O cardápio seletivo dos aplicativos de relacionamento

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Com o advento da tecnologia, foi possível obter um grande número de informações com extrema facilidade e agilidade. A rapidez na qual uma pessoa recebe alguma notícia ou notificação é absurdamente grande comparada há alguns anos atrás. Essa velocidade exacerbada está transferida também nos relacionamentos, com o surgimento dos aplicativos de paquera. Em tese eles foram criados a fim de fomentar e induzir conexões com pessoas próximas umas das outras. Contudo, acaba sendo um reforço de estereótipos sociais e exclusão de corpos já marginalizados, como pessoas negras e mulheres gordas (GOSMÃO; SANTOS; SILVA, 2020).

 

Fonte: Google Imagens

 

Esses aplicativos oferecem um design que facilita as escolhas dos seus usuários no momento em que vai decidir se quer conhecer uma pessoa ou não. Muitas vezes o que se apresenta é várias fotos da pessoa, a sua localização e a idade. Essas características já são suficientes para sustentar o padrão social do que é esperado para cada gênero, cor, e classe social, se transformando no final das contas como um reforçador de estereótipos. 

Grandes partes dos matches vão para pessoas brancas, com a fisionomia jovial e apresentando ser de uma classe social acima da média. Isso representa os valores sociais e culturais de uma comunidade ou sociedade e a nossa apresenta exatamente isso. A cor que é legitimada socialmente é a branca, e a classe social valorizada é a burguesia, ou seja, aqueles acima da média e a idade que todos valorizam não é a adulta e muito menos a infância e sim a juventude, na qual a pessoa tem a maturidade de suas escolhas assim como os desejos carnais mais sensíveis de serem realizados (SOUZA, 2016).

Fonte: Google Imagens

 

Dessa forma, tais ferramentas tecnológicas apresentam ao mesmo tempo as classes marginalizadas, que são muitas vezes pessoas negras e mulheres gordas, com menores números de matches. Isso representa o direcionamento da atenção social para aqueles que são aceitos e lidos como indivíduos dignos de amor, atenção, respeito e valores. Ou seja, a pessoa que se encontra fora do paradigma do branco, cis, hétero, cristão e burguês muitas vezes possui dificuldade de despertar interesse em alguém. O mesmo acontece sobre o gênero, pois muitas vezes as mulheres com um perfil magro e o mais branco possível recebem mais matches (GOSMÃO; SANTOS; SILVA, 2020). 

Fonte: Google Imagens

 

Contudo, é importante frisar que, mesmo com o reforço de padrões sociais adoecedores, os seus consumidores muitas vezes não têm a consciência exata e plena de que eles estão sendo rejeitados quando estão fora do padrão, inclusive da cor. Esse aspecto, de certa forma, interfere diretamente não só na saúde mental dos usuários, mas também na avaliação de sua autoimagem, podendo ser tendenciosamente negativa. Além disso, os aplicativo oferecem aos usuários opções de matches como uma espécie de cardápio, pois o que se foca nas características são traços físicos, e não necessariamente aspectos internos, como habilidades sociais ou emocionais (SOUZA, 2016). 

REFERÊNCIAS 

GOSMÃO, R. A.; SANTOS, L. C. O.; SILVA, L. S. OS IMAGINÁRIOS SOCIODISCURSIVOS E O MODO ENUNCIATIVO NOS DIÁLOGOS DE UMA MULHER NO TINDER, v. 8 n. 1 (2020): Questões de Gênero: feminismos, sexualidades e suas interfaces. 

SOUZA, A. L. F. Mas, afinal, o que é o Tinder? – Um estudo sobre a percepção que os usuários têm do aplicativo. Verso e Reverso (Unisinos. Online), v. 30, p. 186-195, 2016.

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A inteligência emocional no Irmão do Jorel

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Quando uma pessoa recebe uma informação carregada de afeto, aciona-se sua Inteligência Emocional, pois vários sistemas ligados às emoções são trabalhados. A Inteligência Emocional (IS) implica em avaliar e expressar emoções de si e dos outros; regular as emoções de si e dos outros; e usar a emoção para processos adaptativos. Tais processamentos são aplicados em linguagem verbal e não verbal (BUENO; PRIMI, 2003). 

Além disso, IS implica em perceber cuidadosamente as situações de extrema emoção, assim como de avaliar e expressar emoções, além da capacidade de compreender e expressar emoções. Também envolve a competência em perceber e gerir sentimentos quando colaboram nos processamentos de pensamento assim como controlar as emoções para aumentar a maturidade emocional e intelectual (BUENO; PRIMI, 2003).

Fonte: Google Imagens

 

No desenho animado intitulado como Irmão do Jorel, o protagonista que tem o seu nome em anonimato e é conhecido na trama pelo nome do desenho, esbanja várias habilidades de IS ao decorrer dos episódios. Mesmo sendo apenas uma criança com apenas oito anos é possível observar que sua postura mediante aos problemas de uma criança são resolvidos de modo muito maduro e com grande complexidade (HUTZ; WOYCIEKOSKY, 2021).

Fonte: Google Imagens

 

Sua companheira de aventuras, Lara, também demonstra muita maturidade emocional e intelectual, as vezes mais do que o próprio protagonista, e é de se duvidar se o desenho de fato é para crianças acima de dez anos. Muitas vezes ocorre a narração e um encadeamento de diálogos complexos, incluindo os processos que são usados em IS. Nota-se na maioria dos episódios, o protagonista consegue verbalizar suas emoções e antes disso, identifica-las, além e reconhecer os efeitos delas em seu comportamento (HUTZ; WOYCIEKOSKY, 2021). 

Fonte: Google Imagens

 

Além disso, Irmão do Jorel consegue reconhecer com facilidade a expressão e o humor dos personagens coadjuvantes ao seu redor e por conta disso, tenta solucionar seus problemas. O autocontrole também é presente nos episódios pois percebe-se que mesmo tendo várias vezes expressões de raiva, medo, surpresa e paixão, o protagonista consegue controlá-las e tentar pensar racialmente para resolver a situação problema (HUTZ; WOYCIEKOSKY, 2021). 

Fonte: Google Imagens

 

O desenho animado traz vários questionamentos complexos sobre vários temas, como o sentido da vida, as qualidades das relações com os membros familiares e da escola e sobre a definição de temas abstratos como por exemplo, o que é alegria ou amor. Mas o mais surpreende no desenho é exatamente essa capacidade do protagonista em saber lidar com muita maestria e sapiência suas emoções (BUENO; PRIMI, 2003).

Esperava-se que uma criança apenas de oito anos tivesse comportamentos comuns a essa faixa etária, como birra, escândalos e um uma linguagem verbal simplória. Contudo o desenho ilustra o contrário, mas fica uma ótima recomendação às crianças, pois como toda jornada do herói, em cada episódio há um final feliz. Isso reforça aos espectadores a lição de que vale a pena se expressar e ter maior controle sobre as emoções. 

REFERENCIAS: 

HUTZ, C. W.; WOYCIEKOSKY,C. Inteligência Emocional: Teoria, Pesquisa, Medida, Aplicações e Controvérsias. Psicologia: Reflexão e Crítica, v.34, n.22, pp.1-11. 2021.

BUENO, J. M. H.; PRIMI, R.Inteligência Emocional: Um Estudo de Validade sobre a Capacidade de Perceber Emoções. Psicologia: Reflexão e Crítica, 2003, 16(2), pp. 279-291

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Crônica: educação criativa pra quem?

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Numa manhã bastante quente e ensolarada na cidade palmense tudo estava de acordo com o esperado. Carros buzinando, pessoas de manhã já bem cedo nas paradas de ônibus e os fatídicos alunos, de todas as idades, gêneros e jeitos se direcionando ou para as universidades ou para a escola. Em um dia comum na rotina de aulas em uma universidade em Palmas Tocantins, no segundo semestre de 2019, um professor pediu aos alunos uma demanda: solucionar um problema de modo criativo. 

Fonte: Google Imagens

Isso aconteceu na metade da aula. No primeiro momento dela foi apresentado o que seria a criatividade, que é usar os recursos necessários em seu contexto para enfim solucionar o problema, mas de modo espontâneo e natural. Além disso, demonstrou que essa faculdade humana era muito necessário para nós, futuros psicólogos, pois haverá contextos fora dali que não irão nos favorecer, o que implicaria em fazermos algum “jogo de cintura” e acionar ou trabalhar a criatividade. 

Contudo, um aluno muito atento à aula e empenhado na demanda, interrogou o professor dizendo:

– Ô fessor, como é que vou fazer isso se já estou sendo pressionado a ser criativo? Não era pra ser algo espontâneo, como a própria criatividade demanda?

O professor ouvindo isso riu junto aos demais da classe, demonstrando coerência com a pergunta do aluno, e disse:

– De fato! Tem razão. Para ser criativo precisaria sim de um contexto no qual você sinta a necessidade de ser criativo e que algo natural flua até achar uma solução. Já que você pontuou muito bem, o que sugere para solucionar este problema?

Fonte: Google Imagens

– Ué, não faço a mínima ideia professor! Hahaha. E em seguida o aluno soltou uma gaiatada, mas foi de nervoso com a demanda inusitada. 

O professor, que já tinha calculado tudo antes, pois esperava que alguém notasse esse detalhe, se direcionou a toda a classe e os interrogou:

– Então, o que acham de nós, neste momento, entrarmos agora na atmosfera da imaginação e criarmos um contexto no qual precisaríamos, como psicólogos, sermos criativos? 

A sala ouvindo cada passo e palavras do professor atentamente continuou em total silêncio, pois estavam esperançosos de receber alguma demanda individual. Contudo, o professor continuou. 

– Bom, trouxe uma caixa de som e vou colocar uma música relaxante. E quero que todos vocês fechem seus olhos. Em seguida, acompanhem com a imaginação de vocês o que vou narrar e depois vocês me respondam. 

Fonte: Google Imagens

Todos obedeceram. Cerraram os olhos firmemente e o professor em seguida colocou uma música instrumental muito tranquila. Assim que iniciou, começou uma narração de um contexto bem pacífico, dizendo:

– Digamos que todos vocês estão em um local aonde há uma equipe multidisciplinar. Há dentistas, médicos, nutricionistas, fisioterapeutas etc. E vocês, psicólogos. Contudo, todos foram abandonados em uma ilha carente com a comunidade local. E só poderiam sair de lá até resolver as demandas daquela comunidade. E então, o que fariam? E por favor, podem abrir os olhos. 

Uma moça que estava na primeira fileira, levantou sua mão. O professor deu a oportunidade a ela para falar. E então disse:

– Bom, eu particularmente não usaria a criatividade no primeiro momento e sim o desespero. Com certeza entraria em pânico, mas uma hora eu iria aceitar e iria ver como sairia dali. 

