6 de novembro de 2022 Sandra Aparecida Lopes Ramalho
Conto
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Recentemente fui indagada por uma conhecida sobre o que eu estava esperando para o futuro, muitos me apresentaram padrões e metas como condições de suas realizações. Percebi naquele momento que estava muito distante da realidade dos meus colegas.
Disseram-me que precisava escolher o que eu queria fazer, que eu deveria sacrificar boa parte da minha vida em prol do meu sucesso profissional. Disseram-me ainda que eu deveria escolher muito bem a pessoa que seria minha parceira, de modo que escolhesse alguém com riquezas que pudessem me sustentar.
Fonte: encurtador.com.br/cwTU1
Em boa parte do tempo não entendia a obsessão das pessoas em querer controlar minhas escolhas, me sentia diante de um cerco de opiniões alheias que ansiavam ditar as regras do meu comportamento. Muitas das vezes a pressão vinha de casa, meus pais me dando sugestões autoritárias e cada uma mais infeliz que a outra.
Em uma epifania percebi que seguiria um caminho triste e sem engajamento caso seguisse os desígnios de terceiros e, caso algumas de suas “ideias” dessem errado, somente eu arcaria com as consequências dos erros experimentados. Pus um ponto final em tudo, decidi que eu gostaria mesmo era ser feliz, feliz amorosamente, profissionalmente.
Por isso, busquei encontrar um verdadeiro amor, que estive disposto em se tornar um único ser comigo, busquei ainda trabalhar com aquilo que tinha como meu hobbie preferido, assim, além de fazer algo prazeroso pude receber por isso. A vida não precisa ser arduamente negativa para alcançar objetivos que sequer pretendem ser alcançados, podemos escolher a felicidade, mesmo que esta não esteja aparente no cotidiano de nossas vidas.
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Além do que se vê…
27 de outubro de 2022 Maria Laura Maximo Martins
Conto
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Sou feita de sonhos
De todos os chãos que meus pés pisaram
De paisagens que meus olhos contemplaram
De medos que ignorei ao entrar em um avião – pois no fim, vale à pena
Dos sabores que minha boca provou
Sou feita de recordações e verões
Águas geladas, mas tão azuis que me aventurei
Sou feita de idiomas, palavras e canções
De abraços que curam e despedidas que doem
De portas que se abrem, de janelas que convidam o sol a iluminar – trazendo esperança
De pessoas que deixaram memórias, marcas e aprendizados
E daquelas que ainda estão aqui
Sou feita de dúvidas, respostas, mapas, fotografias
Sou tudo isso que vivi, que vi, que toquei
Daquilo que ainda vem e que me causa certa ansiedade
De planos que adormecem em um velho caderno
E que me obrigam a tentar conduzir meu destino
Sou feita daquilo que se concretiza
E que faz o coração bater mais forte do que sequer imaginei
Posso até viajar mentalmente, visualizando o meu futuro
Mas viver de fato é um risco diário que me proporciono – livremente
Deixo apenas ser e acontecer – intensamente
Deixo a vida fluir, no seu ritmo e acompanho a dança
Erro o passo, o tom, troco a trilha sonora e coleciono mudanças e oscilações
Sempre com certeza segurança e calmaria, pois acredito em muitas coisas
Principalmente no que sou, no que um dia fui e no que me tornarei
E em tudo o que me constitui – que vai além do que os olhos podem enxergar
Sei que chegarei no lugar que pertenço, que encontrarei o meu propósito
E estarei com quem devo estar
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Os sonhos e a compreensão teleológica de Carl G. Jung
A psique é uma dinâmica complexa, que desafia o cientista na sua compreensão. O trabalho feito por Carl Gustav Jung, na tentativa de compreendê-la em conceitos cognoscíveis, foi um árduo exercício de pesquisa, que se baseou na observação empírica de si e de seus pacientes. A pesquisa da alma é das mais difíceis, haja visto que o objeto de pesquisa é o mesmo que seu próprio observador.
Essa constatação é um ponto vernal, que funda uma das regras mais essenciais para a formação analítica e psicanalítica: a necessidade de o próprio analista ser analisado (FREUD, 2010), exigência primeiramente demandada por Jung (2013c) quando ainda contribuía no movimento psicanalítico. Dado estes pontos, se constata que a pesquisa da psique se sustenta em um método essencialmente empírico.
Na sua pesquisa, Jung percebeu que, na alma, a produção de imagens e fantasias não são apenas produtos de antecedentes e tendências históricas individuais. Há também um movimento simbólico dirigido e orientado para determinados fins. O desenrolar desse processo possui uma direção, um objetivo (JUNG, 2013a).
Neste caso, a orientação ativa para um fim e uma intenção seria um privilégio não só da consciência, mas também do inconsciente, de tal modo que este seria capaz, tanto quanto a consciência, de assumir uma direção orientada para uma finalidade (JUNG, 2013b, § 491).
Fonte: Jung (2009)
Essa constatação complementa a sua teoria que, junto da perspectiva causalista redutiva freudiana, compõem os dois lados do movimento psíquico, essenciais para compreender a psicologia analítica. A este aspecto interpretativo se dá o nome de método sintético ou construtivo, que se refere à elaboração dos produtos inconscientes como uma expressão simbólica que antecipa uma fase do desenvolvimento psicológico (JUNG, 2015).
Sabemos que todo produto psíquico, encarado do ponto de vista causal, é a resultante de conteúdos psíquicos que o precederam. Sabemos, além disso, que esse mesmo produto psíquico, considerado sob o ponto de vista de sua finalidade, tem um sentido e um alcance que lhe são próprios dentro do processo psíquico. Este critério deve ser aplicado também aos sonhos (JUNG, 2013b, § 451).
Para Jung (2013d), uma compreensão satisfatória e completa acerca do pensar inconsciente do sonho, passa necessariamente tanto pelo ponto de vista de sua determinação causal, quanto seu sentido teleológico ou prospectivo. Ou seja, depois que os símbolos do sonho forem reduzidos, decompostos em suas reminiscências ou anseios pessoais, deve-se partir em seguida para um processo de síntese. Este, integra o material simbólico numa expressão conjunta e coerente, que tende a informar à consciência a situação dos movimentos inconscientes (JUNG, 2014).
O inconsciente é aquilo que não se conhece em determinado momento, e por isto não é de surpreender que o sonho venha acrescentar à situação psicológica consciente do momento todos aqueles aspectos que são essenciais para um ponto de vista totalmente diferente. É óbvio que a função do sonho constitui um ajustamento psicológico, uma compensação absolutamente indispensável à atividade ordenada (JUNG, 2013b, §469).
