Inside Llewyn Davis: a propósito de um Ulisses sem Odisséia

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Com duas indicações ao Oscar:

Melhor Fotografia e Melhor Mixagem de Som

Na dificuldade de pronunciar o nome Llewyn a opção mercadológica pela “Balada de um homem comum”, mais fácil e digerível na leitura, não é uma balada. O  Na América hispânica traduziram também por Balada de um hombre común, os espanhóis foram mais felizes com A propósito de Llewyn Davis.

O filme não é uma balada, como já dito, porque foge da candura lírico-dramática e aponta para a história de um alguém, uma pessoa, que tenta estar na sua pele, inside Him, e o mais tocante da narrativa que em tom de comédia dramática, de erros e acertos de uma personagem ordinária da vida cotidiana, descobrimos muitas coisas de nós mesmos. Inside Llewyn Davis é um pouco a propósito de nós mesmos .

Filmes dos irmãos Coen – Joel e Ethan – sempre são bem vindos. Embora tenha sido tornado em muito os “queridos” dos críticos cabeças e “roubadores” de prêmios (de direção, elenco, roteiro, fotografia) em vários festivais, isso não atrapalha, mas filme incensado demais tende a decepcionar (a exemplo de “Les Míséráblés”, acentuo tudo como uma vingança contra o musical…). Felizmente, A propósito de Llewyn Davis não decepciona.

Inside Llewyn Davistem estilo de filme vocacionado a ser clássico, porque ele narra a odisseia de um cara que não tem lugar para ir. Llewyn é anti-Ulisses da década de 60, um antecessor sério e aprofundado dos “mimimis” pós-modernos de personagens que interpretam celebridades do cinema. Essa anti-Ulisses traz como pano de fundo ou de frente uma New York (desculpe pelo deslumbramento de agência de turismo: Nova Iorque) castigada por um inverno frio e feio de 1961 e a trilha sonora folk.

 

Vou cutucar alguns puristas ou defensores da sertaneja dita “raiz” (não sei de que, mas…) e das duplas sertanejas com suas calças apertadas e trinados gritantes ou daqueles defensores incólumes dos samba (de quintal, de roda, de laje, de boteco, de palco): assumo aqui o folk como o termo é assumido na Inglaterra e nos Estados Unidos, enquanto um gênero influenciado por alguns elementos pinçados do folclore como ritmos, combinações de instrumentos musicais, maneira de trabalhar a percussão e jeito brejeito-provocador-intimista dos (as) cantores (as). Os anos 60 com Bob Dylan, Joan Baez, Phil Ochs… muita gente com vozes sem primor de afinação ou refinamento das “baladonas” engajava-se sob várias bandeiras contra o estabelecido pelo imperialismo. A música folk também amoleceu com o tempo e ficou um pouco “água com açúcar”, mais isso é briga para outro texto.

New York foi celeiro dessa “tchurma” de autores, músicos, artistas plásticos, dramaturgos, escritores e loucos de plantão. As cidades internacionais como New York, Tokyo, Paris, Roma, London e até mesmo, Rio de Janeiro (antes da poderosa platinada e dos teatros por metro quadrado nos shoppings centers) trazem essa atmosfera de criatividade. A cidade inspira… algo que falta em muito por aqui, mas daqui umas décadas pode ser que algo exploda na criatividade.

As cidades são celeiros, mas de portas fechadas. Poucos são os que detêm as chaves para adentrar em seus espaços de poder, notoriedade, respeitabilidade.  A propósito de Llewyn Davis conta parte dessa narrativa. Como um Ulisses em busca de superar perigos e desesperadamente tentando sobreviver aos perigos da vida, Llewyn se encontra numa anti-odisseia. Ulisses chegou a bom termo, mas Llewyn se assemelha a um “Zé Ninguém” com um diploma (no caso seu violão) debaixo do braço ou nas costas que aporta numa cidade grande atrás da oportunidade de ser alguém na vida.

Durante o filme, recordei-me de algumas (des) venturas vividas como as de muitos colegas, também ex-alunos já graduados, que buscavam espaços de trabalho e respeitabilidade. As opções que surgem por vezes vão contra tudo aquilo que se acredita e se é obrigado segui-las para continuar vivo. Além disso, nesse processo de viagem a partir de si mesmo se deve aprender a conviver e gerenciar os fantasmas interiores.

