O arquétipo do Herói em Vingadores Ultimato

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Nesse momento da jornada ele enfrenta seu inimigo e conhece seus aliados, que é o sexto passo da jornada do herói, é quando também ocorre a maior identificação com o público.

O filme Vingadores Ultimato está atualmente em uma briga pela maior bilheteria da história, e notícias de Kevin Feige – o grande chefão da Marvel – afirmam que uma outra versão do filme com cenas novas, chegará em breve aos cinemas. No mais, o personagem alvo desta análise é nada menos que Thor, o deus do trovão (apesar que ele solta raios, mas essa piada é velha). Thor, filho de Odin e Frigga, apresenta ser um filho mimado em que seus pais parecem depositar grandes expectativas. É perceptível em seus filmes um amadurecimento como pessoa, mas continuou com comportamentos que mostram uma grande dependência dos pais. (Spoiler abaixo!!!)

A análise em questão é a representação do arquétipo do herói e como Thor passou por toda a jornada. Segundo Dell (2014), a jornada do herói é a tentativa de narrar uma experiência humana, que tem um propósito muito profundo. Assim a primeira parte da jornada do herói é a apresentação do mesmo e de um cenário onde o público venha a se identificar com alguns pontos, mostrando que ele é tão humano quanto qualquer um.

No primeiro momento do filme é mostrado como Thor lidou com o final trágico de Vingadores Guerra Infinita. Hulk e Rocket fazem uma visita a ele, e o cenário é uma casa com pouca iluminação onde ele e uns colegas passavam o dia bebendo e jogando vídeo-game, e quando questionado sobre sua vida ele afirma que estava tudo bem.

Fonte: encurtador.com.br/axCFP

O chamado à aventura seria o convite que Hulk faz para Thor, onde fala sobre uma última chance de consertar as coisas, através de uma volta ao tempo com as Partículas Pym como recurso, e Thor seria peça-chave nesta empreitada. Dessa forma, o coloca em confronto com o que ele estava negando enquanto se escondia vivendo daquela forma, e o fazendo refletir sobre uma correção do seu erro, sobre as vidas que ele pode salvar.

Thor nesse momento no filme não se acha digno de empunhar nem o seu Machado, o Rompe-tormentas, pois acredita que falhou como deus, falhou como amigo e por ter fracassado diante da única chance de ter matado Thanos no filme anterior. Dessa forma ele recusa o chamado, por medo de enfrentar a si mesmo. Mas ao final ele acaba aceitando ir, mesmo que isso não significasse que ele estava pronto para a jornada.

O plano consistia em voltar no tempo em diferentes momentos e “pegar as joias emprestadas” para tentar reverter o estalar de dedos do Thanos. Então, foram divididos em duplas, no qual Thor e Rocket ficaram encarregados da jóia da realidade, e foram enviados para a época em que ela estava no corpo de Jane, em Asgard. Nesse momento o nosso herói não estava engajado, e se separou de Rocket dizendo que ia visitar a adega para beber, mas ele acaba esbarrando com sua mãe, que o reconheceu mesmo ele afirmando ser o Thor daquela época.

Então tiveram uma longa conversa e ele tenta avisá-la sobre sua morte, mas ela o interrompe e fala que ela já sabe o que a aguarda. Toda a conversa entre os dois pode se caracterizar como o encontro com o mentor, que é quando ele recebe algo que dá um empurrão, seja conselhos, um treinamento ou um objeto. E antes de partir ele estende a mão e o Mjolnir, seu antigo martelo que havia sido destruído, atende o chamado mostrando que ele ainda é digno e assim ele resolve seu conflito e o seu papel naquela jornada.

Fonte: encurtador.com.br/eGOSX

Quando todos os heróis retornam ao presente, eles utilizam uma manopla criada por Tony Stark; Hulk se oferece para ser quem vai estalar os dedos, pois a radiação das jóias é a mesma dele. A tentativa se mostra um sucesso, apesar do dano que o braço do Hulk toma, e eles conseguem trazer de volta a metade que havia sido transformada em pó. E nesse momento de distração dos heróis, o Thanos do passado consegue vir para o presente e traz consigo todo o seu exército na tentativa de pegar as jóias e desfazer a reversão do estalar.

