Psicologia analítica e a religiosidade

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Ao considerarmos que o ser humano é um indivíduo biopsicossocial, por que não considerar o aspecto religioso? No registro da obra Psicologia e Religião, Jung traz essa visão como algo a ser considerado pelos profissionais da saúde mental pois é o que há de mais antigo e universal no ser humano. Para Jung, a religiosidade é considerada uma atitude extremamente interligada com a subjetividade humana. 

Fonte: encurtador.com.br/uAXY1

A experiência do numinoso (Contato com o desconhecido, com o sagrado) pode ser uma experiência com bastante dualidade quando se fala na psicologia clínica, pois a luta pela parte da ciência da psicologia às vezes apaga a importância dessas experiências para a construção do self.

Dentro da história da humanidade há um apelo por conhecer a origem de tudo, ter uma explicação para a vida em si. Esse conceito pode ser relacionado intimamente com os arquétipos e a simbologia que eles trazem, algo que está no inconsciente coletivo e que move os seres humanos.

“[…] Em nossa época há muitas pessoas que perderam sua fé em uma ou em outras religiões do mundo. Já não reservam nenhum lugar para ela. Enquanto a vida flui harmoniosamente sem ela, a perda não é sentida. Sobrevindo, porém, o sofrimento, a situação muda às vezes drasticamente. A pessoa procura então subterfúgios e começa a pensar sobre o sentido da vida e sobre as experiências acabrunhadas que a acompanham.” (JUNG, Espiritualidade e Transcendência, p.86).

Neste trecho, Jung fala sobre a importância que a religiosidade e as religiões têm para o sentido da vida dos seres humanos. Quando tais pensamentos de falta de sentido aparecem, é necessário a ajuda de um profissional, antes pessoas dentro da religião, hoje, psicólogos.

Fonte: encurtador.com.br/cNOP9

A relação entre psicologia e religião é íntima, visto que acreditar e ter vontade são conceitos utilizados em ambos. Ao tratar uma pessoa em sofrimento é necessário olhar profundamente no consciente e no inconsciente, a religião sendo uma parte importante dos dois não pode ser deixada de lado.

“No âmbito das interações entre indivíduo e psique coletiva, entende Jung que a existência de uma atitude  religiosa  viva  e  válida  é  o  único  meio capaz de promover esta conciliação” (ARANHA, 2004).

Referências 

ARANHA, Maurício. Alguns aspectos da religião na psicologia analítica. Ciências & Cognição, v. 1, 2004.

JUNG, Carl Gustav. Espiritualidade e transcendência: Seleção e edição de Brigitte Dorst. Editora Vozes Limitada, 2015.

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A ida ao céu de Dona Terezinha

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Especificamente no ano de 1954, morava em uma cidade no interior do Tocantins uma senhora de meia idade conhecida como Dona Terezinha, entre 60 a 65 anos, que era bastante devota em sua fé e religião. Todos do seu bairro reconheciam que era muito fervorosa nas programações da igreja que frequentava. Ela ia constantemente a uma igreja evangélica, um dos ramos do protestantismo e que contemporaneamente se denominava “crente evangélica”. Depois de ter feito mais uma de seus vários pedidos repetindo o mesmo desejo, que era de conhecer o céu como ele realmente é, em uma visão, naquela manhã, ela passou por uma experiência sobrenatural semelhante concretizando seu desejo.

 Dona Terezinha desde muito pequena foi muito devota e fervorosa aos preceitos cristãos, de tal modo que abdicou de muitos prazeres mundanos, profanos e vãos porque segundo ela, era tudo vaidade. Contudo, ao mesmo tempo, no auge da sua terceira idade, acreditava que se morresse e não tivesse de fato céu, inferno, ou alguma realidade após sua morte, viveria com um eterno arrependimento dentro de si. 

Fonte: Freepik

Dessa forma, começou a pedir várias e várias vezes o mesmo pedido: enxergar o céu como ele, conhecê-lo por dentro para verificar de que sua vida e sacrifícios não foram em vão. Quando ela começa a pensar de que tudo aquilo que viveu e que se abdicou por causa da sua fé, e que se tudo for enganoso, ela sente uma tremenda angústia, uma dor no peito profunda e muita tristeza.

 Mas logo converte seus pensamentos imaginando como seria o céu descrito exatamente como está na bíblia sagrada. Dona Terezinha, em mais um dia rotineiro de orações e preces dentro da igreja sozinha por volta da metade da manhã, após terminar, sentiu uma leve tontura e fraqueza em seu corpo. Depois de alguns segundos em pé, ela instantaneamente desmaia e tudo em sua volta se torna um breu. Em seguida, um feixe de luz branca radiante começa a vir em sua direção de forma intensa. 

Ela tenta acordar, levantar, se despertar, mas não consegue. Seu corpo fica petrificado, estirado ao chão, e enfim começa a receber a visão de que tanto esperava e pedia. Um anjo robusto, jovem, e alto, com cabelos encaracolados e pretos, e com um par de asas enorme, surge diante dela e estende a mão. Em seguida, pergunta se ela realmente quer ver o céu como ele é. Ela disse que sim com a cabeça pois fica perplexa com tanta beleza, com o que está acontecendo em sua volta e com aquela realidade paralela.

O anjo pede para o acompanhar e ela segue rente atrás dele. Quanto mais eles se aproximam de uma saída estreita, mais a luz se intensifica, mas em nenhum momento chega a incomodar sua visão, e ela se surpreende com isso. Em seguida, eles adentram em um lugar vasto, verdejante, com pássaros, rios com águas cristalinas, animais de todas as espécies e tamanhos, árvores de todos os tipos. Uma rica fauna e flora em seu perfeito estado natural como nunca tinha visto antes. 

