Reminiscências da minha Vó Helena

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Todos morreremos e o que deixaremos como lembrança, Vovó Helena? Porque hoje o café da tarde foi acompanhado por doces feitos de SAUDADE…
Eu preciso escrever sobre isso…

Já escrevi outras vezes que, durante a vida, eu e a morte nunca seremos amigas íntimas. O que não me impede de dialogar com ela, às vezes, sobre a brevidade da vida. Tantas mortes em Brumadinho, tantas mortes no RJ ontem, tantas mortes diárias e repentinas me forçam a refletir se eu deixarei uma mensagem positiva para as pessoas neste mundo.

Esse texto não é mórbido, nem funesto, tampouco depressivo. Contudo, é reflexivo.

Lembrei do filme Sociedade dos Poetas Mortos quando o professor pergunta “Que verso você está escrevendo no poema da sua vida?”

Por isso, quero ser lembrada como a leveza das brumas do céu, igualmente como rememorei minha vó Helena, que faria aniversário estes dias.

E a SAUDADE chega sem pedir licença, e nos abraça tão forte que mareja os olhos… Como há pouco, quando entrei na padaria e vi esses doces da foto. Recordei que quando criança, vovó Helena nos levava com ela ao Banco da Amazônia para receber sua aposentadoria.

Íamos andando pelo cais de Santarém e, na volta, era ritualístico pararmos na saudosa Padaria Lucy para que vovó comprasse essas doçuras, que eram irmamente divididos para seus netos, uns 5 doces para cada. Era a nossa ida ao shopping naquela época.

Fonte: https://bit.ly/2Er4dZ6

Então, essa recordação fez meus pensamentos viajarem pelo túnel do tempo. Foi tanta saudade que comprei os doces e, inevitavelmente, também dividi com as pessoas que tanto amo.

Então, despertou-me a vontade de escrever que pequenos gestos eternizam pessoas em nossos corações.

Por isso, que tenhamos o cuidado e a sabedoria de deixar na memória daqueles com quem convivemos sempre ” um verso de amor”.

Não precisa ser clássico ou com rimas raras.

Pode ser simples.

Pode ser um sorriso, uma gentileza, uma palavra que engrandeça, um abraço, uma mão amiga, uma presença sincera, uma solicitude …enfim.

Porque o AMOR não precisa de grandes manifestações para morar para sempre nas nossas reminiscências.

Fonte: https://bit.ly/2Tfgo3l

E você?

Que versos está escrevendo para a eternidade?

Como você quer ser lembrado?

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Adeus, Mãe!

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A minha mãe, que sinto, mesmo não estando de corpo presente,
mesmo que não saibamos onde se encontra  – se não nos nossos corações –
aplaude com orgulho mais essa fase que venci”

Essa foi minha dedicatória impressa em meu trabalho de conclusão de curso. Por quê? Porque ela está em tudo, assim como tudo aquilo que conquisto é para ela.

Foi exatamente no dia 26 de agosto de 1994 que um trecho da minha história acabou. Sei dessa data porque nos últimos dezenove anos eu a escutei diversas vezes e por infinitas vezes ela é considerada a data mais triste de nossas vidas. Se caso não tivessem me falado que foi no dia 26 de agosto de 1994 não saberia, certamente iria descobrir que de repente ela não estava mais por perto. O ruim de ser criança, nessas horas, é exatamente isso; de uma hora para outra o colo sumiu e muitos outros colos (alguns até estranhos) apareceram… e que bom que apareceram.

“O que é mais chato em tudo isso?”me perguntam. O mais chato é quando alguém pergunta por ela e, quando recebem a resposta, cuidam logo de pedir desculpas. Desculpa porquê? Entendo o peso da resposta, também entendo o desconforto, mas não existe uma razão para um pedido de desculpas, porque não há culpados. Não, eu não me sinto triste quando perguntam sobre ela, pelo o contrário, a coisa mais linda entre todas as coisas é saber que ela existiu. Aceito que ela tenha partido, mas não aceito que ela seja esquecida.

“Você sente saudades?” É possível que uma criança, aos cinco anos de idade, sinta saudades? Sim, mas é uma saudade diferente. Os outros sentem saudades do que viveram ao lado dela, sinto saudades daquilo que não vivi e do que eu poderia ter vivido com ela. Penso quase todos os dias como seria se ela estivesse aqui. Às vezes, numa tentativa de suprir essa saudade, simulo situações e as possíveis reações dela, se caso ainda estivesse presente. E funciona.

É bobeira lutar contra a saudade, é travar guerra com um inimigo poderoso e invencível. Prefiro seguir o ditado: quem não pode com o inimigo, une-se a ele.

“Você chorou?” Não sei. Não lembro.  Tenho poucas lembranças, tanto dela quanto da última vez que a vi, para falar a verdade. Lembro-me de pedaços de vida, lembro-me de alguns passeios, dos bolos de abacaxi que ela fazia, de ficarmos até tarde assistindo televisão, das broncas e da roupa que ela estava vestindo naquele último dia. Alguns dizem que foi meu “mecanismo de defesa” que agiu e que por isso não recordo, outros falam que por conta da pouca idade é difícil mesmo lembrar (e me apego a essa versão). Aí então,corro, pego algumas fotos dela e pronto: estou salva.

Mas eu choro, por tudo, pela saudade, pelas poucas lembranças, pela impossibilidade de um futuro ao lado dela. Imagino que ela esteja logo ali, de pé, orgulhosa e boba, igual uma mãe como todas as outras. E isso é lindo.

