Como você tem se saído como gerente de sua mente?

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A forma de um indivíduo pensar é traduzida em suas diversas ações, em diferentes lugares, seja em casa, no ambiente de trabalho ou apenas em uma fila de supermercado. Já observou que, no último caso, sempre tem uma pessoa estressada que reclama o tempo todo, até chegar ao caixa para efetuar o pagamento. Mas, por que existem comportamentos tão diferentes? O psiquiatra e escritor, Augusto Cury (2015) explica que toda atitude, passa em primeiro lugar pelo campo da mente, e por isso é necessário a gestão de pensamentos.

Atualmente fala-se muito sobre gestão de tempo. No entanto, o que seria a gestão de pensamentos? Cury (2015) declara que o termo consiste na compreensão da formação do pensamento, ou seja, a busca pelo autoconhecimento sobre sua construção. Por isso, segundo o escritor, é imprescindível a produção do pensar positivo, em detrimento ao negativo.  “Critique, cada ideia pessimista e preocupação excessiva e capacite o seu eu” Cury (2015).

A preocupação excessiva vai ao encontro do volume de informação recebida diariamente. Desde cedo, a pessoa acorda e checa o celular para saber se recebeu algum tipo de informação, posteriormente verifica as redes sociais, e por fim liga a televisão. Antes mesmo de sair de casa, ela foi bombardeada por diferentes tipos de informações, que influenciarão na sua forma de pensar, no dia.  Burgos (2014) observa que todo aparato tecnológico deveria ser um meio para se crescer como pessoa, não como um fim em si; ou seja, a excesso de informação influencia na elaboração do pensamento acelerado.

Fonte: Freepik

Como solução Burgos (2014) aponta que a autoanálise, tomar consciência e o monitoramento dos hábitos são algumas das estratégias possíveis no processo de relação mais sadia com a tecnologia. “Creio que o uso moderado das ferramentas que temos à disposição – do smartphone às redes sociais – pode ser certamente mais enriquecedor que a negação total, e o tempo necessário para uma desaceleração pode variar bastante de pessoa pra pessoa” (BURGOS, 2014).

Nessa perspectiva Carr (2014) alerta sobre o mau uso da tecnologia, no dia a dia, como forte influenciador na produção de pensamentos, sem passar pelo autoconhecimento e análise. “Nossa tendência é usar tecnologias para facilitar nossa vida, não para dificultar e, com os computadores em rede, esse desejo por conveniência está tendo uma enorme influência sobre nossas vidas intelectuais, assim como em nas físicas. Acho que existem evidências de que essa tal facilidade pode obstruir nosso aprendizado e nossa memória, e talvez até mesmo nossa disposição para a empatia.” (Carr, 2011).

Carr (2011) explica que a dependência excessiva pelas tecnologias tem prejudicado o ser humano no processo de formação de ideias e do saber. Ou seja, as pessoas estão deixando de serem críticas, produtores de ideias e pensamentos, e estão absorvendo, sem nenhuma análise, o conteúdo exposto na internet.

Fonte: Freepik

Adorno (1971) destaca que a infância tem um papel primordial para a formação do pensamento do indivíduo, bem como acrescenta que a construção do caráter do mesmo acontece quando criança. Compactuando com a ideia de Adorno, que Cury (2015) relata que uma criança de sete anos possui mais informação do que tinha um imperador, na Roma antiga.  Nesse sentido, é preciso regular o tempo de uso das redes sociais, se a forma de pensar de um adulto é influenciada pelo consumo de conteúdo, como enfatizou Carr (2011), imagina uma criança que está em processo de formação do caráter.

A projeção de um adulto crítico, que não deixa se influenciar por tudo que está exposto, no universo da internet, inicia na infância, e como alertou Augusto Cury (2014) uma criança tem mais informação que uma pessoa da antiguidade.  Por isso, é necessário a gestão de tempo, das crianças com as mídias digitais, para futuramente ser uma pessoa que tenha uma gestão de pensamento. Ou seja, somos aquilo que pensamento e permitimos. E para que se tenha pensamentos saudáveis e saber impor limite ao outro sobre as relações interpessoais, começa na infância.

REFERÊNCIAS

Adorno, T W. Emancipação e Educação. Rio de Janeiro. Paz e Terra. 1971.

BURGOS, Pedro M. Conecte-se ao que importa: Um manual para a vida digita saudável. São Paulo: LeYa, 2014.

