Conexões digitais e a solitude contemporânea: em busca de um equilíbrio entre tecnologia e relações humanas

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Por Evandro Lopes, especialista em Marketing, Neurociência e CEO da SLComm

Nos encontramos em um paradoxo fascinante: nunca estivemos tão conectados e, ao mesmo tempo, tão carentes de conexão. A tecnologia nos permite acessar qualquer informação em questão de segundos, mas, ironicamente, é justamente essa avalanche de dados que nos leva a buscar refúgio na simplicidade do passado. Um estudo da Cigna Health revelou que 61% dos adultos nos EUA relataram sentir solidão frequente. O uso excessivo das redes sociais foi identificado como um dos principais fatores. Além disso, o retorno a leitura de clássicos, o resgate das relações interpessoais e a necessidade de sentido em um mundo digitalizado mostram que, diante da aceleração do tempo, olhamos para trás em busca de equilíbrio.

A redescoberta de livros como ‘O Príncipe’, de Maquiavel, ‘Mais Esperto que o Diabo’, de Napoleon Hill e ‘Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas’, de Dale Carnegie, não é coincidência. Essas obras fornecem não apenas conhecimento atemporal, mas respostas para um mundo que se reinventa constantemente. De acordo com um relatório da WordsRated, a venda de livros de não ficção voltados para desenvolvimento pessoal e liderança cresceu 11% entre 2020 e 2023, e segundo a Amazon Books Trends Report, houve um crescimento de 34% na busca por livros de filosofia estoica, impulsionado pela necessidade de lidar com incertezas modernas.

O aumento da ansiedade e da solidão em meio à hiperconectividade demonstra que os seres humanos não querem apenas se comunicar, mas se conectar de verdade. Estudos apontam que relações sociais significativas são determinantes para o bem-estar e a longevidade, reforçando a importância do contato humano genuíno. O estudo de Harvard sobre felicidade, que acompanha participantes há mais de 80 anos, concluiu que relações sociais fortes são o maior preditor de felicidade e longevidade, mais do que dinheiro ou sucesso profissional.

No ambiente corporativo, líderes como Satya Nadella, da Microsoft, e Ed Catmull, da Pixar, têm mostrado que o sucesso empresarial está diretamente ligado à empatia e ao estímulo de conexões reais entre colaboradores. Enquanto isso, a cultura participativa e a inteligência coletiva transformam o mundo digital, mas também apresentam desafios, como a superficialidade da informação e a criação de bolhas de pensamento. O relatório da University of Southern California de 2023 mostrou que 66% dos usuários de redes sociais são expostos majoritariamente a conteúdos alinhados com suas opiniões, limitando o pensamento crítico e criando polarização.

Diante desse cenário, precisamos nos perguntar: estamos realmente evoluindo ou apenas nos adaptando ao caos? O avanço tecnológico pode e deve ser aliado das relações humanas, mas isso exige um esforço consciente para equilibrar a vida digital e a real. Resgatar o que há de mais essencial na humanidade – a troca significativa, a empatia e o aprendizado profundo – pode ser o caminho para um futuro onde a tecnologia não substitui, mas potencializa nossa essência.

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Solitude: o prazer da solidão

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Em uma sociedade moderna, globalizada e inteiramente conectada ainda é comum encontrarmos pessoas solitárias, depressivas e em completo sentimento de solidão. Apesar de toda a proximidade tecnológica, a humanidade tem caminhado cada vez mais para um distanciamento afetivo, não só em relação aos pares, mas do próprio indivíduo com seu íntimo. A superficialidade social, a intensa necessidade de agradar e objetificar ou mesmo padronizar comportamentos vem tirando das pessoas as suas características particulares, em alguns casos, fazendo-as odiar aspectos próprios de suas personalidades.

Diversos movimentos que antes tinham causas definidas hoje se globalizaram e tiveram suas essências diluídas em superficialidades, impondo, assim como outrora, condições e requisitos para uma satisfação pessoal. Infelizmente, independentemente de qualquer grupo, associação, clube, organização, lado político, muitas pessoas criaram a ficção de que somente será realmente feliz quando seguir tais padrões impostos.

Ante esta terrível realidade, uma pessoa que tem o prazer de desfrutar de sua própria companhia, plenamente ciente de seus defeitos e amando-se intensamente, sem depender de motivações externas para isto, é, muitas vezes, mal vista pela sociedade, descriminada por não se adequar ou submeter-se às vontades das massas.

