No quintal do CAPSi: devir-criança e os cuidados na atenção psicossocial

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O trabalho relata a experiência de um CAPS infantil em São Paulo, versando sobre a importância dada ao brincar, ao ser-criança-além-do-diagnóstico, seja ele médico ou de outras especialidades. Como meios de ação, contamos com diferentes dispositivos da Atenção Psicossocial para evitar o fechamento de um modo de existência em um parâmetro de (a)normalidade.

Estes dispositivos podem ser investidos visando certa “resolutividade dos conflitos” ou “eliminação dos sintomas”. No entanto, destacamos a aposta em algo que escapa aos saberes e técnicas: o ato de “criançar”.

A aposta se funda na ideia do “lá em casa”, do “aconchego”, do “tem lugar pra isso também”, ou seja, em algo para além da Psiquiatria Reformada (que sairia do atendimento individualizante medicamentoso e passaria a atuar de maneira análoga), passando para a Reforma Psiquiátrica em seu viés contemporâneo que tem como um dos principais alvos de enfrentamento os manicômios mentais que cotidianamente questiona “é normal uma criança fazer isso?”.

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Como exemplo, apontamos os cuidados oferecidos às crianças e adolescentes com transtorno do espectro autista. Para eles, geralmente, oferece-se grupos de estimulação, linguagem, atividades de habilitação para a vida cotidiana, atendimentos do usuário e família, medicamentos, parcerias com a Rede e com as escolas.

Todas estas modalidades de atendimento são importantes e produzem efeitos. Apontamos, porém, outra dimensão da nossa aposta ética: o criançar, que consiste em proporcionar experiências da infância dita “normal” àqueles que apresentam limitações singulares e que, muitas vezes, são privados do brincar, do correr, do se lambuzar, do Serestar-Criança.

A estas experiências, oferecemos um espaço de cuidado (com a presença de técnicos e familiares), para que cada experimento potencialize o devir-criança, que neste caso, é a criança que brinca, cria, pergunta, aprende, (que se) descobre, que (se) afeta.

Nestas experiências, trazemos à cena, o quintal de casa, o banho de mangueira, o futebol de sabão. Experiências singulares e corriqueiras da vida que garantem o seu desenvolvimento e o seu convívio com as diversidades. Coerente com esta lógica, o espaço é compartilhado por crianças ou adolescentes e não por sujeitos que se representam pelas suas hipóteses diagnósticas.

Esta lógica aponta para a superação de um paradigma normalizador que proclama uma infância asséptica, protegida dos riscos e das possibilidades que a vida oferece.

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A construção do fazer psicológico na saúde mental

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Há pouco mais de uma década, com a elaboração e implantação da Lei da Reforma Psiquiátrica Brasileira (Lei 10.216/2001) em que estão previstas ações que viabilizam a substituição progressiva dos hospitais psiquiátricos, ditos manicômios ou hospícios, por serviços que ofereçam atendimentos/tratamentos humanizados aos portadores de sofrimento psíquico, observa-se que há uma demanda pela desconstrução de aspectos instituídos socialmente: o preconceito frente à loucura e a consequente exclusão do “louco” do meio social.

Para compreender a relação que a sociedade estabelece com a loucura é fundamental pensar que, historicamente, as pessoas que apresentavam transtornos mentais não eram escutadas por aqueles que as atendiam, não havendo espaço para a fala, pois não eram reconhecidos enquanto sujeitos de direito. A morte, a exclusão, o isolamento, a tortura e a medicação desmedida foram os tratamentos adotados para o controle dos que eram vistos como perturbadores da ordem. A ciência procurou tratar reduzindo o paciente a uma produção de sintomas, a um ser sem subjetividade.

Embora essa ainda seja a realidade cotidiana de quem sofre com transtornos mentais, o lugar que a loucura ocupa na sociedade contemporânea sofreu transformações significativas graças aos movimentos sociais, a participação dos usuários e seus familiares e da marcha dos trabalhadores da saúde.

Dentre essas mudanças está a relevante contribuição da Psicologia que propõe romper com os paradigmas excludentes, demonstrando que o portador de sofrimento psíquico tem subjetividade desde que se possibilite o acesso: inserindo-o no seu processo de tratamento, considerando-o um sujeito de desejo e criando um espaço para escutar o seu sofrimento, ou seja, deslocando a atenção da doença para o sujeito. O usuário da saúde mental passa a ser um protagonista de seu tratamento, conhecendo o seu sofrimento e dando voz aos seus desejos.

A intervenção psicológica realizada junto a um usuário da saúde mental exige uma atuação diferenciada do profissional, já que terá de atuar de forma interdisciplinar, dialogando com as mais variadas áreas; destinando uma escuta ampliada, integral e abrangendo o seu contexto de convívio. Mesmo assim é possível estabelecer uma clínica do sujeito, valorizando sua história, fazendo advir o sujeito desejante e tornando-o ativo participante nas escolhas que irão repercutir no seu modo de vida: passa-se não mais a trabalhar com o conceito de cura para viver em sociedade, mas com a promoção de saúde.