As pessoas que passam pelos dias de New York de Llewyn são parecidas com algumas que passam em nossas vidas: os supostos benfeitores que não passam de lobistas em busca de benesses futuras a recolher, pseudo amigos que ao desprezarmos evidenciam tudo aquilo que temos de parecido com eles e refutamos em todos os momentos, os caras sinceros e originais que nunca chegaremos nem mesmo próximo à sombra deles, os “manes” que possuem tudo que invejamos e no fundo são grandes negações da vida de tão equilibrados e corretos, os intectuais “embacacados” que assim o são por condições econômicas de berço e por pertencerem às elites parcerias de todas as ditaduras. Adorei a personagem Turner porque como uma sereia de cauda quebrada, em um canto desafinado, ainda teima nos ouvidos do anti-Ulisses a desfiar uma cantiga cuja decadência é evidente, todavia mesmo na merda se recusa a assumir que tudo fede.

Llewyn é um herói perdido, alguém que quer carinho, dormir de conchinha, ter voz e ser escutado em meio  a um sistema-máquina que vai lhe sugar todas as energias, depois descartá-lo. E Llewyn insiste, mesmo frente ao risco da obsolescência, na busca de oportunidades. Esse pobretão se vira, um sem-teto que vive com a ajuda-caridade dos amigos. Impressionante é a fotografia do filme que nos transporta para as ruas frias do Greenwich Village e mostra o homeless Llewyin vagando como um espírito no umbral, mal agasalhado, sem dinheiro e o pior de tudo, falta de rumo.

 

 

A balada é uma anti-odisséia, uma epopeia que os irmãos Cohen sabem contar muito bem, porque a eles caem muito bem essas narrativas sobre os fracassos, que no fundo é um pouco, também, de nós. A história de Dave Von Ronk, um músico folk, estimulou os Cohen a produzir o filme, mas criaram suas opções. Llewyn não quer estar ali, mas nem sabe por onde começar para ter outros planos de vida, o cara parou de sonhar. Ao tocar para um bar vazio de pessoas  em Chicago evidencia o fundo do poço.

Trilha sonora é show a parte: a variedade das canções folks e de obras de Mozart, Beethoven, Chopin e outros substituem diálogos, são elas as falas mais superiores. Quem puder que se deleite. Dos irmãos Cohen, sugiro de 2009  “Um homem sério” (A Serious Man), o pesadão e concessão alguma  de 2007 “ Onde os fracos não têm vez” tradução estúpida para No country for Old Men e de 2001, “ O homem que não lá”(The Man Who Wasn’t There)… esse aqui uma aula de fotografia no cinema.

Inside Llewyn Davisnão vai arrancar a gargalhada fácil de alguma sequela de franquia e nem o choro melodramático de historietas com final edificante e moralista. Os Cohen brincam com a desgraça, gente melancólica, tudo down. Eles mostram uma realidade com cores frias e impessoais, somente um gato callejero corta o filme como um fio condutor com sua cor alaranjada e, em algumas cenars, a roupa que uma das personagem usa num palco. Fora isso, é mais cinzento que La Ricoleta em dia de chuva.

 

 

O filme é história contada. Llewyn é a história de alguém na “merda” sem ter ponto de chegada ou de retorno. Ai reside um dos grandes trunfos do filme, ele mostra como somos nós também presentes debaixo da pele de Davi, por isso que concordo com os espanhóis que traduziram ao pé da letra, A propósito de Llweyn Davis… sobre ele e nós. Às vezes, nosso barco parece que fica nessa deriva também, como na anti-odisséia de Davis.

 

 

Oscar para Llweyn Davis, nem pensar, aquilo que chamam de Academia está longe de absorver o cinismo inteligente do filme.

FICHA TÉCNICA:

INSIDE LLEWYN DAVIS

Gênero:Drama
Direção: Ethan Coen, Joel Coen
Elenco: Adam Driver, Carey Mulligan, Ethan Phillips, Jeanine Serralles
Duração: 105 min.
Ano: 2013
País: Estados Unidos
Classificação: 12 anos

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Cursos de prevenção às drogas, a melhor solução?

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No Brasil, os cursos são oferecidos para todas as faixas etárias, desde a criança ao adulto


Quando se pensa em drogas, logo vem à mente quais as mais perigosas, sintomas, riscos, e por último, mas não deixa de ter sua importância à prevenção. Assim como existem programas e/ou clínicas para dependentes químicos, há projetos para prevenir pessoas, desde a criança ao adulto, contra os riscos de usar as drogas.

