Influências do ambiente familiar no desempenho educacional

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Dinâmicas Familiares e Seu Impacto Sobre o Rendimento Acadêmico: Uma Perspectiva Psicoeducacional Abrangente

O papel do ambiente familiar na educação de crianças e adolescentes é um tema de relevante interesse na interseção entre a psicologia e a pedagogia. O ambiente doméstico, caracterizado por uma variedade de fatores, incluindo apoio emocional, práticas de socialização e condições socioeconômicas, exerce uma influência significativa no desenvolvimento educacional dos jovens (Bronfenbrenner, 1979; Bowlby, 1969). Estudos demonstram que a interação familiar, especialmente nos primeiros anos de vida, é crucial para a formação de bases cognitivas e emocionais robustas, que são fundamentais para o sucesso acadêmico (Bowlby, 1969).

Além disso, as desigualdades socioeconômicas surgem como um fator crítico no contexto educacional. As diferenças nos recursos disponíveis para as famílias, incluindo o nível educacional dos pais e a renda familiar, têm um impacto profundo no desempenho educacional dos estudantes (Sirin, 2005). Essas desigualdades muitas vezes se traduzem em diferenças nas oportunidades educacionais e nos resultados acadêmicos, ressaltando a necessidade de uma atenção particular a essas variáveis no planejamento e execução de políticas educacionais.

Na esfera pedagógica, é imperativo que educadores e instituições desenvolvam estratégias que sejam inclusivas e que respondam às diversas realidades familiares dos alunos. Isso envolve a adoção de práticas pedagógicas que não apenas reconheçam, mas também valorizem a pluralidade de experiências familiares, promovendo assim um ambiente educacional mais equitativo e eficaz (Bronfenbrenner, 1979). A inclusão dessas práticas no currículo e nas metodologias de ensino é fundamental para garantir que todos os alunos, independentemente de seu contexto familiar, tenham acesso a uma educação de qualidade.

Em conclusão, o ambiente familiar desempenha um papel crucial no desenvolvimento educacional das crianças e adolescentes. As implicações desse fato para as políticas educacionais e as práticas pedagógicas são profundas, exigindo uma abordagem que seja sensível às variadas experiências familiares dos estudantes. Reconhecer e adaptar-se a estas realidades não é apenas uma questão de eficácia pedagógica, mas também de equidade e inclusão no sistema educacional.

O impacto do ambiente familiar no desenvolvimento educacional em contextos brasileiros tem sido objeto de estudo em diversas pesquisas, que destacam peculiaridades e desafios específicos enfrentados no país. Uma pesquisa realizada por Martins e Silva (2005) ressalta a importância do envolvimento dos pais no processo educacional de crianças e adolescentes no Brasil, demonstrando que o apoio familiar, tanto em termos emocionais quanto práticos, está positivamente correlacionado com o desempenho acadêmico e a motivação dos estudantes. Este achado ecoa as perspectivas internacionais de Bowlby (1969) e Bronfenbrenner (1979), enfatizando a relevância das interações familiares para o desenvolvimento educacional.

                            Fonte: Imagem gerada por inteligência artificial, DALL.E

Além disso, estudos conduzidos por Alves e Soares (2013) exploram as desigualdades socioeconômicas e seu impacto na educação no Brasil. Estes estudos revelam que, apesar de avanços significativos nas últimas décadas, ainda persistem grandes disparidades no acesso e na qualidade da educação oferecida a alunos de diferentes estratos socioeconômicos. As conclusões desses estudos reforçam as análises de Sirin (2005), que apontam as disparidades socioeconômicas como um fator determinante no desempenho educacional.

Por fim, é notável em pesquisas brasileiras a ênfase na necessidade de políticas educacionais e práticas pedagógicas inclusivas. Nesse sentido, Ferreira e Martins (2018) argumentam pela importância de uma abordagem educacional que considere as variadas realidades familiares dos alunos, incluindo aspectos culturais, socioeconômicos e linguísticos, para promover uma educação mais justa e eficaz. Estas considerações são alinhadas com as sugestões de Bronfenbrenner (1979) sobre a importância de práticas educacionais adaptativas e inclusivas.