CARR, Nicholas. A geração superficial: o que a internet está fazendo com os nossos cérebros. 1ª Ed. Tradução de Mônica Gagliotti Fortunato Friaça. Rio de Janeiro: Agir, 2011.

Cury, A. Gestão da emoção: Técnicas de coaching emocional para gerenciar a ansiedade. 2015.

Cury, A. Ansiedade: como enfrentar o mal do século: a Síndrome do Pensamento Acelerado: como e porque a humanidade adoeceu coletivamente, das crianças aos adultos.  Primeira edição. Saraiva. 2014.

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A idealização do amor romântico em “500 dias com ela”

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Sigmund Freud fala sobre o amor narcísico, que consiste em projetar no outro o sujeito ideal, há uma busca de trejeitos semelhante aos seus, ou a inspiração do que deseja ser.

O filme “500 dias com ela” (2009) conta, de forma não linear, a perspectiva do personagem Tom (Joseph Gordon-Levitt) sobre seu romance vivido durante 500 dias, com Summer (Zooey Deschanel), cujo nome, não por acaso, significa “verão” (atenção, alerta de Spoiler). A comédia romântica já começa quebrando paradigmas quando é Tom que fantasia sobre o amor, ele acredita que sua vida irá realmente começar quando encontrar sua cara-metade. Do outro lado temos Summer, desacreditada dos relacionamentos fixos, a quem Tom julga, precipitadamente, ser quem ele sempre procurou. Se seguisse o fluxo dos outros romances clichês, Tom a convenceria do amor verdadeiro e eles viveriam juntos e felizes, mas o filme já alerta: “Esta é a história do garoto que conhece a garota. Mas você deve saber que não é uma história de amor. ”

Com o fim inesperado do relacionamento, Tom relembra a história para procurar pelos primeiros sinais de problemas. Ele cresceu acreditando que nunca seria feliz até que a conheceu, e no momento que se encontram no elevador e Summer diz também gostar de The Smith como ele, Tom joga sobre ela suas expectativas criadas durante toda uma vida e espera que ela corresponda, mesmo enquanto ela fala que eles só teriam algo casual, sem compromisso. “500 dias com ela” é só um recorte da realidade no qual pessoas atribuem a responsabilidade de seus anseios e sentimentos ao outro, e projetam neles suas próprias faltas.

Fonte: encurtador.com.br/ns356

“Só porque uma garota bonita gosta das mesmas coisas bizarras que você não significa que ela é sua alma gêmea” – 500 dias com ela

Mesmo sendo um filme simples, o considero bastante inteligente por nos enganar, porquê sutilmente ele faz o espectador acreditar que a vilã da história é a Summer, por não corresponder a tudo que Tom deseja. Mas, ela foi honesta desde o primeiro momento.

O amor romântico deixa Tom cego para o real relacionamento deles. Ele mente para ela e para si mesmo, ele se molda para o relacionamento e, assim, cede sua própria identidade.

De acordo com o psicanalista e filósofo alemão Erich Fromm, “ser capaz de estar sozinho é a condição para ser capaz de amar”. Usar o amor para apenas fugir da solidão pode acarretar em destruí-lo, também sendo uma forma de fugir de si mesmo, o que se torna patológico por impedir o desenvolvimento pessoal, responsabilizando terceiros sobre sua própria felicidade. No filme, Tom não se apaixona por Summer, ele se apaixona pela ideia de quem ela pode ser, do que ela representa.

Fonte: encurtador.com.br/bmpKQ

“As pessoas não percebem, mas a solidão é subestimada. ” – 500 dias com ela

Sigmund Freud fala sobre o amor narcísico, que consiste em projetar no outro o sujeito ideal, há uma busca de trejeitos semelhante aos seus, ou a inspiração do que deseja ser. Essa projeção é inconsciente e involuntária, passando despercebida para quem vivencia. Assim, Tom constrói um ídolo para si mesmo, espera que o outro corresponda, e se coloca como vítima quando isso não acontece. Antes da desilusão vem a ilusão, as ações das outras pessoas podem ser estímulos para nossos sentimentos, isso não faz com que ele seja responsável pelo que sentimos.

