Treinamento e desenvolvimento organizacional: relato de experiência da instituição Ceulp/Ulbra

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O presente relato de experiência visa apresentar o processo de Treinamento e Desenvolvimento de pessoas, uma prática de real importância para o desenvolvimento de gestão com foco no seu colaborador e seu desempenho para com a construção organizacional. Tem por objetivo treinar e desenvolver os colaboradores do setor administrativo, da instituição Ceulp/Ulbra, tanto na aprendizagem de novas habilidades quanto na ampliação daquelas já existentes, ou seja, padronizar um atendimento eficaz.

No que se tange aos materiais e métodos, o referido relato de experiência é centrado na pesquisa descritiva, os participantes foram os colaboradores do setor administrativo da Instituição Luterana de Palmas, foram utilizados procedimentos e técnicas tais como: dramatização que foram perguntas realizadas para cada colaborador, tipos de mudanças de comportamento através do treinamento, técnicas de atendimento, descrição do cargo para reflexão e conhecimento, dinâmicas e vídeos para motivar, inspirar e garantir mais interação social no ambiente de trabalho.

Tendo como resultados a interação grupal, a motivação e o autoconhecimento a cerca de um atendimento eficaz a partir das mudanças de comportamentos. Deste modo, percebido a importância do psicólogo nas organizações diante do treinamento, e de acordo com os benefícios, são tanto para os colaboradores na área profissional e pessoal como para a instituição. Visto a necessidade de desenvolver os colaboradores, uma sugestão de intervenção é de implantar um programa de mudança planejada, o DO – Desenvolvimento Organizacional na busca de minimizar os efeitos insatisfatórios causados pela mudança.

Fonte: https://goo.gl/MkVzk1

Chiavenato (1999), afirma que o papel dos Recursos Humanos (RH) é adquirir, desenvolver, capacitar e conservar os colaboradores da organização. Estas tarefas podem ser efetivadas por um indivíduo ou um departamento (profissionais em recursos humanos) junto aos gestores de cada setor da organização. De acordo com Zanelli (2004), as atividades de trabalho são fatores essenciais na edificação das interações humanas, nas suas configurações de subjetivação, de constituição de agrupamentos humanos e da sociedade e no que afeta seus valores e projetos de vida. Nesse sentido, a atuação do psicólogo organizacional deve acompanhar as transformações do contexto e o desenvolver-se da organização.

Segundo Chiavenato (2009), treinamento é um processo educacional de curto prazo, aplicado de maneira sistemática e organizada, por isso, para que o treinamento possa levar ao desenvolvimento organizacional, é necessário que o planejamento deste seja bem elaborado garantindo o alcance dos objetivos a que se destina, de forma eficaz. É importante que este processo esteja voltado para a eficiência das pessoas no desempenho de suas atribuições. Treinamento significa ”o preparo da pessoa para o cargo” (CHIAVENATO 1999, p. 20), já a área de desenvolvimento se aproxima mais da educação que é o preparo da pessoa ”da vida, para a vida e pela vida”, ou seja, treinamento é uma ação de recursos humanos pontual e desenvolvimento é uma ação mais voltada para o futuro do trabalhador dentro da organização.

Para Carvalho e Nascimento (1997), o treinamento é um processo que auxilia o empregado a adquirir eficiência no seu trabalho presente ou futuro, através de apropriados hábitos de pensamento, ação, habilidades, conhecimentos e atitudes. Para Magalhães e Borges-Andrade (2001), o treinamento pode ser visto como um instrumento administrativo de vital importância para o aumento da produtividade do trabalho, e também como um fator de satisfação do treinando, constituindo-se um agente motivador comprovado. Todas as políticas de recursos humanos, inclusive as de treinamento, estão subordinadas à filosofia empresarial e devem ser dotadas da necessária flexibilidade, adaptando-se aos objetivos organizacionais.

