O amor e outras coisas

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Por Marcos Antônio Silva Carneiro

Há o amor pelas coisas e o amor das coisas. O primeiro é aquele desejo por um sapato, um carro, uma bolsa cara. Tudo está ligado ao valor material que os outros dão e que você paga.

Mas o amor das coisas é aquela dedicatória num livro que você compra num sebo e dá a alguém que ama. E é aí que minha estória começa. Minha mãe, uma vez, me deu um livro, cuja edição dos anos de 1950, era uma peça de Shakespeare, Ricardo III. O livro era tão difícil ler, que lia quase uma página por dia, mas ele era um tesouro pra mim. Não apenas pelo esmero que ela teve em escolher algo de tão bom gosto. Capa dura, camurça vermelha, letras em dourado. O que realmente me encantou naquele livro antigo é que ele tinha duas dedicatórias. A primeira era dela para mim, e dizia “espero que enriqueça sua cultura e seu vocabulário”, e outra, essa sim datada de 23 de abril de 1957, era de um Felipe para uma Maysa com apenas um “com amor, Felipe”.

Isso é o mais puro amor das coisas. É o sentimento, a vida, a exclusividade de uma subjetividade que, voluntariamente, damos a algo inanimado. Não é apenas um objeto, no caso o livro, é um objetivo, o de dar sentido a algo por alguém que se ama.

Tempos atrás eu dei um buquê de rosas para minha mãe, coisa que ela sempre gostou. Aproveitei a ocasião e tirei uma pétala de umas das flores e coloquei dentro daquele livro que ela havia me dado muitos anos antes, esse sim, um hábito meu. Por vezes abria o livro e checava se a pétala estava lá, até que um dia não a encontrei mais entre aquelas páginas.

Não me entristeci, sequer uma melancolia senti. Tudo naquele livro havia cumprido seu ciclo. Um livro que Felipe deu à Maysa, e Francisca deu Marcos, e que continha uma pétala que se perdeu com o tempo, tinha tanto amor, tanto sentimento, que a gente nem se lembrava que era Shakespeare. Era uma estória dentro da estória dentro da estória…

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A existência, a vida e a finitude

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A vida é um tema cuja explicação é tão desejada, buscada, estudada em todos os seus aspectos. Fisiológicos, espirituais, psicológicos. Mas há algo além da vida, e não é o que vem depois da morte não, tá?

Há a existência humana. Essa sim é uma expressão que pode até ser chamada ou confundida com a alma, para os crentes na continuação após a morte. Viver é respirar, comer, dormir. Existir é ser. Ser alguém, ser algo com significado, para os outros e, principalmente, pra você mesmo. Só de se ter a consciência da diferença entre esses dois conceitos, vida e existência, o aventureiro já se atreve a enveredar por essas condições humanas, num labirinto do qual, raramente sai ileso.

Esse labirinto pode virar até uma espiral sem fim. Um buraco onde a queda é livre, e como no mito de Sísifo, não há fim. A existência, como uma condição complexa do ser humano, sempre me atraiu. Mas quando me deparei com mais outro fato da vida, que é a finitude, não tive como fugir, mesmo que em minha limitada capacidade de homem ordinário, de minha existência. Sim, porque só posso falar da minha. E esses pensamentos vão de como a esse labirinto, e essa jornada me afetam, me significam para mim e para os outros e, em especial, para aqueles que amo e que são ligados à minha existência. Para o bem e para o mal.

                                                                                                                                 Fonte: Frecpik.com

A existência perfaz o caminho da filosofia, da antropologia, e de tantas outras ciências do homem, num emaranhado de significados que levam a um único lugar: o autoconhecimento, ou para os mais religiosos, a maçã que Eva deu para Adão.

Eu entrei na espiral, no labirinto. Não caí no buraco ainda mas, por vezes, gostaria que minha busca fosse a “de um sono tranquilo”, como canta Maria Bethânia, no dueto com Chico Buarque, na música Sinal Fechado (1975), e me entregar ao ócio livre de pensamentos existenciais, e ser levado pelo doce cotidiano alienante. Mas como o tempo, que se diz “rei”, a existência é uma estrada de mão única.

Questioná-la é um jogo perigoso de questões como “minha existência importa para quem?”, “ela, além das intempéries da vida, também dá alento, paz, prazer?” “E para quem?”

