O futuro é hoje: desafios e possibilidades na interação entre a Psicologia e a Inteligência Artificial

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De acordo com a Associação de Psicologia Americana (APA, 2023), a Inteligência Artificial está mudando todos os aspectos da Psicologia. Os profissionais desta área e suas competências são insubstituíveis, mas a implementação cuidadosa e  estratégia é crucial, aponta a corporação.

A IA pode afetar o mercado de trabalho a depender de duas características: as habilidades do trabalhador e a natureza das atividades que exerce.

Segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), cerca de 40% de todas as ocupações do mundo vão ficar expostas aos efeitos da inteligência artificial (IA). No cenário nacional, um levantamento da Page Interim, unidade de negócio do PageGroup especializada em recrutamento, seleção e administração de profissionais terceirizados e temporários, mostra que três a cada quatro profissionais brasileiros acreditam que a IA vai substituir os empregos. Outros dados, desta vez da edição de 2024 da Pesquisa Game Brasil (PGB), mostraram que mais da metade dos 3.340 respondentes – 58% – disseram acreditar que o uso da inteligência artificial vai substituir empregos e acentuar desigualdades. Por outro lado, um número ainda maior de pessoas (67,8%) acredita que a IA pode melhorar o trabalho e tornar as pessoas mais criativas e produtivas. Quais são as áreas mais afetadas pela IA? Há setores que não serão impactados? Como se adaptar a essa tecnologia?  Esse foi o conteúdo de um dos episódios mais recentes do podcast Dois Pontos do Estadão, que recebeu Adriano Mussa, reitor e diretor de Inteligência Artificial da Saint Paul, e Priscilla Tavares, professora da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV/EESP). O episódio teve a apresentação da colunista do Estadão, Roseann Kennedy e do editor de Link, Bruno Romani.

Ao assistir o videocast fica claro que para os especialistas da área, a IA pode afetar o mercado de trabalho a depender de duas características: as habilidades do trabalhador e a natureza das atividades que exerce. Para eles as atividades extremamente mecânicas e repetitivas que podem ser automatizadas, têm grande probabilidade de sofrer com a chegada da IA. No entanto, as atividades que exigem habilidades cognitivas de ordem superior têm pouca probabilidade quanto a serem extinguidas ou substituídas. 

Para eles, a IA é boa quanto a execução e otimização de tarefas e não substitui cargos ou funções. Para ilustrar, citam o professor Geoffrey Hinton, psicólogo cognitivo e cientista da computação anglo-canadense que é conhecido como o pai do deep learning (aprendizado de máquina com base em um conjunto de algoritmos) e que há 7 anos falou o seguinte: parem de estudar radiologia pois a IA é muito melhor que qualquer ser humano para diagnosticar doenças com base nas imagens. No entanto, o que aconteceu foi que a demanda por radiologistas no planeta subiu e chegamos a duas conclusões: primeira, o professor é um gênio da IA mas ele não sabe nada de radiologia; e a segunda é que a IA faz apenas 01 das 33 tarefas de um radiologista que é diagnosticar. Além do diagnóstico é necessário que o profissional dialogue com médicos e médicas para discutir os melhores caminhos de tratamento e os pacientes querem dialogar e discutir suas possibilidades de tratamento com pessoas e não com a IA. 

Com base no exemplo acima, temos o entendimento de que a grande pergunta é: quais dessas tarefas a IA pode fazer melhor do que nós em nossas profissões e como isso nos beneficia para que possamos otimizar processos e eliminar atividades mais mecânicas ou automatizáveis no dia a dia, liberando mais tempo para o que realmente importa?

No caso da área de psicologia podemos aproveitar do conhecimento da IA quanto ao refinamento de dados para o critério diagnóstico, mas será necessária toda a expertise do nosso contato com os pacientes, bem como o vínculo bem estabelecido para que com o nosso conhecimento possamos personalizar e direcionar o paciente para o melhor tratamento, por vezes refinando o próprio diagnóstico. Para os especialistas em IA, o fundamental é estar atento às mudanças e buscar capacitação e adaptação às novas tecnologias. Para eles, o que acontece ao longo dos anos, na maioria das vezes não é a extinção dos cargos e funções, mas o aprimoramento destes com a exigência de novas habilidades do trabalhador como por exemplo: o pensamento crítico, habilidade de comunicação, interações sociais relevantes, liderança, etc.

Existem ferramentas de triagem e diagnóstico, permitindo uma detecção precoce de problemas de saúde mental. Chatbots e assistentes virtuais baseados em IA também estão se tornando cada vez mais populares como ferramentas de educação emocional, instrução do uso de técnicas de meditação guiada, respiração diafragmática, dentre outras, para pessoas que não têm acesso imediato a um profissional de saúde mental.  Sobre esta questão, resolvi testar a IA e usei o ChatGPT. Fiz a seguinte pergunta:” Você pode me ajudar? Estou com uma crise de ansiedade”. A resposta do ChatGPT: “Claro, estou aqui para ajudar. Se você está enfrentando uma crise de ansiedade, é importante lembrar que você não está sozinho e que existem maneiras de lidar com isso. Aqui estão algumas estratégias que podem ajudar a acalmar sua ansiedade: Respiração profunda: Experimente técnicas de respiração profunda para acalmar seu corpo e mente. Respire lenta e profundamente, concentrando-se em cada respiração. Prática de mindfulness: envolve focar sua atenção no momento presente. Isso pode ajudar a reduzir a preocupação com o futuro e a ruminação sobre o passado. Exercícios de relaxamento muscular: Faça exercícios de relaxamento muscular progressivo, onde você tensiona e relaxa os diferentes grupos musculares do seu corpo. Isso pode ajudar a aliviar a tensão física causada pela ansiedade. Distração saudável: Envolver-se em atividades que você gosta e que o distraiam da ansiedade, como ouvir música, praticar um hobby ou sair para uma caminhada. Fale com alguém: Compartilhe seus sentimentos com alguém em quem confia, seja um amigo, um membro da família ou um profissional de saúde mental. Falar sobre o que você está passando pode ajudar a aliviar a carga emocional. Se você sentir que está perdendo o controle da situação ou se a ansiedade estiver interferindo significativamente em sua vida diária, é importante buscar ajuda profissional. Um psicólogo, terapeuta ou outro profissional de saúde mental qualificado pode oferecer apoio e orientação personalizados para ajudá-lo a lidar com sua ansiedade de maneira eficaz. Lembre-se de que é normal sentir ansiedade de vez em quando, mas é importante aprender a gerenciá-la de forma saudável. Estou aqui para fornecer apoio e orientação sempre que precisar.” 

Nesta situação, observei que a IA ofereceu um apoio primário e forneceu informações importantes para que o usuário da tecnologia desse um primeiro passo para o controle da ansiedade, indicando possíveis caminhos para um maior bem-estar. No entanto, mesmo diante destas sugestões, vemos a necessidade de uma explicação minuciosa e detalhada de um profissional para que a técnica seja compreendida e realizada de forma correta, bem como a análise de contexto para o entendimento da situação estressora e os componentes desencadeantes da ansiedade para a compreensão do quadro. 

Os especialistas ainda destacam que à medida que a tecnologia avança, surgem novas maneiras de aplicar a IA para entender e melhorar a saúde mental, o bem-estar e o comportamento humano. No entanto, também surgem preocupações sobre questões éticas, de privacidade e de confiabilidade dos resultados.

Sobre os desafios, um dos principais é garantir que os algoritmos de IA sejam justos e imparciais, evitando vieses que possam prejudicar certos grupos demográficos. Além disso, há preocupações sobre a privacidade dos dados dos pacientes e a segurança das informações confidenciais armazenadas em sistemas de IA. E aqui temos novamente o fator humano, o vínculo terapêutico e o sigilo entre paciente e profissional como algo valioso e insubstituível.

Desta forma, é possível observar que embora a IA possa ser uma ferramenta poderosa para auxiliar no processo terapêutico, é importante reconhecer que o aspecto humano no cuidado mental continua sendo fundamental. Captação de emoções, entendimento de contextos de vida e histórico do desenvolvimento, riscos e vulnerabilidades são questões bem humanas e distantes do entendimento da IA. Prova disto foi mais uma das perguntas que fiz para a IA, desta vez ao Copilot, IA da Microsoft. Perguntei: “Você acredita que pode substituir um psicólogo clínico e me atender virtualmente? A resposta da Copilot foi: “Embora eu possa fornecer informações e ajudar com muitas coisas, eu não sou um substituto para um psicólogo clínico. Eu sou uma inteligência artificial e não tenho a capacidade de entender completamente as emoções humanas ou fornecer aconselhamento terapêutico. É importante procurar a ajuda de profissionais de saúde mental qualificados para questões de saúde mental. Eles têm o treinamento e a experiência necessários para ajudar de maneira eficaz. Se você estiver passando por um momento difícil, recomendo que entre em contato com um profissional de saúde mental. Lembre-se, é importante cuidar de sua saúde mental”.

Fica claro que a IA oferece um vasto potencial para revolucionar o mercado de trabalho da psicologia e não para extingui-lo, proporcionando novas maneiras de entender e tratar os desafios de saúde mental. No entanto, para aproveitar ao máximo essas oportunidades, é essencial abordar os desafios éticos, técnicos e sociais que acompanham essa transformação, garantindo que a IA seja utilizada de maneira responsável e inclusiva para o benefício de todos.

Referências:

AMERICAN PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION. AI is changing every aspect of psychology. Here’s what to watch for. Monitor on Psychology2023. Disponível em:<https://www.apa.org/monitor/2023/07/psychology-embracing-ai>. Acesso em 21 maio de 2024

A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL VAI ROUBAR O SEU EMPREGO? Dois Pontos. Estadão, 01 de maio de 2024. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=PFy0WzYTp88.  Acesso em 06 de maio de 2024.

COMO A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL AFETA O MERCADO DE TRABALHO E SEUS TRABALHADORES. Andréa Greco. Linkedin, 23 de fevereiro de  2023. Disponível em: https://pt.linkedin.com/pulse/como-intelig%C3%AAncia-artificial-afeta-o-mercado-de-trabalho-andr%C3%A9a-greco. Acesso em 02 de maio de 2023.

