Vygostky e a medicalização na educação básica

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Vygotsky ocupou-se das demandas políticas de seu tempo, e mergulhou na vida acadêmica para produzir uma psicologia de base marxista, que atendesse a criação de um novo homem

Lev Semenovich Vygotsky nascido na cidade de Orsha (1896), Rússia, morreu com apenas 38 anos em Moscou (1934). Formado em Direito, História e Filosofia nas Universidades de Moscou e A. L. Shanyavskii. Com essas informações de sua história percebe-se o que possivelmente induziu a sua produção e exercício: a Revolução Russa de 1917 e o percurso de solidez que se sucede. Vygotsky é um marxista e procura instrumentar uma Psicologia com essas qualidades (OLIVEIRA, 1993).

Para ele, o indivíduo é algo que se transforma no contato com o sociocultural, entendendo a necessidade desse contato com outro indivíduo. Acreditava que essa construção se dava na interação entre o indivíduo com os outros em sua volta. Desse modo, a pessoa se molda a partir do contato com o seu meio e vice-versa. Assim, esse interagir de cada indivíduo com o seu meio, essa vivência única de cada um, é primordial a ele. E com isso, a metodologia de aprendizagem de Vygotsky teve a nomenclatura socioconstrutivismo com eixos de foco na aprendizagem e ciclo vital. Assim seu trabalho pesou na desconstrução de paradigmas anteriores em metodologias pedagógicas existentes.

Esse olhar social é capaz de determinar o desenvolvimento cognitivo e o especialista deve traçar respostas favoráveis impostas pela subjetividade do ensino na sala, no qual o profissional utiliza essa ciência na construção do ensino-aprendizagem, sendo perceptível a visualização, no trajeto do ciclo infantil, o progresso na mostra do pensar e de se expressar desse indivíduo podendo ser verbal ou não (MOREIRA, 1995).

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Os fundamentos de Vygotsky trabalham com as primícias do homem no mais substancial, a criatividade, a autonomia, o estar desse indivíduo nesse processo e não enxergando só como algo aleatório, mas como um ser pensante. A educação faz parte de todos os aspectos gerais na construção de alguém e de uma sociedade. Desta forma, esse trabalho pretende trazer a visão da abordagem de Vygotsky e a medicalização infantil dentro do contexto da educação básica e das práticas educacionais brasileiras, para o trabalho do psicólogo na Psicologia da Aprendizagem.

Vygotsky

Vygotsky ocupou-se das demandas políticas de seu tempo, e mergulhou na vida acadêmica para produzir uma psicologia de base marxista, que atendesse a criação de um novo homem, de uma nova sociedade e de uma nova educação. Foi assim que nasceu o que hoje conhecemos como teoria histórico-cultural (BORTOLANZA; RINGEL, 2016). A escola de Vygotsky formada por Luria, Leontiev e Vygotsky, apresenta o contexto histórico-cultural na constituição do ser humano como ser social.

Décadas antes de se tornar conhecido como o homem que ao unir marxismo e psicologia criou a teoria histórico-cultural, o menino Lev Semenovich nasceu a 17 de novembro de 1896, em uma pequena cidade provinciana, conhecida por Orsha, ainda bebê, mudou com a família para a cidade de Gomel, onde viveu por um longo período, na companhia de seus pais e de seus sete irmãos (REGO, 1995).

Vygotsky, de origem judaica, cresceu com sua família com situação econômica estável no que diz respeito ao aspecto econômico, o que possibilitou a valorização da educação, propiciando-lhe um ambiente desafiador em termos intelectuais (BORTOLANZA; RINGEL, 2016). Seu pai trabalhava em um banco e em uma companhia de seguros. Sua mãe professora formada, falava vários idiomas, dedicou grande parte da sua vida à criação dos filhos (BORTOLANZA; RINGEL, 2016).

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Vygotsky passou a frequentar aulas de História e de Filosofia na Universidade Popular de Shaniavski, onde embora não tenha recebido nenhum título acadêmico, aprofundou seus estudos em psicologia, filosofia e literatura, o que foi de grande importância em sua vida profissional posterior (OLIVEIRA, 1993). Concomitantemente aos seus estudos na Universidade Popular Shaniavski, Vygotsky seguiu o curso de Direito na Universidade de Moscou, e formou-se no ano de 1917.

No fim de 1917, Vygotsky retorna a Gomel, “onde assumiu vários trabalhos, como: lecionando Literatura Russa em escolas, Psicologia Geral, Infantil e Pedagógica nos cursos técnicos de pedagogia e, também, se dedicando às atividades culturais” (PUENTES; LONGAREZI, 2013, p. 54). Em Gomel, Vygotsky entra em contato com uma nova realidade. Com seu trabalho na escola de formação de professores, lhe colocou em contato com os problemas de crianças com defeitos congênitos – cegueira, surdez, retardamento mental – o que estimulou a descobrir maneiras de ajudar tais crianças a desenvolver suas potencialidades individuais. Foi ao procurar respostas para estes problemas que se interessou pelo trabalho dos psicólogos acadêmicos (LURIA, 1988).

A teoria histórico-cultural, popularmente conhecida como escola de Vygotsky, constitui-se como uma vertente da psicologia que se desenvolvia na União Soviética, no início do século XX. Essa corrente de pensamento foi denominada histórico-cultural, por seus autores, ao partir do pressuposto de que o homem é um ser de natureza social. Admitia a origem animal do homem, sendo que cada um com suas especificidades frente aos outros animais (MELLO, 2008).

A aprendizagem é uma vivência do meio que os cerca, sendo conectada pelo uso de instrumentos e signos. Entendendo os aspectos socioculturais de cada indivíduo, onde acontece a junção da fala e do comportamento. Um signo então, diz ser um significado de alguma coisa para a pessoa, como o dialeto falado e escrito. Esse intermédio entre pessoas, disponibiliza a construção de novos repertórios e de saberes (MOREIRA, 1995).

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Para Vygotsky, esse progresso cognitivo do aluno acontece pelas vivências sociais, assim sendo, pela relação com outras pessoas e com o ambiente em sua volta. De tal modos que, para a substancialidade acontecer precise pelo menos o envolvimento de duas pessoas fazendo trocas de vivências e saberes (MOREIRA, 1995).

Para que a aprendizagem ocorra, a relação social tem que ser dentro da zona de desenvolvimento proximal (ZDP), sendo ao trajeto a percorrer daquilo que existe para o que se sabe, seu saber de fato, e o que se tem disponibilidade interna para aprender, sua potencialidade de inteligência. Desse modo, a aprendizagem ocorre na pausa da ZDP, onde a inteligência real é a que o indivíduo consegue fazer só, e a potencialidade é aquela que ele precise de ajuda de outros para fazer (MOREIRA, 1995).

O papel do professor é de fazer a mediação da aprendizagem e traçando conteúdos que sejam capazes de levar o aluno a potencialidades de saberes de maneira independente dos outros e o estimule nessa construção de saberes, assim criando uma nova ZDP a todo instante. O professor por sua vez, estimula através de trabalhos em grupos e fazendo a junção com técnicas motivacionais, intermediando a aprendizagem e diminuindo sensações de exclusão do aluno (MOREIRA, 1955).

