E foram felizes para sempre… Essa frase curta e cheia de emoção foi o roteiro de muitas mulheres que cresceram com as narrativas vendidas pela indústria cinematográfica de Hollywood. Quem nunca suspirou com o filme Uma linda mulher, interpretada pela talentosa Julia Roberts, que fez um papel de garota de programa, até encontrar com o seu salvador e grande amor, Edward Lewis, personagem vivido pelo galã Richard Gere. Muitas mulheres cresceram com esse enredo, ao acreditar que depois de tanto sofrimento, será recompensada com um relacionamento cheio de amor.
Foi nesse contexto que muitas acreditaram no sonho do príncipe encantado, sujeitaram-se a vivenciar relacionamentos tóxicos, abusivos, acreditando que não encontrariam outra pessoa melhor. E para quebrar esse paradigma e resgatar a autoestima feminina, a escritora Avery Neal publicou a obra intitulada “Relacionamentos Destrutivos- Se ele é tão bom assim, por que me sinto tão mal?” (2018), no intuito de alertar o público feminino sobre os perigos e traumas de relacionar-se com pessoas manipuladoras.
Identificar situações de manipulação, reconhecer sinais de alerta sobre relacionamentos abusivos, bem como não entrar mais em uma relação desse tipo são algumas das abordagens do livro que pretende ajudar a trilhar um caminho feliz e saudável. A ideia da escritora é despertar a autoestima, bem como salvar vidas, haja vista que muitas mulheres são vítimas de violência doméstica. O Brasil está entre os países que mais matam mulheres, pelo crime de feminicídio, ódio e desprezo à figura feminina.
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Os homens também passam por relacionamentos abusivos, mas as mulheres são as maiores vítimas. Somente no ano de 2020 foram feitas mais de 100 mil denúncias de violência doméstica contra a mulher, pela Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos, pelo número 180. “Os padrões de qualquer tipo de abuso são semelhantes. Nunca vi um relacionamento fisicamente abusivo que também não o fosse verbal, emocional e psicologicamente” (Neal, 2018).
Neal (2018) aponta que pelo fato do homem ser fisicamente maior e mais forte que as mulheres, estabelece uma diferenciação de poder, “e as mulheres muitas vezes se sentem intimidadas em algum nível, mesmo que de maneira inconsciente.” Esse posicionamento explica porque as mulheres são vítimas de violência doméstica, e bem como os números são altos no Brasil.
Neal (2018) esclarece que existem diferentes tipos de abuso. “O abuso normalmente tende a acontecer de forma sutil e gradual, o que muitas vezes impossibilita a vítima em notar o comportamento abusivo do parceiro” (Neal, 2018). Por isso, a importância da construção de uma base solidificada de amor-próprio e uma alta estima saudável para pôr fim a esse ciclo abusivo. Por fim, “um relacionamento saudável é aquele que cura, é aquele em que os parceiros se respeitam, se amam, se apoiam e se encorajam” (Lauriano, 2020).
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Referências
Lauriano, Paola. Entre os relacionamentos saudável e abusivo: e “corte de névoa e fúria” de Sarah j. Maas(2020) Disponível em < https://repositorio.animaeducacao.com.br/bitstream/ANIMA/16258/1/TCC-Letras-2020-Paola-Lauriano.pdf>
NEAL, A. Relações destrutivas: se ele é tão bom assim, por que eu me sinto tão mal? São Paulo, Editora Gente, 2018.
Revista Conexão e Literatura. Relacionamentos. Artigo sobre o livro Relacionamentos Destrutivos- Se ele é tão bom assim, por que me sinto tão mal?” Disponível em < http://www.revistaconexaoliteratura.com.br/2018/04/livro-relacoes-destrutivas-se-ele-e-tao.html>. Acesso: 29, de out, de 2021.
Há alguns anos venho pensando sobre a importância da intimidade nos relacionamentos interpessoais. Percebo um esfriamento quanto ao respeito, quanto aos vínculos de afeto e de confiança, quanto à bondade no falar, quanto à compaixão pelo outro. A procura exagerada por satisfação, segurança, realização, sucesso, prazer imediato e evitação do sofrimento tem colocado em risco a convivência e a intimidade emocional. Sendo assim, brechas para um estilo de vida narcisista podem ser abertas e, inadvertidamente, se estabelecerem.
O comportamento de deletar tudo e todos que desagradam retira da pessoa a possibilidade de treinar para coexistir, lembrando que sou o que sou a partir do outro.
O que levaria uma pessoa a querer desenvolver a intimidade emocional em seus relacionamentos nos dias de hoje? E será mesmo que o comportamento é diferente de gerações anteriores?
Na atual Sociedade da Transparência, chamada assim pelo filósofo Byung-Chul Han, as ações são operacionais e uniformizadas, todos fazem as mesmas coisas e a comunicação veloz é rasa, o igual responde ao igual. O momento é de superficialidade, de desapego ao outro, de compromissos mantidos até que desagradem a alguém, de distância mantida confortavelmente para que a alteridade não se faça presente.
Recentemente, um documentário apresentado por três repórteres abordou o tema fake news. Viajaram por vários lugares do mundo para entrevistar quem produz fake news. Conversaram com um jovem da Macedônia e chamou a minha atenção quando afirmou: as mentiras são ditas porque tem quem pague por elas; as pessoas querem acreditar no que falamos. Achei que suas afirmações faziam sentido. Os critérios para discernir a verdade encontram-se confusos na Sociedade da Transparência
Com a confiança abalada, pode parecer às pessoas ser retrógrado falar sobre intimidade emocional uma vez que o novo jeito de relacionar-se sugere conforto. Há liberdade para expressar as mais variadas formas de intimidade, inclusive a intimidade sexual que no século passado isso era tabu.
Se as pessoas vivem no mesmo ambiente, passam horas juntas, mas não desenvolvem um relacionamento de intimidade emocional, tudo fica puramente funcional. Tarefas e atividades são executadas para alcançar objetivos; já o relacionamento afetivo pode adoecer. O assunto é instigante, mas quero manter o foco na intimidade emocional de forma mais abrangente.
A matriz de identidade emocional se desenvolve a partir das relações interpessoais, diz o psiquiatra e psicodramatista Moreno, autor da teoria sóciopsicodramática. O primeiro relacionamento se dá, geralmente, com os pais, cuidadores e com a família. É bom lembrar que a convivência pode gerar intimidade, mas conviver não é sinônimo de ter intimidade. O relacionamento de intimidade emocional tem a comunicação como sua principal ferramenta: conversar, dialogar, compartilhar sentimentos e sonhos, fazem parte da relação, assim como a empatia, a confiança, o respeito. Atualmente, o que mais atrai as pessoas é a convivência virtual nas redes sociais. Muitas horas são passadas diante do celular, tablete, computador onde assuntos são alinhavados com opiniões, encontros e confrontos. A exposição é fato e uma vez na nuvem, o privado pode tornar-se público a qualquer momento por descuido ou por algum hacker à espreita.
As gerações Y e Z nasceram a partir dos anos 80, início da era digital. Talvez, essas gerações pensem que a intimidade emocional não faz parte de suas necessidades. Afinal, o número de amigos, seguidores ou de visualizações muitas vezes impressiona. A intimidade digital oferece companhia online 24 horas. Sendo assim, pode-se deduzir que a solidão e a falta de companhia são para quem não tem um smartphone ao alcance. Algo certamente inconcebível para os nascidos na era digital. É possível viver sem um celular, sem estar vinculado a uma rede social? As redes sociais podem contribuir para a melhora da autoestima e confiança em si mesmos? Podemos dizer, sim! Desde que a comunicação entre as pessoas ultrapasse a realidade virtual e passe para o plano de encontro olhos-nos-olhos. Senão, os relacionamentos digitais correrão o risco de desenvolver relações de dependência, de estar continuamente online, imerso em outra realidade onde o outro é construído apenas a partir da subjetividade e da possível ação da família ina, isto é, dopamina, endorfina, serotonina e ocitocina, produzidos no organismo, segundo alguns estudos, por causa da crescente quantidade de likes, por exemplo.
São diversos os atrativos para que as pessoas se mantenham conectadas. Atrás da aparente distração inofensiva e encantadora, ofertas de gratuidade, empresas, usuários e plataformas, vendem dados, apresentam anúncios, propagam ideias específicas e oferecem promoções de serviços que serão cobrados. (Revista SUPERINTERESSANTE- Black Mirror; 2018). Seria opressora essa interferência na vida de redes sociais?
É grande a contribuição da neurociência para a compreensão do que ocorre no organismo humano ao vivenciar determinadas situações. São identificados neurotransmissores e hormônios produzidos. As emoções podem ser alteradas por excesso ou falta de determinado elemento bioquímico. Por exemplo, na depressão ou nos quadros distímicos, a serotonina e a noradrenalina estão num nível abaixo do satisfatório. A pessoa pode apresentar um desinteresse pelo outro e optar por um distanciamento prolongado; pode evitar pessoas e situações prazerosas por não se sentir atraída; pode passar horas e horas ligada nas redes sociais e ter a impressão de estar conectada ao outro. Mas, será mesmo?
Às vezes, sim. Alguns aplicativos são usados como ferramentas virtuais para prestar socorro e apoio quando as pessoas apresentam ansiedade e depressão. O chatbot Woebot, criado pela psicóloga Alison Darcy da Universidade de Stanford, oferece terapia virtual por AI, inteligência artificial. Alison diz: Woebot não é um substituto para um terapeuta em pessoa nem ajudará a encontrar um. Em vez disso, a ferramenta faz parte de uma ampla gama de abordagens para a saúde mental. A experiência do Woebot não mapeia o que sabemos ser uma relação humano-a-computador, e também não mapeia o que sabemos ser uma relação humano-homem. Parece ser algo no meio. O aplicativo servirá de ponte para o retorno à convivência social.
O psicólogo e psiquiatra austríaco Vicktor Frankl, autor da Logoterapia, diz que a essência da vontade humana é a vontade do sentido; e quando ele não é encontrado, o indivíduo torna-se existencialmente frustrado. Em consequência, a depressão, adição e agressão passam a fazer parte da vida. É crescente o número de pessoas que tenta ou comete o suicídio devido à depressão. A vida necessita de sentido. Para a geração i, do smartphone, do iPhone, do iPod, do iPad, ou do eu conectado, o vazio e o isolamento em si mesmo podem significar a falta de sentido existencial. O outro, virtual, não coexiste em sua realidade concreta. Um exemplo recente, que provavelmente será objeto de estudo, foi a polarização de opiniões na última eleição para presidente no Brasil. A cegueira para ver e escutar o outro dominou grande parte dos relacionamentos de intimidade emocional e/ou virtual. Gerou brigas, dissenções e isolamento em bolhas de iguais. As redes sociais podem entorpecer a geração i quanto ao sentir e relacionar com o outro se a imersão for exagerada.
O seriado da Netflix, Black Mirror, retrata de forma impactante os efeitos da vida espelhada na tela escura de um celular. Após cada episódio é preciso um tempo para refletir a realidade de um futuro que faz parte da atualidade em muitos aspectos. O anseio natural do ser humano está presente nas tramas como a busca de relacionamentos significativos, companhia, aceitação e validação. Sem querer dar spoiler de sensações, posso dizer que o final de cada episódio faz o silêncio interior parecer gritante. O ambiente, geralmente sombrio, impressiona, traz sentimento de frustração e estranheza, suscitando perguntas como: eu vivo isso? Meus valores ficaram reduzidos ao que é útil ou não para mim? A aparência vale mais que tudo? Curtidas, interesse em saber quem ou quantos curtiram são relevantes? A fluidez e a banalidade das relações são exemplificadas na maioria dos episódios. Fato é que as redes sociais não fazem as pessoas felizes e mais, podem adoecer quando os relacionamentos de intimidade emocional não estão presentes.
Alguns estudos sobre o comportamento na era digital apontam a interferência das redes sociais sobre a conduta e o sentido de ser. Alguns afirmam que há grande probabilidade de alguém sentir-se isolado após passar duas horas ou mais em redes sociais. A solidão na era digital é uma forma de solidão acompanhada (Filipa Jardim da Silva).
Sem o sol, não há corações aquecidos. Sem intimidade emocional não há laços nem vínculos. O livro O Pequeno Príncipe, lido por muitos na infância, adolescência ou juventude, narra um diálogo entre o Príncipe e a raposa, retratando bem o convite à intimidade. Após as apresentações, a raposa responde ao convite do Príncipe, que se encontra triste, para brincar.
– Eu não posso brincar contigo, não me cativaram ainda.
– Ah! Desculpa – disse o principezinho. Mas, após refletir, acrescentou:
– Que quer dizer cativar?
– Tu não és daqui – disse a raposa. – Que procuras?
– Procuro os homens – disse o pequeno príncipe. – Que quer dizer cativar?
– Os homens – disse a raposa – têm fuzis e caçam. É assustador! Criam galinhas também. É a única coisa que fazem de interessante. Tu procuras galinha?
– Não – disse o príncipe. – Eu procuro amigos. Que quer dizer cativar?
– É algo quase sempre esquecido – disse a raposa. Significa criar laços…
– Criar laços?
– Exatamente – disse a raposa. – Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu também não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativares, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo…
A intimidade emocional e a intimidade virtual podem exercer um papel importante, quando a relação conectar a necessidade humana de criar laços. Da necessidade nasce o outro, significativo, único porque foi cativado pelo sentir. Lembra a primeira relação do ser humano – a díade mãe e filho; A interação entre os dois tende a desenvolver o primeiro vínculo afetivo.
Em 1995, Sherry Turkle, professora na área de estudos sociais sobre ciência e tecnologia no MIT (Massachusetts Institute of Technology), publicava um livro que a colocaria na capa da revista Wired: Life on Screen era um retrato positivo do impacto do digital nas nossas vidas. Mais de 15 anos depois, Turkle mudou de opinião e a Wired virou-lhe as costas, quando em 2011 o livro Alone Together: Why We Expect More from Technology and Less from Each Other chegou ao mercado. Na obra, a autora escreve que, hoje em dia, o fato de sermos inseguros e ansiosos nas nossas relações e perante o conceito de intimidade, faz com que procuremos na tecnologia formas de viver relações e, ao mesmo tempo, formas de nos proteger delas. O problema da intimidade digital, diz Sherry, é que ela é incompleta: Os laços que formamos através da internet não são, no final, os laços que nos unem.
O interesse nos encontros, nas conversas e no convívio interpessoal fora do ambiente virtual será um desafio constante, hoje na era digital e nas eras seguintes. Não é possível saber o que nos aguarda. Cada vez mais os aparelhos, aplicativos, plataformas como o Facebook e Twitter e outros meios de comunicação virtual atrairão e farão de tudo para ter cativo o usuário. Espero que a vulnerabilidade, o frio na barriga, o desconforto de sair do lugar por causa de um novo encontro pessoal perdurem. Que a opção por desenvolver afeto por uma AI ou um desconhecido das redes não seja vista como a única saída para a sensação de intimidade. Que a aventura da intimidade emocional seja sempre do interesse das pessoas, seguindo na contramão da Sociedade da Transparência. Que o adaptar-se ao pouco tempo disponível para relacionar-se com as pessoas continue a ser precioso no desafio de manter e aprofundar a intimidade emocional. Como tudo em exagero faz mal, estabelecer os limites claros e firmes para o uso da internet é expressão de amor para consigo mesmo e para com o outro. Bem-vindos à era da intimidade emocional de todos os tempos!
“Quando pensamos em alma e ligações de alma, pensamos em intimidade.”(Dora Eli)
Ela amou de um jeito inestimável, foi leal ao que sentia.
Ela não foi leal às palavras que deveriam ser gritadas ao invés de escritas.
Ela foi o que queria ser, se preocupou, ajudou dentro do seu limite, mas calou.
Mas ela não sabia que sua forma de amar era imprecisa para alguém que não valia tanto a pena todo o seu esforço.
Ela percebeu tarde demais, que nem sempre roupas, perfumes, sandálias, lingeries, jóias e bons restaurantes era uma forma de amar, na verdade era apenas luxúria de mostrar para ela, que ela era o que ele queria a maneira dele.
Um rosto, um corpo e prazer ela foi, apenas isso e nada mais entre tantas outras moças que ele cortejava e fazia com que elas se sentissem abrilhantadas.
As palavras ditas da boca daquele homem era tão leviana quanto o seu caráter.
Enquanto ela achava que ele o engrandecia, a amava, na verdade ele a deixava mais pequena do que ela realmente era.
Não era jóia nem nada, nem brilhante, era uma pedra falsa que o ele chamava de amor. Não tinha luz própria e não brilhava, na verdade ele era quem a ofuscava.
Era tipo as luminárias de Natal, que brilha em uma determinada época do ano e se apaga um mês depois, e isso durou 7 anos.
Foram 2520 dias em que ela teve que sustentar-se ao abraço e o colo, ao amor que ela sentia, daquele que ela tanto confiava e como as mentiras demoraram a aparecer, com muito custo a verdade que sempre aparece, apareceu!
Imagino, ela que calou a voz por tanto tempo, ignorando tudo a sua a frente, até o que ela poderia ver e quando viu doeu, chorou, se despedaçou.
Quantas coisas deixou de falar, ocultou, oprimiu por achar que daquela forma ela o teria para sempre.
Mal sabia que para sempre era pouco tempo e com custo, mesmo que tantas vezes tentando tornar tão pequenos os detalhes, eles por si são os mais importantes e grandes demais para serem ignorados.
Ele era tão negligente ao que achava que escondia, e ela tão ignorante ao que estava bem na cara. E por fim o homem que se achava príncipe, mostrou que realmente era sapo e ela que achava que encontrara o amor de sua vida percebeu que tudo o que ele dava era somente uma mentira, uma mentira daquelas que doem mais do que a verdade.
Ela hoje está vivendo a sua dor, difícil de suportar, muitas vezes mentindo pra si mesma, achando que está muito bem. Silenciando o grito desesperador que guarda dentro de si. Esse grito que não aguenta mais ficar tão preso, não suporta mais ser acalentado. O grito que insiste em vencer aquela moça que acha que os dias bons são todos os dias.
Mas moça, olha bem, você não tem culpa por ser digna no seu sentimento, não tem culpa de não ser o que ele queria, não tem culpa de ser quem você é. E ser você é a melhor coisa que você poderia ser. Inesquecível e inestimável, você é a sua versão de mulher na vida. Você não precisa ser abrilhantada por ninguém, você já é a luz grandiosa e só falta você ver.
Vários autores desenvolveram teorias para compreender o contexto do sistema familiar, entre eles, vale ressaltar a terapia familiar boweniana. Bower desenvolveu a teoria a partir dos princípios e práticas psicanalíticas. Essa teoria compreende o comportamento humano de forma mais ampla, estendendo o enfoque além de outras abordagens de forma mais aprofundada. E assim moldou e continua a moldar o contexto familiar (NICHOLS; SCHWARTZ, 1998).
Nichols e Schwartz (1998) apontam que Bower foi o terapeuta familiar que mais esteve comprometido não apenas como método, mas procurando focar mais na teoria do que na técnica. Nesse sentido, Bower elaborou alguns conceitos que compõem sua teoria: diferenciação do self, triângulos, processos emocionais da família nuclear, processo de projeção familiar, processo de transmissão multidirecional e posição dos irmãos, rompimento emocional e processo emocional societário (NICHOLS; SCHWARTZ, 1998). O objetivo da teoria de Bower é: “reduzir a ansiedade e aumentar a diferenciação do self – nada mais persistente” (NICHOLS; SCHWARTZ, 1998, p. 323).
Fonte: http://zip.net/bqtLsR
Outro fator enfatizado, na teoria Sistêmica, pelas autoras Strey e Azambuja (2004), é que toda família tem suas histórias e segredos que se repetem de geração em geração. Histórias de amor, de dor, de conflito. E muitas vezes essas histórias devem ser preservadas apenas para os membros já outras podem serem expostas para a sociedade. No entanto, é importante que as situações negativas possam ser expostas, não para dar continuidade, mas para que sejam de uma vez por todas rompidas. É o caso das violências na família.
Nesse ínterim, a violência propriamente dita realizada com meninas, geralmente acontece por parte da figura paterna, seja ela sexual, corporal e/ou psicológica. Outro fator identificado é que a mãe, nessas circunstâncias, geralmente permite tal ação, e investigando mais a fundo, percebe-se que essa mesma violência ocorrera, também, com essa mãe. E essa violência oculta da mãe, só vem à tona, após o acontecimento com a filha. E assim elas não sabem lidar com a situação que se repete. Desse modo entende-se tal ação como a: transmissão transgeracional (STREY; AZAMBUJA, 2004).