Nesse sentido, a escuta do psicólogo direciona-se não ao sintoma do sujeito, como outrora, mas ao sujeito do sintoma em que escutar torna-se um dispositivo capaz de sustentar o lugar social e singular do mesmo.

O profissional deve acolher os sons, as falas, as formas, os atos, afirmando que há ali um sujeito com algo a dizer e a fazer, interessando-se por esse algo e esforçando-se por buscar um sentido nesse fazer. Trata-se de uma clínica que está em constante produção, transformação, criação e invenção, e isso depende fundamentalmente do desejo do profissional: ser um explorador movido por seu próprio desejo.

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Labirinto de Sensações: você não imagina, sente

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Coelhinho e coelhinha me convidam para o labirinto das sensações1.  A entrada do espaço é permeada de preservativos de todos os tipos, tamanhos, cores e sabores 2.

Foto: Divulgação

Ao entrar, me deparei com uma morena, alta, sexualmente maquiada e fantasiada de policial. Me vendou e solicitou, gentilmente, para pegar no que ela dispunha na mão: não sei o que era mas era espinhento, como se fossem feridas em algo roliço. Após, pediu para apontar o dedo indicador ao chão e lá foi mais uma sensação de estranhamento, uma gosma estranha com pequenos resquícios de algo ruim. Aí veio a explicação: órgãos sexuais com doenças sexualmente transmissíveis. “Assim que são órgãos com DSTs. Portanto, se há corrimento, cheiro forte, bolhas e feridas, procure o médico e faça o acompanhamento completo”. (isso em voz sexy)

Próxima: cowboy com discurso nada romântico chama para uma rapidinha: fomos até um painel com fotos de 5 mulheres e 5 homens (todos esculturalmente sedutores). Me pergunta “com qual deles você transaria a noite inteira?”. Escolho alguém e recebo a notícia de que, na situação proposta, o sexo de madrugada foi sem camisinha e, abaixo da foto, a nota: negativa. “Sorte a sua de ele não ter HIV hein? Mas essa sorte pode não te acompanhar a vida inteira. Então, independente da parceria, use sempre a camisinha”.

Andando mais um pouco, um casal com pequenas roupas me venda e fala ao ouvido para unir dois dedos da mão direita e aproveitar a sensação. Em meio a gemidos e vozes sexualizadas, me colocam um preservativo masculino nos dedos e pressionam, assopram e chupam. “Está sentindo? Mesmo com camisinha, a sensação é boa, não é? Dá pra usar o preservativo e sentir prazer. Não tem desculpa: previna-se”.

Cheguei em outra parte do labirinto e a moça fantasiada de enfermeira (ok, todos já entenderam que todos são sexy, certo?) pediu pra eu fazer biquinho e beber o líquido no copo. Bebi. “Ops, você bebeu líquido sexual”. Obviamente não era mas a intenção valeu. O susto foi grande. E me explicou líquidos que transmitem DSTs, os que não transmitem e de quais formas isso acontece. Muito instrutivo sentir na pele.

E finalmente, o último casal me abordou e pediu pra sentar na poltrona. Perguntaram se já havia chupado hoje e me vendaram. Pediram para abrir a boca e pôr a língua pra fora. E eis que o pirulito surge. De tutti-frutti. Tiraram a venda e me informam: “você pode chupar porque é gostoso mas sempre com camisinha. As DSTs são transmitidas pelo sexo oral então cuide todo tempo”.

Foto: Divulgação

Acabou e saí. Fui embora com o pirulito na boca e sensação de… ah, enfim! Você devia ter sentido.

 

Nota:

1 desenvolvido pela Cia Paulista de Artes, de Jundiaí/SP.

2 Espaço montado na IV Mostra Nacional de Experiências em Atenção Básica – Saúde da Família.

 

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Negociando com a loucura por meio da arte

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O artista tocantinense Sérgio Lobo conta que, desde a infância, gostava de pintar e desenhar. Por motivos pessoais, a vida o levou por outros caminhos: formou-se em Licenciatura Plena em Letras – Português e se pós-graduou em Língua Portuguesa e Literatura. Tornou-se professor. Dores físicas, depressão e ansiedade o ausentaram da profissão. Então, ele começou a negociar com a loucura.

(Obras do artista visual Sérgio Lobo)

“Espírito inquieto e criador”. Assim que Vone Petson, curador da última exposição do artista, o define. O (En)Cena entrevistou o artista visual e indagou sobre o processo de novas escolhas durante um período da vida e como isso se deu.