Fonte: https://goo.gl/nLRJWJ

Enquanto a filosofia da empresa é mais duradoura e estável, as políticas de recursos humanos são mais mutáveis e dependem, dentre outros fatores, das reações do mercado, da influência do Estado e das estabilidades política, econômica e social do país. Estes e outros aspectos relacionados ao plano estratégico da empresa constituem um quadro de referência para o levantamento e fixação de metas de recursos humanos, particularmente, de treinamento e desenvolvimento de pessoal (CARVALHO; NASCIMENTO, 1997).

Treinamento e desenvolvimento de pessoas são conceitos bastante similares, pois seus métodos de aprendizagem são extremamente similares, o que os diferencia é a questão do tempo, onde o treinamento é orientado para o presente, foca o cargo atual, procura preparar o funcionário para promover resultados imediatos. Já o desenvolvimento é um processo contínuo, prepara o indivíduo para ocupar cargos futuros dentro da instituição ou empresa e desenvolver novas competências para resolver desafios e se adaptarem a novas estratégias de gestão da empresa (CHIAVENATO, 2008).

Os principais objetivos do treinamento e desenvolvimento são: Chiavenato (2000), preparar o pessoal para execução imediata das diversas tarefas do cargo; proporcionar oportunidades para o continuo desenvolvimento pessoal, não apenas em seus cargos atuais, mas também para outras funções para as quais a pessoa pode ser considerada; mudar a atitude das pessoas, seja para criar um clima mais satisfatório entre empregados, aumentar-lhes a motivação e torná-las mais receptivas às técnicas de supervisão e gerencia. Os principais objetivos do treinamento e desenvolvimento de pessoal refletem as mudanças econômicas, tecnológicas e sociais do mercado onde a empresa atua, exigindo a efetivação de planos de formação profissional que sejam flexíveis, dinâmicos e atualizados (CARVALHO; NASCIMENTO, 1997).

Fonte: https://goo.gl/f3ofak

Tendo por objetivo treinar e desenvolver os colaboradores do setor administrativo, da instituição Ceulp/Ulbra, tanto na aprendizagem de novas habilidades quanto na ampliação daquelas já existentes, ou seja, padronizar um atendimento eficaz. A referida pesquisa se deu através do resultado de um relato de experiência, no estágio supervisionado em psicologia organizacional, que propicia um conhecimento dos métodos organizacionais, práticas essenciais para a atuação do psicólogo organizacional, centrado na pesquisa descritiva e que se forma em uma pesquisa qualitativa, pois, aponta contribuir conhecimentos para serem analisados.

Os participantes foram os colaboradores do setor administrativo da Instituição Luterana de Palmas, (Ceulp/Ulbra). Sendo um campo onde propicia a estagiária do curso de Psicologia do CEULP/ULBRA, a desenvolver habilidades através das teorias vinculadas a prática, conhecimento sobre o processo da Instituição e sobre a dinâmica do trabalho.E ainda, o treinamento e desenvolvimento foi realizado na sala de reuniões, um ambiente tranquilo e confortável para os colaboradores. Foram divididos em dois grupos para melhor aprendizado, e realizado em dois dias, cada grupo um dia, com duração de quatro horas cada. Foram utilizados os seguintes objetos: Cartolina, pincel atômico, caneta, folha A4, instrumento sonoro, recursos visuais (slides e vídeos), notebook e lista de frequência para os colaboradores.

Diante várias dificuldades e demandas no ambiente de trabalho gestor solicita a implantação dos serviços de recursos humanos através do profissional psicólogo organizacional. A demanda investigada e referida era focada no atendimento aos clientes, pois não estava sendo satisfatório naquele momento. Portanto no treinamento e desenvolvimento o objetivo era treinar e desenvolver novas habilidades tanto no ambiente profissional quanto no pessoal. No primeiro instante iniciamos uma conversa inserindo frases para melhor compreensão e reflexão dos colaboradores.

“Quando existe orgulho e prazer de trabalhar em uma empresa, os resultados e os comprometimentos são consequências. ” Edson Vaz Musa

 

“O treinamento transforma as boas intenções em bons resultados. ” Thomaz Berry

 

Fonte: https://goo.gl/7hekAP

Após foi explicado o que é treinamento e quais são seus principais objetivos, tanto geral como específicos. Prosseguindo o treinamento foi realizado uma proposta básica de treinamento associado a dramatização de proporcionar o aperfeiçoamento das qualidades de cada colaborador, já que o trabalho desempenhado pelos colaboradores aprimore, e isso cogita diretamente na satisfação dos clientes da instituição. Algumas das perguntas feitas aos colaboradores.

