Os contos como ferramentas de organização do ego

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Histórias atraem, conectam, nos apontam possibilidades de vida e aumentam nosso repertório.

Os contos são ferramentas fundamentais no processo de descoberta de nossa verdadeira essência, carregando em si uma função que nos leva ao que chamamos de despertar da consciência. Através dos contos também somos levados ao mergulho nas camadas mais profundas da psique e tornamos conscientes alguns aspectos fundamentais que estavam imersos em nosso inconsciente pessoal e coletivo.

Isto se dá porque a linguagem simbólica é um valioso recurso que se esconde por trás da simplicidade das histórias e que é usada para explicar problemas, etapas ou fatos por meio de símbolos ou imagens direcionadas ao inconsciente humano.

Usamos termos simbólicos constantemente para representar conceitos que não podemos definir ou compreender de forma alguma. Esta é uma das razões pelas quais todas as  religiões usam linguagem ou imagens simbólicas. Mas esse uso consciente de símbolos é apenas um aspecto de um fato psicológico de grande importância: o homem também produz símbolos inconsciente e espontaneamente na forma de sonhos. (Jung, 1995)

Segundo Bruno Bettelheim (2013), os contos de fadas têm um efeito terapêutico, pois o indivíduo pode encontrar uma solução para as suas incertezas, por meio da contemplação do que a história parece implicar acerca dos seus conflitos pessoais nesse momento da sua vida.Os contos de fadas não falam apenas das questões do mundo exterior, mas sim sobre processos internos que ocorrem no cerne do sentimento e do pensamento.

Além de estimular a imaginação, o lúdico, os contos também tem uma função terapêutica que auxilia a encontrar nos personagens e situações referências para a nossa vida. Encontrar também orientação para compreender o nosso mundo interior e nossos conflitos. A metáfora é uma figura de linguagem utilizada por meio de frases, histórias e parábolas, que podem servir à terapia traduzindo uma situação, problema ou sentimento do paciente/cliente.

Frequentemente, durante situações difíceis em nossas vidas, uma música ou uma história carregadas de simbolismos nos toca e nos marca por promover um entendimento diferente e uma paz interior. Algo que nos ajuda a perceber e ver a nossa situação de uma maneira diferente, menos problemática. Isso acontece porque tanto em contos, como poemas e canções são usadas frases metafóricas que servem como instrumento terapêutico. E, para que cada história cumpra seu efeito terapêutico ele deve conectar-se espontaneamente com o ouvinte, a partir dos seus recursos internos para que cresçam em compreensão e conhecimento de modo que assim transformem em ferramenta de mudança de pensamento e conduta.

Outra faceta que torna a metáfora um instrumento particularmente eficaz é o fato de permitir ao narrador selecionar conceitos complexos, difíceis de explicar e recriá-los de maneira muito mais concreta. Tanto as metáforas como os símbolos contidos nos contos transportam informação que se conecta com os símbolos internos de cada pessoa, despertando nelas o conhecimento de algo que necessita aprender.

Olhando para nós mesmos através do conto de fadas – que nos apresenta dilemas humanos típicos e nos permite imaginar caminhos para sairmos deles –, percebemos que somos confrontados pela ansiedade em todo os passos do nosso caminho.

Fonte: Pixabay

É muito mais fácil e compreensível transmitir uma mensagem quando ela está ancorada em uma história.

Ainda assim, com vastos e antigos estudos que comprovam a importância e o poder dos contos, metáforas e histórias como ferramentas terapêuticas, há os que subestimam a sua eficácia. Limitadas pelo avanço da ciência e da validação de novas ferramentas de manejo dos conflitos, psicopatologias e sofrimentos humanos, algumas pessoas acabam diminuindo o valor desta ferramenta clássica que é a contação de histórias terapêuticas. Talvez ainda não tenha se dado conta que no cenário contemporâneo, temos nomenclaturas diferentes que dizem a mesma coisa, como por exemplo, o termo em inglês, storytelling que tem sido utilizado como forma de captar a atenção, facilitar o entendimento, e se aproximar dos clientes nos mais variados saberes, como no marketing, na política, na educação, no entretenimento, dentre outros.

O princípio norteador é o mesmo: uma história bem contada desperta o interesse, prende a atenção, facilita a aceitação de mensagens. Podemos confirmar isso ao silenciar o celular para entrar no cinema, esquecemos dos problemas da vida ao abrir um livro, perdemos a noção da hora ao ouvir as histórias de um amigo. Quando estamos diante de uma boa história ficamos atentos, lembramos do roteiro, dos personagens, nos impressionamos. Afinal, as metáforas são permeadas por emoções, podem ser utilizadas em várias demandas, além de ser de fácil memorização.