(En)Cena –  Em 2012, você escreveu um Ensaio para o (En)Cena contando um pouco de sua situação de depressão e ansiedade. Lá, você conta que não leciona mais. Por que você parou de ministrar aula? O que te fez tomar essa decisão?

Sérgio Lobo – Parei de lecionar por determinação médica. Depois de fortes dores na coluna tive que me ausentar do ofício de ser professor, fiquei muito tempo em casa me recuperando, fazendo fisioterapia e acompanhamento médico, quando tive que retornar para sala de aula, tudo voltou, tive uma ojeriza só pelo fato de pensar em voltar. Então, tive crises de ansiedade e depressão, tive que ficar de licença médica outra vez. Até então, eu achava que daria conta de superar sozinho a “barra”, mas não aguentei. Procurei ajuda especializada e tive a graça de conhecer o psiquiatra Dr. Wordney Camarço e passei a fazer terapia com o psicólogo Dr. Daniel Marques. O médico solicitou um remanejo de função a Junta Médica Oficial do Estado, o que geralmente demora muito, enquanto eles não deferiram o pedido eu ficava em casa. O que não ajudava muito na minha recuperação, porque me sentia um inválido. A minha esposa trabalhando, a vida passando e eu querendo ser “aproveitado” em outra função que não fosse sala de aula, porque achava que ainda era capaz de fazer alguma coisa útil. Até que fui remanejado de função.

(En)Cena – Como você descobriu a pintura na sua vida? Como foi o processo inicial de buscar essa forma de arte para reabilitação?

Sérgio Lobo – Desde criança gostava de desenhar, na adolescência fiz alguns cursos de desenho e fui aluno ouvinte de um Mestre Holandês no curso de Arquitetura e Urbanismo na UFPA, na disciplina Plástica I. Sempre fazia desenhos e amizades com outros desenhistas… em Brasília onde morei e depois em Belém, conheci pintores já famosos e desenhistas. A minha vontade era fazer um curso superior na área, mas as constantes mudanças de cidades fizeram com que eu me afastasse do meu objetivo. Em Palmas, conheci amigos que trabalhavam na área. Então, participei de curso de escultura com a profª. Sandra Oliveira, cursos de desenho e pintura, cursos de História da Arte todos no Espaço Cultural. A pintura começou aqui em Palmas. Depois fiz curso desenho e pintura na falecida Galeria Magenta, com o Prof. Antonio Netto. Em 2011 com o meu problema e como não tinha nada a perder, resolvi desenhar e pintar. Posteriormente entrei na AVISTO (Associação dos Artistas Visuais do Tocantins) e passei a conhecer mais de perto os artistas, os seus problemas e anseios.

(Autorretrato de Sérgio Lobo)

(En)Cena – Como a arte em pintura te auxiliou a ver uma nova fase na vida?

Sérgio Lobo – Sempre tive vontade de trabalhar com artes visuais, mas as circunstâncias, o local e os acontecimentos em minha vida, fizeram com que eu desviasse… Fiz uma graduação e pós-graduação em outra área, me tornei servidor público, professor… casei, separei, casei, separei, tive filhos, bater ponto, ou seja, a velha “corrida de ratos”. E de tanto fazer o que não gostava, resolvi como terapia fazer cursos de pintura e tentar recuperar o tempo perdido… Isso foi um alento e um motivo pra permanecer na estrada e negociando a loucura. O próprio fato de fazer artes visuais no Tocantins já é uma loucura! Apesar de termos bons artistas visuais (desenho, pintura, escultura, fotografia…), não há incentivo governamental. A Galeria Mauro Cunha foi fechada em 2011 e nunca reabriram, o Tocantins é um dos únicos estado da federação que não tem uma galeria oficial. Faz 2 anos que o Estado do Tocantins não lança os Editais de Incentivo à Cultura, há uma política cultural ineficiente, além do fato de estarmos distantes dos centros culturais do Brasil. Mas, o desejo,  a persistência e o prazer no fazer artístico, no momento da criação é algo divino. Isso é o que nos move.

(En)Cena – E por que você escolheu a pintura abstrata? Ela te representa melhor?

Sergio Lobo – Eu gosto do desenho, pinturas figurativas, mas gosto também das pinturas abstratas. Geralmente, o artista que faz arte figurativa, não gosta de pintura abstrata e vice-versa. No meu caso, gosto de pintores abstratos (Pollock, Mabe, Antonio Bandeira, Marcos Dutra, Mahau…) e pintores figurativos (Miró, Françoise Nielly, Patrice Murciano, Voka, Marina Boaventura, Solange Alves, Costa Andrade…). Foi a proposta do Curador Vone Petson Coordernador de Artes plásticas do SESC que fosse uma exposição toda abstrata.

(En)Cena – A exposição Desvelar a Cor, que está em apresentação no SESC de Palmas, se baseou em alguma inspiração específica?