Fonte: http://zip.net/bytKXt
A terapia sistêmica se baseia em conceitos normativos da família tradicional. Sendo assim, tal teoria ignora a visão de gênero e reforça o sentido de que o homem é predominante sobre o restante do grupo familiar. A teoria feminista, por sua vez, é uma crítica sobre esse ponto de vista da teoria sistêmica, pois ela defende a ideia oposta de que homens e mulheres devem estar estereotipados em seus papéis de gênero (STREY; AZAMBUJA, 2004).
O feminismo enquanto movimento histórico e político que ressurge nas décadas de 60 e 70, nos Estados Unidos, percebe-se como filosofia que reconhece que homens e mulher tem experiências diferentes. Denuncia, no entanto, que a experiência masculina é privilegiada, enquanto a feminina é muitas vezes negligenciada. O feminismo assinala as desigualdades entre homens e mulheres, escancarando as formas de opressão e os mecanismos de ocultamento das mesmas (STREY; AZAMBUJA, 2004, p. 154).
Fonte: http://zip.net/bdtKZn
Desse modo, concluem-se alguns pontos que desvelam as violências dentro da família. É marcado pelo autoritarismo que leva a compreensão de que o homem tem direitos sobre a mulher, e ela deve se submeter a isso, e mesmo com todas as mudanças da atualidade, ainda, é possível acontecer essa situação nas famílias, principalmente naquelas de baixa renda. E é essa prevalência histórica que faz com que a dominação do homem se sobreponha sobre a passividade da mulher, e a mesma se vê na obrigatoriedade de se submeter ao autoritarismo. E essa atitude histórica, em algumas famílias podem ser passadas de geração em geração, tonando-se um círculo vicioso (STREY; AZAMBUJA, 2004).
Vale destacar que a família é acompanhada de estágios que variam de acordo com a idade cronológica de seus membros. E o estresse familiar tendem a serem maiores nos pontos de transição desses estágios e, geralmente, os sintomas aparecem quando há interrupção no ciclo de vida familiar (CARTER, 1995)
Nesse ínterim, a autora considera o ciclo de vida familiar em relação a três aspectos, tais quais:
(1) os estágios predizíveis de desenvolvimento familiar “normal” na tradicional classe média americana, conforme nos aproximamos no final do século XX, e as típicas disputas clínicas quando as famílias têm problemas para negociar essas transições; (2) os padrões do ciclo de vida familiar que estão se modificando em nossa época e as mudanças naquilo que é considerado “normal”; e (3) uma perspectiva clínica que vê a terapia como ajudando as famílias que descarrilaram no ciclo de vida familiar a voltarem à sua trilha desenvolvimental, e que convida você, terapeuta, a incluir-se, e a seu próprio estágio de ciclo de vida, nesta equação (CARTER, 1995, p. 8).
Fonte: http://zip.net/bhtKDG
Outra importante teoria utilizada, na perspectiva sistêmica, é a teoria do apego, criada por John Bowlby teve início a partir da observação de comportamento, tendo como ponto de partida a teoria das relações objetais. Bowlby (1979/1997, apud RAMIRES; SCHNEIDER, 2010) define o apego como um vínculo em que a pessoa deposita total segurança em uma figura de apego, tendo a mesma como uma base segura.
O autor aponta, ainda, que:
“Como outros sistemas básicos, o de apego é supostamente pertencente a um processo de seleção natural, pois oferece uma vantagem em termos de sobrevivência, pelas chances de proteção obtidas pela proximidade das figuras de apego” (RAMIRES; SCHNEIDER, 2010, p. 26).
Martins-Silva et. al. (2003) afirmam que a teoria “se baseia na proposição de que a evolução da espécie humana equipou o ser humano com vários sistemas de comportamentos que aumentam a possibilidade de sobrevivência e o sucesso reprodutivo” (p. 23). Em consonância a isso, Bowlby (2002 apud MARTINS-SILVA et. al., 2003), revela que o sistema de apego é de extrema importância, pois permite bom desenvolvimento em outras áreas, tendo em vista que o apego promove a ligação do bebê com o cuidador, esse que lhe proporcionará segurança e proteção.
