(En)Cena entrevista Nayjla Lane R Gonçalves: o fazer psicopedagógico
25 de dezembro de 2023 Ana Carla Olímpio Soares
Entrevista
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Ana Carla Olímpio Soares (Acadêmica de Psicologia) – anacarlaolimpio@rede.ulbra.br
(En)Cena entrevista Nayjla Lane Ramos Gonçalves, psicóloga pela Ulbra Palmas, atuando com foco na Terapia Comportamental, psicopedagoga pela Universidade do Estado do Para – UEPA, mestre em educação pela Universidade Federal do Tocantins – UFT, pós-graduanda em Neuropsicologia e Psicologia e Desenvolvimento da Aprendizagem.
(En)Cena: Nayjla, é um prazer entrevistá-la, neste primeiro momento gostaria de compreender como surgiu o interesse na psicologia após a graduação em psicopedagogia. Apesar de não atuar diretamente na psicologia escolar, como você vê essa subárea da psicologia?
Nayjla: Sempre foi um desejo cursar Psicologia por suas implicações no desenvolvimento humano, e como Pedagoga ter um olhar ampliado para este desenvolvimento era imprescindível, o que se concretizou na graduação em Psicologia. Apesar de não atuar diretamente na Psicologia Escolar como Função, percebo como a Psicologia Escolar é importante para compreensão no desenvolvimento da aprendizagem, das habilidades sociais, relacionamentos dentro da escola, que para muitos alunos se tornam em um grande desafio e por vezes incide até em sofrimento. O universo escolar é eivado de muitos desafios.
(En)Cena: Diante da sua experiência na área educacional através da psicopedagogia, qual a principal lacuna na educação? Que estratégias é possível adotar para amenizar tais circunstâncias?
Nayjla: A história da Educação é extensa e como disse anteriormente, é acometida por muitos desafios, sejam pessoais, corporativos, estruturais, organizacionais, a política pública quando se trata de educação é complexa. No entanto para não aprofundar na história da Educação, quem sabe em outro momento, percebo que muitas lacunas ainda existem na educação, espaços de atenção que precisam ser preenchidos, compreendidos, um deles é a urgência em compreender que além do ensino e aprendizagem teóricos, catedráticos, faz-se imprescindível um olhar real, sério para as demandas emocionais de todos que compõe o universo escolar, não banalizar essa urgência de atenção Psicológica. Importante entender por que o aluno não se desenvolve, valorizar suas potencialidades, um olhar para a pessoa como um todo, e não só em aprendizagens específicas do currículo.
(En)Cena: Além das problemáticas no campo educacional, qual a maior dificuldade que permeia as salas de aula (professores e alunos) no processo de aprendizagem?
Nayjla: Dentre muitas, posso citar com veemência, a participação da família na vida escolar dos filhos, a compreensão clara de que a escola tem um papel preponderante no desenvolvimento, mas que não substitui o ambiente, a responsabilidade, o papel que cabe a família, não é um lugar para deixar os filhos, mas um lugar para aprimorar, aperfeiçoar o ensino e aprendizagem e que precisa contar com uma base que vem de casa, embora, sabe-se que a escola também precisa estar preparada para intervir, em situações que faltem este alicerce, e aqui seria fundamental a intervenção do Psicólogo Escolar, no sentido de ajudar no desenvolvimento das potencialidades deste alunos, através de um trabalho de alcance e descoberta da capacidade de aprender.
(En)Cena: Levando em conta as suas graduações e especializações, há importância do papel do psicólogo escolar? Qual seria?
Nayjla: Fundamental para dar direção coerente ao processo de aprender, de orientação aos alunos quanto a importância das habilidades sociais nos relacionamentos, que dentro de uma escola, para alguns, além de ser desafiador, causa muitos sofrimentos, desenvolver debates, palestras que mostrem a capacidade que cada um tem de se desenvolver no processo, no caminho que envolve o ensino e a aprendizagem, dar significado a vivência escolar, através de estratégias, como projetos, rodas de conversa e etc.
(En)Cena: Em algumas escolas, por muitas vezes esperam que o psicopedagogo realize o trabalho do psicólogo e vice-versa. Perante o seu conhecimento enquanto psicopedagoga, qual/quais a/as diferenças nessas atuações?
Nayjla: A diferença principal está na especificidade da função do Psicopedagogo, que é um profissional que conhece o processo de ensinar e aprender, que aliado a isso, tem uma noção das funções psicológicas que potencializam ou dificultam este processo, a escola não é um consultório, e nem este profissional é o terapeuta dos alunos, mas é através de seus conhecimentos e estratégias próprias de sua formação que promove meios adequados de dar significado às vivências no ambiente escolar, bem como viabilizar os meios para que os alunos consigam compreender como funcionam no que diz respeito ao seus processos de aprendizagem especificamente. Já o Psicólogo tem o domínio, ou espera-se que tenha, de conhecimento das funções psicológicas, dos processos mentais e comportamentais, e pode identificar situações e /ou mesmo transtornos que possam estar dificultando a aprendizagem.
(En)Cena: Como é possível a psicopedagogia e psicologia caminharem juntas na atuação do campo da aprendizagem/educação?
Nayjla: Na verdade não só é possível, como fundamental, pois são profissionais que atuam em situações e campos específicos no processo de aprendizagem dos alunos, o Psicopedagogo trabalha os métodos, estratégias no processo de aprender dos alunos, bem como tem um olhar mais amplo sobre as dificuldades quanto a aprendizagem, o Psicólogo dentro de suas especificidades tem a capacidade de diagnóstico melhor no que diz respeito ao comportamento, emoções e processos mentais que podem estar inviabilizando a aprendizagem e a compreensão das estratégias propostas pelo Psicopedagogo. Assim, o privilégio de ter ambos os profissionais e em sintonia, contribuirá de forma efetiva e significativa no processo de desenvolvimento de cada aluno.
(En)Cena: Agradecemos a sua disponibilidade e para finalizarmos este momento, deixo livre para que você deixe uma mensagem ao nosso público do portal.
Nayjla: Prazer foi todo meu em participar, sou educadora e a mensagem que deixo para os leitores, público deste portal, é que se importem com a educação e que jamais esqueçam que o processo de ensinar e aprender, não é só eivado de primazia, mas tem em si uma mágica natural, afinal não tem quem não possa aprender e quem não possa ensinar. A vida em si é uma grande escola, e se no decorrer dela pudermos contar com os que facilitem e deem maior significado às nossas vivências dentro dela, será mais leve a caminhada.
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Psicologia escolar e o fazer psicológico no campo de atuação
18 de dezembro de 2023 Ana Carla Olímpio Soares
Insight
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A psicologia se caracteriza como uma profissão de amplas oportunidades de atuação, permitindo assim, aos profissionais atuarem desde a clínica, unidades básicas de saúde – UBS, centro de referência especializado de assistência social – CREAS, centro de referência de assistência social – CRAS, hospitais e diversos outros ambientes. Outro exemplo, é a atuação do psicólogo na rede de ensino, na área da psicologia escolar.
Segundo Oliveira e Araújo (2009) o surgimento da prática do psicólogo escolar se deu como mecanismo de correção e adaptação à escola e do estudante que possuía problemas no processo de aprendizagem. As autoras complementam que apesar da atuação do profissional ser no ambiente escolar, ainda persistia ações que eram de caráter dos atendimentos clínicos, como por exemplo, uso de testes por meio das avaliações psicológicas, visando chegar a um possível diagnóstico.
Com esse intuito de que o psicólogo escolar resolvesse todas as problemáticas nas instituições, seguindo à risca o modelo médico, Oliveira e Araújo (2009, p. 649) evidenciam que como consequência desse modelo seguido, trouxe a “patologização e psicologização do espaço escolar”, colocando os alunos como sujeitos culpados pelas dificuldades que apresentavam e retirando a escola de suas responsabilidades enquanto instituição que possuía seus deveres no processo de ensino-aprendizagem.
Apesar desse início, Oliveira e Araújo (2009) colocam que com o passar do tempo, o papel do psicólogo na escola foi sendo revisto para então chegar a uma ação que fosse de fato benéfica para o ambiente e os sujeitos inseridos nele. Ao passo de novas maneiras de se fazer a psicologia escolar, Oliveira e Araújo (2009, p. 650) colocam que,
As mudanças vêm ocorrendo de forma que se encontram, cada vez mais, relatos de experiências de psicólogos que se preocupam em não culpabilizar o aluno pelas dificuldades que enfrenta e tentam conscientizar os demais profissionais de que a problemática do aluno está inserida em uma gama maior de determinantes que não apenas os individuais, os familiares ou os psico-afetivos (Cruces, 2003; Neves; Almeida, 2003; NEves; Machado, 2005).
Para Oliveira e Araújo (2009), este processo de repensar o fazer psicológico na escola, se fez fundamental para evitar de perpetuar cenários de exclusão com aqueles alunos que apresentavam dificuldades no processo de aprendizagem, pois não havia ampliação do olhar para as variáveis que interferiam neste processo.
Referente a psicologia escolar, Oliveira e Araújo (2009, p. 651) embasam-se nos estudos de Marinho-Araújo e Almeida (2005) para dar significado a ela, sendo que é “um campo de produção de conhecimentos, de pesquisa e de intervenção e que, entre outras atribuições, assume um compromisso teórico e prático com as questões relativas à escola e a seus processos, sua dinâmica, resultados e atores”. Podendo dizer assim que, o fazer da psicologia escolar além de ser um âmbito do psicólogo atuar, é um meio onde permite produzir estudos científicos, “caracterizado pela inserção da Psicologia no contexto escolar, sendo que o objetivo principal deste campo é mediar os processos de desenvolvimento humano e de aprendizagem, contribuindo para sua promoção” (Oliveira; Araújo, 2009, p. 652).
Com relação ao profissional, as autoras Oliveira e Araújo (2009) esclarecem que, diferente da atuação clínica, o psicólogo escolar não se utiliza apenas de uma teoria ou metodologia para produzir as intervenções/ações, ele se utiliza dos mais diversos saberes que possam auxiliá-lo na melhor maneira de atuar no espaço, dando assim, um amplo embasamento para lidar com as necessidades que surgem. Complementam que apesar da escola ser o lugar principal de atuação desse profissional, não se limita apenas a ele.
(…) evidencia-se que a atuação da Psicologia Escolar relaciona-se com contextos de natureza educativa nos quais os processos de aprendizagem e de desenvolvimento humano, e a relação que se estabelece entre eles, são tidos como foco do trabalho. A intervenção desencadeada pelo profissional da área volta-se, essencialmente, para a mediação desses processos com o objetivo precípuo de promovê-los (Oliveira; Araújo, 2009, p. 653).
Apesar das evoluções no fazer da psicologia escolar e na atuação do psicólogo, ainda é possível encontrar em algumas instituições a ideia de que o profissional pode resolver todos os conflitos/necessidades/dificuldades que envolvam o aluno e o processo de aprendizagem, onde de acordo com Andaló (1984, p. 43), “que lhe é atribuída a decisão e o julgamento a respeito da adequação ou inadequação das pessoas em geral. São as duas faces de uma mesma moeda de um lado o mágico, o salvador, e do outro, um elemento altamente persecutório e ameaçador.”. De acordo com a autora, esses papéis podem gerar resistências e dificultará ou impedirá do psicólogo escolar desempenhar sua função.
Para além disso, Andaló (1984) expõe que por vezes ao ser repassado a ele o discente que possui as dificuldades no ambiente escolar, pode gerar no professor, a ideia de que ele não é responsável por aquele sujeito, colocando de responsabilidade apenas do psicólogo, enquanto na verdade, o que deveria ser realizado era o trabalho multidisciplinar com esse aluno. Porém, como Oliveira e Araújo (2009) trazem em seu estudo, a inserção do professor neste processo é fundamental para que este se perceba como sujeito integrador das questões relacionadas ao ensino-aprendizagem, gerando assim, uma cooperação entre profissionais.
Mas para Oliveira e Araújo (2009), a inserção do professor no processo não se deve passar apenas para que ele se veja parte do processo, mas para que também apresente uma atenção voltada a saúde mental, pois
Em virtude do forte vínculo afetivo, do intenso investimento no outro (o aluno) e da expectativa em relação aos resultados de seu trabalho, é comum identificar professores cansados, abatidos e desmotivados diante da tarefa de ensinar. Tais situações caracterizam professores que sofrem da síndrome de burnout e que precisam da intervenção do psicólogo escolar (e de outros profissionais de saúde) para modificar este quadro de sofrimento e reencontrar o prazer e alegria de ensinar (Oliveira; Araújo, 2009, p. 659).
Cabral e Sawaya (2001) trazem resultados de pesquisa que indicam que cerca de 50% a 70% de crianças são encaminhadas aos serviços públicos de saúde com queixas de dificuldade de aprendizagem ou relacionados a problemas de comportamento no ambiente escolar, diante disso, traz uma crítica acerca do mesmo ponto levantado pelos outros autores utilizados no decorrer do texto sobre o olhar voltado apenas para os alunos como sujeitos responsáveis para esses problemas, excluindo os profissionais vinculados ao espaço que eles estão presentes.
Como uma alternativa de mudanças para essas situações, Andaló (1984) dá destaque em seu trabalho para um psicólogo escolar “agente de mudanças”. A autora acredita que ao exercer um papel ativo, o psicólogo é capaz de promover no espaço inserido, reflexões diante de todo o cenário em que a instituição atua. Mas para que esse trabalho seja bem desenvolvido, a autora evidencia a necessidade de abranger a visão sobre o discente desde a suas relações dentro quanto fora do ambiente escolar, buscando compreender os sistemas em que ele é inserido e como esses afeta-o, assim como além da compreensão acerca dos estudantes, é necessário compreender a instituição, como ela funciona e como é sua realidade, buscar aproximar toda a equipe (professores, diretores e coordenadores) para que também possam compreender o que ocorre no meio escolar.
Andaló (1984, p. 46) complementa que é imprescindível
conscientizá-los da realidade da sua escola, refletindo com eles sobre os seus objetivos, sobre a concepção que subjaz ao processo educacional empregado, sobre as expectativas que têm de seus alunos, sobre o tipo de relação professor-aluno existente, enfim sobre a organização como um todo.
A autora ainda acrescenta que é necessário retirar o foco apenas do aluno como “culpado” dos problemas de aprendizagem, evidenciando um olhar amplo da situação, mas que não menos importante, é necessário também saber identificar quando de fato a problemática está vinculada apenas ao aluno, para que assim, possa ser realizado as intervenções necessárias para que não prolongue esse déficit.
A presença do psicólogo escolar nas instituições ainda não é possível encontrá-lo 100% nelas, mas é de fundamental importância a presença desse profissional, pois pode gerar ao local melhorias nas relações que acontecem na escola, uma ampliação de olhar nos processos de ensino-aprendizagem, possibilidade de uma reorganização nas demandas, abrir portas para o trabalho multidisciplinar e também conseguir aproximar as famílias/responsáveis da responsabilidade pelo processo de aprendizado dos alunos. Levando em consideração a singularidade de cada sujeito inserido nesse contexto.
REFERÊNCIAS
ANDALÓ, Carmem Silvia de Arruda. O papel do psicólogo escolar. Psicologia: ciência e profissão, v. 4, p. 43-46, 1984.
CABRAL, Estela; SAWAYA, Sandra Maria. Concepções e atuação profissional diante das queixas escolares: os psicólogos nos serviços públicos de saúde. Estudos de Psicologia (Natal), v. 6, p. 143-155, 2001.
DE OLIVEIRA, Cynthia Bisinoto Evangelista; MARINHO-ARAÚJO, Claisy Maria. Psicologia escolar: cenários atuais. Estudos e pesquisas em psicologia, v. 9, n. 3, p. 648-663, 2009.
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Impactos da pandemia na educação e nos sujeitos inseridos nessa realidade
8 de dezembro de 2023 Ana Carla Olímpio Soares
Insight
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O sistema educacional ao passo que se instaurou o período de pandemia devido ao COVID-19, passou por diversos conflitos, desafios e necessidade de adaptações que por vezes não eram suficientes para o enfrentamento da situação. Ao passo que o vírus se espelhava pelo país/mundo, foi necessário aderir estratégias como, fechamento de escola, universidade e templo religiosos; proibição de realização de eventos das mais variadas espécies, proibição de viagens interestaduais e até intermunicipais na tentativa de evitar aglomerações e assim a doença fosse disseminada de forma mais rápida e sem controle (Carvalho et al. 2020, p. 3).
Diante dessas medidas tomadas pelos governantes, cada sujeito experienciou de uma maneira diferente, enquanto para alguns não gerou muito impacto no modo de viver, para outros os impactos foram mais críticos, mas de acordo com os estudos de Ornell; Schuch; Sordi; Kessler (2020) levantados por Carvalho et al. (2020), situações como essas podem gerar ou ampliar aos sujeitos envolvidos sintomas ansiosos, estressantes e acentuação em casos de depressão e que situações como essas e suas consequências, perpassam pelos indivíduos independentemente de sua classe social, idade ou sexo.
Com a necessidade de adaptações, no período da pandemia, novas relações afetivas e profissionais foram criadas e ressignificadas, muitas pessoas passaram a trabalhar remotamente; famílias passaram a conviver cotidianamente com vários conflitos; pessoas ficaram afastadas de entes queridos para se proteger e proteger o outro; muitos continuaram nas suas atividades por serem essenciais, por não terem outra opção para se manter ou mesmo por não acreditarem que o vírus é real (Souza, 2020, p. 111).
Para além dessas mudanças, a pandemia também trouxe problemáticas e necessidade de adaptações no campo educacional, pois com a precisão dos estudantes permanecerem em suas casas, causou uma ruptura abrupta no modelo tradicional de ensino, aulas presenciais em sala de aula passando para um ensino digital, por meio de aulas online ou gravadas. Souza (2020) traz em seu estudo, dados importantes acerca dos indivíduos com acesso à internet e celular, esses dados foram retirados do IBGE de 2018 em que constava que por volta de 15 milhões de residências não possuíam acesso à internet, enquanto cerca de 79,1% tinham acesso à internet, sendo o aparelho celular o meio mais utilizado pelos indivíduos, mas que apesar disso, em algumas residências, era um único celular para todos os moradores.
Além dos dados levantados pelo IBGE, Souza (2020) evidencia o estudo do CETIC de 2019 em que constava que cerca de “11% das crianças e adolescentes de 9 a 17 anos não têm acesso a internet, correspondendo a 3 milhões de pessoas, sendo que 1,4 milhão nunca acessou a rede” (p. 111-112). Indo além do acesso à internet e posse de aparelhos celulares, a autora traz um ponto de grande importância, o local em que esses sujeitos residem são de grande importância, pois quanto mais confortável e possuir espaços adequados, melhor poderá ser o rendimento do estudante, enquanto sujeitos de baixa renda podem encontrar dificuldades de obter um bom desempenho nos estudos devido a falta de um ambiente amplo e adequado para estudar.
Referente às dificuldades durante a pandemia no contexto de ensino, Souza (2020) levantou pontos como por exemplo, dificuldades em manter o vínculo com os alunos mesmo distante, como ensinar por meio das tecnologias enquanto há alunos que não possuem acesso a mesma e principalmente, como superar o modelo tradicional da educação. Além dessas, a autora ainda complementa com preocupações em relação ao modelo em que a graduação preparou esses professores para darem aula diante do cenário sala de aula, quadro e alunos presentes e com a ocorrência da pandemia teve necessidade do ensino online, levando a sala de aula para a estrutura da residência dos professores e adiante disso, apresentavam impacto no momento de gravar ou dar as aulas.
Souza (2020) traz um adentro importante de se levar em consideração, onde ao passo que o ensino se tornou remoto, ele retira o aluno do lugar de sujeito ativo, deixando de lado as metodologias ativas que eram utilizadas no presencial, tornando assim, o que a autora traz como “educação instrucionista, conteudista” (p. 113), levando ao cansaço e dispersão dos alunos. Além disso, trouxe efeitos aos professores também, pois ao lidarem com o novo jeito de ensinar, pôde se observar o aumento de sintomas ansiosos e a sobrecarga profissional, pois além de professores se adaptando, também eram sujeitos com medo e dúvidas acerca do novo cenário que se instalava.
Senhoras (2020) traz que com a ocorrência da pandemia, foi perceptível também o crescimento no número de desistência de alunos e os problemas no processo de aprendizagem, podendo ser levado em conta que ao utilizar-se do ensino online, a figura de auxílio no ensino, se tornou os pais, em que dependendo da escolaridade e classe social deles, poderiam não saber o conteúdo e consequentemente, não conseguir acompanhar os filhos.
(…) surge a problematização da ausência do preparo de pais e responsáveis para assumirem o papel de tutores/mediadores. Ferreiro e Teberosky (1999, p.17), ao apoiarem-se na referência piagetiana quanto o processo de aquisição do conhecimento, propuseram interpretar a criança como “sujeito que produz seu próprio conhecimento”. Desta forma, faz-se necessário que lhes sejam apresentados meios de desenvolvimento. No entanto, para a grande maioria dos pais falta-lhes conhecimento pedagógico para propiciar e acompanhar este processo de aprendizagem (Queiroz et al. 2021, p. 6).
Senhoras (2020) complementa que, quanto melhor a condição financeira e maior for o grau de escolaridade, mais fácil é para que haja continuidade nos estudos independentemente se seja online ou presencial.
Fonte:https://encurtador.com.br/crxFU
Em seus estudos, os autores Queiroz et al. (2021) realizaram pesquisas direcionadas aos responsáveis de alunos que estudavam a primeira série do ensino fundamental, onde estavam em processo de aprender a ler. Diante das pesquisas, foi relatado pelos pais que as maiores dificuldades no processo de aprendizagem na pandemia se deram ao fato de não possuírem ou terem dificuldade em acessar à internet, a ausência de interações sociais que as crianças possuíam antes, levando-os a um baixo acompanhamento de maneira regular nos conteúdos que eram disponibilizados e como relatado tanto por Senhoras (2020) quanto por Queiroz et al. (2021), o despreparo dos responsáveis em prestar auxílio nas atividades.
No trabalho de Santos et al. (2021, p. 4) evidencia outros problemas ora enfrentados no processo do ensino online, como por exemplo, “a conexão instável e lenta à internet, excesso de trabalho e questionamentos acerca das melhores estratégias metodológicas para o ensino de Ciências e Biologia de maneira remota”, indo além desses, os autores trazem também dificuldades em decidir que recurso utilizar nas aulas, as maneiras de estabelecer a comunicação com os alunos, a idade dos alunos também se mostrou um fator importante e ao levar a sala de aula para dentro de casa, os professores tiveram um maior gasto financeiro para que pudessem dispor dos recursos necessários para prestar um bom ensinamento.
Dessa maneira, observa-se a “uberização” do trabalho realizado pelo professor na modalidade remota, pois como afirma Silva (2019) o trabalho na empresa Uber exige que o trabalhador seja responsável pela mercadoria que vai vender e pelo serviço que será prestado. Esse cenário reflete o aumento da carga horária de trabalho e a transferência de gastos e riscos para os docentes do país (Barbosa, Ferreira & Kato, 2020). A realidade torna-se ainda mais difícil para as mulheres docentes, pois sobre elas recaem maior carga de stress com os filhos e outros familiares na residência (Santos, 2020). Devido ao machismo ainda vigente, as tarefas domésticas não são divididas, e assim, as mulheres se desdobram para lidar com os afazeres de casa e as múltiplas atribuições do trabalho (Santos et al. 2021, p. 4).
Ao passo que a pandemia foi amenizando e com o surgimento das vacinas, as pessoas foram retornando às suas rotinas de trabalho, estudo e relações sociais. Com a volta para as escolas, foi possível perceber as dificuldades de socialização, estabelecer vínculos sociais/afetivos devido ao tempo em que passou em isolamento, dificuldade no processo de adaptação das atividades, por vezes até mesmo uma queda no ritmo de aprendizado e consequentemente, notas de trabalhos e provas, baixa concentração nas atividades, comportamentos hiperativos. Apesar disso, pode-se observar que a volta “ao normal”, os professores buscam mais ainda tornar os alunos sujeitos ativos e com autonomia para que consigam buscar o aprendizado, mas sempre promovendo meios e disponibilizando materiais e apoio quando buscado.