Sérgio Lobo – Não, mas na proposta do curador Vone Petson, que queria uma exposição só com telas abstratas. A proposta era desvelar, descobrir e experimentar cores e técnicas variadas até “acertar”.  É o que venho tentando fazer…

(Exposição Desvelar a Cor, de Sérgio Lobo que esteve até 19 de novembro  no hall do Centro de Atividades do SESC)

(En)Cena – Você recomenda a arteterapia, em especial a pintura, para reabilitação e tratamentos? Funciona?

Sérgio Lobo – Não cheguei a fazer arteterapia. Uso a arte como escape terapêutico. Tenho uma professora de desenho, a Norma Brügger que é Pós-graduação em Arte terapia pela UFG e conversamos sobre o assunto. Mas, sei e acredito no poder da arte para reabilitar e como tratamento. Recentemente li a biografia do Arthur Bispo do Rosário (Luciana Hidalgo) e como a arte foi fundamental em sua vida. Assim, como no final da vida do pintor Van Gogh, no hospício ele foi incentivado pelo seu psiquiatra a continuar pintando, alguns biógrafos dizem que foi um tratamento de “arte terapia” da época. Drª. Nise da Silveira incentivou os pacientes do Centro Psiquiátrico do Engenho de Dentro no RJ a expressarem através das artes as suas emoções… E surgiram belas obras de arte e podem ser vistas no Museu de Imagens do Inconsciente. Eu considero o desenho e a pintura uma meditação em movimento. É um autoconhecimento. Funciona.

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O humano, a loucura, a cidade

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Pagamos um preço alto por nossa condição de humanos. Angustiamo-nos com as coisas mais cotidianas: com a conta que está por vencer, mesmo sabendo que temos dinheiro para pagá-la; com a possibilidade de sol ou de chuva, mesmo impotentes em relação ao clima; com os filhos, quando os temos; e também com a falta deles, quando eles não vêm. Sofremos por tudo aquilo de incerto que nos cerca e, como não temos muitas certezas, sofremos por quase tudo. Temos medo também do que nos é certo. A morte, a certeza mais definitiva, apavora-nos.

Foto: Cristiano Mascaro

Por isso, enlouquecemos. A loucura é um fenômeno exclusivamente humano. Bichos não ficam loucos, pois enlouquecer é algo tão complexo que exige de quem o faz características só encontradas no pensamento do homem. Portanto, enlouquecer – de uma certa forma – é mais uma das certezas que temos. Se não é uma certeza para cada um de nós, o é para a humanidade como espécie. Não se conhece época ou cultura sem loucos.

Caminhando pela moderna cidade de Palmas, arrisco-me na escuridão das ruas (pela falta de iluminação pública) e no meio dos carros (pela falta de calçadas). Depois de notar que me esqueci, mais uma vez, de colar em minha camiseta uma faixa reflexiva para não ser atropelado, sentindo-me um alienígena e quase que pedindo desculpas ao mundo por minha atitude imprudente de voltar caminhando do trabalho para casa, decido andar pelas ruas internas das quadras. Lá, a cada vinte passos, preciso voltar a arriscar-me pela rua, já que vários moradores têm o curioso costume de estacionar seus carros sobre o passeio. Sem lugar, completamente sem lugar…

Mesmo assim, a caminhada me faz pensar. Entre um e outro susto, carros passando colados a mim, pergunto-me que espécie de espaço se está construindo aqui. Que cidade é esta em que não há lugar para gente?  Um motorista me olha com cara de poucos amigos. O pensamento mais que os pés, acostumados ao caminho de casa, divaga. Um automóvel entra em meu caminho, ou melhor, eu no dele. Ouço um xingamento. Penso em outras situações e, com pesar, noto que o trânsito é só mais uma – entre muitas – em que as pessoas, aqui, sentem-se como intrusas. Uma freada e outro xingamento. Penso agora nos que enlouquecem. Eu, que me considero quase normal, sinto-me sem canto. O que dizer dos que enlouquecem? Uma buzina quase me faz perder o foco. Onde estariam, a estas horas, os loucos daqui? Trancados em casa? Amarrados a uma cama de hospital? Medicados, trancados por dentro? Outra buzina. Sem lugar, completamente sem lugar…

A loucura foi acorrentada e afastada do convívio da cidade há cerca de 300 anos. Há duzentos, decretou-se que ela era uma doença. A partir daí, presa aos grilhões dos esquemas diagnósticos, a loucura pôde ser desacorrentada, mas permaneceu apartada da cidade, enclausurada no hospital. Foi lentamente deixando o manicômio após o advento das medicações que, se mal usadas, podem representar um novo aprisionamento, ainda que com lustrosas e modernas correntes. Hoje, com o desenvolvimento das diversas especialidades que se debruçam sobre a loucura, o louco parece dar mais um passo em seu longo e demorado caminho de volta à cidade. Contudo, cabe perguntar: em direção a que espécie de cidade o louco se encaminha?