1.    Como faço para fazer aproveitamento de disciplinas?
2.    Sou fies ou Prouni, onde faço minha matrícula?
3.    Quais as formas utilizadas para fazer reclamações?

4.    Como funciona o cancelamento das disciplinas, trancamento de matrículas e trancamento total?

5.    Quem é o aluno de reingresso?  Readmissão? Transferência? Portador de diploma? Aluno especial? Aluno de outra instituição?
6.    Como é o procedimento sobre o pedido de colação de grau?

Em outro momento foi discutido os tipos de mudanças de comportamento através do treinamento, baseado em quatro categorias a primeira é transmissão de informações, exemplos: conhecimento sobre a instituição, ser claro e objetivo nas informações, atender ao cliente de forma satisfatória. A segunda é desenvolvimento de habilidades, exemplos: ter agilidade, não procrastinar, ser organizado e saber trabalhar em equipe. A terceira é desenvolvimentos de atitudes, exemplos: postura ética, pontualidade, ser comunicativo e proativo com os colaboradores e gestores. Portanto para fazer a união dos tipos de mudanças de comportamentos foi apresentado técnicas e dicas para um atendimento eficaz.

Fonte: Luana Moura

Após o processo da apresentação das técnicas e interação grupal, foi realizado a entrega da descrição do cargo de auxiliar administrativo para cada colaborador, Segundo Chiavenato, (2006, p.242) “ Descrição de Cargo é um processo que consiste em enumerar as tarefas e atribuições que compõem um cargo e que o tornam distinto de todos os outros cargos existentes na organização. ”

Houve o momento de leitura da descrição e depois foi esclarecido algumas dúvidas dos colaboradores em relação as competências. Posteriormente fez-se uma dinâmica com o objetivo de integração, participação e levantamento de expectativas dos participantes. Foi observado a interação grupal, a participação de todos naquele trabalho oferecido, a comunicação e a escuta estabelecida entre eles e todos foram parabenizados.

A última etapa do processo de treinamento e desenvolvimento consistiu em mostrar vídeos de motivação, para que os colaboradores sintam motivados, fortalecidos emocionalmente para saber lidar com pressões diárias, e assim aumentando sua produtividade no ambiente de trabalho.

Fonte: https://goo.gl/ZQRJFF

Ao que se refere as técnicas utilizadas, e após todos os procedimentos apresentados os colaboradores obtiveram interação grupal, motivação e autoconhecimento sobre todo o conteúdo que foi utilizado no treinamento e desenvolvimento, garantindo conhecimento a cerca de um atendimento eficaz a partir das mudanças de comportamentos diante as demandas da instituição.

Nesse ínterim, o presente trabalho descreveu a importância do treinamento e desenvolvimento dos colaboradores do Ceulp/Ulbra. Visto a importância do psicólogo nas organizações e os avanços e aperfeiçoamentos deste enquanto ciência e profissão. O treinamento provoca melhorias para os colaboradores tanto na vida profissional como pessoal. Na perspectiva desenvolver pessoas, a instituição se destaca no mercado de trabalho atual, pois valoriza os colaboradores por sua atuação, e uma equipe motivada e reconhecida constantemente, é uma equipe diferenciada. Quando a instituição opta por capacitar e valorizar esse colaborador, acaba se tornando um diferencial nos serviços ofertados, e também na lucratividade para a empresa.

Nesta era de rápidas transformações as organizações precisam atender a demanda por mudanças e adaptações que são exigidas pelo mercado, a instituição necessita desenvolver colaboradores, dentre várias opções, uma sugestão é de implantar um programa de mudança planejada, o DO – Desenvolvimento Organizacional na busca de minimizar os efeitos insatisfatórios causados pela mudança. Portanto é fundamental o reconhecimento estrutural da instituição, para que assim aconteça mudanças e melhorias no ambiente de trabalho.