Vou dizer-lhes, meus caros, que a existência é algo importante para você, mas é o que ela representa para quem você ama, que realmente o coloca na berlinda entre a solidão e o alento.

Minha mãe vive, hoje, um processo degenerativo, uma espécie de demência que, aos poucos, a torna outra pessoa, completamente diferente daquela que eu tanto idealizava. Quando a vi, após os sintomas começarem a aparecer, eu me enlutei. Mas como se pode enlutar por alguém, cujo prognóstico não é a morte próxima.

Demorou muito, mas percebi que o luto era por mim, não por ela. Era pelo ideal de mulher, e por aquela segurança emocional/afetiva que eu acreditava que seria imune a esse tipo de condição. Eu, aos 42 anos, seria aquele que cuida e não o que é cuidado e, para muito além disso, ter saído de casa aos 17 anos, e não ter acompanhado tantos momentos da vida dela, me trouxe a consciência da finitude das coisas e, consequentemente, sua existência. A dela e a minha. A minha para ela.

Sempre andei pelo mundo, no conforto de que a minha família estava no mesmo lugar e que, quando eu precisasse, era só correr para lá. Mas o amor não é a existência. Minha mãe me ama, mas quando me visita é nítido, num breve período, que ela já quer voltar, e não para a casa dela, mas para a existência daqueles que sempre estiveram com ela. Arrependo-me de pouquíssimas coisas, mas não ter deixado a existência dela se cruzar com a minha, de uma forma mais duradoura, é a angústia do que se perde para sempre.

O tempo leva tudo pra frente. A vida, a existência, as relações, e essa é a dinâmica nossa, do mundo. Mas, há vezes em que a roda do destino podia girar ao contrário.

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Uma criança controla minha vida

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Todas as atividades básicas desenvolvidas por um adulto foram aprendidas ainda na sua primeira infância, como a alfabetização, caminhar, falar, tudo é aprendido ainda criança e somente aperfeiçoado com o decorrer dos anos. Esta é uma das razões pela qual a criança tem uma percepção de tempo distinta de um adulto, nessa fase da vida, tudo é novidade, tudo tem um impacto extremamente significativo e que irá definir sua vida como pessoa. Quanto mais complexa for uma habilidade, mais difícil será para a criança absorvê-la a ponto de entender todas as suas etapas e executá-la de forma eficiente.

Tal situação também se repete em outros aspectos da vida do indivíduo, a forma como o homem ou a mulher se porta na sociedade dependerá principalmente de como se deu a sua criação e desenvolvimento infantil. Assim como no campo das habilidades funcionais, no campo psicológico a percepção do infante sobre os eventos e a forma com que este lida (com ou sem o auxílio de seus guardiões), influenciará diretamente em sua personalidade, hobbies, vieses sociais, preferências musicais e literárias, definindo, literalmente os rumos de sua vida.

Literalmente, o adulto, na grande maioria das vezes, é o resultado das somas de suas experiências de vida, porém, no mais íntimo dos aspectos, suas reações sociais serão determinadas pelo seu inconsciente.

Leandro Karnal, assim como outros estudiosos defendem que o ser humano sempre terá traumas em sua vida que guiarão seu futuro. Partindo da premissa de que todo novo evento para uma criança é algo desconhecido por esta, pode ser entendido como um episódio traumático que está experimentando. A principal diferença será a intensidade e as consequências que estas situações irão representar posteriormente.

Fonte: Imagem de wayhomestudio no Freepik

O indivíduo que vivenciou episódios de abusos sexuais e psicológicos terá sua vida amorosa e, muitas vezes até social, determinadas pelo seu inconsciente que está ferido e se encontra em sofrimento, a criança interior pede socorro e, caso negligenciada, conduzirá o adulto por um campo emocionalmente deturpado e sem conexões lógicas.

Mas, ainda que a mulher ou o homem tenha tido uma infância saudável, irá agir de acordo com as percepções de sua versão infantil pois foi neste período de sua vida que adquiriu a base dos seus gostos e interesses pessoais. Para que ocorra uma mudança desta perspectiva é necessário grande esforço do indivíduo e suporte profissional para lhe auxiliar no processo de transformação.

REFERÊNCIAS

KARNAL, Leandro. O dilema do porco-espinho: como encarar a solidão. São Paulo: Planeta do Brasil, 2018.

