Uma palavrinha sobre a raiva

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Foi-me sugerida a leitura de um capítulo específico do livro A mente vencendo o humor, que trata sobre a raiva, a culpa e a vergonha, e percebo o quão importante são as informações trazidas ali e o quão essencial é entender estas emoções que permeiam os relacionamentos e as situações das pessoas que nos procuram para a terapia, além de servir para cada um de nós, pois são estados de humor que nos afetam em vários momentos da vida, quando estamos diante de situações desafiadoras que nos fazem sentir ameaçados e/ou injustiçados.

Por agora vou me ater somente à raiva, para conseguir explorar bem os aspectos que percorrem esta emoção. Primeiramente deve-se avaliar com qual frequência, a duração de tempo, e a intensidade que este estado de humor aparece. O objetivo é sentir a raiva com menos frequência, que ela dure um tempo menor, e que não seja tão intensa a ponto de emitirmos comportamentos que depois iremos nos arrepender.

O livro traz uma folha de exercícios que permite você avaliar e depois monitorar  os estados de humor, e perceber o progresso ao passar do tempo. Após feito este levantamento, é importante entender como estas emoções funcionam e o que você pode fazer para se sentir melhor em relação à elas.

A raiva, assim como outros estados de humor, vêm acompanhada por mudanças no pensamento, no comportamento e nas reações físicas. Quando experimentamos a raiva, todo nosso corpo é estimulado para a defesa ou o ataque. A grande sacada é entender que a intensidade que experimentamos a raiva (deste irritação até fúria) é totalmente influenciada pela nossa interpretação da situação vivida, e isso pode variar de pessoa pra pessoa, pois esta maneira de vivenciar a situação perpassa a experiência de vida do sujeito, suas regras ou pressupostos e as crenças que ele tem.

A raiva normalmente está associada à percepção de injustiça, e também está relacionada à ameaça, dano ou prejuízo e à crença de que foram violadas regras importantes. Este sentimento está muito relacionado também às expectativas que temos de outras pessoas. Quanto mais próxima a nossa relação com alguém, mais expectativas temos, e quando percebemos que as pessoas não atenderam a nossa expectativa em relação a alguma coisa, ficamos frustrados, então aparece o sentimento de decepção, dor e de raiva.

Existem algumas estratégias que podem nos ajudar no manejo da raiva, e com treino podemos adquirir habilidades para lidar melhor com esta emoção. De acordo com a Terapia Cognitivo – Comportamental, que é a minha abordagem de escolha, e da qual o livro se refere, o conteúdo dos nossos pensamentos no momento da emoção contém informações muito importantes, e examinar este conteúdo irá nos ajudar a responder às situações de forma mais construtiva.

A TCC como é chamada, nos convida a questionar nossos pensamentos e nos propõem ampliar nosso olhar para que possamos encontrar formas alternativas de pensar em dadas situações. Quando estamos com raiva, costumamos interpretar os acontecimentos equivocadamente e as intenções das pessoas de forma negativa. Aprender a interpretar as ações das outras pessoas, considerar suas intenções de forma mais respeitosa e encarar as situações a partir de diferentes perspectivas são formas úteis de responder à raiva.

Fonte: encurtador.com.br/pwUW5

O livro traz um instrumento que pode ser utilizado para praticar essa reflexão, que consistem em um Registro de Pensamento, onde você descreve a situação, o humor experimentado durante a situação e quais pensamentos ocorreram durante este processo, conforme figura abaixo:

Folha de Excercícios 15.3 Compreendendo a raiva, a culpa e a vergonha

1.     Situação

Quem?

O quê?

Quando?

Onde?

2.     Estados de humor

a.      O que você sentiu?

b.     Avalie cada estado de humor (0-100%)

3.     Pensamentos automáticos (imagens)

a.      O que estava passando por sua mente instantes antes de começar a se sentir assim? Algum outro pensamento? Imagem? Lembrança?

b.     Circule ou marque o pensamento “quente”.

 

 

 

 

 

 

A mente vencendo o humor, segunda edição. 2016 Dennis Greenber e Christine A. Padesky.