Fonte: encurtador.com.br/hDPTW

Solitude, que apesar de similar, difere-se do sentimento de solidão, é você estar feliz consigo sem a necessidade de agradar terceiros, enquanto na solidão, mesmo que o indivíduo esteja repleto de amigos, conhecidos e companheiros, se sentirá solitário pois sente que há algo faltando em sua vida e que não consegue encontrar as forças para a plenitude.

A frase de Telma Nogueira, que diz que “solitude é a capacidade de se amar ao ponto de estar sozinho e mesmo assim, se sentir inteiro e feliz. Sem a obrigatoriedade de procurar complementos e naturalmente ser preenchido de uma paz absoluta” é completa em dizer o que significa solitude, o oposto da solidão.

As pessoas esqueceram a importância de cuidar do seu eu, entregando-se tão somente ao vazio midiático que as redes sociais proporcionam, alguns entregam suas privacidades, doam seus corpos e opiniões para se sentirem realizadas, ignorando um dos primeiros amores e essenciais para o prosseguir de uma vida mental saudável, “o amor próprio”.

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Solitude e Solidão: a diferenciação do estar só

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A solitude é compreendida no ato de estar só e poder desfrutar do prazer da própria companhia. Quando escolhe, de forma consciente, podendo desfrutar de si mesmo, aproveitando para refletir, descansar e aproveitar o momento para um autoconhecimento e bem estar. Já  solidão  advinda do latim solitudnem, solus, que consiste no ato de estar só de forma a gerar sentimentos negativos, como o de abandono e exclusão. Na maior parte das vezes, na solidão não há escolha em estar sozinho. Estar ciente dessas condições nos faz compreender mais sobre nossas escolhas e direcionamentos a serem tomados.

A sociedade moderna está cercada de informações instantâneas, de interação social virtual, e ao mesmo tempo a redução da qualidade dos contato pessoais, que são cada vez menos recorrentes. A psicanálise discorre sobre o tema através das relações sociais, quando um desejo surge  precisa ser interpretado e compreendido pelo outro, é a partir dos vínculos afetivos que se desenvolvem os desejos, e por consequência, suas demandas precisam ser satisfeitas.

No contexto atual, onde enfrentamos um cenário de pandemia a ideia de isolamento pode despertar o medo e angústia. Não ter contato frequente com outras pessoas pode ser algo naturalizado em nosso cotidiano devido a rotina acelerado em que vivemos, porém viver a solidão de maneira imposta, principalmente por uma questão que está fora do nosso controle, pode gerar inúmeros desconfortos. Por isso é preciso trabalhar maneiras de minimizar as consequências negativas e desenvolver inteligência emocional para o controle da qualidade de vida; isso requer esforços diários na manutenção dessas estratégias.

Fonte: encurtador.com.br/iAPS4

“Portanto devemos conceder a certos indivíduos a sua solidão e não ser tolos a ponto de lastimá-los, como frequentemente sucede” (Nietzsche, Humano, Demasiado Humano,  § 625).

Parafraseando o filósofo Friedrich Nietzsche, a solidão não precisa ser vista como algo a ser lamentado, mas necessária à condição do homem, basta compreender sua genuína significação. Transcender da solidão à solitude humana.

Através da psicanálise, abordagem da psicologia e a filosofia um dos caminhos para abranger o conhecimento e domínios da solidão. Para a teoria psicanalítica o sujeito precisa desenvolver habilidades de manejo do ego, que é a própria personalidade da pessoa. Contudo, o ego enfrentará três instâncias, id, ego e superego; o id é responsável pelos impulsos do desejo, o ego é a percepção da realidade e o superego representa as leis e morais da sociedade. Já a filosofia coloca o sujeito em constante reflexão sobre a sua existência, valores e desejos a partir da experiência da solidão.

Assim, por mais que sejamos pessoas sociáveis e com intensos desejos de vínculos afetivos, realizações de prazer e conquistas, também precisamos passar por vivências opostas a essas para entendermos quais são nossos verdadeiros anseios. Conforme isso acontece, aprendemos então a diferenciar a solidão e solitude, de quando há ou não necessidade de estar consigo mesmo ou com o outro.