Foto: Cristiano Mascaro

A cidade contemporânea, pretendendo-se eficiente e ordenada, não consegue, ao que parece, comportar a desorganização que a diferença em geral provoca. É como se houvesse, na cidade, um texto rígido a se seguir, sem possibilidade de rasuras. Toda nova escrita só pode ser admitida se não comprometer a ordem e a finalidade do texto como um todo. Mas, neste ponto, é importante uma observação: o ser humano, em geral, não segue textos e se os segue rigidamente, perde muito de sua humanidade.

Não é a toa que resolvemos um dia afastar a loucura de nosso convívio. Ao lado de razões de ordem econômica, decidimos manter a loucura longe de nossos olhos porque ela nos faz recordar uma daquelas certezas que nos angustiam. Conviver com o louco nos faz lembrar, de pronto, nossa condição de humanos e, tão só por isso, passíveis de enlouquecer. Portanto, negamos também nossa própria humanidade quando nos privamos do convívio com aquele que enlouquece.

E aqui, na jovem e modernosa cidade de Palmas, onde o espaço urbano possui um texto mas não conta histórias – porque quase não as tem para contar – o humano, coitado… Sem lugar, completamente sem lugar.

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Resiliência: da muleta para o triathlon

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Acidentes acontecem e quando acompanhados de sequelas físicas podem acarretar problemas de saúde mental, seja pela inatividade, por não aceitar a situação ou por outros motivos. No período pós-acidente, onde o paciente está em fase de recuperação, muitos deles precisam trocar sua rotina agitada por descanso e repouso. Nesse período, é fundamental que o paciente ocupe sua mente com outras atividades. Isso garante o bom funcionamento do cérebro e contribui para a preservação da saúde mental do indivíduo. Ser resiliente é importante.

A psicologia define a palavra resiliência como a capacidade de uma pessoa lidar com os seus próprios problemas, vencer obstáculos e não ceder à pressão, independente da situação. Em termos gerais, a resiliência é a capacidade de voltar ao seu estado natural, principalmente após alguma situação crítica e fora do comum.

Para mostrar que é possível mostrar resiliência em situações difíceis, o (En)Cena entrevistou Rafael Felipe, Analista de Comunicação, estudante de Publicidade e Propaganda e praticante de triathlon nas horas vagas. Em 2005 vivendo a plena juventude, Rafael sofreu um acidente jogando bola e depois de muitas complicações cirúrgicas ficou dois anos andando de muletas. Durante esse período, Rafael teve que abandonar todas suas atividades como trabalhar, estudar e praticar esportes, mesmo assim conseguiu manter sua saúde mental em perfeito estado.

Foto: arquivo pessoal

(En)Cena – Como era sua vida e suas atividades antes do acidente?

Rafael Felipe – Eu sempre pratiquei esporte como lazer. Jogava futebol, futsal, vôlei, tênis de mesa e nadava, mas nada com fins de rendimento ou algo parecido, apenas como lazer e diversão

(En)Cena – Em que ano foi o acidente e quantos anos você tinha? Como o acidente aconteceu?

Rafael Felipe – Foi em dezembro de 2005. Eu tinha 22 anos. O acidente aconteceu em uma noite de terça-feira, como era de praxe, fui jogar futebol society com meu irmão e amigos. Nos primeiros 10 minutos um rapaz que não conheço, por falta de perícia (habilidade mesmo), somado com a grama molhada da chuva, pulou em meu joelho. A pancada foi tão grande que o barulho foi gigante. Fiquei alguns minutos gemendo de dor. Meu primo chamou a SAMU, mas como o atendimento em Palmas é complicado, meu primo entrou com meu carro dentro do campo e me carregou para o hospital. Fui para o HGP que é bem complicado.

(En)Cena – Foi atendido no mesmo dia? Qual foi o diagnóstico?

Rafael Felipe – Fui atendido depois de muito tempo e minha mãe querer entrar com medicamento para dor. Fiquei algumas horas em uma cadeira de rodas. O primeiro diagnóstico falava que poderia ser uma ruptura ligamentar, mas fiz um raio-x que apenas mostrou que havia quebrado o fêmur bem na ponta, coisa pouca. Aí tive que fazer uma ressonância. Na época em Palmas não tinha, então dia 26/12 fui pra Goiânia e fiz a tal ressonância que confirmou a ruptura do Ligamento Cruzado Posterior e derrame da articulação devido a pancada e quebra do fêmur.

(En)Cena – Quais foram as consequências?