No Tocantins, como no Brasil, é desenvolvido nas escolas com alunos a partir dos oito anos de idade, o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência – PROERD. Este projeto tem o papel de preparar crianças e adolescentes – o principal alvo de traficantes e usuários – para dizer “não” para pessoas envolvidas nesta situação.

A equipe do Portal (EN)Cena conversou com um policial militar tocantinense, aqui identificado como “M”. Segundo ele, o PROERD trabalha há mais de 10 anos no Tocantins, além do que “neste projeto também trabalhamos com um curso para adultos”, afirma o oficial. Como esse curso, no país são oferecidos vários outros. Alguns na modalidade à distância, um deles é aPrevenção dos Problemas Relacionados ao Uso de Drogas, que está na 6ª edição e com inscrições abertas.

No entanto, sempre há uma pergunta: será que esses cursos são eficazes, tem vantagem ou apenas custos? Segundo um dos entrevistados, os cursos de prevenção servem apenas para “jogar dinheiro fora. Resolve nada”, na visão do policial, o recurso financeiro investindo nestes projetos é mínimo, em vista ao que é aplicado nos tratamentos de reabilitação de dependentes, “o índice dos que abandonam de verdade o uso depois de internatos, é vergonhoso”, coloca o PM.

Perante um relatório da ONU que afirma que a cada dólar gasto com prevenção se economiza até 10 dólares, chegamos à conclusão de quer os cursos de prevenção são bastante necessários para nossa sociedade, apenas devem ser reformulados para serem bem aplicados.

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A (boa) saúde começa na cozinha

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Mayra de Andrade trabalha há 6 anos no Cozinha Brasil e vê avanços nos hábitos da população – Foto: Paulo André Borges

 

Já comum na Europa e em parte dos EUA, a preocupação com a qualidade e o valor nutritivo dos alimentos também vem ganhando espaço no Brasil. Este cenário é reforçado pelo movimento “fitness”, que extrapolou o ambiente das academias e, por uma questão de saúde pública, acaba por gerar o interesse de diferentes pessoas, de todos os perfis.

A mudança de hábitos, no entanto, ocorre de forma lenta. É necessário educar, informar e dar as condições adequadas para que se mude, aos poucos, os costumes alimentares. E é isso que o Programa “Cozinha Brasil”, do SESI – Serviço Social da Indústria, vem fazendo há alguns anos.

Por contar com uma ampla rede de apoio e estar presente em todos os estados brasileiros, o Sesi oferece cursos de curta e média duração, todos gratuitamente, com foco no ensino da prática de uma alimentação nutritiva e saudável, com baixo custo. “Há também uma preocupação em respeitar as diferenças regionais, além de se observar os produtos mais adequados para cada circunstância”, diz a nutricionista do Sesi-DF, Mayra de Andrade Magalhães, que apresentou várias oficinas durante a IV Mostra Nacional de Experiências em Atenção Básica/Saúde da Família, em Brasília.

De acordo com Mayra, é crescente a quantidade de pessoas que estão percebendo a relação direta da manutenção da saúde com uma alimentação de qualidade. “Muitas doenças não transmissíveis podem ser evitadas através de uma boa alimentação”, diz a nutricionista. E a pedagoga Maria Aparecida da Silveira Lemos, uma das participantes de uma das oficinas da manhã desta sexta, 14, procurou ver o impacto da alimentação nas pessoas que têm doenças crônicas, que é o seu caso (ela convive com diabetes). “Foi interessante porque percebi que mudanças simples, no dia a dia, como escolher o alimento pelo valor nutritivo, faz uma grande diferença. Além disso, é possível fazer muita coisa com alto valor nutritivo utilizando-se de produtos que encontramos com facilidade em casa. Ou seja, não é preciso ir muito longe para comer bem”, pontuou.

De acordo com Mayra de Andrade, a procura pelas oficinas está sendo grande, e as pessoas são bastante curiosas sobretudo em relação aos benefícios de uma boa alimentação para a manutenção da saúde e da qualidade de vida. “Há também uma abordagem em relação ao aproveitamento total dos alimentos, para que se evite desperdícios, além de se preocupar em preservar o sabor e os nutrientes dos alimentos”, disse.

