Das letras ao palco: a mente de um rockstar

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Ivan Silva em ação pela banda Maquinários – Foto: Acervo Pessoal

Às vezes ouvimos uma música e nem imaginamos o quão árduo foi o processo de sua composição. Também, por vezes, assistimos um grande artista se apresentando, cantamos e vibramos junto, mas nem paramos para pensar que aquela pessoa famosa percorreu um longo caminho até alcançar o sucesso, em sua carreira.

Tão difícil quanto pensar sobre isso é tentar adivinhar o que se passa pela mente de um artista bem sucedido. Com milhões de músicas disponibilizadas na internet todos os dias, o público está cada vez mais exigente. Será que todo artista está preparado psicologicamente para lidar com essa exigência?

Em entrevista ao portal (En)Cena, Ivan Silva, ex-vocalista da banda Maquinários1, nos conta um pouco da sua visão sobre essa vida em cima dos palcos.

(En)Cena – Você é mais conhecido por ter sido vocalista e um dos fundadores da banda Maquinários. Quanto tempo durou sua participação na banda?

Ivan Silva – Fiz parte dela por quatro anos.

(En)Cena – Com quantos anos você começou a se apresentar?

Ivan Silva – Aos 21 anos iniciei as minhas primeiras apresentações de palco ao lado da banda Maquinários, minha primeira e única banda. Ensaiamos durante um ano para podermos apresentar nosso trabalho ao público.

Ivan Silva com os integrantes da banda Maquinários – Foto: Acervo Pessoal

(En)Cena – Com a sua saída da banda, como ficou a sua relação com outros integrantes?

Ivan Silva – Minha saída foi tranquila. Já vinha conversando com meus companheiros sobre alguns projetos de vida que tinha de priorizar, e que não poderia me dedicar totalmente à banda. Em música (e qualquer outro projeto) você tem de estar completamente envolvido, de corpo e alma, senão no final você frustra a si mesmo e aos outros que dependem do seu envolvimento. Sou eternamente ‘brother’ deles e eles sempre poderão contar comigo para o que der e vier.

(En)Cena – Você compunha algumas das canções, não é mesmo? De onde tira inspiração para escrever as letras?

Ivan Silva – Olha, todo compositor precisa ler muito e ter uma vida cultural e social muito ativa. Claro que existem alguns que não precisam ler (risos). Mas em geral me inspiro em livros, filmes e deixo a loucura invadir minha mente. Como sou poeta também, desde pequeno sempre desconfiei da verdade absoluta, e nunca me contentei com o discurso clichê e estúpido do senso comum. Para escrever coisas interessantes você precisa ser (a palavra é exatamente essa) louco. Quem pensa padrão escreve padrão, fala padrão, e não se diferencia em nada do rebanho dos idiotas.

(En)Cena – A rotina é algo entediante. O que mais te estressa(va) na rotina de banda? Ensaiar, compor…

Ivan Silva – Nada me estressava na rotina de banda. Aliás, quando se faz arte não existe rotina. Trabalhe, obedeça a um chefe e leve uma vida medíocre, assista Rodrigo Faro e coma pizza aos domingos e ai sim você terá uma rotina. Como diria Confúcio: “Escolha um trabalho de que gostes, e não terás que trabalhar nem um dia na tua vida”.

(En)Cena – Quem sobe no palco nem sempre está motivado o suficiente para conseguir animar o público presente. Como você lida com essa, digamos, tarefa de levar boas vibrações para quem te assiste? Você faz algum tipo de preparo psicológico antes das apresentações?

Ivan Silva – Eu sou (modéstia à parte) parecido com o Jim Morrison no que diz respeito a ser vocalista. Bebo, fico louco, solto meus demônios, e isso contagia o público, que perde a vergonha e faz o mesmo que você. O artista é aquele que transforma ódio e amor em arte, e faz com que o público não tenha medo de jogar pra fora esses sentimentos, muitas vezes oprimidos pelas convenções sociais. Como diria Marcelo Nova (vocalista da banda Camisa de Vênus): “Não faço musica para adestrar macaco”.

Ivan Silva em ação pela banda Maquinários – Foto: Acervo Pessoal

Na minha música, você dança do jeito que bem entender. Sou louco no palco, honesto com minha arte, e o público sente isso. Quando você se transforma num personagem para aparecer, o público não sente a música, não sente você, e não se envolve.

Leia: “Renato Russo tinha força e carisma incríveis”, afirma Dado Villa Lobos.

(En)Cena – Vaia é sempre uma coisa ruim. Já recebeu alguma? Como lida com este tipo de reprovação?

Ivan Silva – Nunca recebi vaia, mas se recebesse, daria risadas e levaria numa boa. Mas o mais provável seria eu mandar todos para aquele lugar, já que critica destrutiva é uma forma descarada de chamar para a briga.

