Sua história de amor: padrões que podem levar ao sofrimento
25 de maio de 2024 Laura Beatriz Alves Rocha
Livro
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O livro de Kelly Paim e Bruno Luiz Avelino Cardoso (2022) elenca a terapia do esquema no entendimento de padrões que estão presentes no modo de nos relacionarmos visando compreender a dinâmica do amor. Em algum momento da sua vida você já notou semelhanças entre as pessoas que você se relaciona? Que suas escolhas amorosas te levam a se relacionar com pessoas que têm as mesmas características? Os autores enfatizam que esse livro contribui tanto para profissionais quanto para o público em geral entender o que nos leva a essas escolhas.
Os autores ressaltam que as histórias de amor começam a ser escritas na infância, isso porque passamos pela aquisição dos esquemas emocionais que são desenvolvidos quando necessidades emocionais básicas não são supridas ou são supridas em excesso no decorrer do nosso desenvolvimento.
Ao modo que nossas experiências vão se repetindo e sendo armazenadas, começamos a acomodar informações cognitivamente e emocionalmente, isso acontece precocemente na experiência com nossos cuidadores. Além do comportamento dos nossos cuidadores influenciarem o nosso, é necessário considerar que aspectos socioculturais também influenciam.
Para os autores, esquemas disfuncionais são construídos a partir da vivência de experiências recorrentes carregadas de altos níveis de estresse e privações na infância e adolescência e que se perpetuam em toda vida da pessoa. Assim, na vida adulta quando deparamos com algo que se apresenta de forma ameaçadora, nos comportamos de três formas como estilos de enfrentamento que estão relacionados às respostas de sobrevivência da nossa espécie: evitação (fuga), hipercompensação (luta) e resignação (congelamento).
Evitação
A evitação é um estilo de enfrentamento que teria como intenção principal a proteção do provável sofrimento causado pelas relações. O indivíduo, por medo da rejeição, desamparo, abandono, abuso, entre outros, fecha-se emocionalmente e foge das relações. Entretanto, mesmo que a intenção seja defender-se de marcas dolorosas da história e memórias de experiências traumáticas de outras relações, o indivíduo revive as dores pelo padrão solitário estabelecido.
Hipercompensação
Nesse caso, a pessoa tem respostas comportamentais no sentido de impedir que os seus medos se confirmem. Então, o controle, o sufocamento, exigências exageradas sobre a outra pessoa e até mesmo abusos são utilizados, tudo para que as frustrações de vivências de insatisfação um dia já sentidas na sua história de vida não se repitam. Com esse tipo de postura, as outras pessoas não conseguem entender, validar, suprir adequadamente suas reais necessidades emocionais. Em muitos casos, essa estratégia afasta as pessoas do convívio e mantém a solidão.
Resignação
A resignação a padrões nocivos ou insatisfatórios de relacionamentos pode ser uma estratégia para não sofrer ainda mais, acalmando medos profundos de possíveis retaliações, desamparo e abandono. A busca assertiva por direitos e necessidades reais é temida, pois isso poderia gerar incômodo no outro. Contudo, atitudes complacentes e passivas alimentam a subjugação, a insatisfação e a sensação de estar sozinho(a) mesmo acompanhado(a) ou de que não pode ser você mesmo(a) e expressar-se naquela relação.
Paim e Cardoso (2022) salientam que vivemos em busca de suprimento das necessidades básicas e temos modos de funcionamentos que são ‘acionados’ como se fossem botões para cada tipo de situação, e o modo de funcionar tem a ver com alguma informação que faz lembrar de uma situação do passado, assim, você pode se sentir mais emocional, vulnerável ou inseguro e triste e também zangado e impulsivo. Segundo os autores, existe um modo criança feliz que é muito importante, onde se sente feliz e radiante que é quando você tem as necessidades de segurança, apoio, empatia, validação, cuidado, valorização, respeito, autonomia, limites, desejos e necessidades considerados, lazer, espontaneidade e expressão emocional legítima.
Os autores abordam um dizer popular que remete a escolhas amorosas frustrantes chamado “dedo podre”, mas explicam que é comum para muitas pessoas, pois a escolha amorosa acontece a partir do que nomeiam de química esquemática, que ocorre mediante ativação dos esquemas mentais e memórias emocionais dolorosas que foram construídos em nossa história de vida.
Ao longo do texto é enfatizado que a repetição dos padrões podem levar ao sofrimento, esclarecendo que pessoas podem escolher umas às outras com base em suas histórias, pois os esquemas são viciantes e resultam em repetições de padrões que culminam em situações angustiantes podendo levar a padrões destrutivos e traumáticos que podem ocasionar negligência, desvalorização, rejeição, violências, abandono, abuso, entre outras.
Para alento dos leitores, é possível haver uma mudança de rumo da nossa história, ou seja, você pode ter relações saudáveis, às vezes é necessário ajuda de psicoterapia, mas eles deixam algumas dicas essenciais como identificar os esquemas, se atentar as escolhas, assumir suas responsabilidades, transpor medos e romper com ciclos destrutivos, vencer sua crítica interna, ter atitudes mais saudáveis e alimentar a sua criança feliz.
Durante toda leitura os autores nos levam a reflexão para entendimento da construção da nossa história e dos esquemas que criamos a partir de então e como impactam na hora de escolhermos nossas relações amorosas. Um fator que se mostra indispensável é o autoconhecimento, pois assim poderá conhecer melhor a sua história de amor e aprender estratégias saudáveis para uma nova história onde se sinta acolhido emocionalmente.
Referências
PAIM, K.; CARDOSO, B. L. A. Sua história de amor: um guia baseado na terapia do esquema para compreender seus relacionamentos e romper padrões destrutivos. Porto Alegre: Artmed, 2022.
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A romantização da maternidade e as consequências de quem a vivencia
A romantização e até mesmo a naturalização da maternidade são fatores que podem desencadear consequências que impactam diretamente no bem estar físico e psicológico das mulheres.
A concepção de amor materno costuma estar vinculado a algo natural, ao passo que encontra-se correlacionado a essência e feminilidade da mulher, podendo complementar com o que a autora Resende (2017) traz “o tema do amor materno geralmente envolve uma série de associações condicionadas a sentimentos naturalmente positivos na condição de ser mãe, muitas vezes levando a uma divinização desse estado como algo abençoado pela natureza”.
Apesar disso, em seus estudos, Resende (2017) salienta que essa concepção em relação ao papel de mãe como algo relacionado ao afeto, só se torna evidente a partir do século XVIII, em que de acordo com a autora, as palavras amor e materno se tornam sinônimos nesse contexto, trazendo à tona os sentimentos em relação a esse vínculo e consequentemente como sentido para o papel da mulher enquanto mãe. Como consequência desse novo olhar para o papel materno, a autora traz a visão de Badinter (1985), em que é expresso que após essa mudança de paradigma, se torna incumbido para as mulheres o tornarem-se mães, alimentando assim, o pensamento de que toda mulher possui o desejo de maternar e como esperado, o amor incondicional pelo filho.
Enquanto mulher na atualidade, é percebido de maneiras “suaves” as formas pelas quais a sociedade tenta impor e/ou passar que a figura feminina “aflore” o lado materno, isso é possível notar por meio dos brinquedos dados para as meninas quando criança, como por exemplo, bonecas que trocam fraldas, que precisam alimentar ou vestir, brinquedos de panelas, fogão como forma de estimular o cuidado com as tarefas domésticas. Sobre isso, as autoras Marques et al. (2022) traz em seu trabalho que as meninas/mulheres são “transformadas em corpos dóceis onde prevalece a imagem de esposas e boas mães, que sabem cozinhar e cuidar da casa”.
“(…) em determinados contextos sociais as mulheres são naturalizadas em ambientes domésticos, nos quais a maternidade é considerada como uma condição do feminino e pode estar fortemente relacionada às questões identitárias da mulher, sendo considerada um dever. Historicamente, os homens não são instruídos a serem pais, mas trabalhadores, políticos, engenheiros, jogadores, bem como a constituir diversos atributos que reafirmem a masculinidade, como força e poder. Por outro lado, as mulheres, desde o seu nascimento, são ensinadas a serem esposa e mãe, são ensinadas a cuidar de bonecas como se fossem bebês, a cozinhar com panelas em forma de brinquedos e cuidar da casa; ou seja, o papel feminino é condicionado a características como pureza, delicadeza e fragilidade” (MONTEIRO; ANDRADE, 2018, apud Marques et al., 2022).
Apesar disso, as autoras Marques et al. (2022) pontuam que mudanças ocorreram e ainda ocorrem no contexto histórico e social trazendo mudanças sob a perspectiva do papel da mulher na sociedade, dando um novo espaço para a escolha ou não de exercer o papel de mãe. Mas, em contrapartida, ainda é possível encontrar mulheres em sofrimento ou experienciando a culpa pela cobrança em “formar uma família”. Isso se dá por meio dessa romanização e tentativa de naturalizar que a vida da mulher se baseia em “nascer, crescer, casar e ter filhos, netos e assim por diante”, sendo essa, uma cobrança para aquelas que não o deseja (MARQUES et al., 2022).
Para Tourino (2006), muitas se culpam por não se sentirem ou não agirem de acordo com os modelos valorizados na sociedade, por ocasião das normas inconscientemente internalizadas que se reproduzem através das gerações, integram a subjetividade feminina e modelam papéis (apud MARQUES et al., 2022).
Quando uma mulher se recusa a viver o processo de maternar, Marques et al. (2022) evidencia a visão de alguns autores que, normalmente são aquelas mulheres que geram estranheza ou até mesmo “choque” na sociedade, pois de acordo com a autora, seria como deixar o feminino “morrer”, já que isso seria parte da essência da mulher, levando para um nível de naturalização e romantização esse processo. Referente a essa romantização da maternidade, de acordo com o ponto de vista exposto pela autora Dias et al. (2020), tanto a sociedade quanto os canais de mídias sociais auxiliam na perpetuação do amor materno, de que esse é um momento de amor genuíno, puro, pleno, sinônimo de realização da vida, gerando uma visão errônea de que é viver um momento perfeito.
