consciência, é insuportável assumir. Para o autor portanto, o sonho teria duas etapas: a realização da fantasia desejante e, após isso, sua censura, que só permite que uma ideia se manifeste quando está tão deformada que o sonhador não a consegue reconhecer. Graças a isso, a informação se torna tolerável para consciência.

Tais fantasias se referem a desejos de caráter sexual (FREUD, 1997) que, por demais incompatíveis com a moral do ego, não podem tornar-se conscientes, devido a uma força contraria que se opõe a elas pela consciência: o recalque. A consciência mantém esses conteúdos inconscientes, e isso é sentido durante o processo de análise como resistência, manifestação da força que provocou e mantém o recalque. Para a psicanálise, o recalcado é o protótipo do que é inconsciente (FREUD, 2011).

Fonte: encurtador.com.br/cnDNY

Sendo o inconsciente, para Freud, um conglomerado de conteúdos recalcados devido sua incompatibilidade para com a consciência. É compreensível que ele postule os sonhos como mera manifestação destes. Já Jung não o considera de forma tão redutiva:

“De acordo com a ideia original de Freud, o inconsciente é uma espécie de recipiente, ou porão, para material reprimido, desejos infantis e coisas do gênero. Contudo o inconsciente é bem mais do que isso: ele é, simplesmente, a base, a condição preliminar da consciência.  Representa a função inconsciente do psiquismo. É a vida psíquica antes, durante e depois da tomada de consciência. Como a criança recém-nascida, que chega ao mundo com o cérebro pronto e altamente desenvolvido, e cuja diferenciação foi formada pela experiência acumulada dos seus antepassados, no decorrer de séculos e séculos sem conta. Assim também a psique inconsciente é formada por instintos, funções e formas herdadas, já pertencentes à psique ancestral.” (JUNG, 2013b, § 61)

Fonte: Jung (2009)

Sendo suas considerações sobre o inconsciente diferentes das de Freud, também suas perspectivas sobre os sonhos se diferenciam das dele. Melhor dizendo: as concepções de Jung sobre o inconsciente e, logo, sobre os sonhos, consideram os conhecimentos freudianos como componentes da psicologia analítica, e uma etapa do processo de análise. Ou seja, a fenomenologia psíquica do sonho – bem como de todo o inconsciente – para a psicologia analítica, não se reduz à lógica causal, onde se dá um porque para um fenômeno, isso compõe uma parte de sua totalidade, ou melhor, um lado.

Dentre vários motivos, Jung busca outras perspectivas para o fenômeno psíquico pelo fato de a psicologia prestar contas àquele que sofre psicologicamente. Para este, nem sempre a conscientização de conteúdos inconscientes resolve seu problema. A partir desse ponto, os sonhos interpretados pelo método causal apenas continuariam a trazer as mesmas informações já sabidas. Não seria uma grande novidade, pois as causas anteriores se reduzem às bases do sujeito, que são sempre as mesmas.

É necessário compreender também o que o inconsciente e o sonho estão querendo dizer com tal situação, o que ele informa sobre o que pode ser feito. Com isso, entende-se o produto psíquico do ponto de vista de sua finalidade, e o sentido que tende o atual processo psíquico (JUNG, 2014). Não à toa, Carl Jung é um teórico da Individuação.

 

REFERÊNCIAS:

FREUD, Sigmund. A interpretação dos sonhos. Porto Alegre, RS: L&PM, 2018. 736p. Tradução do alemão de Renato Zwick, revisão técnica e prefácio de Tânia Rivera, ensaio biobibliográfico de Paulo Endo e Edson Souza.

FREUD, Sigmund; SALOMÃO, Jayme. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. Edição’Livros do Brasil’, 1997.

FREUD, Sigmund. Obras completes, volume 16:  O eu e o id, “autobiografia” e outros textos (1923-1925). São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2011. Tradução de Paulo César de Souza.

JUNG, Carl G.. A natureza da psique. 10. ed. Petrópolis, Rj: Vozes, 2013. 416 p. (OC 8/2). Tradução de Mateus Ramalho Rocha.

JUNG, Carl G.. A prática da psicoterapia: contribuições ao problema da psicoterapia e à psicologia da transferência. 16. ed. Petrópolis, Rj: Vozes, 2013. 156 p. (OC 16/1).

JUNG, Carl Gustav. Ab-reação, análise dos sonhos e transferência. 9. ed. Petrópolis, Rj: Vozes, 2012. (OC 16/2). Tradução de Maria Luiza Appy; revisão técnica de Jette Bonaventure.

JUNG, Carl Gustav. Freud e a psicanálise. 7. ed. Petrópolis, Rj: Vozes, 2013. 366 p. (Obras Comp). Tradução de Lúcia Mathilde Orth; revisão técnica Jette Bonaventure.

JUNG, Carl Gustav. Psicologia do inconsciente. 24. ed. Petrópolis, Rj: Vozes, 2014. 168 p. (OC 7/1). Tradução de Maria Luiza Appy.

JUNG, Carl Gustav. The Red Book: liber novus. New York, Ny. London: W. W. Norton & Company, 2009. (Philemon Series). Edited by Sonu Shamdasani; translated by Mark Kyburz, John Peck and Sonu Shamdasani.

Compartilhe este conteúdo: