Awake: não durma no ponto

Compartilhe este conteúdo:

Um jogo em que o sono deixa o sonho de 1 milhão de dólares mais longe.

 

Divulgação Netflix

Não Durma no Ponto (Awake: The Million Dollar Game) é um reality show apresentado por James Davis, lançado em 2019 pela a Netflix cuja a ideia do jogo  principal é fazer com  que os jogadores efetuem desafios relativamente simples, em extrema privação do sono. Os participantes são submetidos a ficarem mais de 24 horas acordados, passando por provas em que exige uma capacidade de atenção, equilíbrio, memória, coordenação motora e diversas outras condições a fim da tão desejada premiação de 1 milhão de dólares.

Inicialmente todos os jogadores são colocados em uma tarefa tediosa de contar moedas por 24h, e no final os participantes que tiveram uma quantidade maior de erros são eliminados e os demais seguem para o próximo desafio, que irá pôr em prova outro aspecto que podem ter sofrido com essa privação.  É interessante que todas as provas anteriormente são testadas por testadores descansados, e a partir dos resultados deles diante das mesmas provas, é possível notar a discrepância de desempenho em relação aos participantes em privação do sono.

É possível notar que os vencedores das provas, são aqueles que melhor conseguem lidar com essa privação. Entre as provas, diversos relatos de falta de atenção, dificuldade motora, de equilíbrio, memória e raciocínio são apresentados, com isso, podemos através deste divertido jogo enxergar os efeitos da privação do sono em tarefas simples que podem estar presentes no nosso dia a dia.

Em uma das provas, os jogadores tinham que passar uma linha por dentro de todas as agulhas fixadas em uma base, em um determinado período de tempo, nesse desafio é possível notar que após mais de 24 horas de privação do sono, os participantes tiveram uma grande dificuldade de exercer suas capacidades motoras, tendo um deles que relata ter dificuldade na visualização do furo. Cardoso (2020) apontou a associação entre a menor duração do sono com o rebaixamento de desempenho em tarefas manuais, podendo então associar com a demora na execução da tarefa.

Em um dado momento do jogo, os participantes têm os seus reflexos testados: um ovo é fixado próximo ao rosto, e quando um sinal de luz é acionado eles precisam quebrar o ovo o mais rápido possível. Os testadores descansados dessa prova tiveram um tempo de reação de em média 0.30 segundos, no entanto, um dos participantes teve a com média de 1.14 segundo, e nenhum deles se equipara a média dos indivíduos descansados, mostrando então o quanto o sono pode prejudicar o tempo de ação frente a uma atividade simples.

Divulgação Netflix

Trazendo aspectos das provas anteriormente citadas, essa extrema privação pode trazer prejuízos na concentração, na coordenação e no tempo de reação. De acordo com as informações do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, pessoas com mais de 24 horas de privação do sono, podem sentir efeitos semelhantes a 0,10%  de concentração de álcool no sangue. Neste sentido, é possível evidenciar que a privação de sono se relaciona com aumento da exposição a riscos de acidentes de trânsito, por exemplo, bem como se associa com o envolvimento em outras atividades potencialmente perigosas, já que a área cerebral responsável pelo juízo crítico é afetada pelo sono insuficiente (CDC, 2020).

Na dinâmica seguinte, os participantes devem arremessar em uma base perfurante, balões com moedas no interior, o desafio consiste em pegar o maior número de moedas, antes que elas caiam no chão, em um determinado tempo. No decorrer do desafio, os participantes relatam a dificuldade visual em enxergar as moedas caindo, e alguns deles inclusive, confundem as moedas com um pedaço de balão. Gazzaniga, Ivry e Mangun, (2006) traz através de estudos de neuroimagem que essa privação pode afetar áreas do cérebro relacionadas ao processo visual, podendo prejudicar a localização de objetos em movimento.

A dinâmica a seguir consistia em desparafusar a tampa de um chimpanzé de brinquedo que emite um som, a fim de retirar as pilhas dos brinquedos. Os jogadores durante a realização dessa prova relataram uma enorme dificuldade motora em desparafusar o brinquedo, principalmente com a presença do som que o mesmo emitia, com isso, podemos entender o prejuízo da privação de sono nesse aspecto, pois se trata de um tipo de atividade que diariamente pessoas estão expostas, seja em casa ou no trabalho. Os testadores descasados tiveram uma média de oito brinquedos desparafusados, enquanto o participante em privação com o melhor rendimento, conseguiu retirar as pilhas de apenas 4 brinquedos.

