Durante à tarde do primeiro dia do CAOS 2021, acontecerá o evento Psicologia em Debate no qual serão exibidos vários documentários seguidos de discussões mediadas por excelentes profissionais da psicologia. Um desses documentários é Pandemia do Sistema (2020), dirigido por Naná Prudêncio e uma realização da Zalika Produções; o filme com duração de 31 minutos aborda fatores como o racismo, o desemprego, a insuficiência no atendimento de saúde nesses territórios e como todos esses elementos, com o agravante da pandemia, resultam em uma fórmula genocida.
A discussão a respeito desse documentário será mediada pela professora do curso de psicologia do Ceulp/Ulbra, especialista em Saúde Pública com Ênfase em Saúde Coletiva e da Família e mestra em Desenvolvimento Regional, Lauriane dos Santos Moreira.
Fonte: Arquivos (En)cena
(En)Cena – Sabemos que um dos principais temas abordados por você é Políticas Públicas de Saúde Mental, pois está incluído nas suas disciplinas de diferentes maneiras. O que são Políticas Públicas de Saúde Mental e qual sua relação com a Psicologia Social Comunitária?
Lauriane – A Psicologia, desde o início da formalização da profissão no Brasil, tem atuado em direção às demandas de pessoas, grupos e comunidades em situação de vulnerabilidade social. É uma perspectiva ampliada sobre a saúde mental quando se tem um olhar para as condições de vida da população, considerando os determinantes sociais envolvidos no sofrimento psicológico. Até o final da década de 1980, a atuação pelo viés da Psicologia Social Comunitária era prioritariamente voluntária, ou seja, sem remuneração, ou ainda a partir da docência no ensino superior, através de projetos diversos. Apenas com a Constituição de 1988, na qual a saúde passa a ser um direito de todos e dever do Estado, é que o Sistema Único de Saúde (SUS) pôde ser criado, sendo atualmente o principal local de trabalho para psicólogas e psicólogos no Brasil, conjuntamente com o Sistema Único da Assistência Social (SUAS). Nessa trajetória, desde meados dos anos 1970 o movimento sanitarista e o antimanicomial andaram de mãos dadas, e graças à pressão popular oriunda deles é que diversas políticas públicas hoje vigentes no campo da saúde pública foram implantadas. Abordar a temática saúde mental sem considerar a violação de direitos diversos é culpabilizar a pessoa em sofrimento, através de um discurso meritocrático extremamente falacioso, que impõe ainda mais sofrimento. Ou seja, Política Pública de Saúde Mental envolve legislação, gestão, estabelecimentos de saúde, profissionais, práticas, equipamentos, discursos, usuários, participação social que levam a cabo a sua implementação, tendo como local principal de materialização de tudo isso os Centros de Atenção Psicossociais (CAPS), ordenadores do cuidado em saúde mental, que atuam articuladamente em rede setorial e intersetorial. Havendo para a Psicologia o viés teórico e técnico da Psicologia Social Comunitária nesse trabalho, o combate a biologização do fenômeno “psi” ganha força, justamente pelos motivos expostos acima.
(En)Cena – Qual a importância desse tema ser discutido dentro e fora do curso de psicologia?
Lauriane – Somos seres biopsicossociais. A OMS tem essa visão ampliada também acerca do conceito de saúde. A nossa espécie Sapiens é extremamente moldável às condições culturais, políticas, religiosas, econômicas, sexuais etc. nas quais está inserida desde o nascimento. Somos biologicamente seres sociais! Portanto, abordar saúde mental como se fosse fruto apenas de uma variável interna ao indivíduo, algo neurológico ou fruto da suposta “mente” não é suficiente quando se quer atuar a partir de uma Psicologia baseada em evidências e com compromisso social, justificando assim a importância desses temas serem discutidos no contexto de formação de psicólogas e psicológos, o que não se restringe à graduação, mas acompanha a trajetória profissional e pessoal.
(En)Cena – No documentário encontramos relatos de vivências diversas, várias famílias que precisam de assistência e devido ao Covid-19 tiveram os problemas sociais agravados. Como a psicologia pode intervir em situações semelhantes?
Lauriane – Além da perspectiva já exposta nas questões anteriores, destaco que o Conselho Federal de Psicologia, a partir do código de ética da nossa profissão tem como primeiro princípio fundamental a atuação da Psicologia embasada na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Compreendendo o significado disso, não é suficiente encerrar sua atuação às quatro paredes de um consultório, mas lutar pela garantia de direitos para as pessoas. A atuação no cenário trazido pelo documentário, que é a realidade de muitos país afora desde antes do contexto pandêmico, pode ser: a conscientização de pessoas, grupos e comunidades sobre seus direitos, incentivando a mobilização social; viabilizar o acesso a esses direitos, orientando sobre os serviços e como chegar até eles; também pode fazer denúncias ao Ministério Público, por exemplo, no caso de violações diversas; ofertar escuta, acolhimento etc., mas sempre tendo em vista que apenas essa última estratégia não será o suficiente quando se tem insegurança alimentar envolvida, por exemplo. Citei algumas estratégias possíveis, mas podem ser tantas outras. A Psicologia não deve se engessar num único modo de atuar, mas caminhar conforme as demandas que se apresentam, e articulando entre serviços diversos e outras categorias profissionais para se alcançar o necessário em cada situação.
(En)Cena – Como você avalia o trabalho feito pela psicologia aliada às políticas públicas atualmente durante a pandemia?
Lauriane – Avalio que poderíamos ter sido, enquanto categoria profissional, mais engajados nas questões que envolvem vulnerabilidade social. Houve muita discussão em redes sociais e plataformas de videoconferência sobre a pandemia e o impacto sobre a saúde mental e outras questões, também houve um boom de atendimentos psicológicos online, inclusive gratuitos… Mas todos esses contextos são de privilégio, pois se precisa ter um dispositivo com acesso à internet para acessá-los. Hoje todo mundo tem um celular? Não! As pessoas estão passando fome… Nos primeiros meses da pandemia, ainda em 2020, diversos serviços fecharam as portas por muito tempo, deixando os seus usuários sem assistência suficiente no contexto da saúde, da educação, da assistência social, da justiça… Para as populações mais vulneráveis socialmente, como se retrata no documentário, o sofrimento que já existia, da invisibilidade social e suas consequências, se agravou sobremaneira. O medo do coronavírus coexiste aos demais. A Psicologia e o seu suposto compromisso social durante a pandemia chegaram até um determinado público, pois continuamos cegos para os contextos de maior vulnerabilidade social.