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL AFETARÁ ATÉ 40% DOS EMPREGOS EM TODO O MUNDO, ESTIMA FMI. Infomoney, 16 de Janeiro de 2024. Disponível em: https://www.infomoney.com.br/carreira/inteligencia-artificial-afetara-40-dos-empregos-em-todo-o-mundo-estima-fmi/ . Acesso em 02 de maio de 2024.

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL PODE DAR SUPORTE PARA PSICÓLOGO. Gustavo Basso. DW.com, 21 de março de 2024. Disponível em: https://www.dw.com/pt-br/intelig%C3%AAncia-artificial-pode-dar-suporte-para-psic%C3%B3logo/a-68634325#:~:text=Rob%C3%B4s%20de%20conversa%2C%20jornadas%20instru%C3%ADdas,psic%C3%B3loga%20e%20pesquisadora%20Karen%20Sacavacini. Acesso em 02 de maio de 2024.

MUSSA, Adriano. (2020) Inteligência Artificial – Mitos e Verdades: as reais oportunidades de criação de valor nos negócios e os impactos no futuro do trabalho. São Paulo. Editora Saint Paul.  

 

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O amor é uma decisão: relato de experiência de quem vive um amor real em tempos de amores líquidos

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Conforme Zygmunt Bauman as relações se tornaram frágeis e descartáveis na sociedade moderna.

Escrevo este relato de experiência faltando apenas 1 dia para o dia 12 de junho, dia em que nós brasileiros comemoramos o Dia dos Namorados. Recordei-me que dias atrás, li uma reportagem da revista exame que relatava um aumento no número de divórcios em nosso país. A matéria da revista dizia que o número total de separações é o maior da série histórica iniciada em 2007 pelo IBGE. Segundo os dados, metade dos casamentos que terminaram duraram menos de 10 anos e o tempo médio entre o casamento e divórcio diminuiu para cerca de 13 anos e boa parte dos casais divorciados tinham filhos menores de idade. 

Confesso que estes dados me chamam a atenção e como estudante de psicologia sei bem como a família trata-se de um núcleo de grande influência e importância para o desenvolvimento e formação da personalidade das crianças. Sabemos bem que o ambiente familiar é crucial para o desenvolvimento saudável delas, bem como para a saúde emocional. Sei também que em muitos casos a continuidade do casamento é impossível ou inviável por diversos fatores como por exemplo: a violência doméstica e abusos sejam eles quais forem e outras questões.

Zygmunt Bauman, sociólogo polonês, abordou o tema dos casamentos em sua obra “Amor Líquido”. Ele discute como as relações se tornaram frágeis e descartáveis na sociedade moderna. Entre algumas de suas ideias estão:  

As Relações Frágeis: Ele argumenta que as relações atuais são frágeis e se tornaram descartáveis. Ele compara as relações modernas com a água, que é líquida e pode mudar de forma rapidamente. E diz que as pessoas estão cada vez menos dispostas a se comprometer com relacionamentos.

A Falta de Compromisso: o autor diz que o amor líquido é caracterizado pela falta de compromisso e pela busca constante de algo melhor. Ele sugere que, assim como as pessoas trocam de produtos quando ficam insatisfeitas com eles, elas também trocam de parceiros quando não estão satisfeitas com seus relacionamentos.

O Amor Descartável: Bauman descreve o amor líquido como um amor descartável, que pode ser trocado a qualquer momento. Ele argumenta que os parceiros são trocados a todo momento, visando sempre “algo melhor”.

A Sociedade Sólida x Sociedade Líquida: o autor contrasta a sociedade moderna líquida com a sociedade sólida do passado. Na sociedade sólida, o casamento era visto como um contrato firme e duradouro. No entanto, na sociedade líquida, as relações sociais são vistas como contratos superficiais e temporários.

As ideias de Bauman sobre o amor líquido refletem uma tendência cada vez mais forte e comum de relacionamentos na sociedade moderna e podemos confirmar isso através dos dados citado no início deste relato.

Diante destes fatos, lembrei de como percorri minha jornada de adolescente e jovem e de como tinha em mente o que significava o casamento. Eu sabia que o casamento estava para além de ser feliz. Sabia que significava ser dois, pensar em dois, fazer coisas como dois, embora pudesse haver momentos para ser um e desfrutar como um. Sabia também que o amor não se tratava de mero sentimento ou de desejo sexual a ser atendido em um dado momento, ou de outro alguém me fazer feliz. Afinal a completude está em mim e eu a desfruto com alguém. Sabia até pelo que eu creio, que o casamento se tratava de uma decisão para a vida toda e não de um arroubo, um sentimento incontrolável, insensato e imprudente que num ato de idealização e fantasia opta por se juntar com alguém “enquanto o amor durar”.

Bom, você deve estar pensando no que deu esse amor (risos). Ele é real e ocorre há exatos 22 anos na sua forma mais pura e real. Dele veio nossa maior alegria e desafio diário que é a nossa filha, hoje com 13 anos de idade. Ela é alegre, ativa, amorosa e nos esforçamos para que como casal ela tenha um bom exemplo e referência de amor saudável, maduro e tranquilo. 

Meu casamento tem dias bons e dias difíceis. Tem choro e riso. Tem incertezas da vida, tem ou teve dificuldades (financeiras, emocionais, de saúde, gestacionais, profissionais etc.), tem conversas difíceis e necessárias. Tem respeito, tem parceria, tem beijo e abraço de bom dia, tem almoço na mesa e faxina compartilhada, tem ajuste de agendas, tem ceder aqui e receber ali, tem vida compartilhada, tem esforço e sacrifício um pelo outro de tempos em tempos, tem riso e brincadeira, tem a alegria do compartilhar das vitórias e o consolo de ter com quem lutar as batalhas e dividir as dores. Não renuncio a nenhum desses 7.920 dias que vivi ao lado do meu marido, pois neles eu aprendi e continuo aprendendo o que é o amor de verdade. E amar de verdade é decidir estar com alguém e viver dias bons e ruins, é conhecer as fraquezas e mesmo assim permanecer, é exaltar os pontos fortes, é desfrutar da vida por completo aceitando o outro e a mim mesma como somos, buscando melhorar aquilo que pode e precisa ser melhorado para que o amor seja vivido em toda a sua potencialidade e plenitude. 

Bauman descreve o amor na sociedade moderna como um produto de um individualismo exacerbado. Ele argumenta que as relações atuais são frágeis e descartáveis, caracterizadas pela falta de compromisso e pela busca constante de algo melhor. Desta forma, o “amor maduro” poderia ser entendido como um contraponto ao “amor líquido”. Seria um compromisso mais profundo, a aceitação do outro como ele é, e uma disposição para trabalhar através de dificuldades e desafios juntos. Isso contrasta com a visão de Bauman de um amor que é facilmente descartável e está constantemente em busca de algo melhor.

Eu posso dizer a você meu caro leitor, que vivo um amor maduro e tranquilo numa sociedade que pensa que amar é sentimento e que acredita que é possível ser individualista no amor. O amor exige tudo. Como está escrito na escritura sagrada (Bíblia) no livro de I Coríntios 13:4-7 “O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. Eu tomei uma decisão. Fiz uma aliança e um compromisso com alguém para dividir as alegrias e tristezas da vida em toda e qualquer situação. Eu desejo a você meu caro leitor, a beleza de viver um amor tranquilo. Ele existe. O amor é vida real. Decida compartilhar as alegrias e dores da vida com alguém também real.

Feliz Dia dos Namorados! Ah e me permitam ser brega ou parecer frágil e vulnerável nessa sociedade moderna: Eu te amo e admiro cada dia mais Thomás Dias. Obrigada por compartilhar a vida comigo, por me apoiar e amar todos os dias, incondicionalmente. 

Referências:

BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2004

BÍBLIA SAGRADA. Novo Testamento. Tradução de João Ferreira de Almeida. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2019. 2080 páginas.

MARTINS, André. Número de divórcios no Brasil bate record e chega a 420 mil, mostra IBGE. Revista Exame. Publicado em 27 de março de 2024. Disponível em: https://exame.com/brasil/numero-de-divorcios-no-brasil-bate-recorde-e-chega-a-420-mil/. Acesso em 08 de junho de 2024.

SILVA, Nancy Capretz Batista da et al. Variáveis da família e seu impacto sobre o desenvolvimento infantil. Temas psicol., Ribeirão Preto, v. 16, n. 2, p. 215-229, 2008. Disponível em http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-389X2008000200006&lng=pt&nrm=iso . Acesso em 08 de junho de 2024.

 

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Influência da arquitetura sobre o comportamento humano

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Ao criar ambientes que são acolhedores, acessíveis e estimulantes, a arquitetura pode produzir bem-estar e melhorar a qualidade de vida das pessoas

Portal (En)Cena entrevistou a arquiteta e urbanista Camila Pimentel. Ela é graduada pela Universidade Federal do Tocantins, com formação complementar pela Universidade Técnica de Lisboa. Pós-graduada em Reabilitação Ambiental Sustentável Arquitetônica e Urbanística, pela Universidade de Brasília – UNB. Mestre em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de Brasília – UNB e Pós-graduada em Gestão e Docência no Ensino Superior pela Faculdade UniBF. Também atua como professora das disciplinas de Teoria e História da Arquitetura e do Urbanismo no Centro Universitário Luterano de Palmas – CEULP/ULBRA. Nesta entrevista, falamos um pouco sobre a influência da neuroarquitetura no planejamento dos ambientes e a importância do olhar especializado e de um trabalho conjunto com os profissionais da área de saúde para que os ambientes colaborem para a saúde mental, principalmente nos ambientes relacionados ao atendimento terapêutico.

(En)Cena: Como integrar os princípios da neurociência no design de espaços para otimizar o funcionamento cognitivo e emocional dos usuários?