Fonte: https://goo.gl/C9Fkjk

Portanto, este estágio, além de beneficiar a instituição onde o mesmo foi realizado, favoreceu também a estagiária que obteve conhecimento e experiências práticas gratificantes, incluindo responsabilidades e comprometimento quanto à atuação em Psicologia Organizacional e do Trabalho, promovendo então a capacitação profissional.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

CARVALHO, A. V.; NASCIMENTO, L. P. Administração de Recursos Humanos (Vol. 1) São Paulo: Pioneira, 1997.

CHIAVENATO, Idelbrando. Gestão de Pessoas: o novo papel dos Recursos Humanos nas Organizações. 6ª tiragem. Rio de Janeiro: Campus, p.20, 1999.

CHIAVENATO, Idalberto. Recursos Humanos. 9ª ed, São Paulo Atlas, 2009.

CHIAVENATO, Idalberto. Treinamento e desenvolvimento de recursos humanos: como incrementar talentos na empresa. 7.ed. São Paulo: Atlas, 2008.

CHIAVENATO, Idalberto. Recursos humanos. 6.ed. São Paulo: Atlas, 2000.

CHIAVENATO, I. Recursos Humanos: o capital humano das organizações. São Paulo: Atlas, 2006.

MAGALHÃES, M. L.; BORGES-ANDRADE, J. E. Auto e hetero-avaliação no diagnóstico de necessidades de treinamento. Estudos de Psicologia, v. 6, n.1, p. 33-50, 2001.

ZANELLI, J.C. O Psicólogo nas Organizações de trabalho: formação e atividades profissionais. Florianópolis: Paralelo, 2004.

 

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Saber ouvir – Uma astúcia perversa à formação de competência gerencial?

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A inquietação que se apresenta nesse debate repousa sobre o viés da sedução organizacional e do sequestro da subjetividade do trabalhador, praticados com o intuito de torná-lo um “serv(o)idor” produtivo e, a partir dele, conquistar a estética de uma gestão bem-sucedida.

Nesse sentido, o objetivo deste texto introdutório é provocar uma reflexão acerca do “ouvir” na perspectiva de uma competência gerencial, trazendo à tona um paradoxo possível de ser observado no discurso de gestores entrevistados em diferentes organizações no Estado do Rio de Janeiro. Nesta reflexão, propomos que o “saber ouvir” pode ser entendido como uma competência gerencial. Para tanto, buscou-se diálogo com o fundamento da inteligência prática, na perspectiva da Psicodinâmica do Trabalho.

De acordo com os pressupostos da psicodinâmica do trabalho, a inteligência prática, mobilizada no sentido da astúcia em empreender soluções criativas àquilo que a prescrição não dá conta, considera que é uma inteligência fundamentalmente enraizada no corpo, pois os ajustes necessários à organização do trabalho seriam, primeiramente, alertados pelos sentidos, a partir de situações ou eventos que causam algum desconforto ou desprazer (DEJOURS, 1993;2011).

Tomando por base essa característica da inteligência prática, os aspectos sensoriais do gestor seriam uma espécie de painel de controle para lidar com situações dinâmicas oriundas do contexto em que ele está inserido. Esses aspectos sensoriais seriam, a priori, o alerta do corpo para buscar uma solução que supere aquele problema da realidade efetiva.

De acordo com o referencial teórico da Psicodinâmica do Trabalho, Dejours (1993;2011) afirma que esta inteligência é caracterizada como uma inteligência do corpo pelo fato de considerar que ela é a desestabilização deste corpo, em seu conjunto, sua reação a partir de um determinado estímulo, que dá início e passa a acompanhar a dinâmica desta inteligência prática.

Para o autor, seria, então, a partir dos dados sensoriais que o sujeito interpreta uma situação de trabalho, realiza um diagnóstico ou uma medida corretiva e faz uso da técnica posteriormente, para checar, operacionalizar ou universalizar a ação sugerida pelos seus sentidos.