Em seguida, outra moça levantou sua mão e já disse em disparada:

– Poxa, só fato de não sair de lá te deu desespero? Mas e quando você não conseguir de fato resolver um problema de uma comunidade e mesmo assim voltar pra casa?  Não iria dormir com peso na consciência? Ou não iria duvidar das suas competências? 

Fonte: Google Imagens

A moça que foi questionada rebateu logo em seguida. 

– Nada a ver! E por acaso eu sou Deus? Como que vou resolver as demandas sem o serviço depender só de mim? E a psicologia é ampla, não precisa atuar só nas comunidades. Disse a moça com desdém. 

O professor interrompeu as duas dizendo:

-Bom, obrigado pela participação de ambas, mas primeiro quero pontuar alguns detalhes. A situação de fato é um tanto desesperadora, mas geralmente são nestes contextos que a criatividade surge. Além disso, é importante a gente considerar que a psicologia, mesmo que não atue só em comunidade, preza pelo bem estar integral do ser humano. E em qualquer contexto pode surgir imprevistos nos quais não estamos preparados, sendo em comunidade ou não. Por isso é importante exercitarmos a criatividade pessoal. 

Outro colega, inusitadamente, exclamou:

– Bom, no fritar dos ovos a criatividade só vai rolar mesmo quando você tiver sozinho, sem nenhuma ajuda e tendo que se virar nos 30. Mas valeu a tentativa prof. 

Todos riram, inclusive o professor. De modo geral, a criatividade imposta não acontece de modo espontâneo, mas é importante lembrar que ela pode ser amadurecida, resolvendo o mesmo problema criando várias soluções e saindo da zona de conforto. 

Fonte: Google Imagens
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CAOS 2021: Lauriane dos Santos Moreira irá conduzir discussão sobre documentário

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Durante à tarde do primeiro dia do CAOS 2021, acontecerá o evento Psicologia em Debate no qual serão exibidos vários documentários seguidos de discussões mediadas por excelentes profissionais da psicologia. Um desses documentários é Pandemia do Sistema (2020), dirigido por Naná Prudêncio e uma realização da Zalika Produções; o filme com duração de 31 minutos aborda fatores como o racismo, o desemprego, a insuficiência no atendimento de saúde nesses territórios e como todos esses elementos, com o agravante da pandemia, resultam em uma fórmula genocida.

A discussão a respeito desse documentário será mediada pela professora do curso de psicologia do Ceulp/Ulbra, especialista em Saúde Pública com Ênfase em Saúde Coletiva e da Família e mestra em Desenvolvimento Regional, Lauriane dos Santos Moreira. 

 

Fonte: Arquivos (En)cena

 

(En)Cena – Sabemos que um dos principais temas abordados por você é Políticas Públicas de Saúde Mental, pois está incluído nas suas disciplinas de diferentes maneiras. O que são Políticas Públicas de Saúde Mental e qual sua relação com a Psicologia Social Comunitária? 

Lauriane – A Psicologia, desde o início da formalização da profissão no Brasil, tem atuado em direção às demandas de pessoas, grupos e comunidades em situação de vulnerabilidade social. É uma perspectiva ampliada sobre a saúde mental quando se tem um olhar para as condições de vida da população, considerando os determinantes sociais envolvidos no sofrimento psicológico. Até o final da década de 1980, a atuação pelo viés da Psicologia Social Comunitária era prioritariamente voluntária, ou seja, sem remuneração, ou ainda a partir da docência no ensino superior, através de projetos diversos. Apenas com a Constituição de 1988, na qual a saúde passa a ser um direito de todos e dever do Estado, é que o Sistema Único de Saúde (SUS) pôde ser criado, sendo atualmente o principal local de trabalho para psicólogas e psicólogos no Brasil, conjuntamente com o Sistema Único da Assistência Social (SUAS). Nessa trajetória, desde meados dos anos 1970 o movimento sanitarista e o antimanicomial andaram de mãos dadas, e graças à pressão popular oriunda deles é que diversas políticas públicas hoje vigentes no campo da saúde pública foram implantadas. Abordar a temática saúde mental sem considerar a violação de direitos diversos é culpabilizar a pessoa em sofrimento, através de um discurso meritocrático extremamente falacioso, que impõe ainda mais sofrimento. Ou seja, Política Pública de Saúde Mental envolve legislação, gestão, estabelecimentos de saúde, profissionais, práticas, equipamentos, discursos, usuários, participação social que levam a cabo a sua implementação, tendo como local principal de materialização de tudo isso os Centros de Atenção Psicossociais (CAPS), ordenadores do cuidado em saúde mental, que atuam articuladamente em rede setorial e intersetorial. Havendo para a Psicologia o viés teórico e técnico da Psicologia Social Comunitária nesse trabalho, o combate a biologização do fenômeno “psi” ganha força, justamente pelos motivos expostos acima. 

(En)Cena – Qual a importância desse tema ser discutido dentro e fora do curso de psicologia

Lauriane – Somos seres biopsicossociais. A OMS tem essa visão ampliada também acerca do conceito de saúde. A nossa espécie Sapiens é extremamente moldável às condições culturais, políticas, religiosas, econômicas, sexuais etc. nas quais está inserida desde o nascimento. Somos biologicamente seres sociais! Portanto, abordar saúde mental como se fosse fruto apenas de uma variável interna ao indivíduo, algo neurológico ou fruto da suposta “mente” não é suficiente quando se quer atuar a partir de uma Psicologia baseada em evidências e com compromisso social, justificando assim a importância desses temas serem discutidos no contexto de formação de psicólogas e psicológos, o que não se restringe à graduação, mas acompanha a trajetória profissional e pessoal. 