Como dito na citação, o sonho tenta acrescentar aspectos essenciais à consciência. Tal fenômeno serve ao princípio de progressão da libido, que busca constantemente adaptar a consciência a uma nova situação, satisfazendo a exigência das condições ambientais (JUNG, 2013a). Com isso, se infere o quanto o ponto de vista final concorre para a educação prática da personalidade, pois além de a adaptar ao mundo externo, a leva à assimilação de funções inconscientes (JUNG, 2013b), ou seja, uma adaptação também ao mundo interno.
Fonte: encurtador.com.br/DLOX5
A partir daí, se começa a compreender o que Jung queria dizer ao resumir como função geral do sonho a compensação. Quando se diz isso, se quer dizer que o inconsciente, através do sonho, contrabalanceia a atitude unilateral consciente. Por isso é tão importante observar suas ideias e sugestões, elas fornecem o conhecimento das leis próprias do indivíduo. Estas, mantém o sujeito em contato com seus instintos individuais, aquilo que dá viço para ele e para sua existência (JUNG, 2013c).
Quanto mais unilateral for a sua atitude consciente e quanto mais ela se afastar das possibilidades vitais ótimas, tanto maior será também a possibilidade de que apareçam sonhos vivos de conteúdos fortemente contrastantes como expressão da autorregulação psicológica do indivíduo. Assim como o organismo reage de maneira adequada a um ferimento, a uma infecção ou a uma situação anormal da vida, assim também as funções psíquicas reagem a perturbações não naturais ou perigosas, com mecanismos de defesa apropriados. O sonho faz parte, segundo meu modo de entender, dessas reações oportunas, porque ele proporciona à consciência, em determinadas situações conscientes e sob uma combinação simbólica, o material inconsciente constelado para este fim. (JUNG, 2013, § 488)
Não estar minimamente em contato com o inconsciente, significa separar-se da vida instintual, o que estagna o sujeito e é causador de inúmeras neuroses. Isso se dá, devido a excessiva unilateralidade da consciência, gerando uma compensação proporcional por parte do inconsciente, que passa a contestá-la abertamente (JUNG, 2015). O resultado são “duas tendências, que estão em estrita oposição uma à outra, sendo que uma delas é inconsciente” (JUNG, 2014, § 16)
Fonte: encurtador.com.br/bmNU4
O exemplo da neurose é didático para a compreensão da dinâmica da compensação, na medida que se percebe que esse fenômeno é geral, e se manifesta de formas diferentes, de acordo com a situação atual do sujeito. Dentre outras razões, é por isso que muitas vezes a compensação exercida pelo sonho não se evidencia à primeira vista. Por isso, torna-se preciso analisar o conteúdo manifesto para se chegar aos elementos compensadores de seu conteúdo latente (JUNG, 2013b).
Nesta perspectiva existem três possibilidades. Se a atitude consciente a respeito de uma situação dada da vida é fortemente unilateral, o sonho adota um partido oposto. Se a consciência guarda uma posição que se aproxima mais ou menos do centro, o sonho se contenta em exprimir variantes. Se a atitude da consciência é “correta” (adequada), o sonho coincide com esta atitude e lhe sublinha assim as tendências, sem, contudo, perder a autonomia que lhe é própria (Ibid., § 546).
A partir de suas conclusões, Jung em seu texto: “Aspectos gerais da psicologia do sonho” de 1928, que consta dentro das suas obras completas no volume 8/2: “A natureza da psique” (2013b), tenta fazer uma classificação de diferentes formas gerais de compensação que o sonho pode manifestar. A primeira, seria aquela considerada apropriada, pois fala de uma autorregularão do organismo psíquico. Nela, o sonho acrescenta à situação consciente todos os elementos que, no estado de vigília não alcançaram o limiar da consciência, devido ao recalque, ou por serem muito débeis para conseguir chegar por si à consciência.
Ela é uma antecipação de atividades futuras conscientes, uma espécie de exercício preparatório, ou um esboço preliminar do inconsciente, um plano traçado antecipadamente, uma função prospectiva.
Seria injustificado qualificá-los de proféticos, pois, no fundo, não são mais proféticos do que um prognóstico médico ou meteorológico. São apenas uma combinação precoce de possibilidades que podem concordar, em determinados casos, com o curso real dos acontecimentos, mas que pode igualmente não concordar em nada ou não concordar em todos os pormenores (Ibid., § 493).
A função prospectiva, por resultar da fusão de elementos subliminares que, devido ao seu fraco relevo, escaparam à consciência, é muitas vezes superior à combinação consciente. Além disso, o sonho conta com memórias inconscientes, o que acrescenta em suas possibilidades perceptivas.
Fonte: encurtador.com.br/isHLT
Jung prossegue dizendo que, apesar disso, é muito importante compreender que a atitude para com o sonho – e o inconsciente em geral – deve ser a partir do ponto de vista da consciência. Tomá-lo em consideração com exclusividade, como uma espécie de oráculo, em detrimento da consciência, seria inadequado, e só serviria para confundir e destruir a atividade consciente.
Somente em presença de uma atitude manifestamente insuficiente e deficiente é que se tem direito de atribuir ao inconsciente um valor superior. […] Se a atitude consciente, portanto, for mais ou menos suficiente, a importância do sonho se limita à sua significação puramente compensadora. Este caso é a regra geral para o homem normal e que vive em condições externas e internas normais (Ibid., § 494)
Quando o indivíduo se encontra com uma atitude consciente subjetiva e/ou objetivamente inadaptada, como Jung continua explicando no texto, a função exercida pelo inconsciente passa para uma categoria de função prospectiva dirigente, que imprime à atitude consciente uma orientação diferente e bem melhor do que a anterior exercida pela consciência.
Dando continuidade à classificação, o autor fala daqueles casos em que o indivíduo, cujo caráter idiossincrático não está de acordo com sua manifestação consciente, é compensado pelo sonho de forma redutora. Trata-se de indivíduos em que a atitude consciente e seu esforço de adaptação ultrapassam as suas capacidades individuais, querendo parecer em certos âmbitos melhores e mais valiosos do que de fato são.
O sonho redutor tem a tendencia de desintegrar, dissolver, depreciar, e até mesmo destruir e demolir partes e características da personalidade que não vão de encontro com o sujeito. Por isso, Jung (Ibid.) comenta, muitas vezes ele tem um efeito altamente salutar, pois afeta apenas a atitude especifica, e não a personalidade como um todo.