Mas este professor deve sempre estar em observações constantes, para entender melhor a cada aluno, com estratégias que sejam capazes de construir mais vivências e saberes em grupo com interação ativa e cooperativa desse grupo. Essa estratégia de metodologia possibilita novos meios de atuação, parceria e imutáveis estímulos (MOREIRA, 1995).

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Educação Básica

A educação básica é um nível de ensino que corresponde aos primeiros anos da educação escolar. De acordo com a Classificação Internacional Normalizada da Educação (ISCED), a educação básica inclui no primeiro estágio ou educação primária a aprendizagem básica da leitura, da escrita e das operações matemáticas simples; e no segundo estágio ou ensino secundário inferior corresponde à consolidação da leitura e da escrita e às aprendizagens básicas na área da língua materna, história e compreensão do meio social. Já no ensino secundário superior são lecionados conteúdos associados às áreas vocacionais e de preparo para o mercado de trabalho e o ensino superior (ALVAREZ, 2015).

A Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança, aprovada pela UNICEF e a Assembleia Geral das Nações Unidas em 1989, estabelece a educação básica como um dos direitos das crianças, estabelecendo os padrões mínimos de educação. A oferta da educação básica universal é considerada como uma das principais prioridades para iniciar o processo de mudança social e de desenvolvimento sustentado dos países em vias de desenvolvimento, sendo por isso o objetivo do programa Educação para Todos (Education For All) patrocinado pela UNESCO.

A Constituição Federal Brasileira de 1988 traz a ideia de educação como direito de todos e dever do Estado e da família. Mas, é com a lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional que se define a grade curricular, a divisão dos níveis escolares, a formação dos profissionais da educação e a distribuição de recursos financeiros educacionais. A constituição federal garante o direito à educação a todos através do ensino público, obrigatório e gratuito.

Outras leis importantes para a Educação brasileira que podemos citar são: Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8069/90; Lei nº 10.098/94 que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências; Lei nº 10.436 de 2002 que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais, Lei nº 7.853 de 1989 sobre apoio às pessoas portadoras de deficiência, Lei 10.172 de 2001, conhecida como Plano Nacional de Educação, consoante art. 9º inciso I da LDB e Lei 9131 de 1995 que criou o Conselho Nacional de Educação (CNE), órgão responsável por auxiliar o Ministério da Educação na formulação e avaliação da política nacional de educação;(SERENNA, 2019)

Fonte: encurtador.com.br/bjKZ5

A lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional também estabelece a coordenação do Ministério da Educação, sobre a educação básica brasileira, colaborando com a união, os estados e os municípios. É competência da união elaborar o plano nacional de educação e a elaboração de diretrizes para educação básica. Pela lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional as escolas possuem autonomia e são responsáveis por criar o projeto pedagógico, bem como administrar equipe de colaboradores e recursos financeiros. Garantindo assim a autonomia em métodos a cada instituição escolar. É importante ressaltar que a responsabilidade pela Educação não é somente do Estado, mas também da família e da sociedade.

Educação Básica No Brasil

No Brasil, a educação básica compreende a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio, e tem duração ideal de dezoito anos. É durante este período de vida escolar que se toma posse dos conhecimentos mínimos necessários para uma cidadania e serve também para tomada de consciência sobre o futuro profissional e área do conhecimento que melhor se adapte.

Primeiro estágio é destinado a crianças de cinco a onze anos, caracteriza-se por proporcionar destrezas básicas em leitura, escrita e matemática, além de formar uma base para a compreensão das áreas essenciais do conhecimento, incluindo o desenvolvimento pessoal e social dos estudantes. O segundo estágio normalmente destinado a adolescentes de doze a quinze anos, caracteriza-se por aplicar um modelo mais orientado por disciplinas, como física, química, biologia, história, geografia, com a finalidade de introduzir conceitos teóricos sobre uma ampla gama de temas.

Alguns sistemas educativos oferecem também programas vocacionais orientados a desenvolver habilidades pessoais para o acesso ao mercado de trabalho. Como exemplo destes temos as escolas de ensino médio que oferecem curso técnico profissional integrado. A segunda parte do ensino secundário é destinado a adolescentes de quinze a dezoito anos. Caracteriza-se por consolidar a educação secundária com instrução mais diversificada, avançada e especialista, visando à preparação para Educação Superior, ou proporcionando destrezas para a formação profissional de nível médio.

Fonte: encurtador.com.br/eHT24

Medicalização Na Educação

O termo “medicalização” refere-se ao processo de converter questões não médicas, eminentemente de origem social e política, em questões médicas, isto é, tentar encontrar no campo médico as causas e soluções para problemas dessa natureza (COLLARES e MOYSÉS, 1994).Na atualidade, a medicalização das manifestações humanas tem se expandido no Brasil e em outros países em diferentes áreas, saúde, estética, educação, administração, esporte, direito, etc. Em consonância com essa expansão, tal fenômeno tem sido pautado em diversos âmbitos, como na ciência, pesquisa, política, mídia (impressa, eletrônica, televisiva), enfim na sociedade em geral (RIBEIRO, 2014)

Atualmente, verifica-se um aumento do número de diagnósticos médicos e de subsequente ingestão de medicamentos por crianças e jovens em idade escolar, o que reflete uma crescente medicalização em particular, da educação. Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, transtorno desafiador opositivo, transtorno obsessivo compulsivo e mesmo obesidade e dislexia constituem uma parte substan­cial das patologias ou distúrbios que ocupam as salas de aula das escolas (PAIS, MENEZES e NUNES. 2016).

Queixas a partir das quais ocorrem encaminhamentos de alunos a clínicas de saúde estão, em geral, relacionadas a questões comportamentais, de atenção e de aprendizagem. Prioritariamente formuladas por professores, tais queixas referem-se a alunos que: “não conseguem permanecer sentados por muito tempo”; “pedem para sair da sala constantemente”; “mostram-se distraídos”; “não se engajam nas atividades”; “não copiam do quadro”; “têm inscritas em que faltam letras”; “cujos textos não têm sentido”; “têm dificuldades para aprender”; “não conseguem ler”; “são agressivos”, “não aceitam regras” etc. Esses relatos acabam sustentando diagnósticos, indicação de tratamentos, e, muitas vezes, prescrição de medicamentos para o controle dos sinais que se manifestam em sala de aula (SIGNOR, 2013).

Fonte: https://www.pensarcontemporaneo.com/1641-2/

O Brasil é citado como o segundo maior consumidor mundial de metilfenidato (IBUM,2012). Medicamento que tem por finalidade controlar a atenção e o comportamento. E mesmo consumindo esse medicamento de forma expressiva, o índice de dificuldade de aprendizagem é absurdo. O que leva o questionamento sobre não somente a parte biológica comprometida, mas o contexto social, a qual essa criança está inserida.