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A minha história contada por mim…

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Tudo começou em 1980, ano em que nasci. Porém, vou iniciar contando de quando me entendi por gente isso ainda criança, morava e estudava na fazenda tudo que eu queria era ser adulta para ser alguém na vida. Então, quando perguntavam o que eu queria ser quando crescer a resposta vinha dos meus pais que logo diziam, se estudar pra ser professora já tá bom.

Com isso comecei a pensar que professora seria profissão de pobre, por que eu queria mesmo era ser alguém que ouvisse e entendesse as pessoas. Depois de um tempo morando já em Guaraí, cursando o ensino fundamental, descobri um amor pela Psicologia então, tudo o que eu queria era me tornar uma Psicóloga e enquanto isso não aconteceu sempre trabalhei com crianças e sempre amei por sinal. Já alfabetizei vários e amava ensiná-los, comecei a ver ali um amor espontâneo, mas algo me fazia resistir a essa profissão (Pedagoga), ainda por achar que era um trabalho de pobre. O tempo passou, terminei o 2°grau e logo me mudei para Palmas com a intenção de ser psicóloga, prestei vestibular e para a minha surpresa passei de primeira na Ulbra, isso em 2002. Porém o curso era integral e muito caro para minha condição, me frustrei, e com isso ouvi mais pessoas dizendo: faz pedagogia para não ficar sem trabalhar, eu não aceitava ainda, mas aquilo já estava na veia.

Meu 1°trabalho em Palmas foi de babá onde ali naquela ocasião aprendi a amar mais os pequenos, um tempo depois trabalhei de auxiliar de sala em uma escola particular isso sem prestar o vestibular para pedagogia identifiquei-me cada vez mais com essa área de ensinar e aprender, decidir então fazer um vestibular e passei, mas não fui cursar. Hoje reconheço que perdi um tempo precioso mantendo resistência a algo que logo depois faria de mim a pessoa mais feliz sendo professora na educação infantil na qual sou há cinco anos. No meio desse caminho me casei, tive uma filha o casamento não deu certo, me vi separada, precisei sair da minha casa em Palmas com minha filha e praticamente com a roupa do corpo (minha e dela), foi algo necessário naquele momento. Mudei-me para Guaraí onde tive o apoio da minha irmã e o meu cunhado que me deram abrigo em sua casa e até a comida minha e da minha filha. Por um ano morei na casa deles isso em 2017 e na ocasião voltei a ouvir: faz pedagogia para não ficar sem trabalhar, e ficava refletindo sobre todas às dificuldades que passava naquele momento daí resolvi ingressar na Unopar no curso de “pedagogia”.

Logo no 1° período ganhei um “bolsa incentivo” por conta do pólo, pois não tinha dinheiro para pagar. Comecei com a cara, a coragem, e a determinação de não parar. Já no 2°período passei em um processo seletivo que duraria dois anos como auxiliar de sala na educação infantil isso agosto de 2018 onde comecei ali uma experiência única e linda, tudo por uma bolsa na qual me ajudaria a pagar a faculdade. Enfrentei muitas dificuldades, houve dias de não ter nem 1 real para o lanche da minha filha nem para mim, recebia ajuda de pessoas que costumo dizer que tem o cheirinho de Deus em minha vida, me emociono sempre quando falo de tudo que passei, teve momentos que para eu apresentar os seminários na faculdade pegava roupas e calçados emprestados por não ter condições de comprá-los, conto isso não para que sintam pena nem para me vitimizar, conto como incentivo para os que querem vencer na vida. Então, em 2019 no fim daqueles 2 anos de bolsa me vi sem ter como pagar a faculdade, pois moro de aluguel e tenho todos as despesas por minha conta. Pensei por vários momentos que não iria conseguir terminar e mais uma vez Deus provou o seu amor por mim quando trabalhei em uma creche. Lá conheci uma professora que é uma pessoa de Deus que pagou junto com o seu esposo a faculdade para mim, sinto muita gratidão por eles, e tudo que passei me fortaleceu para seguir em frente.

Com isso, comecei a dar aulas particulares e de reforço escolar para meus sobrinhos e filhos dos amigos e vi ali uma saída para realizar o meu sonho, o qual era ter a minha escolinha, esse sonho surgiu logo após entrar na faculdade. Em 2020 veio a pandemia da Covid- 19, e, com isso as pessoas começaram a me procurar para alfabetizar seus filhos justamente no ano em que o mundo passou pelos piores momentos na saúde foi o mesmo ano em que mais trabalhei, ano em que descobrir um amor tão grande por ensinar, pela educação infantil, por alfabetizar, e resolvi então fazer uma pós em psicopedagogia, a qual termino em Junho próximo, e logo logo quero um mestrado na área da psicologia, pois através da pedagogia vou ter a oportunidade de realizar um grande sonho nessa área. E, se Deus quiser e permitir eu quero chegar ao doutorado. “Eu acredito em mim, no meu potencial, nos meus sonhos, na minha força”. Hoje me sinto abençoada e iluminada por Deus pelo que faço, o meu trabalho é aquilo que me dá forças e orgulho de quem sou.

Fonte: Arquivo Pessoal

Quando olho para trás e vejo tudo que passei pra chegar até aqui e sei que ainda tenho muito a buscar, e nessa busca está a minha escolinha que é uma das minhas metas para o ano que vem pois, desde que comecei em 2019 esse espaço está sendo na área da casa onde moro com uma mesa e cadeiras da glacial, eu mesma coloquei um plástico na mesa e nas cadeiras para cobrir o nome da cerveja e comecei a trabalhar. Finalizei 2019 com 20 alunos, no ano seguinte consegui comprar uma mesa com os bancos, armários e equipei minha salinha, hoje ela é meu sonho, meu orgulho, minha gratidão, e o objetivo crescente cada vez mais é o de levar a educação ao nível que ela merece.

A “escolinha da tia Luh” vai escrever a sua história, hoje tenho parcerias em Guaraí e em outras cidades. E com fé em Deus logo terei a minha escolinha montada.

Atualmente trabalho de 8:00h às 20:00h, de segunda à sexta-feira, tenho uma grande demanda de alunos e família parceiras da tia Luh que divulgam o meu trabalho e indicam a escola, sou hoje referência em Guaraí com a certeza de está fazendo a diferença na vida de muitas crianças, tudo isso é o que me leva a não desistir, e nem quero, o maior orgulho que tenho é o retorno positivo de um trabalho feito com amor, fico muito feliz quando meus alunos reconhecem esse amor, e muitos dizem que querem ser iguais a mim quando crescer, ouvir isso é gratificante e com esses gestos tenho a plena certeza que estou no caminho certo, “a educação é um processo e ensinar é uma linda missão”.

Fonte: Arquivo Pessoal

Atualmente atendo mais de 80 crianças e estou trabalhando e estudando para ampliar esse número.

Hoje eu sou a tia Luh, mulher, mãe, professora, empreendedora, futura psicopedagoga e dona de si. E com muitos sonhos para a educação.

Esse é um relato da minha história, história da qual fugi por muito tempo, mais acredito que Deus tem um propósito para cada um de nós, hoje entendo que o meu propósito é educar, ensinar, alfabetizar, palestrar sobre a educação e nunca desistir.

Eu sou a tia Luh!

Luciene Mota

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A senhora na minha sala

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Ali estava ela radiante, soltando seus cabelos e dançando como se fizesse aquilo pela primeira vez, mesmo eu a observando de pertinho ela estava tão entretida que nem podia ver minha risada de canto.

A senhora na minha sala, dançando alegremente, me fazendo pensar o que se passa ali? Ela dançava e cantava com tanto entusiasmo que a alegria contagiava o lugar. Eu me pergunto quantas histórias têm ali, são tantos anos vividos, quantas músicas cantadas? Quantas delas foram de alegria? Será que quando ela canta também chora?

Ela faz parecer que a vida é tão leve, que a música leva embora toda solidão, enquanto ironicamente dança sozinha. É como se essa dança fizesse com que anos de história passassem igualzinho uma retrospectiva de fim de ano na TV, mas a juventude segue sendo conservada ali, por alguns minutos da canção.

Ela me faz enxergar que a música é nada mais nada menos que, uma viagem no tempo. Ela canta uma letra que existia mesmo antes de eu nascer, mas tanto ela quanto a música estão ali e agora.
Talvez a vida seja isso, se lembrar do passado com alegria ou com tristeza.
Cada um sabe dentro de si a emoção que se carrega, enquanto aqui e agora se aproveita o momento, a canção se conecta com o passado, criando memórias para o futuro. Mesmo que os próximos minutos sejam sentar no sofá e descansar, depois de se cansar em consequência de instantes radiantes. Pois a vida também tem seus momentos de pausa e respiração, para que então haja continuidade e amanhã ou depois novas outras canções.

Um dia, infelizmente essa senhora, não vai estar mais na minha sala, mas deixará comigo a certeza de que sempre estará eternizada em uma canção e no meu coração.A música é: palavras, tempo, momento, cura, contagia, transforma, transtorna, conecta e liberta. Agradeço pela senhora na minha sala, que me ensinou tanta coisa que sei, mas mesmo assim continuo a aprender…
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Velhice, uma das principais fases da vida

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Os desafios da terceira idade estão longe de acabar. Em especial, em países em desenvolvimento, onde o idoso precisa de políticas públicas mais eficientes para ter uma qualidade de vida. Sobre o assunto, a Organização Das Nações Unidas – ONU, em Assembleia Geral, decidiu que o período de 2021 a 2030 será conhecido, como a década do Envelhecimento Saudável. O objetivo da iniciativa é fazer com que a sociedade mude sua forma de pensar e agir em relação ao idoso.

Conforme a ONU (2020), a humanidade está envelhecendo, em todos os quatro cantos do mundo, e por isso é preciso na elaboração de políticas públicas que auxiliem nessa fase, que segundo a entidade, afeta o sistema de saúde. De acordo com a resolução elaborada em Assembleia, junto aos países membros, o mundo não está preparado por contribuir e responder com eficiência aos direitos e necessidades da pessoa idosa. (ONU, 2020). Para é necessário o engajamento da sociedade civil junto, setor privado e público para a promoção de um envelhecimento saudável reiterou a organização internacional.

O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, confirmou que a proposta em promover uma década saudável para os idosos, a partir deste ano, 2021, é melhorar a qualidade de vida deles, bem como acrescentar anos à vida de cada um.   Dados coletados pela ONU, afirmam que existem 962 milhões de pessoas espalhados pelo mundo com mais de 60 anos de idade, sendo que em 2030 serão mais de 1,4 bilhões de idosos. Nesse sentido, a ação vai ao encontro dos números que confirmam o envelhecimento da população mundial.

No Brasil, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponta que houve um aumento considerável da população idosa brasileira, nas últimas décadas.  A coleta foi feita, em 2020, e informa que o número da população brasileira com 60 anos de idade aumentou para 29,9 milhões e se continuar nesse ritmo deve subir para 72,4 milhões em 2100. Comparada a população idosa, da década de 50, que era 2,6 milhões, ocorreu um aumento de 8,2% nos últimos setenta anos.

Fonte: Freepik

Ainda de acordo com o IBGE (2020), o número de idosos com mais de 65 anos de idade passou para 9,2 milhões em 2020 e que a previsão para daqui a 100 anos é alcançar 61, 5 milhões de brasileiros. Já a quantidade de brasileiros idosos com mais de 80 anos passou 4,2 milhões, em 2020, sendo que em 2100 será de 28,2 milhões.  Ou seja, a população brasileira envelheceu e vai continuar no processo de envelhecimento, por isso é importante o engajamento dos setores públicos e privados, bem como a população em busca de melhoria de vida para o idoso, como pontou a Assembleia Geral da ONU realizada o ano passado.

Veras (2007) comemora que, o envelhecimento populacional constitui um substancial conquista da humanidade, mas adverte que o novo cenário demográfico e epidemiológico precisa exigir novos olhares, concepções, políticas, tecnologias e modelos de atenção que possibilitem um envelhecimento saudável. Para isso, propõe a análise das desigualdades sociais entre as pessoas da terceira idade para a elaboração de políticas para o brasileiro com mais de 60 anos.

Para assegurar os direitos do idoso, no Brasil, foi elaborada a Lei 10.741, que dispõe sobre o Estatuto do Idoso, em 2003. Entre suas atribuições estão atendimento individualizado e especial junto aos órgãos públicos e entidades privadas, preferência na elaboração de políticas públicas, além de sua execução.  No entanto, apesar dessas diretrizes, a qualidade de vida do idoso brasileiro, precisa ser revista e melhorada, em especial no mercado de trabalho, é o que em Lopes e Burgadt (2013).

