Bird Box: o apocalipse e os sentidos além da visão

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Muito mais do que apenas uma história de suspense, Birdbox chama a atenção por sua carga dramática, além de fugir de narrativas usuais ao nos apresentar uma história em que o perigo é desconhecido tanto aos personagens como ao próprio espectador

Lançado no final do mês de dezembro, o filme “Bird box”, baseado no romance homônimo de Josh Malerman, sob a direção de Susanne Brier e estrelado por Sandra Bullock, nos apresenta uma história permeada por muito suspense e drama. Seguindo boa parte da narrativa do romance, Bird box constrói, logo no começo do filme, uma atmosfera de tensão que é sustentada até o momento do clímax.

As vivências da personagem principal ao longo das duas horas de filme são intensas e caóticas, e acompanhamos sua evolução ao longo de toda a história, perpassando sua vida antes dos eventos retratados no filme, suas vivências durante e após esses eventos e, como um dos focos principais da história, sua jornada durante a travessia a barco no rio.

Muito mais do que apenas uma história de suspense, Bird box chama a atenção por sua carga dramática, além de fugir de narrativas usuais ao nos apresentar uma história em que o perigo é desconhecido tanto aos personagens como ao próprio espectador, que possui a liberdade de formular teorias a respeito dos eventos do filme. Conservando a fidelidade à história de Josh Malerman, mas adicionando novos elementos que agregam ainda mais suspense à narrativa, o filme acerta em diversos pontos e nos permite também tecer algumas reflexões, que serão discutidas ao longo do texto.

Fonte: https://bit.ly/2F4mqgA

Resumo do Filme

*Os parágrafos a seguir contém spoiler, se você ainda não assistiu ao filme pode seguir para o próximo tópico.

A história gira em torno de uma catástrofe que, progressivamente, acomete o mundo inteiro: uma força ou entidade desconhecida que, quando entra em contato com os seres humanos através da visão, os leva à loucura e consequentemente ao suicídio. A personagem principal, Malorie, ainda no início do filme, se vê no meio de uma situação caótica e extremamente perigosa após sair de uma consulta com sua irmã, para tratar de sua gravidez.

As ruas estão tomadas pela loucura e o desespero, carros capotam, colidem uns nos outros, e pessoas cometem suicídio de maneira desenfreada. Em um dado momento, sua irmã, que estava dirigindo, enxerga alguma coisa antes de lançar o carro com força no asfalto e capotar. As duas sobrevivem ao acidente, mas a irmã de Malorie se atira em frente a um caminhão em movimento. Desnorteada, Malorie vaga pelas ruas e segue uma multidão de sobreviventes até chegar a uma casa cheia de pessoas refugiadas. Os próximos dias de sua vida passam a ser totalmente condicionados a sobreviver, utilizando vendas para proteger a visão, fechando todas as portas e janelas, e nunca saindo de casa, a não ser para buscar suprimentos.

Fonte: https://bit.ly/2H2gx5w

Com o passar dos dias, mais pessoas chegam até a casa, entre elas, Olympia, outra mulher grávida, e, mais tarde, Gary, um homem que diz ter sido vítima de pessoas que andam pelas ruas sem vendas e não são afetadas. Malorie estabelece uma relação de afeto principalmente com Tom, que assume a postura de liderança do grupo, e com Olympia, dividindo com ela os momentos de gravidez. Um dos momentos mais importantes do filme se dá quando, numa visita ao mercado para buscar suprimentos, Malorie e os outros sobreviventes encontram uma caixa de pássaros que fazem barulho quando sentem o perigo por perto. Malorie leva a caixa para o seu novo abrigo.

Um após outro, ao longo do filme, seus amigos são acometidos pelo mal das ruas, uns tentando descobrir a origem da situação, outros durante a busca de suprimentos, e, a maioria deles por causa de Gary, que revela ser uma das pessoas que não se afetam com a loucura, provavelmente por já serem loucos. Enquanto Olympia e Malorie entram em trabalho de parto, Gary força os moradores a encararem o mundo de fora, abrindo as janelas e desprotegendo seus olhos. Todos acabam morrendo, com exceção de Tom, que consegue deter Gary, matando-o. A filha de Olympia passa a ficar sob os cuidados de Malorie, que a assume também como filha.

Anos depois, Tom e Malorie desenvolvem uma relação romântica e passam a traçar um plano para chegar até um abrigo onde supostamente haveria mais suprimentos e melhores condições de vida, conforme informado através de uma transmissão radiofônica. Malorie treina as crianças para identificar sons e andar vendados. Após algumas pessoas invadirem o lugar onde Tom e Malorie haviam buscado suprimentos, ele pede que ela fuja com as crianças e enfrenta os invasores, conseguindo deter todos antes de ser acometido pela loucura e cometer suicídio.

