Concurso Público Nacional já tem fotografias premiadas

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O Concurso Público Nacional de Fotografia – Prêmio Fotográfico: Palmas 30 Anos, já tem os vencedores. A comissão julgadora avaliou as fotografias inscritas no Concurso e selecionou as ganhadoras.

A comissão julgadora foi composta por 05 membros titulares, o professor universitário, membro organizador do Fotoinovar Tocantins, o arquiteto e urbanista Andherson Prado. A pesquisadora, professora de pós-graduação, coordenadora do Coletivo 50 graus – Grupo de Pesquisa e Prática Fotográfica na cidade de Palmas/TO, editora na Revista Observatório (Seção Visualidades/UFT), a fotógrafa e pós-doutora, Amanda Leite. O geógrafo, fotógrafo de natureza e contextos sociais que já teve suas fotografias divulgadas em revistas como National Geographic Brasil e em meios de comunicação como BBCBrasil, Clóvis Cruvinel. O professor, especialista em desenho, arquiteto e urbanista Eber Nunes Ferreira. A coordenadora do Portal (En)Cena e do curso de Psicologia do Ceulp/Ulbra, a fotógrafa e doutora, Irenides Teixeira.

O presidente do CAU/TO, Silenio Camargo, avaliou positivamente a realização desse primeiro Concurso neste segmento. “Recebemos fotografias excelentes. Acredito que a comissão teve muito trabalho na hora da seleção devido a qualidade dos materiais enviados. É uma honra para o Conselho realizar esse primeiro concurso e, ver como temos profissionais atentos à beleza e a arquitetura da Cidade. São 30 anos que merecem esse olhar atento aos detalhes, e principalmente, valorizando cada espaço dessa belíssima Capital”, reforçou.

Fonte: encurtador.com.br/bejHO

Confira os premiados do Concurso Público Nacional de Fotografia – Prêmio Fotográfico: Palmas 30 Anos

Tema Arquitetura
1º Lugar: Rafael Silva Oliveira
Título: Memorial Coluna Prestes – Foto Interna
2º Lugar: Samia Caroline Cayres Lima
Título: Memorial Coluna Prestes – Foto Noturna
3º Lugar: Helen Lopes de Sousa
Título: Toda ponte precisa de pilastras

Tema Arquitetura Paisagística
1º Lugar: Nielcem Fernandes
Título: Espaço Cultural
2º Lugar: Rafael Silva Oliveira
Título: Memorial Coluna Prestes
3º Lugar: Gustavo Henrique Lima Ferreira
Título: O caminho

Tema Paisagem Urbana
1º Lugar: Nielcem Fernandes
Título: Palmas Capital
2º Lugar: José Djair Casado de Assis Júnior
Título: Dourado sobre a serra
3º Lugar: Nielcem Fernandes
Título: Parque Cesamar

O concurso é uma realização do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Tocantins (CAU/TO) e tem como objetivo homenagear a Cidade e sua arquitetura. Ao final do concurso, os vencedores terão as fotografias apresentadas na 1ª Mostra Fotográfica do CAU/TO, em comemoração aos 30 anos de fundação da capital do Tocantins, além de premiação em dinheiro. As fotografias premiadas se encontram no site do Concurso, no site do Conselho e nas redes socais.

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Somos tão Jovens: amizade, nostalgia e emoção

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Bom, enquanto escrevo isso posso dizer que ainda estou sofrendo os efeitos de ter assistido ao filme-biografia do Renato Russo, “Somos tão jovens”. Fácil, fácil esquecermos qualquer imperfeição do filme ao sermos bombardeados por referências sutis e nada-sutis das letras das músicas. E esse bombardeio afeta, e como afeta!!!

Na sala de cinema, todas as idades possíveis. Desde pessoas que já eram pais quando a Legião Urbana estourou (imagino o quanto temiam pelo futuro dos seus filhos que se embriagavam com as letras daquelas músicas que, sim, faziam pensar, ao mesmo tempo em que eles próprios não conseguiam escapar de seu poder de atração) até muitos que nem eram nascidos quando Renato Russo se foi (o que me levou, preconceituosamente, a pensar: “o que vocês estão fazendo aqui, vocês não conheceram o Renato”). Obviamente meu preconceito se esvai quando, a cada música apresentada, tem-se um coro de vozes acompanhando-a. Sim, Renato Russo e sua música são atemporais.

