Filme TOC TOC: Um alerta sobre os comportamentos repetitivos

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Imagem de ivabalk por Pixabay 

Lavar as mãos excessivamente pode ser uma compulsão.

O Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) é representado por um grupo diverso de sintomas que incluem pensamentos intrusivos, rituais, preocupações, obsessões e compulsões e essas obsessões ou compulsões recorrentes causam sofrimento ao indivíduo, pois consomem tempo, ficam voltando na consciência do indivíduo, sem que ele queira pensar nisso e interferem significativamente no funcionamento ocupacional das atividades do seu cotidiano.

O filme TOC TOC, apresenta de forma humorada, seis personagens, cada um com sintomas diferentes vivenciados por pessoas com TOC, e pode-se perceber que os sintomas trazem um desconforto, uma ansiedade muito grande e vão ser aliviados a partir da realização dos comportamentos repetitivos. E esses comportamentos repetitivos são as compulsões.

No decorrer do filme todos os personagens se encontram em uma clínica para uma consulta com um terapeuta, o Dr. Palomero, segundo a secretária ouve um erro no sistema e todos os pacientes compareceram no mesmo dia e horário, porém o Dr estava com o voo atrasado, todos os pacientes ficaram no mesmo ambiente e começaram a perceber que cada um deles apresentavam sintomas diferentes, eles tentam organizar a ordem que serão atendidos, mesmo sem saber o horário que o terapeuta chegaria.

Foi nesse momento que começaram a perceber e conviver com as singularidades de cada um, e em consenso foram relatando suas vivências no formato de uma terapia de grupo, porém sem o terapeuta, a história do filme mesmo de forma descontraída provocando risos, traz também uma reflexão do quanto aqueles pensamentos e rituais vivenciados por pessoas com TOC causam sofrimento, o comportamento obsessivo ex: “lavar as mãos” é uma maneira de aliviar a tensão causada pelos pensamentos compulsivos “evitar a contaminação”.

Uma compulsão, é um comportamento consciente que segue um padrão recorrente como contar, verificar ou evitar. Um indivíduo com esse transtorno percebe a irracionalidade da obsessão e sente que tanto a obsessão quanto a compulsão, são comportamentos indesejados, se após um surgimento de um pensamento intrusivo de conteúdo negativo ou até mesmo catastrófico, a pessoa obtém um alívio imediato realizando rituais ou adotando comportamento de esquiva, essa pessoa tenderá a repetir tais comportamentos no futuro e isso gera um reforço.

Cada personagem inicialmente buscava um acompanhamento individual, por N motivos, mas a cena que reúne todos os personagens em uma sala e transmite uma mensagem de solidariedade, empatia e inclusão, proporcionando ao espectador uma reflexão e compreensão dessa doença que atinge cerca de 2% da população ao longo da vida, estudos apontam que no sexo masculino é mais comum que se perceba na infância antes dos 10 anos e no sexo feminino, no final da adolescência e início da vida adulta esses sintomas são mais comuns.

A forma de apresentação das obsessões e compulsões é bem heterogênea, tais sintomas podem se sobrepor a outros e mudar com o tempo, dentre eles o mais comum está a obsessão por contaminação, na qual o indivíduo acredita estar infectado por microorganismos, rituais de limpeza de evitação compulsiva do objeto que se presume está contaminado são bem característicos nesses casos, mas não são os únicos sintomas.

O TOC faz com que o indivíduo acredite realizar de forma incompleta ou incorreta as suas ações, dessa forma os mesmos se pegam o tempo todo repetindo alguns comportamentos de forma que eles se tornam amenizadores, porém trazem prejuízo para o seu cotidiano.

O TOC representa um problema de saúde significativo, uma vez que na maior parte dos casos interferem no relacionamento social, embora devido ao seu curso crônico seja identificado com muito mais frequência na prática clínica, certas comorbidade neuropsiquiatria podem estar associadas como: distúrbio do humor, distúrbio ansiosos como; fobias e pânico, além de distúrbios de personalidade, esses são os distúrbios psiquiátricos mais encontrados em consonância com o TOC.