As cenas do rio, que ganham foco ao longo do filme, mostram Malorie e as crianças fugindo de barco para chegar até ao abrigo, levando também a caixa de pássaros. Os três enfrentam muitos perigos, incluindo o ataque de uma das pessoas que andam sem vendas. Após dias de uma viagem exaustiva, os três chegam à terra firme. Em um dado momento, Malorie se separa de seus filhos. Vários sussurros ao redor da floresta orientam as crianças a tirarem suas vendas, muitas vezes imitando a voz de Malorie. Numa cena emocionante, Malorie consegue se reunir com as crianças antes que estas fossem enganadas pelos sussurros. Os três são perseguidos pela força desconhecida, até que conseguem chegar ao abrigo.

Fonte: https://bit.ly/2AtEEUR

O final do filme nos presenteia com cenas carregadas emocionalmente. Descobrimos que o abrigo é, na verdade, uma escola para cegos. Ryan, o homem responsável pelo lugar, assim como outros sobreviventes, é cego. A cena final, a cereja do bolo do filme, mostra Malorie libertando os pássaros da caixa e nomeando seus filhos pela primeira vez, como uma homenagem a seus falecidos companheiros: Olympia e Tom.

Os sentidos além da visão

Um dos temas mais interessantes tratados em “Birdbox” é, sem dúvidas, a utilização dos sentidos além da visão, que é, na maior parte do tempo, nossa fonte principal de informações do ambiente. Malorie e os sobreviventes precisam confiar em seus outros sentidos, principalmente o tato e a audição, para se deslocarem com segurança fora do abrigo. A constante ameaça de um perigo desconhecido para todos é um dos maiores fardos que os personagens carregam na história, com o acréscimo de não poderem enxergar o mundo e suas formas como haviam feito durante toda a vida, a não ser dentro da segurança de seus lares e abrigos.

Trazendo para a realidade, é compreensível a dificuldade em se adaptar com a ausência da visão. Para quem conhece o mundo com os olhos, a ideia de não poder enxergar pode ser horripilante. Expostos a essas condições, os filhos de Malorie, anos após os eventos, se submetem a um exaustivo treinamento imposto pela mãe com o objetivo de se adaptarem ao ambiente utilizando os outros sentidos. Com um faro apurado, uma audição funcional e detalhista e uma capacidade de reconhecer objetos e coisas com o toque, as crianças de Malorie passam a conhecer o mundo como se, de fato, a visão não fosse uma opção.

Privados de sair de casa, suas vidas por quatro anos eram limitadas ao ambiente do abrigo, e o que havia fora desse espaço, todas as formas, cores e aspectos do mundo, eram elementos desconhecidos a seus repertórios. O contato com o ambiente externo, durante a jornada pelo rio, foi o desafio final da família, onde suas habilidades com os outros sentidos foram colocadas à prova uma última vez.

Fonte: https://bit.ly/2VoJ8VA

O maior perigo de todos, silencioso e permeado por mistério, não seria uma ameaça desde que a visão dos sobreviventes estivesse protegida. Entretanto, atravessar um rio em que algumas partes há correnteza, no meio de uma floresta, expostos não só a predadores como também às pessoas que andam desvendadas, é uma jornada extremamente perigosa por si só.

Confiando em seus sentidos, Malorie e as crianças conseguem enfrentar cada um dos desafios que surgem à medida que avançam em direção ao destino final. Uma das cenas que mais demonstram o laço afetivo que une os três, muito além da relação entre mãe e filhos, mas contemplando um vínculo de sobrevivência e interdependência, retrata Malorie chamando por seus filhos, perdidos na floresta e prestes a serem enganados por vozes que enganam seus sentidos. Usando nada além de sua voz para guiar os filhos, Malorie consegue trazê-los para seu lado novamente, demonstrando a minuciosidade da audição das crianças, que conseguem distinguir a verdadeira voz da mãe das vozes da floresta.

A sobrevivência de Malorie e dos outros personagens do filme depende da utilização dos outros sentidos para suprir a falta da visão, e essa condição que os mantém vendados é um dos pontos altos da trama. O modo com que as crianças aprendem a viver sob condições adversas para garantir a própria sobrevivência é, sem dúvidas, tocante. Traçando paralelos com a realidade, é possível estabelecer comparações com pessoas cegas, tanto as que nascem sem a visão como as que perdem esse sentido durante a vida. Em ambos os casos, faz-se necessária a aprendizagem de novos repertórios comportamentais de modo a melhorar a adaptação ao ambiente, assim como representado na trama.