REFERÊNCIAS
CARVALHO, L. de S.; SILVA, M. V. de S. da; COSTA, T. dos S.; OLIVEIRA, T. E. L. de; OLIVEIRA, G. A. L. de. The impact of social isolation on people’s lives during the COVID-19 pandemic period. Research, Society and Development, [S. l.], v. 9, n. 7, p. e998975273, 2020. DOI: 10.33448/rsd-v9i7.5273. Disponível em: <https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/5273> Acesso em: 4 dez. 2023.
SANTOS, D. R. dos .; OLIVEIRA, K. F. .; SOARES, Z. C. B. . Challenges faced by teachers in the pandemic and post-pandemic scenario: teachers and the challenges encountered in time of a pandemic. Research, Society and Development, [S. l.], v. 10, n. 15, p. e02101523083, 2021. DOI: 10.33448/rsd-v10i15.23083. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/23083. Acesso em: 5 dec. 2023.
SENHORAS, E. M. . CORONAVÍRUS E EDUCAÇÃO: ANÁLISE DOS IMPACTOS ASSIMÉTRICOS. Boletim de Conjuntura (BOCA), Boa Vista, v. 2, n. 5, p. 128–136, 2020. DOI: 10.5281/zenodo.3828085. Disponível em: https://revista.ioles.com.br/boca/index.php/revista/article/view/135. Acesso em: 4 dez. 2023.
SOUZA, E. P. de. Educação em tempos de pandemia: desafios e possibilidades. Cadernos de Ciências Sociais Aplicadas, [S. l.], v. 17, n. 30, p. p. 110-118, 2020. DOI: 10.22481/ccsa.v17i30.7127. Disponível em: <https://periodicos2.uesb.br/index.php/ccsa/article/view/7127> Acesso em: 4 dez. 2023.
QUEIROZ, M. de; SOUSA, F. G. A. de .; PAULA, G. Q. de. Educação e Pandemia: impactos na aprendizagem de alunos em alfabetização. Ensino em Perspectivas, [S. l.], v. 2, n. 4, p. 1–9, 2021. Disponível em: https://revistas.uece.br/index.php/ensinoemperspectivas/article/view/6057. Acesso em: 4 dez. 2023.
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“O Milagre de Anne Sullivan” – em busca da cura
18 de novembro de 2023 Ana Carla Olímpio Soares
Filme
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A educação inclusiva como mecanismo de inserção de um sujeito ativo ao meio social.
O filme “O milagre de Anne Sullivan”, lançado em julho do ano de 1962, retrata a história de uma família tradicional da época em que a filha mais nova, chamada Helen Keller, era cega, surda e até mesmo muda. A família buscara diversos meios de tratamentos para auxiliar a criança ser “curada”, estavam sempre atrás dos médicos que surgiam com fama de “curandeiro”, mas apesar disso, enquanto a mãe de Helen apresentava esperanças de que a filha pudesse evoluir, o pai por outro lado já não acreditava nessa possibilidade. Como forma de tentar amenizar a condição em que a criança vivia, a família costumava fazer suas vontades, reforçando os comportamentos “maus” dando doces ou coisas que ela gostava como meio de “acalmá-la” das crises.
Helen Keller se mostrava ser uma criança raivosa, cheia de resistências e que todos os seus comportamentos afetavam as outras relações daquele núcleo familiar. Como uma última tentativa, os pais resolvem contactar um profissional que estava em destaque na época pelos tratamentos de sucesso que realizava com pessoas com algum tipo de deficiência, sendo ela visual ou auditiva. Com esse contato, ocorre o momento em que entra a professora Anne Sullivan na vida da família de Helen Keller, onde a então professora, também já esteve na mesma condição da criança, cega, situação a qual fez com que se submetesse a nove cirurgias e necessitasse do uso de óculos escuros para proteger-se do sol.
Ao saber dessa condição da professora, o pai de Helen Keller enxerga isso como um empecilho, trazendo a fala do personagem no filme “(…) eles esperam que outra cega ensine a outra”, evidenciando uma fala carregada de preconceito e invalidando a potência de Anne Sullivan enquanto profissional. Trazendo para algo atual, tem-se a Lei 13.146 de 06 de julho de 2015 que trata sobre a inclusão da pessoa com deficiência, onde especifica direitos desses sujeitos, sendo o principal, o direito de igual, em que em situações de discriminação, há todo um amparo para eles, isso se encontra no segundo capítulo da lei.
Dando continuidade sobre o filme, assim que Anne Sullivan chega à casa da família, observa como a família funciona em relação a Helen Keller. De início, acreditava que não seria tão complicado ensinar a garota, mas ao perceber como a família deixava Helen livre para fazer o que desejava, percebeu que seria um trabalho difícil de realizar. Iniciou com a tentativa de ensiná-la a fazer as coisas simples, como por exemplo, tomar café de maneira autônoma, mas, neste momento precisou lidar com as resistências não apenas da criança, mas também da família. Os pais de Helen justificavam que o comportamento dela de pegar os alimentos com as próprias mãos nos pratos deles, era porque ela havia se acostumado com isso, assim como eles, fazendo tal comportamento tornar-se naturalizado.
Enquanto a família acomodava-se com as limitações de Helen, Sullivan observa na menina potencial para que a aprendizagem ocorresse. Observou que Helen Keller ao “explorar” pelos ambientes, utilizava-se do tato e olfato, utilizando-os, como ferramenta para promover a aprendizagem da criança. Dá início ao ensino da língua de sinais, onde ao tocar em algo, realizava os sinais sob a palma da mão de Helen, tentando ensiná-la através do emparelhamento das coisas (objetos/pessoas + palavra na língua dos sinais realizada na palma da mão). Nesses momentos, enquanto a mãe demonstrava estar esperançosa e interessada em aprender também a língua dos sinais, o pai e irmão da criança desacreditavam de que era possível ela aprender algo.
Contrariando a família, Anne Sullivan continuava acreditando que Helen era capaz e insistia nos ensinamentos, mas em contrapartida, a menina apresentava comportamentos de oposição, agressividade e até ataques de raiva, sendo nesse momento em que Sullivan compreende a necessidade de mudar toda a estrutura que a família havia moldado como maneira de deixar a criança “satisfeita”, sendo necessário levá-la a vivenciar situações diferentes. Anne Sullivan propõe aos pais para que ela pudesse passar um período apenas ela e Helen, para que dessa forma, pudesse proporcionar para a criança diferentes situações, ambientes, experiências, para que assim, mudanças de paradigmas ocorressem na vida de Helen.
Apesar da resistência familiar, Anne Sullivan consegue a permissão dos pais, assim, ela vai para uma casa afastada da família. Helen nos primeiros momentos apresenta comportamentos de agressividade, resistência e oposição, mas que mudou com os dias. Anne Sullivan ensinou-a novas maneiras de utilizar o tato e olfato, continuou usando a língua de sinais soletrando cada letra na palma da mão da criança e fazendo-a repetir a mesma ação, ensinou a criança a ter independência nas pequenas ações, como comer, beber, fazer o uso do guardanapo, mudando totalmente sua maneira de portar-se.
Apesar dessas mudanças em Helen, Sullivan ainda acreditava que o aprendizado não havia se concretizado de fato, acreditava que precisava de mais tempo com a criança, mas os pais não pensavam da mesma maneira, pois viam que a filha se comportava bem, então estava tudo correto para eles. Assim, levaram a criança novamente para casa, onde com pouco tempo de rotina com a família, Helen voltou a emitir os comportamentos de antes (raiva, resistência e agressividade). Por não aceitar os comportamentos, Anne Sullivan recomeça com as lições, mas em um momento a mesa, a criança nega-se a fazer o que é solicitado a ela, jogando água no rosto de Sullivan. Após isso, Anne faz com que Helen encha a jarra d’água e a partir desse momento, com os movimentos repetitivos e o ato de soletrar na palma da mão da criança, Helen consegue compreender e começa a aprender de fato, onde ao tocar algo, estende sua mão para que Anne Sullivan soletre para que ela consiga fazer o mesmo e assim, compreenda o que cada coisa é por meio da associação com o toque e dessa maneira, acaba ampliando seu repertório.
Esse processo de aprendizagem não ocorreria se não houvesse o ato de acreditar que Helen pudesse aprender e até mesmo o afeto que com o decorrer do filme vai sendo demonstrado. O filme “O milagre de Anne Sullivan” apesar de antigo, apresenta a ideia da educação inclusiva e o quão é necessária sua existência, pois como o filme mostra, Helen Keller deixa de estar em um papel de “coitadinha” como a família a via e torna-se sujeito autônomo e com potencialidades desenvolvidas e até mesmo em processo de desenvolvimento.
Conforme Mrech (1998, p. 4), o processo de inclusão é
(…) um processo educacional que visa estender ao máximo a capacidade da criança portadora de deficiência na escola e na classe regular. Envolve fornecer o suporte de serviços da área de Educação Especial através dos seus profissionais. A inclusão é um processo constante que precisa ser continuamente revisto.
A Lei 13.146 de 06 de julho de 2015 que trata sobre a inclusão da pessoa com deficiência, traz no capítulo IV sobre o direito à educação
Art. 27. A educação constitui direito da pessoa com deficiência, assegurados sistema educacional inclusivo em todos os níveis e aprendizado ao longo de toda a vida, de forma a alcançar o máximo desenvolvimento possível de seus talentos e habilidades físicas, sensoriais, intelectuais e sociais, segundo suas características, interesses e necessidades de aprendizagem.
Parágrafo único. É dever do Estado, da família, da comunidade escolar e da sociedade assegurar educação de qualidade à pessoa com deficiência, colocando-a a salvo de toda forma de violência, negligência e discriminação.
Art. 28. Incumbe ao poder público assegurar, criar, desenvolver, implementar, incentivar, acompanhar e avaliar (…) (Brasil, 2015, n/d).
Apesar disso, atualmente ainda é notório as dificuldades encontradas pelo público e até mesmo pelos profissionais da educação, visto que, há situações em que o governo não promove de fato a garantia desses direitos, ocasionando assim, uma grande negligência, principalmente com a população mais carente da sociedade. Trazendo ao filme, a família de Helen Keller possuía bens materiais e assim, conseguiram pagar por serviços para auxiliar a filha, mas e se fosse uma família que não possuísse as mesmas condições? Será que Helen Keller teria conseguido desenvolver-se e ter tido as conquistas de estudar e até mesmo cursar uma faculdade?
Trazendo para um período mais atual, Sant’Ana (2005), utilizando-se dos estudos de Goffredo (1992) e Manzini (1999) evidencia que a educação inclusiva tem encontrado barreiras no momento de ação da proposta, pois observa-se a ausência de formação dos professores de classes regulares para lidarem com os alunos que necessitam da educação especial, para além disso, há também a falta de estruturas adequadas, assim como materiais didáticos. É necessário que o governo proporcione de fato condições que favoreçam a prática da educação inclusiva, indo além da implementação de políticas públicas.
Como um ponto benéfico sobre a educação inclusiva, Sampaio e Sampaio (2009, p. 87), evidenciam que
(…) consequência positiva da inclusão ressaltada por elas é a oportunidade criada pela interação entre a criança com e sem deficiência, para que sejam trabalhadas não só questões relativas a diferenças, direitos e deveres, mas também o incentivo ao trabalho em grupo. Elas descreveram etapas da convivência entre as crianças, que se inicia com certo estranhamento e apelidos pejorativos, mas que costuma evoluir para uma aceitação da deficiência, passando a se comportarem como “auxiliares” da professora no cuidado ao colega “especial”. Estes dados confirmam o que a literatura aponta sobre um dos grandes pontos positivos relacionados com a proposta inclusiva, que é justamente a oportunidade oferecida a todas as crianças de aprenderem a ser cooperativas e respeitar as diferenças e os direitos dos demais, ficando bem evidente o papel ético da escola inclusiva.