No contexto escolar essa ideia contribui com o pensamento equivocado de que crianças são geradoras do seu próprio fracasso escolar, pois carregam algum tipo de distúrbio ou problema que atrapalha o processo de aprendizagem. Esse discurso de que problemas de saúde são as causas de grande parte do fracasso escolar faz com que problemas maiores sejam encobertos, tornando mais fácil culpar a criança, parte mais vulnerável, do que criar novas práticas e estratégicas pedagógicas para melhorar o ensino (NEGREIROS  et al., 2016).

O TDAH – Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade é um diagnóstico exemplo destas problematizações que vem sendo bastante discutido. Descrito pela grande maioria das pesquisas atuais como um dos transtornos neuropsiquiátricos mais comuns à infância, com hipóteses de que afetaria cerca de 7% da população mundial, teria como tratamento, muitas vezes único e exclusivo, a prescrição de psicofármacos. Suas características, seriam marcadas pela tríade desatenção, hiperatividade e/ou impulsividade, aspectos que supostamente assumiram formas combinadas ou separadas. No entanto, a popularização do termo “criança hiperativa” passou a preocupar muitos estudiosos que questionam suas bases biológicas e seu tratamento medicamentoso e denunciam a banalização deste diagnóstico para a infância contemporânea (CRUZ  et al., 2016).

Fonte: encurtador.com.br/duxyI

O fato é que os problemas de comportamento, aprendizagem e de atenção nem sempre são sintomas de algum distúrbio e podem estar relacionadas ao método de ensino. Conforme Vygotsky (2004), a cognição se constitui na interação, é por meio do olhar do outro (o professor) que a criança se torna “atenta” ou “desatenta”, “ativa” ou “hiperativa”, “boa” ou “má” aprendiz. Assim, o sintoma pode (ou não) ser produzido a depender do contexto interacional. Há de se entender, nessa direção, a relevância da afetividade para o desenvolvimento da criança na escola. O sujeito responde às interações nas quais está inserido; responde de forma favorável às interações que propiciam o desenvolvimento e a aprendizagem e de forma opositiva às interações desfavoráveis.

De acordo com Vygotsky (2010), “toda a aprendizagem só é possível na medida em que se baseia no próprio interesse da criança. Outra aprendizagem não existe”. Ainda segundo o autor, a atenção infantil é orientada e dirigida quase exclusivamente pelo interesse, e por isso a causa natural da distração da criança é sempre a falta de coincidência de duas linhas na questão pedagógica: do interesse propriamente dito e daquelas ocupações que são propostas como obrigatórias.

Para Vygotsky (2010), se na criança foram criadas formas antissociais de comportamento, a regra para a reversão do problema é justamente o contrário daquela aplicada aos infratores das leis na sociedade, onde a medida é a exclusão do meio social: “Ali, é ínfima a preocupação com a personalidade do próprio infrator, e tudo se volta para neutralizá-lo e proteger o meio de sua influência”. Na escola, assegura o autor, a regra é distinta; isto é, a regra é o contato social mais estreito, pois é na convivência mediada que as crianças desenvolvem capacidades ligadas à criação e manutenção de laços afetivos.

Fonte: encurtador.com.br/fqvGR

A contradição de Vygotsky a esses pensamentos medicalistas, evidencia então a existência de diferentes formas de interpretação da realidade e mostra que há a necessidade de uma profunda reflexão sobre os problemas que se apresentam em relação à escola brasileira. Tal reflexão possibilitaria uma revisão crítica de nossas representações sobre o homem, a sociedade que queremos construir, o papel do Estado e da escola, o processo de produção de conhecimentos, a relação família-escola, os valores que a escola não pode se eximir de trabalhar com seus alunos, enfim, seria um processo que possibilitaria uma ampla ressignificação de nossos referenciais políticos e ideológicos (SIGNOR  et al., 2017).

CONCLUSÃO

As questões aqui expostas apontam para as contribuições de Vygotsky na educação básica, tendo como enfoque sua teoria histórico cultural e as reflexões da medicalização infantil. O autor da teoria apresenta o sujeito como um ser de natureza social, ora produtor da sua cultura, ora produto de suas internalizações. De maneira que o contato do ser humano com o outro produz transformação no mesmo. Cabe acrescentar nesse meio que, os acontecimentos básicos que fundamentaram o surgimento da educação básica hoje asseguram o indivíduo do direito de receber um ensino justo e gratuito. O que possibilita novas interações dentro de um contexto escolar, e conforme tais relações forem estabelecidas propiciará ou não a aprendizagem.

 Essa interação no âmbito escolar tem exposto alguns conflitos entre professores e alunos, no que diz respeito aos comportamentos apresentados, visto como “comportamentos problemas”. Graças à busca por soluções milagrosas que possam sanar as dificuldades da vida é que inúmeras crianças são medicalizadas nas instituições de educação. Professores depositam essa incumbência na ciência médica, mas o problema, na maioria das vezes, tem outro caráter. A educação sofre influência de déficits não orgânicos, mas econômicos e sociais, como o baixo incentivo, salas lotadas, desvalorização da atuação profissional, além de cursos despreparados para formação de profissionais qualificados, entre inúmeros outros.

Fonte: encurtador.com.br/fqxHO

A partir desses levantamentos há de se entender de acordo com a teoria socioconstrutivista, a relevância da afetividade para o desenvolvimento da criança na escola. De modo que a atenção é orientada pelo interesse, e culpar, diagnosticar, medicalizar a criança é caminho mais curto e fácil para “solucionar” os possíveis problemas dentro da educação. Vale conscientizar e refletir sobre as consequências advindas de tais condutas.

REFERÊNCIAS

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VYGOTSKY, Lev Semenovitch. Teoria e método

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“De encontro com a vida” e os desafios de um quase cego

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O filme alemão “De Encontro com a Vida” conta a história de Saliya (Kostja Ullmann), o qual recebeu um terrível diagnóstico quando estava prestes a terminar os estudos. Certo dia, ao se deparar com a percepção de manchas em seu campo visual que foram aparecendo progressivamente, o jovem precisou buscar ajuda para entender o que estava atrapalhando sua visão e por que enxergava tudo embaçado.

Após vários exames, Saliya descobriu que sofria uma doença hereditária grave a qual causou um descolamento da sua retina em um curto período e que perdeu 80% da sua capacidade visual. Além disso, seu nervo óptico sofreu danos e ficou impossibilitado de transmitir impulsos. A única alternativa foi fazer uma cirurgia, a qual não lhe garantia a cura, mas era a opção mais viável para que ele não ficasse totalmente cego. Feito o procedimento cirúrgico, o rapaz pôde enxergar com apenas 5% da capacidade total.