Em seguida, fica perplexa e maravilhada com tanta beleza e formosura. Pergunta discretamente ao anjo se aquele lugar tem outras pessoas e ele aponta para um grupo que estava sentado no chão, rindo e cantarolando na mais perfeita harmonia. Depois, o anjo pede para ela o acompanhar e ambos começam a conhecer o céu. Passeia sobre ruas feitas de ouro e marfim, além de ter em vários lugares pedras preciosas que refletiam um brilho intenso e puro. Dona Terezinha ficava cada vez mais encantada e embasbacada por cada detalhe. 

Fonte: Freepik

Após feita a apresentação, o anjo afirma naturalmente que ela pode se sentir à vontade para se unir ao grupo de pessoas que estavam próximo a um bosque, rindo e cantarolando. Ela inocentemente, sem entender, perguntou se não iria voltar a sua igreja e casa novamente. O anjo respondeu dizendo que para conhecer o céu, você precisa estar morto. E foi exatamente o que ela pediu há muito tempo. Agora não poderia mais voltar. Ela apenas se conforma, e segue em direção ao grupo. Seu coração ficou extremamente aliviado por saber que nada foi em vão. Fim. 

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Em Nome de Deus – dinheiro, armas, poder e dominação fálica: uma visão psicanalítica

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O terceiro episódio da série documental Em nome de Deus traz depoimento de pessoas próximas a João Teixeira e informações judiciais sobre o que foi encontrado nos endereços pertencentes a ele, além de histórico de denúncias, ameaças e suspeita de envolvimento com organizações criminosas.

Reprodução: Globoplay

A sexualidade masculina é relacionada com armas, violência, dominação e agressividade quando existem indícios de uma psique em adoecimento. Freud (1923) faz uso do termo falo, fálico e pênis, onde ele afirma que: “o que está presente, portanto, não é uma primazia dos órgãos genitais, mas uma primazia do falo” (FREUD, 1923, p. 158). É válido lembrar que em psicanálise não podemos confundir falo com pênis, entretanto não devemos ignorar a relação entre os termos. 

André (1998, p. 172) denota que Freud ao utilizar o termo falo, onde: “se o falo tem relação íntima com o órgão masculino, é na medida em que designa o pênis enquanto faltoso ou suscetível de vir faltar. Portanto, é a falta frequentemente presente como ameaça ou como fato, desse modo, o que corresponde ao elemento organizador da sexualidade não é o órgão genital masculino, mas a representação psíquica imaginária e simbólica que foi construída a partir desse órgão (COSTA; BONFIM, 2014).

Reprodução: Globoplay

Marcel Maior é jornalista especializado em espiritismo, e releva como João Teixeira era um homem ambicioso, bem articulado e que conseguiu construir um império a partir do exercício da espiritualidade. Marcel expõe detalhes sobre vendas e o comércio que existia dentro da Casa Dom Inácio, onde os pacientes atendidos recebiam receitas psicografadas por entidades médicas, indicações de água fluidificada, uso de cristais para limpeza e fortalecimento espiritual e outras práticas. 

Reprodução: Globoplay

Os pacientes recebiam receitas médicas psicografadas durante os atendimentos realizados por João Teixeira, e em seguida eram orientados a procurar a farmácia da Casa, que fornecia o remédio prescrito. Entretanto, os remédios possuíam propriedades na composição que funcionava para fugir da vigilância sanitária, porém os pacientes acreditavam que cada receita era única. 

Reprodução: Globoplay

A farmácia da Casa Dom Inácio vivia constantemente cheia, afinal, mais de 5 mil pessoas passavam pela casa todos os dias e buscavam a farmácia para comprarem os remédios que foram indicados. Os fiéis se organizavam em longas filas, aguardando pacientemente e em silêncio pela sua vez de ser atendido. Porém, muitas vezes as indicações e recomendações não se bastavam apenas em remédios, mas eram indicados cristais, água fluidificada, livros e outros objetos. Coincidentemente ou não, tudo isso era vendido dentro da Casa Dom Inácio. 

Marcel relata sobre o grande comércio que existia na Casa, comércio que movimentava milhões, e era o que João Teixeira dizia que custeava o lugar, os funcionários e todos os gastos existentes. As receitas eram direcionadas apenas para os lugares existentes dentro da propriedade, não podendo sair de lá ou realizar as compras em outras instituições. 

Reprodução: Globoplay

Existia uma grande variedade de cristais e pedras na loja de cristais da Casa, que diziam que eram abençoados exclusivamente pelos espíritos que trabalhavam na Casa, ou seja, os espíritos dos médicos que realizavam os tratamentos espirituais. O preço dos cristais variava muito, podendo chegar a mais de 5 mil reais, de acordo com o tamanho e a indicação. 

Reprodução: Globoplay

Além dos cristais e dos remédios, ainda era indicado que o paciente tomasse água fluidificada que era vendida dentro da Casa. Essa água era vendida como algo abençoado, com propriedades espirituais de limpeza e preparação espiritual. Marcel releva que a água não deveria ser compartilhada ou dividida com outras pessoas, pois era exclusivamente de consumo individual. O que levava os pacientes a comprarem suas garrafas separadamente, gerando mais vendas. 

Reprodução: Globoplay

Além desses produtos, a Casa possuía uma livraria com todos os livros, DVD’s e outros materiais oficiais sobre o médium João de Deus. Marcel afirma que com tantas coisas dentro do local era fácil gastar 100 reais num piscar de olhos, o que reforça a ideia de como o comércio era forte e movimentado dentro da Casa Dom Inácio de Loyola. 