Os interessados em convidar o programa “Cozinha Brasil” para desenvolver cursos em escolas, Unidades de Saúde e outros ambientes, basta entrar em contato com o Sesi de seu estado. Mais informações também podem ser acessadas no sitehttp://www.portaldaindustria.com.br/sesi/canal/canalcozinhabrasil/ .

No final de casa oficina, Mayara recebe o carinho dos participantes: “todos acabam querendo fazer uma foto”, diz. Foto: Paulo André Borges

São duas modalidades do Curso de Educação Alimentar e Nutricional:

Curso básico de 10 horas – Durante as aulas, que são oferecidas nas unidades móveis ou fixas do Cozinha Brasil, os alunos recebem treinamento teórico e prático e aprendem, passo a passo, preparações básicas que rendem refeições nutritivas, econômicas e saborosas.

Voltado para a população, as turmas desse curso são formadas por donas de casa, idosos, trabalhadores da indústria e do comércio, autônomos e jovens estudantes que auxiliam as mães ou família na produção das refeições domésticas.

Ao final do curso, todos os alunos com presença em 75% das aulas recebem certificado de participação.

Curso de média duração – Essa modalidade capacita pessoas que têm alguma liderança local, para que possam repassar os conhecimentos adquiridos e multiplicar o alcance do Cozinha Brasil. São ensinadas diversas preparações básicas que rendem inúmeras receitas nutritivas.

Participam líderes comunitários, cozinheiras de restaurantes, assistentes sociais, médicos, enfermeiros, nutricionistas e técnicos em nutrição, agentes de saúde e profissionais da educação, (professores, diretores de escolas, merendeiras entre outros), profissionais de asilos e creches e estudantes universitários.

Ao final do curso, todos os alunos com 75% de presença nas aulas recebem certificado de participação.  (Com informações do site do Sesi)

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Alunos de Recife constroem propostas para melhoria de saúde pública

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Uma equipe de oito residentes de Saúde da Família de Recife (PE) promoveu ação com a Escola Estadual da cidade no segundo semestre de 2013. A experiência, que é relato na IV Mostra nacional de Experiências em Atenção Básica/Saúde da Família (Brasília – DF), simulou Conferências Municipais de Saúde em busca de estímulo ao exercício da cidadania. A ideia surgiu de análise da notícia sobre falhas nos postos de Saúde da cidade.

De acordo com Dara Felipe, psicóloga residente e apresentadora do projeto na IV Mostra, os temas abordados na ação são “o fortalecimento da saúde como um direito e também a estimulação da organização social para efetivo exercício do controle social”.

O Ministério da Saúde explica que conferência municipal é, idealmente, o momento de debate e avaliação de condições de saúde da população e construção de propostas, “compreendendo questões que dizem respeito ao funcionamento dos serviços de saúde, da gestão municipal e também questões que não dizem respeito ao setor saúde, mas que são determinantes da condição de vida como transporte, saneamento, lazer etc”, completa.

A ação

Os 34 alunos da Escola Estadual que participaram da ação foram divididos em dois grupos: jovens entre 14 a 16 anos do 9° ano, e estudantes da turma de EJA (Educação de Jovens e Adultos) com idade a partir de 18 anos. O grupo de residentes explicou o funcionamento de uma Conferência Municipal de Saúde e delegou funções representativas aos alunos: usuários, funcionários e gestores que, em cada “cargo”, deveriam construir e apresentar propostas para melhoria da saúde.

(Encontro para construção de propostas em Escola Estadual – Recife – PE) Foto: Divulgação

Propostas

Após o estudo da situação atual da saúde e de dificuldades diárias vivenciadas por alunos e familiares, as ideias foram elencadas. São elas:

 11% do Produto Interno Bruto (PIB) para a saúde; contratação de mais profissionais de saúde para que aumente o número de atendimento; reforma e manutenção das Unidades de Saúde que já existem; mais medicamentos e equipamentos (exames, insumos, SAMU); construção de um calendário de propostas para que possamos cobrar; mais capacitação e atualização para profissionais e avaliação periódica; mais tempo para capacitações; aumento a partir da carga horária sem aumentar os impostos; funcionamento das Unidades de Saúde aos sábados e domingos com contratação de mais profissionais sem aumentar os impostos; bolsa para estudar para ser profissional de saúde; melhorar a acessibilidade das Unidades de Saúde; buscar deixar o salário mais igual dos profissionais de saúde; fazer acordo com empresas para que as compras de medicação sejam mais longas; mais projetos de Educação em saúde nas comunidades; projeto de Reciclagem do lixo; construção de área de lazer; manutenção da quadra esportiva; mais lixeiras nas ruas e organização da coleta de lixo; aumentar o saneamento básico; aumentar o número de profissionais de saúde nos serviços; melhorar a estrutura das escolas (infra-estrutura, profissionais, merenda).

Saúde e Educação em cooperação

Dentre os resultados verificados, a organização do projeto percebeu a importância do envolvimento dos alunos na construção do conhecimento ao pensar em saúde pública. Dara comenta que “o resultado foi bastante positivo, pois consistiu em uma forma vivencial de aproximação com espaços de controle social, não se restringindo a exposição oral. Dessa forma os participantes tiveram maior compreensão e interesse em participarem do espaço das conferências.

Ainda de acordo com o grupo, a ação conjunta entre Saúde e Educação é “uma ferramenta de aproximação entre a Escola e a Unidade de Saúde da Família, bem como a aproximação da discussão de saúde dos jovens, que sabe-se ser um dos públicos menos priorizados nas políticas de atenção à Saúde a nível primário”.

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Aderbal Canibal, o (médico) palhaço que agita a cena pessoense

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Profissional veio a Brasília coordenando uma “trupe” de palhaços para mostrar um pouco do trabalho que desenvolvem na capital paraibana.

Palhaco Aderbal

O médico Aldenildo Costeira “encarna” o palhaço Dr. Aderbal Canibal – Foto: Paulo André Borges

Nascido em João Pessoa 47 anos atrás, o médico Aldenildo Costeira é um dos militantes da chamada medicina preventiva, onde o foco está na capacitação dos agentes envolvidos em saúde, para que estes possam encarar a lida como “cuidadores”, e não como meros funcionários. Adenildo percebeu, quando ainda trabalhava em Sobral, no interior do Ceará, e depois de observar o trabalho dos “Doutores da Alegria”, que este poderia montar personagens cômicos para levar alegria e informação aos pacientes. Foi daí que surgiu o Dr. Aderbal Canibal, desde 2010 atuando em João Pessoa, e que veio a Brasília coordenando uma “trupe” de palhaços para mostrar um pouco do trabalho que desenvolvem na capital paraibana.

(En)Cena – O que é, afinal, o PalhaSus?

Aldenildo – É um projeto com foco na humanização da saúde, que tem como preocupação formar cuidadores em saúde, para que estes saibam a importância de se ter interações humanas qualitativas. O objetivo é oferecer um serviço de saúde de qualidade, começando pelo atendimento, já que muitas vezes as relações (entre os profissionais e os pacientes) são prejudicadas em decorrência ou de questões técnico/administrativas, ou pela própria condição que o paciente se encontra, devido a doença.

(En)Cena – Como surgiu a ideia de capacitar “palhaços cuidadores”?

Aldenildo – Nós temos a grande referência dos Doutores da Alegria, e também fomos influenciados pelo médico americano Patch Adams. Houve uma formação para os primeiros interessados na prática, em 2004, através da Oficina do Riso da UFPB – Universidade Federal da Paraíba. Foi uma forma de aperfeiçoar uma prática que eu já vinha desenvolvendo em Sobral (CE).

Palhaco Aderbal

“Trupe” de palhaças que vieram a Brasília animar a tenda Paulo Freire e os corredores do evento
Foto: Paulo André Borges

(En)Cena – Como sua família encarou a empreitada?

Aldenildo – Só para você ter uma ideia, minha esposa e minha filha também tornaram-se palhaças (risos). Lá em casa ninguém faz cara feia. Descobrimos o deslumbramento provocado pelo riso, e a partir de então nunca mais o abandonamos de nossas vidas.

(En)Cena – Quais as linhas de atuação do projeto? Vocês são muito requisitados?

Aldenildo – Olha, lá em João Pessoa eles nos disputam a tapas (risos). Há uma agenda enorme, para que possamos atender e levar alegria para os pacientes e motivação para os colaboradores. O projeto também é uma forma de integrar os estudantes (da UFPB) no trato e no cotidiano da saúde pública. Inclusive os estudantes “fazem fila” para participar. Já são mais de 80 Palhaços formados no projeto, e as expectativas são as melhores. Quanto às linhas, há o foco no autocuidado no papel do cuidador, o desenvolvimento da sensibilidade no cuidado com o paciente, o cuidado e incentivo aos trabalhadores da saúde, dentre outros. Dentre os hospitais que visitamos com mais frequência, há o Hospital Universitário Lauro Wanderley, o Complexo Psiquiátrico Juliano Moreira e o Hospital Padre Zé, além do Programa de Educação Popular em Saúde – PROGEPS.

(En)Cena – Como você define seu papel no projeto?

Aldenildo – Eu me considero uma pessoa feliz, realizada, porque além de fazer o que amo, faço com alegria, e levo a alegria para os meus colegas e pacientes. É uma prática que, confesso, não causa o menor cansaço, pois a transformação que percebemos nas pessoas, através de suas expressões faciais, é como um combustível para nós. É extremamente gratificante. Administrativamente falando, eu sou o coordenador do grupo.

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Edinaldo Coriolano – O Lampião da arte, saúde e educação

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Edinaldo presente na IV Mostra Nacional de Experiências em Atenção Básica – Foto: Isadora Fernandes

Edinaldo Coriolano é assistente social da Estratégia de Saúde da Família em Santa Cruz – PE e também apoiador do Programa de Saúde nas Escolas do Ministério da Educação.  O PSE é um programa que une a saúde e a educação com o intuito de melhorar a qualidade de vida dos educandos. Ele implantou em sua unidade em 2011, com o objetivo de promover saúde por meio de expressões artísticas.

A função do assistente social é basicamente fazer com que os princípios do SUS aconteçam, são eles: Integralidade, dar assistência completa ao paciente; Gratuidade, deve ser um serviço gratuito; Equidade, classificar o atendimento de acordo com a necessidade e Universalidade, todos têm direito à assistência. A ESF tem como principal linha de trabalho a atenção primária que visa prevenção e promoção de saúde, portanto a equipe deve assistir ao cliente pautada em um planejamento de intervenções educativas.

Vendo que a Unidade Básica de Saúde na qual ele trabalha não estava obtendo muito êxito com palestras educativas, pois é algo cansativo e pouco atraente, foi quando ele viu a necessidade de trabalhar a saúde nas escolas usando a arte nas suas variadas formas, pois o público principal das escolas é composto por crianças e adolescentes, e pensando nisso, reuniu a equipe para pensar em maneiras de como chamar a atenção desses jovens.

Formou um grupo condutor com seus colegas da UBS, com a finalidade de planejar as “novas intervenções”. Inicialmente ele, junto a equipe, desenvolveu oficinas para conhecer o perfil daquele grupo em especial e permitir que eles expressem o que esperam e como esperam ser abordados pela equipe. Instigava os alunos a mostrar o que eles já sabiam sobre saúde de maneira artística. Suas ações partem do diagnóstico que ele faz da turma, por exemplo, se a demanda do local é esclarecimento sobre DST, higiene, gravidez na adolescência, relações sociais, entre outros.

Trabalhando com os educandos, sentiram que precisavam do apoio dos professores, e para isso, tinham que inseri-los no processo. Portanto passou a criar oficinas com os educadores, de forma que pôde conhecer o que eles já entendiam sobre o assunto e foi uma forma de facilitar na busca da demanda, pois os professores passam a maior parte do tempo com os alunos então têm a oportunidade de observar o comportamento e as necessidades.

Apesar da dificuldade em unir-se com a educação, sua proposta foi um grande sucesso que foi evidenciado pelos excelentes resultados e também, pela grande aceitação entre os escolares ressaltando a importância de sua originalidade e iniciativa. Quando se fala de um público jovem, já se cria uma resistência por parte dos profissionais, porque é uma turma difícil de atrair a atenção, por isso requer muita criatividade e consequentemente muito esforço, que claro não faltaram para Coriolano.

Ponto de Encontro em que Edinaldo apresentou seu trabalho – Foto: Isadora Fernandes

De maneira inusitada apresentou seu trabalho na IV Mostra Nacional de Experiências em Atenção Básica. Vestido de lampião, encantou a todos recitando um trecho da música de Luiz Gonzaga com uma adaptação logo no início de sua apresentação.

 

“A minha vida é trabalhar no meu sertão

Com arte, saúde e educação

Levando informação aos territórios onde eu passei

Andando pelos sertões, muitos amigos eu encontrei

Chuva, sol, poeira e carvão

Longe de casa, seguindo o roteiro da educação

Auê, auê, auê

E com a saúde no coração”.

 

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Drag Queen Viviane Viva Voz é diferencial de “consultório de rua” em Recife

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Método utilizado por Jonathan, que alia humor e informação, foi uma combinação perfeita, e vem ajudando de forma efetiva na “redução de danos” e até reabilitação de muitos os moradores de rua que são usuários de drogas.

Foto: Michel Rodrigues

O recifense Jonathan Reis mudou completamente a vida quando, poucos anos atrás, resolveu criar uma personagem, a “Viviane Viva Voz”, para compor a equipe de um “consultório de rua” na capital pernambucana. O método utilizado por Jonathan, que alia humor e informação, foi uma combinação perfeita, e vem ajudando de forma efetiva na “redução de danos” e até reabilitação de muitos os moradores de rua que usuários de drogas.

Num bate-papo descontraído com o (En)Cena, Jonathan fala dos principais desafios que enfrenta na empreitada, de como tudo surgiu e foi se consolidando, além das perspectivas futuras. Jonathan fala da alegria que é ajudar pessoas desesperançadas a encontrarem “uma alternativa”, além de sua satisfação por ter conseguido mostrar para a sua família – em especial a sua mãe – a importância de seu trabalho como drag queen.

(En)Cena – Qual é a sua participação aqui na mostra?

Jonathan – Eu vim para o lançamento nacional do documentário sobre políticas integrativas no SUS, tendo em vista que, em Recife eu trabalho com “redução de danos” entre usuários de drogas que moram nas ruas.

(En)Cena – Qual é a abordagem propriamente dita que vocês fazem com as populações de rua?

Jonathan – Na redução de danos nós procuramos focar no indivíduo. Nós abordamos uma pessoa, por exemplo, que é usuária de craque, e daí vamos tentar fazer com que essa pessoa troque esta droga pela maconha. Se nós conseguirmos isso, já é um passo para, mais à frente, conseguirmos que esta pessoa largue totalmente as drogas, pois ela demonstrou maleabilidade em relação a questão.

(En)Cena – E o trabalho para por aí, ou você e a equipe que você faz parte age em outras frentes?

Jonathan – Não, nós fazemos um esforço intenso para reinserir o usuário na sociedade. Para tanto, entramos em contatos com outros setores do serviço público e procuramos encontrar encaixes que sejam compatíveis com o perfil deste usuário que demonstra disposição para largar as drogas.

(En)Cena – E como ocorre o contato inicial com as populações de rua? O que é feito para “quebrar o gelo” e gerar confiança?

Jonathan – Eu não sou muito convencional (risos). Você percebeu que tenho 1,90m, mas o salto e a peruca ajudam a criar uma empatia. No entanto, nos consultórios de rua atuam cinco personagens, eu sou apenas uma delas. Na verdade, a “Viviane Viva Voz” foi a última personagens construídas. Ela surgiu depois que eu participei de um seminário de comunicação para o público GLBT. Com o passar do tempo, me convidaram para participar de uma ação informativa no carnaval. O sucesso foi tão grande, as pessoas receberam com tanto carinho, que minha agenda foi se ampliando, até que eu fui contratada para atuar com as equipes dos “consultórios de rua”, dentro do projeto de Práticas Integradoras de Saúde. Ou seja, tudo começa numa brincadeira, mas a informação e o cuidado são passados, o que é mais importante. Hoje nosso trabalho é conhecido no Brasil inteiro, e equipes de outros estados vão até Recife observar nossas práticas.

(En)Cena – Você tem alguma militância, atua em alguma ONG fora deste trabalho que é feito junto à Prefeitura de Recife?

Jonathan – Eu também ajudo numa ONG chamada “Movimento Cultural Fazendo Arte”, que reúne jovens de diferentes níveis sociais e faixas etárias, e procura incentivá-los, pela arte, a desenvolverem suas habilidades. Lá é ensinado dança, teatro. No começo, a ONG atuava na região periférica da cidade. Com o sucesso do projeto, passamos para o centro de Recife, e o ambiente é bem heterogênio, já que não há restrição de público.

(En)Cena – E como foi a construção da personagem Viviane? Houve muitas dificuldades?