(En)Cena – Quais as suas expectativas para o CAOS 2021?
Lauriane – Em relação ao CAOS 2021 tenho a expectativa de que será uma oportunidade excelente para discutir sobre temas que não costumam fazer parte da atuação convencional ou rotineira da Psicologia, mas que são muito importantes. A pandemia da Covid-19 nos mostrou que é preciso ampliar nosso olhar sobre o que é ofertar cuidado em saúde mental e a gama de variáveis do contexto social que estão envolvidas, incluindo a atuação do Estado nesse manejo. Não cabe, nesse cenário, teorias e práticas elitizadas e acríticas, e vejo que o congresso contribuirá muito nesse sentido.
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O CREPOP e a Psicologia da Educação
7 de outubro de 2020 Monique Débora Carvalho
Mural
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O CREPOP (Centro de Referências Técnicas em Psicologia e Políticas Públicas) foi instituído através do Sistema Conselhos de Psicologia no ano de 2006 e visa ampliar a atuação do profissional da psicologia dentro das políticas públicas. O objetivo do CREPOP é construir um banco de dados que possa ser alimentado e atualizado frequentemente com programas, entidades e legislações, informações e vários tipos de conteúdo que abordem as políticas públicas em vários âmbitos dentro da sociedade.
Entretanto, também cabe ao CREPOP acompanhar de perto quais são as práticas adotadas e praticadas pelos profissionais da psicologia em diferentes áreas de atuação, para que desse modo seja possível ter uma visão ampla de como a profissão vem sendo aplicada no território nacional.
Fonte: encurtador.com.br/juzW8
Promover e ampliar a atuação do psicólogo no que tange a esfera pública, de forma que a psicologia possa alcançar várias camadas da sociedade e beneficiar os mais variados eixos sociais é tido como objetivo do CREPOP, além de sistematizar e difundir os conhecimentos e as práticas psicológicas aplicadas ao setor público estatal, registrar as competências da profissão nesse setor, identificar novas oportunidades de inserção da Psicologia e as limitações presentes na atuação dos profissionais nas políticas públicas, apresentar propostas de ação profissional para as demandas identificadas, construir e disponibilizar referências técnicas para o exercício profissional nesse campo, promover a interlocução da Psicologia com os espaços de formulação, gestão e execução de políticas públicas e promover o desenvolvimento de conhecimentos acerca dessa área de atuação nos meios acadêmico e profissional. Investigar as práticas desenvolvidas pelos profissionais de psicologia no seu respectivo campo de atuação.
No ano de 2010 foi instituída uma comissão formada por especialistas recomendados pelos plenários dos conselhos regionais de psicologia e pelo plenário do Conselho Federal de Psicologia com a função de formular o Documento de Referências Técnicas para a Prática de Psicólogos em Políticas de Educação Básica.
Desse modo, a comissão ad-hoc que foi designada para a construção do documento de referência que ao final culmina na publicação da Referência Técnica, tida como de enorme valia dentro da prática profissional, pois norteia a aplicação de políticas públicas já instituídas, com a finalidade de promover os direitos humanos dentro da escola, disseminar conhecimento a respeito da psicologia e promover maior estruturação da profissão, de modo que o psicólogo receba suporte para ampliar sua prática e aumentar o desenvolvimento das políticas públicas.
Fonte: encurtador.com.br/abnHJ
A lei de nº 1935 assegura que as equipes multiprofissionais deverão desenvolver ações para a melhoria da qualidade do processo ensino-aprendizagem, com a participação da comunidade escolar, que deve atuar na mediação das relações sociais e institucionais. Bem como dispõe sobre a prestação de serviços de psicologia e de serviço social nas redes públicas de educação básica.
Onde tal prática foi fruto de uma luta advinda dos profissionais de psicologia juntamente com o CREPOP e o Sistema Conselhos de Psicologia, em prol da abertura de um cenário multifacetado da Educação Básica. Na qual torna-se imprescindível a atuação desses profissionais focando não somente os indivíduos como também o contexto educacional como um todo.
No ano de 2019 houve a lei 1.935 que dispõe sobre a prestação de serviços de psicologia nas redes públicas de educação básica, e a aplicabilidade dessa lei é um enorme marco e ganho para a psicologia, pois garante a presença do psicólogo dentro da rede pública de ensino, de forma que seja possível construir um Plano Político Pedagógico ainda mais amplo e completo, abarcando as necessidades e peculiaridades sociais e contextuais dos alunos, da região e da equipe escolar, de modo que seja possível garantir a melhoria do sistema de ensino, das relações sociais, e da individualidade dos alunos e da sociedade por acessar de forma mais próxima as ferramentas da psicologia.
Com o avanço na área da saúde brasileira advindo da criação do SUS, o país enfrenta, entre outros, dois grandes desafios a serem vencidos pelo próprio sistema: primeiro é a ampliação do acesso a suas ações e o entendimento por parte da população, de seu uso, fluxo e rotinas considerando os pressupostos da universalização das suas ações e serviços. Em segundo lugar, a ampliação dos processos formativos para uma melhor atuação dos trabalhadores e operadores do SUS junto aos usuários.
Para equacionar o segundo desafio, o Ministério da Saúde editou a Portaria nº 198/GM em 13 de fevereiro de 2004, instituindo a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde como estratégia do Sistema Único de Saúde para a formação e o desenvolvimento de trabalhadores para o setor, considerando sua responsabilidade constitucional de ordenar a formação de recursos humanos para a área de saúde e de incrementar, na sua área de atuação, o desenvolvimento científico e tecnológico, provendo políticas orientadoras da formação e desenvolvimento de trabalhadores para o setor, articulando os componentes de gestão, atenção e participação popular com o componente de educação dos profissionais de saúde.
Fonte: https://bit.ly/2talgZb
É neste contexto que me insiro como trabalhadora e operadora do Sistema Único de Saúde na gestão, de 1994 até 2016, acompanhando cada fase de sua constituição, seja representando os profissionais de saúde nos recém-criados Conselhos Municipais e Estadual de Saúde na década de 90, seja na gestão de serviços de saúde de município e estado, seja na gestão de politicas de saúde e no estabelecimento de redes de atenção junto a gestores municipais através de Comissões Intergestores Regionais.