Muito dessa capacidade das músicas de Renato Russo atingir a todas as gerações está na fácil leitura que ele fez dos sentimentos que tumultuam as cabeças e, por que não dizer?, os corações adolescentes e que acabam por gerar conflitos com os adultos que, infelizmente, já não conseguem acompanhar com a mesma coragem o afã juvenil de mudar o mundo.  E, por incrível que pareça, o filme consegue mostrar essas situações tão dramáticas de forma suave, divertida, simpática apesar de não ser isso o que se imagina de um filme que fala de… Renato Russo. E o que se vê nestes momentos é… Renato Russo.

Outro elemento que torna tão atuais as letras de Renato Russo é que, apesar de tantas alterações na política brasileira, lá no fundo nada mudou e tudo que se disse ontem continua valendo hoje. O filme consegue até provocar a curiosidade: o que Renato cantaria hoje, vendo tudo isso que nossa pobre política nos apresenta? Com certeza ele entenderia que, apesar de tudo, não foi um tempo perdido.

Mas, obviamente, o filme tocará fundo a alma dos, como eu, nascidos no início da década de 1970. A emoção brota de cada letra que vai surgindo do espírito inquieto do Renato, a cada acorde que nos lembra uma música de nossa juventude, a cada sentimento expresso que nos faz recordar nossos sonhos adolescentes. A viagem saudosista a momentos de nossas vidas é uma constante em todos os momentos do filme, o que é provocado não somente pela trilha sonora, mas também pelo figurino, pela arquitetura dos prédios de apartamentos de Brasília, pela relação feita com momentos e fatos históricos. Até a forma de caminhar da juventude da época está ali. Mais um pouco e chegaríamos a sentir os cheiros que acompanharam nosso amadurecimento.

Contudo, nada disso teria força se não houvesse a interpretação “gostosa” de Thiago Mendonça como Renato Russo. Compará-lo com Daniel de Oliveira em Cazuza, é injusto, dada a carga dramática que se colocou naquele filme e que refletiu no trabalho do ator, mas Thiago Mendonça faz juz ao que o filme espera dele e por isso o melhor adjetivo que consigo pensar para sua interpretação é esse: “gostosa”.  Ele conseguiu, sem ridicularizar, repetir aquela torcida de boca, aquele mexer de sobrancelhas, aquele apertar de olhos típicos do Renato. Não dá pra esquecera afetação arrogante e a louca forma de dançar advinda do seu breve momento de rebeldia punk. Nestes momentos Thiago parecia incorporar Renato.

Impressionante também a caracterização e a atuação dos atores Ibsen Perucci e Edu Moraes que facilmente nos faziam perceber na tela os jovens Dinho Ouro Preto (Capital Inicial, cujo surgimento é retratado) e Herbert Vianna (Paralamas do Sucesso). Este último é apresentado de forma caricatural, mas muito simpática para quem conhece a história do artista.

Agora, nada mais lindo e apaixonante que a amizade de Ana Cláudia, personagem criada baseada em várias pessoas que, de diferentes formas, fizeram parte da vida do Renato. A atuação da atriz Laila Zaid faz-nos crer que todos os outros personagens é que foram inventados e que, se houve algo real da vida de Renato Russo apresentada no filme, foi a sua amizade com sua personagem. Amizade esta que rende um dos mais bonitos momentos do filme e que nos apresenta a rosa branca presa ao pedestal.

A forma leve como o filme aborda a sexualidade do cantor pode parecer a muitos como uma forma de fugir da discussão e evitar maiores polêmicas. Entretanto, a reação das pessoas ao meu redor me fez perceber que parece ter sido a decisão acertada se o objetivo era promover o respeito à diversidade. Não foram poucas as pessoas, de ambos os sexos e de diferentes tribos, que estavam torcendo para que Renato fosse correspondido em seus sentimentos. Abro aqui parênteses para uma situação que presenciei. Nos trailers foi apresentado um filme de temática adolescente e algumas meninas se empolgaram, para despeito de um garoto, sentado a minha frente, que retrucou: “ – Isso é coisa de veado!”. Durante o filme, em um momento em que Renato demonstra seu afeto a um amigo, este mesmo adolescente fez coro ao “Ohhhh” que tomou conta de grande parte do público presente.