A análise das pesquisas brasileiras e internacionais sobre o impacto do ambiente familiar no desempenho educacional revela insights cruciais para a compreensão e melhoria da educação. Os estudos de Martins e Silva (2005) e Alves e Soares (2013), juntamente com as perspectivas teóricas de Bowlby (1969) e Bronfenbrenner (1979), coletivamente destacam a significativa influência das dinâmicas familiares no desenvolvimento educacional das crianças e adolescentes. O suporte emocional, as práticas de socialização e as condições socioeconômicas dentro do lar emergem como fatores determinantes que afetam não apenas o desempenho acadêmico, mas também a motivação e o engajamento dos estudantes.

No contexto brasileiro, as desigualdades socioeconômicas se apresentam como um desafio adicional, onde as disparidades no acesso e na qualidade da educação amplificam os efeitos das condições familiares no sucesso educacional. As conclusões de Ferreira e Martins (2018) ressaltam a necessidade de políticas educacionais e práticas pedagógicas que sejam sensíveis às diversas realidades familiares. Esta abordagem inclusiva e adaptativa é fundamental para endereçar as desigualdades e promover uma educação mais equitativa e eficaz.

Assim, fica evidente que uma compreensão holística do ambiente educacional requer a integração das variáveis familiares em qualquer discussão sobre políticas educacionais e práticas pedagógicas. Ao reconhecer e responder às complexidades do ambiente familiar, o sistema educacional pode não só aumentar a eficácia do ensino, mas também promover a equidade e a inclusão, elementos essenciais para o desenvolvimento pleno e harmonioso de cada estudante.

 

REFERÊNCIAS

  1. BOWLBY, John. Attachment and Loss: Vol. 1. Attachment. Basic Books, 1969.
  2. BRONFENBRENNER, Urie. The Ecology of Human Development. Harvard University Press, 1979.
  3. SIRIN, Selcuk R. Socioeconomic Status and Academic Achievement: A Meta-Analytic Review of Research. Review of Educational Research, v. 75, n. 3, p. 417-453, 2005.
  4. ALVES, Flávio Henrique Barbosa; SOARES, José Francisco. Desigualdades socioeconômicas e desempenho escolar: O caso do Brasil. Revista Brasileira de Educação, v. 18, n. 53, p. 449-472, 2013.
  5. FERREIRA, Mônica Santos; MARTINS, Cida Bento Moura Joaquim. Educação e diversidade: desafios e perspectivas no contexto brasileiro. Educação & Sociedade, v. 39, p. 143-160, 2018.
  6. MARTINS, Gisele Diomedes Ferreira; SILVA, Maurício Antônio. O papel da família no desempenho escolar: Uma revisão crítica da literatura. Psicologia em Estudo, v. 10, n. 2, p. 193-202, 2005.
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A importância da mentoria como instrumento fundamental na formação acadêmica

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Desvendando a  Mentoria na Jornada Acadêmica

Lucas Nunes Barbosa (Acadêmico de Psicologia) – lucasnunesbarb@rede.ulbra.br

(En)Cena entrevista,  Sônia Cunha, Graduada em Letras Portugues/ Inglês e suas respectivas literaturas e Mestrado em Letras pela Universidade Federal do Tocantins, atualmente atuando como mentora acadêmica.

(En)Cena : Quais são os principais desafios que os estudantes enfrentam ao ingressar na vida acadêmica, e como sua mentoria aborda essas questões?

Sônia: De início, ressalto que a maioria dos acadêmicos que me procuram são trabalhadores que estudam. Essa delimitação já é um recorte considerável do perfil dos acadêmicos que cursam graduação em tempo integral ou pela manhã. Outro fato relevante é: a maioria também cursam suas graduações na modalidade EAD, banalizada em décadas passadas e que, com o advento da COVID-19, tornou-se a modalidade vigente de estudo.

O maior desafio é a escrita acadêmica em si, resumida na seguinte pergunta que ouço recorrente: Sonia, como eu vou escrever tudo o que eu acabei de te falar conforme as exigências da faculdade?

Como mentora, a partir da ideia do acadêmico vou traçando um esqueleto, delimitando a problemática, o objetivo geral e a justificativa que motivou a escolha de determinado tema. Em conjunto vamos traçando esse esqueleto e encaminhamos para o orientador do acadêmico que deverá dar o não a chancela para o início da escrita. Montamos um cronograma e o texto é repassado para o orientador a cada andamento da escrita.