A função redutora do inconsciente, que se aplica a esse tipo de sonho, constela materiais compostos, em sua essência, de desejos sexuais inferiores recalcados (inserir aqui o link do texto: “Sonhos – a interpretação causalista redutiva freudiana”) e de vontades de poder infantis, bem como de resíduos arcaicos e supraindividuais. Tudo nele é retrospectivo, e conduz a um passado que há muito se acreditada estar sepultado
A reprodução de tais elementos com seu caráter totalmente arcaico é apropriada, mais do que nenhuma outra coisa, para minar efetivamente uma posição excessivamente elevada, para lembrar ao indivíduo a insignificância do ser humano e reconduzi-lo aos seus condicionamentos fisiológicos, históricos e filogenéticos. Toda aparência de grandeza e de importância falaciosas se dissipa diante das imagens redutoras de um sonho que analisa sua atitude consciente com implacável senso crítico, pondo às claras materiais arrasadores que se caracterizam por um registro completo de todas as suas fraquezas e inquietações (Ibid., 497).
Fonte: encurtador.com.br/lEV67
Apesar de retrospectivo, este ainda mantém sua função finalista, pois é um sonho compensador, que tem como objetivo provocar uma melhor adaptação do indivíduo diante do seu ambiente.
Em continuidade, o autor oferece outras classificações mais específicas que não se encaixam necessariamente à psicologia geral do ser humano, pois dependem de circunstancias específicas, como lesões físicas no sistema nervoso, e por isso não serão acrescentadas a este texto. No que tange a demais classificações extraordinárias, é de utilidade e curiosidade acrescentar aqui os sonhos que expressam o fenômeno telepático.
Jung (Ibid.) não nega a existência desse tipo de fenômeno pelo fato de haver suficientes ocorrências verificadas, mas no presente texto não se arrisca a teorizar qualquer explicação para tanto, chegando mesmo a dizer que “O fenômeno existe, sem nenhuma dúvida, embora a sua teoria não me pareça tão simples” (Ibid., § 503). Ele apenas levanta alguns pontos que acrescentam à reflexão, como a criptomnésia e possibilidade de concordância de associações entre duas ou mais pessoas, com seus processos psíquicos paralelos que podem manifestar tal fenômeno por uma identidade ou semelhança muito grande de atitude. Tal situação é muito comum no seio das famílias.
Fonte: encurtador.com.br/cfjLT
A única coisa que Jung pontua no mesmo texto sobre o sonho telepático, é que segundo todas as suas observações já feitas acerca deles, o conteúdo telepático se encontra invariavelmente no conteúdo manifesto do sonho, e nunca no latente. Ou seja, ele sempre se apresentará da forma como o sonho já o apresenta, sem a necessidade de uma interpretação subjetiva do mesmo.
Resumidamente, Jung dá para o sonho um status de mecanismo psíquico para a regulação do indivíduo em relação ao inconsciente, encontrando como melhor conceito para esse fenômeno a compensação. Demonstrando as várias formas como ela pode se manifestar, ele expressa que esse mecanismo é um processo plástico, que se adapta à situação do sujeito, e que por isso, se expressa diferentemente em cada um. Sua única lei postulada é: “Sempre é útil perguntar, quando se interpreta clinicamente um sonho: que atitude consciente é compensada pelo sonho?” (JUNG, 2012, § 330).
Por fim, deixo uma citação direta, onde Jung, em sua primeira obra que se diferencia da psicanálise (“Símbolos da transformação”), argumenta sobre a função prospectiva do inconsciente por vias um tanto diferentes.
[…] indubitavelmente o inconsciente contém as combinações psicológicas que não atingem o limiar da consciência. A análise decompõe estas combinações em suas determinantes históricas. Ela trabalha em retrocesso, como a história. Assim como grande parte do passado está tão recuada no tempo que o conhecimento histórico não mais pode alcançá-la, assim também grande parte da determinação inconsciente é inalcançável. Mas a história não sabe de duas coisas: aquilo que está oculto no passado e aquilo que está oculto no futuro. Ambas, porém, talvez pudessem ser alcançadas com certa probabilidade, a primeira como postulado, a última como prognóstico político. À medida que no hoje já está contido o amanhã e toda a trama do futuro já está tecida, uma percepção mais profunda do presente poderia tornar possível um prognóstico do futuro mais ou menos distante. Se transportarmos este raciocínio para o campo psíquico, chegaremos necessariamente ao mesmo resultado: assim como vestígios de recordações de há muito subliminares ainda são acessíveis ao inconsciente, assim também o são determinadas combinações subliminares para a frente muito tênues, que são da maior importância para os acontecimentos futuros, à medida que estes são determinados por nossa psicologia. Mas, assim como a história não se preocupa com combinações para o futuro, que são objeto da política, tampouco as combinações psicológicas para o futuro são alvo da análise, mas constituiriam antes objeto de uma síntese psicológica refinada, que soubesse acompanhar os cursos naturais da libido. Não somos capazes disto, ou só muito imperfeitamente, mas o inconsciente o é, pois aí isto acontece, e parece que de tempos em tempos, em determinados casos, fragmentos importantes deste trabalho vêm à tona, pelo menos em sonhos, de onde viria então o significado profético dos sonhos, de há muito afirmado pela superstição. Os sonhos não raro são antecipações de modificações futuras do consciente (JUNG, 2011, § 78¹⁹).
REFERÊNCIAS:
FREUD, Sigmund. História de uma neurose infantil: O homem dos lobos; Além do princípio do prazer e outros textos: 1917 [1920]. In: História de uma neurose infantil: O homem dos lobos; Além do princípio do prazer e outros textos: 1917 [1920]. 2010. p. 424-424.
JUNG, Carl Gustav. A energia psíquica. 14. ed. Petrópolis, Rj: Vozes, 2013. 99 p. (OC 8/1). Tradução de Maria Luiza Appy.
JUNG, Carl G.. A natureza da psique. 10. ed. Petrópolis, Rj: Vozes, 2013. 416 p. (OC 8/2). Tradução de Mateus Ramalho Rocha.
JUNG, Carl G.. A prática da psicoterapia: contribuições ao problema da psicoterapia e à psicologia da transferência. 16. ed. Petrópolis, Rj: Vozes, 2013. 156 p. (OC 16/1).