Quando as pessoas ficam com raiva, elas tendem a tirar conclusões precipitadas, que podem ser imprecisas. Quando você estiver tendo uma discussão com raiva, pare e pense em suas respostas antes de atacar. Lembre-se de ouvir a outra pessoa na conversa. Uma boa comunicação pode ajudá-lo a resolver problemas antes que sua raiva aumente.

Outra forma de auxílio no controle da raiva é antecipar e se preparar para acontecimentos que possivelmente tragam essa emoção, se planejando, ensaiando mentalmente para aquele momento que possivelmente será estressante, dessa forma você poderá se sentir mais confiante e menos ameaçado se as coisas não derem certo. Sua resposta pode ser mais eficaz e adaptativa se utilizar deste “roteiro” pensando no que você quer atingir ao entrar naquela situação.

Além disso é importante reconhecer os primeiros sinais de raiva, para que ela não chegue a sair do controle, como por exemplo ficar instável, sentir tensão muscular, aumento da frequência cardíaca, mandíbula cerrada, aumento da pressão arterial e atitude defensiva ou de ataque. Você nesse momento pode parar e perceber o que está acontecendo e escolher ter a raiva (o que significa que os sinais se intensificarão ainda mais) ou dar um tempo e usar a assertividade para se acalmar.

Dar um tempo significa se afastar da situação quando você percebe os primeiros sinais que está ficando com raiva. Essa estratégia simples pode ajudá-lo a encarar a situação de forma diferente. Faça um intervalo (o tempo você determina de acordo com a complexidade da situação), e após esse tempo você retornará à situação provavelmente de uma forma bem mais eficaz.

A assertividade diz respeito à um ponto intermediário entre ser agressivo ou permitir passivamente que alguém se aproveite de você. O livro traz um exemplo que fica bem nítido. Suponha que vocês está voltando pra casa do trabalho e seus filhos começam a pedir sua atenção, todos ao mesmo tempo. Se estiver cansado e tentar satisfazer as necessidades deles (passivo), você começará a se sentir sobrecarregado e acabará explodindo de raiva (agressivo). Geralmente é melhor ser assertivo e dizer algo como: “Estou muito cansado e preciso de alguns minutos antes de brincar com vocês. “Isso dá tempo para você se recuperar, lembrar-se do quanto ama seus filhos e preparar-se para um tempo com eles e/ou definir limites quando necessário. Para ajudar você pode usar algumas estratégias como:

  1. Usar afirmações do tipo “Eu” – quando estamos com raiva queremos acusar então começamos com “Você”. Substituindo o “Você” por “Eu” aumentam as chances de fazer a outra pessoa escutar o que vocês está tentando comunicar;
  2. Reconheça o que há de verdade nas queixas que alguém tem de você, e ao mesmo tempo, defenda seus direitos. (como por exemplo aprender a dizer não sem se sentir egoísta, mas na perspectiva que você está cuidando um pouco de você);
  3. Faça declarações claras e simples sobre seus desejos e necessidades, em vez de esperar que outras pessoas leiam sua mente e prevejam o que você quer. (Isso vai te ajudar a alinhar as expectativas com o outro);
  4. Foque no processo de assertividade, e não nos resultados. (Foco no objetivo da comunicação clara, informar as pessoas que nos relacionamentos sobre nossas expectativas ou limites frequentemente reduz a mágoa e a irritação que podem conduzir à raiva).

E por último, praticar o perdão. Muitas vezes a raiva é consequência de mágoas profundas e repetidas que guardamos dos outros, por algo que eles tenham cometido contra nós. Este estado de raiva constante pode corroer o nosso espírito e nos impedir de experimentar felicidade e alegria. Não que este seja um exercício fácil, mas aceitar os fatos ocorridos e se despender da raiva vai aliviar a nossa carga na caminhada da vida. Perdoar não significa desconsiderar as ações da outra pessoa, significa olhar para essas ações de forma diferente.

