Excesso de reuniões virtuais compromete bem-estar e produtividade no trabalho

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A diretora da Prime Talent, Bárbara Nogueira, ressalta que é importante reduzir o volume e a duração dos encontros online para evitar os sintomas da já conhecida “Fadiga do Zoom”.

Na nova realidade forçada pela pandemia da Covid-19, grande parte das pessoas foi obrigada a adaptar a vida à rotina virtual. Os happy hours e conversas com amigos e familiares tiveram migrar para o formato online, assim como as reuniões de trabalho e as aulas para alunos de todas as idades. Tudo isso na tentativa de manter, dentro do possível, uma conexão social ativa, um ritmo de trabalho eficiente e o aprendizado regular durante todos esses meses em que adotar o isolamento e evitar aglomerações se fizeram – e ainda se fazem – necessários. No entanto, a diretora, career advisor e headhunter da Prime Talent, Bárbara Nogueira, argumenta que essas circunstâncias, podem prejudicar diretamente o corpo e a mente, provocando a já conhecida “Fadiga do Zoom”. Consequentemente, a produtividade também é afetada.

Desde o ano passado, essa expressão – em alusão a um dos programas de chamadas de vídeo que mais se popularizou na pandemia – tem sido bastante usada no ambiente corporativo, em todo o mundo. Mas os problemas provocados pelo excesso de conferences estão relacionados a qualquer ferramenta para essa finalidade, como Hangouts, Teams, Skype, entre outras. Trata-se, resumidamente, de uma exaustão extrema e desmotivante, em função da permanência, por um período de tempo prolongado, em encontros pela internet. Inclui, também, irritabilidade, olhos secos e vermelhos, sem falar do cansaço, mal-estar e dores de cabeça ao final da jornada de trabalho ou até mesmo após um bate-papo virtual.

Bárbara Nogueira, diretora da Prime Talent
Carmine Furletti / Divulgação

A “Fadiga do Zoom” é gerada por diversos fatores. Entre eles, estão a hiperestimulação visual, que leva a esse cansaço e a essa irritação; a falta de linguagem corporal; e a mobilidade prejudicada, ou seja, a sensação de estar preso ao ângulo de visão da câmera. Outro “gatilho” costuma ser a autoavaliação constante, aliada ao sentimento de pressão social, porque a pessoa percebe que está sendo observada por todos, em todos os momentos, e não fica à vontade.

A exaustão também pode ser causada pela necessidade de aumentar a atenção no decorrer das vídeo-chamadas, que exigem um esforço maior para processar pistas não verbais dos participantes. Sem falar que muitas pessoas se sentem obrigadas a olhar para a tela o tempo inteiro, como forma de demonstrar que seguem atentas à reunião, e isso consome muita energia. Por fim, a tendência às distrações é mais um aspecto que pode ocasionar o desgaste mental, uma vez que os profissionais acabam propensos a realizar tarefas paralelas durante a call.

Diante desse contexto, Bárbara, que é graduada em psicologia, orienta os profissionais a ficarem muito atentos ao bem-estar no dia a dia, pois o estado permanente de cansaço pode evoluir para um esgotamento total, com prejuízos significativos para ao corpo e a mente. E ainda afeta diretamente a produtividade e a concentração em casa e no trabalho. “As empresas mais preparadas e estratégicas já têm desenvolvido programas e até novas políticas internas para o apoio aos funcionários que atuam no modelo home office, aproximando cada vez mais o setor de Recursos Humanos do negócio e dos colaboradores”, destaca.

Em busca de mitigar as chances de “Fadiga do Zoom” e de outros transtornos relativos ao excesso de conectividade, como o tecnoestresse, ações voltadas à saúde e ao descanso mental dos profissionais estão sendo implementadas, além de soluções inovadoras e mais prazerosas de usar videoconferência. Em linhas gerais, é possível ressaltar algumas estratégias para amenizar o impacto negativo do excesso de encontros remotos e do uso de tecnologia, como não emendar reuniões sequenciais, ampliando intervalos entre elas; evitar conferências com duração muito prolongada; substituição de chamadas de vídeo por áudio, quando possível; e o incentivo ao período de trabalho produtivo e sem conversas virtuais. No caso das lideranças, usar algum tempo para realmente verificar como as pessoas estão é muito importante. Independentemente das iniciativas que sejam adotadas, buscar equilibrar o real e o virtual, garantindo o uso saudável da tecnologia, é a melhor maneira de prevenir esses sintomas.


Sobre a Prime Talent
A Prime Talent é uma empresa de busca e seleção de executivos de média e alta gestão, que atua nos 24 setores da economia, em todo o Brasil e na América Latina, com escritórios em São Paulo e Belo Horizonte. Referência nas áreas de Recursos Humanos e Gestão, tem à frente os sócios David Braga (CEO) e Bárbara Nogueira (diretora). Braga já avaliou, ao longo de sua carreira, mais de 10 mil executivos, selecionando para clientes Latam. É autor do livro “Contratado ou Demitido – só depende de você” e professor convidado da Fundação Dom Cabral (FDC). Além disso, exerce a função de conselheiro da ACMinas e da ChildFund, instituição eleita, pelo quarto ano consecutivo, uma das 100 melhores ONGs do Brasil, que apoia crianças e adolescentes em extrema vulnerabilidade. Já Bárbara Nogueira, que conta com a experiência de mais de 5 mil executivos selecionados, é graduada em Psicologia e certificada em Executive Coach, pela International Association of Coaching, e em Micro Expressões e programação Neurolinguística. É também embaixadora da ChildFund.

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Volto Já: Cibercultura e a Teoria do Apego

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Black Mirror é uma série antológica de ficção científica criada por Charlie Brooker, que explora um futuro próximo onde a natureza humana e a tecnologia de ponta entram em um perigoso conflito (NETFLIX, 2016). A série trata de temas pertinentes à contemporaneidade, a solidão humana e as novas maneiras de estabelecer relações no mundo das mídias sociais, como é o caso do episódio “Be Right Back”, em português “Volto Já”.

O episódio conta a história de Martha e Ash, um casal de apaixonados que decidem morar juntos numa casa do interior, onde os pais de Ash moraram por muito tempo. Um dia depois da mudança, ao devolver a van usada para transportar os pertences de ambos, Ash se envolve num acidente de carro fatal. No funeral, uma amiga de Martha recomenda um serviço novo que ajuda pessoas em luto a lidar melhor com a situação, criando um Ash “virtual” que se comunica por meio de informações e dados obtidos através de mídias sociais, e-mails de Ash em vida e tudo quanto havia gerado no mundo virtual até então. Ela não aceita bem a indicação da amiga, mas esta acaba por inscrevê-la no serviço – o que Martha só descobre quando recebe um e-mail do “novo” Ash. A partir daí, ela começa a ter vários embates pessoais e morais sobre manter ou não essa relação e a trama se desenvolve justamente nesse cenário de conflitos internos (CARVALHO, 2016).

Fonte: https://goo.gl/WbrrqK

Existem certos aspectos que serão analisados a partir do ponto de vista da cibercultura e da teoria do apego de John Bowlby e Mary Ainsworth, responsáveis por estudos voltados ao desenvolvimento infantil que reverberam em possíveis tendências comportamentais para a vida adulta. Faz-se necessário neste primeiro momento, a elucidação das bases que constituem esta análise em concomitante aplicação aos principais pontos analisados do episódio.

Para Pierre Lévy (2007), o gênero canônico da cibercultura é o mundo virtual, mas vai além, diz respeito a preferência da conexão em detrimento do isolamento, é mais precisamente a universalização da comunicação. São as possibilidades de se relacionar com qualquer pessoa de qualquer parte do mundo por intermédio da internet em ferramentas como celulares e computadores, nos mais diferentes métodos, seja por troca de e-mails ou por interação via redes sociais.

Existem aspectos claramente enfatizados no episódio da série que mostram o quão dependente Ash era da comunicação virtual. Até mesmo em momentos de fragilidade emocional ele se vê na necessidade de compartilhar tudo em suas redes sociais. Um exemplo claro desse fato é quando, ao entrar na casa de seus pais pela primeira vez depois de anos, se depara com uma foto de sua infância, que rapidamente o faz recordar das disfuncionalidades de sua família e de quando seu irmão e pai morreram, a reação de sua mãe foi esconder todas as fotos deles no sótão da casa na esperança de que suas dores fossem também abafadas. Mesmo sendo um fato doloroso, Ash prefere compartilhar a foto, divulgando apenas aspectos positivos, evitando o contato com seus conflitos e também de refletir profundamente sobre seus próprios sentimentos em relação ao que viveu naquele lugar.

Fonte: https://goo.gl/w7B1JU

A teoria do apego de Bowlby e Ainsworth se refere a estudos sobre o desenvolvimento socioemocional durante os primeiros anos de vida e o quão este pode ser influenciado pela maneira como os cuidadores primários tratam as crianças, além dos fatores genéticos, psicológicos e ambientais (DALBEM; DELLAGLIO, 2017).  Para eles, existem quatro tipos de apego que são: o seguro, evitante, ambivalente e o desorganizado. Durante todo o episódio, Ash está sempre mergulhado em seu celular, que de alguma maneira poderia indicar comportamentos ligados ao apego evitante, onde há uma falta de interesse em aprofundar as relações, a intimidade gera desconforto e ele se refugia nas relações virtuais que podem ser em níveis superficiais. Martha por vezes fala da necessidade que sente de haver mais interação entre eles, mas Ash acaba por evitar esses momentos.

Para Bowlby (1989), as experiências precoces com o cuidador primário iniciam o que depois se generalizará nas expectativas sobre si mesmo, os outros e do mundo em geral, com implicações importantes na personalidade e nos modelos internos de funcionamento desse indivíduo, que são caracterizados pela habilidade de constituir representações mentais cada vez mais complexas. Cortina & Marrone (2003) afirmam que a teoria do apego contempla os processos normais de desenvolvimento e a psicopatologia humana, além de abordar os processos de informação para a compreensão dos mecanismos psicológicos utilizados na vivência de um trauma ou uma perda.

Como é o caso de Martha ao ser informada da morte de Ash. Porém, quando sua amiga a incentiva no uso da ferramenta online para “trazer de volta” seu marido, vê-se claramente que o tipo de apego estabelecido por ela com o Ash tanto real como o virtual, que é uma versão “materializada” dele, é o apego ambivalente, visto que de todas as formas ela busca ser aceita e também por maiores níveis de intimidade e receptividade. O que acaba por não encontrar nem naquela versão computadorizada e superficial de Ash ou mesmo no Ash real.

Fonte: https://goo.gl/4BsDHu

Para Barcelos (1993) ancorar-se no passado é a pedra angular de toda dependência afetiva. Martha não consegue se desvencilhar de todas as possibilidades de vida que teria ao lado de Ash e ao descobrir que está grávida dias após sua morte, se apega à esperança de que esse Ash “virtual” preencha todo seu vazio e dê sentido à sua vida, porém todas as suas esperanças são frustradas.

No fim, a dependência emocional está tão fortemente estabelecida, que ela não consegue de modo efetivo se desprender da esperança de um dia poder ter o verdadeiro Ash de volta. O que se nota em Martha é um apagamento do “eu”. Para fugir de suas próprias dores e sentimentos, ela faz como a mãe de Ash, resolve guardar a versão “materializada”, computadorizada dele no sótão da casa, como último recurso para entorpecer seus próprios temores.

REFERÊNCIAS:

BARCELOS, Carlos. Criando sua liberdade: Amor sem dependência. São Paulo: Editora Gente, 1993.