Segundo Torres e Smaira (2001) trata-se ainda de um transtorno muitas vezes secreto por várias pessoas, pois ocultam ao máximo seus sintomas e demoram procurar ajuda por vergonha, desinformação, ou até mesmo pela noção preservada da irracionalidade de pensamentos e comportamentos, isso se deve ás vezes pela incapacidade para modulá-los.

Foto de Amel Uzunovic

Acredita-se que pessoas com TOC apresentam um desequilíbrio na interação entre diferentes partes do cérebro

Anatomicamente acredita-se que os sintomas não necessariamente decorrem de disfunção em uma área específica cerebral, mas por um desequilíbrio na interação entre diferentes estruturas, dentre elas os circuitos que possivelmente estão associados são os circuitos pré-frontal dorso lateral, responsável pelo planejamento, execução de estratégias comportamentais, bem como pela memória operacional, cuja atribuição é a de manutenção atencional e supressão de comportamentos socialmente indesejáveis.

Em termos diagnósticos conforme a quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-V, 2014) as obsessões e compulsões apenas são consideradas patológicas quando consomem tempo, esse diagnóstico é fundamentalmente também baseado na entrevista Clínica.

O tratamento para o TOC em alguns casos, consiste em terapia medicamentosa com uso de inibidores seletivos da Recaptação de serotonina associado a psicoterapia, preferencialmente na abordagem comportamental, pois ela vai apoiar o cliente a encontrar estratégias como, exposição a objetos temidos, pensamentos, situações e desenvolvimento de tolerância, prevenção de rituais compulsivos, a corrigir crenças de interpretações irreais entre outras situações.

Referências

DSM-5: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais [recurso eletrônico]: [American Psychiatric   Association; tradução: Maria Inês Corrêa Nascimento   … et al.]; revisão técnica: Aristides Volpato Cordioli …   [et al.]. – 5. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre:   Artmed, 2014. <:https://www.academia.edu/51009051/DSM_5_Manual_Diagn%C3%B3stico_e_Estat%C3%ADstico_de_Transtornos_Mentais_2014_ >. Acessado em 12 março. 2023.

TOC TOC. Direção de Vicente Villanueva. Produção de Mercedes Gamero, Gonzalo Salazar-Simpson, Mikel Lejarza Ortiz. Intérpretes: Paco León, Alexandra Jiménez, Rossy de Palma, Oscar Martínez, Nuria Herrero, Adrián Lastra, Inma Cuevas, Ana Rujas. Roteiro: Vicente Villanueva, Laurent Baffie. Espanha: Lazona Films, 2017. (90 min.), son., color. Legendado.

TORRES, A.R.; SMAIRA, S.I. Quadro Clínico do Transtorno Obsessivo-Compulsivo. Rev Bras Psiquiatria 23(supl II): 6-9, 2001.

 

 

 

 

 

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Compulsão alimentar: “Overcoming Binge Eating”

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O Dr. Christopher G. Fairburn, psiquiatra e pesquisador da Universidade de Oxford, é uma das maiores autoridades do mundo em problemas alimentares. Seu livro, que ainda não possui tradução para o português, Overcoming Binge Eating (“Vencendo a Compulsão Alimentar”) apresenta os fatos sobre a compulsão alimentar e inclui um programa detalhado para a superação da compulsão alimentar na bulimia nervosa e na obesidade.

A compulsão alimentar é provavelmente o transtorno alimentar mais comum, mas seu ciclo de vergonha e sentimentos de impotência podem dificultar a busca por ajuda. Trago aqui alguns pontos principais da entrevista dele para o canal  de saúde Medicine Net para fins de informação de como proceder após identificado um problema alimentar.

No quesito quão prevalente é a compulsão alimentar, ele aponta para as definições técnicas usadas por pesquisadores clínicos, e que essas definições são usadas para definir a compulsão alimentar clinicamente significativa.

Há duas características que precisam estar presentes para que um episódio de alimentação seja classificado como “compulsão”: a quantidade ingerida deve ter sido realmente grande para as circunstâncias da época; em outras palavras, o contexto é levado em consideração, por exemplo, é preciso comer mais no Natal para que um episódio alimentar seja classificado como compulsão, porque todo mundo come mais no Natal, e deve haver uma sensação de perda de controle sobre a alimentação no momento. Em outras palavras, a pessoa deve sentir que sua alimentação está fora de seu controle.