 Camila Pimentel:  Os estudos acerca da neuroarquitetura apontam os aspectos positivos de um ambiente bem pensado e planejado. As cores, texturas, design dos móveis podem contribuir com o comportamento que desejamos que os usuários tenham. Por exemplo, em um ambiente escolar deseja-se a atenção dos alunos em sala de aula. Em um ambiente terapêutico deseja-se a sensação de confiança e segurança. Em um espaço religioso busca-se a introspecção. Em todos esses casos, as intenções podem ser demonstradas através de todas as escolhas projetuais, seja na forma dos ambientes, altura do pé direito, iluminação, cores, acabamentos e móveis.

 

(En)Cena: Como você considera a influência dos espaços físicos na saúde mental e emocional das pessoas ao projetar um edifício ou ambiente urbano?

Camila Pimentel:  Os espaços, sejam eles construídos ou vazios, proporcionam diversas sensações aos seus usuários, pois os cinco sentidos são aguçados pelas cores, texturas, sons, fragrâncias e até mesmo sabores escolhidos. Por exemplo, em um jardim pode-se ter o projeto dos caminhos, dos mobiliários e a escolha das espécies de plantas mais adequadas, tanto decorativas quanto frutíferas. Todas essas escolhas podem convidar o usuário a se sentir pertencente ou a afastar-se deste espaço, a ter a sensação de segurança ou insegurança, a promover encontros ou distanciamento das pessoas. Dessa forma, o ambiente circundante tem uma grande influência sobre o comportamento humano e suas emoções.

 

(En)Cena: Quais são os aspectos fundamentais do design de um ambiente que podem afetar o cérebro e o sistema nervoso das pessoas?

Camila Pimentel:  Essa análise pode ser feita considerando algumas situações específicas. Por exemplo, em um restaurante fastfood, as cores vibrantes em tons de vermelho e amarelo aguçam o apetite. Enquanto que as luzes brancas e fortes, unidas à um mobiliário frio e não convidativo, favorecem a alimentação rápida e a liberação do espaço para aos clientes seguintes. Em contraposição, os restaurantes mais caros, trazem uma atmosfera mais intimista através de mobiliário aconchegante, cores em tons mais fechados e iluminação quente e indireta, convidando o cliente a permanecer por mais tempo e gastar mais dinheiro consumindo em seu espaço. Outro exemplo é uma casa planejada para um reality show, onde a profusão de texturas, estampas, mescla de cores, ambientes enclausurados e sem iluminação e ventilação natural, causam confusão mental, aumentando o nível de estresse e irritabilidade. Dessa forma, podemos ver na prática como o design afeta o sistema nervoso.

 

(En)Cena: Quais são os desafios mais comuns enfrentados ao tentar traduzir as descobertas da neurociência em práticas arquitetônicas?

Camila Pimentel:  O maior desafio é o interesse do cliente. Por ser leigo, muitas vezes o cliente deseja algo que sabemos que não é adequado para as atividades que ele vai exercer no ambiente solicitado. Cabe a nós a tarefa de instruir e revelar o que é o melhor e mais apropriado, enfatizando sempre qual o resultado final que ele deseja obter.

 

(En)Cena: Quais são os princípios de design que você considera essenciais para criar um ambiente acolhedor e seguro para os clientes em uma configuração terapêutica?

Camila Pimentel: Ao se propor um espaço como este, primeiramente devem ser analisados os aspectos arquitetônicos, como o tipo de portas e janelas, os quais devem ser feitos de materiais acústicos que impeçam a passagem do som para o ambiente lindeiro. Além disso, dentro do espaço deve ser pensado o uso de materiais que absorvam o som, como tapetes, estofados e cortinas, de forma a evitar a reverberação. No espaço terapêutico, a sensação de segurança primordial é a confidencialidade. O paciente precisa perceber que o que é dito ao terapeuta não será ouvido pelas pessoas que estão nos espaços adjacentes. Em segundo lugar, o acolhimento pode ser percebido através de um mobiliário confortável e aconchegante, fazendo com que ele se sinta abraçado e convidado a relatar suas dificuldades. Cadeiras muito rígidas ou de material frio, podem afastar e criar um desconforto ao usuário. Um ambiente terapêutico precisa ser organizado, sem muitas informações que tirem a atenção do paciente. O foco do ambiente deve ser a promoção do bem estar e da segurança, seja através de um layout ordenado, materiais naturais que tragam aconchego, presença de vegetação e uma iluminação indireta, com luz quente que traga mais serenidade ao espaço.

 

(En)Cena: Em ambientes terapêuticos recebemos pessoas com as mais diversas necessidades. Qual é o papel da acessibilidade e da inclusão social nos projetos arquitetônicos em termos de psicologia ambiental?

Camila Pimentel: Tornar os ambientes adaptados às atividades e, principalmente, a seus usuários é de fundamental importância para o bem-estar daqueles que habitam ou trabalham neste determinado espaço. O Desenho Universal é um exemplo disso, quando estimula a elaboração de ambientes, mobiliários e produtos que sejam adaptados às mais diversas necessidades e condições humanas. Informações e equipamentos intuitivos, de fácil alcance e manuseio promovem um espaço mais funcional e, consequentemente, mais usual seja para o idoso, a criança, a pessoa deficiente ou com mobilidade reduzida.

 

(En)Cena: Em sua opinião, como a colaboração entre psicólogos e arquitetos pode ser aprimorada para criar ambientes mais saudáveis e sustentáveis do ponto de vista psicológico?

Camila Pimentel: Através dos estudos de ambas as áreas de atuação, podemos aprimorar os trabalhos que envolvem o ambiente e seu impacto sobre o comportamento humano. As análises realizadas pelos psicólogos podem promover um aprofundamento do conhecimento dos arquitetos sobre as sensações e emoções evocadas pelos projetos realizados por nós e, assim, melhorar as proposições arquitetônicas considerando a necessidade de cada cliente.

 

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“Coda, no Ritmo do Coração” – a comunicação familiar na construção de identidade na adolescência

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 CODA é um filme repleto de sensibilidade e evoca muitas reflexões acerca da deficiência auditiva e da importância da comunicação no estabelecimento dos laços familiares e sociais saudáveis.

CODA (Child of Deaf Adults, significa em português, Filho de Pais Surdos). O filme conta a história da jovem Ruby Rossi, interpretada pela atriz Emilia Jones. Ela é uma adolescente, que vive com familiares surdos: seu pai, sua mãe e seu irmão mais velho. Devido a surdez de sua família, ela enfrenta os conflitos e desafios de viver entre dois mundos: o da família e o da comunidade. Devido a morar em uma pequena cidade, família de Ruby enfrenta as dificuldades de inclusão e a falta de uma estrutura governamental que atenda às necessidades básicas de acesso aos seus direitos, fazendo
com que Ruby absorva a responsabilidade de intermediar as relações e comunicações de sua família com as demais pessoas da comunidade.

Durante todo o filme observamos que o cerne do problema é a comunicação. A jovem protagonista precisa lidar com questões complexas em sua adolescência e acaba sendo afetada por problemas que vão muito além dos comuns para a sua idade. Há uma carga grande de responsabilidade que devido à peculiaridade da surdez de sua família é compreensível, porém injusta. Tendo em vista que Ruby é a única ouvinte em sua família, ela se torna peça essencial para a comunicação familiar dentro e fora de casa, o que traz inúmeros conflitos e desconfortos à adolescente.

Para aumentar a dramaticidade da obra, Ruby tem um talento nato para a música e se envolve no coro escolar, o que a leva mais uma vez a um mundo diferente do que sua família domina e conhece. Com a ajuda de seu professor, que acredita em seu potencial e talento, a música se torna um fator de distanciamento entre ela e sua família e ao mesmo tempo provoca um processo de crescimento e amadurecimento ao fazê-la desenvolver sua comunicação familiar e alçar novos voos.

Famílias abertas ao diálogo proporcionam um ambiente acolhedor, deixando os adolescentes à vontade para falar de suas inseguranças e medos e expor seus sentimentos

A mãe de Ruby (interpretada pela atriz Marlee Matlin), vai vivenciar os dilemas da maternidade, a insegurança, o instinto de proteção e ao mesmo tempo enfrentar seus próprios medos quanto a desenvolver suas habilidades sociais e melhorar sua comunicação e interação com a comunidade. Neste processo, ela questiona se Ruby começou a cantar para irritar a família ou se ela realmente é alguém que tem este talento, mesmo sendo filha de pais surdos. É neste ponto do filme que vemos florescer a importância e necessidade de uma comunicação clara e aberta entre toda a família para enfrentar seus temores e construir diálogos que aproximam e ampliam os horizontes de cada um dos personagens quanto aos seus conflitos e inquietações. 

O irmão mais velho de Ruby, interpretado por Daniel Durant, esconde o conflito de querer se sentir independente de sua irmã, ao mesmo tempo que se preocupa com seus sonhos e deseja vê-la feliz e fazendo o que gosta. Já o patriarca da família, interpretado por Troy Kutsur, retratado com um pai amoroso, presente e sensível, protagoniza uma das mais belas cenas com sua filha, ao lhe pedir que cante para ele, fazendo-o compreender através da leitura labial e vibrações, a importância e amor que ela nutre pela música.

É importante ressaltar que o filme conta com a atuação de atores surdos que são (o pai, a mãe e o irmão de Ruby) o que traz credibilidade aos papéis e engrandece todo o elenco. Destaca-se a atuação da atriz que interpreta Ruby, a qual traz paixão e o uso da linguagem de sinais de forma impecável, após nove meses de dedicação para o aprendizado da língua e interação verossímil com seus pares surdos.   

O poeta norte americano E.E. Cummings disse certa vez que é preciso coragem para crescer e se tornar quem você é de verdade. Ao assistir ao filme CODA podemos observar toda a coragem de Ruby em sua jornada de autoconhecimento e a forma como sua percepção foi se desenvolvendo e a ajudando a reagir emocional e comportamentalmente de forma mais assertiva. Neste processo de crescimento e desenvolvimento, vemos a personagem desbravando terras desconhecidas e tendo a coragem de enfrentar seus temores, dúvidas e as reações de sua família quanto aos seus sonhos. 