Fonte: https://bit.ly/2BX61Xq

As Crianças do Apocalipse

Outro tópico presente no filme que nos leva a refletir, é o modo como as crianças da história conhecem o mundo e se desenvolvem nele. Privadas de uma infância normal e saudável, apenas condicionados a sobreviver, os filhos de Malorie nunca tiveram a oportunidade de ver e explorar o mundo, brincar com outras crianças e conhecer o que havia além do ambiente do abrigo. Os poucos momentos de descontração que viveram, ainda sob um clima de tensão, foram os partilhados com Tom, que, mesmo em condições caóticas, tentava trazer às crianças um resquício de esperança e um resgate de uma possível infância saudável, contando histórias sobre o mundo antes da situação apocalíptica em que eles se encontravam.

O modo como Malorie tratava os filhos, no entanto, quebrava os momentos de doçura proporcionados por Tom, trazendo o gosto amargo da luta pela sobrevivência, algo que se tornou essencial, indispensável e prioritário na vida de qualquer um após os eventos que devastaram a humanidade na história do filme, incluindo as crianças.

A maneira como Malorie decidiu criar os filhos, apesar de não reservar muito espaço para a afetividade, demonstra sua preocupação maior com o futuro destas. Sua postura ríspida, autoritária e exigente retira delas o que há de mais instintivo no ser humano: a autopreservação e o desejo de sobreviver. Podem ser tecidas críticas acerca desse modo de lidar com os filhos, que, apesar de sobreviventes de um apocalipse, continuam sendo crianças acima de tudo, mas é inegável que Malorie, do seu próprio modo, priorizou a sobrevivência dos filhos, demonstrando assim sua preocupação e amor com eles, o que se torna ainda mais claro durante a cena em que os três se reencontram na floresta, abraçando-se com afetividade.

O fim da luta pela sobrevivência se dá quando Malorie e os dois chegam ao destino final, a escola para cegos. É o primeiro momento em que as crianças podem tirar suas vendas sem a preocupação de sofrerem com os horrores do mundo tomado pelas criaturas. Assim como os pássaros são soltos da caixa, as crianças também tornam-se livres, nesse momento, para serem crianças. É o ponto da trama onde percebemos que Malorie, muito além do que poderia desejar ou fazer para criar seus filhos com afeto, precisou ser rígida e menos amável com os dois para que pudesse viver uma vida construída com relações afetuosas posteriormente, quando não houvesse uma questão maior em jogo. Medidas drásticas e urgentes, mas necessárias dentro do contexto em que as crianças estiveram expostas durante todos os anos.

Fonte: https://bit.ly/2LTcyXG

Crítica

O filme, apesar de apresentar novos elementos à trama, consegue se manter fiel à história do livro. Inicialmente a duração de duas horas pode assustar, mas o enredo flui de maneira coesa, de modo que elas não parecem tão longas quando o filme chega ao fim. Um dos pontos altos é, sem dúvidas, a cena apocalíptica do começo do filme, onde Malorie perde a sua irmã.

Nesse momento, somos presenteados com uma grande dose de suspense e ação, o que atiça nossa curiosidade e eleva o interesse pela história. Os próximos minutos, nas cenas do abrigo, podem parecer mais lentos, pois a ação dá lugar a uma atmosfera de mistério que deverá ser explorada ao longo da história, mas são momentos essenciais para a trama, pois Malorie conhece o lar onde deverá morar pelos próximos quatro anos e também as pessoas que dividirão a casa com ela.

Para quem nunca leu o livro, as cenas da travessia do rio podem parecer, a princípio, deslocadas e confusas, pois o fato delas serem intercaladas com as cenas do passado podem deixar o espectador confuso quanto ao momento em que elas se passam, mas não é um grande problema para o desenrolar da trama, visto que fica nítido ao longo do filme que as cenas do rio se passam após os eventos do abrigo. Uma grande sacada do filme e também um elemento que não estava presente no livro, é o momento em que Malorie e os filhos descem do barco e adentram a floresta. São cenas de tensão onde o destino dos personagens está por um fio. A resolução do problema, que se dá quando os três chegam ao destino final, encerra a história com maestria e emoção, exatamente como no livro.

Um dos tópicos que poderiam ser melhor explorados no filme, que estavam mais presentes na história do livro, é a culpa que Malorie sentia ao tratar os filhos da maneira que tratava. Entretanto, esse sentimento fica nítido em alguns momentos, como no final do filme, quando a personagem dá nome aos filhos pela primeira vez.