Fonte: http://zip.net/bmtKkD
A função dessa teoria é basicamente a relação de proteção da mãe-bebê, permitindo que a criança explore seu ambiente. E essa busca física procurada na mãe pelo bebê surge a partir do seu primeiro ano de vida permanecendo durante boa parte da infância (BOWLBY, 1969/1990 apud PONTES et. al., 2007).
Bowlby (1969/1990 apud PONTES et. al., 2007) destaca dois modelos de apego: seguro e inseguro. No apego seguro, o autor aponta que, quando ele é desenvolvido, resulta em aspectos de valorização, autoestima e boas expectativas. No apego inseguro possivelmente resultará reações de insegurança e desvalorização, seguidos de alguns comportamentos como raiva e agressão.
Mantelli e Pinheiro (2011) apontam que as relações íntimas são formadas pela proximidade física, formação essa que foi criada anteriormente no apego. Ou seja, dependendo do jeito como foi formado o apego, haverá influencia no relacionamento afetivo.
Apesar da busca de proximidade no adulto ser diferente e mais complexa que na criança, ela é similar e é facilitada pelo contato físico íntimo nos dois momentos do ciclo de vida (SHAVER, et. al., 1988 apud MANTELLI; PINHEIRO 2011).
Nesse sentido, Rodrigues (2009) ressalta que quando a pessoa torna-se adulta transfere esse apego para outra pessoa, seja um amigo ou parceiro afetivo, e nessa pessoa ela encontra seu novo apego. O autor também enfatiza que há evidências de que pessoas que desenvolveram o apego seguro, tem maior facilidade em desenvolver seus talentos e reconhecer suas habilidades, ou seja, as experiências de um apego seguro na infância resultam no apego das relações adultas.
Fonte: http://zip.net/bdtKZm
Percebe-se que há um vasto modo de explicar e compreender o sistema familiar por meio da perspectiva sistêmica, pois a mesma adere a diversas teorias e suas respectivas técnicas tendo como objetivo amenizar as tensões causadas por uma série de conflitos não resolvidos no seio familiar. Tensões essas que são geradoras de patologias e/ou transtornos que impedem o indivíduo de seguir uma vida tranquila e harmoniosa.
Referências:
CARTER, Betty. As mudanças no ciclo de vida familiar: uma estrutura para a terapia 73 familiar. Tradução; Maria Adriana Verissimo Veronese. 2ª Ed. Porto Alegre: Artmed, 1995.
MARTINS-SILVA, Priscilla de Oliveira; TRINDADE, Zeidi Araújo and SILVA JUNIOR, Annor da. Teorias sobre o amor no campo da Psicologia Social. Psicol. cienc. prof. [online]. 2013, vol.33, n.1, pp.16-31. ISSN 1414-9893. http://dx.doi.org/10.1590/S1414-98932013000100003. Acesso em: 29 de agosto 2016.
MANTELLI, Fernanda Lima; PINHEIRO, Maria Cristina Souza Mota. Apego nas relações intimas entre adultos: Uma visão Teórica. TCC (Graduação) – Curso de Psicologia, Faculdade Ruy Barbosa. Salvador, 2011.
NICHOLS, Michael P; SCHWARTZ, Richard C. Terapia familiar: Conceitos e Métodos. Porto Alegre: Artmend, 1° Ed. 1998.
PONTES, Fernando Augusto Ramos, et. al. Teoria do apego: elementos para uma concepção sistêmica da vinculação humana. Aletheia, n.26, p.67-79, jul./dez. 2007. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/aletheia/n26/n26a07.pdf. Acesso em: 14 de Setembro, 2016.
RAMIRES, Vera Regina Röhnelt; SCHNEIDER, Michele Scheffel. Revisitando alguns Conceitos da Teoria do Apego: Comportamento versus Representação?. Psicologia: Teoria e Pesquisa. Rio Grande do Sul, Vol. 26 n. 1, pp. 25-33, jan. 2010.
STREY, Marlene Neves; AZAMBUJA, Mariana Porto; JAEGER Fernanda Pires. Violência, gênero e políticas públicas. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004.