Ela é como uma “sombra de luz” porque está em tudo, está junto ao meu coração, que pulsa todos os dias para me fazer lembrar – e sentir – que ela está aqui, o tempo todo.

Quando vejo alguém passando pelo o que eu passei, a única coisa que aconselho é que chore. Chorar sem culpa e sem culpar. Porque as lágrimas aliviam o peso, lava a tristeza e é somente isso que nos resta, nos confortar entre uma lembrança e outra.

A saudade não passa, é inútil alguém dizer o contrário. Sinto informar, mas, ela só aumenta. Mas deixa de ser uma saudade dolorosa, que destrói o peito e os pensamentos, e se torna uma saudade bonita e, ao invés de chorar, a gente ri e agradecemos: Obrigada por ter existido e me escolhido para passar esse tempo com você.

O que penso sobre tudo isso? Que a senhora minha mãe deve estar muito orgulhosa porque os três presentes que ela deu ao mundo estão crescidos e formados, um deles até é metido a escritor e dedica versos a ela (minha mãe deve estar ‘se achando’ por ter se tornado literatura, eu diria, rs).

É isso, na verdade, não é somente isso, mas é um pedaço da experiência de um coração que, mesmo carregado de saudades, consegue pulsar tranquilamente e que se sente mais feliz ao lembrar que a mãe dele existiu.

Dos versos que dediquei a ela:

“26 de Agosto: data nenhuma parece ser tão importuna quanto essa. Acabo me rendendo às 24 horas pesadas que esse dia traz entre os minutos. Antecipo cansaço uma semana antes. Mesmo se eu fugisse para outra dimensão ainda recordaria esse dia, apesar de não lembrá-lo com clareza. Algumas pessoas chorando, correria, silêncio, questionamentos a Deus, aos santos e anjos.  Desculpas esfarrapadas e orações jogadas ao vento, sem querer isso marca qualquer dia do calendário. O mês não faz tanto efeito, o que pesa mesmo é o dia. 26 de agosto, que sempre tem gosto de vazio, embrulha meu estomago, é sempre espera sem resultados. (…) Grito saudade por dentro, dou parabéns à morte por conseguir, só para ela, alguém que todos nós tínhamos. Ninguém nunca me respondeu e nem mesmo sei porque ela se foi.”

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orvalho

Culto à Essência

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Pensamentos clamam pra serem ouvidos e infância de pé no chão grita à memória saudosa por um tempo doce que nunca mais… Nesse momento, sons de cristais invadem o instante sem cerimônia e, na mais profunda contemplação, me fazem ouvir poesias de uma Terra Sonâmbula e o vento zunir entre as frestas das janelas trazendo enlevo ao coração confuso pelo amanhã. Não muito longe dali, ondas furiosas quebram na areia em moto perpétuo reafirmando a magnitude da dor… A noite é alta, a lua cheia e o peito se aperta para além do limite. Pra onde vão afinal todos que amamos? Onde se esconde o tempo que nos consome e devora tudo aquilo nos que é caro? Sei não minha mãe. Sei que saudade é coisa dura e dói demais.

Peço então silêncio, quero ouvir o sussurro de amores mágicos que habitaram meu corpo em delícias profanas e eternas, mas que se foram pra sempre; quero o riso ainda criança de meus filhos amados na memória da alma que, nesse exato instante, chora por só poder tocá-los na tela morta de um monitor qualquer; quero ouvir mãe no fogão de lenha ralhando com minha fome pueril e pai recitando poesias que me ensinaram a ser homem sensível à beleza. Não tem distância mais longa nem tempo mais demorado que a saudade.

Silêncio! Proíbo por decreto toda tecnologia que emburrece e condena ao ostracismo a potência criativa do ócio assim como a beleza sensual das bromélias. Basta de virtualidade, preciso urgente do encontro de corpos que dividam dor e alegria na obscura estrada, de fluidos que se fundam com prazer e entrega absoluta.  Preciso de música que carregue o espírito e penetre a carne com sons que arremetam a outros universos. Preciso da textura da pele suada, do cheiro líquido do cio e da febre rubra de lábios que se sugam. Preciso da seiva da vida e do toque das mãos pra não fenecer aos poucos no paraíso da ciber-mediocridade.

Silêncio, por favor, pago o que for pelo hectare de um bom silêncio e pelas salas das casas libertas do altar onde reina diabólica sua majestade televisão. Preciso de gente desejosa que se nota, se devora, se inveja e conversa coisas que valham a pena até o raiar do dia, sem a catarse costumeira dos destilados, entorpecentes e caixas de som que berram porcarias erotizadas, repetitivas  e sem valor.

Silêncio, quero ouvir a juventude tendo algo pra contestar e Cazuza pedindo uma ideologia pra suportar viver… Preciso do silêncio, nada mais que o silêncio das tardes vagabundas e noites de lua onde, deitado na rede, toco inutilmente as estrelas com as pontas dos dedos. Preciso dos amanheceres ao lado de bons amigos, onde olhos se olham e o hálito da pele se faz presente até que a aurora exploda o manto negro da noite em espetáculo magnífico de contemplação.

Silêncio! A natureza chama, reclama e avisa. Nada de eficiência, praticidade, explicação ou lógica. Só o que for essencialmente humano, só contemplação à magnitude do orvalho e à pequenez da existência. Só solidão da boa, só e simplesmente só o silêncio…

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Lençol branco com bolinhas vermelhas

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Ilustração: Paulo André Borges

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