O Homem Não é uma Máquina!

Compartilhe este conteúdo:

Comumente ouvimos frases como “Homem que é homem é forte’’, “Faça isso igual um homem”, “Faltou um homem para colocar ordem aqui” e por último uma das frases mais famosas “Homem não chora”, conceitos como este externalizados através da fala se tornaram regras extensamente difundidas na sociedade, indicando que o homem deve seguir um padrão de comportamento estando sua conduta pré-definida em conceitos culturais que a sociedade criou.

Apesar de essas referências terem evoluído ao longo do tempo, diversas culturas ainda seguem estritamente a regra que diferencia o comportamento de homens e mulheres pelo conceito da racionalidade e emoção. Dessa forma, infelizmente, homens e mulheres ainda são educados de forma diferente. Como resultado, muitos homens têm dificuldade em expressar sentimentos e emoções.

Santos (2015) acrescenta que a sociedade confere maior emoção às mulheres e maior racionalidade aos homens. Ao analisar a dicotomia entre racionalidade e emoção relacionada à identidade de gênero, enfatizou que expressões de determinadas emoções, como medo e vulnerabilidade, estão mais fortemente associadas às mulheres. Em vez disso, emoções como raiva ou agressão estão associadas aos homens. De uma perspectiva de tipologia emocional potencialmente relacionada ao gênero, espera-se que as mulheres experimentem uma variedade de emoções consideradas mais positivas, enquanto os homens as emoções negativas.

Fonte: encr.pw/NMDWu

Ao mesmo tempo, essa lógica binária tem efeitos colaterais para todos, com algumas pessoas ou grupos sociais defendendo a lógica da sensibilidade feminina e da racionalidade masculina. Portanto, é importante enfatizar que os homens têm sentimentos e que também são racionais. No entanto, ambos os sexos são ensinados a processar sentimentos por meio de regras sociais. Ou seja, os métodos de lidar com tais sentimentos geralmente são aprendidos por homens e mulheres com base nas consequências de tais atitudes para aqueles que ousam tentar.

Garcia et.al (2019) aponta que a masculinidade ainda é atrelada à cultura machista patriarcal.  Assim, as condutas desta cultura, impõe as regras da forma que um homem deve agir, dando a entender que ele é capaz de realizar todas as coisas sem passar por nenhum tipo de sofrimento. E aquele que requer um acolhimento de uma escuta, a sociedade não o deixa ter, transformando-o e exigindo que este seja uma máquina indestrutível, que não admite que entre em contato com suas emoções, com suas dores e com seus limites.

Pode não ser novidade pensar que porque sempre (embora menos hoje), muitos meninos são punidos e envergonhados socialmente por demonstrarem aquilo que sentem. Penalizar a demonstração de sentimentos de um homem pode ocasionar comportamentos evitativos relacionados à expressão de suas emoções, o que pode ocasionar sofrimento psíquico entre outras consequências.

É indiscutível que a polarização de gênero é ruim para todos. É fato que as mulheres são prejudicadas e estigmatizadas. Ao mesmo tempo, porém, a rigidez que a sociedade impõe aos papéis masculinos não abre espaço para que os homens expressem plenamente seus sentimentos e emoções.

Como resultado, eles se sentem culpados e punidos socialmente quando expressam seus sentimentos. Por esse motivo, é mais comum que os homens apresentem níveis mais elevados de estresse e sofram de transtornos relacionados à ansiedade, dificuldades nos relacionamentos sociais e românticos.

Em conformidade com Silva (2021), ao analisar índices relacionados à saúde mental, é identificado que há uma prevalência de transtornos mentais em mulheres, no entanto é observado que homens têm mais tendências suicidas que as mulheres, estando outros tipos de transtornos ligados. Uma causa associada a este fenómeno pode estar ligada a tendência que o homem possui em atrelar doença a fraqueza, além de possuírem maior dificuldade em expor suas ansiedades e sentimentos de tristeza.