Confesso, não foram poucos os momentos em que as músicas apresentadas me levaram às lágrimas enquanto eu sussurrava, baixinho, as letras que marcaram minha juventude. E acredito que tenha sido esse um dos objetivos do diretor, Antônio Carlos Fontoura: apresentar um filme simpático, suave, leve, mas que tocasse em cada um de nós no ponto certo para que as imagens do filme se misturassem com aquelas nossas melhores recordações e, com isso, fornecesse elementos para a construção de uma memória emotiva que, com certeza, perdurará e fará que nos lembremos desse filme com um sorriso nos lábios e uma grande sensação de nostalgia apertando o coração.

Acredito que Renato Russo, sempre crítico aos endeusamentos, ficaria satisfeito com esse formato.

Força sempre!!!


FICHA TÉCNICA DO FILME

SOMOS TÃO JOVENS

Diretor: Antonio Carlos Fontoura
Elenco: Thiago Mendonça, Sandra Corveloni, Marcos Breda, Laila Zaid, Bianca Comparato, Bruno Torres, Daniel Passi, Sérgio Dalcin, Conrado Godoy, Nathalia Lima Verde, Ibsen Perucci, Edu Moraes, Olivia Torres, KotoeKarasawa, André de Carvalho, Leonardo Villas Braga, Victor Carballar, Thiago Casado, Antonio Bento, Nicolau Villa-Lobos, Waldomiro Alves, Natasha Stransky, Rene Machado, KaelStudart, Vitor Bonfá, Henrique Pires, Maísa Lacerda, Paulo Wenceslau
Roteiro: Marcos Bernstein
Fotografia: Alexandre Ermel
Trilha Sonora: Carlos Trilha
Duração: 104 min.
Gênero: Drama
Classificação: 14 anos

Fonte: http://www.somostaojovens.com.br

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Renato Russo: essa saudade que eu sinto de tudo que eu ainda não vi

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É preciso amar as pessoas
Como se não houvesse amanhã
Porque se você parar pra pensar
Na verdade não há.

(Pais e Filhos)

Renato Russo

Em 1996 ainda não vivíamos flutuando em redes virtuais, compartilhando memes sobre a situação do nosso país, sobre novelas ou fatos cotidianos, nem víamos nascer a cada segundo uma nova celebridade em vídeos distribuídos em canais da rede. Tantas pessoas ainda morriam (e, infelizmente, ainda morrem) vítimas da AIDS, uma doença estigmatizada por preconceitos (velados ou claramente expostos). Renato Russo foi uma dessas pessoas. Mesmo sem falar abertamente sobre tal fato até quase o final de sua vida, contraiu o vírus HIV por volta do final da década de 1980 e teve que conviver com isso os seis anos seguintes, situação essa que, de certa forma, está refletida nas letras de algumas de suas músicas e nas suas escolhas para os discos solo que lançou.

Nasceu Renato Manfredini Júnior, no Rio de Janeiro. Morou, dos 7 aos 10 anos, em Nova Iorque (por causa do trabalho do seu pai), mas passou parte da adolescência e juventude na capital do País.

Foi em Brasília, uma cidade que nasceu como capital de um país imenso, que o Renato Manfredini foi moldando o artista que conhecemos como Renato Russo. Ainda na adolescência (entre os 15 e os 17 anos), foi acometido por uma doença óssea que o manteve preso à cama por grande parte desse tempo, mas também fez com que ele se aproximasse ainda mais dos livros e da música, o que deu à sua obra (especialmente as suas letras) uma nuance poética.

Capa do CD da banda Aborto Elétrico – ao Vivo UNB (1981)

Renato iniciou sua carreira na banda “Aborto Elétrico” (1978 – 1982). E ainda nessa época ele compôs alguns dos seus maiores sucessos, como “Faroeste Caboclo” e “Que país é esse”. Mas, por uma série de divergências com o baterista Fê Lemos (que depois formou a banda Capital Inicial) desistiu desse projeto e, então, deu-se o início a formação da Legião Urbana.

Primeira Formação da Legião Urbana

O primeiro Álbum da Legião foi lançado em 1985 em um cenário político em que se destacava o fim dos 21 anos de ditadura militar no Brasil e o início do governo do José Sarney, que assumiu a presidência após a morte de Tancredo Neves.  A principal música desse Álbum foi “Geração Coca-Cola”, uma crítica não apenas ao país, mas à sua própria geração, em versos que tanto expunha a homogeneização cultural advinda de uma grande potência como a apatia dos jovens perante aquele cenário.

Somos os filhos da revolução
Somos burgueses sem religião
Somos o futuro da nação
Geração Coca-Cola

Mas, nem só de crítica política foi construído o primeiro Álbum da Legião. Destacam-se, também, músicas como “Por enquanto”, em que é mostrada uma temática que constantemente está presente na obra de Renato Russo, que é a brevidade das relações e a finitude da vida (“Se lembra quando a gente / Chegou um dia a acreditar / Que tudo era pra sempre / Sem saber / Que o pra sempre / Sempre acaba…”) e  “Ainda é cedo”.

Uma menina me ensinou
Quase tudo que eu sei
Era quase escravidão
Mas ela me tratava como um rei

Há aqueles que acreditam que a “menina” citada na letra é uma analogia à cocaína, mas ainda prefiro pensar que tem ligação com um relacionamento que o Renato viveu. No CD As Quatro Estações – ao vivo, disco 2, é possível ouvir uma explicação dele sobre isso  ( http://youtu.be/-AAw7BSWTRE ).

“Tanta gente já foi embora da minha vida por causa disso. Porque eu sou mandão, ‘com a melhor das intenções’”. Ele fala isso nos momentos finais da música, depois canta partes de  Gimme Shelter, Pretty Vacant, Satisfaction, Jumping Jack Flash, Rock Around The Clock e Blue Suede Shoes. E quando voltam aos acordes de “Ainda é cedo”, ele diz: “ela gostava de todas essas músicas… Você está em algum lugar, eu sei… foi para você”. Uma coisa é certa, não importa a interpretação que se dê, a música é linda.

No Álbum Dois, de 1986, a Legião Urbana se consolida no cenário pop nacional, com músicas de acordes simples e letras pungentes. Inclusive, bem destoantes de algumas bandas da época, que tinham sucessos com letras mais inocentes e uma forma mais direta de atrair a mídia, com participação intensa em programas de TV, o que não era uma prática da Legião. Nesse álbum, músicas como “Será”, cuja estrofe de cunho contestador depois foi romantizada em outras versões, viraram hits a partir de versos como esses: Será só imaginação? Será que nada vai acontecer? Será que é tudo isso em vão? Será que vamos conseguir vencer?

Quem um dia irá dizer
Que existe razão
Nas coisas feitas pelo coração?
E quem irá dizer
Que não existe razão?
(Eduardo e Mônica)

No Álbum Dois, além da simplicidade genial de Eduardo e Mônica, com a descrição da história de amor de um casal que se completa “que nem feijão com arroz”, ainda estão presentes os versos melancólicos e dramáticos de músicas como Tempo Perdido.

Todos os dias quando acordo
Não tenho mais
O tempo que passou
Mas tenho muito tempo
Temos todo o tempo do mundo
[…]
Somos tão jovens

O ecletismo de Renato Russo pode ser observado especialmente na música Faroeste Caboclo, que, segundo ele mesmo, é uma espécie de junção entre estilos que vão desde Raul Seixas até a literatura de Cordel. Essa música tem nove minutos e, ao contrário de todas as previsões de agentes da indústria fonográfica, transformou-se em um hit e agora virou um filme com estreia prevista para 30 de maio de 2013 (trailer: http://youtu.be/4azYkNkPtJg ).


Não tinha medo o tal João de Santo Cristo
Era o que todos diziam quando ele se perdeu
Deixou pra trás todo o marasmo da fazenda
Só pra sentir no seu sangue o ódio que Jesus lhe deu
(Faroeste Caboclo)

O terceiro Álbum da Legião – As Quatro Estações (1989) – traz à tona (de forma mais intensa) parte da figura complexa que foi Renato Russo. Se, geralmente, os fãs costumam achar que sua música reflete muito daquilo que ele viveu e sentiu, versos como “Parece cocaína/Mas é só tristeza” dão uma amostra das conturbações emocionais sempre presentes em sua vida. Renato tinha problemas com drogas e álcool (esse último desde a adolescência) e parecia viver em uma espécie de montanha-russa, com rompantes de raiva, melancolia e carência, mas isso são apenas impressões que podem não condizer com a realidade. A época do lançamento desse álbum coincide com a descoberta de que ele era soropositivo. Às vezes é possível quase sentir seus temores (que nascem do “cansaço e da solidão”), mas, mesmo em meio à tristeza de alguns trechos da sua música, há esperança quando sua voz forte pronuncia que:

Disciplina é liberdade
Compaixão é fortaleza
Ter bondade é ter coragem (Ela disse)
Lá em casa tem um poço
Mas a água é muito limpa…

(Há Tempos)

Com o lançamento desse álbum, o cantor assumiu publicamente sua homossexualidade. Assim, o rapaz nascido em uma família tradicional e católica cantou aos quatro cantos do país que gostava de “meninos e meninas”, e muitos entoaram esses versos com ele.  Quando lhe perguntaram sobre isso, ele disse: “Eu estava precisando me assumir há muito tempo (…) mas fica aquela coisa, filho de católico, ‘você é doente’ etc.  No meio do caminho, eu já estava pensando: pô, eu sou um cara tão legal, eu não posso ser doente. (…) Eu sempre gostei de meninos – eu gosto de meninas também -, mas eu gosto de meninos. Como é que não é natural? Se eu sou assim desde os quatro anos, então sou doente, pervertido… ah, não!”.

Não sou escravo de ninguém
Ninguém senhor do meu domínio
Sei o que devo defender
E por valor eu tenho
E temo o que agora se desfaz.
[…]
É a verdade o que assombra
O descaso que condena
A estupidez o que destrói
Eu vejo tudo que se foi
E o que não existe mais
(Metal Contra as Nuvens, Álbum V)

É difícil definir o Renato, mesmo em sua superfície, pois ele parece ser mais complexo que todas as letras que criou, ainda que em meio a referências tão heterogêneas que vão desde Camões até as passagens bíblicas. Uma vez li em “A Insustentável Leveza do Ser”, do Milan Kundera, sobre o quão absurda é a leveza da vida, de uma única vida. A impressão que temos é que quando iniciamos o processo de aprender a lidar com ela (a vida), partimos. Em “Teatro dos Vampiros”, Renato disse “sempre precisei de um pouco de atenção, acho que não sei quem sou, só sei do que não gosto […] Esse é o nosso mundo: o que é demais nunca é o bastante e a primeira vez é sempre a última chance”. Talvez mais gente compartilhe do seu sentimento, daí o sucesso de sua música e o fato dela perdurar mesmo em meio a um cenário musical tão estranho em que, algumas vezes, uma série de interjeições forma uma letra de música.


Álbum – O Descobrimento do Brasil (1993)

O álbum “O Descobrimento do Brasil” foi lançado em 1993. O fim do ano anterior foi marcado peloimpeachment do presidente Collor. Assim, a crítica à podridão política e a situação precária da Segurança e da Educação do Brasil pode ser sentida nos versos cortantes de Perfeição.

Ao lançar seu primeiro disco solo, The Stonewall Celebration Concert (referência aos conflitos violentos entre a polícia de Nova Iorque e a comunidade LGBT, no bar Stonewall Inn, em 1969), Renato assume uma face angustiada de quem se despede contra a vontade. Uma das músicas deste CD parece resumir seu sentimento:

Em entrevistas sobre este CD Renato falou da felicidade em poder cantar as letras das músicas de acordo com seus sentimentos, sem precisar esconder nada. No caso de If Tomorrow Never Comes, Renato trocou o “she” original pelo “he”.

Assim, em meio a conturbações na banda – muito em razão do seu gênio difícil -, a shows cancelados, à carreira solo (um projeto que deveria ocorrer em paralelo), tem-se o início da fase mais complicada da sua vida. A dependência química, a forte medicação (“Quando eu tomo o coquetel [de AZT e outros] é como se estivesse comendo um cachorro vivo. E o cachorro me come por dentro”, dizia Renato) e um quadro de depressão que foi agravado com o aumento dos sintomas da doença marcaram seus últimos dias. Em Via Láctea, música do último álbum que gravou com a Legião, ele disse que “Hoje a tristeza não é passageira, hoje fiquei com febre a tarde inteira. E quando chegar a noite, cada estrela parecerá uma lágrima. Quando tudo está perdido, eu me sinto tão sozinho. Quando tudo está perdido, não quero mais ser quem eu sou”. E, ao final, agradece “obrigado por pensar em mim”.

E mais de 16 anos após a sua morte, ainda estamos pensando nele. Filmes vão estrear homenageando sua obra e retratando sua vida (Somos tão Jovens, trailer: http://youtu.be/xa3izIueaE4 ). Então….

Só por hoje eu não quero mais chorar
Só por hoje eu não vou me destruir
Posso até ficar triste se eu quiser
É só por hoje, ao menos isso eu aprendi.

 

Referências:

http://www.legiaourbana.com.br/

http://www.culturabrasil.pro.br/tempoganho.htm

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