Com o intuito de buscar um maior aprimoramento das ações por mim desenvolvidas, procurei acessar os dispositivos de educação permanente oferecidos pelo SUS através do Ministério da Saúde: ENSP/FIOCRUZ, ENSP/ ESPJV, OPAS/ UNODC, e da Secretaria Estadual de Saúde (ETSUS-TO) em seus diferentes níveis de capacitação (Atualizações, Formações, Especializações, MBA), não só para cumprir os requisitos da Lei 8080/90, mas sobretudo para empoderar o trabalho com conhecimento qualificado no arcabouço das tecnologias leves que o SUS oferece aos seus trabalhadores.
Meu primeiro contato com a Política de Educação Permanente do SUS aconteceu em 1995, quando foi ofertado aos técnicos, vários treinamentos para a atenção de pacientes com Diarreia e Infecção Respiratória Aguda (IRA). Desde então, vários outros treinamentos foram disponibilizados e em 1997 pude fazer minha primeira especialização em Saúde Coletiva, através de um consórcio entre Secretaria Estadual de Saúde, Secretaria Municipal de Saúde em Araguaína, Universidade Federal do Tocantins – UFTe Escola Nacional de Saúde Pública – ENSP/FIOCRUZ.
Fonte: https://bit.ly/2JORWCa
Após o término desta especialização, a Secretaria Estadual de Saúde e a ENSP/FIOCRUZ disponibilizou aos trabalhadores de Saúde Mental, o primeiro Curso de Especialização em Saúde Mental e Saúde Coletiva e fui selecionada para participar deste curso. Outros cursos se seguiram, tais como Curso de Especialização em Educação Permanente em Saúde (o primeiro do país, e que ocorreu em nosso Estado do Tocantins), e o curso para tutores em Educação Permanente todos capitaneados pela SES/ ENSP/FIOCRUZ, além de um MBA em Gestão de Projetos Governamentais SES/ PMI-GO/ UNITINS
Na área de Saúde Mental, pude fazer mais algumas especializações em Saúde Mental, Álcool eoutras Drogas pela UNODC/ MS/SENAD e por ultimo tive o privilégio de cursar a Especialização em Gestão de Redes de Atenção à Saúde que me proporcionou uma maior visão do campo de atuação dos profissionais no contexto da regionalização e na construção de Redes de Atenção à Saúde no Estado.
Neste sentido, percebi que os trabalhadores do SUS têm a oportunidade de se capacitarem de forma efetiva a partir de suas vivências no trabalho, aumentando o nível de capacidade técnica operacional dos serviços ofertados aos usuários dos serviços de saúde de forma universal, regionalizada e equânime.
Vale ressaltar que os processos formativos desenhados pelos dispositivos educacionais no SUS ocorrem de forma permanente e continuada, sem custo para os trabalhadores, visando uma maior troca de saberes entre as equipes, proporcionando a Inter e a transdisciplinaridade nos processos de trabalho, e contribuindo para o aprimoramento científico. Segundo Maturana (1997), “A ciência desempenha um papel central na validação do conhecimento em nossa cultura ocidental e, portanto, em nossas explicações e compreensão dos fenômenos” (p.256).
Fonte: https://bit.ly/2MD97UI
Finalmente, percebo que apesar dos grandes desafios que a efetivação do SUS impõe a todos os envolvidos no processo, as iniciativas operacionalizadas pelos profissionais de saúde através das instancias de gestão existente, faz com que esta poderosa política pública chamada SUS se imponha como uma das mais abrangentes e complexas politicas de saúde pública do mundo, na qual eu me beneficio tanto profissionalmente quanto como usuária de sua atenção nos mais diversos níveis.
REFERÊNCIAS:
BRASIL _ Ministério da Saúde. PORTARIA Nº 198/GM Em 13 de fevereiro de 2004 Institui a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde como estratégia do Sistema Único de Saúde para a formação e o desenvolvimento de trabalhadores para o setor e dá outras providências.
MATURANA, Humberto. A ontologia da realidade. Belo Horizonte: Editora da Universidade Federal de Minas Gerais, p. 256. 1997.
A obra “Como e por que as desigualdades sociais fazem mal à saúde“ (Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2009), da médica Rita Barradas, com experiência na área de Saúde Coletiva, com ênfase em Epidemiologia, é organizada em seis capítulos, que apresentam informações detalhadas, baseadas em pesquisas e estudos quantitativos, sobre como a desigualdade social faz mal à saúde e o por que da sua ocorrência.
As desigualdades sociais são amplas e envolvem as desigualdades de classe social, de raça ou etnia e de gênero. Sendo um livro que contém dados quantitativos sobre os fatos é possível ser comprovado as hipóteses do senso comum e se surpreender com outras, como riqueza e bem-estar não é necessariamente uma relação mútua. O livro retrata sobre os impactos que essas desigualdades causam na saúde (patologias causadas pela insalubridade, pelo estresse, pela falta de informações entre outros fatores).
Fonte: encurtador.com.br/msvT0
O primeiro capítulo tem como título: ‘O que queremos dizer com desigualdades sociais em saúde?’. Desigualdades sociais, nesse contexto, são diferenças no estado de saúde entre grupos definidos por características sociais, tais como riqueza, educação, ocupação, raça e etnia, gênero e condições de local de moradia ou trabalho. A palavra desigualdade está se referindo às situações que implicam algum grau de injustiça, isto é, diferenças que são injustas porque estão associadas a características que sistematicamente colocam alguns grupos em desvantagem com relação ao acesso à saúde. Em todas as sociedades as situações de risco, dos comportamentos relacionados à saúde e o estado de saúde física e mental tendem a variar entre os grupos sociais, existe um gradiente entre as posições sociais e os efeitos sobre a saúde e não há um limiar a partir da qual as diferenças desaparecem.
Na falta de uma teoria, tenta-se explicar as desigualdades sociais em saúde de maneira relativamente simplista. Como a explicação de que os serviços à saúde é diferenciado para os vários grupos e, portanto, os efeitos são decorrentes de problemas na utilização dos recursos disponíveis, mas esta explicação é derrubada pela constatação de que as desigualdades não desaparecem países em que existe sistemas nacionais de saúde com garantia de acesso universal para todos os grupos sociais. Esta e outras explicações, como: a doença como principal determinante da posição social, estilo de vida e explicações baseadas em fatores genéticos não são válidas para compreender as desigualdades sociais em saúde e deixa clara a necessidade de estudos que possibilitem a compreensão desse fenômeno.