Rafael Felipe – Então, aí começam as complicações. Com a ruptura, deve-se de imediato fazer a cirurgia. Mas o médico ficou me enrolando por mais de 6 meses e eu fazendo fisioterapia. Por dois meses pela dor me locomovia com cadeira de rodas e depois sempre de muletas com um imobilizador de joelho que é de neopreme com barras de alumínio. Até que busquei uma segunda opinião.

(En)Cena – E a segunda opinião que você buscou constatou a mesma coisa?

Rafael Felipe –Não. Graças ao meu bom Deus o médico era bom e consciente. Falou que se ele fosse meu médico me operaria dias depois da lesão. Aí mudei pra ele. Ele foi muito ético, falou que eu tinha um médico e não podia ir direto pra ele. Eu falei “eu assumo e preciso resolver meu problema”. Fiz diversos exames até fazer as cirurgias.

(En)Cena – E ocorreu tudo bem nas cirurgias? Quais foram os resultados?

Rafael Felipe – Três dias antes da primeira cirurgia eu estava gripado e fui ao SAU. Falei pra uma médica e ela me receitou um medicamento forte. Tomei. Fiz os exames normalmente. Aí na primeira cirurgia a anestesia raquidiana deu rejeição com o medicamento que eu estava tomando. Então durante as 7h30 de cirurgia, todos os meus batimentos cardíacos ficaram acima de 175 por minuto. Só na hora da cirurgia que apareceu o problema. Acordei com aquele monte de aparelhos em volta de mim, caso meu coração parasse. Eu poderia ter morrido.  Mas como sempre falo, acho que bati na porta lá em cima e falaram: “putz, é o Rafael, ele é chato demais, manda de volta”. (risos)

(En)Cena – Deu tudo certo nessa cirurgia?

Rafael Felipe – Sim. No outro dia ainda internado foi feito novos exames que constaram que um dos pinos que foi colocado na minha perna, na verdade o tendão usado para ser o ligamento, rasgou. Ou seja, teria que fazer mais uma cirurgia. Porém isso era sexta à noite. O médico, devido ao problema no coração, só faria a outra cirurgia após a avaliação de um cardiologista. E pra variar aqui em Palmas tem uma máfia dos cardiologistas. Só tem um lugar que faz todos os exames e não funciona no sábado. Precisava dos exames para fazer a cirurgia no domingo cedo. Uma médica amiga conseguiu abrir o Cardiocenter no sábado pra me atender. Fiz os exames e não deu nada de errado. Foi apenas o medicamento que eu tinha tomado antes para gripe que causou o problema na cirurgia. Meu coração estava 100%. Aí fiz a cirurgia no domingo.

(En)Cena –  E como foi essa segunda cirurgia?

Rafael Felipe – Foi tudo beleza. Na segunda cedo o médico disse que eu estava há muitos dias no hospital e eu podia ir pra casa e ficar muito quieto. Mas é complicado. Chegando em casa, milhões de visitas e eu “quase não falo”. No mesmo dia à noite, em casa, comecei a sentir falta de ar e tive uma parada respiratória proveniente de uma embolia pulmonar. Na hora que minha mãe ligou pro meu médico, ele na hora mandou a esposa dele, pois pra minha sorte ela é pneumologista. E ele sacou na hora que deveria ser isso. Meu pai foi muito rápido também. Na hora que minha esposa falou pra ele que eu estava mudando de cor (risos), ele deu umas “porradas” em mim pra eu continuar respirando. Ele e minha mãe voaram para o hospital. Fiquei na UTI uma madrugada e parte do dia todo entubado. Fiquei uns dias no hospital e por 25 dias fiquei tomando anti-coagulante, uma injeção desagradável que dá na barriga. Aí depois disso foram mais 4 cirurgias mais tranquilas, mas todas com a tal anestesia chata.

(En)Cena – E depois de tudo isso, o que aconteceu que você ficou dois anos sem andar?

Rafael Felipe – Devido ter demorado a fazer a primeira cirurgia, o joelho criou um monte de coisas. Foram 6 cirurgias e cerca de 380 sessões de fisioterapia.

(En)Cena – Mas nesses dois anos você se locomovia de cadeiras de rodas, muleta ou de que forma?

Rafael Felipe – De muletas. Eu não conseguia andar pela dor e também porque perdi o movimento das pernas.

(En)Cena – O que mudou na sua rotina após o acidente?

Rafael Felipe – Tudo. Eu tinha uma vida bem ativa. Trabalhava, fazia faculdade. Vida bem agitada. Aí do nada, tinha que ficar paradão. Dependia dos outros pra fazer tudo. Nos primeiros dias, até banho era difícil.

(En)Cena – Como foi o desafio de viver com limitações durante o período pós-acidente? Quais eram suas principais dificuldades durante esse tempo?

Rafael Felipe – Nossa, eu que não parava, ficar na inércia em casa era bem complicado. Eu passei a maior parte do tempo em casa. E antes eu quase não ficava em casa.