Apesar de antigo, o filme “O milagre de Anne Sullivan” proporciona reflexões abrangentes acerca da educação inclusiva, sendo possível levantar questionamentos sobre a real forma como o sistema proporciona para esses sujeitos. Embora ainda haja necessidades de melhorias, não se deve negar que a existência dessa política pública trouxe o olhar voltado para essa população, tirando-os do papel de coitados, excluídos e negligenciados, proporcionando espaço para desenvolverem-se e tornarem-se sujeitos autônomos dentro de suas capacidades.
Referências
BRASIL. Lei nº 13.146, de 06 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Brasília, DF. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm#:~:text=LEI%20N%C2%BA%2013.146%2C%20DE%206%20DE%20JULHO%20DE%202015.&text=Institui%20a%20Lei%20Brasileira%20de,Estatuto%20da%20Pessoa%20com%20Defici%C3%AAncia).> Acesso em: 31 ago. 2023.
MRECH, Leny Magalhães. O que é educação inclusiva. Revista Integração, v. 10, n. 20, p. 37-40, 1998. Disponível em: <luzimarteixeira.com.br/wp-content/uploads/2010/10/1-o-que-e-educacao-inclusiva.pdf> Acesso em: 04 set. 2023.
SAMPAIO, CT., and SAMPAIO, SMR. Educação inclusiva: o professor mediando para a vida. Salvador: EDUFBA, 2009, 162 p. ISBN 978-85-232-0915-5. Available from SciELO Books. Disponível em: <http://books.scielo.org> Acesso em: 14 set. 2023.
SANT’ANA, Izabella Mendes. Educação inclusiva: concepções de professores e diretores. Psicologia em estudo, v. 10, p. 227-234, 2005. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S1413-73722005000200009> Acesso em: 14 set. 2023.
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Maria Montessori: um novo olhar para o modo de ensinar.
18 de outubro de 2023 Ana Carla Olímpio Soares
Personagens
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Maria Montessori foi criadora do método Montessori e grande influenciadora na educação infantil, deixando legado até os dias atuais.
Maria Montessori nascida em agosto no ano de 1870 em Chiaravalle na Itália, foi filha de militar conservador enquanto sua mãe, de acordo com Barros e Pereira (2005) utilizados por Sousa, Fernandes e Sousa (2014), era sobrinha de um filósofo italiano da época. Os pais de Maria Montessori tinham o desejo de que a filha se formasse e seguisse a carreira de professora, que segundo Barros e Pereira (2005), utilizados por Sousa, Fernandes e Sousa (2014), essa era a única carreira que seria boa para uma mulher daquela época. Maria deu início a vida acadêmica cursando matemática, mas ao contrário do que desejavam seus genitores, ela adentrou na faculdade de medicina, onde recebeu o título de primeira mulher formada em medicina no ano de 1896 no local em que residia.
Ainda em sua vida profissional ligada a medicina, Sousa, Fernandes e Sousa (2014), evidenciam com base nos estudos de Barros e Pereira (2005) que Maria Montessori teve seu contato inicial como médica assistente na área psiquiátrica no hospital da faculdade. Seu trabalho consistia na visita diária as crianças especiais, a partir desse contato com as crianças, de acordo com as autoras Cruz e Cruz (2019, p. 98), esse tempo de trabalho efetuado com as crianças, despertou em Montessori a percepção de que apesar de terem limitações, “ainda eram crianças. Por manifestarem em suas ações o seu desejo de brincar, a médica percebeu que elas poderiam ser educadas. Por isso procurou e desenvolveu uma forma para efetivar o processo de educação formal dessas crianças”.
Conforme exposto pelas autoras Sousa, Fernandes e Sousa (2014), Maria Montessori ao ter contato com o mundo educacional, percebeu as falhas/dificuldades que o âmbito educacional apresentava e começou a replicar os métodos que utilizava com as crianças especiais quando realizava as visitas no hospital psiquiátrico, efetuou esse movimento com o intuito de promover mudanças no sistema escolar da época. Já no ano de 1907, deu início como educadora sendo diretora em uma creche ou como trazem as autoras, Casa de Bambini, deixando de lado sua carreira como médica, dedicando-se apenas à educação.
Seu interesse, conforme Sousa, Fernandes e Sousa (2014), não se limitava apenas à educação infantil, Montessori apresentava um olhar amplo, perpassando pelos discentes até os docentes. As autoras trazem em seus estudos que mais tarde, Maria Montessori realizou conferências com o propósito de mostrar seus trabalhos que foram desenvolvidos com crianças. Ao passo que os anos passaram, em 1922, tornou-se inspetora-geral das escolas na Itália.
Sousa, Fernandes e Sousa (2014), expõem que no ano de 1929, segundo os trabalhos de Gauthier e Tardif (2010), Maria Montessori criou a Association Montessori Internationale – AMI, teve como objetivo “destinada a infância e ao seu desenvolvimento” (SOUSA, FERNANDES; SOUSA, 2014, p. 144), logo após, no ano de 1947 instituiu o Centro Montessori. Atualmente, ambas as fundações de Maria Montessori estão em funcionamento, ao pesquisar sobre qual a finalidade da associação, é possível encontrar que:
Montessori é uma educação e uma perspectiva que passa do aprendizado à aplicação através da curiosidade e criatividade. A AMI serve como a rede e a comunidade que aplica os princípios de Montessori em muitos aspectos da vida e da vida, construindo sobre a abordagem sem comprometer sua integridade. Como tal, é a autoridade reconhecida para aqueles interessados em aplicar a abordagem Montessori em vários níveis, da educação às causas humanitárias, à pesquisa e ao ambiente físico e social mais amplo. Em primeiro lugar, a AMI capacita professores e comunidades através da abordagem educacional de Maria Montessori, adaptando-a em todos os continentes e culturas para ajudar as crianças a desenvolver seu verdadeiro potencial e fazer a diferença no mundo. Montessori trabalha em todos os ambientes para o sucesso de cada criança. O mundo mudou, mas o que é preciso para ser bem-sucedido não mudou desde que Maria Montessori criou sua abordagem educacional há mais de cem anos: uma forte base emocional, comportamental e moral. Montessori ajuda as crianças a se desenvolverem em indivíduos que sabem o certo do errado, que têm autoconfiança e estão conectados com os outros, que encontram realização, se conectam e contribuem com o mundo (Association Montessori Internationale – AMI, 2023, p. n/d).
As autoras trazem em seus estudos que, em maio de 1952, Maria Montessori faleceu, deixando anos de lutas e descobertas relacionadas à área da educação.
Mas afinal, quais foram as “heranças” de Maria Montessori para a educação que perpetua até os momentos atuais? Sousa, Fernandes e Sousa (2014), evidenciam que o desejo de Montessori era renovar o modelo educacional da época, mudança essa, que tentava trazer uma visão mais inclusiva sobre o modo em que o conhecimento era repassado, assim como a maneira de aprender. Montessori, segundo as autoras, juntamente com outros sujeitos vinculados à educação, buscavam promover a garantia de uma educação igualitária, sendo algo de direito de todos, independente de classe social, raça ou gênero.
Maria Montessori inspirou-se nos pensamentos de Rousseau, Pestalozzi e Froebel acreditando que no processo de aprendizagem, segundo Sousa, Fernandes e Sousa (2014), outros aspectos das crianças deveriam ser levados em consideração, pois perpassaria além do intelecto da criança. As autoras trazem a fala de Cesário (2007, p. 13-14) de que
Influenciada por Rousseau e pelo desejo de adequar a educação às possibilidades das crianças o método Montessori se propõe a desenvolver a totalidade da personalidade da criança e não somente suas capacidades intelectuais. Preocupa-se também com as capacidades de iniciativa, de deliberação e de escolhas independentes e com os componentes emocionais.
Tendo como finalidade ofertar um local de aprendizagem em que a criança pudesse desenvolver-se por completo, desde o intelecto quanto as especificidades particulares.
O que trata o Método Montessori criado por Maria Montessori? De acordo com as autoras Cruz e Cruz (2019, p. 98),
O Método Montessori traz um novo conceito de ensino: ressignifica os processos necessários para educação e apresenta-os sob outro olhar. O professor nesta sala de aula não tem como objetivo apenas ensinar ou transmitir o conhecimento, mas, sim, observar, conhecer a criança, descobrir seus interesses, entendê-la, permitir que interaja e explore o meio onde vive. Esta nova perspectiva do papel do professor possibilita que o aluno aprenda sozinho, pois os materiais disponíveis nas salas montessorianas propõem às crianças o exercício de autonomia. Nele, o processo de ensino e aprendizagem acontece quando a criança conceitua por si mesma, o aprendizado. Os materiais são preparados para atender às necessidades educacionais, e variar as possibilidades do aprendizado.
Além da criação e implementação do método montessoriano, Maria deixa maior influência na educação infantil, que conforme Sousa, Fernandes e Sousa (2014) expõem em seu trabalho, pois ela acreditava que o ambiente escolar deveria ofertar liberdade para os alunos/crianças, pois eles teriam capacidade de nortearem-se no processo de aprender, considerava que a liberdade era o meio que faria com que as crianças tivessem “sede” do conhecimento. “Para que essa educação consiga alcançar esse objetivo é necessário que o educador tenha uma visão ampla, conhecer cada aluno em suas diferentes idades e entender o que ocorre em cada fase da vida” (SOUSA, FERNANDES; SOUSA, 2014, p. 149), dessa maneira auxiliará no desenvolvimento do indivíduo, trazendo a ideia de que o professor/docente seria um mediador e não o único detentor do conhecimento.
Para mais, Maria Montessori criou o Material Dourado, cuja finalidade, atualmente, é auxiliar os alunos a visualizarem e resolver operações matemáticas, conhecer as unidades, dezenas, centenas e assim por diante. Deixou várias obras e foi inspiração para outras que, segundo Sousa, Fernandes e Sousa (2014, p. 147) influenciaram no Brasil, como por exemplo, “A criança, A educação e a paz (2004), Generalidades sobre o meu método (1936), Mente absorvente (1987), Montessori em família (1987), Para educar o potencial humano (2003), Pedagogia científica: a descoberta da criança (1965), Psicologia escolar: artigos e estudos (1990)”.
Fonte: https://encurtador.com.br/cdlOY
Material Dourado desenvolvido por Maria Montessori.
CRUZ, Viviane Edna; DELLA CRUZ, Gisele Thiel. O método Montessori e a construção da autonomia da criança na educação infantil. Caderno Intersaberes, v. 8, n. 15, 2019. Disponível em: < https://cadernosuninter.com/index.php/intersaberes/article/view/1261> Acesso em: 22 ago. 2023.
SOUSA, Raiane Pereira de; FERNANDES, Maria Aparecida; SOUSA, Célia Camelo de. Maria Montessori: sua vida e contribuições para a educação. 2014. Disponível em: < https://repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/39740/1/2014_eve_ccsousa.pdf> Acesso em: 20 ago. 2023.
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Efêmero e incerto: o futuro já chegou
27 de setembro de 2023 Ana Carla Olímpio Soares
Livro
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José Lauro Martins (2022) traz em sua obra, “Efêmero e Incerto: o futuro já chegou”, sobre a necessidade de uma mudança no contexto educacional atual para que dessa forma, seja possível acompanhar as atualizações que ocorrem a todo momento advindo da tecnologia e o grande leque de informações e/ou conhecimentos que são expostos. O autor traz suas perspectivas sobre o ensino, aprendizagem, docência e demais assuntos pertinentes. Referente à docência, o mesmo descreve nos capítulos 2, 6 e 9 os quais serão discorridos neste texto.
José Lauro Martins (2022), inicia o capítulo 2, “O Tempo Presente”, trazendo reflexões acerca do tempo. Conforme o autor, o momento em que rege a maneira como vivenciar, é o momento do agora, ou seja, o momento presente, presente esse que no passado foi chamado de “futuro”, mas que apesar disso, o passado é apenas um meio de busca por informações e/ou conhecimentos. Apesar do presente ser o momento de importância, é necessário ampliar o olhar e o pensamento sobre ele, visto que, há um futuro a caminho e o que hoje é presente, se tornará parte do passado.