O profissional (psicólogo ou não), utiliza deste recurso questionando, gerando reflexões, sem mostrar similaridades diretas com o paciente, essa identificação deve partir da própria pessoa. Por se tratar de um método seguro e inofensivo de lidar com assuntos que as pessoas têm dificuldades em abordar , as metáforas podem ser extremamente eficazes em problemas cuja solução é difícil através de outras técnicas.

Fonte: Pixabay

É mais fácil falar do outro e identificar semelhanças em nós mesmo do que falar diretamente de nós.

Alves, a propósito do uso de metáforas em terapia, considera que as metáforas “São ferramentas  que  contém  mensagens poderosas  para  auxiliar  o  paciente  a encontrar  novas  perspectivas  e  alternativas para sua vida” (Alves, 1999, p.64).  A autora explica que um significado  pode  ser  transmitido  de  maneira mais fácil pelo uso de metáforas, do que pela comunicação direta. É mais fácil falar do outro e identificar semelhanças em nós mesmo do que falar diretamente de nós.

Contar histórias também geram identificação e despertam emoções, seja por evocar alguma memória do leitor, seja por fazê-lo se imaginar na pele do personagem. Por tudo isso os contos são muito utilizados como peça essencial no trabalho terapêutico e curativo dos pacientes, que ao contar ou ouvir histórias, verbalizam seus sentimentos, que de outra forma poderiam não ser tão bem definidos, seja pela falta de vocabulário preciso para dar nome aos seus sentimentos ou mesmo pela desorganização de ideias que impedem que os conflitos venham à tona e sejam elaborados e acabam aparecendo por meio de desordens mentais ou físicas.

Quando falamos de contos de fadas, ou contos em geral, acabamos limitando sua utilidade como forma de entreter e divertir. Porém, os contos são mais do que um instrumento de diversão. A comunicação humana é feita por histórias desde sempre. Muitas são rememoradas, adaptadas. Por isso, a grande maioria dos textos, contos, mitos, parábolas, storytelling, por exemplo, costumam abrir falando sobre os tempos das cavernas e sobre como histórias eram contadas em pedras antes mesmo de existirem idiomas. Provando que, até os dias de hoje é muito mais fácil e compreensível transmitir uma mensagem quando ela está ancorada em uma história.

 

REFERÊNCIAS

Alves, L. (1999). Metáforas como ferramenta  terapêutica. Pensando  Famílias, 1, 62-68.

BETTELHEIM, Bruno. Psicanálise dos contos de fadas. Lisboa: Bertrand Editora, 2013.

GRIMM, Jacob e Wilhelm. Contos de Grimm. Belo Horizonte / Rio de Janeiro: Villa Rica, 1994.

JUNG, Carl Gustav. Os arquétipos e o inconsciente coletivo. 2.ed. Petrópolis:Editora Vozes, 2000.

Conto Terapêutico para trabalhar escolhas, perdas e mudanças significativas na vida.

 

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Temple Grandin: Autismo e manejo de animais

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Eu sou diferente, não inferior
Dra. Temple Grandin

A princípio parece difícil relacionar pessoas com algum transtorno do desenvolvimento, principalmente mulheres, em áreas de conhecimento que por muito tempo a prevalência de homens era total, a saber, o manejo de animais. Pois bem o filme Temple Grandin apresenta a história real de Temple, uma mulher autista (de alto funcionamento) que conseguiu se desenvolver com a ajuda de sua mãe e família, ter acesso à educação e uma vida dentro de suas possibilidades, que aliás foram incríveis, pois se tornou um nome importante na história da ciência animal.

Fonte: https://bit.ly/3eVDUsR

O filme conta a história de sua vida: aos 4 anos ainda não falava, emitia comportamentos de birra, tinha dificuldades de socialização e interação com outras crianças, não gostava de receber toques, apresentava hipersensibilidade a barulhos e seletividade alimentar. Foi nesse momento que Temple recebeu o diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA) de um médico e, junto dele, a proposta para que sua mãe a internasse, uma vez que não havia tratamento para tal. A mãe de Temple recusou a proposta e seguiu tentando ensinar a ela repertórios comportamentais (falar, reconhecer imagens). Mesmo sozinha e com dificuldades teve ótimos resultados, pois a filha desenvolveu um bom repertório verbal e intelectual.