Fonte: l1nq.com/V5sVT

Somos todos seres humanos independentemente do gênero e, em muitos casos, somos castrados e limitados por dogmas socialmente construídos. Portanto, não faz sentido distinguir entre comportamento masculino e feminino, especialmente quando se trata da expressão de sentimentos e emoções.

Assim, é importante estar ciente de que muitas vezes um amigo, colega de trabalho, namorado ou marido pode estar em grande desespero emocional. Muitos deles sofrem e escondem seus sentimentos por causa de habilidades comportamentais subdesenvolvidas. Além disso, pode até explicar o comportamento suicida de muitos homens que vivenciaram algum fracasso ou foram estigmatizados socialmente ao falar sobre suas emoções e não podem arcar com tal punição pública. Desse modo, é compreensível que os homens tenham mais dificuldade em se expressar. Talvez isso mostre a necessidade de mais troca e desconstrução de regras socialmente impostas.

REFERÊNCIAS

SANTOS, Luís Homens e expressão emocional e afetiva: vozes de desconforto associadas a uma herança instituída, Revista Ciências Sociais, São Paulo, v 40, n.1,p 1-14, Setembro de 2015, acessado em 11 março de 2022. URL: http://journals.openedition.org/configuracoes/2593.

GARCIA, L. H. C.; CARDOSO, N. DE O. BERNARDI, C. M. C. DO N. Autocuidado e Adoecimento dos Homens: Uma Revisão Integrativa Nacional. Revista Psicologia e Saúde, v. 11, n. 3, p. 19-33, 9 out. 2019.

Silva, Rafael Pereira e Melo, Eduardo Alves Masculinidades e sofrimento mental: do cuidado singular ao enfrentamento do machismo. Ciência & Saúde Coletiva [online]. v. 26, n. 10 [Acessado 11 Março 2022], pp. 4613-4622. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/1413-812320212610.10612021>. ISSN 1678-4561. https://doi.org/10.1590/1413-812320212610.10612021.

Compartilhe este conteúdo:

As facetas da violência contra a mulher

Compartilhe este conteúdo:

 

A crise sanitária ocasionada pela pandemia da Covid-19 foi um dos fatores que provocaram o aumento da violência doméstica contra a mulher. A informação é do Ministério da Família e dos Direitos Humanos (MFDH), baseado na coleta de informações, no ano anterior. Conforme a pasta foi registrada mais de 100 mil denúncias de violência contra a mulher, nesse período. Os dados divulgados são alarmantes, e reforça a necessidade da denúncia do agressor para coibir esse tipo de criminalidade, que tem tido um crescimento, nos últimos anos.

De acordo com o Atlas da Violência, uma mulher é assassinada no Brasil, a cada 2 horas. Situação que tem preocupado organizações governamentais e não governamentais.  Nesse sentido, o Governo Federal, por meio do MFDH disponibiliza o disque denúncia, pelo número 180, Central de Atendimento de Ajuda a Mulher, bem como as delegacias estaduais oferecem 197. Medidas adotadas para evitar o número de mulheres agredidas, em suas violências.  As mulheres, que se sentirem vítimas, podem realizar o boletim de ocorrência virtual, caso tenham sido impedidas de sair de seu lar.

Minayo (2005) explica que o machismo provoca o aumento dos casos de violência, a partir do momento que o agressor se sente proprietário da mulher. “No caso das relações conjugais, a prática cultural do “normalmente masculino” como a posição do “macho social” apresenta suas atitudes e relações violentas como “atos corretivos” (Minayo, 2005). Nessa perspectiva, a pesquisadora aponta que é preciso rever os conceitos da cultura brasileira, em que o homem está inserido (MacDonald, 2013) reforça que a violência contra a mulher acontece em todos os quatro cantos do mundo, sendo que esse tipo de violência tem suas raízes na discriminação e na visão que a mulher é um ser frágil e submisso ao homem.