Reprodução: Globoplay

Um ex funcionário da Casa fornece uma entrevista na série, onde ele afirma ser ex contador do local. Esse funcionário revela detalhes sobre como funcionava a contadoria da Casa, e pedidos de João Teixeira para burlar impostos e fugir da Receita Federal. 

Reprodução: Globoplay

Clodoaldo Turcato releva informações sobre como João Teixeira era amado e odiado na cidade de Abadiânia, e como ele exercia o controle do comércio local através de ameaças e chantagem com os empresários locais. Turcato conta sobre no final da década de 1990, as pousadas e hotéis do lado da cidade “pertencente” a João, que era o lado onde o idolatrava, tinham que ter a autorização dele para abrirem as portas, além disso, era cobrado um valor mensal que os empresários deveriam pagar a João Teixeira através de seus capangas para que pudessem continuar funcionando e recebendo os turistas do mundo inteiro. 

Reprodução: Globoplay

Clodoaldo conta sobre como o comércio local girava ao redor de João de Deus, e como ele ameaçava os comerciantes para exercer o poder. Não era permitido que qualquer tipo de comércio fosse aberto sem a autorização prévia de João Teixeira, e sem o pagamento dos valores estabelecidos. 

João cobrava taxas de cada pousada, e as que não pagassem ou não fossem autorizadas por ele, eram fechadas e os proprietários eram ameaçados pelos seus capangas. João detinha o poder econômico da cidade e nada poderia acontecer sem a sua permissão. 

Turcato relata que no final do dia quando ele realizava o fechamento os caixas da farmácia, água, lanchonete, livraria, loja de cristais e outras lojas dentro da Casa Dom Inácio, o volume de dinheiro era tanto que ele precisava de um saco de lixo para colocar todas as cédulas. Ele revela que levava esse saco para a sala particular de João Teixeira, e ele abria o teto e guardava o dinheiro nesse espaço escondido. 

Clodoaldo revela que João Teixeira realizava pedidos a ele para que ele fizesse tudo o que tivesse que ser feito para que ele não pagasse impostos. João não gostava nem queria pagar impostos, então pressionava sua contadoria para que fugissem e burlassem o que fosse necessário. As vendas na casa eram realizadas em dinheiro, o que facilitava o processo de ocultação, desvio e lavagem. 

Reprodução: Globoplay

Nos endereços de João de Deus foram encontrados cofres escondidos em fundos falsos e cômodos ocultos, e nesses cofres existiam quantidades exorbitantes de dinheiro em real, dólar e euro. Os dinheiros estavam escondidos em malas, e a polícia precisou recorrer a máquinas para poder contar tudo o que foi encontrado, que chegou a casa dos milhões. 

Reprodução: Globoplay

As montanhas de dinheiro foram apreendidas, além disso, a Justiça decretou o bloqueio dos bens de João Teixeira, que chegava à casa dos quase 50 milhões de reais. O que a Justiça aponta é que João pode estar envolvido com o comando de uma organização criminosa. 

Reprodução: Globoplay

Além do dinheiro, foram encontradas muitas armas nos endereços de João, e ele ao ser questionado sobre a origem das armas respondeu que eram de amigos que ele não se lembrava mais quem eram, e que ele estava apenas guardando as armas em sua casa a pedido deles. João Teixeira foi indiciado por porte ilegal de armas, visto que, as inúmeras armas encontradas não possuíam registro nem autorização. 

Freud (1990) em A interpretação dos Sonhos, apresenta a arma de fogo como um dos símbolos masculinos, além de outros como o falo. O pênis é visto como símbolo de poder desde muito tempo em outras culturas, pois é capaz de perfurar, penetrar e dominar a genitália feminina, e religiões mais primitivas apontam que o poder agressivo do homem em relação a mulher possui características fálicas. 

João Teixeira foi acusado de cometer abuso sexual contra mais de 500 mulheres, e em vários desses abusos houve o uso do pênis. O que aponta para essa relação entre a dominação fálica e a arma como símbolo de dominação, uma vez que as armas correspondem a capacidade de controlar o outro para aquele que porta a arma (CONELL, 1995).

Kimmel (1996) armas que são pensadas apenas para casos de legitima defesa dentro da masculinidade hegemônica possuem a função de suprir o medo de dominação por outro indivíduo, o que corresponde a masculinidade dominante:  “a masculinidade tem menos a ver com a busca pela dominação, do que com o medo de sermos dominados por outros, e de vermos os outros com poder e controlo sobre nós” (KIMMEL, 1996, p. 6).

No que tange os sonhos, Ferenczi (1992) atribuía que em sonhos com armas emperradas, enferrujadas, que não acertavam o alvo, que a capacidade era curta e durava pouco tempo, possuía relação com o coito mal sucedido, incapacidade sexual e baixo desempenho sexual.

Dessa forma, Kimmel (2010) afirma que a utilização de armas de fogo ocorre como uma maneira de compensar a masculinidade hegemônica, onde o sujeito faz a equação com a perda da capacidade física em decorrência do envelhecimento e a resposta às tentativas de dominação por parte dos outros.  Portanto, as armas de fogo possuem o papel simbólico de assunção da virilidade e como uma forma de recuperar a masculinidade reduzida.

FICHA TÉCNICA

encurtador.com.br/yFIQ4

EM NOME DE DEUS

Argumento e criação: Pedro Bial
Roteiro: Camila Appel e Ricardo Calil
Produção musical: Dé Palmeira
Direção de fotografia: Gian Carlo Bellotti e Dudu Levy
Produção: Anelise Franco
Direção de conteúdo: Fellipe Awi
Direção: Gian Carlo Bellotti, Monica Almeida e Ricardo Calil
Produção Executiva: Erick Brêtas e Mariano Boni
(A série documental está disponível para assinantes Globoplay).

REFERÊNCIAS 

FERENCZI, Sandor. Interpretação e tratamento psicanalíticos da impotência psicossexual (1908). Tradução de Álvaro Cabral. São Paulo: Martins Fontes, 1992. p. 25-38. (Obras completas, 1)

FREUD, Sigmund. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (1905). In: __. Um caso de histeria, três ensaios sobre a teoria da sexualidade e outros trabalhos (1901-1905). Direção geral da tradução de Jayme Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 119-229. (Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, 7).

FREUD, Sigmund. (1900). A Interpretação de Sonhos. Rio de Janeiro: Imago, 2001. Connell, R. W (1995), Masculinities. Cambridge, UK: Polity.

KIMMEL, Michael. Manhood in America: A Cultural History. 1996. New York: Free Press. 

KIMMEL, Michael. “Masculinity as Homophobia: Fear, Shame, and Silence in the Construction of Gender Identity.”. 2010. in Michael S. Kimmel e Abby L. Ferber (orgs.), Privilege. Boulder: Westview.

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A busca pela cura e o sofrimento de um novo trauma

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Este texto apresenta uma breve análise do primeiro episódio da série documental Em nome de Deus, do Globoplay, que traz relatos de sete mulheres que foram abusadas sexualmente pelo médium João de Deus. Informo que o texto contém gatilhos sobre violência sexual, violência psicológica e estupro, caso você não se sinta confortável com esses assuntos, talvez não seja uma boa ideia continuar a leitura ou assistir aos episódios. Além de tudo, contém spoiler sobre o primeiro episódio.

João Teixeira de Faria é o nome de registro de João de Deus, ou John of God, que teve a prisão decretada dia 14 de dezembro de 2018 (GLOBO NEWS, 2018). O episódio começa contando a história da Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia no estado de Goiás. A casa Dom Inácio era o local onde João de Deus recebia fiéis do mundo todo, cerca de 3 mil pessoas passavam na casa por dia. As pessoas vinham do mundo todo em busca de cura espiritual, psicológica ou física, eram doenças terminais, transtornos psicológicos, e quem já havia procurado todo tipo de tratamento.

Os fiéis que se atravessavam o Brasil e o mundo até a cidadezinha de Abadiânia, levavam consigo apenas esperança e a fé de que através de João de Deus iriam receber a cura para as suas enfermidades e a paz para suas almas. Pessoas trajando branco, com os pés descalços e em silêncio ocupavam todos os cantos do lugar, o choro era contido e os gemidos ecoavam no volume mínimo, nas mãos terços, bíblias, crucifixos e imagens de entidades religiosas.

Crédito: Alexandre Severo

De acordo com Terrin (1998), as religiões não possuem valor ou serventia se não puderem curar doenças ou fornecer compreensão holística sobre elas. A motivação da cura era o combustível que alimentava a força dessas pessoas que enfrentavam grandes distancias para chegarem na Casa Dom Inácio.

As paredes brancas com azul da casa contrastavam com as roupas brancas dos fiéis, pelas paredes placas em português, inglês e espanhol pediam silêncio e diziam que o silêncio é oração. No meio da multidão surgia a figura emblemática e messiânica de João de Deus, um homem de origem pobre que dizia ser instrumento espiritual que tinha a missão de levar a cura de Deus aqueles que precisavam dela.

As pessoas se espremiam em filas para o atendimento coordenadas por funcionários da casa, entre eles tradutores que facilitavam a comunicação de estrangeiros. Pelas paredes da casa havia quadros religiosos, em alguns cômodos existiam pilhas de cadeiras de rodas que foram usadas por fiéis que conseguiram a cura e lançaram a cadeira na pilha para simbolizar o poder das mãos de João de Deus.

Fonte: UOL

Instrumentos cirúrgicos estavam distribuídos em bandejas, e eram utilizados para a realização de cirurgias espirituais. João não possuía formação em medicina, tampouco qualquer outro curso, mas através do exercício da sua espiritualidade dizia receber espíritos de médicos do mundo espiritual que usam o seu corpo para fazer cirurgias.

Lemos (2002) descreve que a relação entre a religião e a saúde consistem na utilização e imposição das mãos, benzeduras, rezas e rituais de cura. E na casa Dom Inácio a utilização das mãos do médium para a realização da cirurgia era primordial para que fosse possível alcançar a cura.

Porém, na casa também era muito comum e forte a prática da oração, utilização de águas bentas, e Reimer (2008) aponta essas práticas como parte importante dentro da estruturação das religiões que oferecem a cura. Essas e outras práticas não se originaram na casa Dom Inácio, mas possuem um percurso histórico-cultural que atravessa séculos.

Existia uma hierarquia dos funcionários da casa, aqueles que seguravam a bandeja de instrumentos estavam alguns passos acima de outros. As cirurgias eram realizadas na frente de todos, cortes e retiradas de tumores eram feitos sem a presença de sangue e sem qualquer censura. Boquiabertos e invadidos pela fé, fiéis testemunhavam as cirurgias e todo o processo de cura.

A relação da religião com a cura é antiga, Berlinguer (1988) traz a história dos primeiros hospitais que nasceram em mosteiros. Dessa forma, vemos que a religião e a cura estão interligadas desde a construção da sociedade.