A idealização e procura pelo outro, nada mais é que uma forma inconsciente de se achar e de se completar. Dessa forma, percebe-se a insuficiência dos relacionamentos em garantir a felicidade, sendo que, para conseguir ser feliz em um relacionamento, é necessário aprender a ser feliz sozinho primeiro. O amigo de Tom diz a frase mais sensata do filme para a quebra desse padrão: “Acho que, tecnicamente, a garota dos meus sonhos, provavelmente teria peito avantajado, cabelo diferente, ela provavelmente gostaria de esportes, mas, na verdade, a Robin é melhor que a mulher dos meus sonhos. Ela é real. ”

Fonte: encurtador.com.br/goruA

“ – O que devo fazer?

– Pergunte a ela. ”

Diante do fato de que nada é obvio, por isso a comunicação é a base de um relacionamento saudável (seja qual for o rótulo que esse relacionamento receba), entramos na tão falada responsabilidade afetiva, conceituada basicamente como contar suas intenções através do diálogo. Muito se fala sobre responsabilidade afetiva, pouco se fala que temos que ter primeiro conosco, para depois com o próximo. De certa forma, é mais cômodo falar que foi iludido do que assumir que fez uma interpretação errada das atitudes do outro, enxergando de sua maneira e, com isso, se responsabilizar por suas próprias alegrias e frustações, do contrário, é injusto com o outro e consigo.

Acredito que seja impossível não colocar algum tipo de expectativa em algo (nem que seja mínimo). O que podemos fazer é tomar consciência e responsabilidade das expectativas que criamos. Entender que nosso bem-estar é cuidado nosso. Se libertando dessa escravidão emocional, que é manter a si mesmo sob custódia das ações/sentimentos dos outros, e também o libertar da autoridade que não deve ser dele.

Fonte: encurtador.com.br/bEY67

“ – Não queria ser a namorada de alguém e agora é a esposa de alguém.

– Me surpreendeu também.

– Acho que nunca vou entender. Quer dizer, não faz sentido.

– Só aconteceu.

– É, mas é isso que não entendo. O que aconteceu?

– Eu só acordei um dia e soube. O que eu nunca tive certeza com você. ”

Acredito que a interpretação pessoal de “500 dias” com ela varia muito do momento que cada um está vivendo. Tom pode ser visto como coitadinho em certo ponto, como também um insistente chato em outro. Summer pode ser vista como insensível para uns, e decidida para outros. Todos podemos ser Summer um dia e no outro ser Tom. Nem todo mundo quer a mesma coisa, ás vezes não é intencional, mas como o filme explica: é só a vida acontecendo.

A trama mostra como apenas 500 dias mudaram o futuro de Tom. Mostra que nas histórias reais não há desvio da rota pois é impossível planejar um caminho e jurar que é aquilo que vai acontecer. Que fechar ciclos também fez parte de relacionamentos e é inevitável. Que sua “alma gêmea” pode surgir e ficar apenas 500 dias. Mas que, principalmente, depois de Summer, sempre vem uma nova estação.

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Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban: a projeção do complexo paterno

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O terceiro filme da saga Harry Potter, mostra o menino novamente na casa dos desagradáveis tios Dursley. Irritado com uma tia que vem visitar os Dursley foge de casa e vai viver em um abrigo de bruxos.

Observamos agora há uma diferença marcante em Potter: ele está amadurecendo!

Aos 13 anos ele não quer mais se submeter ao desprezo e maus tratos por parte dos tios, pelo fato de ser diferente. Ele precisa desenvolver sua independência e autonomia. No texto anterior, Potter cada vez mais se afastava de sua família consangüínea retirando as projeções do arquétipo paterno e materno dos pais pessoais. Em O Prisioneiro de Azkaban esse arquétipo paterno encontrará um novo objeto de projeção.

Harry Potter ao fugir dos Dusley, descobre que o assassino Sirius Black, um discípulo de Voldemort, fugiu da prisão de Azkaban, considerada até então como à prova de fugas, e tudo indica que está atrás do herói.

Após o desenvolvimento da estória e com o encontro de Potter e Sirius, descobrimos que o ultimo não é um vilão, mas que foi injustamente acusado de assassinato. Aqui ocorre um sincronicidade: Potter e Sirium, ambos fogem de uma situação injusta e aprisionante. E ambos precisam um do outro para se libertar. Além disso, Potter descobre que Sirius é seu padrinho.