Fonte: encurtador.com.br/jswKW

Ele salienta o quanto é importante que haja esta perda de controle durante o episódio. Pois é essa característica que distingue a compulsão alimentar dos simples excessos que todos nós praticamos às vezes.

Algumas perguntas podem ajudar a identificar:

– Seus episódios compulsivos envolvem comer grandes quantidades de comida?

– Você se sente descontrolado na hora?

– Entre esses episódios de exagero, você faz muita dieta?

– Você fica doente ou vomita depois desses momentos?

Outro ponto importante a ser observado, é se a pessoa se preocupa constantemente com o que vai comer, como vai me sentir depois de comer, tem pensamentos como: “Hoje, não vou comer muito; vou comer isso e isso no café da manhã”, etc.

Muitas vezes a pessoa sente que está prestes a cometer um grande erro e está ciente de que não quer fazê-lo, mas se sente impotente. É uma experiência muito desagradável.

Outro ponto que ele descreve é a dificuldade das pessoas em conseguir lidar com emoções desagradáveis. Como forma de lidar com sentimentos ruins, elas usam a comida para suporte emocional e para ajustar seu humor.

Outro ponto é sobre fazer dietas e como isso facilita o quadro de compulsão alimentar, visto que logicamente o paciente sente mais fome do que o normal. Depois dos excessos, chega a culpa, a vergonha e outras emoções negativas, levando ao vômito induzido. Depois de um tempo, essa liberação de emoções negativas a curto prazo predisporia a voltar à dieta e a recomeçar.

“Fazer dieta cria desejo pelos alimentos que se está evitando e é por isso que as pessoas costumam comer compulsivamente os mesmos alimentos que estão evitando”.

Trago aqui uma figura que exemplifica como funciona este ciclo de compensação, onde a pessoa pode até ter a ideia de que compensar te a deixaria mais livre para comer o que quiser, mas a compensação é uma prisão que dá início a um ciclo que muitas vezes pode ser vicioso.

  1. Comer demais: a restrição leva a comer em excesso ou compulsivamente.
  2. Sentir culpa: arrependimento por não ter conseguido seguir a dieta e ter comido muito mais do que o recomendado.
  3. Compensar excessos: tentativa de corrigir o erro cometido ao comer demais
  4. Repete.

Durante a entrevista, ele faz uma distinção entre o que leva a pessoa a começar a compulsão alimentar e o que mantém sua compulsão alimentar. Sobre encontrar a causa da compulsão alimentar de uma pessoa, ele diz que este é um problema complexo e interessante. Se o objetivo é ajudar alguém a superar seu problema de compulsão alimentar, então a questão principal é por que eles estão comendo compulsivamente agora. Em outras palavras, a questão importante é: o que está mantendo o problema alimentar deles? O que é mantê-lo? Uma questão separada é: o que começou a compulsão alimentar da pessoa em primeiro lugar?

Muitas vezes as pessoas procuram ajuda para problemas de compulsão alimentar muitos anos depois de terem começado a comer compulsivamente. Nesse caso, o que os levou a comer compulsivamente – digamos, quando tinham 15 anos – pode não ser relevante para eles agora, quando têm 25 anos. Então, do ponto de vista da superação de um problema de compulsão alimentar, a questão é o que está mantendo a pessoa comendo compulsivamente agora, e não por que ela começou a comer compulsivamente há muitos anos.

Fonte: encurtador.com.br/mBGLX

Os tipos típicos de coisas que mantêm os problemas de compulsão alimentar são os seguintes:

– Ter regras rígidas sobre o que se deve e o que não se deve comer. Isso torna algumas pessoas propensas a comer compulsivamente.

– Não comer o suficiente em geral. Isso torna um fisiologicamente propenso a comer demais às vezes.

– Ter dificuldade em lidar com estados de humor desagradáveis. Isso, como discutimos anteriormente, torna algumas pessoas propensas à compulsão sempre que se sentem mal consigo mesmas.