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Solidão nossa de cada dia

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Estamos aprisionados dentro de nós mesmos, de uma forma que nunca poderemos nos libertar; essa prisão não é física, mas sim mental. Estamos sozinhos quando nascemos e ficaremos sozinhos até o dia de nossa morte. Não é porque não existam pessoas que nos amem, não pela falta de amizade ou mesmo pela falta da presença de outras pessoas ao nosso redor. A solidão é inerente ao ser humano. Quando alguém agarra o nosso braço, o que sentimos não é a mão de alguém a nos agarrar, mas sim o nosso braço sendo agarrado por alguém, quem sente a mão a agarrar é o seu portador. Todas as sensações sensoriais são nossas e é impossível sentir o que o outro sente, é impossível entrar em simbiose com alguém ou se você preferir, é impossível se conectar completamente com alguém; é como se estivéssemos navegando em um oceano a noite, onde o que vemos é apenas a escuridão. Você está sozinho quando a sua mãe lhe abraça com aquele abraço de amor, quando você beija alguém, até mesmo no seu orgasmo; se você parar para pensar, a sensação que o outro sente quando atinge o orgasmo é simplesmente misteriosa, por mais que você esteja dentro do outro, ou que aquela pessoa esteja dentro de você, ainda assim é um mistério, o máximo que você pode fazer é imaginar se aquela pessoa sente a mesma coisa que você quando atinge o seu.

Se seguimos pesando sobre a questão de sentir, percebemos que também é impossível conhecer plenamente alguém, tudo o que temos são impressões das outras pessoas, são construções que criamos ao longo do tempo com os tijolos que aquela pessoa nos fornece, entretanto, ninguém se revela plenamente e mesmo que se revelasse, ainda assim distorceríamos ela com as nossas interpretações pessoais; no final das contas, não conhecemos de fato a nossa mãe, filho, marido, amigo e as vezes nem mesmo a nós próprios. Talvez seja daí que vem a vontade de Deus, uma vontade de sermos preenchidos por um ser que nos conhece desde ante mesmo de nascermos, que sabe o que vamos dizer antes mesmo que as palavras cheguem a nossa língua; talvez seja desse medo do vazio que necessitamos tanto de um ser que nos guie em uma vida no além vida, por um lugar cheio de prazeres indescritíveis, por uma cidade onde todos vivem em harmonia com esse ser que tudo sabe, ver e pode; onde enfim poderemos ser um, assim como o filho e o pai são um.

Fonte: encurtador.com.br/nruOU

O próprio amor, nada mais é do que a manifestação física da solidão. Você já se perguntou por que ama alguém tão diferente de você? Por que você ama aquele presente que você ganhou daquela pessoa que lhe é muito cara? Ou o carro novo que você comprou? Ou ainda aquele seu amigo que ninguém suporta senão você? Talvez a solidão seja o sentimento base de todo o ser humano, e tudo que fazemos, fazemos em função desse sentimento que na maioria das vezes é inconsciente, que quase nunca se manifesta de forma perceptível ou como ele realmente é. A busca pelo amor, poder, felicidade, sabedoria, paz, espiritualidade; todas essas buscas têm como seu pano de fundo a solidão.

Apesar dessa solidão ser as vezes massacrante, podemos afirmar com quase toda certeza que é melhor viver com ela do que sem; já imaginou se seu namorado soubesse o que você pensa quando ver o Aquaman sem camisa saindo da água e jogando os seus longos cabelos para trás? Se o seu chefe soubesse dos nomes que você chama ele mentalmente? Inicialmente parece ser algo tristonho, mas se olharmos bem de perto, veremos que é essa solidão que nos faz tão únicos; é essa solidão que nos permite que sejamos livres dentro de nós mesmos, por mais que estejamos enjaulados em uma prisão física, nada poderá nos prender em nossa mente. Talvez esse oceano que vivemos não seja noite, mas sim um belo dia de sol, sem nuvem e com pássaros voando para o sul, com golfinhos e com baleias esguichando água ao céu. Quando achar que estiver sozinho, lembre-se que você está com a pessoa que mais importa, você.

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Estar sozinho é estar verdadeiramente acompanhado?

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“Eu antes tinha querido ser os outros para conhecer o que não era eu. Entendi então que eu já tinha sido os outros e isso era fácil. Minha experiência maior seria ser o outro dos outros: e o outro dos outros era eu”. Clarice Lispector

Primeiramente é importante frisar a diferença entre Solidão e Solitude. A segunda é estar só, desacompanhado, solitário, remetendo a unidade.  Solidão remete a dor e sofrimento, originada da perda de algo. Em termos psicológicos, a solidão é caracterizada por uma dinâmica afetiva ineficiente, em que resulta em sentimentos de incompletude, necessitando da companhia de outro para o preencher o vazio existencial. Segundo Sri Prem Baba, este vazio existencial não pode ser preenchido por outro, ou por objetos, pois só cabe a pessoa a capacidade de preencher verdadeiramente o seu próprio vazio. ´´Nós temos amor dentro de nós, mas acreditamos que precisamos receber esse amor de alguém.“, declara.