Para Lopes e Burgadt (2013) o idoso que deseja voltar ao trabalho precisa competir com concorrentes mais jovens, geralmente preferidos pelo devido ao seu maior grau de qualificação. “O preconceito que existe com relação à terceira idade faz com que a sociedade naturalmente ignore o idoso, visto que uma das grandes dificuldades quanto à inclusão dessa parte da população no mercado de trabalho” Lopes e Burgadt (2013). Nesse sentido, é preciso mudar o olhar sobre a população idoso, que vem aumentando consideravelmente, por isso é importante sua reinserção no mercado de trabalho de forma digna. Isto é, se a população tende ao envelhecimento, o mercado precisa se adaptar à nova realidade. Além disso, o jovem cheio de oportunidades hoje, é o idoso de amanhã.

REFERÊNCIAS

IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2020). Disponível em <https://www.ibge.gov.br/> Acesso 02, de nov, de 2021

ONU- Organizações das Nações Unidas (2020) -Assembleia Geral da ONU(2020). Disponível em < https://brasil.un.org/pt-br/about/about-the-un > Acesso. 02, de nov de 2021

 Lopes APN, Burgardt VM. Idoso: um perfil de alunos na EJA e no mercado de trabalho. Estudo Interdisciplinar Envelhecer (2013).

Planato, Estatuto do Idoso. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.741.htm>

Veras R. Fórum. Envelhecimento populacional e as informações de saúde do PNAD: demandas e desafios contemporâneos. (2007).

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O amor em tempos de negacionismo

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É a forma de lidar com o real do Covid-19 – pela rejeição da nossa limitação e finitude – que mais nos coloca em risco de morte.

A questão da morte é um tema muito presente no consultório dos psicólogos e psicanalistas. Os analisandos falam muito do medo da morte, mas vou ousar afirmar que eles falam muito mais sobre uma certa aposta na morte, como uma das saídas possíveis para escapar das angústias da vida. A morte como uma espécie de abertura para uma outra vida, não necessariamente transcendente.

Minha experiência como analista me ensinou que, na imensa maioria das vezes, quando as pessoas falam sobre o desejo de morrer ou do impulso para a morte, elas não estão falando necessariamente em suicídio. O que elas estão dizendo é que, de algum modo aparentemente contraditório, só é suportável viver e passar por determinadas situações em vida, se tivermos como horizonte a morte, incluindo a possibilidade de dar fim à própria vida, mesmo que a maioria das pessoas nunca chegue a tal ponto.

Com isso, aprendi a escutar com mais tranquilidade o tema do desejo pela morte, sem a todo momento identificar suicidas em potencial. Ou, dito de outro modo, entender que, em última análise, todos somos suicidas em potencial, simplesmente porque a vida contém em si a morte.

Fonte: encurtador.com.br/diLU7

Nesses tempos de pandemia por Covid-19, a questão da morte se faz extremamente próxima e presente, e dessa vez como uma experiência do real. Deixa de ser uma promessa, uma saída idealizada ou fantasiada, para ser uma realidade, e, nesse caso, uma realidade compartilhada por todos.

Mas, diante do real que invadiu nosso cotidiano nos últimos tempos, é interessante perceber como muitos analisandos vêm ressignificando a posição diante da própria finitude. Como se a possibilidade real de experimentar a morte – a própria ou a de um outro próximo – os tivesse levado a apostar na vida de um modo novo, a lutar por ela e a compreender que, no final das contas, desejam viver. Que talvez o que não desejavam ou desejam mais, é a vida que vinham ou vem vivendo.

Diante da morte, e de uma política que aposta na morte, tenho escutado no meu consultório afirmação da vida e desejo de viver. Mesmo que venham com modos obsessivos e neuróticos de cuidar de si e dos seus, é pulsão de vida, o que eu vejo.

Fonte: encurtador.com.br/nyEIN

Por outro lado, temos visto vários discursos e manifestações que negam a pandemia e seus riscos. Entendo que também não deixa de ser uma tentativa de apostar na vida, só que um modo débil, delirante e equivocado; negando a morte. E é exatamente essa forma de lidar com o real do Covid-19 – pela rejeição da nossa limitação e finitude – que mais nos coloca em risco de morte. Ou seja, muito pior do que pensar na morte como saída possível para a vida, é negar que que a morte exista. Desdenhar da morte é se deixar arrastar por ela. Não acredito que seja necessário ter medo da morte, mas é preciso sim, ter respeito e cuidado ao lidar com ela.

O verdadeiro suicida não é aquele que pensa na morte, mas aquele que a nega.

Admitir, assumir a morte como destino é a única via possível para quem deseja viver.