Durante o filme vemos Ruby desenvolver uma ideia firme de sua identidade ao enfrentar os dilemas relativos a todos os aspectos emocionais referentes a questões importantes de sua vida. É notório o papel da comunicação, a qual foi essencial para que todos pudessem colocar seus pontos de vista e temores e assim entender uns aos outros e encorajarem-se a tomar suas próprias decisões rumo ao crescimento individual e familiar. 

A adolescência é uma das fases mais intensas da vida e a importância da família é essencial para superar os obstáculos

Ao desfrutar de uma família amorosa, que se comunica e estabelece relações empáticas e encorajadoras, vemos Ruby enfrentar os dilemas de sua existência e identificar – se com os valores de sua família, desenvolvendo o senso de pertencimento à ela e ainda assim, tomando importantes decisões sobre seu futuro e papel dentro e fora dela. 

O filme também se destaca pelo caráter político e impulsionador de mudanças na indústria cinematográfica, tendo em vista que levanta a bandeira da representação e da representatividade de pessoas com deficiências. No Brasil, segundo dados do IBGE, temos em torno de 5% da população com alguma deficiência auditiva, sendo 10 milhões de cidadãos com deficiência auditiva e 2,7 milhões com surdez profunda. CODA definitivamente é um filme repleto de sensibilidade e evoca muitas reflexões nos telespectadores acerca da deficiência auditiva e da importância da comunicação no estabelecimento dos laços familiares e sociais saudáveis. 

 

Referências

DIAS, Ana Paula. CODA: Uma história emocionante e sincera sobre encontrar o nosso lugar no mundo. Unesp Bauru, 2021. Disponível em: https://matavunesp.wordpress.com/2021/08/19/coda-uma-historia-emocionante-e-sincera-sobre-encontrar-nosso-lugar-no-mundo/ . Acesso em 15 de março de 2024.

FERREIRA, Isabela Maria Freitas, BARLETTA, Janaína Bianca; MANSUR-ALVES, Marcela. DO AUTOCONHECIMENTO AO AUTOCONCEITO: REVISÃO SOBRE CONSTRUTOS E INSTRUMENTOS PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES. Psicologia em Estudo, v. 27, p. e49076, 2022. Disponível em: https://www.scielo.br/j/pe/a/XQrsmHHnN7g7SSkYGpcPjqb/#

FRANCO, Gabi. NO RITMO DO CORAÇÃO LEVA ATORES SURDOS AO OSCAR 2022. UOL, 2022. Disponível em: https://tangerina.uol.com.br/filmes-series/critica-no-ritmo-do-coracao/. Acesso em 15 de março de 2024.

LEMOS, Simone. MAIS DE 10 MILHÕES DE BRASILEIROS APRESENTAM ALGUM GRAU DE SURDEZ. Jornal da USP, 2023. Disponível em: https://jornal.usp.br/atualidades/mais-de-10-milhoes-de-brasileiros-apresentam-algum-grau-de-surdez/#:~:text=Dados%20do%20IBGE%20(Instituto%20Brasileiro,ou%20seja%2C%20n%C3%A3o%20escutam%20nada. Acesso em: 15 de março de 2024.

PAPALIA, D. E. e FELDMAN, R. D. (2013). Desenvolvimento Humano. Porto Alegre, Artmed, 12ª ed. 

SCHOEN-FERREIRA, Teresa Helena, AZNAR-FARIAS, Maria; SILVARES, Edwiges Ferreira de Mattos. A construção da identidade em adolescentes: um estudo exploratório. Estudos de Psicologia (Natal), v. 8, n. 1, p. 107–115, 2003. Disponível em: https://www.scielo.br/j/epsic/a/X5DFFZCZsb4pmrLchTsQVpb/#

 

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O Poder do hábito: por que fazemos o que fazemos na vida e nos negócios

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O autor do livro é um conhecido jornalista norte americano chamado Charles Duhigg. Com este livro o autor realizou um trabalho jornalístico com centenas de fontes e estudos e através deles demonstra que os hábitos, dos mais simples aos mais complexos, são a base de nossa vida. Ele defende que ao entendermos como os hábitos funcionam, podemos usá-los a nosso favor para atingir os nossos objetivos e obter sucesso na vida.

Duhigg apresenta um conceito chamado de “loop do hábito”, que é composto por três partes: a deixa, a rotina e a recompensa. Ele diz que os hábitos são formados quando a deixa (evento, local ou emoção) desencadeia uma rotina (ou um comportamento diário) a qual gera uma recompensa. Quanto mais repetimos este “loop” mais automatizado e arraigado ele se torna em nosso cérebro.

 

Para a nossa alegria e tranquilidade, Duhigg traz inúmeros exemplos de pessoas que conseguiram mudar seus hábitos e defende que podemos alterar ou mudá-los, mesmo os mais difíceis e prejudiciais, se compreendermos como o “loop” acontece e aplicarmos algumas técnicas de modificação do comportamento como por exemplo o estabelecimento de metas específicas, a visualização e a substituição de hábitos.

Para o autor o hábito nada mais é do que as atividades do dia a dia que executamos de forma automática, sem pensar. Por exemplo, pentear o cabelo, escovar os dentes ou até mesmo o caminho que percorremos para chegar ao trabalho todos os dias. Para ele, nossa mente funciona visando otimizar e acelerar nosso dia a dia. Para isso, automatiza nossas ações e os torna em hábitos para que gaste sua energia e concentração em outras coisas que exigem mais da nossa atenção.

O autor demonstra então como os hábitos são formados e a forma como influenciam positiva e negativamente as nossas vidas. Para isto, recorre a conceitos e explicações de áreas como a psicologia e neurociência. Duhigg então explica o ciclo neurológico do desenvolvimento de um hábito e pontua que a formação dele se estabelece em 3 pilares: a deixa, a rotina e a recompensa.

A Deixa

A deixa é o gatilho, o estímulo antecedente que dispara em seu cérebro para começar uma rotina. Ele pode se apresentar de muitas formas (sentimentos, locais, coisas), desta forma conseguir identificar a deixa é o que faz com que um indivíduo consiga caminhar em direção a mudança. No livro ele cita o seu próprio exemplo quando conta que costumava comer donuts todas as tardes e por isso engordou. Ao analisar o fato, percebeu que fazia isso porque se sentia sozinho e então se dirigia a cafeteria para socializar e conversar, o que culminava no consumo dos donuts. Ao identificar a deixa, passou então a introduzir uma nova rotina que viabilizasse o abandono deste vício em donuts. É preciso entender que o jornalista se sentia recompensado ao conversar com as pessoas e não ao comer e desta forma poderia associar a sua recompensa com algo mais saudável.

A Rotina

A rotina é a atividade que é sempre realizada após a deixa ser ativada. Aqui o autor destaca que para mudar a rotina é preciso identificar o seu gatilho. Sem isso, provavelmente não haverá mudança de rotina.

A Recompensa

A recompensa é o prêmio que você recebe.  Ela naturalmente desperta sentimentos que vão ficar guardados até a próxima vez que o indivíduo se deparar com a deixa. Por isso, o hábito vai se reforçando em um looping infinito.

Ainda sobre o seu hábito de comer os donuts, o autor então observou que: estava engordando devido a comer donuts no meio da tarde. Ele observou que a deixa dele era (sentir-se sozinho no meio da tarde), a rotina (pegar um donuts) e a recompensa (poder conversar com as pessoas que estavam na cafeteria). Ao identificar os três pilares do seu hábito, o autor programou seu alarme do relógio para o horário em que normalmente sentia essa necessidade de conversar com alguém e colocou como meta ir até a mesa de amigo e conversar por 10 minutos. Segundo ele, os primeiros dias foram os mais difíceis e por vezes, ele ignorou o alarme e o plano estabelecido e por consequência terminava comendo o donuts e sentia-se frustrado. No entanto, ao seguir seu plano à risca, finalizava o dia sem comer o donut e satisfeito com seu progresso. Desta forma, com o passar dos dias, o novo comportamento passou a ser automático e ele já nem precisava mais do alarme. Passados seis meses desta nova rotina, relatou que todo dia, por volta das três e meia, levantava de sua mesa, passava dez minutos conversando com algum amigo no escritório e então voltava para sua mesa e isso já acontecia de forma automática e sem que pensasse a respeito. Tornou-se um hábito.

O autor começa então a demonstrar que é extremamente importante criar uma associação entre a deixa e a recompensa. E ressalta que o próprio indivíduo pode criar essa deixa e incorporar em sua rotina hábitos que culminem em algo prazeroso, agindo em seu favor e fugindo das armadilhas da automatização da vida. Desta forma, terá estabelecido uma estratégia para a mudança de hábitos.

Duhigg também aborda em seu livro, o conceito de hábitos angulares (aqueles que influenciam em outras áreas da vida). Por exemplo, a atividade física, que colabora para um bem-estar físico e emocional.

Fica claro no livro que entender a origem de seus hábitos e quais as recompensas que eles envolvem, será uma forma eficiente de desenvolver estratégias que promoverão a mudança de qualquer hábito da sua vida. Vale dizer que alguns serão mais difíceis de serem modificados e a mudança exigirá mais tempo, esforço e dedicação. No entanto, à medida que você entende como um hábito funciona e identifica a deixa, a rotina e a recompensa, você ganha poder sobre ele e porque não dizer que você retoma o controle daquilo que faz todos os dias, sendo mais assertivo e direcionando seus esforços para algo que realmente te trará resultados positivos nas mais diversas áreas da vida.

Referências:

DUHIGG, Charles. O Poder do hábito: porque fazemos o que fazemos na vida e nos negócios. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.

 

 

 

 

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Procrastinação: causas e consequências

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Lílian Soares, aborda nesta obra relevante um fenômeno universal e desafiador enfrentado por muitas pessoas no mundo contemporâneo: adiar tarefas mesmo sabendo que haverá consequências negativas. Você já passou por algo assim? Sofre com isso? Experimenta sentimentos de culpa, fracasso, baixa produtividade e vergonha? Se sente um fracasso por adiar e não atingir seus objetivos e metas na vida, sendo cobrado muitas vezes por não cumprir suas responsabilidades e compromissos?