Você pode tentar por si só controlar melhor a raiva quando ela aparece com as estratégias trazidas aqui, como testar os pensamentos de raiva, preparar-se para acontecimentos que provavelmente incitarão este humor, reconhecer os primeiros sinais de alerta, dar um tempo, ser assertivo e perdoar. Use esses métodos regularmente. Com prática você conseguirá ser mais eficaz quando precisar delas. Mas se mesmo depois disso você perceber que não têm uma boa regulação emocional para lidar com esse sentimento, que você têm prejuízos nos relacionamentos interpessoais por falta de saber lidar com a raiva, a terapia é uma excelente alternativa que pode ensiná-lo a se comunicar melhor, aumentando as interações positivas em seus relacionamentos e a desenvolver habilidades para ajudá-lo a exercitar as estratégias de identificação e a alteração de expectativas e regras. Essas habilidades podem reduzir a raiva e melhorar a qualidade de suas relações, e consequentemente sua qualidade de vida.

Referências:

GREENBERGER, Dennis; PADESKY, Christine A. A mente vencendo o humor: Mude como você se sente, mudando o modo como você pensa. Porto Alegre: Editora Artmed, 2ªEd., 2016.

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A síndrome de Hulk, o marasmo de Bruce Banner

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A síndrome de Hulk é uma síndrome atipicamente falada pela comunidade, é marcada por manifestações inesperadas de raiva. Essas manifestações constantemente se configuram em condutas violentas. No contexto médico, o nome certo seria síndrome de Amoque. Via de regra, porém, é familiar pelo nome do popular monstro verde dos cinemas: Hulk.

Hulk foi um personagem antes de tudo dos quadrinhos da Marvel. Foi há pouco tempo que ele surgiu em diversos filmes que foram se adequando para o cinema pelo mundo dos cinemas da Marvel. Um desses filmes está o último grande lançamento da saga ‘Thor’, bem como ‘Os Vingadores’. Hulk é o alterego do amável Dr. Bruce Banner, que se contaminou enquanto fazia algumas experiências com lixo tóxico.

Desde então, surge em Dr. Banner uma segunda personalidade: Hulk. Esse grande monstro aparece repentinamente, é impetuoso e interessa-se por aniquilar tudo que está em sua volta. O Dr. Banner não consegue conter o Hulk, e a mesma coisa pode ser destinada ao Hulk conter o Dr. Banner. Paulatinamente, o Dr. Banner assimila e se relaciona com seu monstro verde.

Fonte: Pixabay

Com base na sua designação nos quadrinhos, conseguimos inserir Hulk nesse cenário no qual sucedem atitudes muito viscerais e desgovernados oriundos do sentimento de raiva ou da ira. Somo capazes de compreender melhor se refletirmos que no momento nosso corpo transita pelo sentimento de raiva, mas nossa mente tenta coibi-lo ou repeli-lo de forma metódica, pode ser que certa altura nós acabemos consumidos pela raiva de forma desmedida.

Conforme peritos na temática, a síndrome de Hulk está associada a coeficientes culturais. Embora a síndrome já tenha sido fundamentada em diversas culturas, existem minúsculas peculiaridades concretas e específicas em cada cultura que não podem ser observadas em pessoas de outras culturas com a mesma patologia. No ocidente, antes da aparição do Hulk como personagem, a síndrome de Hulk já estava documentada. Ela era conhecida pelo seu outro nome que mencionamos acima: a síndrome de Amok. A palavra Amok veio da expressão Malaia “meng-amok”. Esse vocábulo significa, em uma tradução abrangente da expressão para o português que não deem uma palavra direta, “atacar e matar com uma raiva cega”.

Menciona-se que a síndrome de Hulk seja a consequência de muitos conflitos e a origem de muitas hostilidades. As pesquisas, entretanto, indicam que a frequência do diagnóstico é bem inferior que sua ocorrência concreta na comunidade.

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Um mergulho na Terapia Focada nas Emoções – TFE

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A TFE distingue as emoções em quatro tipos de respostas: primárias adaptativas, primárias desadaptativas, secundárias e instrumentais.