Fonte: Folha Z

João de Deus era visto como uma figura de grande poder, seus olhos azuis e sua pele branca refletiam à luz dos céus sob ele, que para muitos dos fiéis era a reencarnação de Jesus Cristo. A fala mansa e as palavras diretas de João atravessavam aqueles que o procuravam, ele era idolatrado e adorado. João esbanjava humildade, não cobrava nada de seus fiéis, embora recebesse muitos presentes e ofertas voluntárias. Era um homem humilde e santo, a figura perfeita para aqueles que estavam em desespero.

Pessoas em sofrimento e desesperadas se apegam ao incerto, entregam-se àqueles que possam sanar suas dores e aliviar os seus problemas. Esse apego a figura salvadora ou curadora de João de Deus fez com ele construísse um império, tornando-se um dos maiores nomes no Brasil e no mundo.

João de Deus viajou o mundo todo e espalhou sua proposta de cura, recebeu viajantes de diversas parte do mundo e viveu quatro décadas ileso de quaisquer punições ou retaliações. Tudo isso possui influência de frequentadores da casa que tinham poder, tais como políticos, celebridades e autoridades policiais. Esse casulo de proteção ao redor de João de Deus intimidou suas vítimas.

A advogada Camila Ribeiro conta a sua história de sofrimento com o transtorno do pânico, e relatou sua incessante busca por diagnósticos, profissionais e tratamentos que a ajudassem. Sua família concordou com a ida dela para Abadiânia em busca da cura, porém ela foi abusada sexualmente por João de Deus durante a sua consulta mediúnica com ele.

Camila relata dor, sofrimento e medo sobre o abuso que ela sofreu.

Fonte: Globoplay

A fisioterapeuta Marina Brito relata ter ouvido falar sobre João de Deus a partir de uma de suas pacientes, que estava realizando o tratamento espiritual. Naquela época ela estava tentando engravidar, e não possuía nenhum problema biológico de saúde que a impedisse, porém não conseguia engravidar.

Ela viajou em busca do seu milagre, relata não ter pesquisado sobre o médium, tampouco se existiam relatos negativos sobre ele. Ela disse que foi de coração aberto e com muita esperança para encontrá-lo. Marina foi uma das mais de 500 vítimas de João de Deus, foi abusada sexualmente e recebeu ameaças.

Fonte: Globoplay

As vítimas tinham em comum a esperança do milagre e da cura, depositaram toda a sua confiança e força na visita até a casa Dom Inácio, mas voltaram de lá amedrontadas, confusas, violentadas e descredibilizadas. Elas estavam frágeis e vulneráveis, foram vítimas fáceis. A manipulação do abuso através da possibilidade da cura violou essas mulheres.

A publicitária Luana Schnorr foi atrás de João de Deus buscando a cura para a sua irmã que sofria de diabetes. Como as outras vítimas mostradas, Luana agarrava-se na esperança de que receberia a sua graça e que sua irmã ficaria livre da enfermidade. Mas como as outras mulheres mostradas, foi mais uma vítima de abuso sexual.

Reprodução: Globoplay

O padrão exercido por João Teixeira de Faria era o mesmo: quando no meio da multidão ele perguntava sobre o que elas buscavam ali, em seguida dizia para que o esperassem terminar de atender a todos e que fossem até a sua sala, ou salinha. Isso gerava o sentimento de que elas eram importantes e especiais, e que seriam atendidas separadamente, garantindo assim, mais chances de alcançarem suas graças desejadas.

Entretanto, dentro dessa sala os abusos aconteciam. As vítimas eram tocadas, ou eram obrigadas a tocar na genitália dele. Ele tocava o corpo delas e em alguns casos penetrou às vítimas. Nenhuma das ações cometidas por ele eram consensuais, houve o abuso sexual e estupro em alguns casos.

Deborah Kalume é atriz e buscou a ajuda de João de Deus para seu esposo, que estava em coma há alguns anos depois de um acidente de carro. Deborah relata já ter procurado diversos tipos de tratamento e auxílios religiosos, e que nada havia dado certo, por isso então ela decidiu tentar a última alternativa que era o João de Deus.

Ela foi vítima de abuso sexual no maior momento de vulnerabilidade de sua vida, foi usada e violada pelo médium. Deborah conta que quando o abuso estava acontecendo, ela não conseguia acreditar e assimilar que aquilo estava acontecendo. Aquela era a sua última esperança e acabou sendo seu maior motivo de sofrimento.

Fonte: Globoplay

As mulheres abusadas conseguiram reunir forças para expor seus rostos e dar cara às denúncias a partir do primeiro relato público feito pela coreógrafa holandesa, Zahira Lieneke Mous, que expôs o abuso sofrido através do seu perfil pessoal no Facebook.

Fonte: Globoplay

A produção do programa Conversa com Bial através da jornalista Camila Appel entrou em contato com Zahira na tentativa de que ela pudesse expor na televisão a violência sofrida, e a partir disso que outras mulheres pudessem denunciar também. Zahira concedeu a entrevista e contou sobre o abuso que sofreu. A semelhança nas histórias dessas mulheres é chocante, pois existem os mesmos elementos, apesar de que elas não se conhecem, e moram em lugares diferentes.

Zahira foi a primeira cara da exposição contra João de Deus ao relatar o abuso sexual que ele cometeu. A partir disso, hoje mais de 500 mulheres conseguiram expor também, e João Teixeira de Faria encontra-se preso.