O autor, José Lauro Martins (2022, p. 18), traz a fala de Padre Antônio Vieira (1608-1697), “o tempo tem apenas dois pólos: de um lado está o passado e do outro está o futuro e o presente é o lapso entre o passado e futuro. O problema é que o que chamávamos de futuro chegou e não sabemos o que fazer com o futuro que há de vir”. Vive-se em constante mudanças em todos os âmbitos e que por vezes, não há tempo para “digerir” e compreender de fato as mudanças que estão acontecendo, gerando assim, instabilidade para quem vivencia. José Lauro relembra Bauman com a liquidez do tempo fazendo a reflexão de que
É tempo em que tudo muda e a mudança é mais importante que a estabilidade. A geração das pessoas com 50 anos ou mais é desafiada a compreender um tempo em que o passado não é mais passaporte sequer para o presente: somos de uma geração que não consegue preparar a seguinte (…) os saberes de uma geração não são suficientes para instrumentalizar a geração em formação (p. 19).
Para o autor, o presente é o momento de ampla reflexão para assim, proporcionar tentativas de promover um futuro propício dentro das possibilidades. O principal meio para conseguir isso, Martins (2022) enfatiza que é por meio do investimento no conhecimento, pois de acordo com ele, dessa maneira seria um preparo para lidar com os desafios futuros, sendo o tempo presente “o ponto de partida” para o futuro de cada sujeito. O autor enfatiza que ao passo que o presente é crucial para preparar-se para os desafios futuros, é preciso compreender que ainda sim, ocorrerão situações que fujam do controle do sujeito.
Conforme a obra demonstra existir um tempo de realização da vida, realização social e realização tecnológica. A primeira, de acordo com o livro, refere-se ao biológico do ser humano, mas Martins (2022) relembra que conforme as mudanças ocorridas no meio social e cultural, geraram e continuam gerando impactos na qualidade e longevidade da vida humana (mudanças essas que chegam por meio de estudos/pesquisas). Enquanto a realização social, para o autor, é uma etapa complexa, pois não possui “receita” para tal feito, cada pessoa experimentará de uma maneira e em tempos diferentes, além de que cada um terá uma concepção do que é estar realizado. Por fim, a realização tecnológica José Lauro coloca como um “caos” (2022, p. 23), pois este é um campo está em constante atualização, algo novo está sempre surgindo ou substituindo algo.
José Lauro Martins (2022) elucida que a tecnologia traz feitorias importantes ao homem, desde a questão para expandir conhecimento relacionados à saúde (biológico) quanto permite a ampliação dos contatos sociais dos sujeitos. Em contrapartida, o autor evidencia que
A vida social foi severamente alterada para as novas gerações, o tempo se transformou numa armadilha para muitos aspectos da vida. Na medida em que as tecnologias se tornaram muito complexas, trouxe também o desafio de que para viver atualizado em sociedade precisa dominá-la não só pelo uso, mas também pelos seus resultados. O tempo de vida biológico muda muito pouco, a estrutura psicológica acompanha melhor as transformações que as estruturas biológicas (MARTINS, 2022, p. 23).
O autor ainda enfatiza que, toda essa acelerada mudança e grande fluxo de informações, geram impactos no psicológico dos sujeitos, necessitando de cuidados ao usar os meios tecnológicos. José Lauro Martins (2022) expõe acreditar que cada sujeito possui modos e tempos diferentes para lidar com o que acontece e que esse processo de adaptação ocorre de maneira natural, mas que ainda sim é preciso cuidado nas consequências que podem ocasionar. Como maneira de exemplificar, o escritor traz sobre o tempo de aprendizagem, onde cada pessoa irá aprender no seu tempo, mas para ele, é importante criar estratégias pedagógicas para que esse tempo não seja muito longo, proporcionando formas do sujeito “filtrar” o que é importante e o que não é nesse processo. Como finalização, o autor evidencia que apesar do acesso ao grande número de informações, o excesso pode se apresentar maléfico no social, qualidade de vida e até mesmo no processo de aprendizagem.
É exposto no subcapítulo sobre “inteligência potencial” que segundo José Lauro Martins (2022), “Trata-se do que acontece nas conexões dos sujeitos nas redes virtuais, é o que cada um faz com as informações que circulam nas redes. Portanto é mais humana que digital, e é potencializada a cada sujeito que interage nas redes” (p. 25), acredita ainda que é possível com essas tecnologias fomentar a inteligência humana, pois de acordo com ele “É o que fazemos com as informações que possibilitam a potencialização da inteligência” (p. 25).
Após a exposição referente ao tempo e as implicações nos processos humanos, José Lauro Martins (2022) traz sobre as bases para a docência referentes ao capítulo 6, onde antes era de conhecimento que o ato de ensinar era apenas o professor o sujeito ativo e detentor do conhecimento, alunos possuíam um papel mais passivo. Ao contrário disso, o autor enfatiza sobre a necessidade de uma renovação no ato de ensinar, pois diferente do que se pensava, “Havia uma narrativa equivocada de que o professor levava conhecimento e o aluno “absorvia-os”. Isso não está correto porque, como sabemos, o conhecimento não é transmitido, é um processo em construção no sujeito aprendente” (MARTINS, 2022, p. 63).
O autor traz uma observação ao professor, de que é necessário atenção e cuidado ao ato de promover o ensino, pois de acordo com ele, o professor pode acabar atrapalhando na aprendizagem do aluno, pois cada sujeito possui seu tempo ou não oferece recursos necessários para ele concretizar a aprendizagem. José Lauro Martins (2022) dá ênfase nas novas tecnologias e na ampla possibilidade de expansão de conhecimento é possível com elas, pois o autor acredita que seria mais eficaz do que as aulas em sala de aula. Apesar de acreditar na maior eficácia no modo tecnológico para a aprendizagem, o autor relembra que esses recursos não possuem uma só forma de lidar ou seguir, pois encontram-se em constante mudança.
Diante das transformações no papel do professor e nas novas configurações de ensino, José Lauro Martins (2022), traz exemplos de novos arranjos dos docentes e as parcerias nessa área. O primeiro é o que ele denomina de “professor conteudista” que é
O conteudista é o profissional especializado capaz de produzir os conteúdos que os estudantes vão ter acesso para a construção do conhecimento. Em geral, são professores com boa formação, boa capacidade de pesquisa bibliográfica e boa habilidade com a redação científica. Portanto, não é necessariamente o professor que fala bem, mas é o que tem conhecimento técnico. Não basta ser um resenhista, mas um autor. Pode agregar conteúdo de terceiro, desde que este seja para complementar a produção autoral. (p. 65).
Após, o autor traz sobre o “designer de conteúdo para web”, “O designer de conteúdo para web é um profissional que transita entre educação (didática), comunicação digital e o designer gráfico. (…) é ele o responsável pela qualidade gráfica dos conteúdos no ambiente digital” (Martins, 2022, p. 65). Já o “criador de conteúdos educacionais” esses são os sujeitos que realizam a “filtragem” dos materiais que são utilizados, de acordo com o autor, este realiza trabalho em conjunto com professor conteudista e paralelamente com o designer de conteúdo, é responsável pela fidedignidade das informações apresentadas.
O penúltimo é o “gestor de redes de aprendizagem”, este realiza o papel de mediação no processo de aprendizagem, tem como responsabilidade prestar orientação ou apoio entre os alunos e os conteúdos disponíveis nas redes. Por último, José Lauro Martins (2022) descreve a função de tutoria, figura esta que é presente nos ensinos na modalidade online, tem como uma das funções prestar auxílio aos seus “tutorados”, como descreve o autor. Além disso, é orientador da aprendizagem, no processo avaliativo dessa aprendizagem, analista e “o tutor tem o papel de manter o vínculo acadêmico e emocional dos estudantes” (Martins, 2022, p. 67).
Além das mudanças no papel do professor e possíveis ferramentas para a docência, José Lauro Martins (2022) evidência no capítulo 9 intitulado de “Novos Rumos” a chegada de novas maneiras de ensinar, deixando de lado apenas as aulas expositivas em sala de aula, pois ele acredita que utilizar-se das tecnologias e as vantagens que ela possui, seria de maior aproveitamento no processo de aprendizagem. O autor traz em seus escritos sobre a metodologia ativa que consiste em retirar o aluno de um papel passivo e inseri-lo no processo e que apesar de ser algo utilizado há algum tempo, ainda é interesse. E em contrapartida,
A dificuldade é usar qualquer estratégia nas salas de aula tradicionais que exija movimentação dos estudantes e a flexibilidade no tempo porque as paredes definem o espaço e o tempo de aula é predefinido. Há uma falta de espaço nas salas superlotadas, o acúmulo de conteúdos abreviou o tempo disponível. O que é possível, na maioria das escolas, é o uso esporádico dessas estratégias metodológicas. Outro aspecto a ser considerado é que, ainda que houvesse competência de todos os professores para atuar com as metodologias em que coloca os estudantes no centro do processo de aprendizagem, tem a resistência de parte dos professores, dos pais e também dos alunos, quando percebem que essas metodologias exigem mais trabalho. (Martins, 2022, p. 95).
Para Martins (2022), o processo de aprendizagem ultrapassa a sala de aula, é possível proporcioná-lo indo além, como por exemplo, por meio de aulas online ou aulas gravadas, mas, ele enfatiza a importância de um preparo de materiais, roteiro para seguir, um tempo curto para que não ocorra a fadiga e como consequência, a dispersão de quem assiste, produzir conteúdos de maneira que chamem a atenção do sujeito, assim como explicar de maneira clara, entre outros pontos importantes. Apesar da defesa do autor em que o expandir olhar sobre as formas e locais de ensinar, ele não descredibiliza o ensinar na escola, mas acredita que seja necessária uma boa estruturação, como por exemplo, tornar os alunos sujeitos ativos, proporcionar a aprendizagem de maneira mais dinamizada, proporcionar um momento ou espaço de construção mútua entre docente e discentes. O autor finaliza lembrando mais uma vez que o professor está passando transformações com os avanços tecnológicos e que o mais importante, seja presencial ou online, é a qualidade de ensino ofertada no ambiente educacional.
Referências
MARTINS, José Lauro. Efêmero e incerto: o futuro já chegou / José Lauro Martins. – Ponta Grossa – PR: Atena, 2022.
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A romantização da maternidade e as consequências de quem a vivencia
A romantização e até mesmo a naturalização da maternidade são fatores que podem desencadear consequências que impactam diretamente no bem estar físico e psicológico das mulheres.
A concepção de amor materno costuma estar vinculado a algo natural, ao passo que encontra-se correlacionado a essência e feminilidade da mulher, podendo complementar com o que a autora Resende (2017) traz “o tema do amor materno geralmente envolve uma série de associações condicionadas a sentimentos naturalmente positivos na condição de ser mãe, muitas vezes levando a uma divinização desse estado como algo abençoado pela natureza”.
Apesar disso, em seus estudos, Resende (2017) salienta que essa concepção em relação ao papel de mãe como algo relacionado ao afeto, só se torna evidente a partir do século XVIII, em que de acordo com a autora, as palavras amor e materno se tornam sinônimos nesse contexto, trazendo à tona os sentimentos em relação a esse vínculo e consequentemente como sentido para o papel da mulher enquanto mãe. Como consequência desse novo olhar para o papel materno, a autora traz a visão de Badinter (1985), em que é expresso que após essa mudança de paradigma, se torna incumbido para as mulheres o tornarem-se mães, alimentando assim, o pensamento de que toda mulher possui o desejo de maternar e como esperado, o amor incondicional pelo filho.
Enquanto mulher na atualidade, é percebido de maneiras “suaves” as formas pelas quais a sociedade tenta impor e/ou passar que a figura feminina “aflore” o lado materno, isso é possível notar por meio dos brinquedos dados para as meninas quando criança, como por exemplo, bonecas que trocam fraldas, que precisam alimentar ou vestir, brinquedos de panelas, fogão como forma de estimular o cuidado com as tarefas domésticas. Sobre isso, as autoras Marques et al. (2022) traz em seu trabalho que as meninas/mulheres são “transformadas em corpos dóceis onde prevalece a imagem de esposas e boas mães, que sabem cozinhar e cuidar da casa”.
“(…) em determinados contextos sociais as mulheres são naturalizadas em ambientes domésticos, nos quais a maternidade é considerada como uma condição do feminino e pode estar fortemente relacionada às questões identitárias da mulher, sendo considerada um dever. Historicamente, os homens não são instruídos a serem pais, mas trabalhadores, políticos, engenheiros, jogadores, bem como a constituir diversos atributos que reafirmem a masculinidade, como força e poder. Por outro lado, as mulheres, desde o seu nascimento, são ensinadas a serem esposa e mãe, são ensinadas a cuidar de bonecas como se fossem bebês, a cozinhar com panelas em forma de brinquedos e cuidar da casa; ou seja, o papel feminino é condicionado a características como pureza, delicadeza e fragilidade” (MONTEIRO; ANDRADE, 2018, apud Marques et al., 2022).
Apesar disso, as autoras Marques et al. (2022) pontuam que mudanças ocorreram e ainda ocorrem no contexto histórico e social trazendo mudanças sob a perspectiva do papel da mulher na sociedade, dando um novo espaço para a escolha ou não de exercer o papel de mãe. Mas, em contrapartida, ainda é possível encontrar mulheres em sofrimento ou experienciando a culpa pela cobrança em “formar uma família”. Isso se dá por meio dessa romanização e tentativa de naturalizar que a vida da mulher se baseia em “nascer, crescer, casar e ter filhos, netos e assim por diante”, sendo essa, uma cobrança para aquelas que não o deseja (MARQUES et al., 2022).
Para Tourino (2006), muitas se culpam por não se sentirem ou não agirem de acordo com os modelos valorizados na sociedade, por ocasião das normas inconscientemente internalizadas que se reproduzem através das gerações, integram a subjetividade feminina e modelam papéis (apud MARQUES et al., 2022).
Quando uma mulher se recusa a viver o processo de maternar, Marques et al. (2022) evidencia a visão de alguns autores que, normalmente são aquelas mulheres que geram estranheza ou até mesmo “choque” na sociedade, pois de acordo com a autora, seria como deixar o feminino “morrer”, já que isso seria parte da essência da mulher, levando para um nível de naturalização e romantização esse processo. Referente a essa romantização da maternidade, de acordo com o ponto de vista exposto pela autora Dias et al. (2020), tanto a sociedade quanto os canais de mídias sociais auxiliam na perpetuação do amor materno, de que esse é um momento de amor genuíno, puro, pleno, sinônimo de realização da vida, gerando uma visão errônea de que é viver um momento perfeito.
“O mito do amor materno afirma que a maternidade e o amor acompanham a mulher desde toda a eternidade e faz parte da natureza feminina. Porém, Badinter (1984) questiona a ideia do amor materno como algo inerente a todas as mulheres, pois ao se percorrer a história das atitudes maternas, nasce a convicção de que o instinto materno é um mito. Não existe nenhuma conduta universal e necessária da mãe. Ao contrário, o que constata-se é a extrema variabilidade de sentimentos maternos, ambições ou frustrações, segundo cada cultura. Dessa forma, a autora afirma que o instinto materno é um mito, pois é um sentimento que pode existir ou não, ser e desaparecer. Tudo depende da mãe e da história, sendo que não há uma lei universal nessa matéria. Destarte, a autora conclui que o amor materno não é inerente às mulheres, e sim adicional” (Damaceno et al. 2021).
Além de que, ao esperar por um momento “mágico” e repleto de boas experiências/vivências no papel materno ser um grande perigo, o período gestacional também acarreta consequências na vida da mulher, pois é o momento em que a mulher começa a lidar com mudanças das quais poderia não estar preparada para lidar de fato, como a transformação rápida e visível que ocorre no corpo, por exemplo, ganho de peso, surgimento de estrias, manchas na pele, inchaços pelo corpo, algumas podem até desenvolver alguns problemas de saúde como a Diabetes Mellitus Gestacional, hipertensão e outras complicações. Se constitui como “alterações físicas e psicológicas que vão resultar em mudanças que impactarão, significativamente, as experiências vividas pela gestante” (Facco; Kruel, 2014), fatores esses que ocasionarão mudanças no modo de viver dessa mulher com ela mesma, assim como com o parceiro e até mesmo a relação mãe e filho.
Quando uma mulher vivencia esse período de maneira saudável, contando com apoio familiar ou de amigos, que possuem uma renda financeira estável e que permite viver bem, pode-se dizer que ela conseguirá aproveitar a maternidade e saberá lidar com as dificuldades que surgirem, mas quando a mulher não conta com nenhuma dessas alternativas ou até mesmo quando cria a ilusão do processo da gravidez, do que é ser mãe e de como será esse momento, pode ser algo que trará como resultados frustração, sofrimento e até mesmo sentimento de culpa, pois é passado para a mulher/mãe, que ela consiga dar conta de tudo, ao passo que deve cuidar bem da criança, deve também cuidar de si e às vezes até do outro, ocasionando ainda, exaustão física e mental.
Trazendo à tona o que Dias et al. (2020) evidencia no sentido de que quando esses papéis que esperam que a mulher ocupe mas não é como fora idealizado, traz sofrimento quando não conseguem alcançar o esperado para elas socialmente, podendo trazer como consequência prejuízos psicológicos, situações de estresse, experienciando situações de tristeza e para aquelas que se tornam mães, mas não é como no conceito ilusório de maternidade que é exposto o tempo todo, podem ocasionar depressão pós-parto, crises ansiosas, entre outras situações.
“Sentimentos como ansiedade, incertezas, além do medo pelo aumento da responsabilidade frente à vinda da criança podem emergir. Esses fatores emocionais desencadeados pela maternidade, podem despertar a depressão pós-parto ou baby blues, conhecido também como tristeza pós-parto ou melancolia da maternidade, esse distúrbio pode ser caracterizado pela alteração de humor das puérperas entre o terceiro e o quinto dia após o parto, mas que geralmente, some com o tempo. Contudo, outras mulheres podem apresentar quadros depressivos mais graves, podendo implicar na capacidade diminuída para o autocuidado e para o cuidado com os filhos” (KROB et al., 2016; JORENTI, 2018 apud Dias et al. 2020).
No processo de maternar, algumas ilusões podem ser quebradas como, há mulheres que não conseguem realizar o aleitamento materno e com isso sentem-se incapazes, já que sempre é propagado a importância da amamentação para os bebês. Há também o mito do amor incondicional ao estar com o filho no colo e em algumas situações as mães, devidos a problemas pós-gestação como é no caso de depressão pós-parto, podem não sentir esse amor com o filho ou simplesmente não conseguirem sentir vontade de cuidar de si e da criança também e como consequência disso, podem viverem dias de culpa e mal-estar, principalmente quando enfrentam essas situações sem o amparo de uma rede de apoio.
“Outro ponto importante, é o enfoque dos sentimentos como anseios e incertezas, além dos fatores emocionais como estresse e frustração. Isso polemiza o que a mídia e sociedade mostram, através de uma visão romantizada, que difunde uma realidade apenas de amor e carinho, que nem toda mulher consegue alcançar” (Dias et al. 2022).
“(…) percebe-se uma dualidade do idealizado e o enfrentado à maternidade real, ocorre um abalo que pode gerar angústias nas mães ao não terem suas expectativas atendidas com a maternidade. Segundo Borsa, Feil e Paniagua (2007), a ruptura da personificação ideal da maternidade pode ser acompanhada por sentimentos de desapontamento, desânimo e desencantamento, além da sensação de incapacidade frente à maternidade. Em concordância, Rapoport e Piccinini (2018) apontam que é normal neste período as mães se depararem com sentimentos ambivalentes, ao mesmo tempo que elas doam tudo de si para o bebê, elas vivenciam a angústia de pouca ou quase nenhuma retribuição, sempre exigindo-se mais cuidados e atenção” (Marques et al. 2022).
Fonte: nicoletaionescu no iStock
Mulher com aparência de cansaço indo amamentar a criança/filho chorando.
Normalmente quando uma mulher torna-se mãe, costuma esperar que ela se dedique à maternidade, enquanto o homem, apesar de avanços na sociedade, ainda ocupa a posição de exercer a função de proteção e principalmente, prover a renda financeira como forma de “manter” essa família, “(…) Essa perspectiva equivocada de divisão de papéis faz muitas vezes com que as mulheres vivenciem uma sobrecarga, o que pode gerar uma gama de sentimentos, como angústia, tristeza, desamparo, frustração, entre outros” (Dias et al. 2022).
Os efeitos da cobrança em maternar e dessa romantização acerca desse papel, perpassa até as mulheres que decidem não se tornarem mães, mulheres que decidem focar em sua carreira profissional, aproveitar a vida e em até alguns casos, decidem não ter filhos para não “estragarem” seus corpos, mas, como a sociedade lida com esse desejo dessa mulher? Oliveira e Pereira (2023), traz em seu estudo que quando mulheres optam por não gestar uma nova vida, tornam-se pessoas excluídas de grupos ou experienciam o julgamento da sociedade. Isso acontece, pois de acordo com as autoras, a visão romantizada da maternidade não permite observar e compreender o lado das mulheres que escolhem não ter filhos e complementam com o estudo de Colores e Martins (2016), que não existe o “dom” de ser mãe, não é algo inato na mulher, mas sim, algo que deve ser considerado a subjetividade e o desejo do indivíduo. Já em mulheres que lidam com problemas de saúde que não permite engravidar, como em casos de infertilidade, as autoras Oliveira e Pereira (2023) expõem a visão de outras autores que dizem que essas mulheres costumam sentirem-se tristes e incompletas, experienciando a pressão social e até mesmo sentimentos de inferioridade.
Fonte: invincible_bulldog no iStock
Mulher em dúvida sobre quais caminhos seguir em sua vida: família ou carreira?
O fato de viver em uma sociedade em que ainda cobra o papel de ser mãe e que ainda impõe “a maneira correta de ser mãe” (por meio de como deve agir, sentir ou até mesmo o querer), se torna exaustivo tanto para quem possui o desejo quanto para quem não deseja tornar-se mãe. Independente da escolha de cada mulher, é algo deve ser respeitado e acolhido, pois é algo que muda por completo a vida da mulher, onde ela precisaria, em algumas vezes, precisaria renunciar planos e sonhos. Assim como há grandes dúvidas, medos, angústias sobre a criação de uma outra pessoa. Se faz necessário o acolhimento tanto familiar, social e até mesmo dos profissionais que acompanham essa mulher, independentemente de sua escolha, pois de acordo com Moraes (2016), citado por Dias et al. (2020), “(…) enfatiza que os fatores negativos podem ser minimizados através de uma atenção acolhedora e esclarecedora dos profissionais que acompanham a mulher (…)”.
Referências:
DAMACENO, Nara Siqueira; MARCIANO, Rafaela Paula; DI MENEZES, Nayara Ruben Calaça. As Representações Sociais da Maternidade e o Mito do Amor Materno. Perspectivas em Psicologia, Uberlândia, v. 25, n. 1, p. 199-224, 2021.
DIAS, Tamires Alves; MENDES, Stéffane Costa; GOMES, Samara Calixto. Maternidade Romantizada: Expectativas e Consequências do Papel Social Esperado de Mãe. 2020.
FEITOSA, Fernanda Soares et al. Opressão Social de Mulheres Que Não Desejam a Maternidade: Estudo Bibliográfico Sob a Ótica da Psicologia. OPEN SCIENCE RESEARCH X, v. 10, n. 1, p. 1222-1240, 2023.
FACCO, Daiana; KRUEL, Cristina Saling. “O meu corpo mudou tão depressa”: as repercussões da gravidez na sexualidade feminina. Disciplinarum Scientia| Ciências Humanas, v. 14, n. 2, p. 141-155, 2013.