Emoção é um fenômeno cerebral muito diferente do pensamento. Tem sua própria base neuroquímica e fisiológica. É uma linguagem única na qual o cérebro fala através do corpo.  As emoções são vitais para a sobrevivência e cumprem várias funções necessárias (GREENBERG, 2015).

A Terapia Focada na Emoção mostra-se eficaz justamente por seu foco – antes de tudo – ser na emoção, do qual todo o sujeito possui, sendo aplicável em uma ampla variedade de clientes. O terapeuta que utiliza desse enfoque ajuda o cliente a seguir as emoções que são adaptativas e a mudar as que não são, incentivando-os a enfrentar emoções temidas para então processá-las e transformá-las, criando um novo significado narrativo a elas. Os clientes tornam-se mais hábeis no acesso a informações importantes sobre si mesmo e no uso dessas para viver de forma vital, gerenciando com flexibilidade suas emoções. A mudança emocional é a solução para suportar mudanças cognitivas e comportamentais (GREENBERG, 2015).

encurtador.com.br/hvCIT

A TFE distingue as emoções em quatro tipos de respostas: primárias adaptativas, primárias desadaptativas, secundárias e instrumentais. Para melhor entendimento, iremos defini-las e explicá-las de forma resumida e a partir de quatro emoções que são comumente identificadas em clientes/pacientes na clínica (medo, raiva, tristeza e vergonha).

Todas as definições a seguir estão baseadas no livro ‘Terapia Focada nas Emoções’ de Greenberg (2015).

As emoções primárias são as principais respostas das pessoas às situações. São nossas primeiras respostas viscerais fundamentais, mais imediatas e podem ser adaptativas ou desadaptativas.

  • Adaptativas: são emoções automáticas nas quais a avaliação implícita, expressão emocional verbal ou não verbal, tendência à ação e grau de regulação da emoção se ajustam à situação do estímulo e são apropriados para preparar o indivíduo para a ação adaptativa no mundo.
encurtador.com.br/cwAG2

 