O sucesso de Bird Box se deve, entre outros fatores, ao clima de suspense e mistério que permeia a história, que prende tanto quem nunca leu o livro e/ou não conhece a história como os que já leram. Apesar de dividir opiniões, o filme gera curiosidade, o que, sem dúvidas, levou as massas a consumi-lo. A liberdade de criar teorias e explicações sobre os eventos do filme também divide as opiniões de quem assiste, além de acentuar o interesse geral pela história. É inegável dizer que Birdbox encerra 2018 deixando um legado, positivo para uns e negativo para outros, mas, sem dúvidas, um marco de uma história carregada de suspense e mistério, além de trazer uma proposta pouco vista até então, que deverá influenciar futuramente outras histórias.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

BIRD BOX

Título original: Bird Box
Direção:
Susanne Bier
 Elenco:  Sandra Bullock, Vivien Lyra Blair, Julian Edwards, Trevante Rhodes;
País: Estados Unidos
Ano: 2018
Gênero: 
Drama, Suspense

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O fascínio pela tela e o desenvolvimento dos sentidos na infância

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Os desenhos animados chamam a atenção pelo colorido e pelos efeitos sonoros, ao mesmo tempo em que podem proporcionar, ao corpo, alterações funcionais. A alteração dos batimentos cardíacos quando vemos um desenho de aventura, por exemplo, relaciona-se ao conteúdo bem como a interpretação do conteúdo das imagens e, portanto, tal efeito relaciona-se às emoções humanas. Aquilo que se relaciona à emoção das pessoas pressupõe uma integração entre os sistemas de captação e de compreensão do mundo e de expressão nele.

Desse modo, pode-se dizer, que o fascínio pela tela não éapenas fruto do processo pelo qual o homem se aliena. O fato de as telas dispararem processos que vão além do foco da atenção é condição suficiente para se encarar a televisão como um ativo meio de formação, inclusive afetiva, do ser humano. Isso não é o mesmo que dizer que precisamos das televisões (e congêneres) para nos formarmos. Pelo contrário, ela é apenas um instrumento moderno, potencializado pela tecnologia digital.

http://www.gemind.com.br/3952/televisao-faz-mal-bebes/

A criança, quando nasce, pouco integra e não sabe que integra os seus aparelhos de captação do mundo externo. Apesar disso, avança intuitivamente reagindo ao meio em que se encontra, mesmo que dependa vitalmente de quem lhes faz crescer. Fazer crescer depende de muitas outras coisas além da televisão. A mudança da voz dos pais, músicas, ritmos, luminosidades, vento, objetos com temperaturas diferentes, gostos e tato promovem o desenvolvimento infantil uma vez que faz o bebê integrar seus sistemas de captação de estímulos e informações.

A compreensão que a criança faz do meio em que vive, nos primeiros anos da vida, é pautada em sensações ligadas àsatisfação e à segurança, reconhecendo-as pela diferenciação de sensações opostas que nela gera insatisfação e insegurança. Trata-se de um sistema comunicacional entre tecidos e órgãos que captam estímulos, integrando-os, promovendo uma mistura de incômodos, satisfações, movimentação e cansaço. A criança reage a essas mudanças com movimentos e com sons que são reconhecidos por adultos que, por sua vez, com aquela interagem e promovem, em nível verbal e não verbal, comunicação e, portanto, constroem linguagens.

Tal integração, que se dá nas relações humanas, depende de como integramos, enquanto seres individualiazados e sociais, nossos sistemas de captação, codificação, decodificação e emissão da linguagem. A fala usa e, ao mesmo tempo, cria a linguagem. É a capacidade de nos referirmos ao mundo e, portanto, de dizermos sobre as transformações oriundas do “ir sentindo”, incluindo, nesse fenômeno, os resultados da captação dos cinco sentidos (tato, paladar, olfato, visão e audição) chamados de percepções. Uma vez que o “ir sentindo” depende da comunicação, a fala depende das várias linguagens desenvolvidas por cada agrupamento humano e, portanto, não sópossui o papel de referir sobre o mundo, mas também o de construir as relações e os fenômenos.

O tema da linguagem e da estimulação infantil, nos leva ao tema inicial desse texto, sobre o qual passo a explorar a partir da seguinte questão: qual o papel da televisão e do videogame no desenvolvimento cognitivo infantil?