(En)Cena – Você é natural de Brasília, por muitos anos, considerada “A capital brasileira do rock”. Acredita que seja melhor para tocar rock por lá, onde a concorrência por espaço é maior, há mais público e incentivo cultural ou aqui, onde a concorrência é menor, há menos público, nenhum incentivo e apenas um local para se apresentar? 

Ivan Silva – Capital brasileira do rock só se for nos gibis (risos). O lugar para crescer como roqueiro é São Paulo. É lá que a coisa acontece. Brasília é um lugar legal, revelou muitos talentos, mas todos foram embora para os grandes centros para fazer sucesso. Região norte, centro oeste e nordeste não têm incentivo para quem quer tocar rock. Quer crescer, saia e vá para o sudeste ou sul.

(En)Cena – Você diria que, por se preocupar com melodia, letra, harmonia e outros aspectos musicais, a mente de um músico pode ser considerada uma “máquina”?

Ivan Silva – No sentido de ter que produzir, sim. Em geral todos os artistas honestos têm cabeças de máquina, pois uma mente que foge do consensual tem que trabalhar pesado para sustentar seus devaneios.

(En)Cena – Pra você, sob qual sentimento é melhor ou mais fácil para você escrever (compor)? E para se apresentar?

Ivan Silva – Não existe para mim um sentimento específico que me faça compor ou me apresentar. Posso estar inundado de amor e escrever uma canção de ódio. E vice-versa. Como eu disse, a loucura é o que me faz ser artista. E ela não é um sentimento, e sim uma dimensão, algo inexplicável e não palpável. Só experimentando para saber.

(En)Cena – Muitos roqueiros famosos como Elvis Presley, o baterista da banda Led Zeppelin, John Bonhame recentemente o vocalista da banda Charlie Brown Jr. Chorão que, não suportando as críticas e a rotina incessante de shows, fizeram uso abusivo de álcool e entorpecentes e vieram a falecer. O que você tem a dizer sobre os artistas que veem nas drogas a solução para as exigências que esse tipo de vida traz?

Ivan Silva – Cada um tem sua essência e faz de sua vida o que bem entender. Não sou totalmente contra as drogas, e odeio esse discurso politicamente correto de que o ser humano ideal tem que ser limpo das sujeiras do mundo perverso. Todo projeto de ser humano perfeito é autoritário e fascista.  Em geral, 90% dos roqueiros que fizeram obras primas geniais, o fizeram sob o torpor do álcool ou de outras substâncias. Então, quer usar use. Se não precisa, não use. E tenho dito!

Em sua história, o rock acumula muitos casos de roqueiros que ficaram famosos por beber e se drogar excessivamente, hábito este que levou parte deles ao óbito. Porém esta fama parece não ser condizente aos fãs do gênero musical. No Rock in Rio deste ano, segundo alguns vendedores ambulantes, fãs da cantora norte americana Beyoncé, por exemplo,consumiram mais cerveja que o público roqueiro.

Veja também: “Há 40 anos era sexo, drogas e rock n’roll. Agora é chá e refrigerante”, disse o baixista Geezer Butler da banda Black Sabbath.

Nota:

Máquinários no 1° campeonato de skate da Rockixe Skate Rockshop Chapecó

1 Maquinários: Banda de rock n’roll formada em 2008, em Palmas – TO, hoje tocando pelos palcos do sul do país, mais precisamente na cidade de Chapecó-SC. Ivan Silva foi integrante da banda por quatro anos e participou da gravação do primeiro trabalho oficial, intitulado “Seis milhas para o inferno”.

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Renato Russo: o homem, o poeta, o mito!

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“Há muito tempo atrás, numa terra distante, longe da civilização, existia um jovem rapaz chamado João de Santo Cristo. Esta é a sua história. Guardem com atenção essas palavras. E, lembrem-se: as drogas fazem você virar os seus pais.” (Faroeste Cabloco, Plateia Livre, parte II)

“Brasília é um futuro que aconteceu no passado. É o fracasso do sucesso mais espetacular do mundo. Brasília é uma estrela espatifada” (Clarice Lispector)

BSB, 1973: capital federal do Tédio com T bem grande pra você!
Renato Manfredini Jr, o Russo.

“_O que vai ser do Renato quando ele crescer? Ele é tão tímido!”

“Eu já sei o que eu vou ser; ser quando eu crescer…”

Renato, o patinho feio da ‘tchurma’ da Colina (Lá vem o Frankesntein), com seus coturnos, óculos e ar debochado, conseguia se destacar, nas palavras, nas letras, nos gestos, e, com isso, toda timidez desaparecia. O gênio, o artista, o poeta, o astrólogo: um pouco doido, um pouco meio assim, sei lá… acho que era o tipo de pessoa que metia-se dentro de si e ali encontrava o mundo. Mas, era um mundo estranho. E tinha medo. E tinha fome. Tinha delírios e sonhos.