Fonte: Freepik

Sobre esse assunto, a Netflix lançou esse mês, a série Maid, que retrata justamente a violência contra a mulher, mas com foco na violência psicológica, que muitas das vezes, não é vista como violência, por não ter acontecido uma agressão física. A narrativa gira em torno da personagem feminina Alex, que durante a madrugada foge com sua filha Maddy, de apenas dois anos, em um ato desesperado, por não aguentar mais a tortura psicológica, em que era submetida pela então companheiro e pai de sua filha.  Sem emprego, dinheiro e uma conta bancária, a jovem mãe vê-se obrigada a procurar ajuda em um abrigo, quando entende que foi vítima de violência psicológica.

No início a jovem não queria aceitar sua condição de vítima, mas a partir do momento em que compreendeu sua situação de vulnerabilidade, realizou a denúncia, e foi encaminhada para uma casa de apoio a mulheres vítimas de violência física e psicológica. Para poder ter a guarda da filha, Alex interpretada pela atriz, Margaret Qualley, foi trabalhar como empregada doméstica, em diversas casas, com objetivo de sustentar a criança e encontrar um lar seguro, distante de todo tipo de violência.   A drama prende o telespectador, no sentido de identificação com a personagem.

A minissérie tem feito tanto sucesso, que muitas mulheres têm relatado suas histórias de violência doméstica, e outras clareando suas mentes pelo que tem vivido em suas casas ao lado do agressor.  Destaca-se que os 10 episódios são baseados na história real de Stephanie Land, que escreveu sua biografia na obra “Superação: Trabalho Duro, Salário Baixo e o Dever de Uma Mãe Solo”. Considerado um dos mais vendidos pelo jornal New York Times, o enredo traz sobre a vida de Land, que vive abaixo da linha da pobreza e buscou ajuda do governo e trabalhar como doméstica para sobreviver e sair do retrato da violência.

Fonte: Divulgação Netflix

No Brasil para combater a violência contra a mulher foi aprovado em 2006, a Lei 11.340, mais conhecida como a Lei Maria da Pena, que criminaliza a violência doméstica e familiar contra a mulher, bem como busca prevenção, por meio de medidas protetivas, quando feita a denúncia.  Em seu título II, a lei explica que a violência pode acontecer em diversas formas, como a física, psicológica, sexual, patrimonial e material.  Segundo o artigo 5º, da Lei Maria da Penha, violência doméstica e familiar contra a mulher é “qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial”.

 Caso conheça algum caso de violência contra a mulher, denuncie. Não deixa o agressor impune. Muitas mulheres não têm força para denunciar, mas seja o vizinho que irá ajudar a pôr fim a um ciclo de violência familiar.  Como já foi mencionado, é somente ligar no 180, central de atendimento, ou na delegacia da sua região, pelo 197.

REFERÊNCIAS

Brasil, Atlas da Violência (2020). Disponível em <https://www.netflix.com/br/title/81166770> Acessso. 23, de out, de 2020.

Brasil, Ministério da Família e dos Direitos Humanos (2020).

MacDonald, M. (2013). Women prisoners, mental health, violenceand abuse. International Journal of Law and Psychiatry.

 Mynaio,  M.C. Laços perigosos entre machismo e violência(2005). Disponível em <https://www.scielo.br/j/csc/a/gvk6bsw36SPbzckFxMN6Brp/?lang=pt&format=pdf> Acesso: 23, de out de 2021.

Netflix, Maid. Disponível em < https://www.netflix.com/br/title/81166770> .Acesso, 23 de out,de 2021.

Brasil, Planalto Central. Lei 11.340. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm> Acesso. 23, de out de 2021.

Compartilhe este conteúdo:

Laranja Mecânica: com quantos condicionamentos se faz um homem?