  • Medo: o medo adaptativo tem a função de garantir a sobrevivência dos indivíduos, nos mantém informado sobre a presença de perigo físico imediato, tendo esta emoção caráter transitório.
  • Raiva: a raiva é um sinal de que seus sentimentos estão sendo invadidos, feridos, de direitos violados, desejos ou necessidades não estão sendo atendidos ou seu progresso em direção a uma meta está sendo frustrado. É adaptativa diante de alguma situação momentânea e a incapacidade de lidar com esta emoção pode levar a sentimentos de ineficácia, desesperança e falta de sentido. A raiva pode ser ativada por pensamentos conscientes, mas na maioria das vezes é evocada sem pensamento. A consciência da raiva e a expressão da raiva são, portanto, duas tarefas totalmente diferentes e requerem habilidades diferentes. Uma sequência frequentemente observada na terapia é a culpa ou a ansiedade secundária sentida pela raiva primária.
  • Tristeza: essa tristeza saudável é livre de culpa e é frequentemente uma das emoções mais duradouras. É um estado que geralmente pode aparecer como um breve momento incorporado no complexo processo contínuo da vida. É caracterizada por um tipo de sensação momentânea de perda, mágoa ou sentimento tocado por um adeus ou um final. Pode-se sentir a tristeza passageira da rendição ou tristeza de desistir de uma luta e aceitar o inevitável. Em outros momentos a tristeza pode ser sentida profunda e totalmente; as pessoas choram com a perda e compartilham sua tristeza ou decepção.
  • Vergonha: está relacionada ao senso de valor de uma pessoa; ela faz com que a pessoa queira se esconder. É uma emoção adaptativa se for sentida em resposta a violações de padrões e valores pessoais implícitos ou explícitos (ex.: vergonha por se envolver em comportamentos desviantes; por uma perda de controle em público; por ser um pai abusivo). A vergonha adaptativa ajuda as pessoas a não se afastarem do grupo, pois protege simultaneamente a privacidade e mantém a conexão com a comunidade. Ela também informa que alguém está muito exposto e que outras pessoas não apoiaram ou não apoiarão suas ações, que violou uma norma social muito básica ou que violou padrões ou valores que reconhece como profundamente importantes.
  • Desadaptativas: emoções desadaptativas são aqueles velhos sentimentos familiares que não ajudam as pessoas a se adaptarem às situações atuais. As pessoas sofrem muita dor com elas. Essas emoções podem surgir através de sugestões externas.
encurtador.com.br/gnX23
  • Medo: o medo e ansiedade são emoções que operam de forma tácita. Surgem das nossas primeiras experiências. Na ansiedade o medo passa a ser sentido na mente ocorrendo em situações simbólicas, psicológicas e sociais em vez de perigo físico iminente. Sendo este uma emoção desadaptativa, se torna uma resposta à incerteza gerando ansiedade nos indivíduos.
  • Raiva: a raiva do núcleo é inadequada quando não funciona mais para proteger uma pessoa de danos e violações ou quando é destrutiva. Também surge em resposta à diminuição sentida da autoestima e causa muitas dificuldades interpessoais. Muitas vezes, a raiva desadaptativa das pessoas não é sobre quem ou o que elas estão com raiva; é sobre a necessidade não atendida. Uma vez que as pessoas entendem isso, elas podem começar a processar essa experiência, impedindo sua raiva. Quando as pessoas com raiva desadaptativa que sofreram violência no passado ficam com raiva, esta pode se tornar um gatilho para uma explosão.
  • Tristeza: a tristeza desadaptativa não busca consolo ou sofrimento; se transforma e leva a sentimentos de miséria e derrota. O doloroso estado de angústia pode ser evocado por uma rejeição percebida no presente ou até mesmo por se sentir impotente para curar a dor de um ente querido. Ser incapaz de curar ou remover a dor de um ente querido pode fazer com que uma pessoa sinta um profundo sentimento de desamparo e desespero.
  • Vergonha: dentre a variedade de formas que pode ocorrer a vergonha, a internalizada é a mais prevalente, onde alguém é tão maltratado que leva consigo a sensação de não ter valor. Um sentimento de vergonha doentio, sentindo que todo o eu é ruim, pode fazer com que a pessoa queira encolher-se no chão (“sou defeituosa até o âmago”). Um sentimento primário familiar de vergonha e inutilidade vem com palavras como: “sinto vontade de desaparecer”, “há algo errado comigo”, “eu simplesmente não sou bom”, “não sou tão bom quanto os outros”, “sou apenas um poço sem fundo de necessidades”. Esses sentimentos geralmente vêm de uma história de vergonha e fazem parte do sentido primário do eu como inútil, inferior ou desagradável. Se a pessoa tem um longo histórico de maus tratos e raramente recebe apoio, pode começar a acreditar que é inútil, que leva a um sentimento primário de vergonha no qual o eu é percebido como defeituoso. Vozes internas negativas e pensamentos destrutivos geralmente acompanham esses sentimentos, e a pessoa inexplicavelmente se sente instável e insegura, pequena e insignificante, defeituosa ou sem valor. A vergonha adere ao eu.

As emoções secundárias são respostas ou defesas contra um sentimento ou pensamento mais primário. São emoções desadaptativas.