“Quem me dera ao menos uma vez acreditar por um instante em tudo que existe. Acreditar que o mundo é perfeito, e todas as pessoas são felizes.”

Resolveu formar uma banda. A primeira. Não, não era o Aborto. Apresento-lhes: Renato, o desenhista: ‘Prazer, eu sou o Eric Russell, sou legal, sou virgem ascendente em peixes, tenho 23 anos, muita merda na cabeça, e vou fazer um som legal pra vocês, okay? Mas, assim, eu só toco em inglês.’

Com toda a licença poética desta narrativa em inventar as nuances do cantor – afinal só o nome aí é verdadeiro -, nascia a 42nd Street Band, e a descoberta, meio forçada por uma amiga: _ O que você vai ser quando você crescer? _ Denise, você acha que eu sou doido? Eu vou montar uma banda de rock!

Afinal, tribos são a única maneira de sobreviver individualmente.

Aqui, o poeta – embora ainda meio recluso na sua autodepreciação -, se revela ao mundo: Bem vindos ao Aborto Elétrico (Eletric Music for young hearts & minds).

“Muda o nome do conjunto, Renato! Esse nome é muito feio.”

“Mas aborto é a vida que vem da música!”

(…)

_ Professora, o que você acha que eu devo fazer da minha vida?

_ Renato, você seria um dramaturgo brilhante, mas não teria saco para manter uma trupe e repetir o texto noite após noite. Seria um diretor de cinema na linha do Glauber, livre e solto, mas não tem dinheiro para fazer filmes. Você pode, então, fazer o que está fazendo: rock. Gritar a sua mensagem. Que nem é sua, aliás.

_ Como assim?

_ Quando você canta numa banda chamada Aborto Elétrico, você está falando também do medo que todas as mulheres passam todos os dias. É uma declaração feminista.

(…)

Assim, Renato começa a rascunhar o próprio futuro, sem ter noção (ou talvez com toda a intenção) de que revelara ali muito de seu passado e presente. A música era sua forma de expressão, de exasperação, de demonização e exorcização.

As primeiras formas de falar de amor. Do seu amor. Da sua ‘opção’ sexual. “Aquele gosto amargo do teu corpo ficou na minha boca por mais tempo. De amargo, então, salgado ficou doce”. Renato na cova ‘pros’ leões. Sua primeira declaração de que não curtia as minas da cidade. Maurício veio bem depois, numa fase mais melancólica (“Às vezes faço planos, às vezes quero ir para algum país distante voltar a ser feliz”). O país distante não chegou a tempo. E Renato confessaria, minutos antes de morrer, à sua mãe, que só fora feliz na infância.

Toda genialidade, cedo ou tarde, leva a algum tipo de loucura. Renato era infeliz. E demonstrava isso em quase todas as letras e muitas vezes no palco mesmo. Renato era um ‘cordeiro’ solitário, depressivo e totalmente dependente das emoções. Renato não tinha medo da morte. Ele tinha medo da vida. Tinha medo do seu não encaixe no mundo em que vivia.

Não conseguia entender o atraso sócio-cultural em que seu país estava. E dissecava sua frustração em muitas de suas letras, onde falava sobre política e hipocrisia.

“Vamos comemorar como idiotas a cada fevereiro e feriado. Afinal, Que país é este? O Brasil é o país do futuro…”

E, talvez seja mesmo o país do futuro, porque não era o Brasil do presente do Renato. Sequer ainda é o nosso. Talvez nossos netos tenham mais sorte, e comecem a parafrasear Duas tribosde uma forma mais convincente.

Renato era obstinado com sua aparência (Narciso não devia ser um dos seus seres míticos preferidos), demorou a assumir sua homossexualidade, e, mesmo quando o fez, falava muito sobre a dor do amor, da perda, do que das nuances positivas.

A música Vento no litoral retrata bem isso. A idéia fixa do amor sem medidas, capaz de levar à loucura (no sentido real da palavra). Nela, Renato conta a história de uma pessoa que havia encontrado sua alma-gêmea (a escolha do cavalo-marinho aqui não foi aleatória), mas que acabou perdendo-a, e, com isso, começou a ter alucinações.

Neste ponto, sempre achei a personalidade de Renato com a de Cobain. Ambos eram pessoas que amavam demais os outros, mas de uma forma muito peculiar e triste mesmo, e se desprezam em igual proporção. Contudo, Cobain, no que tange à sua mortalidade física preferiu queimar se de uma vez do que se apagar aos poucos. Renato foi cometendo um suicídio lento, com dor, angústia, resignação e rebeldia.

Aonde está você agora, além de aqui dentro de mim? (…) Ei, ei, ei…olha só o que achei: cavalos-marinhos.