Compartilhe este conteúdo:

O filme faz um uso espetacular de cenários e figurinos que provocam horror e repulsa ao telespectador, que se vê imerso em uma espécie de freekshow/horrorshow o tempo inteiro

Laranja Mecânica, filme baseado na obra homônima de Antony Burguess, é estrelado por Malcolm MacDowell que interpreta o personagem Alex, um jovem inclinado à violência que acompanhado de seu grupo de amigos Pete, Georgie e Dim, usa de agressões físicas, sexuais e psicológicas para satisfazer seus impulsos mais intensos.

Se você se deparasse com Alex e seus companheiros de grupo no meio da rua, já notaria uma caracterização de figurinos bastante peculiar. Trajados com macacões brancos, portando porretes nas mãos e manchas de sangue espalhadas por toda vestimenta, compõem um grupo que trabalha objetivando praticar a violência com qualquer pessoa que apareça em sua frente.

O filme faz um uso espetacular de cenários e figurinos que provocam horror e repulsa ao telespectador, que se vê imerso em uma espécie de freekshow/horrorshow o tempo inteiro. Um desses artifícios é um clube chamado Leiteria Korova, que tem por cenário vários manequins de mulheres em posições de sexo, que ora são usadas como mesa ora são usadas como garçonetes, uma vez que ao pressionar uma alavanca abaixo delas, as mesmas expelem leite pelos seios.

Fonte: encurtador.com.br/gtFPZ

A apelação sexual é intensa através desses cenários, que a todo instante fazem alusão aos sucessivos estupros que Alex e seu bando cometem às mulheres da sua cidade. Tal ato de violência é denominado por eles como “o velho entra e sai”, o que traz uma concepção de simplicidade a uma prática tão horrível, intensificando assim um sentimento de horror experimentado nas cenas de estupro.

Além dos comportamentos de estupros, o grupo de freekshow agride pessoas de forma brutal e irônica. Uma cena do filme que retrata bem isso se dá quando eles encontram um senhor de idade bêbado no meio da rua que lhes pede dinheiro. O pobre idoso se vê caçoado pelo grupo e principalmente pelo próprio Alex que diz “não suporto bêbados jogados a rua. Mas principalmente velhos bêbados”, sendo então agredido a socos, pontapés e cassetetes, salvo apenas devido ao surgimento da polícia.

O arsenal de violências corria muito bem, até que um dia Alex trata seus companheiros de forma opressora jogando-os dentro de um lago e cortando a mão de um deles. Esse fato se deu pelo desejo de um dos seus amigos de propor as atividades do grupo, o que para o nosso personagem principal era inaceitável, já que existia apenas um líder, e esse líder era ele.

Fonte: encurtador.com.br/lpsvI

Essa falta de compreensão e companheirismo renderia a Alex a traição de seu bando, que consequentemente acarretaria na sua prisão pelo assassinato de uma senhora dona do SPA que eles haviam invadido.

A análise do comportamento aplicada à vida de Alex

Ao ser pego, Alex foi enviado para uma prisão e lá ficou sabendo de um projeto piloto de procedimento experimental, que prometia “curar” os detentos de seus impulsos violentos. Animado com a ideia pediu ajuda ao reverendo da instituição para que ele fosse indicado ao tratamento. E assim foi feito, sendo o protagonista enviado como cobaia ao projeto piloto.

O procedimento consistia em dar a Alex um remédio no início do dia e em seguida expô-lo a situações de violência em um grande telão. Nesse momento, seu corpo estava imobilizado por uma camisa de força e seus olhos presos com certo tipo de arame, para que em hipótese alguma ele conseguisse se livrar de ver as cenas.

Após algumas sessões do experimento, o resultado apareceu. Todas as vezes que Alex experienciava situações de violência ou sentia desejo de praticar comportamentos violentos, ele sentia um enorme enjoo e desconforto, que lhe provocavam ânsia de vômito e muita tontura. Mas o que aconteceu com Alex? Ele teve seu comportamento condicionado!

Fonte: encurtador.com.br/GOWZ4

A Análise do Comportamento, ciência que estuda o comportamento humano, acredita que o homem é fruto do meio em que está inserido. E que comportamentos podem ser ensinados e aprendidos através da união dos estímulos e consequências corretos.