Há quatro teorias principais que visam fornecer elementos para compreensão do processo de produção da saúde e da doença e seus reflexos sobre a distribuição do estado de saúde na população. A teoria mais antiga e mais facilmente aceita é a estruturalista ou materialista, que confere maior importância à estrutura econômica da sociedade. De acordo com ela o montante de renda ou riqueza dos países grupos sociais dos indivíduos é o principal determinante do estado de saúde, a falta ou insuficiência dos recursos materiais para enfrentar de modo adequado os estressores ao longo da vida acaba por produzir a doença e diminuir a saúde, essa teoria é capaz de explicar a grande parte das desigualdades mas tropeça diante do paradoxo de que nem sempre a riqueza de um país vem acompanhada de melhor nível de saúde.
Fonte: encurtador.com.br/beCFK
Outra teoria desenvolvida para enfrentar o paradoxo entre riqueza e nível de saúde é a psicossocial. Ela dá mais importância à percepção da desvantagem social como fonte de estresse desencadeador de doenças. Na América Latina a discussão sobre as desigualdades sociais vem sendo feita principalmente à luz da teoria da determinação social do processo saúde-doença. Essa teoria analisa a constituição do próprio sistema capitalista com ênfase aos mecanismos de acumulação do capital e à distribuição de poder, prestígio e bens materiais deles decorrentes. A posição de classe e a reprodução social passam a ser vistos como os principais determinantes do perfil de saúde e doença.
E por fim a teoria ecossocial que chama a atenção para processos de incorporação pelos organismos humanos dos aspectos sociais e psíquicos predominantes no texto nos quais os indivíduos vivem e trabalham, esta teoria considera impossível a separação entre o biológico, o social e o psíquico.
Fonte: encurtador.com.br/efOR5
As quatro teorias apresentadas compreendem o processo saúde-doença como intrinsecamente histórico, isto é, determinado pelas condições estruturais e conjunturais em que vivem as populações humanas. As relações econômicas, sociais e políticas afetam a forma como as pessoas vivem e seu contexto ecológico e, desse modo acabam por moldar os padrões de distribuição das doenças, sendo assim toda e qualquer doença e sua distribuição populacional produtos da organização social, o que significa que todos devem ter acesso e utilizar os serviços indispensáveis para resolver as suas demandas de saúde, independente do grupo social ao qual pertençam, e aqueles que apresentam maior vulnerabilidade em decorrência da sua posição social devem ser tratados de maneira diferente para que a desvantagem inicial possa ser reduzida ou anulada.
No segundo capítulo fala sobre a posição social, de acordo com a concepção de Marx, e Weber e seus reflexos sobre a saúde. As explicações sócio-históricas das desigualdades em saúde baseiam-se na ideia de que saúde é um produto social e algumas formas de organização social são mais sadias do que outras. Assim, os mesmos processos que determinam a estruturação da sociedade são aqueles que geram as desigualdades sociais e produzem os perfis epidemiológicos de saúde e doença. Conceito-chave nessas abordagens é o processo de reprodução social que por sua vez implica a reprodução de diferentes domínios da vida como a reprodução biológica do indivíduo o das relações com o ambiente e o da cultura.
Fonte: encurtador.com.br/qGMY1
Todos esses processos produzem impactos sobre a saúde e a doença dos indivíduos, cujo resultado final será a preservação da saúde, a ocorrência da doença ou agravos à saúde. Na concepção marxista as classes sociais são definidas como grandes grupos de indivíduos que se diferenciam entre si pela posição que ocupam no sistema de produção historicamente determinado, pelas relações que estabelecem com os meios de produção, pelo papel que desempenham na organização social do trabalho e pelo modo como se apropriam de parte da riqueza social.
O conceito engloba as dimensões econômicas, sociais jurídicas, políticas e ideológicas. O conceito de classe social é importante para que possam pode ser identificados grupos definidos a partir de seus vínculos sociais estruturais que são os determinantes mais imediatos das condições de vida das famílias e, portanto, da situação de saúde dos indivíduos.
Na concepção weberiana a posição social dos indivíduos decorre da classificação segundo três dimensões: classe econômica, prestígio e poder político. Os estratos sociais são compostos por indivíduos que compartilham determinadas características de inserção econômica (ocupação), prestígio social (escolaridade) e poder ou riqueza (renda), características essas utilizadas para alocá-los em uma escala ou gradiente de valores crescentes ou decrescentes.
As desigualdades sociais em saúde podem se manifestar em relação ao estado de saúde e ao acesso e uso de serviços de saúde para ações preventivas ou assistenciais. Na população brasileira segundo dados da pesquisa Mundial de Saúde a auto avaliação do estado de saúde varia marcadamente com o nível de escolaridade, a prevalência de doenças crônicas também varia com os anos de escolaridade após ajuste por idade. E uso de serviço de saúde também é influenciado pelo grau de escolaridade mas as diferenças são muito menores a criação do Sistema Único de Saúde possibilitou o acesso para a grande maioria da população brasileira.
Fonte: encurtador.com.br/hsA19
A análise dos eventos de saúde em relação ao local de moradia tomando o espaço geográfico como um indicativo das condições de vida da população que nele reside mostra que os indicadores socioeconômicos dos países têm impacto sobre o nível de saúde da população. As desigualdades sociais em saúde repetem-se também no interior dos países em suas regiões e cidades. Há um nítido gradiente de mortalidade infantil que acompanha o PIB per capita em cada capital brasileira, mostrando que quanto maior riqueza menor a taxa de mortalidade infantil.
A posição social dos indivíduos e grupos sociais, medida por indicadores de classe social, variáveis isoladas como escolaridade e classes ocupacionais, ou a partir das condições de vida em determinados espaços geográficos, é um poderoso determinante do estado de saúde das populações, atuando sobre o perfil de morbidade e mortalidade e também sobre o acesso e utilização dos serviços de saúde. Há inúmeras investigações científicas demonstrando a existência das desigualdades sociais em saúde buscando modelos de interpretação para as mesmas, procurando entender os processos sociais e processos mediadores entre as condições concretas de vida e a saúde no âmbito populacional.
Neste capítulo (Ser rico faz bem à saúde?), o terceiro, Barata adentra a correlação comumente feita seja de que a riqueza traz mais qualidade de vida a partir do pressuposto de que se pode evitar situações como fome, doenças atribuídas a pobreza e a morbidade em geral, as pesquisas em diferentes países indicam que uma coisa não necessariamente está atrelada a outra, pois as correlações não indicam necessariamente causalidade.