JUNG, Carl Gustav. Ab-reação, análise dos sonhos e transferência. 9. ed. Petrópolis, Rj: Vozes, 2012. (OC 16/2). Tradução de Maria Luiza Appy; revisão técnica de Jette Bonaventure.
JUNG, Carl Gustav. Freud e a psicanálise. 7. ed. Petrópolis, Rj: Vozes, 2013. 366 p. (OC 4). Tradução de Lúcia Mathilde Orth; revisão técnica Jette Bonaventure.
JUNG, Carl Gustav. Psicologia do inconsciente. 24. ed. Petrópolis, Rj: Vozes, 2014. 168 p. (OC 7/1). Tradução de Maria Luiza Appy.
JUNG, Carl Gustav. Símbolos da transformação: análise dos prelúdios de uma esquizofrenia. Petropolis, Rj: Vozes, 2011. (OC 5). Tradução de Eva Stern ; revisão técnica Jette Bonaventure.
JUNG, Carl Gustav. The Red Book: liber novus. New York, Ny. London: W. W. Norton & Company, 2009. (Philemon Series). Edited by Sonu Shamdasani; translated by Mark Kyburz, John Peck and Sonu Shamdasani.
JUNG, Carl Gustav. Tipos psicológicos. Petrópolis, Rj: Vozes, 2015. (OC 6). Tradução de Lúcia Mathilde Endlich Orth.
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Sonhos: a interpretação causalista redutiva freudiana
Os primórdios da psicanálise têm seu gérmen a partir do momento em que Freud entra em contato com a escola de hipnotismo francesa (JUNG, 2013c). Ali, através da hipnose, ele experimenta diretamente a presença e influência do inconsciente na personalidade. Por razões de efetividade terapêutica, mais tarde, junto de Josef Breuer, eles abandonam a prática hipnótica, e passam a usar como prática terapêutica exclusivamente a associação livre. É consolidado assim o método psicanalítico.
Jean Martin Charcot fazendo uma demonstração da hipnose em uma mulher histérica Fonte: encurtador.com.br/cgJR0
A via para o inconsciente agora se dava através de uma forma interpretativa do discurso, a partir da análise de sintomas e repetições, de forma que o paciente era, ao contrário do método hipnótico, agente participante do seu processo terapêutico. Faltava, porém, uma via direta de diálogo com o inconsciente, sem o filtro da consciência. É nesse contexto então, que se dá a grande descoberta de Freud: o sonho como a via régia para o inconsciente, publicando assim em 1900 a obra “A interpretação dos sonhos”. “[Este livro] contém, mesmo segundo meu julgamento atual, a mais valiosa descoberta que tive a felicidade de fazer. Um insight como esse só nos ocorre uma vez na vida” (FREUD, 2018, contracapa).
Primeira edição da obra “Die Traumdeutung” (1900), traduzido para “A interpretação do sonhos” Fonte: encurtador.com.br/iwEU0
A partir de 1907, Carl Gustav Jung dá início ao seu contato com Freud, que dura até 1913, período de parceria e coparticipação em descobertas psicanalíticas. É embasado na noção psicanalítica, que se inicia o conhecimento de Jung sobre o sonho. Mais tarde, ele a coloca como parte integrante de sua compreensão sobre a fenomenologia do sonho, a nomeando de perspectiva causalista (JUNG, 2013a).
Sigmund Freud (parte inferior esquerda) e Carl G. Jung (parte inferior direita) na mesma foto durante visita aos Estados Unidos em 1909. Fonte: encurtador.com.br/dUY36
Nessa teoria, o sonho é compreendido como produto de uma complicada conexão de fenômenos psíquicos, uma obra que tem seus motivos, advindos de cadeias prévias de associações, sempre referindo-se a algo anterior, um passado psíquico, e possui, portanto, um significado. Esse método baseia-se em um procedimento redutivo, exclusivamente causal, que decompõe o sonho nos componentes de reminiscências e nos processos instintivos que lhe constituem a base (JUNG, 2014). Ante a obscuridade e confusão que se apresenta o sonho como o lembramos, dá-se o nome de conteúdo manifesto. Ele seria a fachada pelo qual se esconde a verdadeira ideia do sonho, o conteúdo latente (FREUD, 2018).
“O “sonho manifesto”, isto é, o sonho tal como nos lembramos dele, segundo Freud, é como a fachada de uma casa: à primeira vista nada revela de seu interior, que fica oculto por detrás da chamada censura do sonho. Permitindo-se que a pessoa fale sobre os detalhes de seu sonho – obedecidas determinadas regras técnicas – vemos que as ideias que lhe ocorrem seguem todas uma mesma direção, concentrando-se em torno de um assunto específico, de significado pessoal. Inicialmente, essas ideias assumem um sentido que se dissimulava por trás do enredo do sonho. […] Esse complexo específico de pensamentos em que se concentram todos os fios do sonho é o conflito procurado, que se apresenta numa variação condicionada pelas circunstâncias.” (JUNG, 2014, § 21)
A forma toda especial que adquirirá o conteúdo manifesto do sonho corresponde a disposição psíquica do indivíduo, ou seja, sua individualidade. Nosso estado de espírito no presente depende de nossa história, e, por isso, os elementos de valores, na diversidade de cada pessoa, são os determinantes da constelação psíquica. Acontecimentos que provocam fortes reações de sentimento são de grande importância para o desenvolvimento psíquico posterior. Essas recordações, dotadas de forte carga emocional, formam complexos de associações mais ou menos extensos, que Jung (2013c) dá o nome de “complexos ideoafetivos”.
São, portanto, as associações consteladas pelos complexos que dão forma para o conteúdo manifesto do sonho, e é através dele que se pode fazer o caminho reverso para compreender seu conteúdo latente. Nesse método interpretativo, se volta ao passado para reconstituir certas experiências anteriores, a partir da manifestação de determinados motivos oníricos. Esse percurso é de utilidade em contexto terapêutico por abrir à possibilidade da conscientização de conteúdos inconscientes, ou de revelar fatos que o paciente não queria contar.
“Se alguém sonha, por exemplo, com uma mesa, estamos ainda bem longe de saber o que a palavra “mesa” do sonho significa, embora a palavra “mesa” em si pareça suficientemente precisa. Com efeito, há qualquer coisa que ignoramos, e é que esta “mesa” é precisamente aquela mesa à qual estava sentado o pai do sonhador, quando lhe recusou qualquer ajuda financeira posterior e o expulsou de casa como um sujeito imprestável. A superfície lustrosa desta mesa está ali, diante de seus olhos, como o símbolo de uma inutilidade catastrófica tanto no estado de vigília, como nos sonhos noturnos. Eis o que o sonhador entende por “mesa” (JUNG, 2013a, § 539).”