Neste livro a autora traz uma análise detalhada e esclarecedora, embasada em pesquisa acadêmica, citação de estudos de caso e em sua experiência pessoal, sobre os aspectos envolvidos no adiamento de tarefas e objetivos. Através deste aparato busca ajudar os leitores a compreender e utilizar estratégias para a superação dos obstáculos que surgem com a procrastinação e impedem o desenvolvimento pessoal e profissional.

A autora questiona a cultura, o ambiente, as tecnologias e proporciona reflexões sobre os valores, hábitos e comportamentos do leitor. Mas você deve estar se perguntando: É possível quebrar este ciclo vicioso e retomar o controle da minha vida? Sim, querido leitor! Você pode e deve retomar o controle. Por isso te convido a ler este livro e ingressar numa jornada de transformação pessoal através do autoconhecimento.

A autora começa o livro abordando o contexto em que a procrastinação se manifesta e destaca que a procrastinação se trata de um fenômeno comum a todas as pessoas, de diferentes idades e culturas e que sua presença pode gerar sofrimento significativo ao indivíduo e por vezes ocasionar consequências negativas nas áreas pessoal e profissional da vida.

É preciso entender que a procrastinação não se trata de uma falta de disciplina ou de caráter. Trata-se de um sintoma que envolve questões mais profundas que precisam ser investigadas e compreendidas, visando uma vida mais produtiva e com sentimento de realização.

Mas por que as pessoas adiam tarefas importantes?

  • Falta de conexão entre a tarefa e o real propósito de vida;
  • A tarefa é assustadora ou desagradável;
  • Não se sabe por onde iniciar a atividade/tarefa;
  • Não se sente no dever de executá-la;
  • Está sem motivação.
  • Existência de crenças disfuncionais, como por exemplo: “eu não tenho tempo pra isso”; “Se eu não tenho vontade de fazer”; “significa que não devo fazer”; “Nada nunca dá certo pra mim”; “Se eu não posso fazer bem-feito, não faço coisa alguma”, etc.

Para ajudar no processo de autoconhecimento, a autora disponibiliza uma escala geral de procrastinação, onde o leitor é convidado a responder as perguntas atribuindo a pontuação sincera a cada pergunta que aborda diferentes aspectos da procrastinação como dificuldade em tomar decisões, falta de organização, sentimento de culpa após evitar a realização das tarefas etc. Essa pontuação servirá para que o leitor faça uma análise sobre seus comportamentos e atitudes e possa usufruir das dicas, para um melhor desempenho nas atividades diárias através do estabelecimento de metas realistas e específicas e sempre exercendo a autocompaixão e a paciência, pois é preciso lembrar que se trata de uma mudança comportamental.

Desta forma, a autora lista algumas possíveis estratégias de enfrentamento e eu vou te falar que até coloquei algumas em prática. Anota aí!

As básicas:

                                                                                                Fonte: freepik.com

1 – Defina objetivos e metas (divida os objetivos em objetivos menores e mais gerenciáveis). Ex: quero viajar para São Paulo em dezembro de 2023. Como posso deixá-lo mais claro, definido, específico, realista e mensurável para mim? Como mensurar que estou fazendo o que preciso fazer para alcançar este objetivo no prazo desejado? Ao dividir o objetivo em metas menores, você prova a si mesmo que a tarefa não impossível ou insuperável e a mente obtém clareza diante dos desafios.

2 – Gerencie melhor o seu tempo e identifique a quantidade necessária de tempo para a realização das tarefas, bem como elimine as distrações, pois o seu cérebro irá em busca de recompensas rápidas e tentará te distrair com outras atividades mais prazerosas.

3 – Estabeleça uma rotina diária e semanal que facilite a realização e cumprimento das atividades e inclua períodos de descanso, prazer e autocuidado.

Com estas dicas básicas, você leitor, dará os primeiros passos e conseguirá se planejar, priorizar tarefas, estabelecer metas realistas e criar um ambiente propício ao desenvolvimento das tarefas e aumentar sua produtividade, alcançando seus objetivos de maneira mais eficiente e satisfatória.

Bom, mas esta parte mencionada anteriormente foi só o básico. É preciso sair do mundo das ideias, do planejamento e partir para a ação. A autora chama isso de “a arte de fazer” e oferece uma “sequência de passos”. Muitos pacientes falam que planejam muito, escrevem seus objetivos, mas se frustram ao lê-los tempos depois, devido ao fato de tudo ter sido apenas planejado. Para você sair do mundo das ideias e colocar o planejado em prática, seguem algumas sugestões:

 Dicas Práticas – Hora da ação!

                                                                                     Fonte: freepik.com

 1 – Mantenha o foco e a disciplina. Crie rotinas e hábitos que promovam a autodisciplina. Foque na sensação que sentirá ao finalizar as tarefas que você estabeleceu para o dia.

2 – Lembre dos seus valores pessoais, dos seus sonhos e una a isso seus objetivos e tarefas a cumprir. Sempre lembrando de manter o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal.

3 – Agrupe tarefas – Agrupe tarefas semelhantes para aumentar a eficiência e reduzir a dispersão mental.

4 – Comece com pequenas mudanças e aumente gradualmente a complexidade das tarefas e projetos à medida que ganhar confiança e habilidades.

5 – Mantenha um registro do progresso e ajuste o plano conforme necessário para garantir que os objetivos sejam alcançados.

6 – Aprenda a dizer NÃO! Isso mesmo. Muitas pessoas dizem sim para tudo e todos e por isso ficam sem tempo para fazer aquilo que precisam fazer.

7 – Aceite as falhas e aprenda com os erros. Eles ensinam muito.

A autora também lista técnicas para quem tem dificuldade em iniciar as atividades. São elas:

                                                                                                                         Fonte: freepik.com

1 – Técnica Pomodoro – Divida o tempo de trabalho ou estudo em períodos de 25 minutos, seguidos por uma pausa de 5 minutos. Seja sistemático. Ao se manter firme nestes períodos ou concluir tarefas em pequenos períodos, você leitor experimentará um senso de realização e progresso, o que reforça sua autodisciplina e fornecerá a motivação para continuar.

2 – 3,2,1 agora! – Essa técnica foi desenvolvida pelo psicólogo Thomas Phelan e ajuda as pessoas a sair da inércia. Veja o exemplo: Missão: escrever uma monografia – Meta: metade de um capítulo por dia – Momento: ao chegar em casa – Decisão: iniciar agora – Início: 3,2,1, agora!

Uma vez que a tarefa foi iniciada ela ocorrerá com maior probabilidade e você evita que a inércia domine corpo e mente. Conforme a autora, cientificamente falando, quando se decide em cerca de 3 a 5 segundos, realizar algo no exato momento, com o cuidado de permanecer na atividade por pelo menos 5 minutos, rompe-se o ciclo da procrastinação construído na mente. Você prova ao seu córtex pré-frontal que pode enfrentar o estresse de forma positiva. O segredo é repetir este mesmo comportamento várias vezes até que se construa um novo padrão mental de resposta aos estímulos estressantes.

3 – Questione-se – Por que estou com dificuldades nisso aqui? Por que me sinto tão mal, ao realizar esta atividade? Por que não consegui fazer os pontos necessários? Quando tudo isso começou? A autora nos lembra que questionar- se é terapêutico.

4 – Dispositivo pré-compromisso – Confesso a você leitor que essa técnica eu achei infalível (risos). Sabemos que as recompensas e punições podem ser eficazes na construção de um bom comportamento, por isso, dê a um familiar ou amigo uma quantia significativa, ex: 150,00 e caso você comece a tarefa antes de um determinado horário, receberá seu dinheiro de volta. Caso contrário, o perderá.

No livro a autora reforça que os hábitos mais poderosos mudam a forma como nos vemos. Assim, pense nos hábitos que poderiam fazer você se sentir mais capaz em relação a realização de mudanças profundas em sua vida. Alguns exemplos de hábitos desta magnitude são os exercícios físicos e sono regular. E se você tem dificuldades em regular seu sono, pode começar a configurar um despertador para se preparar para dormir. Deixe-o tocar uma hora antes do horário habitual. Quando ele tocar, desligue e pare atividades estimulantes como TV, computador, celular e insira uma música relaxante, a leitura de um livro ou reduza as luzes do quarto.

Fica claro no livro que a procrastinação levou um tempo para se instalar e que mesmo que você meu caro leitor, não tenha percebido, foi necessário um longo período para que ela se estabelecesse como um hábito ou sistema de evitação. Sendo assim, lute! Isso vai lhe ajudar em sua autoestima, pois está comprovado que o procrastinador se dá pouco valor; evita situações desagradáveis, porém extremamente necessárias e importantes que fazem parte da vida e do desenvolvimento pessoal e crescimento profissional. É aquele ditado: Na vida adulta, não se faz apenas o que se quer, mas o que tem que ser feito.

Como diz a autora, é preciso desenvolver a coragem de se encarar, desenvolver a autoconsciência e admitir os erros, aprender com eles e deixar essa consciência motivar e mudar você. Afinal, você e apenas você, é o responsável pela sua qualidade de vida.

Durante o processo seja gentil consigo mesmo, pois trata-se de uma mudança lenta e gradual; uma luta diária onde você substituirá os velhos hábitos por novos padrões de comportamento que transformarão a sua vida. Lembre-se que o progresso deve ser lento e constante, pois as grandes histórias são escritas uma página por vez.

Desejo a você coragem e determinação. Apenas comece!

Referências:

SOARES, Lilian. Procrastinação. Guia científico sobre como parar de procrastinar definitivamente.