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Apagaram-se as luzes, perdi o show

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Meu pai só gostava de músicas sertanejas, mas quando o cantor Roberto Leal aparecia na TV, ele me chamava para assisti-lo e ficava ouvindo junto. Ele sabia que aquele loirinho era o ídolo da filha de 15 anos. Numa época sem Internet e YouTube, eu dependia da TV para ver meu cantor predileto e das rádios para ouvir suas músicas. Seus discos me inspiraram a criar diários e a sonhar com o amor. Um dia lhe escrevi uma carta. A resposta veio rápida e com uma foto autografada. 

Aos 17 anos, mudei-me para São Paulo. Estaria mais perto do ídolo, mas continuei o vendo só pela TV e ouvindo suas músicas pelas rádios, porque assistir a um show para mim era um luxo na época. O tempo passou e substituí o ídolo da adolescência por outros da minha juventude. As décadas passaram e ao passar de meio século de vida, eu tive uma crise de flashback. Mergulhei nas profundezas do tempo e na descida encontrei algumas frustrações e tristezas que deixei no fundo do mar do passado onde já estavam naufragadas. Para a superfície, resgatei alguns tesouros, como a paixão pelo ídolo dos 15 anos.

Fonte: encurtador.com.br/CTY08

 O ano era 2017 e, na ânsia de dar vida a desejos antigos, decidi assistir a um show do cantor. 365 dias voaram. Adiei o desejo para 2018. Mais um ano voou e veio 2019. Prometi que daquele ano não passaria. Eu estava certa. Jamais passaria de 2019. Um dia, olhando mensagens no celular, uma notícia me paralisou. A vida tinha me dado uma rasteira por ter me esquecido do hoje e confiado no amanhã. Os olhos do cantor loirinho Roberto Leal que tantas alegrias me deu na adolescência se fecharam em 15 de setembro de 2019. Não o vi e jamais o verei num palco. Restou a imortalidade do ídolo.

Eu não sabia da luta do cantor contra o câncer. Mas sabia que a morte é a realidade da vida. No vídeo de seu último show, Roberto Leal disse que jamais se imaginou cantando sentado e eu que sempre me imaginei aplaudindo-o de pé. Um ano após sua morte, o consolo é a foto autografada emoldurada e os vídeos no YouTube.

Os sonhos são os combustíveis da vida. Existem aqueles sonhos mais singelos e acessíveis de curto prazo e os grandes de longo prazo. Não importa o tamanho e o tempo de um sonho, o importante é não se iludir com mais 365 dias de um ano vindouro para dirigir alguns quilômetros rumo a uma casa de show ou para dar pequenos passos diários rumo aos grandes sonhos de longo prazo. 

A luz da vida do cantor se apagou. As músicas brilharão para sempre. 

Vira-vira! Arrebita! 

Aplausos ao show da vida!

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A vida é feita de histórias, o que temos feito com a nossa?

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Fonte: Arquivo pessoal.

Essa tem sido eu nos últimos três meses. Me encontro com a sombra da morte quase todos os dias passando por esses corredores, mas também com a intensidade da vida que pulsa em cada um, com a vontade de vida de cada um.

“A cabeça pensa onde os pés pisam”. Eu, psicóloga, 24 anos, negra, brasileira, proletária, trabalhando numa UTI pediátrica, num hospital público no norte do país, no meio de uma pandemia. Hoje estou em solo de guerra, é assim que sinto muitas vezes. Isso me faz valorizar e reconhecer a paz quando encontro.

Vida e morte intensamente ligadas. Me atravessam, mudam minhas perspectivas, minhas prioridades, meus argumentos.

Fiquei em silêncio desde então por aqui. Me deixei levar pelo não saber, não saber o que dizer. Também não sei se tenho dito algo com essas palavras, mas deixo sair porque hoje elas estão aí para sair.

Eu não tenho a pretensão de chegar em algum lugar com essas palavras. Elas são mais para mim do que para outro alguém. São um lembrete.

Quero dizer que ainda há esperança. Que relações significativas existem, que a paz vem de dentro. Que a vida vale a pena, mesmo quando não é fácil, até porque ela é mais difícil do que fácil. Que cada história importa, que cada pessoa que tocamos é o amor da vida de alguém. Que o solo do nosso coração precisa ser fértil para crescer afeto. Que a dureza da dor não precisa ser o que dita nossa postura.

A vida é feita de histórias, o que temos feito com a nossa?

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