Certa feita, Erasmo de Rotterdam aduziu que a felicidade consistia em ser o que é. Talvez, esse fosse todo o problema de Renato. Ele não podia, ou não conseguia devido aos preconceitos da época, ser aquilo que ele realmente era. Expressar tudo aquilo que sentia. Viver da maneira que quisesse (sequer assumiu sua doença em público, como havia feito Cazuza). Isso, ele só fez com a música, não na vida real.

Ele tinha que ser o Júnior. Filho da classe média, transportado a Brasília pela força do destino. O menino de ouro, com QI e sensibilidade fora do normal. O professor. O pai. O brasiliense de criação. Mas, ele queria ser mais que isso. Queria poder se expressar de forma mais aberta na vida. Poder confessar seus pecados, e não empunhá-los goela abaixo sob doses de álcool.

Era difícil ter que dizer não a cada investida feminina- e essas aconteciam com freqüência, acreditem-, sem poder dizer de forma clara que aquela não era ‘sua praia’, que ele gostava de meninos e meninas, mas, dessas, não no sentido romântico de ser.

Sua rebeldia, e o conseqüente encontro com as drogas, talvez tenha muito a ver com essa necessidade de desmascarar-se. Renato se dizia punk, mas no fundo se auto-intitulava careta por não ser capaz de romper suas próprias barreiras.

“Você é tão moderno, se acha tão moderno, mas é igual aos seus pais. É só questão de idade, passando dessa fase, tanto fez e tanto faz.”

Muita coisa que Renato escreveu – a maioria, na verdade – era sobre si mesmo (isso não é uma característica exclusiva sua. A maioria dos artistas, de uma forma ou de outra, acaba se revelando através de sua arte, mesmo sem perceber). Embora cercado de muita gente, sempre fora um trovador solitário. Trancafiado em sua própria mente, com seus anseios frustrados.

“E Clarisse está trancada num banheiro e faz marcas no seu corpo com seu pequeno canivete, deitada num canto, seus tornozelos sangram…”

No início da carreira, ainda no Aborto, ele disse que o público não estava preparado para o tipo de som que eles faziam (Se, você quiser se divertir, invente suas próprias canções). E talvez não estivessem mesmo. Muita coisa foi vetada no início dos primeiros shows, afinal ninguém entendia que eu não quero mais viver; eu quero ser um vegetal; nada não tenho nada; não sinto nada; não vejo nada; não ouço nada; não quero nada; não espero nada a não ser uma faca faca faca faca faca; cortar minha carne com gilete; tomar comprimidos prá dormir e não acordar…

“Os mortos não podem voltar”

E o Aborto que poria tudo pra fora, foi-se.

E quem são vocês? Nós somos a Legião! Nós somos conseqüência de tudo o que o Júlio César fez. E, como legionários de Roma, viemos, vimos e vencemos.

Então, a pergunta se repete: So, Renato, what Will you be when grow up? _ I´m gonna be a very famous star. I wanna be a star.

E, dessa vez, o sonho se realizou.

BSB, 1982: capital federal da hipocrisia! Moramos na cidade, também o presidente, e todos vão fingindo viver decentemente, só que eu não pretendo ser tão decadente nãaao!

Fernando e Leonice viraram Eduardo e Mônica, e, na boa fase de Renato, eles ainda decidiram se casar. Um casamento indiano em algum lugar perto do mar. – Mas, o mar tá muito longe, um deles lembrou; vai ser aqui mesmo, e assim ficou. Foram pra Bahia e Ouro Preto; E o Eduardo foi parar lá no Banco Central. Cristalina, Sampa, Rio de Janeiro; E a Mônica dá aulas na escola normal; Eduardo e Mônica estão no Lago Norte; ele projetou a casa e ajudou construção; Só que nessas férias não vão viajar, porque o filhinho do Eduardo tá na recuperação…

Era o mestre dos conselhos, da chatice e da aberração.

– Qual o seu signo?

_ Câncer.

_ Câncer? Legal, você tem uma ligação forte com a lua… gostei de você! Tô fazendo um mapa astral. Quero fazer o seu!

Mas o astral muda. A Legião, que fora seu grande sonho – conquistado -, já não era suficiente para curar-lhe os males da alma, do corpo e do coração.

“Tudo é dor, e toda dor vem do desejo de não sentirmos dor.”

Renato implorava por um reconhecimento e uma aceitação espiritual que não era possível àquela época. Renato era precoce. Abortou-se antes do tempo. Ele não era dali.

Um homem à frente do seu tempo. Quebrou várias barreiras, é verdade. Fez sucesso. Tornou-se imortal. Mas, não conseguiu amar a si mesmo. Passou a se enclausurar, a não sair, não atender aos telefonemas, não receber visitas. Enfim, seu corpo e mente encontraram-se imersos na escuridão.

O poeta ainda vivia, mas só falava de dor e solidão. O disco A tempestade retrata bem essa fase de Renato. Engano dele quando dizia que não tinha se perdido, mas que mesmo assim, havia sido abandonado. Renato se perdeu em seu próprio ser. Ou melhor, perdeu-se por não poder ser o que realmente era.  Abandonou-se.