Fonte: encurtador.com.br/cnrzW
Os elementos do conteúdo manifesto, em relação ao conteúdo latente, apresentam-se não só de forma difusa e distorcida, como também uma espécie de resumo de um conglomerado de conteúdos psíquicos inconscientes. Em um único sonho, a partir de uma reflexão sobre o mesmo, é possível obter uma infinidade de observações, percepções e associações subjacentes, de forma que todas façam sentido. Esses, revelam os pensamentos oníricos, que são processos correntes na dinâmica psíquica, uma espécie de pauta inconsciente levantada e eliciada pelos processos vivenciados em vigília. São produtos da constelação psíquica do dia a dia.
Segundo Freud (2018), essa multiplicidade se dá devido o trabalho de condensação realizado pela elaboração onírica, um processo em que se incute uma diversa cadeia de significantes em um único sonho. Portanto, da mesma forma que um sonho pode se ligar a mais de um fato, um objeto do sonho pode condensar e se referir a mais do que apenas um elemento. Um bom exemplo é quando no sonho, nos deparamos com uma pessoa que se parece com alguém que conhecemos, mas ao mesmo tempo nos lembra outra pessoa.
Fonte: encurtador.com.br/bxAG4
Outro processo comum e importante do sonho é o deslocamento. Aqui, o pensamento onírico é encoberto por uma espécie de disfarce. “[…] seu conteúdo é ordenado em torno de elementos centrais diferentes dos pensamentos oníricos […] ou seja, arrancado do contexto e, dessa maneira, transformado em algo estranho” (FREUD, 2018, p. 328).
Esse mecanismo do sonho contribui com o processo de censura do conteúdo latente, pois encobre seu significado. A citação usada acima é um ótimo exemplo. A mesa de pinho, como conteúdo manifesto, é um deslocamento do real conteúdo latente: a recusa de auxílio financeiro e expulsão de casa realizada pelo seu pai, que no momento se sentava à mesa de pinho.
Fonte: encurtador.com.br/nuGP8
Freud (2018) em sua teoria interpretativa, postula uma regra geral que se aplicaria ao sentido de todo sonho: ele representa a realização de um desejo reprimido. Todo o processo de censura realizado pelo contudo manifesto – que segundo ele, acontece no processo do acordar – seria justamente para mascarar aquilo que há de recalcado pela consciência. Mesmo os sonhos de angústia seriam distorções devido à defesa contra um desejo que, para a consciência, é insuportável assumir. Para o autor portanto, o sonho teria duas etapas: a realização da fantasia desejante e, após isso, sua censura, que só permite que uma ideia se manifeste quando está tão deformada que o sonhador não a consegue reconhecer. Graças a isso, a informação se torna tolerável para consciência.
Tais fantasias se referem a desejos de caráter sexual (FREUD, 1997) que, por demais incompatíveis com a moral do ego, não podem tornar-se conscientes, devido a uma força contraria que se opõe a elas pela consciência: o recalque. A consciência mantém esses conteúdos inconscientes, e isso é sentido durante o processo de análise como resistência, manifestação da força que provocou e mantém o recalque. Para a psicanálise, o recalcado é o protótipo do que é inconsciente (FREUD, 2011).
Fonte: encurtador.com.br/cnDNY
Sendo o inconsciente, para Freud, um conglomerado de conteúdos recalcados devido sua incompatibilidade para com a consciência. É compreensível que ele postule os sonhos como mera manifestação destes. Já Jung não o considera de forma tão redutiva:
“De acordo com a ideia original de Freud, o inconsciente é uma espécie de recipiente, ou porão, para material reprimido, desejos infantis e coisas do gênero. Contudo o inconsciente é bem mais do que isso: ele é, simplesmente, a base, a condição preliminar da consciência. Representa a função inconsciente do psiquismo. É a vida psíquica antes, durante e depois da tomada de consciência. Como a criança recém-nascida, que chega ao mundo com o cérebro pronto e altamente desenvolvido, e cuja diferenciação foi formada pela experiência acumulada dos seus antepassados, no decorrer de séculos e séculos sem conta. Assim também a psique inconsciente é formada por instintos, funções e formas herdadas, já pertencentes à psique ancestral.” (JUNG, 2013b, § 61)
Fonte: Jung (2009)
Sendo suas considerações sobre o inconsciente diferentes das de Freud, também suas perspectivas sobre os sonhos se diferenciam das dele. Melhor dizendo: as concepções de Jung sobre o inconsciente e, logo, sobre os sonhos, consideram os conhecimentos freudianos como componentes da psicologia analítica, e uma etapa do processo de análise. Ou seja, a fenomenologia psíquica do sonho – bem como de todo o inconsciente – para a psicologia analítica, não se reduz à lógica causal, onde se dá um porque para um fenômeno, isso compõe uma parte de sua totalidade, ou melhor, um lado.
Dentre vários motivos, Jung busca outras perspectivas para o fenômeno psíquico pelo fato de a psicologia prestar contas àquele que sofre psicologicamente. Para este, nem sempre a conscientização de conteúdos inconscientes resolve seu problema. A partir desse ponto, os sonhos interpretados pelo método causal apenas continuariam a trazer as mesmas informações já sabidas. Não seria uma grande novidade, pois as causas anteriores se reduzem às bases do sujeito, que são sempre as mesmas.
É necessário compreender também o que o inconsciente e o sonho estão querendo dizer com tal situação, o que ele informa sobre o que pode ser feito. Com isso, entende-se o produto psíquico do ponto de vista de sua finalidade, e o sentido que tende o atual processo psíquico (JUNG, 2014). Não à toa, Carl Jung é um teórico da Individuação.
REFERÊNCIAS:
FREUD, Sigmund. A interpretação dos sonhos. Porto Alegre, RS: L&PM, 2018. 736p. Tradução do alemão de Renato Zwick, revisão técnica e prefácio de Tânia Rivera, ensaio biobibliográfico de Paulo Endo e Edson Souza.
FREUD, Sigmund; SALOMÃO, Jayme. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. Edição’Livros do Brasil’, 1997.
FREUD, Sigmund. Obras completes, volume 16: O eu e o id, “autobiografia” e outros textos (1923-1925). São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2011. Tradução de Paulo César de Souza.
JUNG, Carl G.. A natureza da psique. 10. ed. Petrópolis, Rj: Vozes, 2013. 416 p. (OC 8/2). Tradução de Mateus Ramalho Rocha.
JUNG, Carl G.. A prática da psicoterapia: contribuições ao problema da psicoterapia e à psicologia da transferência. 16. ed. Petrópolis, Rj: Vozes, 2013. 156 p. (OC 16/1).
JUNG, Carl Gustav. Ab-reação, análise dos sonhos e transferência. 9. ed. Petrópolis, Rj: Vozes, 2012. (OC 16/2). Tradução de Maria Luiza Appy; revisão técnica de Jette Bonaventure.
JUNG, Carl Gustav. Freud e a psicanálise. 7. ed. Petrópolis, Rj: Vozes, 2013. 366 p. (Obras Comp). Tradução de Lúcia Mathilde Orth; revisão técnica Jette Bonaventure.
JUNG, Carl Gustav. Psicologia do inconsciente. 24. ed. Petrópolis, Rj: Vozes, 2014. 168 p. (OC 7/1). Tradução de Maria Luiza Appy.
JUNG, Carl Gustav. The Red Book: liber novus. New York, Ny. London: W. W. Norton & Company, 2009. (Philemon Series). Edited by Sonu Shamdasani; translated by Mark Kyburz, John Peck and Sonu Shamdasani.
Da mente de Neil Gaiman, reimaginando um personagem clássico da DC Comics, surge Sandman (1988). O personagem é chamado de Morpheus, que recebe o título de Sonho dos Perpétuos, e se trata do governante do Reino do Sonhar. O sonhar seria uma instância da existência onde todos os seres vivos visitam ao dormir; lá ocorreriam todas as narrativas oníricas e as experiências dos sonhos, Morpheus é quase que todo poderoso ali e com milhares de seres ajudantes que coordenam aquele plano existencial junto a ele.
A trajetória de Sandman é longa a partir daí, então para o contexto desta produção será observado o princípio das histórias de Morpheus, no Brasil chamada de Sandman: Prelúdio (2015), ilustrada pelo magistral J. H. Williams III. Uma graphic novel publicada mais recentemente na intenção de mostrar pontos anteriormente desconhecidos da vida do protagonista.
Essa história relata a sucessão de fatos que movem o protagonista a sua jornada de redenção no primeiro volume da série, e vem demonstrando a magnitude deste universo ao levar o leitor a ter consciência de que todos os seres e todas as partículas em todos os universos e existências sonham, dessa maneira, haveria uma versão do Sonho dos Perpétuos para cada ser da existência. O personagem descobre então que algo está matando outras versões dele mesmo, outros Governantes do Sonhar estão sendo mortos, e cabe ao (nosso) Morpheus investigar a morte de seus iguais.
Morpheus (ao centro) cercado por seus pares – Fonte: encurtador.com.br/drxH4
O Sonho para a Psicologia Analítica e a Simbologia do Sonhar
Para a psicanálise o sonho está ligado principalmente a imagética do sonhar, e ao valor compensatório do sonho para o sonhador. O sonhador deslocaria libido pelo Inconsciente enquanto dorme, e através de um arranjo de imagens conseguiria entrar em contato com conteúdos reprimidos fortes, ter vislumbres de questões recalcadas por seu aparato psíquico ou mesmo realizar desejos fortes que estariam em seu dia-a-dia reprimidos por todos os mecanismos de defesa propostos na clínica psicanalítica:
Na concepção psicanalítica, além de representações mentais mnemônicas derivadas da percepção consciente, as imagens adquirem uma função dinâmica, uma vez que, para Freud, elas possibilitam a transferência da energia instintiva que não encontra seu objeto no campo da fantasia. (SANT’ANNA, 2005, p.19)
Em Sandman, o personagem é o soberano do Sonhar, esta que seria uma instância dimensional onde todos os seres vivos se deslocam psiquicamente ao dormir para viver os sonhos. Esse conceito fantástico e abstrato é palatável quando se tem em mente o funcionamento da psique a maneira analítica de se ver.
Jung et al. (2016) decorre sobre a função do sonho e sobre o Inconsciente coletivo; sendo o sonho além de uma função organizadora da psique, onde conteúdos são revistos e processados, também é uma maneira do Inconsciente Pessoal de cada indivíduo se comunicar com a consciência através dos resquícios imagéticos. O Inconsciente Coletivo atravessa essa demanda na medida que fornece símbolos ancestrais e nos permite contato com os arquétipos. Logo, podemos colocar em paralelo a visão de Neil Gaiman na concepção do Sonhar, como esse local em paralelo a realidade e a psicologia analitica do ato de Sonhar.
Uma mandala, simbolo comum dos sonhos na Psicologia Analítica – Fonte: encurtador.com.br/dghU8
A maneira mais eficiente para se enxergar essa comparação é observar na própria escolha de personagens de Gaiman no preenchimento de sua história. Sonho pertence a uma categoria de seres, equivalentes em seu mundo aos deuses, um panteão, conhecidos como os perpétuos.
Em sua jornada ele se depara por exemplo com Desejo, Delírio, Destino e Morte, seus irmãos perpétuos; seu ajudante Lucien, o bibliotecário, que guarda todas as histórias não escritas; Coríntio, o pesadelo, que vem em contraponto e antagonizando o protagonista, quase como a Sombra arquetípica de Morpheus, representando seu oposto e negativo. Entre outros personagens, esses são fundamentais para entender a característica simbólica de tudo que cerca o reino do Sonhar, tudo alí surge e finda em conceitos complexos e simbólicos.
O conceito de arquétipo ocupa lugar significativo na teoria fortemente associado à ideia de inconsciente coletivo, um substrato psíquico coletivo. (…) Em cada indivíduo, manifesta-se por meio de imagens individuais (nomeadas por Jung como imagens arquetípicas) que têm a função de agrupar os elementos psíquicos próprios de cada pessoa e enviar à consciência algo como uma mensagem proveniente do inconsciente. Nessa perspectiva, o arquétipo só pode ser conhecido através de seus efeitos. (BONFATTI et al., 2019, p. 543-544)
Por fim, vale olhar para o mito de Morfeu em relação com o Personagem Morpheus. Sendo o primeiro o deus grego dos sonhos, filho de Hipnos, deus do sono, este era responsável por trazer a narrativa onírica aos humanos e guiá-los por uma boa noite de sono ou punir com os pesadelos (BULFINCH, 2013). O paralelo simbólico mais evidente feito por Gaiman, que em sua obra tende a tangenciar os conceitos para afastar dos arquétipos no mundo real, ele escolhe por emular quase que diretamente o deus dos sonhos grego em seu mundo fantástico.
Morfeu, deus grego dos sonhos – Fonte: encurtador.com.br/rCHWY
A Conclusão do Princípio da Jornada
Sandman: Prelúdio é a jornada pessoal de confronto de Morpheus consigo mesmo, diversas vezes. As várias versões do Sonho dos Perpétuos se defrontam com suas maiores qualidades e também seus maiores defeitos – Gaiman é um ótimo autor para trazer a humanidade a personagens imortais e de poder grandioso – e essa é a melhor parte da história, observar como um ser que tem a eternidade e a infinitude a sua disposição pode em seu ritmo tomar lições valiosas de crescimento pessoal e de personalidade.
Ao desvendar o mistério por trás do assassinato de seus pares, logo ao leitor fica claro que o Senhor dos Sonhos sabe o motivo e a circunstâncias do crime tão hediondo, pois de uma maneira bem arquetípica e bem similar a como funciona o Inconsciente Coletivo humano, cada versão de Morpheus espalhada pelo universo é também parte de sí mesma, todos os sonhos estão conectados e então ele tem consciencia do que ocorreu às partes dele que padeceram.
A história nesse ponto toma outro formato, não se tratando mais de uma investigação, mas sim de uma busca de redenção, da tentativa de abjuração de um erro cometido pelo próprio Morpheus que sucede nos assassinatos. Morpheus deve se conhecer e se munir da companhia de si mesmo para finalizar sua jornada com sucesso.
Referências
BONFATTI, Paulo et al. Acerca do conceito de arquétipo na Psicologia Analítica: breves considerações. ANALECTA-Centro Universitário Academia, v. 4, n. 4, 2019.
JUNG, Carl G. et al. O homem e seus símbolos. HarperCollins Brasil, 2016.
SANT’ANNA, Paulo Afrânio. Uma contribuição para a discussão sobre as imagens psíquicas no contexto da psicologia analítica. Psicologia USP, v. 16, n. 3, p. 15-44, 2005.
Meu pai só gostava de músicas sertanejas, mas quando o cantor Roberto Leal aparecia na TV, ele me chamava para assisti-lo e ficava ouvindo junto. Ele sabia que aquele loirinho era o ídolo da filha de 15 anos. Numa época sem Internet e YouTube, eu dependia da TV para ver meu cantor predileto e das rádios para ouvir suas músicas. Seus discos me inspiraram a criar diários e a sonhar com o amor. Um dia lhe escrevi uma carta. A resposta veio rápida e com uma foto autografada.
Aos 17 anos, mudei-me para São Paulo. Estaria mais perto do ídolo, mas continuei o vendo só pela TV e ouvindo suas músicas pelas rádios, porque assistir a um show para mim era um luxo na época. O tempo passou e substituí o ídolo da adolescência por outros da minha juventude. As décadas passaram e ao passar de meio século de vida, eu tive uma crise de flashback. Mergulhei nas profundezas do tempo e na descida encontrei algumas frustrações e tristezas que deixei no fundo do mar do passado onde já estavam naufragadas. Para a superfície, resgatei alguns tesouros, como a paixão pelo ídolo dos 15 anos.
Fonte: encurtador.com.br/CTY08
O ano era 2017 e, na ânsia de dar vida a desejos antigos, decidi assistir a um show do cantor. 365 dias voaram. Adiei o desejo para 2018. Mais um ano voou e veio 2019. Prometi que daquele ano não passaria. Eu estava certa. Jamais passaria de 2019. Um dia, olhando mensagens no celular, uma notícia me paralisou. A vida tinha me dado uma rasteira por ter me esquecido do hoje e confiado no amanhã. Os olhos do cantor loirinho Roberto Leal que tantas alegrias me deu na adolescência se fecharam em 15 de setembro de 2019. Não o vi e jamais o verei num palco. Restou a imortalidade do ídolo.
Eu não sabia da luta do cantor contra o câncer. Mas sabia que a morte é a realidade da vida. No vídeo de seu último show, Roberto Leal disse que jamais se imaginou cantando sentado e eu que sempre me imaginei aplaudindo-o de pé. Um ano após sua morte, o consolo é a foto autografada emoldurada e os vídeos no YouTube.
Os sonhos são os combustíveis da vida. Existem aqueles sonhos mais singelos e acessíveis de curto prazo e os grandes de longo prazo. Não importa o tamanho e o tempo de um sonho, o importante é não se iludir com mais 365 dias de um ano vindouro para dirigir alguns quilômetros rumo a uma casa de show ou para dar pequenos passos diários rumo aos grandes sonhos de longo prazo.
A luz da vida do cantor se apagou. As músicas brilharão para sempre.
Final dos anos 80. Rô tinha acabado de chegar de Londres. Morávamos no mesmo pensionato em São Paulo. Ela, uma gauchinha introvertida e discreta. Eu, uma maritaca tagarela. Ela amava David Bowie. Eu breguices. Éramos diferentes em gosto e estilo. Mas nossas almas se reconheceram.
Um dia ao desabafar com Rô sobre um projeto que tinha dado errado culpei meu jeito falante de ser pelo fracasso. Lamentei por não seguir o velho ditado de que o segredo do negócio é o segredo. Ela discordou. Surpreendi-me. Rô disse que ao botar a boca no trombone, eu sempre encontrava alguém que me indicava alguém para me ajudar. Lembrei-a das decepções no meio da jornada. Ela lembrou-me das conquistas que atropelavam as decepções. Concordei. Rô, então, me revelou que seu grande sonho era ser atriz de teatro, por isso veio a São Paulo. Fiquei boquiaberta.
Fonte: encurtador.com.br/puJV1
Jamais imaginaria que aquela menina tímida e caseira sonhasse com o holofote. Confessou sua frustração de ser recepcionista de um escritório quando sua mente viajava pelos palcos. Eu a incentivei a fazer testes e a bater nas portas. Aproveitar as oportunidades da capital. Ela respondeu que, diferente de mim, que fazia das rejeições fontes de motivação, para ela, as rejeições a atrofiavam.
