Não acho prudente, nem ético, usar a psicanálise para diagnosticar ou analisar pessoas fora do meu consultório, mas é totalmente possível ou aceitável utilizá-la para analisar conjunturas político-sociais. Mas, nem é preciso entender de psicologia para perceber que o Bolsonarismo tem um componente deliroide bastante forte. As tão faladas “Fake News” exemplificam muito bem o que eu chamo aqui de deliroide: verdades construídas a partir de fragmentos ou de indícios de realidade e tornadas verdades universais.
Eu trabalho no campo da saúde mental há mais de 20 anos, e se tem uma coisa que aprendi com esse trabalho é que o delírio não pode ser desmontado por uma simples confrontação com a realidade ou com racionalidade. Se o sujeito, em franco delírio, chega até você afirmando que tem um chip instalado na cabeça e através do qual se comunica com extraterrestres, não há absolutamente nada que se diga que mudará sua perspectiva de realidade. Nem que eu lhe mostre uma ressonância magnética do próprio crânio, ou que seja possível abrir sua cabeça para mostrar que não há nada lá, ele não se demoverá de sua verdade. Isso pelo simples fato de que aceitar desmontar tal delírio, seria desmontar a si próprio, já que, naquele momento, por uma fragilidade simbólica, o sujeito encontra-se totalmente assentado sobre aquela verdade. Se ela cair, ele cai junto. Freud dizia que os psicóticos amam o próprio delírio como a si mesmos. Resumindo, é isso.
Fonte: encurtador.com.br/jlmC0
Clarice Lispector diria isso assim: “Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro”.
Tempos atrás li um artigo do Javier Salas no El País, sobre o terraplanismo intitulado: “Você não pode convencer um terraplanista e isso deveria te preocupar”. Os terraplanistas, afirma Salas, simplesmente acreditam que a Terra é plana, e qualquer dado que possa prová-los do contrário é simplesmente ignorado ou considerado manipulação de conspiradores. Obviamente que não é possível dizer que todos os terraplanistas são psicóticos ou doentes mentais, mas certamente, podemos falar de um empobrecimento ou fragilidade simbólicas, o que favorece o discurso que chamei de deliroide, ainda que ele não seja rigorosamente delirante.
Fonte: encurtador.com.br/mFL79
Voltamos ao Bolsonarismo, fortemente fundamentado num discurso deliroide, reforçado pela sua reprodução maciça nas redes sociais. Se o clã Bolsonaro está se aproveitando do discurso deliroide ou se acredita mesmo nele, eu não saberia dizer. O fato é que ele tem sabido utilizá-lo muito bem, desde a campanha eleitoral, e também tem sido bastante competente em agregar a si personagens igualmente deliroides (nem é necessário citá-los um a um). Diante disso, não há debate político possível. Não há racionalidade que possa confrontar os argumentos do Bolsoplanismo. Então, o que fazer? Que estratégias utilizaremos?
O que posso dizer a partir do que estudei e pratiquei todos esses anos é que, se não é possível desmentir um delírio, é possível desconstruí-lo pouco a pouco, parte por parte. Fazer pequenos furos, abalar algumas verdades, duvidar, perguntar, são algumas das estratégias que utilizamos para ir minando a certeza do sujeito delirante, fazendo-o enxergar outras possibilidades. E é muito importante que ele encontre outras possibilidades, caso contrário, voltará para sua certeza delirante, que ao menos lhe assegura um lugar.
Os melhores anos de sua vida são aqueles em que você decide assumir seus problemas e percebe que controla o seu destino.
– Albert Ellis
Embalados pelas festividades de fim e começo de ano, tendemos a analisar o ano que passou e planejar, com inúmeras promessas (muitas vezes ilusórias), o ano que chega. Começa desde comprar roupa nova, pular sete ondas, até pagar seis meses de academia com a esperança que esse ano seja diferente. Mas, esperança apesar de ser um norte, é passiva. É necessário mais. Transformar essa disposição interna em realizações, para que não se torne somente um delírio individual ou coletivo de felicidade.
Leandro Karnal, um historiador, filósofo, escritor e professor brasileiro, diz que: “mudar é difícil, não mudar é fatal”. Apesar de se renovar ser custoso, estamos sempre em busca de mudanças. Desde os primórdios da sociedade, seres humanos apresentam uma constante necessidade de ritos: ao nascer, ao morrer, ao entrar para a vida adulta, religiões. Marcos temporais como a virada de ano, de mês e até de semana, conhecida como “segunda-feira eu começo a dieta”, nos leva a um sentimento de renovação que nos inspira a concluir ciclos, por exemplo, término de relacionamentos prejudiciais, e iniciar outros: um novo curso que vem acompanhado por um novo corte de cabelo.
Mas porque associamos essas datas à renovação? Cristiano Nabuco, psicólogo da USP, afirma que por sermos apegados a esses ritos durante séculos, ao chegar essa data nos lembramos automaticamente de tudo que foi prometido e não foi feito: “O réveillon assume o papel mágico de nos dar forças para pôr tudo em prática. É um pensamento até infantil, o pote de ouro no final do arco-íris no final do calendário. Mas não recrimino, o que funcionar para você está ótimo”.
Fonte: https://bit.ly/2TVZYd3
“O processo da vida plena… significa lançar-se de cabeça no fluxo da vida. ”
– Carl Rogers
Com 365 novas possibilidades não devemos deixar esse novo livro cair na história da Cinderela, em que a magia acaba à meia noite. Manter esse ânimo para colocar em prática o que foi prometido com tanta veemência. Em paralelo a tantos planos, para Carl Rogers, famoso psicólogo estadunidense, ter uma vida plena não é ser imutável, ter uma identidade fixa, mas sim acompanhar as nuances da vida, ser aberto a possibilidades e viver o momento pois a vida é instantânea e está sempre em movimento. Na opinião dele, preconceber um roteiro de vida, como um esquema sistemático para o ano todo, impede a total fluidez do ser, pois ao seguir esse roteiro, deixamos de lado os impulsos, as emoções surpreendentes e outras diversas opções.
Já dizia o poeta espanhol António Machado: caminhante, não há caminho, se faz caminho ao andar. A vida é um trajeto de infinitas possibilidades, como um labirinto, que tem vários caminhos, erros e acertos, um processo de amadurecimento e transformação que só para ao chegar à saída.
Na pós-modernidade há diversos questionamentos sobre uma chamada crise de identidade, que pode ser caracterizada por uma fragmentação das partes de um sujeito, que antes era unificada e dava uma base sólida para os indivíduos no mundo social. No livro de Stuart Hall (2006), “A identidade cultural da pós-modernidade”, o referido autor faz menção sobre as identidades culturais, sendo elas aspectos ligados ao nosso ambiente social como: etnias, raças, línguas, religião, etc e como ela nasceu na idade moderna e seu decorrer até a pós-modernidade que ele descreveria como a morte.
O escritor argumenta o quanto a identidade é algo mutável, sendo suscetível a mudanças, também pode ocorrer de decair a morte. Na modernidade surge a individualidade que é vivida agora de forma diferente dos tempos anteriores, pois o sujeito já não se apoiava mais em tradições ou posições estabelecidas divinamente da qual não se podia romper. Segundo Hall, isto se deve às influências dos movimentos do Humanismo Renascentista e do Iluminismo, entre os séculos XVI e XVIII, e também do protestantismo. Estes movimentos trouxeram consigo a libertação da visão dominante da Igreja Católica, o entendimento de que o homem era um ser capaz e centro de tudo e o pensamento racional e científico.
Fonte: http://zip.net/bhtNyr
Esta identidade poderia ser caracterizada segundo Willians (1976, p. 133-5), como indivisível, singular, distintiva, e única, mas pelo fato de o ceticismo metafísico estar presente na modernidade, Hall faz uma ressalva e nos lembra que ele pode não ser assim tão unificada como parece quando descrita. Quem demonstrou isto bem foi Descartes que em seus estudos colocou o sujeito individual e com capacidade de pensar e raciocinar no centro da mente, esta é então a concepção de sujeito racional ou digamos sujeito cartesiano.
O autor também traz a contribuição de John Locke (1967, p. 212, 213), que acreditava que a identidade estava diretamente ligada à proporção que a consciência da pessoa queria alcançar para suas ações. Então este indivíduo soberano era dividido em dois aspectos: o “sujeito da razão, do conhecimento e da prática e aquele que sofria as consequências dessa prática” (HALL, 2005, p. 28).
No século XVIII os grandes processos da vida moderna eram ainda vistos tendo como centro o indivíduo “sujeito-da-razão”. Mas essa concepção mudou a partir do momento em que se percebeu que as sociedades modernas estavam se tornando cada vez mais complexas, então foi adquirida uma forma não somente individual, mas social e coletiva. Emergindo uma concepção mais social do sujeito. A biologia darwiniana e o surgimento de novas ciências sociais foram dois grandes eventos que contribuíram para que fosse articulado um conjunto amplo de fundamentos conceptuais para o sujeito moderno.
Descentrando o sujeito
Aqui o autor argumenta sobre as mudanças sociais que afetaram diretamente a forma de agir das pessoas, reformulando como a individualidade se potencializou na era da pós-modernidade. E neste contexto é apresentado concepções de cinco visões diferentes que vieram a influenciar nessa descentralização.
Marx é o autor do primeiro ponto sobre a descentralização do sujeito. O mesmo afirma que o homem é o responsável por fazer sua história, porém, deve submeter-se às condições que lhes são dadas. Em sua teoria ele visualizava o ser humano em dois pontos chaves. Uma é a essência universal do homem, e a outra é que essa essência é atributo de cada indivíduo singular, o qual é sujeito real. Embora sejam postulados que se complementam, Marx foi fortemente criticado por seu trabalho “anti-humanista”, trabalho este que influenciou fortemente o pensamento moderno.
A segunda teoria de grande impacto foi a de Freud, o qual afirma que a identidade, a sexualidade e todas as suas formas de desejo são processado pelo psiquismo de maneira inconsciente, que é o controlador e que não há conhecimento deste pelo indivíduo, pois todo o processo ocorre de maneira inconsciente. A teoria do inconsciente foi impactante, pois era muito diferente da forma que se tinha sobre o indivíduo até aquela época, dominando até a pós-modernidade com fonte principal do conhecer um indivíduo, que se constroi através das relações com outros, especialmente nas negociações psíquicas inconscientes, que a atribuída na infância com suas figuras paternas e maternas. E outro autor da visão psicanalítica foi Lacan, que potencializa esta teoria.
Fonte: http://zip.net/bttNpn
Enquanto que para Freud, tudo acontece por um processo inconsciente, Lacan traz a ideia de que a criança em sua formação depende ainda da convivência com outras pessoas para que assim possa se desenvolver. Lacan ilustra essa fase de desenvolvimento com a metáfora do espelho, onde a criança começa a se perceber no mundo através dos olhos dos outros, gerando assim um processo de desenvolvimento.
O terceiro descentramento citado pelo autor foi retirado do trabalho de Ferdinand de Saussure, o qual argumenta que não somos autores do que falamos, pois a língua é preexistente a nós, e apenas nos expressamos através da fala. Diz ainda que, o ato falar de uma língua não representa somente a expressão dos nossos pensamentos interiores, mas também ativa todo um acervo de significados inseridos em nossos sistemas culturais. Desta forma não temos controle sobre os significados que produzimos, pois em cada cultura há seus próprios significados.
Fonte: http://zip.net/bttN4d
O quarto descentramento é baseado na visão de Michel Foucault, que formula um novo poder sendo um poder disciplinar o qual se preocupa na regulação e vigilância da espécie humana. O objetivo desse poder disciplinar é basicamente produzir um ser humano que possa ser tratado como um corpo dócil. Assim os órgãos de poder têm mais facilidade para manter a vida de todos sob seu controle. Os locais de controle são as instituições, que visa o controle social, também conhecidas como “instituições de sequestro”, estas instituições são hospitais escolas quarteis, prisões e assim por diante.
O quinto descentralizamento foi o impacto do feminismo. O feminismo surgiu em paralelo a outros movimentos libertários. Esses movimentos se opunham politicamente tanto ao capitalismo ocidental quanto a política estalinista do Oriente. Tinham uma forma cultural forte. O feminismo questionou a distinção entre público e privado, trouxe para a política assuntos como família, a sexualidade, o trabalho doméstico etc. Defendiam não apenas os direitos da mulher na sociedade, mas também dos gays, lésbicas e outros movimentos, e assim surgiu a política da identidade.
Fonte: http://zip.net/bctNlR
Nos pontos acima foi mostrada a argumentação do autor sobre o descentramento do sujeito na modernidade. O qual antes de sofrer um bombardeio de informações e influências tinha identidade fixa estável, e a partir da era moderna, cercado por tantas influências sociais, culturais e políticas adquiriu uma identidade fragmentada.
Foi sintetizado o percurso trilhado desde o Iluminismo e denotado as suas influências sobre os aspectos do sujeito moderno. Essas influências estão diretamente ligadas a forma como os sujeitos da contemporaneidade vivem, a forma da liberdade desprendida das tradições, crendices e dogmas. A subjetividade hoje é experimentada sobre outras perspectivas, sobre outra óptica, sem modelos estruturais previamente prontos a serem seguidos, porém é importante ressaltar alguns aspectos dessa “liberdade” que em alguns casos pode tornar-se uma falácia, pois a liberdade que acredita-se possuir, não é de fato inteiramente liberta, ou seja, há restrições, há regras e privações mesmo dentro do discurso “sou liberto”.
O principal intuito das presentes explanações sobre a problemática é de esclarecer mesmo que de forma sintetizada sobre a gênese do que é vivenciado hoje nos contextos atuais, pois o sujeito do Iluminismo (indivíduo humano, centrado), sujeito sociológico (indivíduo complexo) constituíram, definiram, alimentaram e fizeram surgir o sujeito moderno.
A Psicologia é uma ciência de grande relevância social, histórica e política. De acordo com Bock et al (1999) ela particulariza-se das outras especialidades da área de humanas por estudar a subjetividade, contribuindo para a compreensão da totalidade humana. Ainda, a mesma ramifica-se de acordo com abordagens que possibilitaram a formulação do seu saber e, também, conforme suas áreas que o profissional psicólogo pode operar. Dentre tais conhecimentos (ciências) psicológicos, destaca-se a relevância da Psicologia da Educação ou Psicologia Educacional na construção do indivíduo.
Entende-se como Psicologia Educacional, segundo Antunes (2008, p. 469), os conhecimentos científicos que alicerçam a educação e a prática da pedagogia. E difere-se da Psicologia Escolar que, por sua vez, refere-se num tipo de atuação profissional que age no processo de escolarização, direcionando-se à escola e as demais relações que nela são constituídas (idem). Desse modo, é necessário ressaltar que tais se distinguem, onde a primeira é mais ampla e engloba a segunda, que é mais específica.
Fonte: http://zip.net/bktLdX
Nesse contexto, o objetivo do presente trabalho é abordar as possibilidades de atuação do profissional psicólogo educacional, diferenciando o trabalho deste profissional em relação ao do psicopedagogo no contexto brasileiro. A psicologia Educacional tinha sua visão voltada para a “classificação” dos alunos, isso estabelecendo sua atuação basicamente em nortear a escola entre a “seleção” e “divisão” dos discentes em “normal” e “anormal”. Surge então os serviços de Higiene Mental, onde o seu interesse era voltado para as “crianças problemas” das instituições, o que nos dias atuais chamamos de ”Crianças especiais” (BARBOSA E SOUZA, 2012). Essa área da psicologia vem sendo ressignificada, as amplas possibilidades das atuações desse profissional vêm trazendo um novo olhar para exercício dessa profissão no campo da educação.
Ainda que a escola (e suas ramificações) seja vista como uma instituição de controle, assim como instituições religiosas, a família e o governo, é cabível dizer que nela enfatiza-se e trabalha-se a questão educacional. Antunes (idem) – que se opõe a este conceito, para ela a escola é uma contingência e necessidade que construirá uma sociedade igualitária e justa – compreende a “educação como prática social humanizadora, intencional, cuja finalidade é transmitir a cultura construída historicamente pela humanidade”.
Fonte: http://zip.net/bltKK6
Diante do exposto, é complacente a importância do profissional psicólogo educacional no desenvolvimento teórico relativo a este tema e contribuindo para que as ações de educadores, educandos e sociedade ressignifique tal visão do contexto escolar no que tange a educação. O psicólogo educacional deve ter sua prática voltada para interdisciplinaridade, focado em buscar soluções para os problemas que envolvem os fenômenos educacionais, levando em consideração os aspectos sociais, culturais e religiosos que cercam o contexto do processo de educação. Como destaca Maluf e Cruces (2008, p. 98):
Agora é tempo de mostrar como pode a Psicologia Educacional estar a serviço do bem-estar da comunidade escolar, do desenvolvimento psicológico de todos os envolvidos no processo educacional, da aprendizagem significativa que produzirá no aluno as condições individuais e sociais necessárias para o pleno exercício da cidadania.
Esse profissional é agente transformador, com seu olhar minucioso aos processos de formação do indivíduo por meio do ambiente educacional, ele tem a possibilidade de trazer uma nova realidade para a sociedade, de forma, a transformar e colaborar para o exercício da cidadania, por meio do contexto onde se dá o ambiente educacional. Esse saber psicológico deve dar condições necessárias para se construir uma prática pedagógica realmente inclusiva e transformadora. A psicólogo educacional deve estar comprometido em promover ações efetiva que propicie mudanças e que ajude na compreensão dos processos de constituição do sujeito tornando-o participativo na construção dessas práxis.