Desde o início Saliya teve o apoio da mãe e da irmã, a qual lhe ajudou a dar os primeiros passos no enfrentamento dos novos obstáculos. O pai de Saliya sempre demonstrou menosprezo em relação ao filho e agora ainda mais, diante do factível fracasso por não conseguir enxergar, pois “há uma tendência cultural da pessoa vidente considerar este indivíduo como limitado, e, consequentemente, incapaz ou deficiente” (LIRA; SCHILINDWEIN, p.176, 2009). Dessa forma, propôs que o jovem mudasse para uma escola especial, já que ele não era mais uma pessoa “normal”, todavia Saliya estava determinado a continuar, pelo pouco tempo que restava e em razão do sonho de posteriormente estudar gerenciamento de hotéis.

Fonte: encurtador.com.br/luz19

Como a visão de Saliya estava comprometida e considerando que “o organismo dispõe de outras vias que podem suprir ou complementar a via visual” (LIRA; SCHLINDWEIN, p. 173, 2008), ele buscou aprimorar outros sentidos. Todavia, vale ressaltar que para Vigotski (1997, p. 107) a pessoa com deficiência visual não tem sua fonte compensatória no “desenvolvimento do tato ou a maior sutileza do ouvido, mas a linguagem, quer dizer, a utilização da experiência social, a comunicação com os videntes”, o que contraria a perspectiva permeada pelo senso comum. Talvez a dificuldade de Saliya seria muito maior se ele não pudesse contar com sua notável capacidade de memorização, a qual lhe permitia aprender mais facilmente por lembrar-se dos sons, das texturas dos objetos, das falas que ele repetia para si e do cheiro das coisas.

Felizmente o jovem conseguiu a aprovação com exímios resultados e então começou a se candidatar para vagas de aprendiz nos vários hotéis da região, no entanto não era admitido devido à sua deficiência, o que corrobora com a ideia de Lira e Schlindwein (2008), de que ao longo da história, pessoas consideradas “deficientes” e com diferenças visuais como a cegueira, viveram um árduo processo marcado por desvalorização e exclusão social, mas é possível perceber que apesar dos progressos, ainda há muito preconceito. As pessoas duvidavam da sua capacidade. E quando já não havia mais oportunidades, Saliya resolveu tentar novamente, só que dessa vez ele não contou que era praticamente cego e a vaga era em um dos maiores hotéis em Munique.

A irmã de Saliya treinou o rapaz para enfrentar a entrevista de seleção e dava dicas para que seu problema não ficasse tão evidente. Umas das táticas utilizadas era contar os passos e memorizar as direções (direita/esquerda), isso evitava que ele se perdesse ou se acidentasse.

Fonte: encurtador.com.br/kyFMO

No dia de sua entrevista, o rapaz encontrou Max (Jacob Matschenz), o qual se tornou seu parceiro e grande amigo. Max parecia ser de classe média/alta, buscava emprego porque havia reprovado na faculdade duas vezes e seu pai retirou sua mesada. Ele percebeu que havia algo de errado com Saliya, mas só depois descobriu qual era o problema.

Eles precisaram passar por vários módulos nos mais diferentes setores do hotel: serviço de quarto, recepção, cozinha e bar. Apesar de contar com a ajuda do amigo, Saliya passou por alguns constrangimentos e até acidentes no trabalho. Na ocasião, ele estava atuando como auxiliar de cozinha e sofreu um corte no dedo ao manusear uma máquina.

Aos poucos, as pessoas iam percebendo e ao ser interrogado, Saliya confessava sua deficiência. A cada dia aumentava o número de pessoas que davam suporte nas dificuldades do rapaz e o ajudavam a desempenhar um trabalho de qualidade, que tanto era cobrado naquele hotel. Nesse período, o rapaz conheceu Laura (Anna Maria Muhe) uma mulher loira por quem apaixonou-se. Os dois tiveram um romance, mas para ela, Saliya ainda mantinha o segredo.

Fonte: encurtador.com.br/efMQX

Em dado momento, ao visitar a família, foi informado de que seu pai havia lhes abandonado e tirou todo o dinheiro que sua mãe e irmã ainda possuíam. Dessa forma, o rapaz se sentiu-se mais pressionado a cuidar delas e suprir as necessidades enquanto sua mãe procurava emprego. Para aguentar a responsabilidade que assumira e as pressões que sofria durante seu treinamento no hotel, o jovem passou a usar drogas e fazer uso de bebidas alcoólicas o que afetou o seu desempenho nas atividades pois ele tornou-se mais impulsivo e perdia o controle daquilo que estava fazendo.

Certo dia, Saliya se propôs a cuidar do filho de Laura no parque enquanto ela resolvia alguma coisa, mas o menino havia saído de perto do jovem e já não respondia mais quando ele chamava. Saliya entrou em desespero quando percebeu que o menino de 5 anos havia desaparecido. Ao chegar, a mãe do menino pediu que ele ajudasse a procurar, foi então que ele confessou que não podia enxergar. A moça ficou inconformada por ter deixado seu filho sob os cuidados de uma pessoa “cega” e principalmente por não ter tido conhecimento disto antes.

O auge do descontrole se deu porque Saliya havia esquecido que estava escalado para trabalhar em um casamento que ocorreu no restaurante do hotel, mas a sua sorte foi que o atraso não foi notado pelo supervisor. Durante a festa, ao se direcionar para servir os convidados, Saliya tropeçou e derrubou a bandeja quebrando todas as taças ao cair no chão e foi duramente repreendido.

Fonte: encurtador.com.br/BGIOV

Mesmo com o pedido de Max para que ele se ausentasse do serviço e não causasse mais estrago porque estava sob efeito da droga Saliya resolveu continuar, até que pior aconteceu: o jovem esbarrou no bolo e o destruiu por completo causando o maior transtorno na festa. Como resultado, ele seria impedido de fazer o teste final para receber o diploma. Diante do fracasso, Saliya resolveu sair e ficou bêbado a ponto de ser expulso da casa de shows. No caminho de casa caiu de uma escada, ficou ferido e foi socorrido por pessoas que passavam pelo local sendo levado ao hospital.

No hospital, o jovem soube que sua mãe conseguiu emprego e não corria mais risco de perder a casa. Apesar da boa notícia, Saliya estava muito decepcionado com tudo o que lhe ocorrera chegando à conclusão de que não poderia mais lutar contra sua deficiência, e se os hotéis não lhe quisessem, ele iria trabalhar com outra coisa que estivesse dentro de suas condições especiais. O rapaz chegou a visitar uma empresa que oferecia benefícios às pessoas nessa condição, mas não era o que ele gostaria de fazer.

Max encontrou uma maneira de encorajar Saliya, o qual decidiu tentar mais uma vez ao falar com os responsáveis que fariam o teste e pedir que lhes dessem uma última chance de alcançar aquilo que tanto almejava: “A partir de agora vou assumir quem eu sou: um cara que não consegue nada sem os amigos, um cara que está sempre precisando de ajuda por que não consegue enxergar quase nada”. Os supervisores ainda sem acreditar que seria possível, concedeu o direito do jovem de participar do teste.