As comparações seriam viáveis, no entanto, se existissem no âmbito de análise que se restringe apenas aos países desenvolvidos, onde o índice de riqueza absoluta atesta para as necessidades sociais básicas como atendidas. Em 1980, Wilkinsons demonstrou, após pesquisar nove países desenvolvidos, que menores taxas de mortalidade infantil estavam mais ligadas a uma boa distribuição de renda do que, de fato, PIB per capita. Outros estudos mostram que embora o nível de satisfação e bem-estar geral aumente com o acúmulo de riqueza no país, estes níveis são bem maiores em países com uma boa distribuição de renda. Temos, portanto, que uma boa distribuição de renda traz, no geral, mais benefícios quanto à saúde do que aumento de riqueza absoluta de um país.
Fonte: encurtador.com.br/cFXYZ
O quarto capítulo aborda as influências dos grupos étnicos nas desigualdades sociais na posição social, na saúde e na inserção social. Existe uma complexidade em explicar as causas das desigualdades étnicas e/ou raciais, pois ela abrange vários aspectos, como o contexto socioeconômico, histórico, político e cultural.
Essas visões de mundo que competem na explicação das desigualdades e iniquidades sociais, entretanto, não dão conta das iniquidades relacionadas com o pertencimento a determinados grupos étnicos, uma vez que os indivíduos não são livres para escolher a qual grupo pertencer, nem esta determinação está relacionada diretamente com a posição de classe. Qualquer consideração das desigualdades sociais em relação a grupos étnicos carrega a dupla determinação: a posição social que tais grupos ocupam na sociedade e a aceitação/rechaço que possam ter frente aos grupos majoritários (BARATAS, 2009, p. 56).
A raça ou etnia não é definida biologicamente, mas sim como uma construção sociopolítica, que dividiu grupos de acordo com suas peculiaridades (costumes, crenças, cor). Essa construção sociopolítica tem impacto nas condições de saúde, no acesso ao mesmo e também contribui para que esse grupo seja inserido na sociedade da pior maneira. O Brasil não tem uma segregação racial explícita, ele é considerado como um país miscigenado e multicultural (e ele é), porém é notório que as minorias étnicas sofrem uma desvantagem social. A maioria dos negros encontram-se presentes nos bairros periféricos, têm menor escolaridade, têm pior acesso ao trabalho, saneamento básico, saúde, educação e seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é inferior aos demais povos.
A discriminação é uma ideologia que se apresenta através das interações, tendo uma dominação, à custa das minorias, dos grupos superiores a frente dos outros, privando-os e os excluindo. O racismo é uma forma de discriminação, onde as vítimas são as minorias étnicas. Um dos aspectos fundamentais dos direitos humanos é a igualdade no tratamento, não podendo então haver nenhum tipo de discriminação, seja ela qual for.
Fonte: encurtador.com.br/boFY2
O quinto capítulo refere-se a gênero e sua relação com as desigualdades sociais. Embora a palavra ‘gênero’ possua diferentes significados dentro do seu contexto de utilização, biológico, gramatical ou da saúde, em termos gerais significa conjunto de objetos ou seres que possuem características compartilhadas e têm mesma origem. No âmbito da saúde, a palavra gênero vem para contrastar o masculino e o feminino, seus comportamentos no contexto social e para o acesso aos serviços de saúde.
Segundo a epidemiologista Nany Krieger, o termo gênero passa a ser usado na saúde a partir do ressurgimento do movimento feminista em meados do séc. XX. Essa inserção vem calcada na observação de inserção dos gêneros nos papeis sociais e sua repercussão dentro da saúde coletiva. Para Krieger, somos todos sexo e gênero. Sexo biológico, que influencia algumas de nossas condições de saúde, mas também gênero, este uma construção social, processo sociocultural, que define os papeis masculinos e femininos na sociedade e define as relações entre ambos.
A importância de salientar as diferenças entre os conceitos se dá pois um não toma o papel do outro, a variável sexo não dá conta das questões de gênero enquanto saúde, por um ser um processo sociocultural. Esse ressurgimento dos movimentos feministas no séc. XX vai atribuir uma grande importância ao gênero dentro do sistema de saúde e dos processos saúde-doença e seus atendimentos, pois ao nascer o indivíduo já está inserido neste paradigma e as suas consequências são inevitáveis, seja na questão social, cultural, da saúde etc. Como essas relações construídas permeiam todos os aspectos sociais, é impossível não levar em consideração quando se pensa em saúde pública e suas políticas.
Levando essas diferenças para o âmbito da saúde, as pesquisas indicam que há uma maior taxa de mortalidade para o gênero masculino em todas as faixas etárias, tirando situações com onde o infanticídio feminino e precariedades no parto são grandes. Esses dados, no entanto, refletem a diferença de gênero, pois não seria uma questão do sexo biológico, mas sim do gênero e sua imposição em relação à identidade cultural, nos trabalhos insalubres, na construção social, modo de vida etc. Paradoxalmente, o gênero feminino possui indicadores de saúde menores e recebe menos por horas de trabalho efetuadas, ao ponto que o homem recebe mais com menor grau de exigência e maior autonomia, sendo que as mulheres geralmente são forçadas a exercerem cargos com trabalhos mais monótonos e de perspectivas mais curtas, vínculos trabalhistas mais precários e maior desgaste psicológico e emocional.
Fonte: encurtador.com.br/EHJQ0
Não apenas isso, mas o uso dos serviços de saúde também reflete diferenças socioculturais apontadas por questões econômicas, de idade, etnia e de gênero. Embora o uso de consultas médicas aumente consideravelmente com a condição socioeconômica, a presença majoritária é de mulheres, aumento da diminuição do contraste de gênero ao ponto onde a condição socioeconômica aumenta. Para o estado de saúde, a maior desigualdade de gênero é observada entre famílias com até dois salários mínimos, mas as condições de saúde ruins e regulares são encontradas nas famílias com renda média.
O gênero, enquanto construção social, parece adentrar as várias camadas da sociedade na dimensão macrossocial e microssocial, ao ponto que os gêneros representam seus papeis em diversas esferas, esses papeis que são impostos. Quanto ao sistema de saúde, a conclusão a que Barata (2009) chegou é de que não parece haver discriminação nos serviços de saúde quanto à gênero, uma vez que a maior utilização do sistema se dá pelas mulheres. No entanto, esse uso poderia ser decorrente das políticas públicas voltadas à saúde reprodutiva das mulheres, acarretando nesse maior uso das unidades de saúde.