Quando dizemos que Alex teve seu comportamento condicionado, queremos dizer que a consequência do experimento foi a responsável por manter essa sua nova reação às situações de violência. Explicando melhor temos que um comportamento opera na lógica da contingência tríplice de acordo com a Análise do Comportamento (MOREIRA e MEDEIROS, 2019).

A contingência tríplice pode ser representada pela fórmula S – R –> S, que traduzida traz S (estímulo antecedente) – R (comportamento) à S (consequência) (TODOROV, 2012).

No caso de Alex a situação se configura da seguinte forma: S (remédio que provoca enjoo) – R (assistir cenas de violência) –> S (vômitos e tontura). Mas por que toda vez que Alex presencia cenas de violência ele se sente mal? Por que para ele as consequências de ver cenas de violência são aversivas ou punitivas.

Fonte: encurtador.com.br/ajxEV

A Análise do Comportamento traz que existem consequências de comportamentos consideradas aversivas ou positivas, e que estas são responsáveis pelo aumento ou diminuição de determinado comportamento. Quando uma consequência aumenta uma determinada prática chamamos de reforço, e quando ela diminui chamamos de punição (MOREIRA E MEDEIROS, 2019).

Para Alex experienciar situações de violência se tornou uma punição, já que todas as vezes que ele passava por essas situações, as sensações de enjoo e tontura vinham juntas. Sendo assim, a frequência do comportamento de violência diminuiu devido à consequência aversiva (TODOROV, 2012).

O “sucesso” do experimento é posto à prova, já que a trama do filme vem trazer também uma pegada de sarcasmo e vingança, fazendo com que o personagem sofra nas mãos de todas as pessoas que ele já havia feito algo de ruim. Portanto, uma sucessão de eventos ruins, desde o abandono dos seus pais à surra de seus ex- amigos colaboram para que Alex entre em um colapso e tente se suicidar.

 

Ao final cabe uma reflexão sobre as práticas de experimentos com seres humanos e como essas práticas devem ser aplicadas. Levando em consideração não só os desejos do cientista, mas, sobretudo, o desejo do indivíduo que se sujeita a essas situações. É sempre válido lembrar que a ética em experimentos com seres vivos sempre deve estar presente!

FICHA TÉCNICA

LARANJA MECÂNICA

Título original: A Clockwork Orange
Direção: Stanley Kubrick
Elenco: 
Malcolm McDowell, Patrick Magee, Michael Bates
Ano: 1972
País: EUA

Gênero: 
Ficção científica,Drama

 

REFERÊNCIAS:

MOREIRA, Márcio Borges; MEDEIROS, Carlos Augusto de. Princípios Básicos da Análise do Comportamento. Porto Alegre: Artmed, 2019. 320 p. Disponível em: <https://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=0LdwDwAAQBAJ&oi=fnd&pg=PT261&dq=principiso+basicos+da+analise+do+comportamento&ots=WAZQkCc6wF&sig=R0df4BxtqPx5MJS1aCCQiak9bl0#v=onepage&q=principiso%20basicos%20da%20analise%20do%20comportamento&f=false>. Acesso em: 27 fev. 2019.

TODOROV, João Claudio. O conceito de contingência tríplice na análise do comportamento. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Brasília, v. 4, n. 18, p.123-130, 05 nov. 2012. Disponível em: <https://www.revistaptp.unb.br/index.php/ptp/article/view/1116>. Acesso em: 27 fev. 2019.

Compartilhe este conteúdo:

É possível aprender observando?

Compartilhe este conteúdo:

Também conhecida como aprendizagem social, a aprendizagem por observação se dá por imitação, moldagem, ao se observar o comportamento de terceiros, como maior exemplo disso temos os pais. Podemos não reproduzir necessariamente suas expressões, porém certamente adquirimos alguns dos seus padrões sociais (DAVIDOFF, 2001, pág. 131).