Também traz na entrevista quais as principais consequências da compulsão alimentar a longo prazo para a saúde. Diz que não há efeitos adversos da compulsão alimentar em si, mas se alguém comer demais regularmente, corre o risco de desenvolver obesidade. Isso tem muitas consequências adversas para a saúde, como todos sabemos. O outro problema associado é se alguém purgar – isto é, vomitar ou tomar laxantes – após a compulsão alimentar, então a purga tem efeitos adversos na saúde.

Há boas evidências pesquisadas de que certos tipos específicos de terapia têm um efeito marcante nos problemas de compulsão alimentar. Da mesma forma, há certas evidências de que certos tipos de outras terapias são menos eficazes. Portanto, é importante obter o tipo certo de terapia.

Existem duas principais terapias baseadas em evidências. A primeira é a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e a segunda é chamada de Terapia Interpessoal. Ambas as terapias são bem conhecidas e bem testadas.

Em relação à tratamento medicamentoso, comenta que para pacientes com bulimia nervosa os medicamentos antidepressivos podem ser benéficos. Foi demonstrado que essas drogas reduzem a frequência de compulsão alimentar (e purgação), embora muitas pessoas não parem completamente. Os efeitos benéficos das drogas antidepressivas na bulimia acontecem quer a pessoa esteja ou não deprimida no humor – em outras palavras, não é necessário se sentir deprimido para necessariamente se beneficiar.

Deve-se acrescentar que não se sabe muito sobre quanto tempo dura o efeito benéfico das drogas antidepressivas em termos de seu efeito na compulsão alimentar. Em contraste, está bem estabelecido que os efeitos das duas psicoterapias que mencionadas anteriormente são, na maioria dos casos, duradouras.

Os objetivos prioritários do tratamento são que o paciente ganhe controle sobre a sua dieta, que as cognições sobre peso, silhueta e imagem corporal sejam modificadas e que as mudanças sejam mantidas a longo prazo.

A responsabilidade pela mudança é sempre do paciente, por isso lhe é atribuído um papel ativo. O terapeuta tem o papel de motivar, apoiar e fornecer informações e orientações.

A compulsão alimentar é um grande desafio, mas não é impossível vencê-lo. O primeiro passo é reconhecer o problema e buscar o tratamento adequado.

Fonte: encurtador.com.br/jBJP5

Referências:

MEDICINE NET. Compulsão Alimentar – Um bate Papo com Dr.Christopher Fairburn. Disponível em: https://www.medicinenet.com/script/main/art.asp?articlekey=56553. Acesso em: 12/05/2022.

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A pandemia aumentou a compulsão por doces?

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Quem não gosta de um doce? Para a maioria das pessoas, é algo que proporciona prazer. Porém, o exagero pode indicar um transtorno alimentar. Infelizmente, muita gente tem passado dos limites, como foi apontado pela pesquisa da Fiocruz feita em parceria com a UFMG e a Unicamp.

Entre outros indicadores, o estudo mostrou que, entre abril e maio de 2020, quase metade das mulheres está consumindo chocolates e doces em dois dias ou mais por semana. Esse aumento representa 7% a mais do que antes da pandemia.

Inserido no Código Internacional de Doenças (CID), a compulsão alimentar é um transtorno caracterizado por uma perturbação persistente na alimentação e no comportamento que resulta no consumo ou na absorção alterada de alimentos e que compromete a saúde física, social ou emocional.

A pandemia foi um gatilho para quem já possuía um transtorno alimentar e viu o agravamento da doença. Mas outras pessoas desenvolveram o transtorno devido aos fatores emocionais relacionados à crise sanitária.

Fonte: encurtador.com.br/pqsBX

Os doces provocam a sensação de bem-estar decorrente da liberação de serotonina presente no alimento, o que explica a compulsão. É compreensível nesse momento, já que a imposição do isolamento social trouxe severas crises de ansiedade, estresse e depressão.