No sexto e último capítulo, Barradas (2009) sugere algumas políticas para o enfrentamento das desigualdades. É necessário políticas públicas de controle à gravidez indesejada, incentivo ao pré-natal, possibilidade de boa alimentação, grupos informativos sobre tabagismo na gravidez, pois estes atos juntamente com a pobreza são fatores de risco para incidência de baixo peso em recém-nascidos.
Fonte: encurtador.com.br/juHP0
Existem três níveis diferentes de ação política para reduzir as desigualdades sociais, essas ações dependem do contexto social e político de cada país. As políticas macrossociais, como as políticas que modificam a estratificação social,as condições de exposições e vulnerabilidade dos grupos sociais ou políticas de saúde que ajam sobre as consequências ruins das desigualdades, minimizando seus efeitos impactantes. As políticas redistributivas têm positiva ligação com a menor mortalidade infantil, simultaneamente, o nível de distribuição de renda e a esperança de vida estão altas, tais acontecimentos são comuns nos governos social-democratas.
Os princípios para a ação política devem ser o compromisso ético com a equidade; a abordagem baseada em evidências científicas; a preocupação com todo o gradiente de desigualdades, e não apenas com os extremos da distribuição ou com as diferenças individuais; a atuação na vida cotidiana, pois é nela que experimentamos o impacto da estrutura social; e a consciência de que as evidências são importantes, mas há outros ingredientes na tomada de decisão, dentre as quais talvez a mais relevante seja a vontade de transformar as evidências disponíveis em estratégias para a ação. As experiências levadas a efeito para promover a equidade em saúde incluem políticas de redução da desigualdade de renda e de redução da pobreza, políticas fiscais progressivas, controle sobre o capital volátil, perdão da dívida e novas fórmulas de cálculo baseadas na atenção às necessidades básicas, políticas de redução da vulnerabilidade e investimentos em saúde (BARATAS, 2009, p. 101).
Temos ainda que:
O Programa Nacional de Imunizações (PNI) é uma política setorial em que vacinas são disponibilizadas de forma continuada na atenção primária (ex. postos de saúde), tendo Campanhas de Vacinação para que a prevenção atinja toda a comunidade. Apesar da abrangência da vacinação, ela apresenta diferenças entre as camadas socioeconômicas da população. Algumas pessoas da classe alta não usufruem do PNI, não por falta de acesso às informações, mas por outros motivos, dentre eles, a desconsideração das vacinas tradicionais e a vacinação em setores privados. Já as pessoas de classe baixa não vacinam por falta de informações da gratuidade do serviço e dos seus direitos sociais. Assim, mesmo um programa de ampla abrangência como o de imunizações não consegue em sua execução superar todas as desigualdades geradas na estrutura social. O fato de pertencer a uma determinada classe ou estrato social significa não apenas poder desfrutar de determinadas condições materiais, mas também acaba por moldar toda uma visão de mundo com complexas implicações para a saúde (BARATAS, 2009, p. 104).
É indispensável a atenuação das desigualdades sociais com ofertas de serviços de saúde, quando outras medidas como a modificação da estratificação social e da vulnerabilidade dos grupos diferentes não atingem toda população. Além da inquietação em executar sistemas de saúde para proteção às famílias dos efeitos nocivos das doenças, há um cuidado para que as pessoas não sofram desigualdades sociais pelos profissionais dos serviços de saúde.
Fonte: encurtador.com.br/uBORZ
O sistema nacional de saúde com acesso universal juntamente com a distribuição correta de serviços e de equipamentos no espaço geográfico são essenciais para que os indivíduos os utilizem, independentemente de suas particularidades. Além do mais é necessário um preparo dos profissionais e das instituições de saúde para trabalharem da melhor forma. A obra de Barata é rica em informações sobre as desigualdades sociais — classe social, etnia, gênero e inserção social— que afetam negativamente à saúde, pois através dos fatos em que ela está embasada (estudos e pesquisas quantitativas), são vistos a veracidade da obra. A autora que é uma médica social mostra os impactos que as desigualdades sociais têm na saúde, de tal maneira que nos faz refletir sobre tais impactos, impulsionando-nos a contribuir para mudar essa realidade.
Os profissionais da saúde mental que agem especificamente no social são o psicólogo social e o comunitário, trabalhando diretamente com as pessoas que vivenciam, nitidamente, as desigualdades sociais, e que também sofrem, pois a demanda é grande e existem poucos profissionais para atendê-la e também demais fatores não colaborativos para melhor execução da profissão. Barata expôs as informações de uma maneira fácil para avaliação e compreensão das contingências envolvidas na saúde. Portanto, o ideal é que os profissionais da saúde tenham acesso ao conteúdo do livro. Além disso, o Ministério da Saúde deve implantar políticas públicas para amenização desse quadro.
REFERÊNCIAS:
BARATA, Rita Barradas. Como e Por Que as Desigualdades Sociais Fazem Mal à Saúde. 1ª Ed.Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2009. 120p. (Coleção Temas em Saúde).
* Trabalho resultante da disciplina de Antropologia, ministrada pelo prof. Sonielson Sousa.
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A saúde como um processo histórico-social e de ordem econômica
Autora do livro ‘Como e porque as Desigualdades Fazem Mal a Saúde’, Rita de Cássia Barradas Barata possui graduação em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (1975). Tem experiência na área de Saúde Coletiva, com ênfase em Epidemiologia. A autora apresenta breves considerações teóricas sobre a temática em questão, apontando correntes e tendências existentes na pesquisa epidemiológica sobre o assunto. Desigualdades sociais na saúde, classe social, influência da renda, relações entre riqueza e estado de saúde, etnia e discriminação e por fim, relações de gênero e a produção da saúde e da doença são assuntos questionáveis no livro.
Do ponto de vista acadêmico, o foco principal recai sobre as teorias das desigualdades sociais em saúde. Recorre-se a elas para deixar claro as injustiças como dimensões multideterminadas. A teoria estruturalista citada no livro da ênfase na economia da sociedade; a teoria psicossocial, destaca a desvantagem social como geradora de estresse que possa desencadear doenças; a teoria da determinação social na qual foi adotada na América Latina e no Brasil, cuja seu fator de maior importância é dado ao modo de vida; e conseguinte a teoria ecossocial que enfoca de igual valor, aspectos biológicos, socais e psíquicos.