Thor nesse momento se vê diante do seu inimigo, e estendendo a mão empunha tanto o Rompe-tormentas quanto o Mjolnir e parece ganhar poderes além do que tinha anteriormente, caracterizando a travessia do primeiro limiar, que pode ser a aquisição de uma nova habilidade ou poder. Ele, juntamente com o Capitão América, luta contra Thanos que mostra suas habilidades sem depender da manopla e que por muito pouco ele não perde.

Fonte: encurtador.com.br/cluGZ

E nesse momento, o mais épico e cogitado do filme, Capitão América empunha o Mjolnir, e dá uma surra em Thanos salvando a vida de Thor. A fala do nosso deus do trovão nesse momento foi: “Eu sempre soube”. Como afirma Campbell (1990), não precisamos correr os riscos da aventura sozinhos. Nesse momento da jornada ele enfrenta seu inimigo e conhece seus aliados, que é o sexto passo da jornada do herói, é quando também ocorre a maior identificação com o público.

Thor fica no chão, pode tomar fôlego… esse momento se caracteriza como a caverna secreta, o instante onde o herói dá uma pequena pausa e que mostra o enfrentamento do seu grande medo, uma nova vitória do vilão. Mas nesse momento chegam os reforços mostrando a magnitude da batalha que estaria por vir e na qual ele se junta.

Chega o momento da provação, quando Thor aprende que precisa ir além e trabalhar em equipe dando tudo de si para que a jóias sejam enviadas para a época correta de cada uma utilizando a van do Homem-formiga. Mas no último momento ela é destruída e na tentativa de evitar que o vilão pegue a manopla nosso herói dá tudo de si em um golpe que atrasa o vilão dando chance para outros o deterem.

Ao final do filme ele nomeia a Valquíria como líder dos asgardianos restantes que estavam na terra, e a sua transformação ou retorno a sua confiança como herói pode ser a sua recompensa. Assim ele parte com os Guardiões da Galáxia como a representação de um caminho de volta onde ele escolhe um objetivo que beneficiaria de forma coletiva, e essa se torna sua ressurreição como deus do trovão.

Dessa forma, o retorno com o elixir que representa que nada será como antes, pode ser representado por essa nova jornada que ele opta por fazer, pois assim ele poderá proteger o universo juntamente com os Guardiões da Galáxia.

FICHA TÉCNICA:

VINGADORES: ULTIMATO

Título original: Avengers: Endgame
Direção: Anthony Russo e Joe Russo
Elenco: Robert Downey Jr, Chris Evans, Mark Rufalo, Chris Hemsworth, Scarlett Johasson;
País: EUA
Ano: 2019
Gênero: Ação, Aventura;

REFERÊNCIAS:

CAMPBELL, Joseph – O poder do Mito, São Paulo: Palas Athena, 1990.

DELL, Christopher. Mitologia: um guia dos mundos imaginários. São Paulo: Edições Sesc São Paulo, 2014.

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Vingadores: O Altruísmo patológico de Thanos

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Antes da ação altruísta, o indivíduo deve primeiro perceber a necessidade do outro, para isso se faz necessário habilidades cognitivas que englobam tais percepções.

Avengers: Inifinity War (2018) é, antes de um filme de super heróis, um longa que retrata “a jornada do herói” de Thanos, em busca de um objetivo extremamente altruísta: salvar o universo. Como antagonista do filme e uma ameaça presente desde The Avengers (2012), Thanos tem uma identidade própria, que teve espaço protagônico ao ser apresentado durante todo o quarto filme da saga.

Thanos utilizando a jóia da realidade para mostrar como era Titan antes de ser destruída

Thanos, enquanto ainda estava em Titan, seu então próspero mundo natal, o viu eventualmente perecer ao perceber a velocidade com que os recursos naturais estavam sendo consumidos. Para resolver o problema, sugeriu aos governantes o genocídio de metade da população, sem distinção de classe social, riqueza, gênero ou raça. Após a recusa de sua proposta, Thanos abandonou seu planeta e foi em busca de respostas. Sua profecia sobre sua terra natal foi concretizada, vendo ao retornar de seu exílio, um mundo morto e colapsado. Tal visão apenas concretizou sua crença, de que ele estava certo em exterminar metade da população. Para que tal triste fim não ocorresse de novo em outros cantos da galáxia, Thanos decidiu buscar as jóias do infinito, para remover metade da população inteligente de todos os mundos, e assim salvar o universo.