encurtador.com.br/motu6
  • Desadaptativas: estão associadas a uma necessidade primária e são problemáticas porque muitas vezes obscurecem o que as pessoas estão sentindo no fundo. Elas são consideradas aquelas pensadas, usadas como defesa ou disfarce das emoções primárias.
    • Medo: ansiedade e medo secundário não provém de um perigo externo eminente, nem de uma emoção central de se sentir perdido ou inseguro. Sentimentos de medo e ansiedade surgem frequentemente quando as pessoas são ansiosas pelos seus sentimentos centrais: raiva ou tristeza. Ex.: Um indivíduo sente-se ansioso por medo de demonstrar raiva ou tristeza, podendo prejudicar seus relacionamentos com outras pessoas.
    • Raiva: a raiva secundária tem uma qualidade mais atroz e destrutiva e serve para afastar o outro ou obscurecer a expressão de emoções mais vulneráveis. Essa raiva mascara a impotência, a desesperança ou o desamparo. Não é empoderador e sua expressão não traz alívio ou promove o trabalho através da experiência. Ex.: um cliente pode se sentir sem esperança, mas esse sentimento pode realmente estar cobrindo um sentimento central de raiva. Homens que crescem sendo informados de que precisam ser fortes podem ter dificuldade em admitir seus sentimentos primários de vergonha; portanto, ficam zangados.
    • Tristeza: a tristeza é sentida em resposta a um sentimento de raiva Ex.: Um cliente diz: “Sinto-me tão triste, desanimado e sem esperança. Ele nunca escuta. Nada vai mudar”. Esse é um tipo de depressão, tristeza sem esperança e resignação que vêm de uma pessoa sentir que sua raiva não será ouvido, que não é válido, ou que ele não vai fazer um impacto.
    • Vergonha: emerge de visões negativas e sentimentos de desprezo que as pessoas têm de si próprias. As pessoas sentem vergonha de como se sentem; geralmente está relacionada à incapacidade de aceitar fraquezas e vulnerabilidades. Elas podem dizer para si mesmas: “eu sou tão inepto” ou “eu sou tão estúpido”; e isso resulta em vergonha secundária. Sentem que os outros os veem dessa mesma maneira e que os desprezam. Uma grande fonte de vergonha secundária para o indivíduo envolve imaginar que outras pessoas o julgam de maneira negativa; mas na verdade essas pessoas são como espelhos, onde o indivíduo projeta suas próprias visões de si mesmo sobre elas, ou seja, as pessoas geralmente sofrem vergonha por causa de suas próprias crenças. A vergonha secundária pode mascarar as emoções centrais de sentir-se triste, com raiva ou com medo.

As emoções instrumentais são a terceira categoria que aumenta a complexidade de separar as emoções. São aprendizados, comportamentos expressivos ou experiências usadas para influenciar e/ou manipular outras pessoas e/ou para obter um ganho secundário. Pode ser um processo consciente ou inconsciente. A emoção instrumental geralmente requer muita inteligência emocional do sujeito. A pessoa precisa ser bastante hábil para poder usar a emoção para obter uma certa resposta ou se comunicar em uma situação social.

encurtador.com.br/fwHKZ
  • Medo: é projetado para fazer com que as pessoas evitem assumir responsabilidades por si mesmo, fazendo com que outros o protejam. “Brincar” de ter medo ou desamparo é feito para evocar cuidados. As pessoas também podem demonstrar medo como um meio de tentar impedir que outra pessoa fique zangada com ela.
  • Raiva: são aprendizados, comportamentos expressivos ou experiências usadas para influenciar ou manipular outras pessoas. A raiva instrumental é como a de uma criança mimada, em oposição à raiva adaptativa primária, que faz parte do processo de luto mais profundo, que envolve tanto a tristeza de perder algo importante quanto a raiva de que as necessidades ou objetivos de alguém sejam frustrados (ou seja, “estou com raiva de que você não é o pai que eu queria que você fosse”). Exemplos típicos são a expressão de raiva para controlar ou dominar ou “lágrimas de crocodilo” para provocar simpatia.
  • Tristeza: uma expressão instrumental comum de tristeza é quando alguém chora como forma de reclamar. Isso é pejorativamente chamado de “choramingar”. Ocorre quando as lágrimas são uma forma de protesto, expressando o quão mal tratado alguém se sente, com a esperança de que eles evoquem simpatia, apoio ou compreensão.
  • Vergonha: A vergonha instrumental ocorre quando, por exemplo, as pessoas fingem ter vergonha por não parecer socialmente apropriadas. Uma pessoa que finge ter vergonha de indicar que conhece as regras sociais e sabe que não está cumprindo, está habilmente usando a emoção para influenciar as opiniões de outras sobre ela. Mostrar vergonha para atingir uma meta não é muito comum e não se apresenta com tanta frequência como um problema.