Esta aprendizagem acontece em 4 etapas, aquisição, retenção, desemprenho e consequências. No primeiro momento ele irá observar seu modelo e reconhecer sua conduta, no segundo momento vai armazenar as respostas deste modelo, no terceiro momento vai reproduzir o comportamento do modelo em que o aprendiz julgar apropriado e, por último, as consequências de sua conduta vão enfraquecer ou fortalecer esse aprendizado para que seja efetivado ou não.

É mais comum que se aprenda o comportamento de pessoas com estilos de vida compatíveis com os nossos, quanto a faixa etária, classe social, temperamento, níveis de instrução. NO caso das crianças, elas podem ter até mais de um modelo para suas atitudes. Os adultos tendem a se inspirar em pessoas famosas, glamorosas, poderosas e que tenham altos status.

É muito comum meninos de inspirarem em seus heróis de quadrinhos e de desenhos, eles copiam seus jargões, suas atitudes, seus “poderes” dentro de casa, na sua escola, nos seus ambientes de convívio social. Isso pode ter consequências boas e ruins, pode ocorrer, na pior das hipóteses, de um indivíduo bater no outro, arremessar coisas, porque viu o seu modelo apresentar esse tipo de atitude na televisão ou no gibi.

Esse é um dos maiores motivos de preocupação dos pais e educadores quanto aos jogos violentos, as crianças ficam habituadas a situações de violência e já não se afligem com situações de perigo. Isso pode tanto despertar interesse e apetite por violência quanto tirar o senso de sensibilidade da criança em situações de risco para os outros e para si mesmas (DAVIDOFF, 2001, pág. 132).

Condicionamento operante

 Operante é tudo aquilo que se faz foi intenção e vontade própria, “Embora os operantes pareçam espontâneos e sob pleno controle animal, são altamente influenciados por seus efeitos. ” (DAVIDOFF, 2001, pag. 109). Já o condicionamento operante acontece a cada momento, praticamente em todas as nossas ações e interações. Por exemplo, você vai conhecer a sogra e faz um macarrão, porém ela não gosta, isso já te condiciona a não fazer mais aquele tipo de macarrão para ela. As situações são moldadas pelos seus efeitos.

Este condicionamento pode se dar por reforçamento e punição. O reforçamento pode ser positivo e negativo. No reforço positivo você adiciona algo para aumentar um comportamento, por exemplo ao passear com o seu cachorro você dá um biscoito a ele por andar com a coleira mais perto de você. No caso você adicionou o biscoito para aumentar a caminhada lado a lado.  Já o reforço negativo você retira algo para aumentar um comportamento, por exemplo na mesma situação do cachorro, para que ele ande lado a lado com o dono o dono retira o ato de andar na frente do cachorro fazendo com que o cão aumente o ato de andar ao seu lado.

Fonte: https://bit.ly/2JIyrLx

 A punição pode ser positiva e negativa. Na punição positiva você adiciona algo para diminuir um comportamento, por exemplo ao passear com o seu cachorro e ele começa a puxar a coleira para ir para fora da pista, você a puxa de volta, ou seja, está adicionando o ato de estrangular para que ele diminua o ato de sair da pista. Já na punição negativa você diminui algo para diminuir um comportamento, na mesma situação do cachorro saindo da pista, você para o passeio para ele parar de puxar a coleira indo para fora da pista. Então você diminuiu o ato de passear/ andar para que o cão diminua o ato de sair da pista.

Compartilhe este conteúdo:

Diálogo entre a Disciplina e a Punição

Compartilhe este conteúdo:

Imagine a cena. Ao meio dia de uma sexta-feira qualquer, duas respeitáveis senhoras observam o trânsito de Palmas, em um dos cruzamentos mais movimentados da Capital. Dona Disciplina, habituada a ensinar metodicamente e, sem querer ofender a senhora Punição, sugere que punir não educa. A punição, acostumada a castigar e quase sempre exaltada, opõe-se, efusivamente, à tese. Para ela os 1.296 acidentes de tráfego com vítimas, periciados por peritos da Polícia Técnico-Científica em 2012, envolvendo 865 motocicletas em Palmas, seriam evitados, aplicando multas mais severas.