FICHA TÉCNICA

encurtador.com.br/aCDNW

EM NOME DE DEUS

Argumento e criação: Pedro Bial
Roteiro: Camila Appel e Ricardo Calil
Produção musical: Dé Palmeira
Direção de fotografia: Gian Carlo Bellotti e Dudu Levy
Produção: Anelise Franco
Direção de conteúdo: Fellipe Awi
Direção: Gian Carlo Bellotti, Monica Almeida e Ricardo Calil
Produção Executiva: Erick Brêtas e Mariano Boni
(A série documental está disponível para assinantes Globoplay).

Referências:

BERLINGUER, Giovanni. A doença. Trad. Virgínia Gawryszewski. São Paulo: CEBES-Hucitec, 1988.

LEMOS, Carolina Teles. Religião e saúde: a busca de uma vida com sentido. Fragmentos de Cultura, Goiânia, Pontifícia Universidade Católica, v. 12, n. 3, p. 17- 57, 2002.

REIMER, Ivoni Richter. Milagre das mãos: curas e exorcismos de Jesus em seu contexto histórico-cultural. São Leopoldo: Oikos; Goiânia: Universidade Católica de Goiás, 2008.

TERRIN, Aldo Natale. O sagrado off limits: a experiência religiosa e suas expressões. São Paulo: Loyola, 1998.

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Madre Teresa de Calcutá: um sopro de esperança aos sem vida

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“O senhor não daria banho a um leproso nem por um milhão de dólares?
Eu também não. Só por amor se pode dar banho a um leproso.”

Um exemplo notável de caridade, devoção, voluntariedade e, principalmente, humanidade em toda a história se encontra em um ser humano do sexo feminino, chamada Gonxhe Agnes Bojaxhiu. Provavelmente poucos já ouviram esse nome, mas saberão imediatamente de quem se trata ao descobrirem que é a mesma Madre Teresa de Calcutá. Nascida em 26 de agosto de 1910, em uma família albanesa em Skopje, capital da atual república da Macedônia – que na época pertencia à Albânia [1], Gonxhe demonstra muito bem o amor à vida e a dignidade que todos merecem e deveriam receber.

Fonte: http://migre.me/wbL1x
Fonte: http://migre.me/wbL1x

Desde jovem, a Madre parecia conhecer a sua vocação missionária, ingressando na Congregação Mariana, em seguida (setembro de 1928), na Casa das Irmãs de Nossa Senhora do Loreto, em Dublin, na Irlanda. Essas irmãs possuíam um colégio em Darjeeling, na Índia, onde, em 1931, tomando o nome de Teresa, a Madre fez noviciado, os votos de obediência, pobreza e castidade, dando início a uma jornada de devoção e cuidado para com o próximo.

Essa jornada ganha força quando Teresa parte para Calcutá, também na Índia, para dar aula para as meninas ricas da cidade. Entretanto, ela abandona essa função e também o colégio das irmãs de Loreto em 1948 (depois de sua profissão perpétua, em 1937) para viver entre os pobres, cujos formavam a maior parte daquela cidade e causavam comoção na Madre.

Fonte: http://migre.me/wbL2Q
Fonte: http://migre.me/wbL2Q

Percebendo a situação em que muitas pessoas ali viviam (ou apenas sobreviviam), Madre Teresa passou a pedir ajuda nas ruas e a auxiliar quem necessitava. Não demorou muito para que ganhasse adeptas ao seu movimento, entre elas, algumas de suas antigas alunas. Em 1950, funda uma congregação de religiosas, que gera várias casas de religiosas por toda a Índia e depois no exterior. Seu trabalho se torna visível, recebendo uma casa, cedida pelo Papa João Paulo II, para recolher os pobres. A casa se chama “Dom de Maria” [2].

Seu trabalho ganha ainda mais reconhecimento em 1979, quando Madre Teresa recebe o prêmio Nobel da Paz, pelos serviços prestados à humanidade. Tendo sua missão completada, Madre Teresa de Calcutá morre aos 87 anos, de parada cardíaca, deixando a tarefa de humanizar e cuidar mais da vida para todos que tomam sua atitude como exemplo. Foi beatificada em outubro de 2003, pelo Papa João Paulo II e canonizada em 2016, pelo Papa Francisco [2].

Fonte: http://migre.me/wbL3X
Fonte: http://migre.me/wbL3X

Ícone do trabalho voluntário e do amor ao próximo, Madre Teresa de Calcutá ainda vive nas ações de quem busca promover o bem e a ajuda, se preocupando com quem está ao redor. Além do mais, é um exemplo de/para muitas mulheres, representando essa massa que luta diariamente por melhorias, por igualdade, por respeito e por dignidade.

Referências:

[1] Portal G1, 2016. Quem foi Madre Teresa de Calcutá. Disponível em: <http://g1.globo.com/mundo/noticia/2016/09/quem-foi-madre-teresa-de-calcuta.html>. Acesso em: 04 mar 2017.

[2] Portal Uol, 2017. Biografia de Madre Teresa de Calcutá. Disponível em: <https://pensador.uol.com.br/autor/madre_teresa_de_calcuta/biografia/>. Acesso em: 04 mar 2017.

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Até o Último Homem: as convicções pessoais levadas ao extremo

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Com seis indicações ao OSCAR:

Melhor Filme, Melhor Ator (Andrew Garfield), Melhor Diretor (Mel Gibson), Melhor Montagem, Melhor Mixagem de Som, Melhor Edição de Som.

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Indicado a seis estatuetas do Oscar 2017 – inclusive de Melhor Filme –, Até o Último Homem (Hacksaw Ridge, 2016) volta a projetar o polêmico Mel Gibson nos bastidores de Hollywood, depois de um longo período em que o ator/diretor vinha enfrentando uma série de denúncias que envolvem violência, alcoolismo e intolerância religiosa. Não por menos, Hacksaw Ridge retrata uma história real marcada por purgação, hiper-religiosidade e redenção.