Ao se entrevistar 10 gestores, de diversos níveis hierárquicos e contextos, indagando-lhes a respeito da forma como construíam suas competências gerenciais, uma categoria que surgiu dos relatos pode ser associada a um aspecto sensorial, na busca por soluções no que se refere à liderança de equipes: “saber ouvir”. Os entrevistados reforçavam essa ideia com relativa frequência. Em outras palavras, afirmavam que, para serem gestores bem-sucedidos, precisavam desenvolver um exercício cotidiano de prestar atenção nas necessidades de seus liderados, para ganhar sua credibilidade e respeito. No entanto, questionamos o sentido do ouvir, para estes gestores.

Segundo estes gestores, é através do ouvir que seria possível compreender o sujeito em sua própria perspectiva dentro da equipe e, assim, mobilizá-lo para o trabalho. A reação do corpo frente ao real do trabalho e a sujeição ao espaço propício para a inteligência prática resulta na busca de uma ação movida pelo fator sensorial do ouvir, quando o gestor, então, passa a considerar o alerta do corpo como uma saída para encontrar a devida solução que procura. É nesse momento que emerge a competência gerencial voltada para ouvir cada membro da equipe, numa relação essencialmente dinâmica e dependente do contexto.

Então eu sempre escutei muito as pessoas, sempre fiz muitas reuniões pra ouvir as opiniões, pra decidir com base nessas opiniões (…) Então, o que que eu faço: eu converso muito com eles. A gente senta e fala muito. A gente fica horas, falando, falando, falando, falando… preferencialmente até que se chegue a um consenso. Enquanto esse consenso não chega, são horas infindáveis de discussões e tal. Então… um caminho que eu entendi que seja um caminho muito interessante é esse, é falar muito, é ouvir muito, é abrir muito os espaços de conversa sobre aquele mesmo tema. E…Isso tem funcionado, isso tem funcionado. (Gestor D)

A partir do momento em que o gestor toma a iniciativa no sentido do ouvir, a relação social entre ele e seu subordinado passa a ter um caráter mais efetivo, na percepção do gestor. Na ótica do subordinado, essa ação pode vir a ser compreendida como uma competência gerencial. Seu discurso revela uma percepção na qual o gestor assume uma proximidade maior com ele (subordinado), propondo uma relação mais social e “humanizada”. Nessa perspectiva, o subordinado se sente valorizado, pois seu gestor supostamente pode ouvir seus problemas.

Já na ótica do gestor, a ação do ouvir o aproxima do subordinado, compreendendo melhor como este funciona, quais as perspectivas que tem do trabalho e quais as suas dificuldades em realizá-lo, além de se comprometer com o subordinado em “humanizar” as relações e transformar a organização do trabalho em um ambiente de maior amplitude de consideração subjetiva.

Aí está meu diferencial, eu paro tudo que estou fazendo e… as vezes é uma coisa pessoal dela que ela vem conversar comigo e no que eu posso ajudar eu tento conversar, orientar, ajudar,  direcionar para onde ela tem que buscar auxílio, seja psicológico, seja onde for. Então, assim, eu sempre tive essa preocupação de ouvir a pessoa, seja um problema pessoal, seja o que for… É aquela preocupação do ouvir. Não é só assim, você é só mais um, você me deu um resultado, mas se não….Não é só descartar… (Gestor A)

Torna-se interessante observar o que a fala do “Gestor A” revela.  A preocupação de ouvir a pessoa aparece relacionada com a possibilidade de o subordinado trazer algum resultado. Não há uma preocupação genuína com o sujeito, dentro de uma perspectiva que coloque esse sujeito como protagonista de uma relação, exceto se ele tiver uma função, a saber: trazer um resultado. É curioso observar que o “Não é só descartar” não está nem subjacente, mas surge com uma certa espontaneidade, e uma relativa naturalização.

Na perspectiva organizacional, a contribuição que essa competência gerencial traz, a partir da inteligência prática do gestor, pode ser associada à organização do trabalho gerencial. Com base no que o campo trouxe, uma gestão que “humaniza” a relação líder-liderado é uma gestão propensa a administrar da melhor forma os recursos disponíveis e incorporar o fator humano (Dejours, 2005) de forma mais adequada, levando em conta o seu dinamismo e peculiaridades.