Na argumentação está implícita a afirmação de que os condutores são mal educados. Razão pela qual a Educação para o Trânsito não obtém êxitos imediatos. A Punição observa que a cidade cresceu, a frota de automóveis aumentou e a maioria dos condutores, cada vez mais agressivos, parece carecer de melhor preparo para transitar por avenidas curvilíneas, rotatórias e cruzamentos, muitos, bem sinalizados.

Nesse aspecto, a Disciplina sem desmerecer os esforços da Educação ausente no diálogo, até concorda, mas enfatiza sobre a urgência em se adotar medidas práticas que auxiliem a conscientização.

Com base no Diagnóstico sobre os Acidentes de Tráfego na Cidade em 2010, a Disciplina mostra à Punição que os cruzamentos entre as Avenidas Teotônio Segurado e LO-12 e a LO-14 contribuíram muito para a elevação dos índices de acidentes de tráfego, até o mês de julho. Em apenas um mês, a LO-12 contribuiu com 13%, enquanto a LO-14, com 17%.

A partir de agosto, entretanto, essa realidade mudou. Os índices de acidentes reduziram a ZERO, ao contrário do cruzamento da Teotônio com a LO-23, que embora bem sinalizado, lidera ranking de até 50% dos acidentes em cruzamentos entre a Teotônio e as LO’s.

Apesar de atuar pouco na região onde os índices despencaram para 0%, a Punição, bem irônica, quer saber qual seria o “milagre” para uma queda tão brusca nos índices de acidentes de tráfego nesses cruzamentos da região Norte da cidade, enquanto se observa um fenômeno inverso em cruzamentos da região Sul.

Em resposta à ironia da Punição, a Disciplina diz que o “milagre” fora a atitude do poder público, que acatara uma sugestão simples, apresentada por peritos da Polícia Técnico-Científica ainda em 2009, mas só adotada em agosto de 2010. Esse “milagre” responde pelo nome de redutores de velocidade. Ondulações. Se preferir, ele mesmo, o popular, digo, impopular quebra-molas.

Ácida como é, concordar com a Disciplina custa grande esforço à Punição cujo ego a supera em tamanho. Mas cansada de ver a morte zombar da vida com um sorriso cariado, a Punição se sujeita a dialogar com a Disciplina e, uma vez ou outra, aquiescer também com a Educação.

Surpreendendo a Disciplina, a Punição, como que pensando em voz alta, questiona: Quanto custa um acidente com vítima para o poder público e quanto custa a construção de um antipatizado quebra-molas em pontos críticos? E sonorizadores antes das faixas de pedestres custa caro? Iluminar então faixas para pedestres, quanto deve custar?

Convicta de que uma vítima custa bem mais ao poder público, do que medidas preventivas, a Disciplina intervém e lamenta que o trânsito copie, do sistema de justiça criminal, equívocos que não produzem justiça.

Na compreensão da Disciplina o equívoco é ter-se como preocupação primeira o passado e não o futuro; é priorizar o estabelecimento de culpa para provocar a vingança por intermédio da dor. Medidas assim não reparam o dano à vítima. Priorizar teorias em detrimento de resultados equivale a zombar. E com um ar de impotência, conclui que a vítima é assunto secundário, quando a prevenção também o é.

Embora ranzinza, a Punição que defende a fábrica de multas como solução para os acidentes de tráfego, acaba se entendendo com a Disciplina. No contexto da discussão o objetivo comum entre ambas é salvar vidas. Eis a razão para pensamentos antagônicos se aproximarem e adotarem práticas preventivas simples, economicamente viáveis e efetivamente eficientes e eficazes, sem precisar reinventar a roda.

A vida agradece!

Compartilhe este conteúdo: