Narrando a transexualidade rumo a uma psicologia compromissada

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A medicalização dos gêneros transexuais e travestis tem sido um confronto espinhoso e diversos setores contribuem, tal como grupos da sociedade e trabalhadores. No atual momento feitos significativos a esse respeito já podem ser detectados, um deles é a retirada da seção dos transtornos mentais na CID-11, colocando como condições relativas à saúde sexual.

A Psicologia tem se dispondo segundo as normas institucionais desde 2011 a favor da não medicalização dos gêneros, especialmente via Sistema Conselhos (Federal e Regionais). Há pouco tempo introduziu-se mais um feito, e principal determinação a respeito das identidades de gênero, a Resolução nº 01/2018 que estabelece normas de atuação para psicólogas/os em relação às pessoas trans (Resolução Nº 1, 2018).

Entretanto, é sabido que o ambiente político e a condição atual do país dão indícios de um penoso percurso a ser trilhado para a vitória sobre os estigmas e impedimentos de direitos e deveres do cidadão que são maiores que uma normativa; é necessário memorar que o Brasil é o primeiro do ranking internacional em episódios periódicos de transfobia. A própria Resolução já se projeta como foco de ensaios inerentes à classe e extrínsecas de boicotagem, também do desconhecimento de sua presença pela grande maioria de psicólogas e psicólogos.

Os saberes psi (Psiquiatria, Psicanálise e Psicologia) são desbravadores em internalizar o dialogo de sexualidade e gênero, mas não os pioneiros a desfazê-la. A instigação se estende aos dias de hoje, o que é observado por meio do diálogo quebradiço com os estudos de gênero, feministas e queer.

Bem como nos demais macrossociais, essa consequência incide na Psicologia hegemônica de forma que se instituiu a ideia de corpos desviantes anexados à loucura, criminalidade, com direção ao tratamento ou recolhimento. Um modelo ilustrativo dessa circunstância é o período higienista brasileiro, onde internavam de maneira compulsória sujeitos contraditórios há norma: prostitutas, dependentes químicos, LGBT. O que se assemelha há uma memória obsoleta, na realidade acompanha a atual história da Psicologia Brasileira que completa 57 anos.

Desta maneira, fica evidente a criação de modelos legítimos de existência; o que impõe o estabelecimento da contradição entre normal e patológico. Desta forma, veem-se as identidades de gênero e orientações sexuais serem foco desse ato ferrenho, ganhando terminologias diversas: histeria, perversões sexuais, homossexualismo, lesbianismo, transexualismo… por que será que não se ouve falar em heterossexualismo?

O sujeito é um ser de linguagem, prontamente, a maneira que a comunicação acontece é fruto da nossa cultura e também se comporta na constituição subjetiva. Vale pensar na disseminação do termo trans, ao mesmo tempo em que o termo cis é desconhecido. Ou, que o termo cis aparece 70 anos depois do termo trans, bem como o termo heterossexual aparece depois do homossexual.

REFERÊNCIAS

Bagagli, BP (2018). A retirada da transexualidade da classificação de doenças e sofrimento psíquico. Recuperado de https://transfeminismo.com/a-retirada-da-transexualidade-da-classificacao-de-doencas-eo-sofrimento-psiquico/

https://transfeminismo.com/a-retirada-da-transexualidade-da-classificacao-de-doencas-eo-sofrimento-psiquico/

Bento, B. (2014). O que pode uma teoria? Estudos transviados e despatologização das identidades trans. Florestan, 1(2), 46-66.

Butler, J. (2003). Problemas de gênero: Feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.

Conselho Federal de Psicologia – CFP. (2013). Nota técnica sobre processo transexualizador e demais formas de assistência às pessoas trans. Brasília, DF: o autor. Recuperado de https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2013/09/Nota-t%C3%A9cnica-processo-Trans.pdf

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Sexualidade trans e identidade de gênero

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Nota: Relato de Experiência elaborado como parte das atividades da disciplina de Antropologia do curso de Psicologia do Ceulp/Ulbra, sob supervisão do prof. Sonielson Sousa.

Recente Psicologia em Debate discorreu sobre Sexualidade trans e identidade de gênero, a partir de pesquisa realizada pela acadêmica de Psicologia do Ceulp/Ulbra Fernanda Bonfim. O transgênero é o indivíduo que não se identifica com seu sexo biológico. A identidade seria, neste caso, de como essa pessoa se vê, se sente, se percebe e é percebida.

Os transgêneros podem ser homossexuais ou heterossexuais. São considerados homossexuais quando se relacionam com o mesmo gênero de sua escolha de identidade (quando uma pessoa é biologicamente mulher, mas sua identidade de gênero é homem e este se relaciona com um homem). E são transgêneros heterossexuais quando se relacionam com o sexo oposto a sua identidade de escolha (quando uma pessoa biologicamente é mulher, com identidade de gênero sendo de homem e se relaciona com uma mulher). É possível observar a manifestação da transgeneridade bem cedo na vida de um sujeito, através das escolhas que essa pessoa faz por suas roupas, seus interesses e desejos por temas e objetos que seriam “comuns” ao sexo biológico oposto ao seu.

Fonte: http://zip.net/bbtKMx

A cirurgia para adaptar o corpo é realizada depois que um diagnóstico é fechado por vários profissionais, que incluem psiquiatras, psicólogos, entre outros. No Brasil, o Sistema Único de Saúde, pela portaria Nº 457, autoriza que a partir dos 18 anos de idade a pessoa pode dar início ao tratamento para adequação de sexo, que dura dois anos, até que o diagnóstico seja concluído. Porém a cirurgia só pode ser realizada a partir dos 21 anos de idade (BRASIL, 2008). Até o ano de 1985 a homossexualidade era considerada um transtorno mental pelo Conselho Federal de Medicina, e no final dos anos 80 vários organizações iniciam um amplo processo de despatologização desta orientação, que passa a ser considerada dentro da diversidade humana.

Sampaio e Coelho (2013) ao citar Harper e Scneider (2003), afirmam ser este grupo marginalizado pela discriminação, violência sofrida principalmente em seu convívio familiar e social em algum momento, geralmente na adolescência, ao qual a pessoa se encontra em maior fragilidade, o que pode dificultar o acesso a educação, melhores vagas de emprego e moradia. A estimativa de vida para os transsexuais é de no máximo 35 anos de idade, pelas violências acometidas a eles, sendo que 20% dos crimes são cometidos contra jovens com menos de 18 anos. Somente 10% dos crimes viram processo e 31% das vítimas são alvejadas com arma de fogo.

Fonte: http://zip.net/bqtLSC

Algumas ponderações podem ser observadas a partir da palestra, sobretudo ao ter feito a analogia de “ser cristão e por isso preconceituoso”, “gays perseguidos por pessoas cristãs”. Como se, no fritar dos ovos, a culpa fosse de Cristo. Das duas uma, ou há ensinos errôneos sobre o que o Evangelho realmente ensina sobre ser cristão, ou ouvintes relapsos que dão sua própria interpretação. E, ainda, a soma dessas duas ações que criam generalizações de fontes interpretativas erradas. Se Jesus Cristo fosse preconceituoso, ele não teria estado no meio de todos os tipos de sujeitos – os marginalizados da época.

Em nenhum momento Jesus desprezou, julgou, condenou ou incitou algum tipo de violência a quem quer que seja. Aliás, Ele acolhia, recebia e era recebido por pessoas que também eram desprezadas ou criticadas. Jesus confrontou “os seus”, os escribas e fariseus, como diz o texto em Jo1:11, “Veio para o que era seu e os seus não o receberam.” Se Jesus se apresentasse na contemporaneidade, é com estas pessoas que ele estaria.

REFERÊNCIA:

BÍBLIA. Português. Bíblia On-line. Disponível em: <https://www.bibliaonline.com.br/acf/jo/1>. Acesso em: 06 jun. 2017.

BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Cirurgias de Mudança de Sexo são Realizadas pelo SUS desde 2008. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2015/03/cirurgias-de-mudanca-de-sexo-sao-realizadas-pelo-sus-desde-2008>. Acesso em: 05 jun. 2017.

SAMPAIO, Liliana Lopes Pedral; COELHO, Maria AThereza Ávila Dantas. A TRANSEXUALIDADE NA ATUALIDADE: DISCURSO CIENTÍFICO, POLÍTICO E HISTÓRIAS DE VIDA. Ufba, Bahia, v. 1, n. 1, p.1-12, 13 jun. 2013.

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