Ouvir, para o gestor, mostra-se uma competência gerencial voltada para a administração da mudança, para dar rumo à organização do trabalho e sentido à visão compartilhada, ao mesmo tempo em que consolida todo um ciclo em que ele, gestor, como sujeito no trabalho, promove a manutenção de sua saúde mental e física, encontrando alternativas para as situações do trabalho real que a prescrição não soluciona.

No entanto, uma observação que pode ser feita está voltada para o significado de ouvir, uma vez que pode assumir uma competência instrumental. Não necessariamente a competência em ouvir, para os gestores, se mostrou como algo semelhante à empatia. Este ouvir pode se manifestar como uma forma de obter informações para tomar uma ação, chegar ao resultado final, não significando uma identificação com as necessidades do trabalhador ouvido, tendendo a algo semelhante a uma barganha.

Esse ambiente agradável não é fazer churrasco tudo pago pela gerência. É dar um bom dia pro cara, é ter tempo pra você ouvir o que o cara ta passando na vida dele, é você ter um ouvido, ter um ombro. E… Mas assim, quando você faz isso, você abre precedentes pro cara te contar os problemas dele, você vai ter que entender os problemas do cara, mas… você abre também precedentes pra virar pro cara e falar “olha, você ta errado, quero que você faça isso”. Maquiavélico ou não, do “O Príncipe” de Maquiavel, ou não, você vai ter que fazer o bem aos poucos. O bem aos poucos, cara, você… primeiro, ouve o cara, entende o problema dele, entende o que ta passando. Sente com ele. Sentiu com ele? Começa a dar a chance. Começa a virar pra ele e falar “olha, quero isso pra data tal.”. Estrutura, organiza. Estruturou, organizou, os resultados vão aparecer porque o salário não vai ser o problema, entendeu? (…) Então, assim, eu entendo que o gestor ele tem que observar o que que os funcionários dele necessitam. O que que eles estão precisando. Mas pra isso você tem que ouvir. Coisa eu acho que não é muito normal, né, no gestor. O gestor per si, ele manda. Ele manda, não ouve, ele fala, ne. É… Eu entendo um pouco diferente, eu entendo que pra ter um resultado maior, um resultado melhor, você tem que ter o cara do teu lado, ne. (Gestor E)

O desafio que se põe além da competência gerencial está na inclinação para uma apropriação da subjetividade, ou melhor , um apelo e um sequestro da subjetividade (FARIA, 2013, pp. 381-389).

A pessoa do “Gestor E” explicita que uma boa estratégia para ter o subordinado sob controle, dominado, é aprender a ouvi-lo até o ponto em que este lhe confia angústias da vida pessoal. Esse dado torna-se revelador, na medida em que o “saber ouvir” está ligado a “saber manipular” os afetos dos subordinados, para que se tenha mais facilidade em fazê-los produzir. Se recorrermos à tese de Pagès et ali (2008) podemos entender a lógica doutrinária do poder das organizações, que instala ritos de controle e obediência voluntaria de seus seguidores. Na fala do entrevistado acima referido, percebe-se que o discurso organizacional nem está travestido de algum eufemismo, por exemplo (VIEIRA & NOGUEIRA, 2013, pp. 159-170). Está explícito, pois o mesmo, inclusive, usa Maquiavel, para tentar justificar a naturalização de sua fala.

Pensamos que o “saber-ouvir”, para esse gestor, usa recursos de violência psicológica, na medida em que sua aproximação sentimental com os seus subordinados está condicionada a dominá-los psicologicamente. Oferece o ombro amigo ao subordinado. Entende o problema dele. Sente com ele. Depois que ele percebe que o gestor supostamente entendeu e sentiu suas dores, este se sente pronto para efetivar suas competências gerenciais: Estrutura, organiza. Estruturou, organizou, os resultados vão aparecer porque o salário não vai ser o problema, entendeu? E torna-se ainda mais curioso perceber como essa seria uma receita, um prescrito para ser seguido por outras práticas gestionárias: entendeu?