O TEA, de acordo com o DSM-5, caracteriza-se por déficits na comunicação e na interação social em diversos contextos, engloba dificuldades na reciprocidade social, em comportamentos não verbais de comunicação usados para interação social e em habilidades para desenvolver, manter e compreender relacionamentos. Também pela presença de padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades, dificuldades em movimentos motores, uso de objetos ou fala estereotipados ou repetitivos, padrões comportamentais verbais ou não verbais, interesses fixos e extremamente restritos que são anormais em intensidade ou foco e hiper ou hipo reatividade a estímulos sensoriais ou interesse incomum por aspectos sensoriais do ambiente (APA, 2014).

A avaliação realizada pelo médico para identificar e realizar o diagnóstico foi baseado numa entrevista com a mãe, solicitando que explicasse os comportamentos que a criança emitia ou não e, segundo o médico, não havia terapias voltadas para o desenvolvimento de crianças autistas e que a solução seria a internação. Atualmente, existem diversos métodos de avaliação e tratamento para crianças autistas. Os mais comuns à realidade da Psicologia (e equipes multidisciplinares) brasileira serão apresentados a seguir.

Para a avaliação podem ser usadas as Diretrizes de Atenção à Reabilitação da Pessoa com TEA, do Ministério da Saúde, voltadas para equipes multiprofissionais, e que servem como instrumento de auxílio nos atendimentos, uma vez que oferecem orientações ao cuidado da saúde de pessoas com TEA e seus familiares (BRASIL, 2014). Outra ferramenta é o Protea-R Sistema de Avaliação da Suspeita de TEA, também direcionado a vários profissionais da saúde, que serve como instrumento de rastreio, tanto para identificar sinais suspeitos de TEA como de transtornos da comunicação em crianças de 24 a 60 meses (BOSA; SALLES, 2018). Tem-se, ainda, o VB-MAPP – Avaliação de marcos do comportamento verbal e programa de nivelamento, usado como instrumento de rastreio para avaliar os comportamentos e habilidades os quais a criança já adquiriu, bem como as dificuldades que a impedem de aprender (MARTONE, 2016).

Fonte: https://bit.ly/2CMKpBl

Logo, após a avaliação, o profissional consegue planejar o atendimento voltado para estimulação e ensino de repertórios comportamentais. Dentre os tratamentos comumente utilizados nas práticas de terapia de estimulação de crianças autistas em nossa realidade, tem-se a terapia baseada na Análise do Comportamento Aplicada (ABA) e o Modelo Denver, um método de intervenção precoce. Ambos são voltados para o ensino de repertórios de comportamentos pautados em ciências comportamentais e, por meio dessas práticas, as crianças conseguem aumentar seu leque de comportamentos e habilidades sociais, bem como ampliar suas possibilidades (BORBA; BARROS 2018; LOHR, 2016).

O filme inicia com Temple já adulta se apresentando: “eu não sou como as outras pessoas, penso com imagens e as conecto”, e durante a narrativa é possível identificar como o cérebro dela funciona e como se comporta. No verão de 1966, no Arizona, ela foi passar as férias na fazenda de sua tia, para pensar na possibilidade de ir para a faculdade, pois naquele momento estava com uma certa resistência à ideia, devido a sua dificuldade em ter  contato com outras pessoas, e foi lá que descobriu seu gosto por animais, especificamente suas habilidades com vacas.

Até então, foi possível observar comportamentos relacionados ao autismo, como pouco repertório social para cumprimentar as pessoas, sentar-se à mesa, só se alimentar de gelatina e iogurte, compreender qual era seu quarto naquele contexto (tanto que foi preciso identificar a porta do seu quarto), e um pouco resistente a mudanças. No seu contato direto com a rotina e atividades da fazenda e do gado, Temple aprendeu com o vaqueiro um método utilizado para acalmar o gado antes da aplicação de vacina: o animal, em fila, passava por um corredor, no próprio curral, até chegar à uma máquina de madeira que o imobilizava, tranquilizando-o. Logo, diante de situações que lhe causavam pânico, ela passou a reproduzir o comportamento das vacas, passando pelo corredor até chegar no objeto de madeira e se sentir abraçada pela máquina para que pudesse se acalmar.

Ao final do verão, Temple retornou para a cidade, indo para a Universidade Franklin Pierce para cursar Psicologia; no entanto, teve dificuldades de adaptação: o barulho dos universitários, o contato com as pessoas e o método de ensino a incomodavam tanto que a levou a construir uma máquina de madeira (máquina do abraço) para se acalmar, semelhante à usada na fazenda com as vacas. Porém, essa máquina não foi aceita no campus, pois no dormitório não podia ter objetos grandes e, além de tudo, ela dividia o quarto com outra pessoa que não a compreendia.