(En)Cena – No documentário encontramos relatos de vivências diversas, várias famílias que precisam de assistência e devido ao Covid-19 tiveram os problemas sociais agravados. Como a psicologia pode intervir em situações semelhantes? 

Lauriane – Além da perspectiva já exposta nas questões anteriores, destaco que o Conselho Federal de Psicologia, a partir do código de ética da nossa profissão tem como primeiro princípio fundamental a atuação da Psicologia embasada na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Compreendendo o significado disso, não é suficiente encerrar sua atuação às quatro paredes de um consultório, mas lutar pela garantia de direitos para as pessoas. A atuação no cenário trazido pelo documentário, que é a realidade de muitos país afora desde antes do contexto pandêmico, pode ser: a conscientização de pessoas, grupos e comunidades sobre seus direitos, incentivando a mobilização social; viabilizar o acesso a esses direitos, orientando sobre os serviços e como chegar até eles; também pode fazer denúncias ao Ministério Público, por exemplo, no caso de violações diversas; ofertar escuta, acolhimento etc., mas sempre tendo em vista que apenas essa última estratégia não será o suficiente quando se tem insegurança alimentar envolvida, por exemplo. Citei algumas estratégias possíveis, mas podem ser tantas outras. A Psicologia não deve se engessar num único modo de atuar, mas caminhar conforme as demandas que se apresentam, e articulando entre serviços diversos e outras categorias profissionais para se alcançar o necessário em cada situação. 

(En)Cena – Como você avalia o trabalho feito pela psicologia aliada às políticas públicas atualmente durante a pandemia? 

Lauriane – Avalio que poderíamos ter sido, enquanto categoria profissional, mais engajados nas questões que envolvem vulnerabilidade social. Houve muita discussão em redes sociais e plataformas de videoconferência sobre a pandemia e o impacto sobre a saúde mental e outras questões, também houve um boom de atendimentos psicológicos online, inclusive gratuitos… Mas todos esses contextos são de privilégio, pois se precisa ter um dispositivo com acesso à internet para acessá-los. Hoje todo mundo tem um celular? Não! As pessoas estão passando fome… Nos primeiros meses da pandemia, ainda em 2020, diversos serviços fecharam as portas por muito tempo, deixando os seus usuários sem assistência suficiente no contexto da saúde, da educação, da assistência social, da justiça… Para as populações mais vulneráveis socialmente, como se retrata no documentário, o sofrimento que já existia, da invisibilidade social e suas consequências, se agravou sobremaneira. O medo do coronavírus coexiste aos demais. A Psicologia e o seu suposto compromisso social durante a pandemia chegaram até um determinado público, pois continuamos cegos para os contextos de maior vulnerabilidade social. 

(En)Cena – Quais as suas expectativas para o CAOS 2021? 

Lauriane – Em relação ao CAOS 2021 tenho a expectativa de que será uma oportunidade excelente para discutir sobre temas que não costumam fazer parte da atuação convencional ou rotineira da Psicologia, mas que são muito importantes. A pandemia da Covid-19 nos mostrou que é preciso ampliar nosso olhar sobre o que é ofertar cuidado em saúde mental e a gama de variáveis do contexto social que estão envolvidas, incluindo a atuação do Estado nesse manejo. Não cabe, nesse cenário, teorias e práticas elitizadas e acríticas, e vejo que o congresso contribuirá muito nesse sentido.

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Entrevista: Desafios do estudante universitário na pandemia

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Com a pandemia da Covid-19 que se iniciou no ano de 2020 e ainda perdura no ano de 2021, sabe-se que os efeitos na sociedade foram vários, incluindo efeitos psicológicos adversos devido ao isolamento social. Os estudantes universitários não saíram ilesos disso e por consequência, sofreram reações colaterais, como o aumento do sentimento de solidão e da ansiedade, assim como o aumento da preocupação para o mercado de trabalho e sobre a competitividade. Com as atividades remotas, percebeu-se também maiores cobranças e excessos de atividades acadêmicas e poucos recursos para amadurecer o conhecimento como acontecia na sala de aula presencialmente RODRIGUES, et al. 2020).

A entrevista que se segue abaixo apresenta os desafios e a concepção de uma egressa da universidade CEULP ULBRA, psicóloga Ana Carla Sousa Serra, que passou por esse momento, formada em Psicologia. 

(En) Cena – Sabemos que teve muitos desafios no decorrer dos semestres com o advento da pandemia. Como foi para você, como estudante de psicologia estudar com todo esse caos mundial? 

Ana Carla – Então… no começo eu achava que seria mais de boa lidar com as demandas né? Porque a gente acha que economizando tempo de ida e volta na faculdade assim como ficar lá por muito tempo por conta das aulas, é meio que dispendioso e a gente não consegue aproveitar como queria se ficássemos em casa. Mas quando começou, percebi que não foi nada daquilo que imaginaria ser.

 

Fonte: Arquivo pessoal

 

(En) Cena – E quais as vantagens que você havia imaginado com o ensino remoto?

Ana Carla – Bom, achava que sobraria mais tempo para eu lidar com minhas outras demandas fora da faculdade e mais tempo para me divertir também. Mas o que a gente ganhou foi vários surtos e muita neura (risos). Porque eu meio que senti que a minha ansiedade aumentou, porque não teve mais a experiência da partilha né? De partilhar com o colega o dia a dia, as conversas diárias e essas coisas. A gente não percebe que isso faz grande diferença até não ter mais. 

(En) Cena –  E quais foram os maiores desafios para você estudando remotamente? 