O protagonista se justifica em vários momentos do filme, explicando suas motivações e provando o preço disposto a pagar por seus fins.

Thanos explicando para Gamora o motivo de suas ações

Portanto, mesmo que a ideia de fazer com que metade dos seres inteligentes do universo “deixem de existir” pareça absurda para nós, para Thanos isso é um ato de bondade para com todo o universo.

Conversa de Thanos com Dr. Estranho sobre o que ele fará depois de concluir seu objetivo

Mas isso ainda é altruísmo?

Altruísmo é uma definição próxima da empatia, cunhada por Comte, é a inclinação humana a dedicar-se aos outros (Wikipédia, 2019). Para ser configurado como altruísmo, o comportamento não deve visar recompensas externas, podendo incorrer inclusive risco ou custo para o altruísta. Nessa ação, o bem-estar do próximo é a principal motivação, sendo as consequências imprevistas ou indesejadas, sejam elas positivas ou negativas, parte subjacente do processo.

O custo ou risco que o altruísmo carrega é deveras subjetivo. Pode-se dizer que, independente do tipo de ajuda oferecida, há sempre alguma forma de custo (de tempo, físico ou financeiro), isso não acarreta, necessariamente, um sofrimento. A infelicidade pouco aparece como consequência do comportamento altruísta, pelo contrário, quem ajudou comumente se sente satisfeito por isso, e ainda assim não deixa de ser altruísmo, contanto que satisfazer-se não tenha sido o objetivo inicial.

Thanos, ferido, porém satisfeito, depois de ter concluído sua ação altruísta

Antes da ação altruísta, o indivíduo deve primeiro perceber a necessidade do outro, para isso se faz necessário habilidades cognitivas que englobam tais percepções. A empatia, portanto, é essencial para uma prática saudável do altruísmo, visto que perceber o outro e ler suas emoções de forma coerente se faz necessário para reconhecer a necessidade de um comportamento altruísta.

Então Thanos é um Altruísta?

Pode-se dizer que sim, a diferença entre um altruísmo não-patológico e o apresentado por Thanos é a percepção cognitiva que o titã fez ao assimilar a dificuldade do universo de sobreviver, acreditando também ser o único capaz de resolver tal problema. Sem levar em conta qualquer lógica contrária a isso, inclusive a de que em poucos anos a população do universo voltaria à mesma quantidade que teria caso Thanos não tivesse feito nada.

Outro aspecto do altruísmo patológico é o prejuízo para quem recebe a ação altruísta. Thanos e sua avaliação cognitiva da situação completamente distorcida, fez com que o universo todo sofresse com sua tirania, fazendo inclusive ele mesmo perder pessoas próximas por esse “bem maior”.

Thanos, depois de ter matado o que mais amava em troca da jóia da alma

Mesmo assim, o Altruísmo é uma ação pró-social com grande impacto positivo nas relações sociais do indivíduo, podendo melhorar vínculos e quase sempre causando efeitos positivos tanto físicos quanto emocionais para o altruísta. Mas é um comportamento complexo que envolve várias partes da nossa cognição, portanto se faz necessário que a percepção de sinais e a habilidade de interpretá-los esteja acurada.

FICHA TÉCNICA DO FILME

VINGADORES: GUERRA INFINITA

Título original: Avengers: Infinity War
Direção: Joe Russo, Anthony Russo
Elenco: Robert Downey Jr.Chris HemsworthMark Ruffalo
Ano: 2018
País: EUA
Gêneros: Ação, Ficção científica

 

Referências:

KRIEGER, Stèphanie e FALCONE, Eliane Mary de Oliveira. A Influência das distorções cognitivas no comportamento altruísta. Rev. bras.ter. cogn. [online]. 2017, vol.13, n.2, pp. 76-83. ISSN 1982-3746. http://dx.doi.org/10.5935/1808-5687.20170012.
ALTRUÍSMO. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2018. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Altru%C3%ADsmo&oldid=53364202>. Acesso em: 13 out. 2018.