Juntamente são descritas críticas as vertentes que enfatizam apenas as distinções biológicas entre indivíduos e entre populações e, negligenciam os aspectos políticos que participam da constituição das iniquidades em saúde, ligadas às formas de organização da sociedade. As questões das classes sociais (segundo a tradição marxista), é examinada sua influência sobre o processo saúde-adoecimento das pessoas segundo a “posição social” que cada indivíduo ocupa nessa estratificação (marcadamente definida pelas diferenças econômicas intra e interpopulacionais, mas também jurídicas, políticas, ideológicas e de poder).
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E defende que as pesquisas epidemiológicas devem servir para a identificação dos grupos sociais precarizados, cujos vínculos estruturais determinam diretamente as condições insalubres de vida das famílias e de seus membros. Identifica ainda que ao se utilizarem (nas categorizações de classes sociais) variáveis como escolaridade, ocupação profissional (trabalho) e condições de vida em um espaço geográfico específico, pode-se obter um indicador do processo saúde doença nas populações.
O enfoque do terceiro capítulo da obra está relacionado na associação entre saúde e riqueza, onde países com um produto interno bruto (PIB) maior são capazes de proporcionar um melhor atendimento para as necessidades básicas de seus habitantes. Um leigo no assunto pactuaria sem questionamentos a essa informação, mas a autora é firme em seu posicionamento ao afirmar que a premissa é falsa. “Desde a década de 1970 pesquisas tem demonstrado que […] a partir de certo limiar os aumentos na riqueza não se traduzem mais em saúde” (BARRADAS, 2009, p. 41) assim como em uma mesma região as rendas são inversamente proporcionais, ou seja, há ricos e pobres.
A saúde está ligada diretamente ao poder aquisitivo, aquele que a possuir poderá garantir uma melhor qualidade de vida, mesmo em países desenvolvidos a situação ainda é alarmante, a maior parte da população tem suas necessidades aprovisionadas, já os mais pobres ultrapassam a fronteira da miséria. Uma vez que países com receitas altas possuem residentes em extrema carência concluímos que países de terceiro mundo acabam vivendo em calamidade.
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A partir do momento que falamos em bem-estar, estudos mostram que países com menor desigualdades na distribuição de renda oferecem uma saúde e qualidade de vida melhor pois quase toda a população está no mesmo nível financeiro. A mortalidade causa impacto em todos os grupos sociais, porém a expectativa de vida se torna ainda menor nos países mais pobres devido à ausência de saneamento, fome e doenças. É fundamental que políticas públicas sejam implantadas ou modificadas em caráter de urgência, a fim que contribuam na amenização da desigualdade sociais promovendo melhores condições para população em geral.
É mostrado o que as desigualdades e igualdades, equidade e iniquidade expressem e logo é exposto um conceito mais claro de inequidade, a qual pode ser encontrada dentro das determinantes socais dentro da saúde em sociedade. As desigualdades sociais na área da saúde são vistas como reflexo das suas escolhas o que eleva algumas pessoas e rebaixa outras. Já no ponto de vista do materialismo histórico são a colocações das pessoas dentro da classe social que irá influenciar em suas escolhas e consequentemente nos reflexos que serão recebidos no futuro.
Dentro desses conceitos há uma competição dada como finalidade a explicação das desigualdades e das iniquidades sociais, entretanto, segundo a autora essas explicações caem por terra quando se trata das iniquidades em um contexto de agrupamento étnico pois os indivíduos não são livres para escolher qual grupo pertencer e qualquer opinião sobre as desigualdades sociais nesse contexto carregam uma dupla determinação e encontram-se melhores explicações dentro da teoria ecossocial. É colocado por ela que a pratica da discriminação étnica seria uma forma mostrar uma relação de dominação e repressão.
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Logo é dado outro conceito, o de raça, que para a biologia seria o sinônimo de divisões dentro de uma mesma espécie, mas o ser humano utiliza esse contexto como justificativa de uma superioridade inata sobre outros grupos, como os negros e indígenas. Sendo que segundo a interpretação da lei da “sobrevivência dos mais adaptados”, os mais fortes são os sobreviventes e com isso ganham poder sobre as outras espécies e sobre os povos “inferiores”.
A autora mostra claramente que embora ciência tenha mostrado que os seres humanos sejam praticamente idênticos ainda há uma persistência na questão de raça superior, tendo em mente também que esse conceito de raça/etnia é uma construção sociopolítica. Com os anos raça passou a ter a mesma definição de grupo étnico que seria definido com base nas características socioculturais apresentadas em um determinado conjunto de pessoas, dentro desse conceito existe uma relação complexa de sociedade para a execução da vontade de domínio sobre o próximo anteriormente citada.
Essas desigualdades existentes em todos os lugares trazem consigo prejuízos a saúde e é notório um prejuízo maior aos povos negros, tanto em necessidades básicas, como em escolarização, emprego, lazeres e a saúde. Isso pode afetar a futura geração desde a gestação, esses prejuízos podem ser notados em diversos países, tanto em homens quanto nas mulheres. Esses danos à saúde também se remetem a uma diferença ao acesso aos meios necessários para a manutenção da mesma, isso tudo depende dos fatores determinantes.
Tais fatores seriam as condições socioeconômicas e a também a forma como é organizada a maneira de acesso a esses serviços de saúde, a relação da clientela com os profissionais também influencia nesses quesitos. No Brasil o SUS (Sistema Único de Saúde) é uma forma de unificar o acesso aos tratamentos necessários, sendo usado por brancas (o), pardas (o), negras (o) ou mulatas (o), um exemplo seria que todas elas agora podem ter acesso ao pré-natal durante a gestação.
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Entra em questão outro termo também, a questão do racismo que seria basicamente uma ideologia de inferioridade bastante presente na saciedade e também a discriminação racial/étnica que é um fenômeno sancionado socialmente que é baseada na dominação. Nas sociedades onde o racismo está presente existe um limitação e restrição do desenvolvimento econômico e social por conta da reprodução desses atos de inferioridade. Esse assunto traz à tona novamente a questão sobre os problemas a saúde que o racismo pode acarretar a saúde da vítima, que seria hipertensão arterial, transtornos mentais, prematuridade, baixo peso, doenças cardíacas, diabetes e obesidade, abuso de álcool, drogas e tabagismo.