(En)Cena: Como lida com diferenças individuais, como estilos de aprendizagem variados, ao oferecer orientação acadêmica?

Sônia: Eu auxilio apenas em cursos nos quais tenho segurança que são os de licenciatura. Em outras áreas do conhecimento auxilio na confecção de slides, banners, formatação e revisão linguística e metodológica (o ponto fraco da maioria dos acadêmicos).

(En)Cena: Como ajudar os alunos a estabelecer metas acadêmicas e desenvolver um plano para alcançá-las?

Sônia: Direcionada nos prazos. Se tem um fato que assimilei da carreira como servidora pública é que prazo a gente cumpre. Domingo elaboramos o cronograma da semana seguinte, pontuando item a item do que falta e vamos ajustando de acordo com as demandas, assim, na maioria das vezes, desde que o orientador não demore com a sua leitura crítica do trabalho, concluímos o trabalho antes do prazo terminar.

(En)Cena: Quais conselhos você daria para superar momentos de desmotivação ou falta de confiança acadêmica?

Sônia: Não sabe por onde começar, não sofra sozinho, peça ajuda!

A escrita travou, peça ajuda!

Não sabe se a escrita está boa, peça alguém da sua confiança para ler seu trabalho, pois muitas vezes, pelo fato do assunto ser óbvio para quem está pesquisando e escrevendo, para quem vai ler, não.

Vai escrever desde um bilhete à uma tese, pense sempre no seu leitor.

(En)Cena: Qual é a importância da mentoria acadêmica na formação e no desenvolvimento pessoal dos alunos?

Sônia: Primeiro, demonstrar que a escrita de um trabalho acadêmico – do resumo à tese, não precisa ser interpretado como um fardo. Com a mentoria acadêmica você terá um direcionamento que a faculdade não te fornece, isso porque, na graduação, as aulas de Metodologia Científicas são ministradas no início da graduação e a escrita do TCC no último. E mais, quando entramos na graduação não temos a maturidade para compreender o quanto esses conteúdos nos farão falta, mesmo sendo trabalhados de maneira superficial por alguns professores.

Quanto ao desenvolvimento pessoal, a mentoria é aquele direcionamento do que fazer, como fazer sem críticas ou discursos estigmatizados como  “vocês tem que fazer isso e aquilo”, mas não é ensinado de maneira prática. Meu trabalho é dividir a minha experiência acadêmica com aqueles que passam pelos mesmos desafios pelos quais passei, porém sem auxílio. É o de literalmente dizer: vai na coordenação do seu curso, peça a ementa do seu mestrado e vamos observar os créditos que você precisa cumprir e vamos traçar um plano para executá-lo em tempo x para você tomar posse no concurso que terá a chamada dos classificados no tempo y. Na graduação, eu não tive quem falasse dessa parte administrativa e burocrática que existe na vida acadêmica.

(En)Cena: Como equilibrar o apoio acadêmico com o desenvolvimento de habilidades socioemocionais na mentoria?

Sônia: Eu sou boa em observar o comportamento das pessoas. Cada pessoa tem o seu. Caso a pessoa seja espontânea vou nessa linha, caso seja mais formal, também vou nessa linha. Só fecho mentorias com pessoas comprometidas, se a pessoa me der abertura sobre as questões socioemocionais, sou toda ouvidos, porém, muitas vezes as pessoas possuem problemas que fogem do meu alcance, como, conciliar a rotina familiar com a acadêmica, ou seja, a pessoa diz que quer fazer mestrado mas não quer abrir mão de todos os finais de semana na balada, todos os aniversários dos amigos, todos os eventos da igreja. Nesses casos eu não posso ajudar nem interferir. O percurso acadêmico é uma decisão.

(En)Cena: Como a mentoria pode auxiliar os alunos a lidarem com a pressão acadêmica e equilibrar suas demandas pessoais?

Sônia: Com organização de conteúdos e prazos e direcionamento do que e como fazer determinado trabalho acadêmico; tudo seguindo as normativas da instituição à qual o acadêmico está vinculado.

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