Fonte: https://url.gratis/DOiyWQ

 

Ana Carla – Então, os maiores foram o distanciamento social, que meio que me matou por dentro, porque foi horrível não ver a galera de novo, e o excesso de demanda dos professores sobre os alunos. Senti que a exigência para entregar resultados acadêmicos aumentou bastante. E sei que não é culpa dos professores, porque sei que há uma hierarquia na universidade. Mas acho que isso vem do preconceito da própria sociedade com ensino à distância. Porque se as pessoas fossem de boa com ensino à distância, as exigências seriam as mesmas de como é presencial, mas como as pessoas acreditam que ensino remoto não aprende, as demandas se intensificaram muito. 

(En) Cena – Sim, isso faz muito sentido. E além dos desafios, você consegue enxergar alguma vantagem do ensino remoto? 

Ana Carla – Bom, eu meio que percebi que estudar em casa tem seus desafios né? Que é ter família por perto, ter condições para ter um lugar só para estudar e tal. Mas ao mesmo tempo, eu meio que vejo o ensino remoto como uma possibilidade de complementar a grade curricular, sabe? Porque eu percebi que tem matérias que pode ser colocada de modo remoto e outras que querendo ou não, precisa ser presencial, como os estágios, e outras matérias também. Então assim, é meio que conciliar sabe? O ensino remoto com o presencial seria excelente. 

(Em) Cena – E qual sua percepção de modo geral da saúde mental dos estudantes universitários no contexto da pandemia?

Fonte: https://url.gratis/fCceSB

 

Ana Carla – Bom, eu queria parabenizar a todos que conseguiram passar de semestre (risos). Primeiro porque eu senti vontade de trancar a faculdade para voltar quando a pandemia amenizasse e voltasse presencial. Porque estava muito difícil de estudar em casa sem interrupções e entregar um rendimento propício para faculdade. E para àqueles que conseguiram passar, mesmo com todo esse caos que tá lá fora, meus parabéns. Porque a gente estuda sem saber quando vai voltar ao normal e com várias pessoas morrendo todos os dias, sem vacina e com as desigualdades mais escancaradas ainda. Então de modo geral, a saúde mental dos estudantes está falida e não é para menos. É porque realmente não sei como teria uma saúde mental legal nesse contexto. 

(En) Cena – Exatamente. Tem se falado bastante de saúde mental no contexto da pandemia e percebe-se que os universitários muitas vezes já se encontram até mesmo adoecidos por não saber lidar com tantos desafios. O que você gostaria de sugerir para poder ao menos amenizar os efeitos disso?

Ana Carla – Bom, eu como estudante gostaria de sugerir que quem estuda, pode chutar o pau da barraca mesmo (risos). Tô brincando… mas sugiro dicas básicas, como meditar, ter uma rotina de exercícios legal, ter um lugar reservado para estudar e estabelecer um tempo para isso. E tentar não surtar né? Visitar os amigos vacinados também e com máscara pode amenizar bastante. E é isso… tentar não surtar na base do possível. Porque eu sei que está difícil para todos, incluindo os professores. Tanta demanda para eles que só de imaginar já fico cansada. Mas a gente segue lutando. 

(En) Cena – Sim, tem esse adendo mesmo. Porque tem a equipe docente que sinto que pouco se fala dela. Vejo que os professores também se encontram esgotados. Você tem alguma visão/noção de como anda a saúde mental deste outro lado (dos docentes)? 

Fonte: https://url.gratis/ZPYvxI

 

Ana Carla – Poxa, eu acredito que anda por fio né? É aquele negócio, não tem nem tempo para sofrer. Porque se para nós alunos já estamos desgastados, cansados, exaustos, moídos e eles? Devem estar mais que o dobro de nós, estudantes, porque são turmas inteiras, tendo que preparar aula, corrigir provas, preparar e reavaliar trabalho…minha nossa muita coisa. 

(En) Cena – Sim…é isso mesmo. Agradeço pela sua disposição em participar dessa entrevista, pela sinceridade e transparência da sua visão sobre a saúde mental dos estudantes na pandemia. Até a próxima! 

Referências 

RODRIGUES, B. B. et al. Aprendendo com o Imprevisível: Saúde Mental dos Universitários e Educação Médica na Pandemia de Covid-19. Revista Brasileira de Educação Médica, v.44, n.1, 2020. 

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O quanto você se conhece? – Não é satisfatório conviver com uma dúvida em que a resposta está em você mesmo

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“Quem é você?”, uma pergunta aparentemente simples que deixa muitas pessoas sem respostas. Geralmente esse questionamento é feito em entrevista de emprego ou em uma consulta com o psicólogo.  Mas afinal, por que essa pergunta curta merece tanta atenção? A verdade, é que essa indagação permite a identificação sobre o autoconhecimento. Ou seja, se realmente a pessoa conhece a si mesma, bem como tem a capacidade de explicar sobre o que acontece em seu interior quando algo a desabona. 

Em tempos de redes sociais, discutir sobre esse assunto é bem pertinente, ainda mais quando padrões de comportamento e estética são impostos diariamente no universo da internet. O mundo virtual virou a nova esfera pública tão discutida por Habermas (1981).  Ademais, implica-se que definição de autoconhecimento reflete o conhecimento que o indivíduo tem sobre si mesmo. Conforme, Brandenburg e Weber o autoconhecimento trata-se da eficiência da pessoa em representar e identificar seu próprio comportamento, ou, com mais dificuldade, suas várias nuances. Para as pesquisadoras, ter consciência de si é desenvolver uma ação proferida tanto de sua autodescrição como de suas variáveis. 