No entanto, não é saudável pensar que o chocolate serve apenas como um alento, trazendo bem-estar. O excesso prejudica o corpo de maneiras físicas e psicológicas. Vale lembrar que os brasileiros já consomem três vezes mais doce do que o recomendado, segundo a Organização Mundial da Saúde.

Médicos e nutricionistas apontam que o açúcar, mesmo em pequena quantidade, ativa mecanismos dentro do seu corpo que não se restringem apenas à obesidade ou alergias alimentares, mas podem também alterar o sistema imunológico e prejudicar nossas defesas. Psicologicamente, a compulsão pode afetar a qualidade de vida.

Alguns sinais da compulsão alimentar envolvem comer mais rápido que o usual ou até se sentir desconfortavelmente cheio, comer grandes quantidades na ausência da sensação física de fome e até sentir desgostoso de si mesmo depois de comer.

O recomendado é procurar um psiquiatra e iniciar sessões de psicoterapia. O tratamento deve ser feito por uma equipe de assistência multidisciplinar composta por nutricionista, psicóloga e educador físico. É importante ainda trabalhar o autoconhecimento e buscar entender como a ansiedade, decorrente da compulsão, está afetando sua qualidade de vida.

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Melhor é Impossível: análise funcional do comportamento de Melvin

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A análise do comportamento, desenvolvida por B. F. Skinner, é uma abordagem que busca entender o indivíduo a partir da interação com o seu ambiente.

Melhor É Impossível é um filme norte-americano de 1997, do gênero comédia romântica, dirigido por James L. Brooks e produzida por Laura Ziskin. É estrelado por Jack Nicholson como um romancista obsessivo-compulsivo misantropo, Helen Hunt como uma mãe solteira com um filho asmático, e Greg Kinnear como um artista gay. O roteiro foi escrito por Mark Andrus e James L. Brooks. Nicholson e Hunt ganharam o Oscar de Melhor Ator e Oscar de Melhor Atriz, respectivamente, tornando As Good As It Gets o filme mais recente que ganhou ambos os prêmios de atuação de protagonização, e o primeiro desde 1991, quando aconteceu com O Silêncio dos Inocentes. Ele é classificado na posição 140 da revista Empire da lista de “Os 500 Melhores Filmes de Todos os Tempos”.

A análise do comportamento, desenvolvida por B. F. Skinner, é uma abordagem que busca entender o indivíduo a partir da interação com o seu ambiente. Vale ressaltar que para a análise do comportamento o termo ambiente vai mais além do que seu significado em si, significa tanto a vida passada, o modo de interagir consigo mesmo, com as coisas físicas, materiais e as sociais, que é a relação com outras pessoas.

“A tarefa, em uma análise funcional, consiste basicamente em encaixar o comportamento em um dos paradigmas e encontrar seus determinantes” (Moreira, M. Medeiros, C. 2007. p.149), ou seja, ao encontrar os determinantes do comportamento através dos paradigmas, pode-se prevê-los e até mesmo controlá-los. Para que essa análise funcional seja elaborada corretamente é preciso que seja dominado os princípios do comportamento, que são os reforços, punição, extinção, controle aversivos.

É importante a prática de analisar filmes. Os professores de universidade ao elaborarem esta estratégia, conduzem os alunos a colocarem em prática o uso dos princípios teóricos discutidos em sala de aula, neste caso, a análise comportamental, ou seja, conduzem os alunos a aplicarem o seu conhecimento em situações do dia a dia. Como afirmam as organizadoras do livro Skinner vai ao cinema “Durante nossa experiência enquanto alunas e professoras de psicologia pôde comprovar que a análise de filmes traz excelentes resultados no que tange á maior participação dos alunos durante a aula, tornando o aprendizado mais ativo e atrativo.” (Curado Rangel de-Farias e Rodrigues Ribeiro, 2014 p.6), ou seja, ao relacionar o comportamento dos personagens dos filmes com as explicações dadas em sala de aula, permite o aluno a compreender, defender ou criticar a teorização estudada.