Um ano depois, escondida atrás de sua timidez e cansada do ritmo de vida da capital paulista, Rô decidiu voltar para sua terra-natal. Eu não me conformava. Ela estava desistindo dos sonhos. Rô disse que faria das minhas vitórias as dela e que minha luta era das duas. Pediu-me para continuar esgoelando no alto-falante e partiu. Trocávamos cartas. Ela seguia sonhando quietinha no seu canto e torcendo por mim.
Fonte: encurtador.com.br/kBGK9
Uma noite, ao voltar para casa encontrei um envelope amarelo debaixo da porta. O carimbo era da cidade de Rô, mas a letra não era dela. Abri a carta. Retirei um recorte de jornal noticiando o acidente de carro com um casal de namorados no Lago Guaíba. O rapaz sobrevivera; a moça morrera afogada. Quem assinava o recorte era a mãe de Rô. Desmoronei.
Chorei. Desabei. Abati-me. Uma garota tão cheia de sonhos; todos afogados nas águas do Guaíba. O vazio de ligar e não ouvir a voz da amiga. As cartas que não chegariam mais. Uma juventude enterrada na eternidade. Ficaram as lembranças e o pedido para continuar sendo a maritaca tagarela. Para mim, esgoelar meus sonhos sempre atraíram decepções e indicações. Na somatória, as vitórias. Decepções fazem parte da vida. Rejeições idem. Elas me chateiam, mas não interferem na minha luta. Sempre que penso que falo demais, lembro da voz baixinha e suave da amiga me dizendo: guria, você sempre conhece alguém que te indica alguém.
A nova realidade mundial mudou. Antes podíamos ir, vir, trabalhar e ter uma rotina de estudos em sala de aula com professores. Hoje, o pedido das autoridades é ‘Fique em casa!’. O Covid-19 mudou nossa vida e fazer as atividades descritas antes não é aconselhado pelos especialistas. Com isso, diversos concursos que já estavam fazendo seleções, adiaram seus cronogramas.
Assim que a situação do país se normalizar, esses concursos serão feitos. Por isso, a dica para esse momento é buscar separar algumas horas do seu tempo em casa para continuar se dedicando aos estudos, mesmo de maneira online. A resiliência será uma grande companheira.
Muitos cursos online disponibilizaram suas aulas gratuitamente ou fizeram promoções para facilitar a compra dos alunos. Eu, por exemplo, montei um cronograma específico de aulas – da minha plataforma online: Aprovação Virtual – e, apesar de ser um conteúdo pago, no momento disponibilizo, diariamente e gratuitamente, no meu canal do Youtube (Leonardo Chucrute).
Fonte: encurtador.com.br/eiB25
Provavelmente, a vontade de desistir de prestar provas para concursos será grande devido a ansiedade, medo e insegurança que o Coronavírus está trazendo. Além disso, quando se começa a estudar conteúdos mais pesados e complexos de concursos, vendo a quantidade de vagas e relação candidato/vaga, bate a insegurança.
São nessas horas que a automotivação é fundamental. Portanto, aproveite o tempo em casa e veja o edital, pois ele é o norteador para os candidatos. Também baixe o edital, estude-o e conheça-o a fundo. Não desanime e inicie o quanto antes a preparação.
Fonte: encurtador.com.br/jtV46
É essencial nesse momento continuar acreditando, porque o ser humano é feito de sonhos. Também é importante ter alguma atividade física, mesmo na própria residência. Manter ainda uma rotina, disciplina e ter pensamento positivo de que vai dar tudo certo. Até porque a economia vai ter que girar, todos precisam continuar funcionando e não podemos nos entregar de maneira nenhuma.
Pense que apesar das adversidades desse momento, você está dando o seu máximo e que você vai conseguir. Elabore um planejamento de estudos, assista aulas online que irão te ajudar, tenha uma rotina de estudos e acredite no seu potencial. Tudo isso vai passar. Então, foque no concurso que deseja passar, dedique-se e assim você vai conquistar a tão sonhada vaga.
Fintech SO+MA cria site que mostra os impactos positivos de boas atitudes.
Primeira fintech a usar atitudes positivas dos participantes como forma de pagamento, SO+MA lança novo portal mais leve, atrativo, de fácil navegação e que ainda pode ajudar muitas pessoas por meio de ações sustentáveis. Além de interagir melhor com o público, o site vai mostrar dados positivos de impacto ambiental que cada indivíduo pode realizar por meio da reciclagem.
A startup nasceu em 2015 com o objetivo de contribuir para a redução da desigualdade e ampliar as oportunidades aos cidadãos, ao mesmo tempo que influencia as pessoas com novas formas de pensar e agir. “Transformamos as atitudes de impacto positivo em pontos que são trocados por cursos”, comenta Claudia Pires, fundadora da startup SO+MA.
– Para participar dos benefícios, as pessoas levam seus recicláveis para as Casas SO+MA. No local, a equipe pesa os recicláveis levados, contabiliza os pontos que são trocados por cursos, exames, alimentação básica, experiências, descontos em supermercado entre outros– explica Claudia.
Fonte: Divulgação
Mudanças no site
Depois de uma grande análise, a equipe chegou à conclusão de que era preciso inovar para atender melhor às necessidades de quem acessa o programa SO+MA Vantagens. “Por isso, foram criadas funcionalidades que dão destaque ao bem que os participantes têm realizado pela sociedade”, diz.
A partir de agora, o novo portal possibilita ao participante acompanhar dados de impacto ambiental que ele causou por meio da reciclagem e estipular sonhos para alcançar com os pontos do programa. “É uma forma de promover a gamificação do bem”.
– Por exemplo, caso um curso que deseja fazer exija 3.000 pontos, é só informar o sistema sobre o objetivo e o participante vai sendo avisado que está chegando na quantidade suficiente de pontuação – exemplifica a fundadora da startup.
Fonte: Divulgação
Por ser mais facilmente acessado via browser, o novo site também permite que o usuário não ocupe espaço no smartphone. Sendo uma página da internet, é só salvar o endereço eletrônico no telefone, navegar e fazer a diferença por meio de boas atitudes.
Também vão estar disponíveis endereços e horários de atendimento das Casas SO+MA, local onde o comportamento do participante é “digitalizado”, novidades sobre o programa e uma aba de comunicação. Além disso, o portal vai estar mais próximo e engajado com o público, com o envio de notificações.
Fonte: Divulgação
– Além de oferecer um site que traga as melhores experiências possíveis ao público, a nossa nova forma de comunicar vai mostrar que é possível alcançar sonhos com as atitudes. O SO+MA quer ajudar os cidadãos a chegarem nesses sonhos, traçados por eles mesmos – conclui Claudia.