MARQUES, Christiane Jussara de Carvalho; SANTOS, Kassia Cintia dos; DANIEL, Natasha Saney Silva. A romantização da maternidade e seus impactos psicológicos. 2022.
PEREIRA TAVARES DE ALCANTARA, P.; ALVES DIAS, T. .; DE CASTRO MORAIS, K.; DA SILVA SANTOS, Y. C. .; MARTINS DA SILVA, J. W. .; BASTOS FERREIRA TAVARES, N. .; CALIXTO GOMES, S. .; DE SOUSA MORAIS, A. B. Maternidade Romantizada: Expectativas do Papel Social Feminino Pós-Concepção. Revista Enfermagem Atual In Derme, [S. l.], v. 96, n. 40, p. e–021313, 2022. DOI: 10.31011/reaid-2022-v.96-n.40-art.1508.
RESENDE, D. K. Maternidade: Uma Construção Histórica e Social. Pretextos – Revista da Graduação em Psicologia da PUC Minas, v. 2, n. 4, p. 175 – 191, 5 jun. 2017.
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Novas formas de amar: o uso de aplicativos de relacionamento como ferramenta para paquera e namoro
Um aplicativo de relacionamento é uma plataforma digital que permite às pessoas conhecerem e se conectarem umas com as outras com o objetivo de estabelecer relacionamentos amorosos, amizades ou encontros casuais
A forma como as pessoas relacionam-se perpassa por mudanças em que o que “dita” a maneira pela qual irá se relacionar, de acordo com Araújo (2002), é “moldada pelas determinações econômicas, sociais, culturais, de classe e gênero” que esse sujeito se encontra inserido. Variáveis históricas também interferem, haja vista que até algumas décadas atrás, os relacionamentos eram arranjados pelos pais das mulheres. Na ocasião, o objetivo era estabelecer acordos que visavam benefícios que em sua grande maioria não existia ligação com sentimentos ou querer verdadeiro da parte de algum dos arranjados.
Em contrapartida, atualmente é vivenciado na sociedade a liberdade de escolher se deseja ou não estar em um relacionamento e principalmente, a liberdade de escolher o parceiro. Há uma ampla maneira de conhecer pessoas e relacionar-se com elas, como por exemplo, frequentar festas, baladas, barzinhos mais movimentados em que terá a oportunidade de ter “mais escolhas”, dentre outros possíveis lugares. Mas, além disso, atualmente as pessoas ainda contam com as maneiras virtuais, o que gera maiores possibilidades, visto que, se torna um ambiente mais amplo. Dentre essas opções estão Tinder, Happn, Badoo, Grindr, Femme, Bumble, Par Perfeito, entre outros aplicativos/sites.
De acordo com a reportagem publicada pelo Jornal de Brasília, o Brasil é o segundo país que em a população mais utiliza aplicativos/sites de relacionamento, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. Ainda segundo o jornal, esse número cresceu bastante no período em que estava vivenciando a época da pandemia do Covid-19, apresentando um aumento de 215% dos usuários. Koop (2021) traz em seus estudos que esse aumento se deu ao fato de que “muitos desses usuários não procuram somente amor nesses aplicativos, mas sim uma companhia online que os ajude a enfrentar esse período de quarentena (AFP, 2021, apud KOOP, 2021)”.
Mas como é a funcionalidade desses aplicativos?
“Esses apps giram do “gostei” simultâneo e “swipe”, quando duas pessoas “se gostam” simultaneamente, a opção “chat” é desbloqueada, permitindo assim que eles iniciem uma conversa. Ou seja, os usuários não precisam estar perto ou se ver fisicamente para iniciar o contato, trazendo toda a paquera para o meio virtual (KOOP, 2021)”.
O Tinder, por exemplo, no momento em cadastrar-se, além de poder anexar as fotos que deseja, incluir seus interesses, adicionar uma biografia a qual pode descrever-se ou inserir alguma frase da qual goste, ainda é possível que a pessoa limite a distância que deseja encontrar alguém, a faixa etária, se deseja homem, mulher ou ambos os sexos, além de outras opções que podem ser desbloqueadas desde que o sujeito pague pelos serviços. Após todo o processo de cadastro, é liberado ao usuário o poder de escolha, o dar like ou não e conforme o usuário vai “distribuindo” o like, ocorre o momento em que acontece o tão esperado “match”, com isso, a opção do chat para conversa é liberada e após isso, inicia a segunda parte da paquera. Tais aplicativos com suas configurações, assemelham-se aos cardápios digitais e nesse sentido, o produto seria os próprios usuários.
Fonte: Tumisu no Pixabay
Design do aplicativo Tinder.
Ao mesmo passo que é uma maneira fácil e rápida para gerar “conexão”, é da mesma forma para desfazê-la, pois segundo Sobrinho et al. (2019),
“Os sites de relacionamentos foram criados com essa característica. Facilidade de encontros, que aqui podemos chamar de primeira interação, e ao mesmo tempo, facilidade de desconexão, haja vista que a não compatibilidade de interação entre os participantes, pode ser resolvida com apenas um desmatch entre ambos”.
Essas mudanças na maneira de se relacionar socialmente são contínuas e de acordo com o que traz em seus estudos sobre isso, Borges et al. (2022) expõe a visão de Bonavitta (2015) de que além dessas mudanças nas relações, há também uma mudança no amor, pois é colocado como um amor “efêmero, líquido e supérfluo” na atual sociedade. O que se é mostrado nas redes e/ou sites de relacionamento, é apenas aquilo que o sujeito acredita que seja “atrativo” para quem o vê, pois busca-se suprir o desejo de maneira imediata, complementando com que Borges et al. (2022) ainda descrevem sob a perspectiva de Bonavitta, pois de acordo com a autora, essa maneira de amar se mostra individualista, onde não há perspectivas para um futuro e sim como algo que é possível de vender, venda essa que ocorre por meio da “propaganda” feita do perfil, onde quanto melhor a foto exposta, quanto mais criativo se mostra, maior será as chances de encontrar um amor. “Ou melhor, quanto melhor você vender o produto (que é você!) e despertar o desejo de ser consumido a partir da publicidade que você faz de si, maiores são suas chances de ser feliz. A sociedade é regida pelo consumo e muitas vezes você é o item a ser consumido” (Borges et al., 2022).
Esse meio (internet, redes sociais, sites) ao qual a sociedade encontra-se inserida e que a cada dia se renova/modifica, os autores Paura e Gaspar (2017) evidenciam que
“A rede possibilita algo que no ambiente real é um obstáculo. Na relação virtual não possuímos fronteiras, as noções de espaço-tempo são dissolvidas, podemos nos comunicar com diferentes pessoas, em diferentes locais e com fusos horários diferentes, para isso basta acessar a plataforma virtual. Há ainda a questão da mobilidade virtual. Não precisamos ficar presos ao desktop5 para nos comunicar. Com o avanço dos smartphones, a comunicação está acessível no momento em que precisamos devido à mobilidade”.
Apesar de trazer certos benefícios na interação social, é possível perceber em uma grande maioria os problemas que essa expansão, mudanças e (re)modelação nas formas de se relacionar trazem para as pessoas. Pois, ainda segundo Paura e Gaspar (2017), ao passo que as redes sociais/internet proporcionam maior sociabilização e aumento na comunicação entre os sujeitos, ela também fomenta distância entre esses sujeitos, e ainda complementam com o ponto de vista dos autores Schmitt e Imbelloni (2011) de que, essa distância ocorre devido ao fato de que as pessoas ao utilizarem dos meios tecnológicos para comunicarem-se, preferem e dão mais espaço ao uso das telas para que esse contato ocorra, não dando a chance para que o contato físico e real aconteça, ficando assim, em uma posição de certo comodismo e deixando a distância tornar-se maior entre eles.
Para além desse distanciamento entre os sujeitos que estão vivenciando essas relações, o advento da “nova era de se relacionar” também evidencia o surgimento de um amor individualista, em que, segundo Purar e Gaspar (2017), as relações estão baseadas no interesse individual e na busca de satisfação rápida dos desejos, o que de acordo com esses autores, estaria totalmente agindo/vivendo contra a ideia do amor romântico, em que eles expõem que teria “como principal característica o compromisso e o comprometimento de ambos”.
As relações enquanto algo duradouro vai perdendo espaço, dando lugar para algo efêmero, onde
“(…) os usuários dos recursos de namoro online podem namorar com segurança, protegidos por saberem que sempre podem retornar ao mercado para outra rodada de compras, (…) Ou, de qualquer maneira, é assim que a pessoa se sente ao conseguir parceiros na internet. É como folhear um catálogo de reembolso postal que traz na primeira página o aviso “compra não obrigatória” e a garantia ao consumidor da “devolução do produto caso não fique satisfeito”. Terminar quando desejar – instantaneamente, sem confusão, sem avaliação de perdas e sem remorsos – é a principal vantagem do namoro pela internet. Reduzir riscos e, simultaneamente, evitar a perda de opções é o que restou da escolha racional num mundo de oportunidades fluidas, valores cambiantes e regras instáveis (…)” (PAURA&GASPAR, 2017).
O que leva ao conceito que Zygmunt Bauman traz sobre o “Amor líquido”. Segundo o autor Santos (2017), Bauman utiliza-se desse termo para referir-se ao fato de que as relações humanas não apresentam durabilidade, são construídas, desconstruída e reconstruída de forma rápida e abrupta. Apresentando sempre enfoque no imediatismo e deixando de lado, o laço duradouro (Paura e Gaspar, 2017), dando espaço para relações frágeis. Paura e Gaspar (2017), evidenciam que os novos meios de se relacionar mediante a era tecnológica traz a fragilidade para as relações, pois o meio virtual tornou-se o modelo pelo qual funciona, onde o estar online ocupa o lugar do “estar junto”.
Além disso, os autores, Paura e Gaspar (2017), levantam outra consequência nas relações que ocorrem pelo meio virtual, elas tendem a apresentar dificuldades na construção e na manutenção do vínculo entre os sujeitos daquela relação, ocasionando dessa forma, a valorização da quantidade de relações que é possível ter do que a qualidade delas. “Há uma convicção de que o amor pode facilmente ser construído, adquirido. Caso não seja, não tem problema, podemos descartá-lo e continuar experimentando, procurando em outras pessoas o prazer esperado, sonhado” (PAURA&GASPAR, 2017).
Entretanto, não é apenas a relação com o outro que sofre mudanças com as novas formas de relacionar-se, o impacto perpassa até mesmo na relação sujeito consigo mesmo. Sobrinho et al (2019) aponta que a sociedade atual vive um período em que na grande maioria do tempo, encontra-se vivendo/fazendo performance, em que é exposto ao outro apenas aquilo que for chamativo, interessante e bonito, “são corpos perfeitos que habitam uma vida perfeita”. Traz ainda a visão de Goffman (2007) de que “as redes sociais, hoje, são os grandes palcos das performances sociais (…) o palco apresenta coisas que são simulações. É o local onde o ator se apresenta sob a máscara de um personagem para personagens projetados por outros atores (Sobrinho et al., 2019)”.
O fato de a internet ser um campo amplo, permite ao usuário conhecer e lidar com os mais diferentes tipos de pessoas, com isso, Sobrinho et al. (2019) evidencia que esse detalhe faz com que o sujeito que está mantendo o contato com o outro, comece a desempenhar um “novo eu” ou personagem como traz o autor, e isso se passa a cada pessoa em que está sendo mantido uma relação. Isso ocorre devido ao fato de que naquele momento há um desejo de obter a atenção daquela pessoa e até mesmo uma maneira de tentar prolongar o contato com o outro.
Como uma forma de adaptação,
“agimos como atores para que assim possamos alcançar nossos objetivos. É como uma criança que faz todas as tarefas e se comporta bem na mesa, com o intuito de que no final da tarde a mãe deixe ela brincar na calçada. São atuações. Não é o que verdadeiramente se quer fazer ou se quer dizer (Goffman, 2007 apud Sobrinho et al, 2019)”.