A visão de Baba foi construída no ponto de vista sociológico, em que a solidão é vista como resultado da produção social de um homem egoísta, individualista e narcisista. O homem acha ser o centro do universo, buscando controlar a natureza ao seu favor, assim como manipular o próximo para satisfazer necessidades individuais. Para Baba tal manipulação não é suficiente para suprir a solidão. Tamayo e Pinheiro (1984) compartilham da mesma linha de pensamento, já que consideram a solidão com um modo se relacionar se há uma deficiência de valores e comunicação, existindo a possibilidade de estar acompanhado, mas se sentir só.

Fonte: encurtador.com.br/jvyDN

Através da música Wave, Tom Jobim declara sua opinião de que ´´ é impossível ser feliz sozinho“. Seria a opinião de uma pessoa envenenada com a porção da paixão, que responsabiliza o outro pela própria felicidade? Já para o Psicólogo Domingos Sávio, estar sozinho é sentir-se bem sozinho, ou ao menos tentar, é uma forma de viver a vida buscando conhecer e entender a si próprio. O autoconhecimento pode ser útil na delimitação de barreiras, evitando problemas e buscando sentir a felicidade mesmo dentro de um mar turbulento e arrebatador de emoções.

Vou te contar
Os olhos já não podem ver
Coisas que só o coração pode entender
Fundamental é mesmo o amor
É impossível ser feliz sozinho

– Verso da música Wave

Paul Tillich, sociólogo, foi o criador da palavra solitude. De acordo o sociólogo ´´A linguagem criou a palavra solidão para expressar a dor de estar sozinho. E criou a palavra solitude para expressar a glória de estar sozinho´´. Para Schopenchauer, significa liberdade: “Um homem pode ser ele mesmo apenas se está sozinho; e se ele não ama a solitude, ele não vai amar a liberdade; pois é apenas quando ele está sozinho que pode ser verdadeiramente livre”.

Solitude é considerar-se a melhor companhia de si mesmo. Estar sozinho e sentir-se bem, é uma forma de se potencializar, higieniza a mente e possibilita maior facilidade de homeostase. É uma possibilidade de expandir a consciência e conectar-se consigo mesmo e/ou com o universo. De acordo com a perspectiva existencialista, este momento consigo mesmo facilita uma expansão da consciência, aproximando-se do propósito existencial. Para oferecer o que se tem de melhor, é preciso estar bem consigo mesmo. Oferecemos o que estamos cheios. Se estamos transbordando  confusão, raiva e rancor, influenciamos os outros, já que o inconsciente coletivo é constituído por inconscientes individuais.

Fonte: encurtador.com.br/lmtw9

De acordo com as informações anteriores, seria realmente possível estar sozinho? É na solidão que podemos transformar em céu o inferno que existe dentro de nós, ou seria transformar em inferno o céu que habita em nós? Partindo do viés de que o inconsciente individual se funde ao inconsciente coletivo, resultando em um cosmo, sendo parte de nossas constituições, as opiniões e expectativas de outros, estar sozinho é estar em contato direto como o cosmo? É habitar e ser habitado por diversos constructos que talvez nem seja pessoal, mas de outras pessoas, inclusive com o antepassado e/ou até mesmo o futuro? Estar sozinho seria então estar verdadeiramente acompanhado?

Referências

MANSUR, L. Solitude: virando a solidão pelo avesso. Disponível em < http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-31062008000100007 > acessado em 22/08/2018.

SOUZA, F. Diferença entre solitude e solidão – Você conhece a diferença? Disponível em < http://www.psicologiamsn.com/2014/08/diferenca-entre-solitude-e-solidao-voce-conhece-diferenca.html > acessado em 22/08/2018.

FONSECA, A. Descubra o que é solitude e como ela pode te ajudar profissionalmente. Disponível em < http://blog.unipe.br/pos-graduacao/descubra-o-que-e-solitude-e-como-ela-pode-te-ajudar-profissionalmente > acessado em 22/08/2018.

Fãs da Psicanálise. Solitude e solidão – Você conhece a diferença? Disponível em < https://www.fasdapsicanalise.com.br/solitude-e-solidao-voce-conhece-diferenca/ > acessado em 22/08/2018.

JOBIM,T. Wave. Disponível em < https://www.letras.mus.br/tom-jobim/49074/ > acessado em 22/08/2018.

BABA, S. Propósito – A coragem de ser quem somos. Editora: Sextante; Edição: 1ª, 2016.

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