Fonte: Free pick

“Nem sempre as pessoas estão atentas às condições que antecedem seu comportamento ou as consequências que ocorrem no ambiente”, reforçam. Elas ainda destacam em seus estudos que, quando o indivíduo se torna consciente de seus comportamentos, além dos fatores determinantes, surgem muitas vantagens, como ser verdadeiramente livre e obter o autocontrole.

Segundo Skinner (1957) o comportamento é uma interação entre indivíduo e ambiente.  Isto é, para desenvolver o autoconhecimento é preciso levar em consideração o meio social em que o indivíduo está inserido, bem como entender os sentimentos que muitas das vezes são aprendidos. Por isso, faz-se necessário a descrição dos sentimentos para realmente entender o que verdadeiramente se senti.

Carvalho (1999), em uma mesma abordagem, defende que é preciso detectar por si mesmo os pensamentos e os sentimentos como um primeiro passo para também “aprender a manejá-los e compreender como se relacionam mutuamente para produzir um determinado comportamento.” Para ele, entender as emoções, de uma forma profunda, é uma forma de aliviar o sofrimento.  Em seu ponto de vista, a busca pelo autoconhecimento das emoções ajuda a pessoa a lidar com as frustrações do cotidiano, por isso a necessidade de compreender os sentimentos.

Fonte: free pick

A busca pelo autoconhecimento é um trabalho diário que requer esforço e persistência. Por isso, segue algumas dicas para quem deseja entender a si próprio, além de suas emoções. É necessário que, tire um tempo para si, e questione sobre seus sentimentos daquele dia. É sempre bom escrever sobre o que está sentido, por isso sempre tenha em mãos papel e caneta. Procurar ajuda com um profissional de saúde mental é indispensável para que seus pensamentos disfuncionais se tornem alinhados com a realidade. Conversar com alguém próximo sobre suas emoções é muito importante, mas o acompanhamento profissional irá dar clareza sobre o seu comportamento.

Referências

Brandenburg, O. J. & Weber, L. N. D. Autoconhecimento e Liberdade no Behaviorismo Radical. Psicologia-USF, 2005.

Carvalho, G. S. O Lugar dos Sentimentos na Ciência do Comportamento e na psicoterapia Comportamental. Psicologia: Teoria E Prática. 1, 2, 33-36, 1999.

Habermas, Jürgen. Theorie des kommunikativen Handelns Frankfurt: Suhrkamp, 1981.

Skinner, B. F. (1957). Verbal behavior. New Jersey: Prentice-Hall.

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O começo do fim da comunidade Liberdade

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No ano de 1300 na região que hoje é conhecida como Brasil, existia um grupo de animais que viviam em uma vila chamada Liberdade. Habitavam ali bichos de várias espécies, entre eles mamíferos, pássaros e aves, répteis, anfíbios, uma fauna extensa. Nessa vila, viviam todos em harmonia, mesmo com suas diferenças e limitações. Cada um oferecia o que tinha capacidade de fazer para que todos tivessem suas necessidades supridas. Por exemplo, os pássaros apanhavam peixes para alimentar todos, além de avisar ao grupo se vinha chuvas ou não. 

 

Fonte: Google Imagens

 

Já a onça pintada, protegia as matas e a vila em que viviam. Além disso, atraia algum predador quando estavam escassos de carne e pelugem na época do inverno e de intensas chuvas. A floresta era linda. Repleta de flores, das mais variadas espécies, de plantas, de insetos e de uma extensa biodiversidade. Os animais viviam em completa harmonia. A organização deles não era de forma hierárquica e sim a mais horizontal possível, pois quando se tinha um problema, reunia o grupo e todos buscavam uma solução. Quando eram situações de grande urgência, o animal buscava o amigo mais próximo possível para ajudá-lo.

Contudo, o animal mais experiente era o que mais tinha peso nas palavras e nas decisões ali na vila, que era o javali conhecido como Jalim. Sua parcimônia em explicar a solução e frieza para calcular os próximos passos do que a vila faria em alguma situação geralmente se sobressaia sobre as opiniões dos restantes. Mostrava-se um ótimo conciliador, tentando equilibrar as partes mais extremas e ao mesmo tempo, decidir por todos. Quando se tinha muito alvoroço para decidir algum impasse, Jalim esperava todos falarem e rebatia com muita proeza as opiniões que eram as mais distorcidas.

A rotina da vila era de coleta de frutas, folhas e planta e de carne. As refeições eram realizadas duas vezes ao dia, sendo que a comida teria que estrar fresca. Tinha uma escala de coleta de comida para cada dia e turno. Depois, existia atividades em grupo, como brincadeiras, músicas e conversas fiadas ao redor de uma fogueira. Em seguida iriam dormir e posteriormente, se mudariam de lugar para um com mais recursos. 

Em um certo dia, logo pela manhã antes do sol raiar na vila, ainda com um leve aspecto de neblina, houve-se próximo a vila Liberdade disparos com um barulho ensurdecedor. Foram vários seguidos sucessivamente, sem pausa. Quando parou, todos já se encontravam alarmados no meio da vila. O Jalim, que se encontrava em um sono profundo, não tinha se atentado para o barulho e a onça pintada foi o chamar. Quando soube da situação, pediu para que os pássaros fossem sobrevoar a região que se procedia o incômodo. 

Araras e tucanos foram em conjunto fazer esta tarefa. Quando sobrevoaram e enxergaram a cena, levaram um tremendo susto e suas penas estremeceram. 

 

Fonte: Google Imagens

– Oh! Minha nossa! O que será isso? O que são esses homens com esses tocos finos pretos? Interroga de moto aflito uma das araras.

– Eu não sei! Mas coisa boa não parece ser. Exclama tristemente um tucano. 

Voltam desesperadamente para a vila e anunciam a tragédia iminente a todos de modo ofegante:

– Bicharada, o que vimos ali nunca tínhamos visto antes! São vários homens, vestidos dos pés a cabeça, e com vários tocos longos pretos que disparam para cima. Estão vindo em nossa direção e por onde passam, destroem a mata! Meu deus o que faremos? Exclamou desesperadamente o tucano, que já entrou em prantos logo em seguida depois de falar. 

As araras em seguida confirmaram sua versão:

– Exatamente! São vários e carregam várias coisas nas costas. Parecem estar bem preparados para alguma coisa. Mas e agora? 

Jalim ouvindo atentamente, assim como todos do grupo, foi um dos poucos, se não o único, que manteve-se controlado e sereno, mesmo temendo o pior. Jalim sabia que uma hora ou outra, isso iria acontecer e seria inevitável, pois já presenciou o mesmo episódio em sua infância, quando seus pais morreram queimados vindos das florestas da Bolívia. Ele esperou que todos falassem e pediu permissão para falar:

– Pessoal, minha vez. Como as araras e tucanos já afirmaram, eles estão bem equipados e por onde passam, destroem. Seria muito arriscado tentar qualquer proximidade com eles. O que vocês acham que devemos fazer?

Todos falaram simultaneamente, mas em seguida a onça pintada perguntou com sua voz grossa e valente:

– Mas por que será que não podemos tentar com eles uma aproximação assim como os indígenas que vivem aqui? Eles podem nos deixar em paz, se a gente os deixar também. O que acham? 

Alguns concordaram com eles, outros ficaram na dúvida de como seriam e outros afirmaram que iriam morrer se chegassem mais perto. O Jalim, ouvindo isso, o interrogou:

– O que te faz ter essa garantia sendo que eles passam pelos lugares e DESROEM tudo ao redor? Você não está assustado com esse barulho? Não entendeu o desespero do que as araras e os tucanos enxergaram? O que vocês acham? Direcionou-se às aves.

– Parece-me que eles não estão nada amigáveis com os indígenas que já estão aqui desde que nos conhecemos por bichos! Falou tristemente o tucano.

 

Fonte: Google Imagens

 

Todos ficaram reflexivos por um momento. A comunidade vivia em harmonia com os únicos seres humanos que já entraram em contato, que foram os indígenas. Eles tinham instrumentos que não os ameaçavam, se vestiam camufladamente e não os destruía. Era fato que os humanos que se aproximavam eram ameaçadores para eles. Nenhuma animal ali se sentia a vontade com a chegada deles. Além disso, o barulho estrondoso se aproximava cada vez mais. E foi aí que Jalim lançou a proposta:

– Bicharada, prestem atenção por favor! Estamos em perigo e isto é fato. O que faremos agora? Proponho irmos para o lugar mais distante possível, que tenha água e comida fresca mas principalmente água. Creio que estes que se aproximam irão trazer consigo a destruição.

Todos concordaram e começaram a se retirar em conjunto freneticamente em direção ao sudeste, que era o lugar contrário de onde vinham os disparos. Quando saíram, ouviram gemidos e gritos de desespero de alguns indígenas. Depois, aceleraram mais ainda os passos. 

Jalim e toda a vila Liberdade estavam cientes de que estes homens, poderiam futuramente os encontrar e não ser nada harmônico. Aquela convivência entre os animais da vila estava ameaçada e já não se sabia por quanto tempo. 

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Charlie – um grande garoto: reflexões da medicalização em adolescentes

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Fonte: encurtador.com.br/npzN5 / Tradução: “pessoas como você são a razão
pessoas como eu precisam de medicação”

 

O filme Charlie – um grande garoto retrata a vida do adolescente de classe alta, de 17 anos, Charlie Bartlett, que após ser expulso da sua escola por fabricar carteiras de identidade falsas, é mandado pela sua mãe para uma escola pública. Sua maior ambição sempre foi a popularidade, após uma consulta com um psiquiatra que lhe passa ritalina, o adolescente sofre uma psicose com o uso do medicamento, descobrindo então a oportunidade perfeita para poder atrair seus colegas. 

Numa parceria com o valentão do colégio sugere a venda dos comprimidos em uma festa, o que dá muito certo, logo seus colegas começam a procurá-lo, contando de seus problemas. Charlie começa a frequentar vários psiquiatras e mentir sobre seus sintomas, de acordo com que cada pessoa lhe fala, os diferentes médicos passam diversas medicações a qual ele repassa, juntamente com Murphy. Em um negócio lucrativo e perigoso, o garoto começa a revolucionar o modo de se comportar dos adolescentes, se tornando a pessoa mais influente do colégio, roubando assim o respeito do diretor.

 A série traz a problemática do uso da medicação, quando um de seus colegas que passava por uma depressão severa, faz a ingestão de vários medicamentos de uma vez, com a intenção de tirar sua própria vida. Sofrendo uma intoxicação medicamentosa, o que fez com que Charlie refletisse sobre o que a sua influência propagava. O diretor lhe destaca uma frase: “Juntar drogas psiquiátricas com adolescentes é como colocar uma barraca de limonada no deserto.” 

Fonte: encurtador.com.br/ailpI

Para Foucault a medicalização é uma forma de controle no cotidiano das pessoas, ele acredita que a medicina é o que une a biopolítica com a disciplina, da vida, atuando por meio da noção de norma. Destaca ainda que os transtornos psiquiátricos se expandem e passam a abarcar os problemas cotidianos do comportamento humano a partir da expertise psiquiátrica. Essa expertise está ligada não só a irresponsabilidade de falsos diagnósticos como também ao lucro.

No filme o pai de Charlie está preso, e quando questionado sobre ele pelos amigos o mesmo o considera morto, quando interrogado pelo psiquiatra ele desconversa. Ao passar os remédios por causa da sua indisciplina, com a hipótese diagnóstica de TDAH , o médico dispara a seguinte fala: “Se o remédio fizer efeito você tem, se não fizer você não tem” demonstrando a negligência e falta de avaliação psicológica e multidisciplinar. O controle através de medicamentos, é uma via mais fácil do que o uso e respeito de outras ferramentas, talvez seus problemas de concentração e desvios de comportamentos pudessem ser advindos da sua relação com o pai, não sendo necessário o uso de psicofármacos.

Nenhum psiquiatra no filme chega a investigar, ou adotar uma postura educadora, apenas lidam com receitas, causando todo o efeito dominó. O filme nos faz refletir que o remédio aplicado de forma negligente tem suas consequências. Ao jogar todos os comprimidos no vaso, o garoto sugere que os colegas continuem indo desabafar com ele no banheiro como de costume, onde começa a propor outras soluções, preservando a subjetividade e a fase do desenvolvimento que é adolescência, composta por inúmeros conflitos, dúvidas e amadurecimento. 

Fonte: encurtador.com.br/qrEHZ

Ficha técnica 

Ano de produção: 2007

Dirigido por: Jon Poll

Estreia: 2007

Duração: 97 minutos

Gênero: comédia/ drama 

País de origem: Estados Unidos 

Referências

Adorocinema ficha técnica completa Charlie um grande garoto (encurtador.com.br/mwLNU)

CHARLIE um grande garoto. Jon Poll. EUA. – 2007. Amazon Prime vídeos.

Zorzanelli, Rafaela Teixeira e Cruz, Murilo Galvão Amancio conceito de medicalização em Michel Foucault na década de 1970. Interface – Comunicação, Saúde, Educação [online]. 2018, v. 22, n. 66 [Acessado 15 Setembro 2021] , pp. 721-731. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/1807-57622017.0194>. Epub 21 Maio 2018. ISSN 1807-5762. https://doi.org/10.1590/1807-57622017.0194.

 

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Enem: 7 técnicas de memorização para melhorar os estudos

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* Leonardo Chucrute é Diretor-geral do Colégio e Curso ZeroHum

 O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) 2021 será realizado nos dias 21 e 28 de novembro, tanto na versão digital quanto na impressa. Com a proximidade da prova, é normal a pessoa ficar nervosa, principalmente no dia. Por exemplo, quem não ficou desesperado ao ter o famoso branco diante do exame? Ou mesmo durante a preparação não sabia como memorizar o conteúdo para conseguir ter uma boa nota?

 

É importante ressaltar que a memorização ajuda, porém, o mais importante é entender o conteúdo. Assim você pode com suas palavras e entendimento explicar o que aprendeu. Mas vale ressaltar que a memorização não é algo que acontece rápido. Trata-se de um treino para aumentar a capacidade da sua mente de reter um conteúdo.

 

Minha primeira dica é ‘sair do óbvio’. Já ouviu dizer que, quando a gente foge do comum, aprendemos mais? Por isso, fuja do piloto automático. Para que você reprograme o cérebro para aumentar a capacidade de aprender coisas novas, comece pelo simples. Estude em ambientes novos. Ao fazer algo diferente, força sua cabeça a pensar mais e achar outras soluções que não as mesmas de sempre.

 

Outro método é ter foco. A Memorização está ligada ao foco. Portanto, pratique sua percepção. Use técnicas de relaxamento para não deixar que os problemas te atrapalhem ou sejam uma distração no momento de estudar. Dessa forma, ao estudar bem e focado, vai conseguir se lembrar mais do que aprendeu.

 

A terceira dica é a auto-explicação. Já ouviu falar que professor aprende mais dando aula? Isso é porque nós estamos revisando tudo o que aprendemos e que temos que ensinar. Inspire-se no seu professor preferido e explique em voz alta para você o conteúdo, pois assim seu cérebro vai captar mais o que tem que aprender.

 

O fichamento é outra técnica. Fichamento é fazer tópicos com palavras-chave do que lemos. Assim, conseguimos memorizar melhor e mais rápido. A quinta dica é praticar a memória reversa. A memória reversa é relembrar de tudo o que aconteceu no seu dia antes de dormir. Ao fazer isso, estamos forçando a nossa memória a se expandir e a aumentar a capacidade de lembrança.

 

O penúltimo método de memorização é o flashcards. São cards de papel em que você escreve a pergunta na frente e a resposta atrás. Além de ajudar a lembrar do conteúdo, pode ser uma forma de estudar em grupo, pois parece com jogos de perguntas e respostas.

 

Por último, indico que faça sua revisão semanal para melhorar a memorização dos estudos. É necessário estudar constantemente para não esquecer. Utilize essas dicas e não se esqueça que cada um tem seu jeito de estudar. Encontre o seu e pratique! Dedique-se e terá uma excelente nota no Enem.

 

(*) Leonardo Chucrute é diretor-geral do Colégio e Curso ZeroHum, Professor de matemática, ex-cadete da AFA e autor de livros didáticos.

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