Fonte: https://bit.ly/32RO3oc

Ela chegou a explicar a necessidade da máquina para o coordenador da universidade, mas ele não aderiu à ideia, o que a levou a fazer uma pesquisa que justificasse que tal máquina poderia ajudar as pessoas a relaxar. Muito tempo depois, ela conseguiu provar sua teoria e o mesmo homem a elogiou pela pesquisa e método utilizado. Ela foi readmitida à universidade e passou a ter uma companheira de quarto cega, e ambas mantiveram um bom relacionamento, que favoreceu Temple a desenvolver repertórios sociais, pois teve que aceitar o toque ao ajudar a guiar sua amiga e narrar filmes enquanto assistiam juntas.

Quando concluiu o curso, Temple fez o discurso de formatura, mostrando o quanto evoluiu, pois, falar e estar em ambientes com muitas pessoas era difícil para ela. Após a graduação, por incentivo do professor Carlock, ela seguiu os estudos naquilo que mais gostava, o manejo de animais, e passou a desenvolver pesquisas na área, se tornando mestre em ciência animal.

Durante suas pesquisas no mestrado, Temple foi ignorada e motivo de piada por muitos fazendeiros importantes para a sociedade da época, simplesmente por ser uma mulher nessa área de conhecimento; chegaram a falar que ela deveria considerar outra área de trabalho. Foi barrada de entrar no abatedouro no qual fazia a pesquisa, vinculado a universidade, a mesma chegou a vestir trajes de fazendeiros e trocou de carro por uma camionete para entrar no ambiente. Ela sempre os ignorava e seguia com seus objetivos, algumas piadas ela não entendia, fato que está relacionado a características autistas, pois possuem dificuldades na compreensão de metáforas e palavras abstratas.

Outras dificuldades surgiram pelo mesmo motivo, como ter sua pesquisa rejeitada por fazendeiros vinculados a instituição, mas ela insistiu até conseguir. Ao ter contato com formas agressivas de tratar o gado antes do abate, ela desenvolveu um projeto que tornava esse momento menos agressivo ao gado, dizendo que “criamos o gado para nós, a natureza é cruel, mas não deve ser. Devemos-lhe algum respeito”. Apesar de tudo, Temple continuou desenvolvendo pesquisas, alcançando pessoas com interesse no seu trabalho e, após seu título de mestrado, Temple iniciou seu doutorado, se tornando uma pessoa extremamente importante para a área de manejo animal.

Temple Grandin e sua intérprete Claire Danes. Fonte: https://bit.ly/3eVFf2R

O filme encerra com Temple na Convenção Nacional de Autismo em 1981, falando sobre sua trajetória de vida, da autoestimulação, do acesso à educação e dos seus títulos, o que surpreendeu muitas mães, inclusive a sua própria mãe, por estar falando em público. Por fim, o filme levanta pautas importantes: uma mulher autista, que por muito esforço e paciência de sua mãe conseguiu se desenvolver e ser uma autista de alto funcionamento e que revolucionou as práticas de manejo racional de animais em fazendas e abatedouros, relacionando a psicologia com o manejo de animais, por meio de estudo do comportamento do gado.

FICHA TÉCNICA: 

Título Original: Temple Grandin
Direção:  Mick Jackson
ElencoClaire Danes, Julia Ormond, Catherine O’Hara, David Strathairn;
Origem: EUA
Ano: 2010
Gênero: Biografia, drama;

REFERÊNCIAS:

ASSOCIAÇÃO DE PSIQUIATRIA AMERICANA (APA). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. Porto Alegre: Artmed, 2014.

BOSA, Cleonice Alves; SALLES, J. F. D. Sistema PROTEA-R de avaliação da suspeita de Transtorno do Espectro Autista. 1. ed. São Paulo: Vetor, 2018. p. 1-183.

BORBA, M. M. C.; BARROS, R. S. Ele é autista: como posso ajudar na intervenção? Um guia para profissionais e pais com crianças sob intervenção analítico-comportamental ao autismo. Cartilha da Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental (ABPMC), 2018.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Diretrizes de Atenção à Reabilitação da Pessoa com Transtornos do Espectro do Autismo (TEA). Brasília, 2014. 86 p.

LOHR, T. Resenha. Educ. rev., Curitiba, n. 59, p. 293-297, março de 2016. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40602016000100293&lng=en&nrm=iso>. acesso em 05 de julho de 2020.  https://doi.org/10.1590/0104-4060.44618 .

MARTONE, M.C.C. Adaptação para a língua portuguesa do Verbal Behavior Milestones Assessment and Placement Program (VB-MAPP) e a efetividade do treino de habilidades comportamentais para qualificar profissionais. 2016. 265f. Tese de doutorado. Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Universidade Federal de São Carlos. 2017.