“Digam o que disserem, o mal do século é a solidão. Cada um de nós imerso em sua própria arrogância, esperando por um pouco de afeição.”

O homem faleceu em 11 de outubro de 1996. Venceu a vida, encontrando a morte!

O mito ainda vive.

Se me perguntarem se eu acho que ele morreu de Aids (ou das conseqüências dela) ou do uso abuso de álcool e drogas, eu direi com plena convicção: Renato cansou de viver. Suicidou-se à sua maneira.

Foi covarde (ou muito corajoso) e se matou aos poucos, do jeito que pôde. Cansou de não ser compreendido. Cansou de ser julgado, já que quem insiste em julgar os outros sempre tem alguma coisa pra esconder.

Afinal, o que fazer quando o sonho se torna maior do que o sonhador? Morrer parecia uma opção. Estrelas também morrem. Renato, de fato, tornou-se uma estrela. Morreu, mas seu brilho ainda continua-se a propagar no universo.

“Vinte e nove anjos nos saudaram e tive vinte nove amigos outra vez.”

Urbana Legio Omnia Vincit. Força Sempre!

Nota: Os diálogos do texto e algumas referências foram extraídos do livro “Renato Russo: O filho da Revolução” de Carlos Marcelo, Editora Agir.

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Renato Russo: essa saudade que eu sinto de tudo que eu ainda não vi

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É preciso amar as pessoas
Como se não houvesse amanhã
Porque se você parar pra pensar
Na verdade não há.

(Pais e Filhos)

Renato Russo

Em 1996 ainda não vivíamos flutuando em redes virtuais, compartilhando memes sobre a situação do nosso país, sobre novelas ou fatos cotidianos, nem víamos nascer a cada segundo uma nova celebridade em vídeos distribuídos em canais da rede. Tantas pessoas ainda morriam (e, infelizmente, ainda morrem) vítimas da AIDS, uma doença estigmatizada por preconceitos (velados ou claramente expostos). Renato Russo foi uma dessas pessoas. Mesmo sem falar abertamente sobre tal fato até quase o final de sua vida, contraiu o vírus HIV por volta do final da década de 1980 e teve que conviver com isso os seis anos seguintes, situação essa que, de certa forma, está refletida nas letras de algumas de suas músicas e nas suas escolhas para os discos solo que lançou.

Nasceu Renato Manfredini Júnior, no Rio de Janeiro. Morou, dos 7 aos 10 anos, em Nova Iorque (por causa do trabalho do seu pai), mas passou parte da adolescência e juventude na capital do País.

Foi em Brasília, uma cidade que nasceu como capital de um país imenso, que o Renato Manfredini foi moldando o artista que conhecemos como Renato Russo. Ainda na adolescência (entre os 15 e os 17 anos), foi acometido por uma doença óssea que o manteve preso à cama por grande parte desse tempo, mas também fez com que ele se aproximasse ainda mais dos livros e da música, o que deu à sua obra (especialmente as suas letras) uma nuance poética.

Capa do CD da banda Aborto Elétrico – ao Vivo UNB (1981)

Renato iniciou sua carreira na banda “Aborto Elétrico” (1978 – 1982). E ainda nessa época ele compôs alguns dos seus maiores sucessos, como “Faroeste Caboclo” e “Que país é esse”. Mas, por uma série de divergências com o baterista Fê Lemos (que depois formou a banda Capital Inicial) desistiu desse projeto e, então, deu-se o início a formação da Legião Urbana.

Primeira Formação da Legião Urbana

O primeiro Álbum da Legião foi lançado em 1985 em um cenário político em que se destacava o fim dos 21 anos de ditadura militar no Brasil e o início do governo do José Sarney, que assumiu a presidência após a morte de Tancredo Neves.  A principal música desse Álbum foi “Geração Coca-Cola”, uma crítica não apenas ao país, mas à sua própria geração, em versos que tanto expunha a homogeneização cultural advinda de uma grande potência como a apatia dos jovens perante aquele cenário.

Somos os filhos da revolução
Somos burgueses sem religião
Somos o futuro da nação
Geração Coca-Cola

Mas, nem só de crítica política foi construído o primeiro Álbum da Legião. Destacam-se, também, músicas como “Por enquanto”, em que é mostrada uma temática que constantemente está presente na obra de Renato Russo, que é a brevidade das relações e a finitude da vida (“Se lembra quando a gente / Chegou um dia a acreditar / Que tudo era pra sempre / Sem saber / Que o pra sempre / Sempre acaba…”) e  “Ainda é cedo”.