A televisão e o videogame são eficientes na promoção da linguagem oral e na integração de sistemas de comunicação uma vez que trabalham com as cores, os sons, os símbolos e as emoções. As cores, os sons, os símbolos e as emoções da criança, quando assiste à TV, acomodam-se nas diversas maneiras que a criança as possa acomodar, a depender do espaço que possui, deitadas, em pé, sentadas, de cabeça para baixo e etc. O tempo é também um fator determinante: seguir programas que contam histórias que se conectam ao longo do tempo permite à criança aprender histórias, acumular aprendizados, além de ver como um mesmo contexto (os lugares nos quais se passam os desenhos) pode variar em seus elementos.

Pelo fato de a televisão alavancar o aprendizado por meio da narrativa, descrição e contação de histórias, o tato tende a não ser ativado no momento desse aprendizagem, uma vez que a atenção está voltada para a captação visual e auditiva. O olfato e o paladar também raramente integram-se no aprendizado mediado pela TV. Por outro lado, o contato com brinquedos, com a comida, com animais, com outras crianças, com adultos, com objetos e coisas em geral tende a integrar, na aprendizagem infantil, um número maior de sentidos, desde que dispostos em relações sociais facilitadoras de criatividade, em espaço suficiente para a movimentação e para o brincar além de tempo apropriado para a construção de conteúdos simbólicos. Não adianta ter muitas coisas acessíveis; os objetos são apenas meios de interação e, portanto, de construção simbólica, mas, para tanto, a mediação de outras pessoas (crianças e adultas) é necessária. E ésobre isso que a Pedagogia se debruça.

A televisão e o videogame também possuem a capacidade de mediação entre a criança e o par imagem-som, limitada, contudo, pois eletrônica. Por mais que alguns softwares sejam mais eficientes na comunicação de informações e no estímulo àmemória, pelo fato de integrarem apenas dois sentidos humanos (visão e audição), não possuem capacidade equivalente à mediação humana. Nessa discussão, não estáem questão qual mediação é melhor, mas, antes, visa-se apontar a imprescindibilidade da mediação humana, direta, pele com pele, no desenvolvimento infantil.

Voltando à questão da integração de sistemas de captação, na infância ela pode ser comparada à fome. A criança busca aprender. Isso não é o mesmo que dizer que se trata de um ato voluntário. O meio a estimula, ela reage, buscando-o, descobrindo-o. As metáforas conseguem dizer mais completamente sobre isso: o girassol busca o sol, os mamíferos recém-nascidos buscam a mama, o broto busca o ar, as crianças buscam interagir. O fator simbólico é um elemento que se constitui no início do desenvolvimento da criança. Traspondo o significado das metáforas ao desenvolvimento infantil, diria que as crianças, já em seu primeiro ano de vida, buscam aprender.

Dando prosseguimento às metáforas, pode-se dizer que a criança tende a dedicar mais tempo ao “prato” de sentidos que mais lhe sacia a fome de todos os seus sentidos. Em muitos casos, esse prato é a TV que, por sua vez, tende a excluir três sentidos: o tato, o paladar e o olfato. Nos casos em que o interesse pela televisão é maior, pode-se pensar que o que mais está saciando o interesse da criança pela estimulação é um meio de comunicação que a estimula, mas não por completo. Tal fato leva-nos a afirmar, pelo menos como hipótese, que as relações que a criança, nesse caso, faz em seus diversos aprendizados estão, do mesmo modo que a TV, excluindo a estimulação e a integração dos sentidos, uma vez que a TV, que em geral integra e estimula apenas dois, éo que a mais sacia. A criança, quando acompanha histórias contadas pela televisão, avança, sem fronteiras, nos territórios da atenção, da memória e do pensamento, sem, contudo, integrar nesse processo os sentidos do tato, do paladar e do olfato. Pode-se concluir, também hipoteticamente, que, em muitos casos, o pensar, o atentar-se e o uso da memória desenvolvem-se com um desenvolvimento hipertrofiado da visão, regular da audição e hipotrofiado dos demais sentidos.

As hipóteses levantadas são, logicamente, precipitadas, mas não absurdas. Demandam avaliações também sobre qual posição o desenvolvimento dos sentidos humanos têm ocupado nas relações humanas e no aprendizado escolar. Talvez tais sentidos são, da mesma forma, renegados a uma posição subalterna à visão e à audição.

Primeiramente, quando aqui uso o termo “escola”, não me refiro a todas ou a algumas em específico. Trata-se de um termo para se falar àquilo que julgo ver e haver em comum em muitas escolas brasileiras, baseando-me na observação que já pude fazer, nos artigos relacionados à escola e em minha vivência profissional. Trata-se de um ensaio despretensioso no que tange à comprovação das hipóteses, mas que pretende gerar debate.