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Esta combinação serviu de combustível para que os críticos de Gibson considerassem o longa como uma espécie de autodefesa do norte-americano. Outros vão além, ao considerar que Mel Gibson se projeta inconscientemente na obra, o que de longe não diminuiria os estragos públicos causados por ele nos últimos anos. Sem se deixar levar pela falácia ad homini, a obra, de fato, (re)colocou o diretor nos holofotes do mundo cinematográfico. De forma merecida, pois é de um detalhismo irretocável e de uma produção primorosa.

Até o Último Homem é baseado na história real do adventista Desmond Doss (interpretado por Andrew Garfield) que serviu no Exército Americano durante a Segunda Grande Guerra. O jovem rapaz de fortes convicções religiosas enfrenta uma verdadeira via-crúcis para atuar na Batalha, já que está numa verdadeira contramão em relação a seus companheiros. A começar pelo fato de se recusar a pegar em armas e a matar, no entanto “salvou sozinho algo entre 50 e 100 soldados feridos, deixados para trás no alto de um penhasco quando a companhia bateu em retirada”, durante o sangrento enfrentamento de Okinawa, no Japão.

Sobre esta narrativa central, o site da revista Veja classificou que 80% do filme retrata com fidedignidade a história de Desmond, embora a vida do adventista contenha detalhes ainda mais impressionantes, não revelados na produção.

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Desmond é um jovem altamente influenciado pela sombra maternal (para deleite dos freudianos e jungianos), por concepções religiosas arraigadas, e pela ausência de mediação saudável do pai. Além disso, de acordo com o crítico de cinema Marcelo Hessel, “esteticamente, Até o Último Homem é um filme de iluminação plena, como se não estivéssemos sob as sombras e as incertezas do século passado”.

Século conturbado

Até o Último Homem é um registro primoroso – em que pese a visão enviesada de Gibson – de um período histórico dramático, pelo olhar de um jovem atônito com as rápidas ambivalências impostas por uma modernidade que já dava sinais explícitos de fracasso em suas utopias. E, baseado em suas concepções pessoais e religiosas, Desmond Doss resiste bravamente. Como diriam Bauman e Karnal, em nome de uma racionalidade exacerbada, em nome de Deus (ou sem Deus como motivo), o período exacerba a sanha humana pela disputa. Dinâmica esta que chega a seu extremo na pós-modernidade, mesmo que sem as guerras sangrentas que marcaram o século anterior.

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De resto, psicologicamente e filosoficamente falando, o filme nos coloca diante de uma realidade aterradora, defendida um século atrás pelo espanhol Miguel Unamuno, para quem “toda consciência é consciência da morte”, já que os humanos estariam irremediavelmente condenados a ter consciência da privação da imortalidade e, assim, sempre tendo de lidar com o sofrimento. Vale ressaltar, no entanto, de que longe de isso ser um problema, para Unamuno trata-se de uma possibilidade de redenção, como parece pender Até o Último Homem.

De acordo com Unamuno – que encontra algum paralelo com a doutrina de Sidharta Gautama e com as teses de Victor Frankel – a consciência da morte e do sofrimento pode desvelar em nós um senso ético acurado, se abraçarmos com humildade estas duas condições tipicamente humanas. “Se nos afastarmos disso, estaremos nos afastando não apenas do que nos torna humanos, mas também de nossa própria consciência”, escreveu Unamuno.

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Até o Último Homem, desta forma, antes mesmo de ser uma tentativa de auto-redenção de Gibson (com ênfase no clichê crença-sofrimento-piedade), como prega parte da crítica, é uma obra de pegada ontológica-existencial. Neste ínterim, não há diferença entre viver e sofrer, algo inimaginável aos padrões aspirados na contemporaneidade. O que se faz com este sofrimento é o que diferencia os homens/mulheres, pois diante da possibilidade de enfraquecer o  sofrimento, valeria tudo.

Sob esta ótica, a vida de Desmond Doss teria sido pobre se fosse diferente. Parece difícil pensar sob esta perspectiva, mas ela pode abrir caminho para uma existência marcada por profundidade e importância, o que demonstra ser uma marca da vida de Desmond, que resistiu a um cenário de crueldade e trilhou sob a égide do autossacrifício, da modéstia e da generosidade. Estes não são, obviamente, os lemas pós-modernos. Mas lembra duma faceta humana que, mesmo fora de moda, pode eclodir nos mais inimagináveis cenários.

REFERÊNCIAS:

COMTE-SPONVILLE, André. Dicionário Filosófico. São Paulo: WMF, 2011.

O Livro da Filosofia (Vários autores) / [tradução Douglas Kim]. – São Paulo: Globo, 2011.

O Livro da Psicologia (Vários autores). São Paulo: Globo, 2013.

Crítica ao filme Até o Último Homem. Disponível em < https://omelete.uol.com.br/filmes/criticas/hacksaw-ridge/?key=121227 > . Acesso em: 23/02/2017.

A verdade é mais inacreditável que o filme. Disponível em < http://veja.abril.com.br/blog/e-tudo-historia/ate-o-ultimo-homem-a-verdade-e-mais-inacreditavel-que-o-filme/ > . Acesso em: 23/02/2017.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

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ATÉ O ÚLTIMO HOMEM

Diretor: Mel Gibson
Elenco: Teresa Palmer , Sam Worthington , Vince Vaughn , Andrew Garfield
País: EUA
Ano: 2016
Classificação: 16

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A energia dos pensamentos

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Frequentemente ouvimos comentários de que a inveja causou isso ou aquilo, será que estaríamos exagerando? Até que ponto nossos pensamentos podem influenciar a nós ou ao outro?