Uma menina me ensinou
Quase tudo que eu sei
Era quase escravidão
Mas ela me tratava como um rei

Há aqueles que acreditam que a “menina” citada na letra é uma analogia à cocaína, mas ainda prefiro pensar que tem ligação com um relacionamento que o Renato viveu. No CD As Quatro Estações – ao vivo, disco 2, é possível ouvir uma explicação dele sobre isso  ( http://youtu.be/-AAw7BSWTRE ).

“Tanta gente já foi embora da minha vida por causa disso. Porque eu sou mandão, ‘com a melhor das intenções’”. Ele fala isso nos momentos finais da música, depois canta partes de  Gimme Shelter, Pretty Vacant, Satisfaction, Jumping Jack Flash, Rock Around The Clock e Blue Suede Shoes. E quando voltam aos acordes de “Ainda é cedo”, ele diz: “ela gostava de todas essas músicas… Você está em algum lugar, eu sei… foi para você”. Uma coisa é certa, não importa a interpretação que se dê, a música é linda.

No Álbum Dois, de 1986, a Legião Urbana se consolida no cenário pop nacional, com músicas de acordes simples e letras pungentes. Inclusive, bem destoantes de algumas bandas da época, que tinham sucessos com letras mais inocentes e uma forma mais direta de atrair a mídia, com participação intensa em programas de TV, o que não era uma prática da Legião. Nesse álbum, músicas como “Será”, cuja estrofe de cunho contestador depois foi romantizada em outras versões, viraram hits a partir de versos como esses: Será só imaginação? Será que nada vai acontecer? Será que é tudo isso em vão? Será que vamos conseguir vencer?

Quem um dia irá dizer
Que existe razão
Nas coisas feitas pelo coração?
E quem irá dizer
Que não existe razão?
(Eduardo e Mônica)

No Álbum Dois, além da simplicidade genial de Eduardo e Mônica, com a descrição da história de amor de um casal que se completa “que nem feijão com arroz”, ainda estão presentes os versos melancólicos e dramáticos de músicas como Tempo Perdido.

Todos os dias quando acordo
Não tenho mais
O tempo que passou
Mas tenho muito tempo
Temos todo o tempo do mundo
[…]
Somos tão jovens

O ecletismo de Renato Russo pode ser observado especialmente na música Faroeste Caboclo, que, segundo ele mesmo, é uma espécie de junção entre estilos que vão desde Raul Seixas até a literatura de Cordel. Essa música tem nove minutos e, ao contrário de todas as previsões de agentes da indústria fonográfica, transformou-se em um hit e agora virou um filme com estreia prevista para 30 de maio de 2013 (trailer: http://youtu.be/4azYkNkPtJg ).


Não tinha medo o tal João de Santo Cristo
Era o que todos diziam quando ele se perdeu
Deixou pra trás todo o marasmo da fazenda
Só pra sentir no seu sangue o ódio que Jesus lhe deu
(Faroeste Caboclo)

O terceiro Álbum da Legião – As Quatro Estações (1989) – traz à tona (de forma mais intensa) parte da figura complexa que foi Renato Russo. Se, geralmente, os fãs costumam achar que sua música reflete muito daquilo que ele viveu e sentiu, versos como “Parece cocaína/Mas é só tristeza” dão uma amostra das conturbações emocionais sempre presentes em sua vida. Renato tinha problemas com drogas e álcool (esse último desde a adolescência) e parecia viver em uma espécie de montanha-russa, com rompantes de raiva, melancolia e carência, mas isso são apenas impressões que podem não condizer com a realidade. A época do lançamento desse álbum coincide com a descoberta de que ele era soropositivo. Às vezes é possível quase sentir seus temores (que nascem do “cansaço e da solidão”), mas, mesmo em meio à tristeza de alguns trechos da sua música, há esperança quando sua voz forte pronuncia que:

Disciplina é liberdade
Compaixão é fortaleza
Ter bondade é ter coragem (Ela disse)
Lá em casa tem um poço
Mas a água é muito limpa…

(Há Tempos)

Com o lançamento desse álbum, o cantor assumiu publicamente sua homossexualidade. Assim, o rapaz nascido em uma família tradicional e católica cantou aos quatro cantos do país que gostava de “meninos e meninas”, e muitos entoaram esses versos com ele.  Quando lhe perguntaram sobre isso, ele disse: “Eu estava precisando me assumir há muito tempo (…) mas fica aquela coisa, filho de católico, ‘você é doente’ etc.  No meio do caminho, eu já estava pensando: pô, eu sou um cara tão legal, eu não posso ser doente. (…) Eu sempre gostei de meninos – eu gosto de meninas também -, mas eu gosto de meninos. Como é que não é natural? Se eu sou assim desde os quatro anos, então sou doente, pervertido… ah, não!”.