As escolas são, em muitos casos, lugares que possuem menos cores que a televisão; tendem à assepsia monocromática desviada com letras e números cuja animação passa desapercebida diante da animação disponível na televisão.

http://www.zun.com.br/cuidados-com-a-voz-do-professor/

O som trabalhado é em geral a fala pausada e, por vezes, cansada, de um professor que é pouco escutado e que não recebe alguma orientação para o cuidado com o seu principal instrumento de trabalho, a voz (sem contar as mazelas que todos, empiricamente, sabemos haver nas condições de trabalho nas escolas); além disso, a tendência é o uso da voz sem explorar sua extensão de tons, de timbre e de ritmos.

Na escola, pouco se estimula o tato, uma vez que o contato com o lápis prepondera sobre o contato com a diversidade da matéria, sua temperatura, sua viscosidade e plasticidade; além disso, o ensino de ofícios (como marcenaria, pintura, carpintaria e etc) é, infelizmente, considerado secundário e reservado ao púbere que se encontra à margem do sistema escolar. A exploração do corpo pela atividade física éfeita da maneira mais disciplinar possível com o declarado objetivo de fazer as crianças gastarem a energia para poderem se aquietarem nas cadeiras. Educação sexual não há, além de uma série de informações que visa o controle de natalidade e a hiperadequação à norma hetero-cristã-sexual.

Quanto ao paladar e ao olfato, a plastificação e uniformização das refeições tem contribuído ao enfraquecimento da capacidade que o ser humano possui no uso desses sentidos. Na escola, o paladar é estimulado apenas recreacional e ligeiramente e o olfato é o mesmo da cidade: de cimento, talvez cinza.

A escola é, portanto, um lugar de estímulos iguais para crianças que querem ver coisas diferentes e que vêem coisas diferentes na televisão, todos os dias. A fala é, na maior parte do tempo controlada, tanto na altura, quanto no tempo e no local, sem contar o controle do conteúdo. A criança que não se interessa pela escola ou se interessa menos por ela do que pela televisão, além de carregar estigmas ligados ao não aprendizado fica dois turnos na escola, o mesmo lugar que, provavelmente, tem grande responsabilidade por sua falta de interesse.

Que efeitos a precariedade de estimulação do tato, do olfato e do paladar produz no aprendizado e, portanto, na constituição do ser humano? Que relação fazemos com nossos próprios corpos e que insistimos em passar culturalmente? Pelo fato de os sentidos estarem ligados ao reconhecimento e à percepção do próprio corpo, tal falta de integração deve levar a alterações em tal reconhecimento e na percepção como um todo. Tal precariedade produz certamente efeitos  na criação do ritmo, na integração dos sistemas de recepção e transfusão de mensagens, na dança, no sexo, nas relações, na vida. Afinal, a dança é apenas, geralmente, uma recreação nas escolas e não um meio de formação social e de percepção corporal!

Os ritmos no viver humano demandam espaço, passagem de tempo diferente do tempo do mercado e que acompanhe as mudanças corporais com uma linguagem corporal criativa e expressiva. O que as crianças escutam e vêem na escola supera, na saciação da fome por aprendizagem, o que escutam e vêem na televisão e nos games?

Talvez o papel da TV seja importante, o que não quer dizer que devemos cultuar a TV. O que quero dizer é que os efeitos da TV são mais potentes do que imaginamos. Mas a pergunta que fica e que talvez me leve a outra escrita é: o que nossas crianças andam a tocar, a ouvir, a cheirar e a degustar no sistema educacional? Que concepção de corpo temos construído socialmente? Que corpos a sociedade tem moldado?

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Seja aonde for a VIDA é sempre a VIDA

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Durante as oficinas terapêuticas, os usuários dos serviços de saúde mental, conseguem interagir, aprendem e desenvolvem regras de convivência solidária, com orientações dos técnicos, os quais tornam-se referência para os mesmos. Assim como nos grupos de terapia, assistidos, orientados e não conduzidos. Desenvolvem o prazer e bem estar da realização, afeto e confiança, atitudes de respeito, além de uma disciplina para a VIDA em sociedade. AMADURECEM E SE FORTALECEM.