Sobrinho et al. (2019) expõe que essa diferença entre quem se é na vida real e na vida virtual, pode acarretar ao sujeito mudanças nas formas em que ele se enxerga, podendo até mesmo, fazer com que ele comece a enxergar aquele personagem do campo virtual como o seu verdadeiro “eu”, trazendo possíveis conflitos de identidade.
É perceptível esses e outros impactos na vida social a partir das mudanças na maneira de se relacionar, como o que Nilson (2016) exprime em seu trabalho baseado em Machado (2014), de que o uso inadequado desses meios de comunicação/relação pode originar problemas mais graves, como por exemplo, depressão, problemas emocionais e outras circunstâncias que gerarão sofrimento para o sujeito. Sendo assim, é importante que os usuários utilizem de forma prudente e que permitam-se curtir e viver de maneira saudável para si e também para o outro.
Referências
ARAÚJO, Maria de Fátima. Amor, casamento e sexualidade: velhas e novas configurações. Psicologia: ciência e profissão, v. 22, p. 70-77, 2002.
BORGES, Juliana Vieira et al. Deu “Match”?! As Características dos Perfis de Usuários de Aplicativos de Namoro. Revista Alcance, v. 29, n. 1, p. 70-85, 2022.
KOOP, Blenda. Influência da pandemia no consumo de aplicativos de relacionamento. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Administração) -Faculdade de Administração e Ciências Contábeis, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2021.
NICOLAU, Analice. Brasil é o segundo país que mais utiliza aplicativo de namoro no mundo:Busca por namoro on-line dobra à medida que os usuários buscam conexões para começar o terceiro ano da pandemia. Jornal de Brasília. Brasília, 17 fev. 2022. Disponível em: https://jornaldebrasilia.com.br/blogs-e-colunas/analice-nicolau/brasil-e-o-segundo-pais-que-mais-utiliza-aplicativo-de-namoro-no-mundo/
NILSON, Ana Marcia Caldeira. Os laços afetivos na era digital. e-Com, v. 8, n. 2, 2016.
PAURA, Marcelo Dias Carvalho; GASPAR, Danielle. Os relacionamentos amorosos na era digital: Um estudo de caso do site par perfeito. Revista Estação Científica, v. 17, p. 1-19, 2017.
SANTOS, Carlos Henrique Moraes dos. Onda dura: a liquidez e a fragilidade das relações contemporâneas. 2016.
SOBRINHO, Francisca Stefanne Orana ALVES; DE SOUSA LINHARES, Lorena; TEIXEIRA, Juliana Fernandes. Reconfiguração das relações amorosas nas redes sociais: um estudo de caso do aplicativo Tinder. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. XXI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste – São Luís – MA. 2019
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Entre sessões: desafios e potencialidade do vínculo psicoterapeuta-cliente
A qualidade do vínculo entre psicólogos clínicos e clientes é um catalisador para mudança terapêutica
De acordo com o ponto de vista de Brandão et al. (2018), a relação terapeuta-paciente está intimamente ligada ao vínculo construído ao longo dos atendimentos realizados pelos profissionais de saúde. Quando há uma relação de confiança de ambas as partes, os resultados podem ser mais satisfatórios”. E conforme traz Mâcedo e Rocha (2015), é por meio desse vínculo formado entre o profissional e paciente que por meio da comunicação entre si, proporcionará um desenvolvimento maior e o que os autores chamam de “encontro autêntico consigo mesmo”.
Mas quais os meios que podem ser utilizados pelos profissionais para que esse processo de vinculação dê certo? Ainda conforme Mâcedo e Rocha (2015), o processo terapêutico é algo único e particular de cada paciente, o que deve ser levado em conta toda a subjetividade do sujeito. Brandão et al. (2018) expõe em seu trabalho a visão de autores que colocam que a postura, comportamentos e até mesmo gestos utilizados podem influenciar no processo. Assim como quando o paciente experimenta atitudes de impaciência, falas de julgamentos ou desqualificação do seu sofrer, atitudes como essas acabam por atrapalhar a criação do vínculo terapêutico, visto que, é necessário acolhimento, respeito e compreensão acerca das demandas daquele sujeito.
“Antônio (2017) propõe cinco princípios centrais que pautam a relação de interagência, são eles: presença, empatia, integralidade, autonomia e corresponsabilidade. (…) a presença, num sentido teórico geral, pode ser compreendida à luz do conceito de atenção plena que é uma postura de curiosidade, abertura e aceitação das experiências do momento presente. Pode se manifestar na disponibilidade mental e de escuta com a interagente, e também envolve aspectos do espaço físico” (Brandão et al. 2018).
Além desses fatores, Jorge (1999) evidencia em seu trabalho que até o local que em que é ofertado o processo, espaço esse, denominado de Setting Terapêutico é algo que gera impacto no processo de vinculação, pois é nesse espaço que será o local de escuta e acolhimento. Ademais, o sigilo profissional é uma atitude de suma importância, independentemente em que situações se encontra.
“(…)sigilo profissional que protege o cliente contra censuras, críticas, represálias. O sigilo, na verdade, é a questão mais elementar da ótica profissional e da civilidade, é o mínimo que se deve ao outro, paciente ou não. O sigilo implica uma conduta prático-moral e uma postura teórico-moral ou ética” (Jorge, 1999).
Trazendo o Código de Ética que rege a profissão do psicólogo, evidencia que “Art. 9º – É dever do psicólogo respeitar o sigilo profissional a fim de proteger, por meio da confidencialidade, a intimidade das pessoas, grupos ou organizações, a que tenha acesso no exercício profissional” (Conselho Federal de Psicologia, 2005), mas traz a ressalva de que em situações que são consideradas perigosas para o paciente, há a possibilidade de realizar quebra de sigilo com o intuito de promover proteção para aquele sujeito, como consta no artigo 10.
“Art. 10 – Nas situações em que se configure conflito entre as exigências decorrentes do disposto no Art. 9º e as afirmações dos princípios fundamentais deste Código, excetuando-se os casos previstos em lei, o psicólogo poderá decidir pela quebra de sigilo, baseando sua decisão na busca do menor prejuízo.
Parágrafo único – Em caso de quebra do sigilo previsto no caput deste artigo, o psicólogo deverá restringir-se a prestar as informações estritamente necessárias”.
Voltando para o ponto de vista de Jonas (1999), o autor elucida que outra atitude por parte do profissional que ajuda na criação, estabilidade e manutenção do vínculo terapeuta-paciente, se dá pela oferta de um olhar e uma postura empática por parte do profissional. De acordo com o autor, a empatia é “a capacidade de se imergir no mundo subjetivo do outro e de participar de sua experiência, na extensão em que a comunicação verbal e não-verbal o permite”, se tornando até mesmo uma forma de ter “sucesso” nessa relação e/ou maneiras de diminuir os episódios de tentativas de fugas ou desistência do tratamento por parte do paciente.
Jorge (1999) informa que a postura que o profissional utilizará durante o contato com o paciente é importante que se dê de maneira afetiva, pois para ele, apesar de esperar uma postura de neutralidade por parte do terapeuta, o oferecimento de uma postura afetiva se torna mais benéfico sendo “caloroso e recíproco”, mas evidencia que é necessária uma cautela com essas posturas, pois não se sabe até que ponto poderia se tornar um problema.
O autor traz que é esperado como parte do profissional que durante todo o processo, ele apresente a capacidade de atender e responder ao paciente. Sobre o ato de atender, Jorge (1999) salienta que
“Atender é a habilidade que o terapeuta tem ou desenvolve no sentido de ser capaz de comunicar de forma não-verbal e de maneira clara sua disponibilidade e seu interesse pelo paciente, ouvindo-o com atenção, de maneira silenciosa, preparando para ele um ambiente seguro e adequado para as ações que ali se desenvolverão. Oferecendo ajuda corporal quando for o caso, olhando-o frente a frente, chamando-o pelo nome, colocando-se de prontidão de maneira discreta para atendê-lo, observando com persistência e afabilidade seu comportamento quanto aos seus interesses, sentimentos, carências e desejos”.
Enquanto o responder ele subdivide em: responder ao conteúdo, ao sentimento, e ao conteúdo e sentimento. O responder ao conteúdo é a capacidade do profissional em compreender nas falas/queixas expostas pelo paciente o porquê procurou por auxílio e nesse ponto o que influenciará, conforme o autor, é a capacidade de escuta daquele terapeuta. Já o responder ao sentimento, Jorge (1999) explica que seria a capacidade do terapeuta em perceber e compreender de forma clara o que está realmente sendo exposto pelo paciente e o responder ao conteúdo e sentimento, o autor pontua que é a junção das habilidades de “responder ao conteúdo e responder ao sentimento”, pois com esse item, o profissional consegue compreender a maneira e o motivo pelo qual o sujeito encontra-se em estado de sofrimento.
Quando esse vínculo terapeuta-paciente é formado e é ofertado ao paciente um profissional, que Mâcedo e Rocha (2015) colocam como um terapeuta real, que o aceita e compreende-o de acordo com suas particularidades, consegue gerar no próprio paciente a capacidade dele em se escutar, respeitar e conseguir aceitar-se. Sobre esse processo de mudanças no paradigma do paciente e os efeitos que geram, os autores Mâcedo e Rocha (2015), trazem a visão de Carl Roges (1997, p. 43) que diz que
“Então o outro individuo na relação: experienciará e compreenderá aspectos de si mesmo que havia anteriormente reprimido; dar-se-á conta de que está se tornando mais integrado, mais apto a funcionar efetivamente; tornar-se-á mais semelhante à pessoa que gostaria de ser; será mais autodiretivo e autoconfiante; realizar-se-á mais enquanto pessoa, sendo mais único e autoexpressivo; será mais compreensivo, mais aceitador com relação aos outros; estará mais apto a enfrentar os problemas da vida adequadamente e de forma mais tranquila”.
Quando esse vínculo terapeuta-paciente se dá de maneira positiva, traz como consequência um processo terapêutico significativo e com espaço para promover o crescimento, tornando o sujeito autônomo e independente, assim como sugere Mâcedo e Rocha (2015), complementando que
“Caminhar para o crescimento, é focar nas potencialidades do indivíduo e no que de melhor ele apresenta, e não no sintoma e no problema que por vezes o nomeia. (…) é possível citar palavras que significam terreno fértil para o crescimento: confiança, aceitação, respeito, não julgamento, responsabilidade etc. A terapia é o encontro de duas pessoas que procuram atingir níveis mais altos da sua existência, descobrindo no caminhar ausência e presença de recursos que impulsionam o desenvolvimento de si mesmos, através da descoberta do que cada um traz consigo”
Ainda sob os efeitos que a relação terapeuta-paciente proporciona, pode-se levar em consideração o ponto de vista de Lima (2007) onde expõe que “o papel do terapeuta como agente reforçador, no contexto supracitado, é primordial para promoção e manutenção de uma relação interpessoal de ajuda, com a finalidade de viabilizar mudanças no processo terapêutico”. Assim sendo, pode-se concluir que ao adentrar em um processo terapêutico se faz necessário a promoção de um espaço de escuta, acolhimento, respeito para que seja possível a criação e fortalecimento do vínculo necessário para esse processo, pois como evidenciado nos autores utilizados, a relação terapeuta-paciente será um dos gerados de mudanças nos paradigmas dos sujeitos.
Referências
BRANDÃO, Amanda Soares et al. A Relação Terapeuta-Paciente e sua Contribuição à Qualidade da Assistência. CIPEEX, v. 2, p. 1817-1820, 2018.
Código de Ética Profissional do Psicólogo, Resolução n.º 10/05, 2005. ________. Psicologia, ética e direitos humanos. Comissão Nacional de Direitos Humanos.
JORGE, Rui Chamone. A relação terapeuta-paciente. Belo Horizonte: Ed, 1999.
LIMA, Eduardo Rodrigues. O papel da relação terapêutica para o sucesso da terapia. 2007.
MACÊDO, Ícaro Berbert; ROCHA, Marcos Aurélio Lordão. Relação terapêutica: chave para o crescimento. Psicologia. com. pt disponível em: http://www. psicologia. pt/artigos/textos A, v. 855, 2015.