CARVALHO, Claudio. PlotSummary – Black Mirror: Be Right Back. 2016. Disponível em: <http://www.imdb.com/title/tt2290780/plotsummary?ref_=tt_ov_pl>. Acesso em: 02 set. 2017.

CORTINA, M. & MARRONE, M. (2003) Attachment theory and the psychoanalytic process. London: WhurrPublishers.

DALBEM, Juliana Xavier; DELL’AGLIO, Débora Dalbosco. Teoria do apego: Bases conceituais e desenvolvimento dos modelos internos de funcionamento. Arquivos Brasileiros de Psicologia,Rio Grande do Sul, v. 57, n. 1, p.01-13, 02 ago. 2017.

BOWLBY, J. Uma base segura: Aplicações clínicas da teoria do apego. 1 ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989.

LÉVY, Pierre. Cibercultura. 2. ed. São Paulo: Editora 34, 2007. 264 p. Tradução de Carlos Irineu da Costa.

NETFLIX (Brasil) (Emp.). Black Mirror. 2017. Disponível em: <https://www.netflix.com/title/70264888>. Acessoem: 31 ago. 2017.

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Processo tecnológico e a Psicologia Social do século XXI

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Nem sempre ciência e tecnologia andaram juntas. Somente a partir do século XIX que o avanço tecnológico passou a fazer uso de conhecimentos científicos. Desde então, ambas se complementam, contribuindo uma com a outra e causando grandes impactos no ambiente global (PIRRÓ apud LONGO, 2007).

Pode-se afirmar que o ser humano sempre utilizou a tecnologia a seu favor, sendo as ferramentas utilizadas por seus ancestrais as mais primitivas, voltadas principalmente para a alimentação. A utilização de técnicas e tecnologias sempre influenciou o homem em todas as suas esferas, inclusive, intensificando seus conhecimentos e as trocas sociais. Saindo da sociedade primitiva e adentrando na sociedade atual, percebe-se uma grande massificação no uso da internet e outras tecnologias que afetam principalmente a comunicação. Isso porque não há comunicação mais natural do que aquela que ocorre “cara a cara” (VIDAL, 2009).

Fonte: http://zip.net/bktD1p
Fonte: http://zip.net/bktD1p

A comunicação mediada por tecnologias requer um esforço cognitivo maior do que aquela feita pessoalmente. Entretanto, as experiências vivenciadas no meio social ajudam na compreensão do uso destes aparatos, uma vez que é o contexto vigente e logo se faz necessário aprender a conviver nele. Ou seja, o ser humano é preparado biologicamente para se adaptar as transformações de seu meio, inclusive as transformações do processo tecnológico, e desta forma, um influencia o outro (KNOCK apud LONGO, 2001).

No estudo de Psicologia Social, sabe-se que o objeto principal de estudo são as interações entre os indivíduos de uma sociedade. O século atual demanda também que se estudem estas interações no meio tecnológico. Segundo Strauss (apud LONGO, 2007), real e virtual são apenas dois nomes diferentes, mas ambas retratam uma realidade. A grande preocupação atual sobre as relações está em reconhecer como elas estão se dando, de forma a aproximar quem está longe e afastar os próximos.

Fonte: http://zip.net/bltDspCopiar
Fonte: http://zip.net/bltDspCopiar

Neste caso, o que deve ser observado é o real/virtual/presencial, sabendo que esses se interconectam e é a forma que as sociedades do século XXI usam para se comunicarem, produzirem conhecimento e deixarem seu legado. Portanto, a tomada de consciência é importante nesse processo.É preciso entender que esta é a realidade de agora e que não precisa ser vista como um mal, mas sim, como algo que possa ser desenvolvido da melhor maneira possível, sendo usada a favor da sociedade e dos seus indivíduos (VIDAL, 2009).

REFERÊNCIAS:

LONGO, W. P. E. Alguns impactos sociais do desenvolvimento científico e tecnológico. DataGramaZero, v. 8, n. 1, p. 0-0, 2007. Disponível em: <http://www.brapci.ufpr.br/brapci/v/a/4297>. Acesso em: 29 Jan. 2017.

VIDAL, M.  A influência das inovações tecnológicas sobre o comportamento humano. Psicologia&Atualidades, 2013.Disponível em: <http://monicavidalpsi.blogspot.com.br/2013/08/a-influencia-das-inovacoes-tecnologicas.html>. Acesso em: 29 Jan 2017.

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Caiu na Net: a intimidade (des)velada

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Já vai longe o tempo em que o namorado pedia à namorada que se entregasse a ele como prova de amor e, consumado o ato, em que muitas vezes uma virgindade era perdida, a despachava acusando-a como uma mulher sem vergonha.

Hoje, os namorados, as paqueras, ou as simples aventuras passageiras, pedem uma mostra (não necessariamente de amor) em formato digital: que se mostre os peitos na webcam, que se grave uma cena de sexo na câmera do celular, que se masturbe em frente à tela em uma troca de estímulos sexuais. E que se f… o mundo depois, ao que parece.

Sim, porque quando se trata de troca de informações comprometedoras na rede, e especialmente quando estas estão na forma de vídeos ou fotos, não é o céu que é o limite. É o inferno. O inferno em que se transforma a vida das pessoas vítimas deste processo. Inferno este que às vezes se torna insuportável.

“’Não tenho mais vida’, diz Fran sobre vídeo íntimo”.

“Vídeo íntimo vaza no WhatsApp e menina se mata no Piauí”.

“Mais uma jovem se mata após divulgação de imagens íntimas”.

Já vai longe o tempo em que os pais tinham que ensinar os filhos a não aceitar carona de estranhos, a não receber doces de pessoas desconhecidas, a desconfiar de quem chegasse perto com “conversas bobas”.

Hoje é tarefa dos pais alertar sobre os perigos que existem do outro lado da tela do computador, do notebook, do celular. Se antes não havia criança, adolescente ou jovem que não saísse de casa sem antes receber um sem número de recomendações, hoje se deve encher de alertas as mesmas crianças, adolescentes e jovens antes de saírem navegando pelo mundo da internet.

Não é uma questão somente de discutir os benefícios e malefícios da grande rede e sim de lembrar que: independente do quanto se concordasse ou não com a ida de um adolescente às antigas matinês, este só saia de casa muito bem recomendado (e põe recomendado nisso); independente do quanto se julgasse válida ou não a participação das crianças nas brincadeiras de rua, não havia um adulto que deixasse de passar inúmeras lições para a criança sobre as maldades do mundo antes delas saírem para a pracinha; independente do quanto se aceitasse ou não a necessidade dos jovens de se aventurar em acampamentos  com sua turma, estes só tinham a permissão concedida após severas instruções.

Se as crianças, os adolescentes ou os jovens aceitavam e seguiam as recomendações, aí são outros quinhentos, mas que iam sendo preparados para os perigos que se avizinhavam, ah, isso iam.

E por que agora os pais não fazem o mesmo em relação aos perigos advindos do mundo virtual? Simples. Porque, se antes os pais estavam tarimbados por experiências próprias, ou vividas por seus pais, seus avós, seus tios, em um mundo que evoluía constantemente, porém de forma paulatina, hoje eles se deparam com um novo enredo do qual parece que eles não fazem parte. Se os pais quase nada ensinam aos seus filhos sobre os perigos da rede é porque, simplesmente, eles quase nada sabem.

Até podemos, nós que estamos aqui defronte a este texto na internet, afirmar que essa é uma situação que já está mais do que batida e que todos já deviam ser “espertos” quanto a isso. Entretanto, vale lembrar que grande parte das pessoas que estão ao nosso redor não chega a ter o mesmo acesso que temos aos avanços tecnológicos e podem até ser consideradas analfabetas no que tange a sua relação com o meio virtual.