Jonathan – Houve sim. Eu até desconfio daqueles personagens que parecem ter caído do céu. É importante que, no desenvolvimento do projeto, os desafios contribuam para a maturação. No começo nós não recebemos apoio de nada, e inclusive há dificuldade com o figurino mais básico. Com o passar do tempo, se você faz um trabalho com consistência e focado no benefício, na melhora da qualidade de vida das pessoas, afinal fazemos rir, então vão aumentando a confiança em nós e passam a contribuir financeiramente para o projeto avançar. Também me marcou muito a mudança da minha família, sobretudo a minha mãe. No começo, ninguém aceitava a minha homossexualidade, e aparecer vestido de mulher causou um grande impacto. No entanto, quando começaram a perceber a importância do meu trabalho, começaram a ver o respeito que as pessoas nutriam por mim, aí sim mudaram de ideia a respeito.

(En)Cena – Você tem conhecimento se o seu trabalho é pioneiro?

Jonathan – Olha, eu sei que tem um grupo de drags em São Paulo, e uma drag em Brasília que também atuam na divulgação dos programas de prevenção e de saúde, mas elas não ficam totalmente envolvidas com a questão da saúde, como no meu caso. Desta forma, no formato que atuamos, creio mesmo que seja um trabalho pioneiro. Eu presto serviço à Prefeitura de Recife, de forma terceirizada, exclusivamente para desenvolver este trabalho.

(En)Cena – Você está satisfeito com o que faz?

Jonathan – Você nem imagina o quanto eu me sinto gratificado quando vejo que atuei de forma positiva na vida de uma pessoa. Fico extremamente feliz quando encontro um usuário ou ex-usuário e ele me diz que, a partir do nosso contato, ele mudou o curso da sua vida, mesmo que isso tenha ocorrido de forma discreta. Isso é o que me motiva.

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Como conto o que vi e senti na IV Mostra

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A troca de experiências, sendo elas boas ou ruins, serve para que aprendamos com a vivência do outro absorvendo o que de melhor aquela situação tem a oferecer.

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Foto: Paulo André Borges

A Mostra de Experiências em Atenção Básica visa permitir que os trabalhadores compartilhem ideias bem-sucedidas acerca do seu dia-a-dia na assistência, como estratégias implantadas que “deram certo”, temas nos quais identificaram a necessidade de ser melhor trabalhado para esclarecer e atualizar os demais profissionais, e também as ideias que por algum motivo não obtiveram os resultados esperados, procurando por meio delas, mostrar os motivos do insucesso e propondo possíveis soluções.

 O principal objetivo da atenção básica é a prevenção e a promoção de saúde por meio de medidas estratégicas criadas em conjunto com a equipe, que é composta por um conjunto multiprofissional, são eles: enfermeiros, psicólogos, médicos, técnicos de enfermagem, agentes de saúde, assistentes sociais, dentistas, farmacêuticos, fisioterapeutas.

Foto: Paulo André Borges

O evento tem como foco principal promover a interação entre esses profissionais de forma que eles possam melhorar a assistência ao usuário tomando como base o relato dos colegas.

Visto que a atenção básica é a base da assistência por se tratar de atenção primária, ela se torna crucial na prevenção das doenças e controle dos agravos. O evento é uma grande oportunidade que os profissionais têm de se expressarem; recebe pessoas de todo o Brasil. São mais de quatro mil inscritos das mais variadas profissões que compõem a equipe de atenção básica. Os relatos partem da seguinte pergunta: “Como você conta o que você faz?”, e a partir dela, eles criam maneiras originais para compartilharem suas ações.

Isadora Fernandes na IV Mostra. Foto: Paulo André Borges

Creio que o fato de, como “acadêmica” do curso de Enfermagem, ter a possibilidade de observar as experiências daqueles que já estão no mercado de trabalho há algum tempo, me fará compreender melhor que o “principal personagem” do serviço de saúde é o usuário, pois quando nós procuramos conhecimento e maneiras para melhorar nossa assistência de alguma forma, seja por relatos (que é a proposta da mostra) ou por cursos de aperfeiçoamento, o nosso objetivo sempre é oferecer ao cliente o melhor atendimento possível.

Nos corredores pude observar uma grande empolgação e curiosidade por parte dos visitantes em relação aos trabalhos que serão apresentados. Isso mostra o verdadeiro significado da troca de experiências, o que promove a intersecção entre o ato de ensinar e de aprender, resultando em uma vivência muito mais abrangente e aprofundada.

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