(En)Cena – Psicologicamente, como você reagiu ao saber que ficaria sem andar por um tempo e não poderia ter a vida ativa que você sempre teve?

Rafael Felipe – A princípio parecia tranquilo. Mas com o tempo começou a pesar. Era um sentimento de impotência, de não poder fazer tudo que fazia normalmente.

(En)Cena – Você desenvolveu sentimentos como raiva, medo, angústia, tristeza, essas coisas?

Rafael Felipe – Eu sou muito zen. Fiquei sempre ansioso, isso sim.

(En)Cena – Em algum momento passou pela sua cabeça que você jamais poderia voltar a fazer suas atividades, como praticar esportes?

Rafael Felipe – Sim

(En)Cena – E quando você pensava nisso, o que imaginava? Que sentimentos você alimentava?

Rafael Felipe – Como te falei sou zen e sempre tive Deus comigo. Então sentimentos ruins foram poucos.

(En)Cena – E quais eram as expectativas médicas e as suas próprias expectativas?

Rafael Felipe – Então, depois de um ano que voltei ao normal, acabei virando amigo do médico e ele comentou comigo que não esperava que eu fosse voltar a ficar quase 100% como fiquei. E dei muito trabalho pra ele.

(En)Cena – Nesse período que você ficou inativo, você parou tudo? Inclusive faculdade e trabalho?

Rafael Felipe – Sim. Mas abre aspas, fiz minha filha (risos). Mas não podia trabalhar nem estudar. De manhã e tarde fisioterapia, mas na empresa eu não podia ir. Fiquei encostado pelo INSS.

(En)Cena – E o que você fez para passar o tempo, já que não podia fazer esforço físico?

Rafael Felipe – Comia e assistia filme (risos). Por isso cheguei a pesar 100kg.

(En)Cena – Estudos científicos revelam que para uma boa conservação mental, o indivíduo deve ocupar sua mente, para que ela esteja sempre trabalhando. Você não fez mais nada além de comer e assistir filme?

Rafael Felipe – Fiz sim. Como trabalho com computador, fiz vários projetos pela empresa do meu pai. Alguns freelas de publicidade mais voltados para web. Li alguns livros também.

(En)Cena – Qual foi o papel da sua família em sua reabilitação física e conservação da sua saúde mental?

Rafael Felipe – Fundamental. Apoio mais que 100%. Sem eles eu nem sei o que seria de mim.

(En)Cena – Após sua completa recuperação, que atividades você voltou a fazer? Começou algo novo?

Rafael Felipe – Em maio de 2007 fui pra Floripa assistir uma prova de triathlon e me apaixonei por aquilo. Mas com mais de 92kg era difícil. Aí comecei a nadar, pedalar e correr.

(En)Cena – Foi assim que emagreceu novamente e voltou ao peso normal?

Rafael Felipe – Exato.

(En)Cena – E hoje você pratica triathlon apenas por lazer ou profissionalmente?

Rafael Felipe – Por hobby, isso vicia. Profissionalmente nunca. (risos)

Fotos: arquivo pessoal

(En)Cena – Que dica você pode dar para os internautas no sentido de manterem sua saúde mental em perfeito estado, mesmo em situações semelhantes a que você passou?

Rafael Felipe – Ter fé e confiar no cara lá de cima, e buscar preencher a mente com algo.

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Diário de campo de uma psicóloga dos seus tempos capsianos

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Por nove meses gestei,
criei, aprendi,
mas na hora do parto,
parti.

Essa foi a estrofe que me saiu quando saí do CAPS no qual trabalhava.

Há 5 meses saí de lá. Trabalhei lá por 9 meses e estagiei por 1 ano. A partir da minha experiência nesse CAPS enveredei, talvez definitivamente, para o campo da Saúde Mental.

O estágio (e interesse pela SM) me direcionou a confeccionar uma monografia no tema, a participar de um projeto extensionista (que era o EnCena, do qual hoje sou colaboradora) e a participar de um projeto de pesquisa que analisava os processos de cuidado subjacentes à articulação da Saúde Mental e Atenção Básica. O ano de estágio foi um ano de muitas descobertas e quando me surgiu a oportunidade de trabalhar nesse CAPS onde havia estagiado, pensei no quão afortunada eu era por aquilo. Fiquei feliz também por constar que a proposta foi sustentada por minha postura enquanto estagiária. Assim, quando comecei a trabalhar, senti-me extremamente confortável e alegre em poder manter vínculos os quais eu realmente não queria desfazer, mas que com o correr das águas talvez não fosse possível manter. Com isso, abandonei minha ideia de mudar de estado e comecei a ser funcionária do referido CAPS.