Fonte: encurtador.com.br/lnwOW

Saliya estava diante da sua maior dificuldade que era pôr a mesa num tempo hábil, com talheres, copos taças e pratos bem posicionados. Com a ajuda de Max, eles estudaram e treinaram bastante e finalmente conseguiram a tão esperada aprovação e o diploma. É importante compreender que “ao assumirem papéis sociais mais visíveis, mais atuantes, a marca da diferença deixa de ser negativa e passa a ser uma característica que define espaços de atuação e valoração” (LIRA; SCHLINDWEIN, p.188, 2008), assim, o jovem fez as pazes com Laura e recebeu uma proposta de emprego no restaurante do seu supervisor, o qual o elogiou por ter um excelente “nariz” para os vinhos.

A ideia do filme foi muito clara e coerente na lição que quis transmitir: de superação, determinação e coragem. Também, percebe-se que para Saliya, o aprendizado mais significativo foi a importância da amizade quando disse: “Se quiser ir rápido, ande sozinho! Mas se quiser ir longe, vá bem acompanhado! E Eu sempre gostei de distância…”.

Estar disposto a ir atrás de seus sonhos não é uma tarefa fácil para a maioria das pessoas, mas Saliya mostrou que mesmo diante do preconceito e de todas as dificuldades inerentes à vida, é possível alcançar aquilo que você deseja. Para isso é importante que você realmente queira e faça acontecer.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

DE ENCONTRO COM A VIDA

Título original: Mit Dem Leben
Direção: Marc Rothemund
Elenco: Kostja Ullmann, Jacob Matschenz, Anna Maria Mühe
País: Alemanha
Ano: 2018
Gênero: Comédia, Romance

REFERÊNCIAS

LIRA, M. C. F de; SCHLINDWEIN, L. M. A Pessoa Cega e a Inclusão: Um Olhar a Partir da Psicologia Histórico-Cultural. Cad. Cedes, Campinas, vol. 28, n. 75, p. 171-190, maio/ago. 2008. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v28n75/v28n75a03.pdf. Acesso em 01 de maio de 2019.

VYGOTSKI, L.S. Obras escogidas: V. Fundamentos de Defectologia. Madrid: Visor, 1997.

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Desenvolvimento e aprendizagem: suas relações e implicações para a prática docente

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O artigo de Marisa Eugênia Melillo Meira apresenta duas divisões e objetiva expor aspectos da modernidade no que se refere à educação de caráter escolar. A primeira tópica do texto aborda as problemáticas, contribuições de Vygotsky e a teoria histórico-cultural referente ao desenvolvimento; aprendizagem e o fracasso escolar, já na segunda tópica do artigo dedica-se a atribuir significância para relações sociais como cruciais ao processo de apropriação do conhecimento e a função do professor para a mediação dessas relações.

A autora introduz o texto de maneira um tanto quanto objetiva, expondo numerosas perspectivas e fatores ambientais que contribuem para a cooperação de um ensino de modo a ser constituído habilidosamente e que realmente proporcione a aprendizagem do alunado, mostrando que a educação exerce uma função imprescindível para a constituição do ser humano. O texto propaga um fator muito nítido que se refere ao fazer do professor e o ensino e/ou fracasso do aluno, tratando a relevância do professor ter entendimento dos aspectos humanos para assim desenvolver estratégias cabíveis, que sejam compatíveis com as peculiaridades do alunos, compreendendo que os conteúdos planejados e desenvolvidos partindo da ótica de Vygotsky necessitam ser equilibrados entre o saber-fazer do aluno e o não saber totalmente. Devendo haver um equilíbrio entre simplicidade e dificuldade dos conteúdos. O professor traça objetivos, mas quem garante que todos aprendem da mesma maneira?

É a partir desse argumento que a autora propõe exteriorizar como a sociedade problematiza e procura sempre a “caça aos culpados”, sempre procurando explanar o fracasso escolar pelo viés da subjetividade, atribuindo toda essa frustração ao organismo do aluno, ao seu desenvolvimento enquanto o vendo como não preparado para a apropriação dos conteúdos concebidos. O desenvolvimento de fato determina o aprendizado? Ora, analisar por essa ótica faz refletir o fato que o ensino só ocorrerá quando aluno estiver preparado, mas se o aprendizado for direcionado somente ao que ao alunado já sabe, não há processo de desenvolvimento, partindo de uma visão vygotskiana.

Fonte: https://goo.gl/8ZAZ11

A teoria histórico-cultural, portanto, deste princípio, não ignora de fato os traços herdados biologicamente, mas elas serão somente base, não determinante para o processo de desenvolvimento, porque este só irá ocorrer a partir das relações, com base na apropriação dos signos. Por isso é fundamental para a consolidação de práticas pedagógicas que potencializam o aluno. Meira (1998) expõe que essa ótica esmiúça e expõe de forma explícita que o desenvolvimento não determina o que pode ou não ser ensinado ao aluno, mas é o seu processo de aprendizado que irá dar suporte para o seu desenvolvimento, enxergando o ser humano como um ser inorgânico.

Vygotsky com seus argumentos postula e expressa que existem maneiras de desenvolvimento, que ele denominou de  Zona de Desenvolvimento Próximo e Zona de Desenvolvimento Atual, a primeira é relativa ao que a criança não consegue edificar sozinha, uma vez que é indispensável a intermediação de outra pessoa, que no processo da aprendizagem escolar é o professor, a segunda  considera o que a criança já consegue realizar sozinha. A passagem entre os dois estágios do desenvolvimento proporciona um salto qualitativo no desenvolvimento.

O artigo nesse sentido disserta acerca das postulações preditas  com os aparatos educacionais, por esta razão anteriormente foi apresentado a necessidade do conhecimento do desenvolvimento humano para a firmeza das práticas pedagógicas benéficas para professor e aluno. Compreender o aluno atrás dessa lente, visa a contribuir para entender que mesmo o aluno não conseguindo realizar uma atividade de maneira só, ele tem a capacidade para fazê-la em um determinado momento em específico, não desvalorizando as potencialidades do alunos.

Fonte: https://goo.gl/Q7xVCo

A autora na segunda fundamentação transmite a significância das relações sociais para o processo de apropriação do conhecimento, para a edificação do homem enquanto tal, repassando a importância da escola para as relações sociais e dialeticamente dessas relações para a escola, por isso no decorrer do artigo torna-se evidente a importância da construção de relações saudáveis tanto para o professor como para o alunado, porque em todas as relações intra sujeitos envolve condutas e valores distintos, pode haver transmissão de fatores que por um lado podem ser benéficos para o sujeito, por outro lado podem ser prejudicial, a título de exemplo relações tóxicas e sem imposição de limites que podem gerar sofrimento para ambos, porque o professor pode perder o  interesse pela sala de aula e o aluno não conseguirá desenvolver aprendizados em contextos hostis, com estimulação aversiva.

O texto contribui para a explanação do professor como um importante mediador das relações dos alunos, visto que o  seu papel não é somente repassar conteúdos, mas fazer com que os alunos apropriem-se de regras; ética e moral que regem uma sociedade em geral, exercendo um papel de transformador da sociedade e moldando comportamentos, mas para isso se tornar realidade é preciso de investimentos e qualificação profissional.