Com a oficina de LIANG KONG & YOGA, obtém ganhos nos campos físicos, emocionais e cognitivos e um excelente desenvolvimento psicossocial. Aguçam os sentidos, despertam a imaginação e a criatividade individual e coletiva. O prazer de estarem juntos, unidos é o ingrediente principal; assimilam melhor o respeito às necessidades de ter paciência para alcançarem os objetivos em comum, sem contar também com a convivência compartilhada que fortalecem os vínculos afetivos, alcançar os benefícios que são diretamente responsáveis pelo desenvolvimento de inteligência, afetividade e socialização que geram conhecimento, sabedoria, por estar adormecida para quem é necessário. Bom senso que aguça o interesse e o desejo de agir, tornar uma atividade, dando sentido na VIDA individual, coletiva e FAMILIAR social diária. Na certeza que somos todos iguais, porém diferentes entre si, estimulando a compreensão, meditação, reflexão e motivação social. Amadurecem e ficam mais fortes para a VIDA no nosso dia a dia, a cada passo, a cada ato e ação.

Temor do futuro é o pior dos medos; aprender a buscar a felicidade ao invés de tentar satisfazer-se com caráter. CORAÇÃO, generosidade e as ideias que orientam o nosso cérebro é o que importa. Não é voltar-se para a tormenta que passou, mas voltar-se para as coisas vindouras.  Lutamos por um mundo melhor, um mundo BOM e bem melhor. A alegria é o sinal pelo qual a VIDA marca seu triunfo. Nada é tão contagioso como o entusiasmo. Os dias prósperos não vêm ao acaso; são granjeados, como as searas; há muita fadiga e com muitos intervalos de desalentos.

Não é Cérebro que importa, mas sim o que orienta o caráter, o Coração e generosidade, as ideias. Se fecharmos a porta a todos os erros e impedimentos, também há entrada da verdade. Temos que criar as oportunidades e não somente encontrá-las . O rio atinge os seus objetivos porque aprendeu a contornar os obstáculos. O Homem ocioso é como água parada, corrompe-se. Se não conseguirmos fazer-nos como desejamos, não devemos esperar que as  outras pessoas sejam inteiramente de nosso agrado.

A arte nos oferece a possibilidade de realizarmos o mais legítimo desejo da VIDA. A capacidade pouco vale sem oportunidade. A vida não tem um plano, tem a perpétua surpresa. É preciso que as diferenças não diminuam a amizade e que a amizade não diminua as diferenças. O encanto da VIDA depende das boas amizades que cultivamos; tudo amadurece ao seu tempo e dá frutos na hora certa. Os primeiros passos são inúteis quando não se percorre o caminho até o FIM. Aqueles que têm força de vontade, as ocasiões sempre são favoráveis ao passo que os fracos vivem pela oportunidade. Defeitos não fazem MAL, quando há vontade de os corrigir. Todo mundo age não apenas movido por compulsão externa, mas também por necessidade íntima. Faça sempre um FORO ÍNTIMO! Quem deixa para depois o que pode fazer agora, perde o que nunca mais encontrará. O tempo somente pela fraternidade a liberdade será preservado.

Serás tão influente quanto mais fores correto, justo e solidário. A verdadeira felicidade não consiste em viajar a 100km por hora, ou voar num avião, mas sobretudo em ser RICO de um bom pensamento e ter no CORAÇÃO muito AMOR. O que mais nos impede de sermos NATURAIS é o desejo de assim parecermos. A satisfação está no esforço para alcançar o nosso objetivo e não em tê-lo alcançado.

Encontrar defeito é fácil, mas fazer melhor pode ser mais difícil, porém não impossível.

Aquele que toma a realidade e dela faz um sonho é um poeta, um artista nato. Artista e poeta será também aquele que do sonho faz sua realidade. Vencer a si próprio é a maior das VITÓRIAS.  São poucas as nossas necessidades reais; é imensa a nossa IMAGINAÇÃO. Todo direito envolve, na realidade, uma responsabilidade, uma obrigação a ser comprida. Não existem esforços inúteis se empregados em prol do bem comum. Ninguém pode imaginar como é útil o estudo de si mesmo, de quantas ilusões poderiam nos curar e como nos colocariam no caminho da felicidade. Os que mais pugnam seus direitos são os que mais se esquecem, às vezes, dos seus deveres.

O maior fator da evolução humana é a inteligência. Não o caráter, não o pensamento, mas a VONTADE. Seja aonde for a VIDA é sempre a VIDA; a VIDA está dentro e não fora de nós mesmos. A maior prova de coragem é suportar as derrotas, sem perder o ânimo. A única maneira de ter amigos é ser amigo. A VERDADE nunca é injusta, pode magoar, mas não deixa feridas.