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Congruências e limites entre a teologia e a psicologia no cuidado individual e promoção de saúde mental

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O Portal (En)Cena entrevistou o Teólogo e Pastor Thomás Franco Teixeira Dias. Atualmente ele está a frente da Primeira Igreja Batista de Palmas, é Professor na área de Culto Cristão no Seminário Batista e Vice- Presidente da Convenção Batista do Tocantins. Ele é formado em Teologia pela Faculdade Teológica Batista de São Paulo e possui especializações em liderança avançada, gestão de pessoas e comunicação. Nessa entrevista, falamos um pouco sobre as congruências e limites entre a teologia e a psicologia e as possíveis contribuições destas áreas para a saúde da comunidade.

(En)Cena: Como você chegou à sua posição como pastor e quais são suas experiências e formação religiosa?

Thomás F. T. Dias:  Nasci em uma cidade do interior de São Paulo e cresci em um lar cristão. Aos 20 anos de idade me mudei para capital onde fui cursar Bacharelado em Teologia na Faculdade Teológica Batista de São Paulo. Formei-me em 2004, ano em que fui ordenado ao ministério pastoral pela Igreja Batista em Perdizes. Comecei minha atuação como pastor auxiliar nesta mesma igreja onde permaneci até 2007 quando me mudei para Palmas e passei a atuar como pastor auxiliar na Segunda Igreja Batista de Palmas até 2012. Depois disso, fiquei um período longe do ministério para me dedicar a um projeto pessoal, mas não deu certo. O chamado ministerial foi mais forte e retornei ao ministério em 2016 como pastor auxiliar, agora na Primeira Igreja Batista de Palmas, onde hoje sou o pastor presidente. Durante os anos de ministério me especializei em Liderança Avançada, Gestão de Pessoas e Comunicação, pelo Instituto Haggai Brasil.

(En)Cena: Como sua formação religiosa influenciou sua compreensão da psicologia e da saúde mental?

Thomás F. T. Dias: Tive grande influência de um pastor, que foi meu professor na matéria de Aconselhamento Pastoral durante meu curso de Teologia. Professor Silas Molochenco, doutor em psicologia pela PUC-SP, mostrou aos alunos a importância de valorizar e compreender a psicologia como ferramenta fundamental para saúde mental, inclusive mostrando as diferenças entre o aconselhamento pastoral e o profissional da psicologia. Desde então, sempre procurei manter em meu ministério contato com bons profissionais para que eu possa encaminhar pessoas que precisam de uma ajuda profissional.

(En)Cena: Como você vê o papel do aconselhamento religioso na vida das pessoas e nas questões de saúde mental?

Thomás F. T. Dias: Para um pastor batista, a Bíblia é considerada sua única regra de fé e prática, por isso, o papel do aconselhamento religioso é uma forma de ajudar as pessoas que precisam de orientação a aperfeiçoar sua fé e desenvolverem atitudes e pensamentos orientados pelos princípios bíblicos. A maioria das pessoas que procuram um pastor para aconselhamento, geralmente estão sofrendo por algum motivo. Existem outras razões, mas posso dizer que o sofrimento é a grande demanda do aconselhamento pastoral. Minha fé e prática mostram que os ensinamentos bíblicos são muito relevantes para alguém que está sofrendo. Eu poderia usar o luto como um exemplo, ou mesmo uma família que enfrenta dificuldades em seus relacionamentos. Existe inúmeros exemplo de personagens bíblicos que passaram por situações semelhantes e que podem ajudar a exemplificar o que fazer e também, o que não fazer. Para isso, é importante utilizar princípios cuidadosos de interpretação, entendendo o contexto em que uma história bíblica está inserida e fazendo assim um paralelo válido com o presente. Para mim, o aconselhamento religioso não diz respeito a minha opinião sobre um determinado tema e nem à minha capacidade de milagrosamente apresentar uma solução ou cura instantânea, mas sim, respeitando a individualidade de cada um, ajudar as pessoas a enxergar os exemplos bíblicos e por eles guiarem suas atitudes e pensamentos. Quando isso é feito com a seriedade necessária, o resultado positivo é visível.

(En)Cena: Como você percebe a interação entre a psicologia e a religião em questões de saúde mental e bem-estar?

Thomás F. T. Dias: Particularmente, não tenho nenhuma dificuldade com a psicologia, pelo contrário, percebo que quando a psicologia e a religião conseguem caminhar com harmonia, a saúde e o bem-estar das pessoas são amplamente beneficiados; mas não posso ignorar o fato de que em ambos os lados, existem pessoas que não pensam assim, fazendo com que essa interação seja difícil e muitas vezes prejudicial. Nesse mundo globalizado e extremamente polarizado, guerras absolutamente infundadas trazem resultados catastróficos para a saúde mental e bem-estar das pessoas. Historicamente, essa interação sempre apresentou pontos sensíveis, talvez isso seja inevitável, mas para mim, isso nunca foi, e nem deveria ser um problema. Respeito deveria ser o carro chefe, mas infelizmente, o desrespeito tem sido evidenciado e infelizmente valorizado por alguns e de ambos os lados.

(En)Cena: Você já trabalhou com psicólogos ou outros profissionais de saúde mental? Como foi essa colaboração?

Thomás F. T. Dias: Sempre trabalhei. Essa colaboração é muito importante no meu ministério e sempre foi muito tranquila e saudável. Posso dizer apenas que não indico ou trabalho com profissionais que não entendem a religião como uma faceta importante do ser humano. Infelizmente, alguns profissionais de saúde mental, claramente tentam desconstruir e menosprezam o pensamento religioso. Eu, pessoalmente, procurei um profissional há alguns anos, e logo no início da consulta, quando eu disse que era pastor, sua resposta foi: “Vixi, pastor é tudo bipolar”. Na hora, chocado com a sua fala, eu pensei que, ou ele era realmente muito bom para diagnosticar alguém na primeira pergunta, ou era um péssimo profissional. Fiquei com a segunda opção. Infelizmente, reconheço que alguns religiosos também desrespeitam profissionais da saúde mental.

(En)Cena: Quais são os desafios comuns enfrentados pelas pessoas em sua comunidade religiosa em relação à saúde mental e questões psicológicas?

Thomás F. T. Dias: Não sei se os desafios enfrentados pelas pessoas em minha comunidade religiosa são diferentes dos desafios comuns a todos. Hoje, infelizmente o que tem assolado a humanidade é a ansiedade e a depressão. Embora alguns preguem a ideia de que o cristianismo propõe uma vida de facilidades e bênção materiais, não corroboro com essa ideia, aliás, como já disse anteriormente, é preciso interpretar os textos bíblicos com princípios cuidadosos. A bíblia não promete uma vida livre de dificuldades a ninguém. O próprio Jesus disse em suas palavras que “no mundo tereis aflições” e ele continua dizendo em seguida, “mas tende bom ânimo, eu venci o mundo”, esse é o segredo: um olhar realista e esperançoso. O entendimento de que em meio às aflições é possível ressignificar acontecimentos da vida. Muitos cristãos gostam de citar uma passagem bíblica em que o apóstolo Paulo diz, “… em todas essas coisas, somos mais que vencedores” para pregar a ideia de uma vida cheia de vitórias e livre de problemas, mas a questão do texto bíblico é: quais são “todas essas coisas” que o apóstolo Paulo cita? Anteriormente a essa afirmação, ele enumera uma lista de dificuldades e problemas enfrentados diariamente, ou seja, o princípio aprendido com Jesus é o mesmo aplicado por ele, o segredo continua sendo o olhar realista e esperançoso.

(En)Cena: Como você aborda questões delicadas, como depressão, ansiedade e traumas, dentro de um contexto religioso?

Thomás F. T. Dias: Uma coisa importante precisa ser dita, eu não faço diagnóstico de ninguém. A depressão, por exemplo, é um problema que precisa de um diagnóstico clínico. Se eu identifico a possibilidade de um transtorno mental em alguém, o primeiro passo é encaminhar para um profissional. Para as pessoas que procuram o aconselhamento pastoral e que já chegam com um diagnóstico fechado, eu procuro oferecer, como já disse anteriormente, meu conhecimento bíblico para propor atitudes que ajudem as pessoas a superarem suas dificuldades. O princípio é sempre o mesmo, uma correta utilização dos ensinos bíblicos para lidar com todas as questões.

(En)Cena: Que recursos ou redes de apoio estão disponíveis para pessoas da comunidade religiosa que enfrentam desafios de saúde mental?

Thomás F. T. Dias: Oferecer um ombro amigo, um abraço sincero, tempo e atenção para ouvir as pessoas, são recursos abundantes em uma comunidade cristã. Essas atitudes são sempre valorizadas e incentivadas em minha comunidade religiosa. Pode parecer simples, mas talvez seja o que de mais eficiente nós temos em nossa igreja. Esses pequenos gestos são a porta de entrada para se identificar um problema mais sério, que geralmente é encaminhado para o pastor e consequentemente para um profissional na área de saúde mental se for preciso.

(En)Cena: Pode compartilhar histórias de sucesso ou superação que envolve a colaboração entre a religião e a psicologia?

 

Thomás F. T. Dias: Poderia citar inúmeros casos. Na verdade, isso faz parte do meu cotidiano e é algo realmente comum. Já consegui evitar algumas vezes a tentativa de suicídio ao intervir a tempo e encaminhar as pessoas para um tratamento adequado. Recordo-me de outro caso, onde ao atuar com a ajuda de uma profissional, conseguimos identificar um caso de transtorno afetivo bipolar que quase culminou em um desastre familiar. Hoje essa pessoa está muito bem, continua casada, com filhos e desfruta de um ambiente familiar seguro. Esses são exemplos de situações mais graves e que graças a Deus não são tão comuns. Situações mais brandas são corriqueiras e é sempre muito bom poder contar com a ajuda de profissionais capacitados para ajudar as pessoas e principalmente testemunhar o resultado positivo que pode ocorrer quando aliamos a religião à psicologia.

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“Som da Liberdade” – a face violenta e adoecida da sexualidade

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O filme Som da Liberdade é um grito de socorro de todas as crianças escravizadas sexualmente no mundo

“Sound of Freedom” ou “Som da Liberdade” em português, é uma produção independente, na qual o diretor mexicano Alejandro Monteverde lança um alerta ao mundo sobre a exploração e o tráfico sexual infantil através de uma história baseada em fatos reais, vividos pelo ex-agente especial do Governo Americano Tim Ballard interpretado por Jim Caviezel.