Poderíamos, então, responsabilizar os próprios jovens pela irresponsabilidade dos atos que acabam levando a estas situações. Afinal, quem, dos próprios jovens, nunca ouviu falar de um ou outro caso que “caiu na net”? E aí tem a questão: se mesmo sendo os jovens fartamente informados em casa, na mídia, nas escolas, sobre os perigos da falta de prevenção nas relações sexuais, ainda vemos uma quantidade enorme de gravidezes indesejadas e o avanço de algumas doenças sexualmente transmissíveis, o que se pode dizer sobre uma situação da qual ainda pouco se discute?

Chega-se,então, ao que parece ser o cerne da questão: o que há é uma grande desinformação, que também pode ser entendida como uma grande ausência de discussão sobre o pouco de informação que existe.

E o pouco de informação que existe já daria pano pra manga em termos de discussões.

Em um primeiro momento, deve-se considerar que o que existe no mundo virtual é muito real. Se está lá, ainda que virtualmente, é porque existe. E, se existe, pode ser guardado, transmitido, publicado, compartilhado, curtido em um tão grande número de vezes que se torna praticamente impossível ter domínio sobre o alcance de sua existência. Se algo vai parar na rede dificilmente sairá de lá, por mais que se deseje e se tente, inclusive por meios legais. Um juiz pode até determinar que se retire uma determinada informação da internet e ela pode até parecer ter sumido, mas com certeza ela existirá, adormecida, como um arquivo em algum HD, pronta para, a qualquer instante, acordar e voltar a se mostrar ao mundo.

Outro ponto a ser apresentado é a inexistência de lugar seguro para se deixar alguma informação confidencial. Aquele vídeo existe somente em seu celular, mas seu celular pode ser perdido, roubado, ou até mesmo simplesmente emprestado a um amigo por alguns segundinhos. Aquelas fotos estão em um arquivo secreto guardado em uma pasta secreta em um ponto secreto do HD de seu computador que, veja só, foi parar no conserto e justamente nas mãos de alguém um tanto quanto inescrupuloso. Aquelas outras imagens ficaram guardadas em seu mail, do qual só você tem a senha, que por acaso é a data de seu aniversário. E assim, fácil, fácil o que era confidencial vira de domínio público.

Também se pode discutir a confiança no outro. Ah, mas pode-se dizer que é apenas um vídeo que você vai mandar somente pro teu namorado e ele te ama. Bom, pode até existir namorado que, ao terminar o relacionamento, devolve os presentes recebidos, mas vídeos enviados… ah, estes não são apagados (e têm uma grande tendência a se disseminarem facilmente). E aquele sua apresentação ao vivo para a pessoa amada? Ela pode estar sendo gravada e, o que era ao vivo, vira um arquivo que correrá por muitos computadores muito tempo após a sua primeira exibição, aquela mesma que você julgava que era só para quem você amava.

Mas a lei me protege, podem julgar os mais ingênuos. E até protege, é claro, mas somente até um certo ponto. Quando o vídeo é distribuído por alguém que teve relacionamento com a vítima, este pode, segundo alguns juristas, ser processado por difamação com base na Lei Maria da Penha porque existiu uma relação de afeto entre vítima e autor. No caso em que as imagens divulgadas foram roubadas de alguma forma pode-se aplicar a Lei 12.737/12, também conhecida como “Lei Carolina Dieckmann”, referência à atriz que teve fotos nuas divulgada na internet. Mas aí as imagens já se espalharam por toda a rede e, como já dito, dali não tem mais como sair; o estrago já foi feito.

E ainda há o grande grau de hipocrisia da nossa sociedade que prefere julgar e condenar as vítimas destas divulgações a procurar entender o conjunto de situações envolvidas.

Enfim, há um sem número de questões ainda a serem consideradas e, especialmente, disseminadas, discutidas e debatidas. E é somente este processo que possibilitará que se amplie o conhecimento sobre os riscos envolvidos em tudo o que tange a questão da privacidade na grande rede. Conhecimento este que deve ser alvo da atenção e do debate em casa, nas escolas e, especialmente, nas próprias redes sociais, para que nos tornemos não os disseminadores destas imagens e sim das informações que poderão tornar estas situações casos cada vez mais isolados. E não tenhamos que ler mais manchetes como estas:

“’Não tenho mais vida’, diz Fran sobre vídeo íntimo”.

“Vídeo íntimo vaza no WhatsApp e menina se mata no Piauí”.

“Mais uma jovem se mata após divulgação de imagens íntimas”.

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Mulheres Modernas: Relacionamento Virtual, por que não?

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Sempre afirmei que Mulheres Modernas não se limitam a estereótipos. Elas são vanguardistas na sua essência, pois quebram regras, possuem atitude e adoram desafios, principalmente no âmbito do desconhecido.  Encantam-se pelo  mistério.

Por isso, o fascínio pelo virtual seja  um tempero a mais na vida dessas mulheres. Não porque sejam carentes ou irresponsáveis, contudo a  sedução pelo enigmático mundo in ausência representa convite desafiador. E convenhamos que, na contemporaneidade, não acontecem  mais  os saraus românticos retratados nas obras de José de Alencar. Ocasiões em que havia o cortejo às damas e as sutis investidas românticas, na maioria das vezes, arranjadas pelas famílias dos enamorados.

Mulheres Modernas adoram ser cortejadas, mas não se privam de ir à luta da conquista, independente do ambiente ser real ou virtual. Diante desta afirmativa, os relacionamentos virtuais são temática obrigatória nesta série MULHERES MODERNAS. Vamos à narrativa.

Laura sentia-se como um cometa em rota de colisão com o desconhecido. Seus passos se faziam errantes no caminhar da vida que se transfigurava em um túnel escuro e sombrio. Buscava uma saída, uma luz que dissipasse aquele  odor obscuro que exalava dos sentimentos que sufocavam sua alma. As lembranças do seu passado ainda sangravam com o pulsar de um coração destroçado.

Buscava alguém que lhe fizesse sorrir, não queria amar alucinadamente como outrora, bastava voltar a sorrir. Então, a lembrança da existência das  redes de relacionamento virtual surgiu como uma esperançosa possibilidade. E pensou  “ Por que não?

Caminhou lentamente  para o computador como quem dirige em uma rua escura a procura de um endereço de alguém interessante, porém sem saber  nem o nome da rua e nem o número da casa do procurado. A única certeza que tinha era que estava ali sua possibilidade de voltar a ver graça na vida. Por isso considerou que  importante era não desistir.

Então, viu abrir, diante dos seus olhos cansados, uma janela inusitada que dava entrada para uma sala habitada por pessoas desconhecidas. Eram vários nomes, várias falas. Surgiu o medo “ E se alguém a conhecesse?”.  Por isso, ficou algum tempo parada em frente à janela aberta do computador, somente ouvindo as conversas tão entusiasticamente proferidas pelos presentes. Ouvia, também, o clamor de sua alma suscitando a necessidade de voltar a viver. Sentiu que a vida pulsava naquela sala de bate-papo. Foi quando, em um ímpeto de coragem, pulou a janela e entrou na sala. Ficou, a princípio, no cantinho, sentada timidamente, sem conversar com ninguém.

De repente, sentiu uma aproximação que lhe causou espanto. Leu uma mensagem que dizia em tom que lhe pareceu tão agradável “Olá! Boa noite!” Tc de Palmas?”. Lendo isso, seu coração disparou. Hesitou se daria a resposta . Mas, decidiu que a Contenção e o Medo do novo tinham ficado do lado de fora da sala. Ali, ela estava livre e segura.

 As primeiras palavras proferidas suscitaram uma imensa curiosidade em conhecer aquela pessoa tão conflituosamente tentadora com quem ela passara a conversar virtualmente. Suas primeiras impressões foram tão antagônicas. Ela falava de sentimentos e ele, da razão. Ela discorria sobre sonhos, ele, sobre a concretude da vida. Ela sentia o sangue voltar a correr na direção do seu coração; enquanto ele se mostrava impassível como uma rocha imperiosa que desafiava o mar em noite de fúria. Acredito que, definitivamente, foi essa representação de majestosa fortaleza alicerçada na razão que lhe seduziu e a aprisionou. Afinal, eram o Côncavo e Convexo. Um desafio para a previsibilidade da sua rotina existencial. Não sabia ao certo o porquê, mas tinha a certeza de que precisava vê-lo pessoalmente.

Por isso, quando leu escrito em um cantinho da janela “Vou a Palmas amanhã. Podemos conversar um pouco mais?”, Laura nem percebeu quando suas mãos, involuntariamente, escreveram “Quando chegar, ligue-me para esse número”. Nesse momento, olhou para trás e sentiu que a janela estava se fechando, despediu-se e saiu correndo para pular de volta ao túnel da sua vida que, por uma incrível manobra do destino, pareceu menos escuro e sombrio naquela noite.

Previsivelmente, no outro dia, quando Laura o viu pessoalmente, sua timidez a abraçava tão forte que ela mal conseguia respirar. Isso impulsionava seu coração a bater tão forte, como há muito tempo ela não sentia. Porém, sua instabilidade emocional era contrastada com o equilíbrio que emanava daquele homem tão centrado e racional.  A insegurança de Laura desviava seus olhos somente para o prato com as panquecas bolonhesas cuidadosamente arrumadas sobre a mesa e ela passou a concentrar suas observações sobre aquela delícia da culinária. Observando seu interesse, ele lhe esclareceu que ele era de descendência italiana; as panquecas, não. Essa informação tão descontraída  incitou nossa protagonista a esboçar um sorriso. Foi nesse momento que Laura olhou atentamente  para o rosto daquele homem que saia do mundo virtual e se fazia tão real diante dela com sua presença.

E como ela ficou encantada com o seu estilo de mocinho dos filmes hollywoodianos. Aqueles cabelos para o lado lembraram-lhe dos desenhos do PETER PAN. Como ele era graciosamente encantador.

Como estavam próximos à praia, ele a convidou para um passeio no lago. Sua expressão era toda tão convidativa que Laura só conseguiu dizer “Sim”. Na praia, teve a visão impressionante de uma gôndola azul turquesa que lhes esperava ancorada em plena Praia da Graciosa. Só podia ser um sonho porque ela parecia voar, não sentia a areia debaixo dos meus pés. Só, então, percebeu que ele a carregava nos braços. Sentiu a proximidade do  corpo dele como uma descida em uma montanha russa, uma sensação perigosamente alucinante. Ele direcionava a gôndola como um maestro conduz a sinfonia de desejos das noites das paixões mais avassaladoras. Tocou sua mão e lhe convidou para dançar, ali, no limite entre a mansidão do rio e a infinitude do céu. Seus braços  enlaçaram levemente sua cintura, permitindo com que, em determinado momento, tornassem-se um só corpo, em um êxtase de loucura que lhe fez delirar, pois Laura sentiu que tocava as estrelas. Descansou seu corpo nos braços sedutores dos prazeres proibidos.

Percebeu, nesse momento, que a gôndola ancorava novamente na praia. Um olhar com tempo de eternidade foi a sua despedida. Não houve promessas, planos para o futuro ou confissões de amantes. Contudo, Laura descobriu que há relações que são indizíveis por palavras. Vivenciadas somente pelos mistérios do coração. Talvez seja por isso que todas as vezes que ela lhe envia  mensagens por meio de janelas tão distantes, ela sente que está em Vênus e ele, em MARTE. Contudo se orbitam no mesmo espaço, seus futuros encontros são inevitáveis Embora vivam a anos luz de distância.

Para quem está triste com o final dessa história, finalizo com os versos de Vinícius de Moraes “que seja eterno enquanto dure”. A mulher moderna importa-se com o tempo, porém mais relevante é a intensidade dos momentos vividos. Frieza? Não! MODERNIDADE!

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