Não sou escravo de ninguém
Ninguém senhor do meu domínio
Sei o que devo defender
E por valor eu tenho
E temo o que agora se desfaz.
[…]
É a verdade o que assombra
O descaso que condena
A estupidez o que destrói
Eu vejo tudo que se foi
E o que não existe mais
(Metal Contra as Nuvens, Álbum V)

É difícil definir o Renato, mesmo em sua superfície, pois ele parece ser mais complexo que todas as letras que criou, ainda que em meio a referências tão heterogêneas que vão desde Camões até as passagens bíblicas. Uma vez li em “A Insustentável Leveza do Ser”, do Milan Kundera, sobre o quão absurda é a leveza da vida, de uma única vida. A impressão que temos é que quando iniciamos o processo de aprender a lidar com ela (a vida), partimos. Em “Teatro dos Vampiros”, Renato disse “sempre precisei de um pouco de atenção, acho que não sei quem sou, só sei do que não gosto […] Esse é o nosso mundo: o que é demais nunca é o bastante e a primeira vez é sempre a última chance”. Talvez mais gente compartilhe do seu sentimento, daí o sucesso de sua música e o fato dela perdurar mesmo em meio a um cenário musical tão estranho em que, algumas vezes, uma série de interjeições forma uma letra de música.


Álbum – O Descobrimento do Brasil (1993)

O álbum “O Descobrimento do Brasil” foi lançado em 1993. O fim do ano anterior foi marcado peloimpeachment do presidente Collor. Assim, a crítica à podridão política e a situação precária da Segurança e da Educação do Brasil pode ser sentida nos versos cortantes de Perfeição.

Ao lançar seu primeiro disco solo, The Stonewall Celebration Concert (referência aos conflitos violentos entre a polícia de Nova Iorque e a comunidade LGBT, no bar Stonewall Inn, em 1969), Renato assume uma face angustiada de quem se despede contra a vontade. Uma das músicas deste CD parece resumir seu sentimento:

Em entrevistas sobre este CD Renato falou da felicidade em poder cantar as letras das músicas de acordo com seus sentimentos, sem precisar esconder nada. No caso de If Tomorrow Never Comes, Renato trocou o “she” original pelo “he”.

Assim, em meio a conturbações na banda – muito em razão do seu gênio difícil -, a shows cancelados, à carreira solo (um projeto que deveria ocorrer em paralelo), tem-se o início da fase mais complicada da sua vida. A dependência química, a forte medicação (“Quando eu tomo o coquetel [de AZT e outros] é como se estivesse comendo um cachorro vivo. E o cachorro me come por dentro”, dizia Renato) e um quadro de depressão que foi agravado com o aumento dos sintomas da doença marcaram seus últimos dias. Em Via Láctea, música do último álbum que gravou com a Legião, ele disse que “Hoje a tristeza não é passageira, hoje fiquei com febre a tarde inteira. E quando chegar a noite, cada estrela parecerá uma lágrima. Quando tudo está perdido, eu me sinto tão sozinho. Quando tudo está perdido, não quero mais ser quem eu sou”. E, ao final, agradece “obrigado por pensar em mim”.

E mais de 16 anos após a sua morte, ainda estamos pensando nele. Filmes vão estrear homenageando sua obra e retratando sua vida (Somos tão Jovens, trailer: http://youtu.be/xa3izIueaE4 ). Então….

Só por hoje eu não quero mais chorar
Só por hoje eu não vou me destruir
Posso até ficar triste se eu quiser
É só por hoje, ao menos isso eu aprendi.

 

Referências:

http://www.legiaourbana.com.br/

http://www.culturabrasil.pro.br/tempoganho.htm

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Raul Seixas: ele é ele e nicuri é o diabo

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Parte 2


Para começar: o que eu disser nesse “Raul Seixas – Parte 2” não findará o manancial de coisas que poderiam ser ditas a respeito de um ícone. Adianto também que não sou conhecedora fidedigna das duzentas e tantas músicas que estão assinadas pelo nome de Raul Seixas em seus 21 álbuns. Quando comecei a escrever o primeiro texto sobre ele pensei que eu pudesse estar sendo demasiadamente pretensiosa, quando depois me toquei que – embora o texto seja publicado para qualquer pessoa ler – ele vai estar dizendo mais de mim do que do Raul Seixas. Não titubeei. Escrevi Raul Seixas – Parte 1 e escrevo agora o Raul Seixas – Parte 2. E para quem gosta de brincar com letras e números (como fez Raul na alucinada música “Os Números”), fique à vontade para escrever mais sobre esse cara, seja em forma de comentário, seja em forma de outro texto (ou qualquer outra produção que possa – de preferência – ser publicada aqui no portal).

A opção por fazer esse segundo texto veio da sensação de incompletude advinda pelo término do texto anterior. Hoje sei, como já disse, que essa sensação não cessará, mas também não me impedirá de escrever mais sobre o que eu quiser, pois já dizia Raulzito – sábio em quase tudo o que falava – que um “homem tem direito de pensar o que ele quiser, de escrever o que ele quiser” (assim como o que ele queria era o que pensava e fazia).