O longa-metragem começou a ser escrito em 2015 e filmado em 2018 com produção da 21st Century Fox. Em 2019, a The Walt Disney Company comprou a 21st Century Fox e o filme foi engavetado por 5 anos, até que a pequena Angel Studios, responsável também por produzir a série bíblica de sucesso “The Chosen” (‘Os Escolhidos’) recomprou o filme e adquiriu os direitos da obra cinematográfica para lançá-lo comercialmente.

O filme tem a seguinte sinopse: Tim Ballard (Jim Caviezel) é um agente federal dos Estados Unidos que atua para desmantelar redes de pedofilia na internet e prender os envolvidos. Ao final de uma operação, o policial se encontra frustrado e incomodado com os resultados das operações e decide ingressar em uma missão de vida: abandonar a sua carreira de policial para fundar a sua própria ONG com o objetivo de ir atrás de criminosos responsáveis por formar uma ampla e complexa rede internacional de tráfico infantil na Colômbia. O objetivo de cada operação é encontrar e resgatar o maior número possível de crianças sequestradas.

Devido ao conteúdo forte e por vezes indigesto, é preciso dar os parabéns ao diretor, pois fez um bom trabalho ao não mostrar cenas de sexo, mas dar asas à imaginação do telespectador ao presenciar os rostos indignados e nauseados dos policiais diante do que seriam os abusos causados às crianças. O filme é forte e nos causa uma tensão e indignação diante do que existe quando o assunto é tráfico de crianças para abuso sexual. Durante todo o filme senti meu corpo tensionar os músculos, olhos lacrimejarem e um nó na garganta que durou por muitas horas mesmo depois que o filme terminou.

                                                                                                                                      Fonte: Pixabay

O processo de ajudar sobreviventes de abuso sexual é longo e complicado, mas sempre possível

Psicologicamente falando sabemos que o processo de ajudar sobreviventes do tráfico é longo e complicado, pois os que sobrevivem e são resgatados exalam vulnerabilidade e desesperança. Entre os danos psicológicos causados pelos abusos, independentemente da faixa etária, estão: TEPT – transtorno de estresse pós-traumático, dissociação, medo, ansiedade, rejeição, depressão, redução da qualidade de vida.

Em muitos casos pode surgir o transtorno de despersonalização que ocorre quando um indivíduo tem a percepção sobre si mesmo alterada. Segundo o DSM – Manual Diagnóstico e Estatístico de Distúrbios Mentais, este transtorno caracteriza-se por sensações de irrealidade, apatia, amnésia, impressão de que está separado do corpo, perda do controle, ataques de pânico, depressão, ansiedade, sono, estresse, cansaço e outros. A pessoa pode dizer que se sente irreal ou como se fosse um autômato, sem controle sobre o que faz ou diz. Ela pode se sentir física ou emocionalmente entorpecida. Essas pessoas podem descrever a si mesmas como um observador de sua própria vida ou como um “zumbi”, tamanho o sofrimento e trauma pelo qual passou. O efeito que o abuso sexual tem em suas vítimas vai para além dos danos físicos, afetando, principalmente, a saúde mental delas.

Deb O’Hara-Rusckowski é uma enfermeira de cuidados intensivos que cofundou a organização Global Strategic Operatives for the Eradication of Human Trafficking (Agentes Estratégicos Globais para a Erradicação do Tráfico Humano). Também é Delegada da Ordem de Malta nas Nações Unidas, e está abrindo uma casa segura em Massachusetts para mulheres e meninas que foram vítimas de tráfico. Conforme informações dela em entrevista dada a sites de notícias e com base em pesquisas baseadas em evidências, as meninas e mulheres traficadas, frequentemente precisam de cuidados médicos. Segundo ela, é comum que mulheres cheguem com um osso quebrado devido a uma agressão, ou uma menina apresente uma infecção devido ao trabalho sexual em que estava envolvida. Em muitos outros casos as meninas estão grávidas e necessitam de acolhimento e apoio para esta fase. Com relação aos meninos abusados, ela enfatiza que também são necessárias casas seguras para eles, pois “sentem uma vergonha particular, e precisam de cura depois de escapar ou serem resgatados”.

Um alerta assustador de ‘Sound of Freedom’ é mostrar que o abusador pode ser qualquer pessoa, por vezes, as mais improváveis. Pessoas “comuns” podem se envolver nisso e começar a agir como um viciado que não consegue parar, e que escravizado pelo vício não mede esforços e nem pensa se está machucando ou promovendo o terror físico e psicológico de crianças.

                                                                                                                                                Fonte: Pixabay

A cada 24 horas, 320 crianças e adolescentes são explorados sexualmente no Brasil

Segundo a Organização Mundial da Saúde, dos 204 milhões de crianças com menos de 18 anos, 9,6% sofrem exploração sexual, 22,9% são vítimas de abuso físico e 29,1% têm danos emocionais. Os dados mostram que, a cada 24 horas, 320 crianças e adolescentes são explorados sexualmente no Brasil, no entanto, esse número pode ser ainda maior, já que apenas 7 em cada 100 casos são denunciados. O estudo ainda esclarece que 75% das vítimas são meninas e, em sua maioria, negras.

No Brasil sabemos que conforme dados do Ministério dos direitos humanos e cidadania, o Disque 100 (Disque Direitos Humanos) registrou mais de 17 mil violações sexuais contra crianças e adolescentes de janeiro a abril deste ano. Nos quatro primeiros meses de 2023 foram registradas, ao todo, 69,3 mil denúncias e 397 mil violações de direitos humanos de crianças e adolescentes, das quais 9,5 mil denúncias e 17,5 mil violações envolvem violências sexuais físicas como abuso, estupro e exploração sexual e psíquicas. E aqui entra a parte da realidade mais difícil de encarar, pois segundo os dados do Ministério: “A casa da vítima, do suspeito ou de familiares está entre os piores cenários, com quase 14 mil violações”. Vale lembrar que não estamos falando de números e sim de crianças.

Os fatores que contribuem para esta prática de exploração sexual são muitos e faz-se necessário romper o silêncio e dar voz às vítimas e àqueles que nesta causa se empenham para que haja mais discussão e informação a respeito do assunto nos mais diversos âmbitos.

Uma das partes emocionantes do filme, fala de um personagem que ao finalizar o ato sexual viu que abusava de uma menina muito mais jovem que ele e fala da tristeza que viu nos olhos dela e de como percebeu que ele era a causa da sua dor. O agressor só queria se divertir, não estava pensando na outra pessoa, ou que aquela outra pessoa poderia ser uma criança que havia sido vítima de tráfico sexual desde os seis anos de idade. Após ter esse entendimento, ele colabora para libertar crianças do tráfico. Aqui cabe uma reflexão de que o abusador necessita de ajuda e tratamento. Os transtornos parafílicos podem ser tratados e sempre é possível buscar ajuda. Conforme o DSM – Manual Diagnóstico e Estatístico de Distúrbios Mentais, os transtornos parafílicos são fantasias, impulsos ou comportamentos recorrentes, intensos e excitantes sexualmente que causam sofrimento ou incapacitação e que envolvem objetos inanimados, crianças ou outros adultos não consentidores, causando o sofrimento ou humilhação de si mesmo ou do parceiro com potencial para causar dano.

Por fim, vale dizer que o filme causou muita controvérsia e uma polarização entre direitistas e esquerdistas, conservadores e progressistas e sobre a qual optei por não abordar, tendo em vista que “Sound of Freedom” é uma oportunidade de falar sobre o que está acontecendo no mundo e que o tráfico sexual de crianças não se trata de uma teoria conspiratória, é algo real, latente e atinge a todos independente de classe social, partido político ou cor da pele. Crianças estão sendo sequestradas, escravizadas e sexualizadas e os danos psicológicos e consequências em suas vidas incluem graves danos.

Certo é que não devemos ignorar este alerta. Em dada parte do filme o protagonista diz a um potencial apoiador financeiro da ação policial: “Você se importaria se fosse o seu filho? Se não dermos atenção, poderá acontecer com você, com um filho seu.” E é verdade! Sei que não conseguiremos acabar com o tráfico sexual de crianças e nem conseguiremos bons resultados sozinhos, mas sei que ao nos unir e ampliar o olhar político e social, bem como os cuidados de saúde pública para esses transtornos podemos independentemente de partido, política, religião ou qualquer outra coisa, recuperar pessoas e ressignificar vidas. Quem sabe até devolver os sonhos de outrora. Lutemos para que o som da liberdade chegue aos cativos e por pessoas que visem proteger as crianças e sua inocência.

                                                                                                    Fonte: Ministério dos Direitos Humanos

                  Denuncie pelo Disque 100, pelo app Direitos Humanos ou ligue 180.

No nosso dia a dia, o filme nos leva a lembrar que a denúncia é a melhor forma de prevenir a violência sexual contra crianças e adolescentes. Havendo qualquer suspeita ou confirmação de algum caso, denuncie pelo Disque 100, pelo app Direitos Humanos ou ligue 180. A denúncia é anônima!

Referências:

COMBATE AO ABUSO E EXPLORAÇÃO SEXUAL INFANTIL: O que nós podemos fazer?. Unicef. Org, 2023. Disponível em:  https://www.unicef.org/brazil/blog/combate-ao-abuso-e-a-exploracao-sexual-infantil. Acesso em 11 de outubro de 2023.

DISQUE 100 REGISTRA MAIS DE 17,5 MIL VIOLAÇÕES SEXUAIS CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NOS QUATRO PRIMEIROS MESES DE 2023. Gov.br, 2023. Disponível em: <https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/noticias/2023/maio/disque-100-registra-mais-de-17-5-mil-violacoes-sexuais-contra-criancas-e-adolescentes-nos-quatro-primeiros-meses-de-2023 >. Acesso em 11 de outubro de 2023.