Conclui-se então que por estes e tantos outros argumentos que se poderiam extrair da obra, vale ressaltar novamente que o educador precisa ter a compreensão que cada indivíduo possui uma realidade; uma vida única; vivências e experiências particulares, auxiliam para que constitua a sua singularidade que devem e necessitam ser levadas em consideração no processo ensino-aprendizagem, mas para que essa visão profissional venha a acontecer é preciso ser capacitado para tal. Por isso, o professor deve traçar planos de ensino que sejam cabíveis ao aluno para que ele consiga apropriar-se dos conteúdos, sabendo administrá-lo e usá-lo na vida cotidiana e não somente de grosso modo “passar por cima” deles sem aprender e sem que eles contribuam para o desenvolvimento intelectual do indivíduo.

Fonte: https://goo.gl/FJn39M

Esse texto se apresenta com uma linguagem bastante clara; objetiva e concisa acerca da educação escolar, sendo portanto acessível para quaisquer público, além de possuir vocabulário totalmente atual, sendo dessa maneira uma fonte de conhecimento bastante enriquecedora, além disso, as ideias são colocadas de maneira organizada e facilita a compreensão, não necessitando de leitura prévia e/ou conhecimento aprofundado na teoria histórico-cultural para entender as argumentações postuladas por Vygotsky recolocadas pela autora, porém o texto apresenta um fator negativo, que se refere ao fato de que a autora Marisa Eugênia Melillo Meira aborda de forma bastante resumida as colocações dos autores, especialmente da teoria sócio-histórico, tornando-se uma tanto quanto repetitivo alguns aspectos.

Por outro lado a autora exerce uma posição que não vai de encontro com as ideias comentadas por ela, algo muito positivo para quem o ler. Dirige-se a uma questão bastante discutida na contemporaneidade, fundamentais não somente para os profissionais da educação, mas também para o conhecimento de uma sociedade que tanto avalia o professor como incompetente e o aluno como inapto, a respeito do fracasso escolar, um fator que afeta ambos envolvidos não só momentaneamente, mas que de certa maneira propícia um sofrimento intenso que pode permear toda a vida do aluno e também do professor. Será se a educação consegue chegar ao seu apogeu dessa forma? É uma problemática que deve ser repensada por toda uma população. É por essas e outras que ao longo do texto faz emergir sentimentos de regressão, mas ao tempo também desejo de revolução.

A  obra dessa forma fornece subsídios para o entendimento de uma teoria que se utilizada de maneira adequada pode ajudar a combater essas problemáticas supracitadas, ou seja, a autora coloca o problema e logo sequencialmente expõe um suposto mecanismo de resolução para tal e o professor está como personagem principal. Pensar por esse âmbito faz emergir que a educação depende somente do professor, mas o fato é que ela abrange inúmeras outras questões sociais, políticas e econômicas, ela depende do auxílio de uma sociedade e um poder local para formar profissionais habilidades para exercer sua função de agente transformador.

Fonte: https://goo.gl/DFBf8N

Todavia, os argumentos empregados pela autora consegue tocar o leitor acerca do papel imprescindível do professor para a sociedade, e de fato transmite a sua importância para a  transformação social e para a sua modificação, a escola e o professor são a base de uma sociedade. Em contrapartida, ao analisar o texto pode-se perceber que Vygotsky  diverge de ideias de outros autores, como as ideias impregnadas pelos construtivistas, pelo fato de como define o processo de desenvolvimento e aprendizagem, essa distinção de ambos é muito crucial para o aprofundamentos nas questões educacionais e o modo como fazê-la, porque até então essas duas teorias confundem-se e não analisada de forma conjunta.

 A autora nesse sentido traz uma uma grande contribuição  para questões que fazem emergir acerca da educação, auxiliando e cooperando vantajosamente para os  estudos da Psicologia da Aprendizagem, facilitando e aumentando o aprimoramento do conhecimento. Texto é bastante recomendável para profissionais e estudantes da área de Psicologia; para todos da área da educação e em especial da educação infantil, os pontos que podem chamar a atenção do leitor seja  provavelmente  relativo a teoria histórico-cultural e brevemente da importância das relações sociais.

De fato é uma leitura que traz reflexão acerca dos inúmeros desafios vivenciados pelo professor, mas também considerando o lado do aluno nesse processo de aprendizagem. A cooperação de ambas constitui uma sociedade democrática, solidária e igualitária.

Fonte: https://goo.gl/VbGxsw

Sobre a autora do artigo que pautou a discussão:

Fonte: https://goo.gl/mp7ofE

Marisa Eugênia Melillo Meira é escritora do artigo resenhado, possui mestrado em Educação pela PUC-SP, graduação em Psicologia, doutorado em educação e desenvolvimento humano pela Universidade de São Paulo – USP, especialista em Psicologia da Educação pelo Conselho Federal de Psicologia e atualmente trabalha como professora assistente doutora na Faculdade de Ciências da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho-UNESP. Escreveu numerosos artigos; livros e a sua principal linha de pesquisa refere-se a instrumentos pedagógicos (http://lattes.cnpq.br/5377992020345022).

 

Referência:

MEIRA, M.E.M.. Desenvolvimento e aprendizagem: reflexões sobre as suas relações e implicações para a prática docente. São Paulo, 1998, vol.5, n.2, pp.61-70.

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Desafios éticos na ludoterapia

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A infância é um processo dialético, isto é, passível de transformações e mudanças, e para que ocorram essas modificações a criança passa por várias fases e em cada uma delas a mesma ocupa diferentes lugares nas relações humanas. (VYGOTSKI, apud ARCE, 2004). ALudoterapia é um procedimento psicoterápico para tratamento infantil, através da ação de brincar, usando brincadeiras, jogos, brinquedos, os quais a criança brincando projeta seu modo de ser.

O terapeuta observa e interpreta suas projeções para compreender seu mundo interno e a dinâmica da sua personalidade. O objetivo da ludoterapia é proporcionar um espaço de construção de novos significados das experiências vividas pelas crianças dentro de um processo de intervenção psicológica. O brincar da criança, de acordo com Vygotsky, possibilita a construção dos signos psicológicos, a apropriação do mundo externo e a construção da representação interna do meio externo.

O CEULP/ULBRA oportuniza o acadêmico de Psicologia entrar em contato com as práticas profissionais do psicólogo,para desenvolver a capacidade de observar, descrever, analisar, interpretar e orientar os problemas de origem psicológica, tais como: cognitivos, emocionais, comportamentais e ecológicos, visando abranger aspectos sócio-político-econômicos, dentro de uma formação generalista.

Fonte: https://bit.ly/2ynweQq

Ao início do processo terapêutico é esclarecido aos pais e responsáveis como se dará o acompanhamento da ludoterapia e como se trata a assistência dos estagiários com as crianças. É colocado que a sala tem um vidro onde todo o atendimento será observado por estagiário do CEULP/ULBRA e é firmado um combinado entre os pais e a professora orientadora quanto a presença das crianças e a procedência diante de faltas.

Também colocado à disposição dos pais a possibilidade de procurar professora orientadora para eventuais conversas sobre os filhos, bem comoencaminhamentos para grupo de orientação de pais, encaminhamento médico, tudo que vá promover a saúde e bem-estar destas crianças, como é previsto no código de ética do profissional psicólogo (2005, p. 8).

“Art. 1º – f) fornecer, a quem de direito, na prestação de serviçospsicológicos,informações concernentes ao trabalho a serrealizado e ao seu objetivo profissional; g) Informar, a quem de direito, os resultados decorrentes da prestação e serviços psicológicos, transmitindo somente o que for necessário para a tomada de decisões que afetem o usuário ou beneficiário; h) Orientar a quem de direito sobre os encaminhamentos apropriados, a partir da prestação de serviços psicológicos, e fornecer, sempre que solicitado, os documentos pertinentes ao bom termo do trabalho; ”

Diante de identificação de casos violência, abuso ou quaisquer outros atos que comprometam a saúde física e mental das crianças, os alunos juntamente com a professora, não devem ficar alheios, fazendo a tomada de decisão de intervenção para o cuidado desta criança. É assegurado ao profissional psicólogo que faça uso de intervenções maiores, como intervenções judiciais e civis para denunciar os atos citados no artigo 2º do código de ética: “Art. 2º – a) praticar ou ser conivente com quaisquer atos que caracterizemnegligência, discriminação, exploração, violência, crueldade ou opressão; ”.

Fonte: https://bit.ly/2JXzNBe

No final do semestre letivo é dever do acadêmico produzir um relatório para a instituição com base no que foi aprendido na prática pré-profissional. Este relatório deve respeitar o código de ética (2005, p.13) no que diz respeito ao sigilo profissional: “Art. 9º – É dever do psicólogo respeitar o sigilo profissionala fim de proteger, por meio da confidencialidade, a intimidadedas pessoas, grupos ou organizações, a que tenhaacesso no exercício profissional. ”

Esta primeira experiência coloca o acadêmico a par da necessidade de respeito que cabe dentro da atuação clínica, mesmo que de início sua atuação tenha sido de observação, o acadêmico aprende a ter um olhar mais seguro de como deve agir dentro de uma psicoterapia em grupo e individual, pois a professora mostra em todos os méritos a melhor forma de agir diante dos casos. A mesma se preocupa com toda a organização do atendimento, desde a roupa que os acadêmicos estarão usando até o contato que eles terão com estas crianças. É uma oportunidade de experiência riquíssima que aproxima os acadêmicos da pratica profissional somado ao aprendizado da conduta ética que o profissional psicólogo deve ter.

REFERÊNCIAS:

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA.LEI NO 5.766: Código de Ética Profissional do Psicólogo. Brasília, 2005. 18 p. Disponível em: <http://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2012/07/codigo-de-etica-psicologia.pdf>. Acesso em: 06 set. 2016.

VIGOTSKY, L.S. A formação social na mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos. São Paulo: Martins Fontes, 1984

Ludoterapia como um Vygotskiano faz. Disponível em: <http://www.ipaf.com.br/arquivos/artigos/ludoterapia.pdf>. Acesso em: 7 set. 2016.

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A aprendizagem também é possível para jovens e adultos

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Entre os requisitos básicos para o desenvolvimento do ser humano, a educação ganha destaque. Entretanto (sabemos), ela não é privilégio de todos. A realidade muitas vezes leva muitas pessoas a abandonarem os estudos, principalmente em decorrência da necessidade de trabalhar em tempo integral. Felizmente, desde o início da década de 40, temos no Brasil a EJA (Educação de Jovens e Adultos), que busca reintegrar esses no processo de ensino-aprendizagem, promovendo educação e desenvolvimento para aqueles que assim desejam, considerando a carga que esses indivíduos já trazem consigo.

Já inseridos na EJA, esses jovens e adultos se encontram frente à necessidade de adaptação ao ambiente já conhecido, porém novo e à integração aos colegas e professores de turma. Vargas e Cardoso (2013) apontam para questões importantes acerca do processo de socialização e como esse auxilia na educação de jovens e adultos. Citam Lev Vygotsky e Paulo Freire, em que ambos concordam que o ser humano é social, histórico e ativo na construção do seu próprio ser, tal como de seu conhecimento e aprendizado.

Fonte: https://goo.gl/kMZbNQ

Segundo Vargas e Gomes (2013), essas perspectivas levam a compreender os jovens e adultos analfabetos e/ou não escolarizados como sujeitos históricos, sociais e culturais, dotados de conhecimentos e experiências acumulados ao longo da vida, e que necessitam da intervenção de instituições culturais capazes de desencadear o desenvolvimento de suas potencialidades. São, portanto, não objetos depositários de conhecimentos, mas sujeitos capazes de construir conhecimento e aprendizado.

A instituição que dispõe o ensino a jovens e adultos, como qualquer outra, possui normas e regras que devem ser cumpridas pelos alunos para que estes concluam o aprendizado. No entanto, tais alunos, por serem jovens e/ou adultos, já possuem uma carga de experiências que, certamente, envolve tudo o que é visto em sala de aula. Portanto, estão ali somente para sistematizar o ensino de modo a tornar conhecido os métodos científicos desse.

Fonte: https://goo.gl/CcKq7V

Mais do que promover o ensino pedagógico, a EJA acaba por promover o uso do conhecimento de vida, em que os indivíduos participantes do processo, através do diálogo, compartilham seus próprios conhecimentos uns com os outros e, dessa forma, cada qual vai formulando sua própria conceituação de mundo e do meio em que se está inserido.

Em uma pesquisa realizada em uma sala de aula de alfabetização de EJA, dando ênfase à história de Antônio, um dos estudantes, buscou-se observar como se dá o processo de interação dos alunos e dos professores. A investigação ocorreu em torno da linguagem, verbal e não verbal, e se ela oferece o suporte necessário para o desenvolvimento do conhecimento acadêmico. Os resultados da pesquisa mostram que Antônio reconhecia a necessidade do conhecimento teórico para o desenvolvimento de suas capacidades e até mesmo de sua identidade, aprimorando seu modo de refletir e pensar sobre problemas e buscar solucioná-los.

Fonte: https://goo.gl/RqiDM8

Fazendo um diálogo desta pesquisa com o pensamento do psicólogo Kurt Lewin de que uma teoria só é boa quando se pode colocá-la na prática, percebe-se que a EJA tem dado muito certo, haja visto que o programa iniciou pela necessidade de conciliar a vida acadêmica com o trabalho de jovens e adultos que abandonaram os estudos antes de concluí-los.

Portanto, sendo colocada em prática essa ideia, é fornecida aos alunos a oportunidade de resgatar seus potenciais e desenvolvê-los, levando em conta não apenas o conhecimento teórico, científico e/ou acadêmico adquirido em sala de aula, mas também valorizando o seu histórico de vida e o conhecimento adquirido por suas experiências, através da convivência e interação com outros sujeitos e o mundo a sua volta, dando maior autonomia para os indivíduos envolvidos no processo.

Referência

VARGAS, Patrícia Guimarães; GOMES, Maria de Fátima Cardoso. Aprendizagem e desenvolvimento de jovens e adultos: novas práticas sociais, novos sentidos. Educ. Pesqui. vol.39 no.2 São Paulo April/June 2013 Epub May 10, 2013. Artigo disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S151797022013000200011#. Data de acesso: 13/05/16.

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A Psicologia Sócio-Histórica na compreensão do Processo Terapêutico

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“Através dos outros, nos tornamos nós mesmos.”
VYGOTSKY

Recentemente, as práticas clínicas de psicologia têm demonstrado grande preocupação e interesse aos aspectos sociais e históricos de seus clientes na psicoterapia.

Essa mudança é resultado da uma nova percepção dos sujeitos, agora como fruto de toda sua construção sociocultural e histórica. E é neste quesito que a abordagem sócio-histórica, que tem como enfoque o materialismo dialético, torna-se válida, por priorizar o indivíduo e sua historicidade.

Partindo do marxismo, a abordagem sócio-histórica fundamenta-se no materialismo histórico e dialético. Assim, o ser humano é concebido como: ativo; social; e histórico. Ratgner (1995) concorda com Vygotsky (1896-1934) ao defender que o desenvolvimento psicológico se dá, não no homem, mas na relação do homem com o mundo sociocultural. Nesse enfoque, o fenômeno psicológico é, portanto, o resultado de todas essas experiências vividas e experimentadas pelo indivíduo ao longo de sua existência.

A visão sócio-histórica defende que, sem a dialética, seria impossível a formação da consciência no indivíduo, nem sua participação ativa na construção de sua história (BOCK, 2001). A linguagem é a forma pela qual o homem se apropria do mundo. Por meio dela, ele assimila elementos e características do meio e, posteriormente as restitui.

É por meio da linguagem que “o homem se individualiza, humaniza, e aprende a materializar o mundo das significações” (BOCK, 2001, p. 104), sem ela não haveria processo social e nem histórico.

Preocupada com o fenômeno psicológico e a subjetividade do homem, a psicologia sócio-histórica, entende que ambas são formas de adaptação (social, cultura e econômica), sofridas pelo homem dentro de um contexto histórico (BOCK, 2001). A subjetividade é concebida ao longo do desenvolvimento do ser humano, como um reflexo da realidade em que o homem vive, e de toda a gama de possibilidades e atrações que mundo exterior exerce sobre o ele. Assim, o homem constrói o mundo e este, por sua vez, propicia os elementos para a construção psicológica do homem.

Acolher a abordagem sócio-histórica como prática válida na psicoterapia só foi possível na atualidade, quando as correntes psicológicas compreenderam que o homem não é um indivíduo isolado, mas em sua organização subjetiva, e em cada um dos seus espaços, ele está comprometido com outros espaços, numa relação processual de infinitas alternativas e implicações para si.

Uma das limitações que atravessou praticamente toda a história da psicoterapia é o fato de fragmentar e de super enfatizar um espaço social específico, como gerador do conflito patológico, que na psicanálise se situava nas relações que cedo se manifestavam com as figuras parentais, na terapia sistêmica no âmbito da família e em alguns teóricos do humanismo no outro como sujeito individual (KAHHALE, 2003, p. 200).

Na clínica, pensar o homem e sua complexidade de forma sócio-histórica é compreendê-lo como um ser subjetivamente atravessado por vários outros processos extraordinariamente complexos de subjetivação. Dessa forma, não se pode reduzir os fenômenos subjetivos a uma organização única e padronizada (KAHHALE, 2003, pág. 201).A relação terapêutica na abordagem social histórica rompe com o conceito psicanalítico transferência e contratransferência, já que este limita a terapia a uma relação substancial e superficial.

A versatilidade da subjetividade é a mesma dos processos associativos de sua constituição patológica. A abordagem Sócio-Histórica ganhou destaque na psicoterapia por enfatizar a importância da linguagem na construção social do sujeito,priorizando o discurso e a narrativa no processo terapêutico.O processo de terapia deve ser, um processo de dialogo orientado a reformulações e também a mudanças de foco de atenção do sujeito, que lhe permitam subjetivar novas zonas de sua experiência neste processo (KAHHALE, 2003).

É importante definir o dialogo como um processo gerador que se desenvolve na relação do terapeuta e do paciente, que implica níveis de conhecimento novos que se legitimam somente dentro do âmbito da conversação. (KAHHALE 2003, p. 207).

Para o enfoque histórico-cultural, a relação emocional afetiva entre cliente e terapeuta faz parte da construção do processo de subjetivação do paciente, e resultará num processo de mudança deste, dependendo do tipo do conflito apresentado. Os processos emocionais constituídos no processo de significação do sujeito também são importantes para o entendimento de sua história.

Assim, o sujeito passa a ser concebido como ativo e agente construtor de sua própria história. Nesse contexto, a psicoterapia exerce um papel mediador, estabelecendo uma ponte entre passado e presente, creditando ao cliente meios de tomar a iniciativa para a mudança, a partir de uma motivação interna e subjetiva (ROMANINI, 2003).

Para Dias (2005), em seu artigo: A psicologia Sócio-Histórica na Clínica: uma concepção atual em psicoterapia, ter como alicerce básico a compreensão dos processos psicológicos e sua rede de significados, dentro de uma visão dialética, estabelecida por meio da percepção, seleção e significação de informações provenientes do meio interno e externo, permite ao psicoterapeuta o estabelecimento de um vínculo diferenciado com seu cliente, o qual se fortalece pela cooperação mutua levando ambos a alcançar seus objetivos na clínica.

Os resultados obtidos na clínica sob o enfoque Sócio-Histórico, têm sido satisfatórios e supera as expectativas, já que vêm demonstrando grande êxito no tratamento dos mais variados transtornos e patologias clínicas.

Referências:

BOCK, Ana Mercês Bahia. GONÇALVES, Maria das Graças Marchina. FURTADO, Odair. Psicologia Sócio-Histórica. São Paulo: Editora Cortez, 2001.

DIAS, Maria Helena Soares Souza Marques. A psicologia Sócio-Histórica na Clínica: uma concepção atual em psicoterapia. Rev. da Sociedade de Psicologia do Triângulo Mineiro, SPTM, V.9.1 n. 1 Jan/Jun 2005. Disponível em: http://www.ugr.es/~recfpro/rev102COL2port.pdf. Acesso em 02 de julho de 2014.

RATNER, Carl. A Psicologia Sócio-Histórica de Vygotsky: aplicações contemporâneas – trad. Lólio Lourenço de Oliveira. Porto Alegre: Artes Médicas 1995.

KAHHALE, Edna María Peters; SANCHEZ, Sandra Gaglíardí. História da psicologia: a exigência de uma leitura crítica. In: BOCK, Ana Mercês Bahia (Org.). A perspectiva sóciohistórica na formação em psicologia. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.

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