Adianto, leitores, que se há algum legado sobre o qual Raul fez questão de participar, foi esse de que tudo o que é da nossa vontade e do nosso querer há de estar dentro da lei, nem que essa lei seja própria e singular (o que a autentica ainda mais).

Raul Seixas parecia mesmo presar a autenticidade e dizia – como consolo ou desolo – para os que gostam de ir ao banheiro chorar, que as coisas não são bem assim. Dizia do amor rico quando multiplicado, como quem bem sabia da hora que o trem passa pela vida. E nisso do tempo passar, também sabia que não podia mais ficar parado com o cabelo grande enquanto o rock já havia se transmutado.

Falando em Rock, todo mundo sabe que Raul ficou conhecido como o pai do rock brasileiro. No entanto, conseguiu a façanha de misturá-lo às raízes de seu baião e de sua nordestinidade, legitimando ainda mais o seu estilo musical. Quer uma música rica, vigorosa e diferente? Então se embale, primeiramente, com o som do berimbau, depois dos batuques, depois do triângulo e, por fim, da bateria que encorpam a incorporante música “Mosca na Sopa”. Ali você pode sentir toda a versatilidade de um artista que conseguiu unir sons primariamente dissonantes.

Falando em dissonâncias, muitas foram as críticas proferidas frente à descrença (ou crença ao avesso) de Raul Seixas quanto à religião, como se sua música apologizasse verdades ferrenhamente escondidas. Mais uma vez, visionário, enquanto a maioria se contentava em usar colírio ou óculos escuros, Raul Seixas não batia a cara contra o muro. Sua melhor resposta, sem sombra de dúvidas, veio na voz de Um Messias Indeciso que dizia que “quem faz o destino é a gente, na mente de quem for capaz”. Esse Messias não queria ser adorado (poser!), só queria ser feliz. Acho que foi os dois!

Desculpem-me (ou não) pelo misticismo embutido no texto, mas eu não poderia deixar de dizer do equilíbrio que há entre um Sol em Câncer e uma Lua em Aquário, como era o caso do mapa astral de Raul Seixas. Ainda bem que foi assim, pois se não fosse assim não seria ele, que de Câncer herdou a sensibilidade, a imaginação e a intuição, e de Aquário herdou o desejo pela verdade e pela liberdade… e o desejo pelo desejo também! No entanto, toda essa vaidade posta e imposta descende de um ascendente em Leão que mesmo não tendo dente, ruge, e o rugido em si vira dente que abocanha e afugenta a bel prazer. Raul sabia que chorar as pitangas em forma de música era a forma mais catártica (e transcendente) que existe.

Raul Seixas também dizia que a sentença de um homem é medida pelo quanto esse mesmo homem consegue pensar. Se você não pensa, você não corre risco, mas também não usa nem 1% de sua cabeça animal. Se você não pensa, você mergulha na cega e vazia escravidão do ser, deixando que os outros pensem por você e aprisionem confortavelmente a única forma de liberdade de você pode ter. No entanto, se você pensa, “vai fundo e dá-lhe que dá, que – depois da sua morte – não vai mais sangrar”.

Raulzito, com audácia e ousadia marcantes, pagou o preço pelo seu mirabolante pensar. Seu pensar, de tão lúcido, apresentou-se maluco, paranoico, delirante e alucinado aos cegos do castelo. Raul Seixas – enquanto recostado no muro, fumando seu cigarro – já foi invasivamente sentenciado, assassinado e comido (ou melhor, teve o cérebro comido) pelos “manda chuva”, no metrô 743. (Que mundo instigante devia existir em sua cabeçorra envolta de cachos!) Mas a morte para o Raul não era coisa de outro mundo. Aliás, transitar pelos mundos era com ele mesmo, porque, afinal, ele sempre volta, mesmo tendo ido pro almoço como o Dr. Pacheco (pois ainda não chegou a hora de ir embora), e ele fica (pra quem canta e espera a hora de chegar), e ele chega (fazendo suas curvas pra cantar), e ele ferve (como um vulcão em chamas), e ele treme (como um amor remoto que não soube viver), e ele vive (para poder contar aos filhos), e ele sobe (como quem carrega o mundo sem querer sentir), e ele sente (que a dor que escondeu no peito uma hora surge) e, surgindo, ele pode seguir sempre como o Homem que foi.

Que a riqueza de sua existência reverbere e possa pincelar nas pessoas – da forma que for – muita imaginação, ousadia, autenticidade, criatividade e coragem pra saber porque os sinos dobram.  É dessa forma que eu sinto o Raul Seixas. E é também através disso que eu acho que a vida pode vibrar mais potente e colorida. Com ele aprendi que eu sou eu e nicuri é o diabo, além de ter aprendido a escolher um sapato que não vai mais me apertar. Viva o Raul! Toca Raul!

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