“Deixar de lidar com uma ferida emocional deixa as pessoas com o equivalente a uma ferida emocional infectada, da qual o pus de intensa mágoa e ressentimento ocasionalmente escorre” (GREENBERG, 2015, p.233).

Referência

GREENBERG, L. S. Emotion-Focused Therapy: Coaching Clients to work thought their feelings. Second Edition. 2015.

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Janelas

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Da janela observa-se tantas coisas… O céu nublado, ensolarado, estrelado também. Vê-se os pássaros, as plantas a balançar, as pessoas entre tantos haveres…

De dia, da janela eu ouço os pássaros, sinto o vento a tocar meu rosto, vejo a luz entrar, as nuvens passarem a cada instante de um jeito diferente até o cair da tarde quando a noite renasce, ainda posso admirar as estrelas.

Às vezes perdida em meus pensamentos, sorrindo ou chorando, de raiva ou de alegria, da janela eu sinto o turbilhão de sentimentos que faz morada na minha mente como se ali fosse sua casa, e de fato é!

Eu sinto tanto o mundo lá fora que muitas vezes me pego a sorrir diante das sensações que se alojam desesperadamente em cada ponto que marca a minha vida nesse lugar que chamam de globo terrestre que gira e gira sem parar.

Lá de fora pensam, riem, choram, lamentam, reclamam, agradecem entre tantos outros sentidos. Mas o que ninguém sabe é o que se passa dentro das janelas de cada um que compõem essa jornada.

Houve um tempo em que o respirar me parecia um sufoco, uma raiva que precisava ser contida e nas várias sensações e recordações de uma alma viva dentro de um corpo de ser humano.

Nas constantes transformações em que essa esfera se encontra, o que de fato o que se constrói? Eu sei que é muito importante sentir, difícil de entender para uns… às vezes eu também não entendo.

De dentro da janela subsiste a dor escondia, a palavra ocultada, silenciada, o riso forçado, o amanhecer deplorado, um entardecer sem sentido e uma noite que cai como uma folha seca de uma árvore qualquer, é muitos as vezes quem se compõe aqui.

Do lado de dentro quantas lembranças boas, quantas risadas, quantos choros e quantas dores marcam as essas almas?

Quantas pessoas estão conectadas na mesma sintonia? No mesmo choro, no mesmo sorriso ou imersa em sua solidão?

Várias escutando o mesmo som, amando, comendo ou odiando e vivendo em infinitas possibilidades.
Não sei, nunca saberei a realidade delas, me perco nas minhas próprias, mas lúcida estou e tenho certeza que nem muita gente tem a janela pra olhar por fora ou lá fora, mas com certeza entre os muros que as separam existem no íntimo tantas coisas que por dentro desses muros com janelas ou sem que o universo desconhece e que talvez nunca irá conhecer… Porém ruim ou bom encontram-se conectados na mesma reciprocidade dos seus sentidos.

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Hoje o sentimento é raiva

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O sentimento de hoje é raiva…

Por ter me dado de mais, por não ter sido bem recebida, por descaber num abraço!

Tenho raiva e sei que raiva é um sentimento hostil, sei também que é um gasto de energia desnecessária para alguns.

Tenho raiva de ter dado a minha alegria para quem não merecia. Ter dado a minha dedicação e o meu amor.

Tenho raiva por ter deixado de ser libertina, pra ser algo e instrumento de alguém, uma marionete.

Tenho raiva das declarações, das promessas, dos apelidos carinhosos, das flores, perfumes, dos cartões de amor.

Tenho raiva por tudo isso ser leviano, de ser profano e de ter aceitado ser barganhada por palavras que não valiam nada.

Tenho raiva por não ter cuidado de mim e ter permitido que me fizessem atrocidades desmerecedoras.

Estou quebrantada. Humilhada. Ridicularizada. Deixei que um qualquer me apunhalasse as costas porque eu não queria olhar pra trás!

Dedicação… eu tenho raiva disso. De ter me dedicado a quem me dava tão pouco e que eu insistia de mim mesmo em dar mais.