Melvin é um escritor que mora em um apartamento, adora fazer comentários maldosos para com os seus vizinhos. É portador de transtorno obsessivo–compulsivo (TOC), não toma remédios e não frequenta as sessões com o psiquiatra. Melvin sempre vai ao mesmo restaurante, come sempre com talheres descartáveis, não anda sobre as listras da calçada, tranca a porta várias vezes, não gosta de ter contato físico e social com outras pessoas, sempre que conversa com alguma pessoa é para ofendê-la, mesmo que ele não perceba. Através de confrontos com os outros personagens do filme, como a Carol a garçonete e Simon o vizinho Gay, Melvin passa a ter mudanças de comportamento, que através da análise funcional podem ser compreendidas. Melvin, por não gostar do cachorro de Simon o joga pela lixeira do prédio. Temos um exemplo de Reforço negativo, pois pode aumentar este comportamento, pois a consequência foi a retirada de um estímulo aversivo do ambiente.

Melvin também leva Carol para jantar durante uma viagem. Durante o jantar mais uma vez Melvin é idiota e intolerante, Carol se recusa a continuar a jantar com ele e vai embora. Temos um exemplo de punição negativa, pois é provável que esse comportamento diminua porque a consequência foi a retirada de algo prazeroso, neste caso, Carol.

Há mudanças nesses comportamentos de Melvin, quando ele é confrontado pelas pessoas que estão a sua volta. Sendo assim um exemplo de como o ambiente e as consequências influenciam no comportamento de uma pessoa. Simon é violentado fisicamente e enquanto está no hospital o cachorrinho é entregue para ser cuidado por Melvin. No começo Melvin o ignora, mas depois passa a ter um carinho e cuidado muito grande por ele, sendo retribuído com o carinho do cachorrinho, chegando ao ponto de o imitá-lo ao pular as linhas da calçada. Temos um exemplo de Reforço positivo, pois é provável que o  comportamento de dar carinho para o cachorro aumente, por que foi retribuído com algo apetitivo.

Melvin se apaixona por Carol, e seu ponto inicial é voltar a tomar os seus remédios para ter a atenção de Carol. Temos um exemplo de reforço positivo, pois é provável que seu comportamento aumente, pois a consequência é algo prazeroso.

Diante do exposto percebe-se como é possível predizer e controlar o comportamento através da análise funcional, e ao entender a análise do comportamento é possível compreender porque as pessoas se comportam da maneira que se comportam. Percebe-se que o ambiente está em completa interação com o indivíduo. Isto está claro na história de Melvin, pois ao se relacionar com outras pessoas, através do contato social e dos confrontos por parte de seus conhecidos, houve mudanças notáveis em seu comportamento. Passou a respeitar mais as pessoas, saber que nem tudo deve ser dito, começou a aceitar a sua doença e procurar ajuda, deixou de lado os seus costumes de sempre trancar a porta, até pisou em uma linha da calçada, deixou de usar luvas e passou a entender que é necessário o contato com o outro.

Diante de toda essa interação com o ambiente e através das consequências de seus comportamentos, que o levou a mudança, Melvin deixou o medo e se entregou a paixão por Carol, mostrando assim que as pessoas são capazes de influenciar na vida de outras, como Melvin disse para Carol, “Você me faz querer ser um homem melhor”. Através da análise funcional, pode-se compreender o comportamento de Melvin, buscando os determinantes do comportamento, tanto no meio externo quanto interno. E de como estamos em completa interação com o ambiente a nossa volta, sendo influenciado por nossas características fisiológicas, nosso meio social, as nossas experiências e pelos grupos, que são responsáveis pela forma que as pessoas se comportam.

FICHA TÉCNICA:

MELHOR É IMPOSSÍVEL

Título original: As Good as It Gets
Direção: James L. Brooks
Elenco: Jack Nicholson, Helen Hunt, Greg Kinnear, Cuba Gooding Jr.;
Ano: 1997
País: EUA
Gênero: Romance/Drama

REFERÊNCIAS: 

MOREIRA, M.B; MEDEIROS, C. A. Princípios Básicos de Análise do Comportamento. Porto Alegre. ArtMed. 2007.

FARIAS, A.K.C.R; RIBEIRO, M. R.(Org). Skinner vai ao cinema. 2. ed. Brasília. Instituto Walden 4, 2014. 267. v. 1.

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