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Os Vingadores: Guerra Infinita

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Dirigido por Anthony Russo e Joe Russo, Os Vingadores: Guerra Infinita traz tudo o que o trailer promete: uma coleção enorme de personagens populares e ação que deixa qualquer um sem fôlego. Além disso, as cenas tem bastante humor, o que dá um divertido contraponto a momentos tristes e sem esperança. Isto não é novo no universo da Marvel – O primeiro filme dos Vingadores, em 2012, trazia muitas das características deste terceiro longa da franquia da Marvel (fora, claro, esta destruição generalizada). Porém, o que é bastante diferente é que a presença excessiva de personagens não permite o público focar em nenhum herói.

Há apenas um personagem que é central na narrativa: Thanos, o vilão. Claro, com tantos heróis e poucos vilões, isto naturalmente aconteceria. Porém, isto também traz problemas na narrativa. Não é que os diretores Russo falharam na sua tentativa de criar um universo bastante divertido e excitante. Ao contrário, é um grande feito que conseguiram dar unidade a uma obra que poderia ir a tantos lugares diferentes.

Fonte: https://goo.gl/cnQsL1

Mas mesmo assim, fica claro que muitas das características que dão sucesso a uma obra artística, desde a literatura até o cinema, parecem estar diluídos no filme. Para começar, cada produção do universo Marvel até agora tem uma coleção de heróis com personalidades bastante diferentes. Uns são mais egoístas enquanto outros são mais nobres, uns querem salvar o planeta imediatamente enquanto outros tentam manter o status quo por mais tempo. Personagens diferenciados dão a dinâmica que uma obra precisa ter para que seja interessante.

Porém, a incrível quantidade de heróis em Os Vingadores: Guerra Infinita faz com que personalidades repetidas interajam em certos momentos, criando uma dinâmica menos interessante. Além disso, não há tempo para desenvolver nenhum destes relacionamentos de maneira completa. O resultado é que o longa usa o conhecimento que temos dos personagens em filmes passados para impulsionar a história. Às vezes isso se torna bastante repetitivo, como quando Tony Stark (O Homem de Aço) acredita que Peter Parker (Homem-Aranha) não esteja pronto para lutar junto aos heróis adultos.

Além disso, Os Vingadores: Guerra Infinita parece sofrer por tentar agradar os fãs dos diversos heróis igualmente. Cada um recebe diálogos curtos e rápidos, o que ajuda nas cenas engraçadas, mas não no desenvolvimento de suas histórias individuais, que permanecem iguais aos títulos anteriores do universo da Marvel. O que importa é a atração principal, o vilão e a destruição que este traz. Vemos lugares e heróis serem destruídos pelo superpoderoso Thanos, que quer destruir metade do universo para trazer harmonia a este, num objetivo perverso. Porém, ele acredita estar fazendo algo nobre, o que o torna certamente cativante.

Fonte: https://goo.gl/Vs4iRQ

O foco no inimigo em histórias de super-heróis não é novidade nos quadrinhos, mas certamente é no cinema, especialmente quando a empresa por trás do filme é a Disney. Isso assume que o público quer ver os heróis queridos em situações desesperadoras. O fraco desenvolvimento de heróis, juntamente com cenas altamente trágicas, faz com que o longa pareça com uma série de televisão, como Game of Thrones, que foi reduzida a menos de três horas de duração. Mesmo assim, Os Vingadores diverte e termina com o seu intuito inicial, que é o de criar um clima desesperador que irá se resolver em produções seguintes (onde provavelmente tudo voltará ao normal). Afinal de contas, mesmo com todas estas diferenças, Os Vingadores: Guerra Infinita ainda é um filme de super-heróis.

Nota: Artigo escrito pelo cineasta Daniel Bydlowski para o jornal A Crítica

FICHA TÉCNICA:

VINGADORES: GUERRA INFINITA

Título original: Avengers: Infinity War
Direção: Joe Russo, Anthony Russo
Elenco: Robert Downey Jr., Chris Hemsworth, Josh Brolin, Benedict Cumberbatch;
País: EUA
Ano: 2018
Classificação: 12

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