E quando o ambiente organizacional apresenta condições visivelmente precárias ou uma situação de crise, as estratégias de manipulação e controle da subjetividade do trabalhador aparecem como recursos mais eufemizados. O relato abaixo mostra essa consciência de um dos gestores entrevistados.

Assim, a primeira tentativa é sempre pelo convencimento do significado daquela… daquele trabalho. O significado que aquele trabalho tem para o empregado e principalmente pra companhia, ne. O que aquilo pode trazer de benefício para ambos, ne. Se existe, no caso, em que esse benefício vai ser para a empresa… Outros casos também pode ser para eles. Mas o ideal é que a gente conseguisse fazer esse conjunto. É claro que muitas vezes você passa por situações dentro duma… duma organização, em que ela foge um pouco às expectativas dos empregados, como, por exemplo, reestruturações, promoções… E aí com isso vem alguns… é… vamos dizer, desestímulos, algumas… é… situações que deixam o empregado sem aquele vigor de buscar e de fazer, seja pelo compromisso com a empresa, seja pela satisfação. E aí, assim, nessas horas é que eu entro com aquela… vamos dizer, com termo… é… não é o ideal, mas com a camaradagem. (Gestor G)

Faria (2013) lembra que desde a Revolução Industrial, o sequestro da subjetividade era considerado pela relação de propriedade da força de trabalho pelo capital, numa ótica de submissão forçada. Já no aspecto mais contemporâneo, a exploração, sequestro ou apropriação da subjetividade denota o apelo às emoções, ao afeto, ao saber, à intimidade, que formam a base de tradução racional idealizada pelos valores, interpretações, atitudes e ações.

De um lado, tem-se a violência psicológica mais explícita, na qual a relação de trabalho pode ser caracterizada por humilhações e aviltamentos entre chefes e subordinados ou mesmo entre os próprios pares.

Enriquez (2007, p. 191) destaca que a estrutura estratégica da empresa de hoje é um misto de racionalidade e paixão. Por um lado, seduz, ilude e engana. Por outro, exige que o indivíduo se conforme com as demissões injustificadas, com métodos cruéis de gestão tais como o assédio moral e sexual etc. “(…) A empresa diz de forma direta, e também de forma subliminar, o quão descartável é o indivíduo, tanto nos níveis mais baixos quanto mais altos da hierarquia”.

O objetivo desse texto foi trazer uma reflexão introdutória acerca do “saber ouvir”, como uma competência gerencial apontada por gestores entrevistados no Estado do Rio de Janeiro, em diferentes tipos de organizações. Fruto de uma inteligência prática, mobilizada no sentido da astúcia em empreender soluções criativas àquilo que a prescrição não dá conta, o “saber ouvir” traduz-se em uma inteligência enraizada no corpo, a partir dos dados sensoriais com os quais o gestor interpreta uma situação de trabalho, realiza um diagnóstico ou uma medida corretiva e faz uso da técnica posteriormente, para checar, operacionalizar ou universalizar a ação sugerida pelos seus sentidos.

No entanto, partindo de uma análise subjacente a esta astúcia, percebemos que os subordinados são considerados como meros recursos do sistema produtivo, fazendo jus à nomenclatura tradicional dos Recursos Humanos. Os participantes da pesquisa revelaram que consideram de suma importância desenvolver o exercício de “saber ouvir” seus funcionários, para constituírem suas competências como gestores.

“Saber ouvir”, para eles, implica em aprender a manipular a subjetividade dos seus empregados, ganhando sua confiança, para que estejam mais dispostos a servirem voluntariamente seus senhores, dizemos, gestores. Lembrando uma velha tese de La Boétie (2009), no discurso da servidão voluntária, os súditos docilizados não só perdem a liberdade, mas ganham a servidão! E a função gerencial, nesse particular, estaria corroborando a banalização dos sujeitos, como já discutidos por Hannah Arendt e por Christophe Dejours.

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