O livro esclarece de forma detalhada o significado da palavra “gênero” em diversos contextos, mas o que mais interessa nesse capítulo é o que esse termo surgiu como a definição mais adequada voltada à gramática e à biologia, tendo o significado como útil para aglomerar os comportamentos adquiridos socialmente pelo sujeito, levando em consideração a cultura do meio em que vive e a influências que isso tem tudo nas diferenças entre o masculino quanto ao feminino.
Em termo começou a ser utilizado também influenciado pelo movimento feminista, em torno do século XX. Pois, questionava, na época no Ocidente, as características atribuídas para homens e mulheres, como no que diz respeito às suas funções e papéis a exercer, quanto a características determinadas culturalmente em seus comportamentos. Mas a grande questão era, se essas desigualdades de saúde estavam diretamente relacionadas de diferenças entre os sexos que eram já impostas geneticamente, ou seja, inatas ou se estavam ligadas aos comportamentos designados para cada sexo moldados pela cultura social (falamos aqui de sexo e gênero como dois conceitos diferentes, porém, que podem haver relação entre si).
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Levando em consideração que somos feitos tanto de sexo, quanto de gênero, sendo o primeiro, aquilo que nos é determinado biologicamente, e o segundo termo, somos resultados de moldagens constantes do meio social. Porém, ambos interferem no que diz respeito à desigualdade na saúde. Tendo em vista que se estudarmos mais afundo nosso biológico (o feminino e o masculino) encontrarem diversas diferenças no que torna muitas vezes, mulheres a estarem mais propensas a certos tipos de doenças em que, em outros casos, os homens não possuem a mesma “pré-disposição”. Mas pode ocorrer o contrário também.
Ao mesmo tempo, essas hierarquias sexuais e de gênero na sociedade em que vivemos, onde o grupo “homem” tem mais direitos e vantagens que a mulher na maioria das situações, é também um forte motivo de desigualdades na saúde. Diversos movimentos consideram que o fator determinante para essas desigualdades na saúde são os fatores sociais que influenciam o gênero. Pois eles argumentam que diversas dessas características da nossa existência que temos já ao nascer, são motivos já consideráveis para influenciar gravemente o perfil epidemiológico. Já em outros casos, os costumes e questões comportamentais que são adquiridos socialmente a interação com outros indivíduos e com o meio, tornando-o fundamental para o perfil epidemiológico também.
Quanto menos focamos na importância de estruturação social, menos entenderemos e consideraremos os gêneros, sendo que essa última causa extrema influência nos aspectos que tem relação com as classes sociais, por isso é importante ser discutido e questionado. A definição sobre o que realmente causa essas desigualdades, ou se é por discriminação, é difícil de determinar. As relações sociais e a divisão sexual de poder na sociedade são ambos os fatos que mais influenciam fortemente, mas que não se dividem nessa questão de desigualdade social, pois em todos os problemas que serão analisados é trazido junto fatores que envolvem o gênero e o sexo, muitas vezes, em posição de determinantes.
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Na grande maioria das culturas, a taxa de mortalidade é maior entre os homens, pois geralmente são eles que estão mais expostos a situações de risco durante a vida, seja no trabalho, ou o uso de álcool, cigarro e drogas, violências e acidentes também, até óbitos por AIDS. Isso faz questionar as questões de sexo, pois as causas citadas acima de mortalidade não provenientes de características inatas biologicamente, e sim questões de gênero, que implicam em divisões no trabalho por sexo, valores machistas construídos socialmente, gosto adquiridos influenciados pelo ambiente, enfim, comportamentos aprendidos e absorvidos, reflexo de situações vivenciadas.
Porém, a mulher possui muitas vezes uma morbidade mais acentuada, devindas de questões hormonais e genéticas, levando em consideração o biológico. Mas como irão lidar e se comportar diante do mesmo, deixa de ser determinado pelo sexo e passa a relacionado como gênero, pois eles têm comportamentos distintos, que causam resultados também distintos. Mas como a mulher é designada desde pequena para desempenhar papéis na sociedade que dizem respeito a cuidar dos filhos, elas acabam adquirindo uma maneira mais adequada de lidar com os próprios problemas.
Ainda assim, a partir dessas ressalvas sobre a figura do papel é do homem na sociedade e seus adquiridos, aqui no Brasil não há tanto privilégio para um ou outro sexo no quesito saúde, não causando tanta discriminação, mas é importante questionar no que influência as áreas de saúdes que, aqui, principalmente são voltadas para saúde reprodutiva da mulher.
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Na abordagem, políticas para o enfrentamento das desigualdades é estudado o processo saúde-doença na perspectiva da epidemiologia social, doenças produzidas na população. No primeiro momento será feito uma pesquisa para ter conhecimento da causibilidade dessas doenças, por exemplo o hábito de fumar das mães e classe social como fatores de risco ao nascimento do bebê.
Segundo os dados de Silva (1992) é possível comparar e afirmar “mães adolescentes que fumam e são pobres e apresentam maior risco de ter recém-nascidos com baixo preso quando comparados a mães com 20 anos ou mais de idade”. As políticas públicas visam atuar com ações e atividades desenvolvidas pelo estudar diretamente ou indiretamente ao âmbito social, cultural e econômico do indivíduo, e como nosso principal foco é a desigualdade entre as mães adolescentes fumantes e pobres, as políticas deveriam interferir com palestras visando passar um entendimento para essas mães adolescentes, para que o risco com a mãe e o bebê não seja tão significativo.
Porém nem sempre é exercida essas práticas para amenizar o problema. Segundo Leonard Syme há três problemas significativos na prática em saúde pública. Primeiro é colocado como prioridade a identificação dos fatores de risco mesmo quando há o conhecimento desses riscos, a uma dificuldade em mudar seus hábitos, mas sempre haverá novas pessoas entrando na população. Em segundo não podemos considerar exclusivamente fatores de risco e nas doenças. O terceiro é considerar que o principal determinante é a classe social é mais que importante essas identificações.
Com relação aos dados de Navarro et al, 2006 as políticas redistributivas é a prática de ampliar o acesso da população a serviços públicos e, consequentemente a melhorar a qualidade de vida das pessoas uma vez que esta ação benéfica o grupo. Com isso a taxa de mortalidade infantil, a índices negativos com a quantidade de anos de governo socialdemocrata e com nível de distribuição da renda.
REFERÊNCIAS:
BARATA, RB. Como e por que as desigualdades sociais fazem mal à saúde [online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2009.
* Trabalho desenvolvido para adisciplina de Antropologia, ministrada pelo professor Sonielson Sousa.