E esse foi o primeiro impacto: a transição de estagiária para funcionária. Nunca tive uma maneira muito impetuosa de agir ou me impor e é claro que não seria dessa forma que eu faria com que as pessoas (colegas, usuários, estagiários) me vissem em minha nova função. Por vezes foi difícil contornar situações e relações, inclusive em meio a uma equipe que já estava – há um certo tempo – inflamada e cansada.

Minha postura (relativamente alheia) de estagiária, a qual me permitia tecer críticas fundamentadas (ou pelo menos pensar que tais críticas eram dessa forma constituídas) a respeito de um serviço que eu visitava duas vezes por semana, já não me deixava com o mesmo conforto de outrora. Vi-me várias vezes cedendo à comodidade da institucionalização enquanto ouvia vozes longínquas, que julgava ser de Costa-Rosa, dizendo-me para não ceder à tal comodidade ou comodismo e continuar criticando, ou melhor, argumentando sobre tudo o que fugia do paradigma que eu tinha estudado de maneira tão afinca.

E dessa forma fui trabalhando dia após dia, como uma formiga solitária que não queria virar uma eu-quipe, mas que também não abaixava a cabeça frente a ritos e regras já tão ferrenhamente cristalizados. Na maioria das vezes eu tecia comentários em reuniões técnico-administrativas que eram rebatados por outros comentários do tipo: “você não sabe de nada, está aqui há muito pouco tempo”. É claro que isso me desanimava um bocado e talvez é o peso causado pelo acúmulo de desânimo que nos adoece. Mas para o cansaço, há o descanso e para desânimo, há a luta. Eis, para mim, a noção de guerrilha e militância. E fiquei contente por sacar que enquanto eu estivesse promovendo incômodos, indagações e ou polêmicas, estaria sendo útil à proposta para a qual quis contribuir: a de tentar promover essa atenção de que tanto se fala.

Fiz contornos suaves. Meu jeito de agir era (e ainda deve ser) fluido e lento. Nunca afrontei posturas e propósitos, mas sempre devolvia perguntas frente à tantas certezas que me aparecia não sei de onde. Não acho que fui mal acolhida naquele serviço. Aliás, não acredito que o serviço no qual trabalhei não soubesse acolher. De certo que há formas e formas de acolhimento e algumas delas beiram o assistencialismo pai da dependência, mas disso tudo conta-se também a tolerância, o respeito e a paciência que alicerçavam os processos de trabalho e as relações ali estabelecidas. Eu olhava para os meus colegas, em sua maioria comprometidos, engajados e responsáveis, e via que enquanto as forças pareciam cessar e os métodos caducos e arcaicos já não faziam sentido, existia um doloroso embate em querer ser útil e não saber como sê-lo. Havia uma séria dificuldade em fazer o chi da criatividade rondar por aqueles ares.

Eu também fui muitas vezes arrebatada por esse embate. As questões referentes à dependência química e internações estavam em voga e o peso dessa demanda impedia-nos de olhar mais à frente e pensar de forma articulada, em rede. Aquele era um CAPS que queria dar conta de tudo sem saber que a melhor forma de fazer isso seria partilhando as demandas que chegavam torrencialmente.

A meu ver, minhas ações ocorriam micropoliticamente. Havia em mim uma sede muito grande, uma cabeça fervilhando ideias e uma necessidade de fazer com que tais ideias fizessem sentido para mais pessoas. Meu maior dispositivo não era a fala ou a persuasão. Pelo contrário, o que eu mais fazia era ouvir. Isso era o que eu oferecia porque era quase tudo o que eu tinha para oferecer.

Interessei-me também pelo estudo e pela escrita (além do artesanato pelo qual sou até hoje apaixonada. – As pessoas brincavam que eu era mais artesã do que psicóloga. Não sei até que ponto isso era um elogio ou uma depreciação -), e assim promovia grupos de estudos com funcionários e usuários. A partir disso conseguimos montar a biblioteca do CAPS e angariar incentivo a partir de um projeto de cultura e renda. Conseguimos também, no decorrer de um ano, muitas outras coisas que poderiam ser destacadas n’outro texto, mas nesse eu quis contar um pouco sobre a forma como me infiltrei no serviço – pois, como já disse, enxergava minha postura como fluida e suave. Nunca a enxerguei como superficial, pelo contrário, acredito que há como agirmos ‘rizomaticamente’ sem arrebatarmos, assim como podemos nos desnudar sem conseguir as repercussões esperadas. Eu adorava trabalhar naquele serviço. Havia um equilíbrio substancial entre: desafios a serem enfrentados e a singeleza dos vínculos. Sentia-me realmente rica, embora, vez ou outra, abatida. E esse equilíbrio era, para mim, a saúde que ondulava e se movimentava num espaço tão cheio de vida… de vida que ansiava a criatividade. Posso dizer, veementemente, que tive naquele CAPS uma gestação memorável, embora ao invés de ter dado a luz, tenha tido um aborto forçado.

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