Por hoje eu sinto raiva por deixar-me adoecer as emoções, e despreparada eu caí na minha própria desilusão e não deu pra amortecer meu coração.

Busquei um ideal, cavei minha própria sepultura, mas apesar de me sentir morta eu não morri. Mas por hoje é raiva que eu sinto!

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Ressentimento: outro olhar sobre o tema

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Psicologia em Debate é um evento que acontece semanalmente (quartas-feiras) no Ceulp/Ulbra. A palestra do dia 08/03/17 foi ministrada pelo acadêmico Lenício Nascimento, com tema: “Você é uma pessoa RESSENTIDA?”. O embasamento teórico veio do conceito do filósofo Luiz Felipe Pondé. O acontecimento teve a participação dos alunos e alguns professores, ocorreu na sala 203, às 17h, prédio 2.

Então, ao entrar na sala, me deparei com um movimento maior do que o normal, abalizado na minha experiência, acredito de antemão, que este assunto mobilizou grande parte das pessoas. Particularmente, fiquei extremamente intrigada com o tema ressentimento na concepção de Pondé. Se formos analisar o significado da palavra ressentimento, segundo Minidicionário Aurélio, […] mágoa, ofensa, melindre, raiva (SCOTTINI, p.401).

Fonte: http://zip.net/bxtH4M

Mas, o ressentir na minha humilde opinião (senso comum), como também diz respeito a mágoa, (angústias/amarguras), entendo como algo que envolve sentimentos mais intensos, com grau maior de dor e sofrimento, e que vem de alguém que é parte de você, ou seja, a família, ou pessoas que lhe são íntimas/importantes. E isso não acontece a todo momento.

Entendo que não sentimos mágoa de quem não amamos, sentimos raiva, tristeza, mas logo passa. Já a mágoa não! Ela perdura por toda uma vida, se não for elaborada. Compreendo que, não vem de qualquer pessoa, precisa que os lações sejam estreitos para que haja ressentimento. Sendo resultado de algo mais profundo. Não posso dizer que seria algo intrínseco do ser humano, penso que alguém possa passar pela vida sem ressentir.

Entretanto, para Pondé, a inveja é um dos fatores do ressentimento, vamos então para o significado desta palavra. “Vontade de possuir algo, de ser como outrem, e não conseguir, sentindo por isso depressão; cobiça de obter coisas (SCOTTINI, p.256). Minha intenção não é discordar, e sim tentar entender. Durante a palestra, fiquei instigada a trazer minhas considerações, mas percebi que seria uma viagem de minha parte, pois minha concepção a cerca desta temática, tem a ver com minhas experiências, relatos de outras pessoas.

Fonte: http://zip.net/bjtG7F

Para tanto, saí do Psicologia em Debate com muita vontade de entender melhor sobre ressentimento na visão deste autor. Com intuito de ampliar meus conceitos, e sair do senso comum, fomentar melhor minhas conclusões a respeito do tema, como também avaliar minhas inquietações, pois a palestra me mobilizou, ou seja, tirou-me da zona de conforto, posso assim descrever. Talvez o ressentimento é mais simples do que posso imaginar, e quem sabe posso dar a este sentimento o que acho que cabe a ele, algo para refletir!

Os meus questionamentos foram compartilhados por alguns nos corredores da Ulbra, pois este autor nos surpreendeu. Cabe esclarecer que, ainda não sei na íntegra o que Pondé relata em seu livro, quero aqui destacar minha vivência no dia do evento, sem que ela seja alterada (com a leitura do livro). Respondendo ao tema desse relato, não sou uma pessoa ressentida, esse sentimento não cabe no meu coração, eu não planto, não adubo, e não rego o que me faz mal. A importância que dou aos meus sentimentos ruins, são os únicos que cabe a eles, não mais que isso.

 “Deus”, me permite passar pela vida sem ressentir com quem quer que seja.

REFERÊNCIAS:

SCOTTINI, Alfredo. Minidicionário Escolar da Língua Portuguesa. Edições TodoLivro. Blumenau, 1998, p. 256,401.

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