Fonte: http://zip.net/brtLcG
Em vista disso o Conselho Federal de Psicologia (CFP) criou as Referências Técnicas para Atuação de Psicólogas (os) na Educação Básica em 2013, para auxiliar profissionais e estudantes de psicologia a compreender como se dá atuação do psicólogo em tal área.Consoante com o Eixo 3, incluso nas referências técnicas supracitadas, há cinco possibilidades de atuação do psicólogo na educação básica, são elas: tralhando com o projeto político-pedagógico; intervindo no processo de ensino-aprendizagem; trabalhando na formação de educadores; trabalhando com a educação inclusiva; e trabalhando com grupos de alunos (CFP, 2013, p. 56-63). Estes serão apresentados adiante.
O Projeto Político Pedagógico (PPP) se faz presente na área educacional designando como serão desenvolvidas as práticas no âmbito escolar. E, o profissional psicólogo deve colaborar na elaboração, avaliação reformulação do mesmo, de forma que ressalte a subjetividade ou o aspecto psicológico no contexto escolar (CFP, 2013, p. 54). Além disso, é de responsabilidade do psicólogo um trabalho interdisciplinar, de forma que este precisa ter conhecimento sucinto sobre o funcionamento da organização escolar, como decorre a prática pedagógica, por exemplo; e, também, sobre os funcionários que a compõem.
Outra possibilidade de atuação é a intervenção no processo de ensino-aprendizagem. De acordo com o CFP (2013, p. 56): O conhecimento da psicologia na compreensão dos processos de ensino e aprendizagem se constitui, historicamente, desde concepções higienistas até àquelas que analisam esse processo como síntese de múltiplas determinações: pedagógicas, institucionais, relacionais, políticas, culturais e econômicas. As práticas de intervenção, portanto, decorrem dessas concepções.
Fonte: http://zip.net/bdtLKF
Mediante o exposto, infere-se que psicólogo deve utilizar o seu aparato teórico acerca dos fenômenos de ensino-aprendizagem sob a óptica sócio histórica, atuando em práticas sociais de modo crítico, não somente com variáveis que estão dentro do ambiente escolar, como também com os ultrapassam essa instituição, como as relações familiares e seus respectivos componentes, no objetivo de auxiliar no processo de escolarização e sempre ressaltando o valor do docente. Ademais, é válido lembrar que esse profissional usufrui de recursos artísticos que permitem a expressão da subjetividade (CFP, 2013).
No que se refere ao trabalho na formação de educadores, o papel do psicólogo inclui a despatologização do sujeito, de forma que consiga considerá-los e mostrá-lo de forma totalizante aos docentes, ajudando-os numa prática pedagógica humanizada através da formação continuada (FACCI, 2009 apud CFP, 2013), pois são eles os mediadores entre os conhecimentos (históricos e científicos) e os educandos (CFP, 2013). Destarte, a partir das relações, o objetivo final de todo este processo consiste em relacionar o psiquismo, subjetividade e a metodologia educacional.
Com a educação inclusiva o psicólogo deve estabelecer métodos e práticas que possibilite esse indivíduo com necessidades especiais a participar ativamente do espaço educacional. Sendo assim, o profissional deve se valer de práticas sociais que potencialize e auxilie no desenvolvimento psicossocial desse educando. De acordo CFP descrito no eixo 3, o psicólogo educacional do âmbito da educação inclusiva, deverá ajudar este estudante estabelecer meios de enfrentamento para superar a deficiência, tornando-o cada vez mais participativo e incluindo-o nas atividades do ambiente, (CFP, 2013).
Fonte: http://zip.net/bttLX5
Também é preciso que o psicólogo identifique aspectos de concepções de sociedade conforme afirma CFP (2013, p 59) “É importante considerar que na intervenção na escola é preciso que a (o) psicóloga (o) identifique, primeiramente, concepções “de sociedade, de educação, de grupo, de indivíduo, de coletividade” dos professores, estudantes e familiares, assim como as suas próprias concepções”.
E por último, mas não menos importante o CFP destaca uma outra possibilidade de atuação desse profissional, o trabalho com grupos de alunos. Neste campo de atuação se faz necessária a participação do psicólogo nas práticas que auxiliem o aluno no processo de escolarização, acompanhado os educandos nos conselhos de classes, e ficando atento as dificuldades que surgir. Pode-se desenvolver trabalhos como os de orientação profissional, propor oficinas ou momentos de discussão de temas de interesse da escola e do corpo discente, direcionando o ambiente educacional para uma socialização do conhecimento e manutenção do interesse de todos, (CFP, 2013).