                                                                                                         Divulgação Netflix

Isso ocorre devido ao período ativo do indivíduo e com a falta de sono, os participantes não conseguem restabelecer suas funções motoras e cognitivas, e por isso é comum identificar diversas dificuldades que os jogadores encontram no decorrer da dinâmica, considerando o decréscimo no desempenho. Jansen (2007) assinala que o sono é um um processo essencial para o equilíbrio do funcionamento humano, assim como outras necessidades básicas como alimento e água.

Assim, a falta de sono, seja ela decorrente de uma privação voluntária ou devido a condições específicas de saúde, pode causar alterações significativas nas dimensões físicas, emocionais, sociais, ocupacionais e cognitivas do indivíduo.

Em um dos episódios, os jogadores foram levados a ouvir os sons de animais, e em seguida, separar as cartas que representam cada animal, o participante com a maior quantidade de acertos, venceria a prova. Nesse desafio os participantes relataram a dificuldade de concentração e até mesmo alteração na audição.  Babkoff (2005) entende que a diminuição da percepção auditiva pode haver relação com a privação do sono, em um estudo apontam o rebaixamento de em média 28% na resolução de estímulos auditivos após uma noite mal dormida.

No decorrer do programa os desafios mostram aos espectadores a importância de manter uma boa noite de sono, pois os prejuízos dessa privação podem influenciar diretamente no desempenho dos indivíduos em exercer tarefas simples, prejuízos esses que podem inclusive expor as pessoas a uma condição de risco e ao desenvolvimento de doenças. O reality consegue de forma divertida gerar reflexão dos espectadores acerca das complicações cognitivas e fisiológicas em indivíduos com extrema privação do sono.

Referências

BABKOFF. Effect of the diurnal rhythm and 24 h of sleep deprivation on dichotic temporal order judgment. 2005.

CARDOSO, L. R. L. et al. Sleep Restriction Effects on a Robotic Guided Motor Task. In: 8th International Conference on Biomedical Robotics and Biomechatronics , Anais 2020.

CDC – Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos. NIOSH Training for Nurses on Shift Work and Long Work Hours. 2020. Disponível em <: https://www.cdc.gov/niosh/work-hour-training-for-nurses/longhours/mod3/08.html#print >. Acessado em 14 mar. 2023.

JANSEN JM, et al. Medicina da noite: da cronobiologia à prática clínica. SciELO – Fiocruz: Rio de Janeiro. 2007

Gazzaniga, M.S., Ivry, R.B. & Mangun, G.R. (2006). Neurociência cognitiva:  a  biologia da  mente,  (2ª  ed.).  São  Paulo:  Artmed Editora.

Compartilhe este conteúdo:

Os prejuízos da privação de sono

Compartilhe este conteúdo:

Pesquisas recentes apontam que ⅓ dos adultos relatam dormir menos de 7 horas por noite.

Engin_Akyurt / Pixabay

Atribuições do dia a dia fazem com que as pessoas durmam cada vez menos.

Assim como se alimentar bem, se hidratar e praticar exercícios físicos, dormir é uma necessidade fisiológica fundamental para o nosso funcionamento. Noites mal dormidas podem gerar diversos problemas que são capazes de afetar todo o corpo, o humor e favorecer os surgimentos de condições patológicas.

É muito comum ver grandes empresários e influenciadores nas redes sociais justificarem suas poucas horas de sono com a necessidade de produzir cada vez mais, no entanto, isso parece ser uma ideia saudável a ser seguida. Isto porque uma baixa quantidade e qualidade do sono pode atrapalhar o bom funcionamento das pessoas em diversos cenários da vida.

A privação do sono se caracteriza quando o indivíduo dorme menos do que é necessário.  Ao contrário do que é muito disseminado por aí, não existe uma quantidade fixa de horas ideal para todas as pessoas. Figueira (2021) essa  privação quando aguda em pessoas  saudáveis gera consequências a nível neurobiológico, podendo afetar o comportamento, a cognição, o apetite e outras alterações.

É importante considerar a idade e como a pessoa lida com a quantidade específica de horas dormidas por noite. Apesar de ser um fenômeno variável e individual,  existe uma média que varia de 7 a 8 horas por noite. E novamente, não só a quantidade de horas importa, mas a qualidade do sono também, que deve levar o indivíduo a acordar de manhã com a sensação de que a noite foi restauradora.