Carl Jung (xx) menciona o motivo da dupla descendência, ou seja, a descendência de pais humanos e divinos, presente na Mitologia Grega, como no caso de Héracles, que foi inconscientemente adotado por Hera, alcançando a imortalidade. No Egito é até mesmo um ritual. O Faraó é por sua natureza um ser humano e divino. Nas paredes da câmara de nascimento dos templos egípcios vê-se representada a segunda concepção e nascimento divinos do Faraó – ele“nasceu duas vezes”. O próprio Cristo nasceu duas vezes: através de seu batismo no Jordão ele renasceu pela água e pelo espírito.

Ou seja, esse segundo nascimento dá base ao motivo dos pais duplos, onde o renascido recebe uma “adoção mágica” representada pelo padrinho e madrinha. Essa adoção sustenta a fantasia infantil de muitas crianças pequenas e crescidas de que seus pais não são os verdadeiros, mas apenas pais adotivos a quem foram confiadas (JUNG, 2000).

Potter reflete essa necessidade humana universal. Os pais humanos não são reais, e os bruxos estão mortos. A possibilidade de um padrinho, que ira satisfazer essa fantasia se aproxima. Somente alguém “divino”, e cuja natureza se aproxima da de Potter, por estar ligada também a Volemort, poderá compreende-lo e aceita-lo.

Por essa perspectiva, pode-se supor um complexo paterno em Potter. Além disso, Carl Jung (2000) diz que os padrinhos possuem a incumbência principal de cuidar do bem-estar espiritual do batizando. Eles representam o par divino, que aparece no nascimento anunciando o tema do“duplo nascimento”, que considera o herói como descendente de pais divinos e humanos.

Quando o jovem busca sua autonomia e independência na adaptação ao mudo, não é fácil se desligar com facilidade das figuras parentais. Potter simboliza o complexo paterno, devido à demora anormal a destacar-se da imagem primordial do pai.

Como Jung (2000) aponta ninguém suporta a perda total do arquétipo, e Sirius representa então a projeção do arquétipo paterno, representante da lei e da ordem. No filme anterior, Potter lidou com os aspectos regressivos da psique, simbolizados pela mãe terrível, e agora ele precisa lidar com o complexo paterno. No entanto, os complexos não necessariamente são negativos. Potter precisa de um modelo masculino para orientar seu ego. No aspecto positivo, esse complexo traz autonomia, independência e o desenvolvimento da inteligência do individuo.

 

 

O filme, então gira em torno do desenvolvimento do laço afetivo de Potter com Sirius e a ajuda que o menino presta para fugir da prisão e provar sua inocência. Outro aspecto interessante do filme é o fato de Potter e Hermione voltarem no tempo para auxiliar Sirius. Antes de voltar no tempo, Potter havia enfrentado os Dementadores (seres estranhos que sugam a energia vital de quem se aproxima deles), mas sem sucesso. Ele atribui sua salvação e a de Sirius a uma estranha visão, a qual ele atribui ao seu pai.

Nessa visão ele vê uma corça que lança um feitiço que afugenta os Dementadores salvando a vida dele e de Sirius. No quarto trabalho, Hércules precisa capturar a corça de Cerínia. A corça pertencia à deusa Ártemis. A corça possuía pés de bronze e cornos de ouro, trazia a marca do sagrado e, portanto, não podia ser morta. Mais pesada que um touro, mas bem rapidíssima, o herói, que deveria trazê-la viva a Euristeu, perseguiu-a durante um ano.

Embora consagrada a Ártemis, essa corça, no mito grego, é propriedade de Hera, deusa protetora do amor legítimo, sendo um símbolo essencialmente feminino. É muito interessante que um animal associado às deusas mães da Mitologia apareça para Potter e seja associada ao pai.

Conforme Brandão (xx), o lado puro e virginal da corça é bem acentuado, mas o “peso do metal”poderá pervertê-la, fazendo-a apegar-se a desejos grosseiros, que lhe impedem qualquer vôo mais alto. Essa corça se contrapõe a uma agressividade dominadora. A corça então pode significar um símbolo da alma de Potter.

Ao retornar no tempo, o herói descobre que ele mesmo lançou o feitiço que salvou sua vida e o de Sirius. E isso tem um significado muito profundo, pois a força de Potter esta na sua alma (anima) e não na masculinidade e na força. Pois bem, mas como ocorreu a resolução desse complexo paterno e o subsequente contato com a anima será abordado nos próximos filmes da série.

FICHA TÉCNICA

HARRY POTTER E O PRISIONEIRO DE AZKABAN

Direção: Alfonso Cuarón
Adaptação de: Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban
Música composta por: John Williams
Duração: 2h 22m
Ano: 2004

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