Diante o conteúdo evidenciado sobre a atuação do psicólogo educacional, é de suma importância destacar que há sutis diferenças entre essa atuação eo fazer da psicopedagogia. Na psicopedagogia, o Psicopedagogo promove a possibilidade de mudanças, em processos cognitivos, e pedagógicos que pode está atrapalhando a aprendizagem do indivíduo, isto é, o problema de aprendizagem torna-se se objeto de estudo. Scalzer & Silva (s/d, p.3) afirmam que é de incumbência do Psicopedagogo: […] possuir habilidades para diagnosticar e propor soluções assertivas às causas geradoras de conflitos entre o aluno e o professor, ter habilidades e competências para a escolha de ferramentas e técnicas que possibilitem a melhor aprendizagem com o melhor aproveitamento do tempo, promovendo ganhos de qualidade e melhorando a produtividade do aluno e do professor.
Fonte: http://zip.net/brtLcM
E, é nesse contexto que as atuações se assemelham, uma vez que em relação à intervenção do psicopedagogo, este tem como a prevenção em sua atuação, inclui orientar os responsáveis do aluno, auxiliar os professores e outros profissionais relacionados em questões pedagógicas, contribuindo com a aprendizagem do educando.Segundo Nascimento (2013) o psicopedagogo também tem capacidade de subsidiar informações sobre os problemas de aprendizagem que não se restringem à alguma deficiência do aluno, mas que de fato é decorre de falhas no próprio ambiente escolar. Infere-se que tal fato se estende ao ambiente familiar. Nisso, a autora ainda acrescenta para tal profissional que “seu papel é analisar e assinalar os fatores que favorecem, intervêm ou prejudicam uma boa aprendizagem em uma instituição. Propõe e auxilia no desenvolvimento, visando evitar processos que conduzam às dificuldades da construção do conhecimento” (idem).
No entanto, Jucá (2000) contrapõe tal ideia ressaltando que a atuação do psicopedagogo é focalizada em aspectos individuais no processo de ensino aprendizagem. Esta afirmação reverbera a posição do CFP (1999) quanto à psicopedagogia de que a mesma trabalha com o fracasso escolar e procura a causa deste no aluno, utilizando métodos e técnicas da psicologia e pedagogia de modo inadequado (formando uma nova teoria).
Fonte: http://zip.net/bstLyT
Além disso, o Conselho assegura que a psicopedagogia é apenas uma especialização, não devendo ser regulamentada como uma profissão, pois não há como obter base teórica, orientação de atuação e técnicas suficientes durante o pouco período de formação especialista comparando-a com a formação universitária. Desse modo, nos cabe observar que essa forte oposição da Classe de Psicólogos não se restringe à defesa de suas teorias e técnicas, mas também defendendo seu espaço no mercado de trabalho.
Portanto, a atuação do psicólogo educacional e do psicopedagogo, são de fundamental importância no processo de aprendizagem do educando, contribuindo significativamente com todos envolvidos, pois trabalham com parcerias, pois se dá o processo de se unir, construir, integrar, fazer relações, afim de contribuir para uma aprendizagem duradoura e eficaz, gerando uma bola qualidade de ensino. Porém, na realidade educacional brasileira é insustentável financeiramente mantê-los ao mesmo tempo numa única instituição. Ademais, perante o conteúdo exposto sobre a atuação do psicólogo educacional e do psicopedagogo, cabe um questionamento ao leitor (principalmente acadêmico e profissional de psicologia): estes profissionais executam a mesma função ou trabalham de modo diferente? Boa reflexão!
REFERÊNCIAS
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BOCK, A. M. B.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M. L. T.Psicologias: uma introduçãoao estudo depsicologia. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 1999.
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NASCIMENTO, F. D. O papel do psicopedagogo na Instituição Escolar.Psicologado. Disponível em: <psicologado.com/atuacao/psicologia-escolar/o-papel-do-psicopedagogo-na-instituicao-escolar>. Acesso em 09 mar. 2017.
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SCALZER, Osana & SILVA, Fabiana Renata da. Sobre o olhar do psicopedagogo: a importância desse profissional no âmbito escolar. Disponível em: <http://facsaopaulo.edu.br/media/files/2/2_388.pdf>. Acesso em 09 mar. 2017.