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Último Romance: análise funcional

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Los Hermanos foi uma banda de rock alternativo criada em 1997 formada por jovens universitários do Rio de Janeiro. A composição era a seguinte: Bruno Medina, no teclado (estudante de Publicidade); Rodrigo Amarante, nos vocais, guitarra e percussão; Marcelo Camelo, vocais e guitarra (estudante de Jornalismo) e por Rodrigo Barba, na bateria (estudante de Psicologia).

A música “Último Romance”, com duração de 4:25 min, alvo da análise realizada – feita em tópicos –, tem como autor Rodrigo Amarante e está presente no álbum “Ventura”, lançado em 07 (sete) de maio de 2003. É importante destacar que a abordagem basilar do trabalho consiste na Análise Experimental do Comportamento (AEC), desenvolvida principalmente por Burrhus Frederic Skinner (1904-1990).

Eu encontrei-a quando não quis mais procurar o meu amor

O autor afirma que quando diminuiu a frequência da emissão do comportamento de procurar seu amor, o encontrou – o que para ele é um estímulo apetitivo/reforçador. Podemos inferir que ele se comportou dessa forma por várias vezes, e, após sucessivas punições positivas e negativas, respectivamente (exemplo: quando o homem convida uma mulher para um encontro e ela recusa; o homem começa a se relacionar e a mulher exige que o homem pare de jogar futebol – aqui, jogar é reforçador), diminuiu a frequência desse operante.

Fonte: http://zip.net/bdtKtk

E quanto levou foi pr’eu merecer / Antes um mês e eu já não sei…

O tempo decorrido entre a adequação do comportamento ao ambiente, de modo a obter consequências de cunho reforçadoras foi o suficiente para o organismo desenvolver maior repertório comportamental, de modo a pensar ser merecedor, ou seja, ter comportamento suficiente para responder de forma adequada aos estímulos ambientais acrescentados pelo outro na relação interpessoal/amorosa. O indivíduo está tão contente por causa desse contexto/ambiente apresentado que começa a repensar se de fato já teve a série de experiências necessárias para o enfrentamento dessa nova relação, se conseguirá se comportar da forma melhor adaptada possível.

E até quem me vê lendo o jornal na fila do pão sabe que eu te encontrei

O evento de encontrar a amada se mostrou tão reforçador para o indivíduo, que o mesmo generaliza a resposta. Noutras palavras, diante de ambientes diferentes (a fila do pão) ele continua se comportando da forma que se comporta quando está na presença da amada, demonstrando contentamento.

Fonte: http://zip.net/bmtJQz

E ninguém dirá que é tarde demais / Que é tão diferente assim / Do nosso amor a gente é quem sabe, pequena…

E é claro que as pessoas que fazem parte do meio social comum ao casal se comunicarão de forma verbal, seja com o comportamento de verbalizar que demorou muito para o homem da canção se relacionar com alguém, o que pode ser diferente – se para aquele ambiente for comum relacionamentos em faixas etárias menores, ou com outro tipo de funcionamento.

Fonte: http://zip.net/bqtKWw

Ah vai, me diz o que é o sufoco / Que eu te mostro alguém a fim de te acompanhar / E se o caso for de ir à praia eu levo essa casa numa sacola

Se a situação que a vida apresenta é apetitiva ou aversiva, não importa. Desde que o homem esteja compartilhando o ambiente que está com sua amada.

Eu te encontrei e quis duvidar, tanto clichê deve não ser / Você me falou pr’eu não me preocupar / Ter fé e ver coragem no amor!

A fala da amada (que compartilha da mesma comunidade verbal que ele) de que ele não precisava se preocupar com a possibilidade de término ou algo do tipo trouxe como consequência a sensação de segurança.

Fonte: http://zip.net/bytKrR

E só de te ver eu penso em trocar a minha TV / Num jeito de te levar a qualquer lugar que você queira / E ir onde o vento for / Que pra nós dois sair de casa já é se aventurar

Experiências corriqueiras (como sair de casa) apresentam reforço natural e arbitrário. Reforço natural no sentido de se livrar da possível sensação de tédio (exemplo de reforço negativo do tipo esquiva) e reforço arbitrário por estar com a amada (se for levado em consideração o potencial reforçador que a presença da amada traz por si só).

Me diz o que é o sossego que eu te mostro alguém a fim de te acompanhar / E se o tempo for te levar eu sigo essa hora e pego carona pra te acompanhar

Como na explanação supracitada, o ambiente que importa para o homem é estar diante da amada, já que a mesma se mostra um estímulo apetitivo para ele.

 

Referências:

http://g1.globo.com/platb/los-hermanos-15-anos/

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