Não existe outro caminho para a solidariedade humana, senão a procura e o respeito da dignidade individual e coletiva. Na guerra contra a poluição física e mental, permita-se só por hoje que sua mente seja ocupada por bons pensamentos. Amanha é outro dia, outra história, um novo amanhecer, um recomeçar. Paciência, acima de tudo. Comece a praticar essas técnicas, desde já e não se desanime se no principio achar difícil ou até mesmo impossível. Muitos de seus pensamentos negativos estão morando em seu interior há muito tempo, sentindo-se donos de sua mente. Vá adiante substituindo os maus pelos bons. Só assim você começa a exercer o poder de escolha E, POR TABELA, DESENVOLVER o hábito do pensamento positivo. Busque essa técnica, funciona muito e garante melhor qualidade de VIDA .

Só que algumas vezes a crença no negativismo esta tão arraigada que nós podemos precisar de ajuda de um psicólogo ou outra pessoa de seja referência para nós. Existem várias maneiras de agirmos em nosso próprio beneficio, mas seja qual for a escolha saiba que nós temos sempre o poder de mudar de optar e mudar o padrão mental, padrão de vida para uma melhor perspectiva de um futuro próspero, saudável, com AMOR e motivação. Trabalho acima de tudo solidário individualmente e-ou coletivamente.

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Os nomes e as referências

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Nossa comunicação é referencial, pois fundada na fala, na palavra. As palavras são símbolos aos quais existem referências, os objetos em si (sem entrar no mérito dessa polêmica expressão). Por exemplo: quando escrevo, aqui, “MAÇÔ, você, leitor, imagina essa determinada fruta, logicamente no caso de partilhar da comunidade verbal que ligou a palavra “MAÇÔ à fruta em si. A maçã que agora imaginou não é a mesma que eu imagino; cada pessoa imagina a sua determinada maçã, mesmo que, com o mesmo estímulo, imaginemos coisas iguais, pois maçãs todas, mas diferentes em suas particularidades. Essa discussão nos trás os conceitos de sentido e representação. O sentido é formado por idéias que partilhamos e que nos permite concluir que estamos falando de uma mesma coisa, a maçã, possibilitando a continuidade da comunicação (não é a única coisa que permite essa continuidade); a representação é a forma como cada um de nós imagina a fruta, cada um, como já dito, com suas particularidades a qual pode fomentar a comunicação, mas não é imprescindível a ela.

Um exemplo interessante é o de uma antiga e querida professora minha, de português. Ela encaixava pequenas tiras de papel, em branco, em seus anéis, às vezes mais de um de uma só vez, e cada uma daquelas tiras representava uma determinada tarefa que deveria fazer durante o dia, como, por exemplo, corrigir provas de duas turmas, comprar o livro A, comprar pão e buscar o filho na escola. Um simples papel em branco encaixado no anel, a fazia lembrar-se da referência “EXECUTAR UMA AÇÃO” que é virtual, pois futura. Nesse exemplo, podemos, por analogia, dizer que o papel fez a mesma função que a palavra “MAÇÔ nessa nota: são todos nomes que possuem referências, os objetos em si, no caso de minha professora, virtual.

Podemos dizer, portanto, tendo em vista a relação entre o nome, a referência, o sentido e a representação, que nossa comunicação e nossa comunidade verbal é extremamente plástica a ponto de tornar um pedaço de papel num lembrete, como se transformasse um objeto numa palavra, ou pelo menos, transformando-o na mesma função da palavra (e da mesma forma arbitrária) que é a comunicação. A recíproca é também verdadeira, ou seja, é possível transformar uma palavra num objeto, por exemplo: no relato de uma colega, sobre sua prática em uma instituição de saúde mental, ela usa o nome “doente mental” para as referências que são as pessoas em relação cotidiana, no caso, entre elas e com os barbantes para confecção de tapetes. Nesse exemplo, vê-se que a expressão “doente mental” (que é também um conceito) transformou a referência “pessoas” na referência “doentes”; todavia, na situação vivida e relatada, nada, nas pessoas e nas relações (exceto em minha colega), remetia ao nome doente, como uma maçã se remete à macieira. A relação direta entre a palavra  “doente” e a referência “pessoa” fez a relação da profissional com as pessoas se transformar numa relação dela com “doentes”, transformando, portanto, a palavra “doente” num objeto referencial encarnado nas pessoas.

Essa nota é apenas pra dar enredo a uma questão que, por estes dias, saltou, em palavras, na minha cabeça: é possível uma comunicação não referencial, aliás, existem comunidades cuja comunicação é essa? Que tipo de relações se faria por meio dessa direta e imediata comunicação?

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