O Sr. Masaru Emoto1 que fez experiências com a água, submetendo-a ao pensamento humano; os experimentos de Emoto consistem em expor água a diferentes palavras, imagens ou música, e então congelá-la e examinar a aparência do cristal de água sob um microscópio; contrariando a sabedoria dominante na ciência, a água respondeu a essas expressões. As águas com mensagens positivas formou belos cristais, a com mensagens negativas, os cristais ficaram deformados. Como consequência pesquisadores científicos estão em atividade, repetindo o experimento. O que une toda a humanidade, toda a forma de vida, é a água. É bom  levar em conta que  70% a 90% de nossos corpos são água.

Bill Tiller chefe do departamento de Ciências dos Materiais em Stanford, há décadas elabora experiências para verificar se as intenções humanas podem afetar os sistemas físicos. Para isso construiu um DERI; Trata-se de uma caixa simples com uns diodos, um oscilador, uma memória programável, alguns resistores e capacitores.

A caixa foi colocada em um local, e ao seu redor foram colocados quatro médiuns. Eles entraram em estado de meditação profunda, concentrando suas energias para a água O objetivo é influenciar um experimento-alvo, especifico: aumentar ou diminuir , o pH da água ; aumentar a atividade termodinâmica de uma enzima hepática.

Simplificando: Os quatro médiuns se concentram em uma caixa eletrônica simples e desejam algo como: Mudar o pH da água que ali contem. Os testes foram feitos por quatro meses, usando “caixas” diferentes a cada mês. Resultado: O pH da água mudou em todas as tentativas, a probabilidade das mudanças terem ocorrido naturalmente era de menos 1 para 1000; Tiler afirma que se o pH do seu corpo mudar em uma unidade, você morre 2.

O pesquisador Vilayanur Ramachandran3  descobriu uma espécie de gatilho cerebral capaz de disparar o sentimento de religiosidade. Testes feitos inicialmente em pacientes epiléticos mostraram que certas palavras relacionadas à religião, como Deus, fé ou Jesus, induziam um frenesi de atividades eletromagnéticas na parte direita do lobo temporal. É a mesma região ativada na experiência com os médiuns. Curiosamente, não houve respostas na mesma área quando foram mencionadas palavras que conduzem a outros estímulos, como sexo e violência.

O Dr. Jeff Levin4, pesquisador do National Institute for Healthcare Research, autor do Livro “Deus, Fé e Saúde”, realiza estudo científico de como fatores espirituais previnem a incidência de enfermidades em determinadas regiões e a mortalidade, e promovem a saúde e o bem-estar – estabelecendo o relacionamento existente entre ciência, medicina e espiritualidade. Entre vários exemplos pode-se citar que pacientes internados em UTI coronariana por meio de estudo duplo-cego5, aleatorizado, com dois grupos paralelos, que receberam ou não prece.

Resultado: o grupo que recebeu prece (por 28 dias) obteve melhores escores de evolução na UTI coronariana do que os que não receberam; não houve diferença na duração da hospitalização entre os dois grupos6.

O pensamento é energia que constrói imagens que se consolidam em torno de nós. Impressas no subconsciente elas formam um campo de representações de nossas ideias, portanto conclui-se que nossos pensamentos interferem sim em nosso organismo e nos de outros e podemos os usar tanto para o bem quanto para o mal.

“O pensamento é energia que expressa nossos desejos. Somos sensibilizados por estímulos  externos que desencadeiam percepções cerebrais de vários matizes. As cores, os sons, os sabores ou os afetos geram em nós sensações que despertam desejos, criam ideias e organizam pensamentos que expressamos pela linguagem. Esta experiência sensorial nos permitiu desenvolver reflexos, hábitos, instintos, automatismos, discernimento, raciocínio e, finalmente, a  inteligência e a consciência de si mesmo num processo evolutivo do ser unicelular ao homem com seus bilhões de neurônios. Por efeito das vibrações que emitimos ao pensar, estamos obrigatoriamente ligados, por sintonia mental, à todas as criaturas que no mundo inteiro pensam como nós.[…] Somos livres para pensar e induzir aos outros a pensarem como nós. Porém, somos escravos  das ideias que fixamos para nós mesmos e das sugestões que nos  incomodam.”7

1 Masaru Emoto,  fotógrafo e autor do livro “Mensagens das Aguas”

2 Informações referenciadas do livro “Quem Somos Nós” de William Arntz,. Cap. ”O Domínio da Mente Sobre a Matéria” Tradução: Doralice Lima. Ed.Pretígio.Rio de Janeiro.2005

3 Vilayanur Ramachandran Subramanian (1951), Neurocientista e professor do departamento de psicologia e neurociências  da universidade  da Califórnia.

4 Epidemiologista social formado em religião, sociologia, saúde pública, medicina preventiva e gerontologia na Universidade Duke, na Universidade da Carolina do Norte, na Divisão Médica da Universidade do Texas e na Universidade de Michigan.

5 Termo médico Duplo-cego: nem o paciente, nem quem realiza as pesquisas sabem quem está recebendo a prece; reduz vieses de interpretação dos resultados  e evita o efeito placebo.

6 Informação proveniente de http://poderdaprece.tripod.com/estudo.html

7 FACURE, Nubor Orlando.  A CONQUISTA DO CORPO E DA MENTE – in Jornal Espírita. Julho. 2004

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