“O mito do amor materno afirma que a maternidade e o amor acompanham a mulher desde toda a eternidade e faz parte da natureza feminina. Porém, Badinter (1984) questiona a ideia do amor materno como algo inerente a todas as mulheres, pois ao se percorrer a história das atitudes maternas, nasce a convicção de que o instinto materno é um mito. Não existe nenhuma conduta universal e necessária da mãe. Ao contrário, o que constata-se é a extrema variabilidade de sentimentos maternos, ambições ou frustrações, segundo cada cultura. Dessa forma, a autora afirma que o instinto materno é um mito, pois é um sentimento que pode existir ou não, ser e desaparecer. Tudo depende da mãe e da história, sendo que não há uma lei universal nessa matéria. Destarte, a autora conclui que o amor materno não é inerente às mulheres, e sim adicional” (Damaceno et al. 2021).
Além de que, ao esperar por um momento “mágico” e repleto de boas experiências/vivências no papel materno ser um grande perigo, o período gestacional também acarreta consequências na vida da mulher, pois é o momento em que a mulher começa a lidar com mudanças das quais poderia não estar preparada para lidar de fato, como a transformação rápida e visível que ocorre no corpo, por exemplo, ganho de peso, surgimento de estrias, manchas na pele, inchaços pelo corpo, algumas podem até desenvolver alguns problemas de saúde como a Diabetes Mellitus Gestacional, hipertensão e outras complicações. Se constitui como “alterações físicas e psicológicas que vão resultar em mudanças que impactarão, significativamente, as experiências vividas pela gestante” (Facco; Kruel, 2014), fatores esses que ocasionarão mudanças no modo de viver dessa mulher com ela mesma, assim como com o parceiro e até mesmo a relação mãe e filho.
Quando uma mulher vivencia esse período de maneira saudável, contando com apoio familiar ou de amigos, que possuem uma renda financeira estável e que permite viver bem, pode-se dizer que ela conseguirá aproveitar a maternidade e saberá lidar com as dificuldades que surgirem, mas quando a mulher não conta com nenhuma dessas alternativas ou até mesmo quando cria a ilusão do processo da gravidez, do que é ser mãe e de como será esse momento, pode ser algo que trará como resultados frustração, sofrimento e até mesmo sentimento de culpa, pois é passado para a mulher/mãe, que ela consiga dar conta de tudo, ao passo que deve cuidar bem da criança, deve também cuidar de si e às vezes até do outro, ocasionando ainda, exaustão física e mental.
Trazendo à tona o que Dias et al. (2020) evidencia no sentido de que quando esses papéis que esperam que a mulher ocupe mas não é como fora idealizado, traz sofrimento quando não conseguem alcançar o esperado para elas socialmente, podendo trazer como consequência prejuízos psicológicos, situações de estresse, experienciando situações de tristeza e para aquelas que se tornam mães, mas não é como no conceito ilusório de maternidade que é exposto o tempo todo, podem ocasionar depressão pós-parto, crises ansiosas, entre outras situações.
“Sentimentos como ansiedade, incertezas, além do medo pelo aumento da responsabilidade frente à vinda da criança podem emergir. Esses fatores emocionais desencadeados pela maternidade, podem despertar a depressão pós-parto ou baby blues, conhecido também como tristeza pós-parto ou melancolia da maternidade, esse distúrbio pode ser caracterizado pela alteração de humor das puérperas entre o terceiro e o quinto dia após o parto, mas que geralmente, some com o tempo. Contudo, outras mulheres podem apresentar quadros depressivos mais graves, podendo implicar na capacidade diminuída para o autocuidado e para o cuidado com os filhos” (KROB et al., 2016; JORENTI, 2018 apud Dias et al. 2020).
No processo de maternar, algumas ilusões podem ser quebradas como, há mulheres que não conseguem realizar o aleitamento materno e com isso sentem-se incapazes, já que sempre é propagado a importância da amamentação para os bebês. Há também o mito do amor incondicional ao estar com o filho no colo e em algumas situações as mães, devidos a problemas pós-gestação como é no caso de depressão pós-parto, podem não sentir esse amor com o filho ou simplesmente não conseguirem sentir vontade de cuidar de si e da criança também e como consequência disso, podem viverem dias de culpa e mal-estar, principalmente quando enfrentam essas situações sem o amparo de uma rede de apoio.
“Outro ponto importante, é o enfoque dos sentimentos como anseios e incertezas, além dos fatores emocionais como estresse e frustração. Isso polemiza o que a mídia e sociedade mostram, através de uma visão romantizada, que difunde uma realidade apenas de amor e carinho, que nem toda mulher consegue alcançar” (Dias et al. 2022).
“(…) percebe-se uma dualidade do idealizado e o enfrentado à maternidade real, ocorre um abalo que pode gerar angústias nas mães ao não terem suas expectativas atendidas com a maternidade. Segundo Borsa, Feil e Paniagua (2007), a ruptura da personificação ideal da maternidade pode ser acompanhada por sentimentos de desapontamento, desânimo e desencantamento, além da sensação de incapacidade frente à maternidade. Em concordância, Rapoport e Piccinini (2018) apontam que é normal neste período as mães se depararem com sentimentos ambivalentes, ao mesmo tempo que elas doam tudo de si para o bebê, elas vivenciam a angústia de pouca ou quase nenhuma retribuição, sempre exigindo-se mais cuidados e atenção” (Marques et al. 2022).
Fonte: nicoletaionescu no iStock
Mulher com aparência de cansaço indo amamentar a criança/filho chorando.
Normalmente quando uma mulher torna-se mãe, costuma esperar que ela se dedique à maternidade, enquanto o homem, apesar de avanços na sociedade, ainda ocupa a posição de exercer a função de proteção e principalmente, prover a renda financeira como forma de “manter” essa família, “(…) Essa perspectiva equivocada de divisão de papéis faz muitas vezes com que as mulheres vivenciem uma sobrecarga, o que pode gerar uma gama de sentimentos, como angústia, tristeza, desamparo, frustração, entre outros” (Dias et al. 2022).
Os efeitos da cobrança em maternar e dessa romantização acerca desse papel, perpassa até as mulheres que decidem não se tornarem mães, mulheres que decidem focar em sua carreira profissional, aproveitar a vida e em até alguns casos, decidem não ter filhos para não “estragarem” seus corpos, mas, como a sociedade lida com esse desejo dessa mulher? Oliveira e Pereira (2023), traz em seu estudo que quando mulheres optam por não gestar uma nova vida, tornam-se pessoas excluídas de grupos ou experienciam o julgamento da sociedade. Isso acontece, pois de acordo com as autoras, a visão romantizada da maternidade não permite observar e compreender o lado das mulheres que escolhem não ter filhos e complementam com o estudo de Colores e Martins (2016), que não existe o “dom” de ser mãe, não é algo inato na mulher, mas sim, algo que deve ser considerado a subjetividade e o desejo do indivíduo. Já em mulheres que lidam com problemas de saúde que não permite engravidar, como em casos de infertilidade, as autoras Oliveira e Pereira (2023) expõem a visão de outras autores que dizem que essas mulheres costumam sentirem-se tristes e incompletas, experienciando a pressão social e até mesmo sentimentos de inferioridade.
Fonte: invincible_bulldog no iStock
Mulher em dúvida sobre quais caminhos seguir em sua vida: família ou carreira?
O fato de viver em uma sociedade em que ainda cobra o papel de ser mãe e que ainda impõe “a maneira correta de ser mãe” (por meio de como deve agir, sentir ou até mesmo o querer), se torna exaustivo tanto para quem possui o desejo quanto para quem não deseja tornar-se mãe. Independente da escolha de cada mulher, é algo deve ser respeitado e acolhido, pois é algo que muda por completo a vida da mulher, onde ela precisaria, em algumas vezes, precisaria renunciar planos e sonhos. Assim como há grandes dúvidas, medos, angústias sobre a criação de uma outra pessoa. Se faz necessário o acolhimento tanto familiar, social e até mesmo dos profissionais que acompanham essa mulher, independentemente de sua escolha, pois de acordo com Moraes (2016), citado por Dias et al. (2020), “(…) enfatiza que os fatores negativos podem ser minimizados através de uma atenção acolhedora e esclarecedora dos profissionais que acompanham a mulher (…)”.
Referências:
DAMACENO, Nara Siqueira; MARCIANO, Rafaela Paula; DI MENEZES, Nayara Ruben Calaça. As Representações Sociais da Maternidade e o Mito do Amor Materno. Perspectivas em Psicologia, Uberlândia, v. 25, n. 1, p. 199-224, 2021.
DIAS, Tamires Alves; MENDES, Stéffane Costa; GOMES, Samara Calixto. Maternidade Romantizada: Expectativas e Consequências do Papel Social Esperado de Mãe. 2020.
FEITOSA, Fernanda Soares et al. Opressão Social de Mulheres Que Não Desejam a Maternidade: Estudo Bibliográfico Sob a Ótica da Psicologia. OPEN SCIENCE RESEARCH X, v. 10, n. 1, p. 1222-1240, 2023.
FACCO, Daiana; KRUEL, Cristina Saling. “O meu corpo mudou tão depressa”: as repercussões da gravidez na sexualidade feminina. Disciplinarum Scientia| Ciências Humanas, v. 14, n. 2, p. 141-155, 2013.
MARQUES, Christiane Jussara de Carvalho; SANTOS, Kassia Cintia dos; DANIEL, Natasha Saney Silva. A romantização da maternidade e seus impactos psicológicos. 2022.
PEREIRA TAVARES DE ALCANTARA, P.; ALVES DIAS, T. .; DE CASTRO MORAIS, K.; DA SILVA SANTOS, Y. C. .; MARTINS DA SILVA, J. W. .; BASTOS FERREIRA TAVARES, N. .; CALIXTO GOMES, S. .; DE SOUSA MORAIS, A. B. Maternidade Romantizada: Expectativas do Papel Social Feminino Pós-Concepção. Revista Enfermagem Atual In Derme, [S. l.], v. 96, n. 40, p. e–021313, 2022. DOI: 10.31011/reaid-2022-v.96-n.40-art.1508.
RESENDE, D. K. Maternidade: Uma Construção Histórica e Social. Pretextos – Revista da Graduação em Psicologia da PUC Minas, v. 2, n. 4, p. 175 – 191, 5 jun. 2017.
A qualidade das relações é protetiva em relação ao estresse e à insatisfação no trabalho
O estresse nas relações de trabalho é cada vez mais comum nos dias de hoje. As excessivas pressões e demandas do ambiente profissional podem colaborar com o surgimento de conflitos interpessoais, tensões emocionais e até mesmo problemas de saúde. A constante busca por melhores cargos, reconhecimento e salário pode levar os colaboradores a se tornarem mais agressivos e individualistas, prejudicando a cooperação e a harmonia entre as pessoas. Além disso, a sobrecarga de trabalho e as longas jornadas também podem causar estresse nas relações Chiavenato (2010).
Os estudos sobre o estresse no trabalho surgem na década de 1970, o estresse ocupacional é decorrente das “relações complexas entre condições de trabalho, condições externas ao trabalho e características do trabalhador, nas quais a demanda de trabalho excede as habilidades do trabalhador para enfrentá-las” (BARROS,2013).
Chiavenato (2010) apontou que as principais fontes de estresse no trabalho denominam-se: causas ambientais e causas pessoais. Sendo as ambientais, oriundas da própria Organização, ambiente com condições ruins de trabalho, acúmulo de tarefas, e as causas pessoais variam de acordo com cada indivíduo, como insegurança, preocupação excessiva, maus hábitos de alimentação. Quando os colaboradores estão constantemente sob pressão para cumprir prazos apertados e entregar resultados, é comum que haja um aumento nas tensões e conflitos. A falta de comunicação efetiva também é um fator que contribui para o estresse nas relações de trabalho.
A ausência de diálogo claro e aberto entre colegas e superiores pode levar a mal-entendidos, ressentimentos e frustrações. A falta de apoio e diálogo adequados também podem gerar um clima de desconforto e tensão no ambiente de trabalho. É importante ressaltar que o estresse nas relações de trabalho não afeta apenas o bem-estar emocional dos colaboradores, mas também pode ter consequências negativas para a produtividade e o desempenho da equipe.
E esse bem-estar é extremamente importante. Abreu (2017) aponta que a qualidade de vida é considerada uma grande aliada na melhoria do desempenho do trabalhador. Dito isso, garantir um ambiente de trabalho saudável é um fator de extrema importância para o bem estar. Ter uma boa relação de trabalho auxilia no processo de colaboração e criatividade, favorecendo bons resultados para a organização e um ambiente organizacional mais agradável. Para lidar com o estresse nas relações de trabalho, é fundamental que as organizações busquem medidas que promovam um ambiente saudável e colaborativo.
Fonte: StockSnap no Pixabay
Equipe colaborativa
Com isso, algumas mudanças de condutas podem favorecer uma melhor relação no ambiente de trabalho:
1-Demonstrar respeito ao próximo, ouvindo e valorizando os saberes dos colegas, buscando uma comunicação afetiva, de forma respeitosa evitando comentários ofensivos.
2- Postura colaborativa em ajudar a equipe, compartilhando os saberes e experiências, estando aberto a aprender.
3-Resolução de conflitos: Busca abordar os conflitos de maneira construtiva. Identifique as questões subjacentes, encontre soluções em conjunto e esteja disposto a ceder em determinados pontos. A resolução colaborativa de conflitos pode fortalecer as relações e reduzir o estresse.
4-Celebrar as conquistas em conjunto, reconhecendo a evolução e potencialidades dos colegas de trabalho, incentivando e proporcionando um ambiente de reconhecimento coletivo.
5-Estabelecer limites: Estabelecer limites em relação ao trabalho, como horários de trabalho, pausas e tempo para descanso. Evitando levar trabalho para casa e aprenda a estabelecer um equilíbrio entre as demandas profissionais e pessoais.
Fonte: Mohamed_hassan no Pixabay
Fortalecer vínculo
6-Manejo do estresse pessoal: Cuidar da saúde mental e física, pois isso pode influenciar suas relações no trabalho. Estar bem consigo mesmo, você estará mais preparado para lidar com o estresse nas relações de trabalho.
7- Estabelecer metas realistas: Evite colocar pressão excessiva sobre si mesmo ou sobre os outros. Estabeleça metas e expectativas realistas em relação ao trabalho e reconheça que as pessoas têm tempos diferentes.
Lembrando que reduzir o estresse nas relações de trabalho é um processo contínuo que requer esforço e comprometimento de todas as partes envolvidas. Ao adotar essas estratégias, o colaborador pode através das relações estar contribuindo para um ambiente de trabalho mais saudável, produtivo e harmonioso.
Referências:
ABREU, A. Qualidade de vida no trabalho: principais técnicas e benefícios! (2017). Disponível<:http://revistaconexao.aems.edu.br/wpcontent/plugins/download-attachments/includes/download.php?id=1921>. Acessado em 05 Jun. 2023.
BARROS, I. C. S. Estresse ocupacional e qualidade de vida no contexto hospitalar: um estudo psicossociológico. 2013. 230p. Tese (Doutorado em Psicologia) – Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2013.
CHIAVENATO, I. Comportamento organizacional: A dinâmica do sucesso das organizações. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
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A importância dos vínculos familiares no contexto da institucionalização de idosos
Os idosos institucionalizados são pessoas idosas que residem em instituições de cuidados, como lares de idosos ou casas de repouso. Os vínculos familiares contribuem para a manutenção do senso de pertencimento e bem-estar
O rápido e gradual envelhecimento da população suscita diversas preocupações, principalmente no que se refere à saúde e cuidados com os idosos. O processo de envelhecimento, mesmo quando ocorre de forma saudável, muitas vezes leva à perda da função, afetando a autonomia e a independência do idoso e exigindo cuidado e atenção. No Brasil, a proporção de idosos na população é cada vez mais evidente. Além disso, pode-se observar a expectativa de vida, ou seja, as pessoas vivem mais. No entanto, esta realidade levanta outros problemas, como o apoio a essa população (BARROS; GOMES JÚNIOR, 2013).
À medida que envelhecemos, tornamo-nos mais sensíveis ao ambiente ao nosso redor devido à diminuição das capacidades de adaptação. É essencial garantir que esse processo seja saudável e ativo, o que implica incentivar os idosos a praticarem sua independência e autocuidado. A família desempenha um papel central no cuidado e no bem-estar dos idosos, sendo uma fonte crucial de apoio para aqueles que necessitam de cuidados.
Dutra (2016) traz que tradicional e historicamente, o cuidado ao idoso tem sido atribuído à família, com a responsabilidade de suprir suas necessidades, principalmente se o idoso em questão estiver com a autonomia e independência comprometidas.
Segundo Estatuto do Idoso:
É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária (BRASIL, 2003).
Alcântara (2009) completa que a sociedade espera que as famílias devam assumir essa necessidade. No entanto, isso nem sempre acontece, por diversos motivos, as famílias podem não conseguir ou se interessarem por assumir esse cuidado. Com isso, as famílias podem recorrer a uma instituição que atende e acolhe esse público. Esses lugares, devem promover um ambiente de lar em que os idosos se adaptam e podem realizar suas necessidades enquanto moradores, oferecendo cidadania e dignidade.
Santos (2014) Por mais que as políticas públicas em relação às instituições de longa permanência adotarem medidas necessárias para atender os idosos, buscando fazer com que eles se sintam acolhidos e tenham uma sensação de estar em um lar, muitas vezes a família se distancia, abandonando o idoso e perdendo o vínculo familiar.
Fonte: Gerald no Pixabey
Idoso em segundo plano
Vieira (2016) Coloca o idoso no contexto de institucionalização, como um fator de risco para o rompimento de vínculos afetivos e sociais. Esse rompimento pode provocar no idoso o medo, a angústia, e sensação de desamparo. Dito isso, a importância de manter esse vínculo familiar, fica muito claro, pois favorece os aspectos afetivos e emocionais desses indivíduos, à medida que envelhecemos, muitas vezes buscamos conexões mais fortes para obter esse equilíbrio.
Bertolin e Viecili (2014) completam que ao se sentir ignorado e esquecido, o idoso sente-se desvalorizado e excluído. A vivência dessa fase da terceira idade pode ser bastante dolorosa e carrega diversos desafios, como mudanças de rotina, de se adequar a um novos ambientes, às perdas e limitações.
Mesmo ao considerar que o idoso institucionalizado esteja em um espaço de cuidado e bem-estar, Fonseca (2005) não descarta as relações familiares como um fator importante para além do acolhimento oferecido na instituição, destacando o convívio com a família, amenizando a solidão e o afastamento. O autor traz que os laços afetivos são de suma importância para os idosos, principalmente os que se encontram institucionalizados, pois estabelecem um laço de parceria. A família continua sendo o centro da vida dos idosos, mesmo quando estão institucionalizados. É a família que passa ao idoso o sentimento de ser acolhido e amado, e que lhe dá a motivação e a coragem necessárias para continuar a ter uma visão positiva.
Fonte: StockSnap no Pixabay
Vínculo familiar
Referências:
ALCÂNTARA, A. O. Velhos institucionalizados e família: entre abafos e desabafos. 2. ed. Campinas, SP: Editora Alínea, 2009.
BARROS, R. H.; GOMES JÚNIOR, E. P. Por uma história do velho ou do envelhecimento no Brasil. CES revista, v. 27, n. 1, p. 72-92. 2013.
BERTOLIN, G.; VIECILI, M. (2014). Abandono Afetivo do Idoso: Reparação Civil ao Ato de (não) Amar? Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas da UNIVALI. v. 5, n.1, p. 338-360, 1º Trimestre de 2014.
BRASIL. Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003. Dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil.
DUTRA, R. R.; VARGAS, S. C.; TORNQUIST, L.; TORNQUIST, D.; MARTINS, V. A.; KRUG, S. F.; CORBELLINI, V. A. Refletindo sobre o processo de institucionalização. 2016.
FONSECA, A.M. 2005. Desenvolvimento humano e envelhecimento. Lisboa, Climepsi Editores, 242 p
SANTOS, N. O. dos, Beuter, M., Girardon-Perlini, N. M. O., Paskulin, L. M. G., Leite, M. T., & Budó, M. de L. D. (2014). Percepção de trabalhadores de uma instituição de longa permanência para idosos acerca da família. Texto & contexto enfermagem, 23(4), 971-978.
VIEIRA, S. K. S. F.; ANJOS, M. N. C. DOS; SANTOS, F. A. N. DOS, DAMASCENO, C. K. C. S.; SOUSA, C. M. M. DE; OLIVEIRA, A. D. DA S. Avaliação da qualidade de vida de idosos institucionalizados. Revista Inter-disciplinar, Teresina, v. 9, n. 4, p. 1-11, 2016.
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“Parece que não sou digna de amor”: a solidão afetiva de mulheres negras
14 de julho de 2023 Vitória Cardoso Figueira
Insight
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A solidão afetiva da mulher negra é uma realidade dolorosa e frequentemente invisibilizada, impactando suas conexões íntimas e amorosas.
“Mais que qualquer grupo de mulheres nesta sociedade, as negras têm sido consideradas “só corpo, sem mente”
Iniciando-se falando sobre a solidão, podemos dizer que a solidão é um estado emocional e subjetivo caracterizado pela sensação de estar sozinho, isolado e ausente de cuidado de conexões com outras pessoas. É uma experiência comum que pode afetar qualquer indivíduo, independentemente de estar fisicamente sozinho ou cercado por outras pessoas. A solidão é frequentemente descrita como uma sensação de vazio, tristeza e desconexão.
A solidão pode surgir por diversos motivos, como a falta de relacionamentos íntimos, a ausência de apoio social, a perda de entes queridos, a separação de um parceiro, a mudança para um novo local ou até mesmo a sensação de não ser compreendido pelos outros .
É importante destacar que a solidão não está diretamente relacionada com a quantidade de pensamentos sociais que uma pessoa possui, mas sim com a qualidade dessas. Uma pessoa pode estar cercada de outras pessoas e ainda assim sentir-se solitária se essas conexões não forem expressivas, autônomas e satisfatórias.
A solidão, segundo Weiss (1973), pode ser entendida como uma resposta à falta de um tipo específico de relacionamento ou à ausência de um determinado provimento relacional. Em muitos casos, é uma resposta à falta de uma conexão íntima e pessoalmente próxima, mas também pode ser uma resposta à falta de amizades, relacionamentos colegiais ou outros vínculos com uma comunidade coesa. Com base nessas situações, o autor mencionado sugere que a solidão é uma resposta à deficiência relacional e, apesar das diferenças em cada experiência de solidão , existem sintomas comuns, o que permite considerar a solidão como uma condição singular.
Dentro do contexto da solidão, como foi dito, ela pode estar presente em diferentes âmbitos da nossa vida, então é válido falar sobre a solidão afetiva, sendo essa um tipo de solidão que pode estar relacionada a ausência ou a não completude nos aspectos emocionais e afetivos de um sujeito. Elas podem vir como sentimento de vazio, desconexão emocional e a falta de intimidade em relacionamentos pessoais, ou até mesmo a falta dessas relações.
Pontuando que a solidão é um fenômeno de caráter subjetivo e perpetua em vários aspectos do sujeito, faz-se necessário falar sobre suas dimensões dentro da vivência das mulheres negras, principalmente no que diz respeito à solidão afetiva das mesmas. As mulheres negras muitas vezes enfrentam desafios adicionais em relação à solidão afetiva devido às interseções de opressão racial e de gênero. Elas podem enfrentar estereótipos negativos, detectar raciais e dificuldades em encontrar relacionamentos íntimos e experimentar que levem em conta sua identidade racial e experiências específicas
Fonte: Alex Green/Pexels
A solidão afetiva tem efeitos profundos na vida das mulheres negras, afetando sua autoestima, saúde mental e emocional
No trabalho de Pacheco (2013), são discutidos os fatores presentes na sociedade, que foram historicamente moldados pela construção sociocultural decorrente do colonialismo no Brasil. Esses fatores incluem o racismo, sexismo e cisheteropatriarcado, que atuam como sistemas reguladores na sociedade, influenciando não apenas as relações sociais, mas também as subjetividades individuais e a expressão da afetividade sexual.
Durante o período colonial no Brasil, os senhores de escravos tinham o direito de propriedade sobre o corpo de suas escravas. Devido às restrições morais da época, que proibiam os senhores de sanar seus desejos sexuais com suas esposas brancas, eles escolhiam as mulheres negras para realizar seus desejos sexuais. Na literatura da época, as personagens negras eram frequentemente retratadas de forma estereotipada como anti-heroínas, e representadas de forma sensual, exibicionistas, moralmente depravadas, corpulentas e voluptuosas. Esses estereótipos racistas construídos de forma estrutural, foram capazes de criar uma imagem coletiva da mulher negra como sendo um objeto apenas para prazer e satisfação, despertando pouca confiança e, portanto, não sendo consideradas para o casamento, pois eram vistas como infiéis e estavam fora dos padrões de beleza certos pela branquitude (OLIVEIRA & SANTOS, 2018).
No trabalho de Pacheco (2013), são discutidos os fatores estruturais presentes na sociedade, que têm sido historicamente moldados pela construção sociocultural baseada no histórico colonialismo brasileiro. Esses fatores estruturais, como o racismo, sexismo e cisheteropatriarcado, atuam como reguladores na sociedade, influenciando não apenas as relações sociais, mas também as subjetividades individuais e a expressão afetiva. Essas estruturas se manifestam de forma tangível nas preferências afetivas dos indivíduos, resultando em repercussões em relação às preferências afetivas e ao acesso ao afeto. Isso indica quem tem o direito de fazer escolhas afetivas e quem é privado desse direito com base na questão da raça (VIEIRA, 2020.).
Nesse aspecto, a exclusão de certos grupos de mulheres como potenciais parceiras afetivo-sexuais é construída por meio da racialização da negritude em contraste com a não-racialização da branquitude. Essa diferença surge na vivência interseccional de raça e gênero em outros grupos femininos nesse contexto, destacando como as mulheres brancas são predominantemente preferidas nesses relacionamentos, o que contribui para a solidão das mulheres negras (PACHECO, 2013).
Fonte: Olayinka Babalola/Unsplash
A falta de um suporte sólido pode dificultar a superação desses obstáculos e levar a um sentimento de exaustão emocional.
A nossa sociedade é estruturada a partir de uma história escravocrata, sendo assim o racismo estrutural é presente e conceitua-se no sentido relacional e com isso, a sociedade julga quem é digo ou não de amor. Embora as escolhas afetivas parecem ser feitas apenas por preferências pessoais, a estrutura social também contribui para essas escolhas (OLIVEIRA & SANTOS, 2018). Então, a afetividade é como se fosse direito apenas às pessoas brancas, já que ela é bastante vivenciada, enquanto pessoas negras estão existindo dentro de uma negação por conta da opressão racista dentro do campo afetivo-relacional, e assim podendo ser fator adoecedor. E a negação de amor para com pessoas pretas em detrimento da branquitude, pode afetar diretamente na autoestima dessas pessoas (VIEIRA, 2020).
E dentro desse contexto, as mulheres negras, são submetidas as várias dimensões sociais intersecionais, sendo obrigadas a enfrentarem os sentimentos de aversão a si mesma e solidão em detrimento do racismo estrutural (VIEIRA, 2020). E nisso, o corpo negro também é alvo disso, sendo concomitante para escolhas afetivas, nisso a forma como a estética do corpo da mulher negra é percebida, principalmente por meio de características fenotípicas, é atravessada por diferentes representações sociais que perpetuam conceitos e estereótipos racistas e machistas. Existe uma idealização do outro como belo, agradável e desejável, que se baseia nos padrões estabelecidos pela branquitude (SOUZA, 1983).
Discutir sobre mulheres já é abordar tópicos frequentemente negligenciados, porém, ao direcionar a atenção para as mulheres negras, percebe-se que a dívida histórica é ainda mais profunda do que se pode imaginar. A história revela uma triste realidade de estigmatização e marginalização das mulheres negras, nas quais sua humanidade e individualidade foram negadas e suas experiências afetivas diminuídas.
PACHECO, Ana Claudia Lemos. Mulher negra: afetividade e solidão. Edufba, 2013
SOUZA, Neusa Santos. Tornar-se negro, ou, As vicissitudes da identidade do negro brasileiro em ascensão social . Graal, 1983.
VIEIRA, Camilla Gabrielle Gomes. Experiências de solidão da mulher negra como repercussão do racismo estrutural brasileiro. Pretextos-Revista da Graduação em Psicologia da PUC Minas, v. 5, n. 10, p. 291-311, 2020. Disponível em: <http://periodicos.pucminas.br/index.php/pretextos/article/view/22458> Acesso em 31, de maio, 2023.
WEISS, Robert Stuart. Loneliness: The experience of emotional and social isolation. Cambridge MIT Press, 1973. 263.
Quando falamos em estilo pessoais e interpessoais, identificamos uma diversidade de formas de ser e de se relacionar com o outro, do engraçado ao mais reservado, do corajoso ao medroso, tagarela ou quietinho. Todas essas características são levadas e compartilhadas nas relações de amizades que estabelecemos ao longo da vida. Hartup (1996) mostra que o que há de comum entre os diferentes tipos de amigos é que boas amizades geram laços de confiança e que as aventuras e decepções, se tornam momentos de extrema importância ao longo da vida.
Amigo se refere à alguém ou um grupo de pessoas que compartilham suas experiências, felicidades, frustrações e que servem como rede de apoio para todos os momentos da vida. Com amigos, além de nos sentirmos bem, sentimos que podemos contar com alguém, que podemos ser nós mesmos e podemos ouvir não só o que queremos como resposta. Para Bowlby (1988) essa rede de apoio está associada ao fortalecimento de competência e gera um sentimento de pertencimento, além de possibilitar adotar estratégias eficazes em situação de crise ou desamparo. Para Bronfenbrenner (1979) a ausência dessa rede de apoio, pode aumentar a vulnerabilidade das pessoas frente a uma situação de risco.
Um bom amigo te coloca para frente, te apoiando e incentivando a encarar os medos e buscar os seus desejos. Para Hartup (1996), a ciência da amizade é compreendida como uma importante fonte de felicidade e bem-estar, que proporciona compartilhar experiências, interesses, sentimentos e emoções. A forma como enxergamos a amizade difere conforme as etapas da vida, e o texto trará algumas características de cada fase do desenvolvimento.
Hartup (1996) trás que ainda nos primeiros anos de vida, o uso da palavra amigo se inicia, e na infância essa relação é pautada por afeto, companheirismo, muita diversão e reciprocidade, e é com esses momentos que o indivíduo passa a estabelecer laços e habilidades sociais, aprende a lidar com conflitos e a desfrutar da troca social. Quando a criança possui amigos, ela consegue desenvolver diversas habilidades, como a capacidade de comunicação, e até mesmo o conflito com outras crianças são experiências que vão contribuir para um crescimento mais sólido para o futuro, favorecendo uma melhor postura ao encarar situações parecidas, fazendo da amizade na infância uma importante ferramenta para saúde emocional.
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Amigos brincando na infância
Salisch (2001) aponta que estabelecer relações de amizade na infância representa um papel importante para o desenvolvimento social, cognitivo e emocional. A amizade desempenha um papel fundamental ao impor desafios ao desenvolvimento emocional da criança, pois envolve experiências emocionais onde a criança aprende a administrar a raiva, o ciúmes, inveja, amor, confiança, as expectativas e o senso de competição. Rizzo e Corsaro (1995) completam que o apoio social, para as crianças, pode contribuir para a redução de estresse no enfrentamento de preocupações compartilhadas.
Rawlins (1992) disserta que na adolescência a amizade é uma dimensão da vida muito importante, junto à confiança e intimidade nas relações. É na transição da adolescência para a vida adulta que o jovem em sua relação de amizade atinge um ápice funcional desenvolvimental, ajudando o indivíduo em sua adaptação a novas tarefas da vida, como os desafios na universidade e na carreira profissional . Esse momento, principalmente da adolescência para a vida do adulto jovem, é um fase em que o indivíduo costuma estabelecer diversas conexões duradouras, e também momentos de desafios como as mudanças do corpo, das responsabilidades, das relações amorosas e decepções.
Para Rawlins (1992), ao entrar na vida universitária, geralmente na transição da adolescência para a vida adulta, o indivíduo necessita se reorganizar emocionalmente e construir essa rede de apoio social, e reorganizar a relação familiar o novo sistema criado na universidade e as amizades já preexistentes. Esse período geralmente é marcado por desafios e dúvidas sociais e intelectuais e uma grande expectativa quanto à vida após a universidade.
Rodriguez, Mira, Myers, Morris e Cardoza (2003) realizaram um estudo com 338 pessoas jovens adultas, com o propósito de avaliar o bem-estar na redução de estresse na relação com os familiares e com os amigos. A pesquisa apontou que ambos os apoios contribuem para o sentimento de bem-estar nas pessoas.
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Adultos em momento de diversão
Carbery e Buhrmester (1998) traz que, no decorrer da vida a quantidade de amigos diminui com a adultez e o envolvimento em romance estável, casamento, surgimento de filhos e dedicação ao trabalho. Com o avançar da idade, as responsabilidades continuam a aumentar e o encontro entre amigos costumam ser cada vez mais pontuais, e muitas vezes associado a um evento. Tendo em vista o quão importante é ter um ciclo de amizade, e o quanto isso pode trazer qualidade de vida para as pessoas.
Rodrigues (2010) Com a saída dos filhos de casa, e a chegada da velhice, cultivar amizades mostra ser também grande relevância, pois a partir disso o idoso pode compartilhar suas experiências, trocar confidências, relembrar momentos que passaram no decorrer de suas vidas, aconselhar e até mesmo se abrir para novos romances, evitando também a solidão e o sentimento de desamparo, aproveitando para desfrutar de mais momentos de lazer e de interação social. O autor completa que desenvolvimento e a manutenção de uma boa rede social de apoio com a inserção de novos amigos é uma das formas de amenizar o impacto das perdas e limitações naturais da velhice.
Referências
BOWLBY, J. (1988). Cuidados maternos e saúde mental. São Paulo: Martins Fontes.1988.p.64
BRONFENBRENNER, U. A ecologia do desenvolvimento humano: experimentos naturais e planejados (Tradução VERONESE, M. A. V.) Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
CARBERY, J., & BUHRMESTER, D. (1998). Friendship and need fulfillment during three phases of young adulthood. Journal of Social and Personal Relationships, 15(3), 393-409.
HARTUP (1989). Behavioral manifestations of children’s friendships. In T. Berndt & G. Ladd (Eds.), Peer relationships in child development (pp. 46-70). New York: Wiley.
RODRIGUEZ, N., Mira, C., Myers, H., Morris, J., & Cardoza, D. (2003). Family or friends: who plays a greater supportive role for Latino college students? Cultural Diversity and Ethnic Minority Psychology, 9(3), 236-250.
SALISCH, M. von (2001). Desenvolvimento emocional infantil: desafios em sua relação com pais, colegas e amigos. Jornal Internacional de Comportamental Desenvolvimento, 25 (4), 310-319.
RIZZO, T.A. & Corsaro, W.A. (1995). Processos de apoio social na primeira infância amizade: Um estudo comparativo das congruências ecológicas no apoio encenado. americano Journal of Community Psychology, 23 (3), 389-417.
ROWLINS (1992). Friendship matters. New York: Aldine de Gruyter.
RODRIGUES, AG. (2010). Habilidades comunicativas e a rede social de apoio de idosos institucionalizados. [Tese]. São Paulo: Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, 2010.
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Relações conturbadas: como ficam os filhos após o divórcio?
O divórcio é um desafio não apenas para o casal, mas também para os filhos envolvidos no processo, e pode acarretar em uma série de problemas para o convívio familiar.
O divórcio é o processo legal que dissolve o vínculo matrimonial entre duas pessoas. É uma decisão difícil e muitas vezes dolorosa, marcando o fim de um casamento ou união estável. O divórcio pode ser resultado de diversos fatores, como incompatibilidade, problemas de comunicação, infidelidade, abuso, divergências irreconciliáveis ou simplesmente a constatação de que o relacionamento não é mais saudável.
A separação pode ocorrer de maneira amigável, em que ambas as partes mantêm uma relação de amizade e resolvem seus conflitos sem recorrer a meios judiciais. Por outro lado, pode ser um processo mais difícil, caracterizado por intensas brigas, resultando em sentimentos de mágoa, tristeza e rancor. Além disso, é importante destacar que o divórcio afeta não apenas os cônjuges, mas também os filhos, a família e a rede de apoio envolvida. Pode ser um período emocionalmente desafiador, com sentimentos de tristeza, raiva, frustração e confusão.
Em muitos casos, como traz Amato (2000), o divórcio representa uma perda tanto para o casal, como para os filhos. A partir disso, acarreta em um desajustamento emocional e provoca sofrimentos para todos os envolvidos da família, principalmente quando o casal possui filhos menores.
Dessa forma, o divórcio se configura como sendo um processo complexo e longo, que traz diversas mudanças aos membros da família. Martins (2010) aborda o assunto ao dizer que mostra-se necessário um período de cerca de quatro anos para que todos os envolvidos consigam realizar os ajustamentos familiares apropriados após a separação.
Quando discutimos o divórcio, é comum que o foco esteja nos cônjuges, porém é essencial direcionar uma atenção especial às crianças e adolescentes, pois eles são mais propensos a desenvolver transtornos de ansiedade, depressão e outros problemas psicológicos. Portanto, torna-se importante discorrer sobre os impactos causados pelo processo nos filhos envolvidos. O divórcio pode ter um resultado significativo, pois envolve uma grande mudança na estrutura familiar e na dinâmica do relacionamento dos pais. No entanto, é importante observar que o impacto varia de criança para criança, dependendo de vários fatores, como idade, personalidade, nível de apoio emocional e como os pais lidam com a situação.
Hetherington (2005) alega que crianças com temperamento mais fácil, responsáveis, inteligentes e socialmente sensíveis possuem mais probabilidade a uma adaptação positiva diante das mudanças no sistema familiar. Kelly e Emery (2003) relatam que fatores como a autoestima, habilidades cognitivas e independência da criança, juntamente com o apoio social, também estão correlacionados de maneira positiva com uma melhor adaptação infantil.
Além do mencionado anteriormente, existem outros fatores que também contribuem para uma adaptação melhor ou pior a essa mudança. Esses fatores incluem a frequência e qualidade do contato com o pai ou mãe não guardião, o ajuste psicológico e habilidades parentais do pai ou mãe guardião, o nível de conflito entre os pais após a separação ou divórcio, o nível de dificuldades socioeconômicas e a quantidade de eventos estressantes adicionais que afetam a vida familiar, como abordado por Souza (2000).
Os sintomas relacionados a essa mudança familiar podem ser observados tanto a curto quanto a longo prazo, abrangendo aspectos cognitivos, emocionais e/ou comportamentais, e podem se manifestar em diversos contextos, como o ambiente escolar e social. Torna-se normal observar que após passarem pelo fenômeno do divórcio, grande parte das crianças ou adolescentes enfrentam desafios emocionais e comportamentais. Esse acontecimento pode incluir sentimentos de tristeza, raiva, ressentimento, demandas excessivas, ansiedade, depressão, agressividade, culpa, baixa autoestima e dificuldades para lidar com a confusão e preocupações resultantes das mudanças nas relações familiares e em sua situação de vida, aborda Berger (2003).
Além disso, outro problema abordado pelos estudiosos é a nova dinâmica financeira do lar. A falta de recursos econômicos pode acarretar diversos problemas para a criança, como menor conforto, qualidade de vida e oportunidades de estudar em boas escolas. Além disso, os momentos de lazer e cultura podem se tornar raros, atividades essenciais para o desenvolvimento social e cognitivo da criança. Os pais também podem enfrentar alterações de humor e estresse devido à impossibilidade de prover os cuidados necessários para a criança.
De acordo com Amato e Keith (1991), é possível observar que, como resultado da separação dos pais, as crianças na fase da infância podem apresentar diversos impactos negativos, tais como baixo rendimento escolar, baixa competência social, redução do nível de autoestima e dificuldades de ajustamento psicológico. Além disso, os adolescentes podem manifestar comportamentos delinquentes, dificuldades de aprendizagem e até problemas de insônia.
Fonte: Imagem stevepb no Pixabay.
Imagem de contrato de casamento sendo cortado
Diante dessa nova dinâmica familiar, a maioria dos pais sente preocupação em relação ao impacto da separação e divórcio em seus filhos. No entanto, é comum que eles também estejam angustiados e perturbados com seus próprios problemas, o que faz com que estejam menos disponíveis e atentos, e, consequentemente, menos capazes de oferecer suporte e auxílio nessa fase. Como resultado, apresentam Almeida e Monteiro (2012), os filhos acabam expostos a diversas perturbações psicológicas, que podem variar em intensidade. É de se esperar, portanto, que essas crianças expressem insatisfação em relação às suas vidas.
Souza (2000) expressa a importância de fornecer informações claras por parte de ambos os pais é fundamental para que as crianças possam compreender e lidar com a separação. A falta de explicações sobre como será a vida dali em diante é um tema que parece causar grande sofrimento infantil. Muitas vezes, para muitas crianças, é muito cedo para compreender o significado prático dessa situação. Além das mudanças na estrutura e funcionamento da família, a criança também precisa lidar com alterações profundas em sua rotina diária, o que, por si só, é extremamente doloroso e difícil, mesmo para um adulto.
Existe, ainda, o divórcio conflituoso, caracterizado por Glasserman (1989), como sendo destrutivo. Segundo a autora, nesse tipo de divórcio, a relação entre os ex-cônjuges é marcada por constantes conflitos, caracterizados por brigas contínuas com o objetivo de preservar a união. Além disso, há dificuldades no cuidado com os filhos, uma necessidade de ganhar e desvalorizar a imagem do outro, bem como a presença de intermediários litigantes, como membros da família extensa, profissionais da saúde, da escola e do sistema judicial, entre outros.
A cartilha do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aborda uma variedade de temas relacionados ao divórcio dos pais, oferecendo contribuições e dicas para a implementação de medidas que minimizem o impacto nos filhos durante e após o divórcio. O CNJ (2015) destaca que após o divórcio, é comum que os pais adotem comportamentos prejudiciais para os filhos. Isso inclui falar mal um do outro na frente das crianças, usar os filhos como mensageiros ou espiões, discutir na presença deles e dificultar o contato com o outro pai/mãe. Essas atitudes causam ansiedade, estresse, tristeza e prejudicam o desenvolvimento emocional dos filhos.
De acordo com o CNJ (2015), é comum que os pais tenham a percepção de que o divórcio é um problema apenas deles e não dos filhos. No entanto, o divórcio afeta também as crianças e os adolescentes, resultando em grandes mudanças, tais como a perda ou redução da disponibilidade de um dos pais, a queda no padrão de vida, alterações na residência, escola, vizinhança e amizades, o novo casamento de um ou ambos os pais, além do processo de adaptação aos novos membros da família.
As consequências dessas mudanças podem perdurar até a vida adulta, e até mesmo resultar em traumas que podem surgir anos depois. Portanto, é crucial lidar com o divórcio na presença dos filhos com cautela e sensibilidade. Os pais devem orientá-los e explicar as mudanças que acontecerão na vida de todos, além de evitar ao máximo discussões na frente das crianças e adolescentes. É fundamental proporcionar um ambiente seguro e acolhedor para ajudá-los a lidar com as transformações decorrentes do divórcio.
No contexto jurídico, é fundamental que os profissionais que lidam com essas famílias priorizem o bem-estar das crianças e adolescentes envolvidos. Nesse sentido, é necessário dar ênfase aos papéis parentais em detrimento dos papéis conjugais, especialmente em casos nos quais o divórcio se apresenta como um fenômeno destrutivo ao sistema e causador de sofrimento aos filhos envolvidos.
O apoio aos filhos de pais separados/divorciados representa um desafio para os profissionais de saúde mental, uma vez que essa área de intervenção tem enfrentado um aumento significativo de demanda devido ao crescimento das taxas de divórcio observadas nos últimos anos. A literatura tem evidenciado a importância e os benefícios do suporte emocional e psicológico oferecido a crianças e adolescentes que enfrentam dificuldades significativas ao lidar com a separação ou o divórcio de seus pais.
A infância é um período único na vida das pessoas, e deve ser vivido de maneira tranquila e feliz. A saúde mental da criança está diretamente relacionada ao bem-estar dos pais e à qualidade do relacionamento entre eles. Se ela crescer em uma família com conflitos conjugais, corre o risco de absorver o sofrimento do casal sem compreender claramente os motivos que levaram a essa situação. Isso pode prejudicar o desenvolvimento social, emocional e mental da criança, causando traumas que podem perdurar até a vida adulta.
Não é o divórcio em si que causa danos aos membros da família. Seria igualmente prejudicial para as crianças se o casal adiasse a separação em prol delas, mas não fosse capaz de manter uma amizade saudável. O divórcio é melhor compreendido pelos filhos quando os pais conseguem conduzi-lo de forma amigável.
É responsabilidade dos pais ou pessoas próximas da família estarem atentos às mudanças de comportamento ou outros problemas que podem ser causados pelo divórcio. Além disso, os pais devem ser capazes de separar as questões matrimoniais da relação entre os genitores e os filhos, evitando envolver as crianças nos desentendimentos do casal separado.
Referências:
ALMEIDA, N.; MONTEIRO, S. Os meus Pais já não Vivem Juntos.Intervenção em Grupo com Crianças e Jovens de Pais Divorciados. Comunicação apresentada no 1º Congresso da OPP: Afirmar Psicólogos, Lisboa, 2012.
AMATO, P. As consequências do divórcio para adultos e crianças. Journal of Marriage and Family, v. 62, p. 1269-1287, 2000.
BERGER, M. A criança e o sofrimento da separação. 2. ed. Lisboa: Climepsi, 2003.
HETHERINGTON, E. Divórcio e ajustamento de crianças. Pediatrics Review, v. 26, n. 5, p. 163-169, 2005.
KELLY, J.; EMERY, R. Ajustamento das crianças após o divórcio: perspectivas de risco e resiliência. Relações Familiares, v. 52, n. 4, p. 352-362, 2003.
MARTINS, A. Impacto do Divórcio Parental no Comportamento dos Filhos. Factores que contribuem para uma melhor adaptação. Implicações Médico-Legais. Dissertação de Mestrado. Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, Universidade do Porto, Porto, 2010.
SILVA, L. Boas Práticas dos Programas Psicoeducacionais para Pais Separados/Divorciados. Dissertação de Mestrado (Secção de Psicologia Clínica e da Saúde/ Núcleo de Psicoterapia Cognitiva-Comportamental e Integrativa). Universidade de Lisboa, Lisboa, 2012.
SOUZA, Rosane Mantilla. Depois que papai e mamãe se separaram: um relato dos filhos. Psicologia: Teoria e Pesquisa. São Paulo, 2000, vol. 16. Disponível em:<http://www.scielo.br/pdf/ptp/v16n3/4807.pdf>. Acesso em: 15 set. 2012.
SOUZA, R. Grupos de Apoio para Filhos de Pais Separados e Divorciados. Iberpsicología: Revista Eletrônica da Federação Espanhola de Associações de Psicologia, v. 10, n. 2, p. 579-599, 2005.
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Como a comunicação não-violenta pode ajudar nos relacionamentos conjugais
A dinâmica conjugal pode ser alterada por meio da comunicação firmada entre os membros da relação. A Comunicação Não-Violenta pode ser benéfica para a construção de um relacionamento saudável e respeitoso.
A comunicação é um dos pilares fundamentais para o funcionamento saudável dos relacionamentos conjugais. É através da comunicação que os parceiros se conectam, expressam seus sentimentos, necessidades e preocupações, e constroem uma base sólida de entendimento mútuo. Nesse contexto, a habilidade de se comunicar de forma eficaz e respeitosa se torna crucial para fortalecer a intimidade, resolver conflitos e promover a harmonia no relacionamento.
Uma comunicação aberta e sincera permite que os parceiros compartilhem suas alegrias, tristezas, desejos e expectativas. Ela cria um espaço seguro para que cada um possa expressar suas emoções e pensamentos sem medo de julgamento ou rejeição. Quando as pessoas se sentem ouvidas e compreendidas, a conexão emocional se fortalece, criando um ambiente de confiança e apoio mútuo.
Além disso, a comunicação eficaz é essencial para a resolução de conflitos. Em qualquer relacionamento, é inevitável que ocorram desentendimentos e divergências de opiniões. No entanto, a forma como esses conflitos são abordados faz toda a diferença. Através de uma comunicação saudável, os parceiros podem expressar seus pontos de vista de maneira respeitosa, ouvir ativamente o outro e buscar soluções conjuntas. Isso permite que as questões sejam resolvidas de forma construtiva, fortalecendo o relacionamento ao invés de miná-lo.
Além disso, a comunicação eficaz também contribui para a construção de expectativas realistas no relacionamento. Quando os parceiros se comunicam de forma clara e aberta, eles podem compartilhar seus desejos, metas e expectativas em relação ao relacionamento. Isso ajuda a alinhar as visões de futuro, promover comprometimento e evitar mal-entendidos que podem levar a frustrações e conflitos futuros.
A falta de comunicação é uma das principais causas de problemas nos relacionamentos conjugais. Quando os parceiros deixam de se comunicar de maneira adequada, uma série de consequências negativas podem surgir, afetando a saúde e a qualidade do relacionamento. É essencial compreender os impactos dessa falta de comunicação para buscar soluções e promover a melhoria no convívio a dois.
Um dos impactos mais significativos da falta de comunicação é a falta de entendimento mútuo. Quando os parceiros não se comunicam de forma clara e aberta, os pensamentos, sentimentos e necessidades podem ser mal interpretados ou simplesmente ignorados. Isso gera frustração e ressentimento, pois um dos pilares de um relacionamento saudável é a capacidade de se expressar e ser compreendido pelo outro.
A falta de comunicação também pode levar à distância emocional. Quando os parceiros não se abrem para compartilhar suas experiências, preocupações e sonhos, a conexão emocional começa a enfraquecer. A falta de diálogo impede o fortalecimento do vínculo afetivo, levando a uma sensação de solidão e isolamento mesmo estando em um relacionamento. A intimidade emocional, que é essencial para a saúde e a satisfação do relacionamento, se perde quando a comunicação é negligenciada.
Além disso, a falta de comunicação dificulta a resolução de conflitos. Os desentendimentos e divergências são naturais em qualquer relacionamento, mas quando não há um canal adequado de comunicação, esses conflitos tendem a se acumular e se agravar. Sem uma comunicação eficaz, os parceiros não conseguem expressar suas preocupações, ouvir as perspectivas do outro e buscar soluções em conjunto. Isso pode resultar em um ciclo de ressentimento, raiva e mágoa, prejudicando cada vez mais a qualidade do relacionamento.
Outro impacto da falta de comunicação é a erosão da confiança. A confiança é construída por meio de uma comunicação aberta, honesta e consistente. Quando a comunicação é escassa ou ineficiente, os parceiros começam a duvidar da sinceridade e da confiabilidade um do outro. A falta de confiança mina a estabilidade do relacionamento, tornando difícil estabelecer uma base sólida para o crescimento e a intimidade.
Ademais, a falta de comunicação pode levar à estagnação do relacionamento. Sem um diálogo ativo, os parceiros deixam de se conhecer e de evoluir juntos. As expectativas, os desejos e as metas podem permanecer desconhecidos, resultando em um relacionamento estagnado e sem perspectivas de crescimento mútuo.
Fonte: Imagem PIRO4D no Pixabay.
Imagem de corações conectados
Diante disso, apresenta-se a Comunicação Não-Violenta, trazida por Marshall B. Rosenberg e autor do livro “Comunicação não-violenta: técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais” (2013). O objetivo da obra é nos recordar do que já sabemos, como seres humanos, sobre como devemos nos relacionar uns com os outros, e nos auxiliar a viver de forma a expressar esse conhecimento de maneira tangível, citou Rosenberg (2013) em sua obra.
Rosenberg (2013) também expõe que, através da Comunicação Não-Violenta (CNV), é possível reconfigurar a forma como os indivíduos se expressam e se ouvem mutuamente. Em vez das palavras serem repetitivas e automáticas, elas se tornam conscientes e estão fundamentadas na percepção, nos sentimentos e nos desejos do indivíduo. A CNV inspira uma expressão honesta e clara, ao mesmo tempo em que oferece aos outros uma atenção respeitosa e empática. Em cada interação, acabamos por escutar as nossas necessidades mais profundas e as dos outros.
A Comunicação Não-Violenta desempenha um papel fundamental na melhoria dos relacionamentos conjugais, pois oferece uma abordagem empática, compassiva e respeitosa na forma como os parceiros se comunicam. A CNV ajuda a criar um ambiente seguro e acolhedor para a expressão dos sentimentos, necessidades e desejos de cada um, promovendo uma conexão mais profunda e uma melhor compreensão mútua.
Em primeiro lugar, a CNV facilita a escuta ativa e empática. Os parceiros aprendem a ouvir verdadeiramente um ao outro, buscando compreender as emoções subjacentes e as necessidades não atendidas por trás das palavras. Isso gera um senso de validação e acolhimento, fortalecendo a confiança e a intimidade no relacionamento.
Além disso, essa forma alternativa de comunicação incentiva a expressão honesta e autêntica. Os parceiros são encorajados a comunicar seus sentimentos e necessidades de maneira clara, porém não acusatória. Isso cria um espaço seguro para que ambos expressem suas preocupações e desejos, sem medo de críticas ou retaliação. A comunicação aberta e transparente promovida pela prática de Rosenberg contribui para a construção de um ambiente de confiança e respeito mútuo.
A CNV também ajuda na resolução de conflitos. Ao invés de recorrer a estratégias destrutivas, como a crítica ou a culpar o parceiro, essa prática oferece ferramentas para expressar as próprias necessidades e buscar soluções que levem em consideração as necessidades de ambos. Os parceiros aprendem a lidar com os conflitos de forma construtiva, promovendo a colaboração, a compreensão mútua e a busca de compromissos que sejam satisfatórios para ambos.
Outro aspecto importante da CNV é o desenvolvimento da empatia. Ao praticá-la, os parceiros são incentivados a cultivar a habilidade de se colocar no lugar do outro, compreendendo suas emoções e necessidades. Isso fortalece a conexão emocional e a empatia mútua, construindo uma base sólida para a compaixão e o apoio mútuo.
Fonte: Imagem StockSnap no Pixabay.
Imagem de casal segurando uma flor
A substituição do julgamento pela observação é um dos princípios fundamentais da Comunicação Não-Violenta, como abordado por Rosenberg (2013). Na CNV, busca-se abordar os fatos em vez de expressar opiniões, comunicando às pessoas as observações feitas e permitindo que elas próprias cheguem a conclusões sobre suas ações. Além disso, também promove um profundo autoconhecimento em relação aos próprios sentimentos, bem como uma conscientização dos sentimentos dos outros. Uma prática valiosa para desenvolver a inteligência emocional é a habilidade de nomear os sentimentos no dia a dia, ao invés de apenas expressá-los de forma inconsciente.
A CNV requer uma transformação gradual de hábitos, como a prática de evitar o julgamento, cultivar a empatia na troca de diálogos, identificar os próprios sentimentos e necessidades perante as situações, e estar consciente do momento presente. Essa mudança permite estar verdadeiramente presente com o outro, compreendendo seus sentimentos e necessidades, possibilitando que ambos façam escolhas estratégicas que beneficiem a si mesmos.
Referências:
CALIL, V. L. L. Terapia familiar e de casal: introdução às abordagens sistêmicas e psicanalítica. Vol. 31. São Paulo: Grupo Editorial Summus, 1987.
MINUCHIN, S.; LEE, W. Y.; SIMON, G. M. Dominando a terapia familiar. 2. ed. Tradução de G. Klein. Porto Alegre: Artmed, 2008. (Trabalho original publicado em 1996).
ROSENBERG, M. B. Comunicação não-violenta: técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais. 2. ed. Tradução de M. Vilella. São Paulo: Ágora, 2013. (Trabalho original publicado em 2006).
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Novas formas de amar: o uso de aplicativos de relacionamento como ferramenta para paquera e namoro
Um aplicativo de relacionamento é uma plataforma digital que permite às pessoas conhecerem e se conectarem umas com as outras com o objetivo de estabelecer relacionamentos amorosos, amizades ou encontros casuais
A forma como as pessoas relacionam-se perpassa por mudanças em que o que “dita” a maneira pela qual irá se relacionar, de acordo com Araújo (2002), é “moldada pelas determinações econômicas, sociais, culturais, de classe e gênero” que esse sujeito se encontra inserido. Variáveis históricas também interferem, haja vista que até algumas décadas atrás, os relacionamentos eram arranjados pelos pais das mulheres. Na ocasião, o objetivo era estabelecer acordos que visavam benefícios que em sua grande maioria não existia ligação com sentimentos ou querer verdadeiro da parte de algum dos arranjados.
Em contrapartida, atualmente é vivenciado na sociedade a liberdade de escolher se deseja ou não estar em um relacionamento e principalmente, a liberdade de escolher o parceiro. Há uma ampla maneira de conhecer pessoas e relacionar-se com elas, como por exemplo, frequentar festas, baladas, barzinhos mais movimentados em que terá a oportunidade de ter “mais escolhas”, dentre outros possíveis lugares. Mas, além disso, atualmente as pessoas ainda contam com as maneiras virtuais, o que gera maiores possibilidades, visto que, se torna um ambiente mais amplo. Dentre essas opções estão Tinder, Happn, Badoo, Grindr, Femme, Bumble, Par Perfeito, entre outros aplicativos/sites.
De acordo com a reportagem publicada pelo Jornal de Brasília, o Brasil é o segundo país que em a população mais utiliza aplicativos/sites de relacionamento, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. Ainda segundo o jornal, esse número cresceu bastante no período em que estava vivenciando a época da pandemia do Covid-19, apresentando um aumento de 215% dos usuários. Koop (2021) traz em seus estudos que esse aumento se deu ao fato de que “muitos desses usuários não procuram somente amor nesses aplicativos, mas sim uma companhia online que os ajude a enfrentar esse período de quarentena (AFP, 2021, apud KOOP, 2021)”.
Mas como é a funcionalidade desses aplicativos?
“Esses apps giram do “gostei” simultâneo e “swipe”, quando duas pessoas “se gostam” simultaneamente, a opção “chat” é desbloqueada, permitindo assim que eles iniciem uma conversa. Ou seja, os usuários não precisam estar perto ou se ver fisicamente para iniciar o contato, trazendo toda a paquera para o meio virtual (KOOP, 2021)”.
O Tinder, por exemplo, no momento em cadastrar-se, além de poder anexar as fotos que deseja, incluir seus interesses, adicionar uma biografia a qual pode descrever-se ou inserir alguma frase da qual goste, ainda é possível que a pessoa limite a distância que deseja encontrar alguém, a faixa etária, se deseja homem, mulher ou ambos os sexos, além de outras opções que podem ser desbloqueadas desde que o sujeito pague pelos serviços. Após todo o processo de cadastro, é liberado ao usuário o poder de escolha, o dar like ou não e conforme o usuário vai “distribuindo” o like, ocorre o momento em que acontece o tão esperado “match”, com isso, a opção do chat para conversa é liberada e após isso, inicia a segunda parte da paquera. Tais aplicativos com suas configurações, assemelham-se aos cardápios digitais e nesse sentido, o produto seria os próprios usuários.
Fonte: Tumisu no Pixabay
Design do aplicativo Tinder.
Ao mesmo passo que é uma maneira fácil e rápida para gerar “conexão”, é da mesma forma para desfazê-la, pois segundo Sobrinho et al. (2019),
“Os sites de relacionamentos foram criados com essa característica. Facilidade de encontros, que aqui podemos chamar de primeira interação, e ao mesmo tempo, facilidade de desconexão, haja vista que a não compatibilidade de interação entre os participantes, pode ser resolvida com apenas um desmatch entre ambos”.
Essas mudanças na maneira de se relacionar socialmente são contínuas e de acordo com o que traz em seus estudos sobre isso, Borges et al. (2022) expõe a visão de Bonavitta (2015) de que além dessas mudanças nas relações, há também uma mudança no amor, pois é colocado como um amor “efêmero, líquido e supérfluo” na atual sociedade. O que se é mostrado nas redes e/ou sites de relacionamento, é apenas aquilo que o sujeito acredita que seja “atrativo” para quem o vê, pois busca-se suprir o desejo de maneira imediata, complementando com que Borges et al. (2022) ainda descrevem sob a perspectiva de Bonavitta, pois de acordo com a autora, essa maneira de amar se mostra individualista, onde não há perspectivas para um futuro e sim como algo que é possível de vender, venda essa que ocorre por meio da “propaganda” feita do perfil, onde quanto melhor a foto exposta, quanto mais criativo se mostra, maior será as chances de encontrar um amor. “Ou melhor, quanto melhor você vender o produto (que é você!) e despertar o desejo de ser consumido a partir da publicidade que você faz de si, maiores são suas chances de ser feliz. A sociedade é regida pelo consumo e muitas vezes você é o item a ser consumido” (Borges et al., 2022).
Esse meio (internet, redes sociais, sites) ao qual a sociedade encontra-se inserida e que a cada dia se renova/modifica, os autores Paura e Gaspar (2017) evidenciam que
“A rede possibilita algo que no ambiente real é um obstáculo. Na relação virtual não possuímos fronteiras, as noções de espaço-tempo são dissolvidas, podemos nos comunicar com diferentes pessoas, em diferentes locais e com fusos horários diferentes, para isso basta acessar a plataforma virtual. Há ainda a questão da mobilidade virtual. Não precisamos ficar presos ao desktop5 para nos comunicar. Com o avanço dos smartphones, a comunicação está acessível no momento em que precisamos devido à mobilidade”.
Apesar de trazer certos benefícios na interação social, é possível perceber em uma grande maioria os problemas que essa expansão, mudanças e (re)modelação nas formas de se relacionar trazem para as pessoas. Pois, ainda segundo Paura e Gaspar (2017), ao passo que as redes sociais/internet proporcionam maior sociabilização e aumento na comunicação entre os sujeitos, ela também fomenta distância entre esses sujeitos, e ainda complementam com o ponto de vista dos autores Schmitt e Imbelloni (2011) de que, essa distância ocorre devido ao fato de que as pessoas ao utilizarem dos meios tecnológicos para comunicarem-se, preferem e dão mais espaço ao uso das telas para que esse contato ocorra, não dando a chance para que o contato físico e real aconteça, ficando assim, em uma posição de certo comodismo e deixando a distância tornar-se maior entre eles.
Para além desse distanciamento entre os sujeitos que estão vivenciando essas relações, o advento da “nova era de se relacionar” também evidencia o surgimento de um amor individualista, em que, segundo Purar e Gaspar (2017), as relações estão baseadas no interesse individual e na busca de satisfação rápida dos desejos, o que de acordo com esses autores, estaria totalmente agindo/vivendo contra a ideia do amor romântico, em que eles expõem que teria “como principal característica o compromisso e o comprometimento de ambos”.
As relações enquanto algo duradouro vai perdendo espaço, dando lugar para algo efêmero, onde
“(…) os usuários dos recursos de namoro online podem namorar com segurança, protegidos por saberem que sempre podem retornar ao mercado para outra rodada de compras, (…) Ou, de qualquer maneira, é assim que a pessoa se sente ao conseguir parceiros na internet. É como folhear um catálogo de reembolso postal que traz na primeira página o aviso “compra não obrigatória” e a garantia ao consumidor da “devolução do produto caso não fique satisfeito”. Terminar quando desejar – instantaneamente, sem confusão, sem avaliação de perdas e sem remorsos – é a principal vantagem do namoro pela internet. Reduzir riscos e, simultaneamente, evitar a perda de opções é o que restou da escolha racional num mundo de oportunidades fluidas, valores cambiantes e regras instáveis (…)” (PAURA&GASPAR, 2017).
O que leva ao conceito que Zygmunt Bauman traz sobre o “Amor líquido”. Segundo o autor Santos (2017), Bauman utiliza-se desse termo para referir-se ao fato de que as relações humanas não apresentam durabilidade, são construídas, desconstruída e reconstruída de forma rápida e abrupta. Apresentando sempre enfoque no imediatismo e deixando de lado, o laço duradouro (Paura e Gaspar, 2017), dando espaço para relações frágeis. Paura e Gaspar (2017), evidenciam que os novos meios de se relacionar mediante a era tecnológica traz a fragilidade para as relações, pois o meio virtual tornou-se o modelo pelo qual funciona, onde o estar online ocupa o lugar do “estar junto”.
Além disso, os autores, Paura e Gaspar (2017), levantam outra consequência nas relações que ocorrem pelo meio virtual, elas tendem a apresentar dificuldades na construção e na manutenção do vínculo entre os sujeitos daquela relação, ocasionando dessa forma, a valorização da quantidade de relações que é possível ter do que a qualidade delas. “Há uma convicção de que o amor pode facilmente ser construído, adquirido. Caso não seja, não tem problema, podemos descartá-lo e continuar experimentando, procurando em outras pessoas o prazer esperado, sonhado” (PAURA&GASPAR, 2017).
Entretanto, não é apenas a relação com o outro que sofre mudanças com as novas formas de relacionar-se, o impacto perpassa até mesmo na relação sujeito consigo mesmo. Sobrinho et al (2019) aponta que a sociedade atual vive um período em que na grande maioria do tempo, encontra-se vivendo/fazendo performance, em que é exposto ao outro apenas aquilo que for chamativo, interessante e bonito, “são corpos perfeitos que habitam uma vida perfeita”. Traz ainda a visão de Goffman (2007) de que “as redes sociais, hoje, são os grandes palcos das performances sociais (…) o palco apresenta coisas que são simulações. É o local onde o ator se apresenta sob a máscara de um personagem para personagens projetados por outros atores (Sobrinho et al., 2019)”.
O fato de a internet ser um campo amplo, permite ao usuário conhecer e lidar com os mais diferentes tipos de pessoas, com isso, Sobrinho et al. (2019) evidencia que esse detalhe faz com que o sujeito que está mantendo o contato com o outro, comece a desempenhar um “novo eu” ou personagem como traz o autor, e isso se passa a cada pessoa em que está sendo mantido uma relação. Isso ocorre devido ao fato de que naquele momento há um desejo de obter a atenção daquela pessoa e até mesmo uma maneira de tentar prolongar o contato com o outro.
Como uma forma de adaptação,
“agimos como atores para que assim possamos alcançar nossos objetivos. É como uma criança que faz todas as tarefas e se comporta bem na mesa, com o intuito de que no final da tarde a mãe deixe ela brincar na calçada. São atuações. Não é o que verdadeiramente se quer fazer ou se quer dizer (Goffman, 2007 apud Sobrinho et al, 2019)”.
Sobrinho et al. (2019) expõe que essa diferença entre quem se é na vida real e na vida virtual, pode acarretar ao sujeito mudanças nas formas em que ele se enxerga, podendo até mesmo, fazer com que ele comece a enxergar aquele personagem do campo virtual como o seu verdadeiro “eu”, trazendo possíveis conflitos de identidade.
É perceptível esses e outros impactos na vida social a partir das mudanças na maneira de se relacionar, como o que Nilson (2016) exprime em seu trabalho baseado em Machado (2014), de que o uso inadequado desses meios de comunicação/relação pode originar problemas mais graves, como por exemplo, depressão, problemas emocionais e outras circunstâncias que gerarão sofrimento para o sujeito. Sendo assim, é importante que os usuários utilizem de forma prudente e que permitam-se curtir e viver de maneira saudável para si e também para o outro.
Referências
ARAÚJO, Maria de Fátima. Amor, casamento e sexualidade: velhas e novas configurações. Psicologia: ciência e profissão, v. 22, p. 70-77, 2002.
BORGES, Juliana Vieira et al. Deu “Match”?! As Características dos Perfis de Usuários de Aplicativos de Namoro. Revista Alcance, v. 29, n. 1, p. 70-85, 2022.
KOOP, Blenda. Influência da pandemia no consumo de aplicativos de relacionamento. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Administração) -Faculdade de Administração e Ciências Contábeis, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2021.
NICOLAU, Analice. Brasil é o segundo país que mais utiliza aplicativo de namoro no mundo:Busca por namoro on-line dobra à medida que os usuários buscam conexões para começar o terceiro ano da pandemia. Jornal de Brasília. Brasília, 17 fev. 2022. Disponível em: https://jornaldebrasilia.com.br/blogs-e-colunas/analice-nicolau/brasil-e-o-segundo-pais-que-mais-utiliza-aplicativo-de-namoro-no-mundo/
NILSON, Ana Marcia Caldeira. Os laços afetivos na era digital. e-Com, v. 8, n. 2, 2016.
PAURA, Marcelo Dias Carvalho; GASPAR, Danielle. Os relacionamentos amorosos na era digital: Um estudo de caso do site par perfeito. Revista Estação Científica, v. 17, p. 1-19, 2017.
SANTOS, Carlos Henrique Moraes dos. Onda dura: a liquidez e a fragilidade das relações contemporâneas. 2016.
SOBRINHO, Francisca Stefanne Orana ALVES; DE SOUSA LINHARES, Lorena; TEIXEIRA, Juliana Fernandes. Reconfiguração das relações amorosas nas redes sociais: um estudo de caso do aplicativo Tinder. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. XXI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste – São Luís – MA. 2019