 

MANUAL MSD. Versão saúde para profissionais da saúde, 2023. Disponível em: https://www.google.com/search?q=trsnatorno+parafilico+dsm&oq=trsnatorno+parafilico+dsm&gs_lcrp=EgZjaHJvbWUyBggAEEUYOTIICAEQABgWGB7SAQkxMzY3MmowajeoAgCwAgA&sourceid=chrome&ie=UTF-8. Acesso em 11 de outubro de 2023.

MANUAL MSD. Versão saúde para a família, 2023. Disponível em: https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/dist%C3%BArbios-de-sa%C3%BAde-mental/transtornos-dissociativos/transtorno-de-despersonaliza%C3%A7%C3%A3o-desrealiza%C3%A7%C3%A3o#:~:text=A%20pessoa%20tamb%C3%A9m%20pode%20dizer,ou%20como%20um%20%E2%80%9Czumbi%E2%80%9D. Acesso em 11 de outubro de 2023.

O TRÁFICO SEXUAL DE CRIANÇAS NÃO É UMA CONSPIRAÇÃO DA EXTREMA DIREITA. Gazeta do povo, 2023. Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/cultura/o-trafico-sexual-de-criancas-nao-e-uma-conspiracao-da-extrema-direita/?ref=veja-tambem. Acesso em 11 de outubro de 2023.

RESENHA DO FILME SOM DA LIBERDADE (2023) COM JIM CAVIEZEL. Leia e assista, 2023. Disponível em:  https://www.leiaeassista.com.br/resenha-do-filme-som-da-liberdade-2023-com-jim-caviezel/. Acesso em 11 de outubro de 2023.

SAÚDE MENTAL: OS IMPACTOS DO ABUSO SEXUAL NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA. Childhood.org.br, 2023. Disponível em: https://www.childhood.org.br/saude-mental-os-impactos-do-abuso-sexual-na-infancia-eadolescencia/#:~:text=Ansiedade%2C%20depress%C3%A3o%2C%20s%C3%ADndrome%20do%20p%C3%A2nico,em%20adolescentes%20v%C3%ADtimas%20de%20abuso. Acesso em 11 de outubro de 2023.

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Desafios adicionais na gravidez de mulheres autistas e implicações relacionadas à saúde mental

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A gravidez é para todas as mulheres um período de grandes mudanças emocionais e físicas. No entanto, para algumas mulheres este período pode ser bem mais desafiador devido a algum transtorno mental ou do desenvolvimento.

O TEA – Transtorno do Espectro Autista, é um transtorno do neurodesenvolvimento complexo e multifatorial, e suas causas ainda não são completamente compreendidas. Conforme a CID-11, o Transtorno é caracterizado por prejuízo na interação social, comunicação e comportamento, interesses e atividades restritos, repetitivos e estereotipados.

Estudos apontam que no mundo, 1 a cada 100 crianças tem autismo. Também mencionam que há uma proporção maior de casos entre meninos: 1 menina a cada 4 meninos. Nas mulheres, o transtorno tende a ser subdiagnosticados visto que os sintomas nelas são diferentes e, passam despercebidos pois na puberdade elas passam a praticar o “Masking”, que se trata de um comportamento de camuflagem dos sintomas, visando esconder suas dificuldades. Assim, a maior parte das mulheres costuma receber o diagnóstico de TEA quando adulta e durante ou após a maternidade.

                                                                                                                                             Fonte: Pixabay

A maior parte das mulheres costuma receber o diagnóstico de TEA quando adulta e durante ou após a maternidade

Mulheres que estão no espectro do transtorno podem apresentar muitos complicadores no período da gravidez devido a apresentarem características como:

  • Maior sensibilidade sensorial – São muito mais sensíveis a estímulos como som, cheiros, texturas, luz. As idas ao laboratório e ao médico tornam-se um grande problema, pois muitas são extremamente sensíveis ao toque e desta forma coisas como o tão sonhado momento de ultrassom para acompanhar o desenvolvimento do bebê ou as desejadas mexidas do bebê na barriga podem se tornar um pesadelo.
  • Problemas em relação a mudança de rotina – Normalmente os autistas necessitam de previsibilidade no seu dia a dia e as idas constantes ao médico e laboratório, bem como os ajustes nas atividades diárias podem se tornar um incômodo;
  • Incômodo com a interação social e a comunicação excessiva – Grávidas autistas podem ter dificuldades com a interação com profissionais de saúde o que gera por vezes ansiedade e pode necessitar de informações concisas e de um profissional mais atento e sensível às suas necessidades;
  • Níveis altos de ansiedade e estresse – Devido ao excesso de preocupações sobre o parto, os cuidados consigo e com a criança, as mudanças na rotina ou a falta dela nos primeiros meses;
  • Mudanças corporais – Podem apresentar dificuldade em aceitar e entender as mudanças que ocorrem no corpo e ter sua autoestima e autoimagem afetadas.

Além destas questões citadas acima, ainda há a presença de outros fatores de risco como: anormalidades estruturais cerebrais com diferentes causas e disfunção fisiológica e bioquímica; Epilepsia e TDAH – Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade, Depressão, Transtornos Afetivos Bipolar, Ansiedade e transtornos somáticos.    

                                                                                                                          

                                                                                                                    Fonte: Pixabay

O uso de drogas psicotrópicas e antiepilépticas durante a gravidez está associado a desfechos adversos

Um agravante em relação às grávidas que estão no espectro é que frequentemente são tratadas com drogas psicotrópicas e antiepilépticas e o uso destes medicamentos durante a gravidez está associado a desfechos adversos, como parto prematuro e cesáreo, aumento do risco de pré-eclâmpsia, peso anormal do bebê no nascimento e má adaptação neonatal.

Precisamos lembrar que cada mulher autista é única e que o TEA se manifesta de maneiras diferentes em cada uma delas.  Sendo assim, o desenvolvimento e experiências que envolvem a gravidez sofrerão influências individuais. O importante é que em sua individualidade, cada gestante obtenha atenção e apoio, bem como acesso a tratamento da saúde física e emocional garantindo o seu bem-estar e do bebê. Vale ressaltar que é de suma importância que sejam acompanhadas por profissionais de saúde que estejam atentos às necessidades específicas e que possam ajudar a promover uma gravidez mais positiva e tranquila, bem como avaliar o custo-benefício e adequação do uso de medicações psiquiátricas durante a gestação.

                                                                                                                                               Fonte: Pixabay

O Pré-natal psicológico é uma ferramenta extremamente necessária, pois auxilia a grávida a lidar com as mudanças e desafios da gestação

O Pré-natal psicológico torna-se uma ferramenta extremamente necessária, pois auxilia a grávida a lidar com as mudanças e desafios da gestação e a entender suas particularidades como alguém que está no espectro. Ele atua de forma preventiva e visa a promoção da saúde mental materna durante toda a gestação, no pós-parto ou puerpério. Pode ser realizado de forma individual ou em encontros grupais conduzidos por um psicólogo, podendo contar com uma equipe interdisciplinar. Tem caráter psicoeducativo e psicoterapêutico e visa desenvolver juntamente a gestante recursos e estratégias para lidar com suas emoções, comportamentos e dificuldades em relação ao medo, a ansiedade, as questões sensoriais e sua comunicação, dentre outras demandas.

No Brasil, temos o projeto de lei nº 2603/2022 que institui o programa de acompanhamento pré-natal e pós-parto no caso de gestante com transtorno do espectro autista – TEA em âmbito Federal. No projeto de lei, em seu artigo 2º diz que toda gestante no transtorno do espectro autista será considerada de alto risco e será atendida pela Atenção Secundária, com vistas a reduzir a taxa de mortalidade materna e infantil facilitando o diagnóstico e acompanhamento.

Sabemos que durante o período gestacional a mulher necessita de apoio e compreensão. No caso das autistas e devido as particularidades de seu transtorno vemos que este apoio e compreensão são redobrados.

 Pesquisadores tem contribuído através de seus estudos para que haja cada vez mais a adoção de políticas e práticas de saúde e assistência social, visando um maior acesso à informação e recursos que possam ajudar as mulheres grávidas que estão no espectro a vencer suas dificuldades nesta fase de suas vidas.

 

Referências:

CÂMARA DOS DEPUTADOS. Camara.leg, 2022. Disponível em: https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2335612. Acesso em 23 de outubro de 2023.

MULHERES AUTISTAS: GRAVIDEZ E PARTO. Instituto Inclusão Brasil, 2022. Disponível em: https://institutoinclusaobrasil.com.br/mulheres-autistas-gravidez-e-parto/#:~:text=As%20dificuldades%20com%20sensibilidade%20aumentada,indu%C3%A7%C3%A3o%20do%20trabalho%20de%20parto. Acesso em 23 de outubro de 2023.

MULHERES AUTISTAS: ELAS EXISTEM E PRECISAM DE ATENÇÃO. Instituto Singular. Org, 2023. Disponível em: https://institutosingular.org/mulheres-autistas/. Acesso em 23 de outubro de 2023.

MULHERES COM AUTISMO ESTÃO MAIS SUJEITAS A DESENVOLVER ANSIEDADE E DEPRESSÃO NA GRAVIDEZ, Academia médica.com, 2022. Disponível em: https://academiamedica.com.br/blog/mulheres-com-autismo-estao-mais-sujeitas-a-desenvolver-ansiedade-e-depressao-na-gravidez. Acesso em 23 de outubro de 2023.

GRÁVIDA E COM TEA: ATERRORIZADA COM A SENSAÇÃO DE TER ALGUÉM DENTRO DE MIM. Uol. Com, 2023. Disponível em: https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2023/02/24/gravida-e-com-tea-aterrorizada-com-sensacao-de-ter-alguem-dentro-de-mim.htm?cmpid=copiaecola. Acesso em 23 de outubro de 2023.

SAÚDE DA MULHER AUTISTA. Canal autismo, 2022. Disponível em: https://www.canalautismo.com.br/artigos/saude-da-mulher-autista/. Acesso em 23 de outubro de 2023.

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