Para Cirelli, (2021) Essa privação é entendida quando há no indivíduo uma deficiência na restauração do corpo e no bem estar subjetivo. Em uma pesquisa, foi levantado que 1/3 dos adultos que participaram dessa amostra constataram que dormem menos de 7 horas diárias.

Em pesquisa nos Estados Unidos,  Chattu (2018) evidenciou que as poucas horas de sono aumentam o risco de mortalidade e tem sido associada com um pouco menos que a  metade das principais causas de morte no país, como a diabetes, hipertensão e outras doenças. Em meio aos compromissos do dia a dia, dormir é visto como algo não tão importante para muitos, e com isso, utilizam da privação voluntária do sono um tempo extra que podem utilizar para se dedicarem cada vez mais às suas demandas, sem pensar nas complicações desse hábito.

Essa privação pode ocorrer em todas as fases da vida, desde uma mudança de rotina na gestação, ao excesso de exposição às telas de celulares e equipamentos eletrônicos, e até mesmo associados ao consumo abusivo de cafeína e outras substâncias estimulantes, fazendo com que as pessoas durmam menos, mas por um preço.

                                                                                                                           Lukasbieri/ Pixabay

A exposição abusiva de telas prejudicam a higiene do sono.

A internet vem mudando a forma como nos relacionamos, e a partir dela temos uma vasta fonte de informações e possibilidades. Por mais que a internet trouxe diversos benefícios, Amra (2017) entende que o uso abusivo dessa ferramenta tem levantado preocupação a saúde,  prejudicando a higiene do sono. É comum que em meio ao contexto social em que vivemos, onde assumimos diversas responsabilidades acadêmicas, sociais, de trabalho e relações, acabamos expostos a telas de smartphones, TV´s e outros meios de informação, onde o indivíduo por diversas vezes trocam por horas de sono.

                                                                                                                                        Pexels/Pixabay

A cafeína não substitui uma noite de sono.

O abuso no consumo de cafeína ou outras substâncias estimulantes também são utilizados como uma tentativa de driblar o sono, mantendo os indivíduos mais ativos e dispostos para dedicarem horas de noite em claros em busca de cumprir com as diversas demandas de suas vidas, maratonar algum conteúdo de entretenimento e assim por diante (BOUER, s/d).

Embora a sensação de está em alerta, de ter aumentado a disposição e reduzido a sonolência, o uso de cafeína ou de outras substâncias estimulantes não são capazes de substituir uma boa noite de sono, ou seja, essa prática não deixa o indivíduo livre dos efeitos negativos da privação do sono, podendo então acarretar prejuízos no desempenho acadêmico e das atividades rotineiras.

A partir disso, podemos ter uma dimensão do quão prejudicial pode ser ter o hábito de dormir mal, e não se importar com a qualidade do sono. Não entender a importância de dormir bem, é se expor a alterações fisiológicas, mudanças de humor e desempenho de tarefas.

Referências

AMRA, B., Shahsavari, A., Shayan-Moghadam, R., Mirheli, O., Moradi-Khaniabadi, B., Bazukar, M., Yadollahi-Farsani, A., & Kelishadi, R. (2017). The association of sleep and late-night cell phone use among adolescents. Jornal de pediatria, 2017.

BOUER, Jairo. Cafeína não é suficiente para combater efeitos da privação do sono. Disponível em <: https://doutorjairo.uol.com.br/leia/cafeina-nao-e-suficiente-para-combater-efeitos-da-privacao-do-sono/ >. Acessado em 02 mar. 2023.

CIRELLI, C. sleep: Definition, epidemiology, and adverse outcomes. Disponível em <: https://www.uptodate.com/contents/insufficient-sleep-definition-epidemiology-and-adverse-outcomes?search=sleep%20deprivation&source=search_result&selectedTitle=1~150&usage_type=default&display_rank=1.>. Acessado em 01 mar. 2023.

CHATTU,  V. The Global Problem of Insufficient Sleep and Its Serious Public Health Implications. 2018. Disponível em <: https://doi.org/10.3390/healthcare7010001>. Acessado em 01 mar. 2023.

FIGUEIRA, L. G.; ZANELLA, I. V.; FAGUNDES, M. .; NASCIMENTO, C. B. do .; SOUZA, J. C. de. Effects of sleep deprivation on healthy adults: a systematic review. Research, Society and Development, [S. l.], v. 10, n. 16, p. e524101623887, 2021. Disponpivel em <: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/23887>. Acessado em 28 fev. 2023.

Compartilhe este conteúdo: