14 Dias: Relato de experiência de isolamento devido testagem positiva para COVID-19

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Olá, sou Jéssica Gontijo Nunes, tenho 26 anos e estou no último período de psicologia no CEULP/ULBRA. Vim relatar minha experiência com o COVID-19. Desde que a pandemia começou a ser noticiada, em abril de 2020, eu e minha família (mãe e irmão) tentamos manter os devidos cuidados para não nos contaminarmos.

No dia primeiro de abril, minha mãe começou a apresentar espirros, mas como ela tem alergia não suspeitamos de nada. No final do dia seguinte, senti uma leve dor de cabeça, mas como estava estudando muitas horas seguidas na frente do notebook não achei que poderia ser algo a mais, até mesmo porque essas dores de cabeça, costumo sentir devido ficar muitas horas estudando e lendo. Porém, meu irmão também começou a apresentar dores musculares e no dia seguinte (segundo dia, a contar a cada 24 horas após o início dos sintomas) começou a ter febre.

No domingo, e terceiro dia de sintomas da minha mãe e meu segundo dia de sintomas, assim como, do meu irmão, decidimos procurar uma unidade de saúde. Fomos medicados e orientados por um médico sobre os devidos cuidados e tratamento, o exame de SWAB-nasal foi agendado para o dia seguinte. Foi informado que demoraria em torno de cinco dias para recebermos os resultados dos exames, mas devido minha mãe pertencer ao grupo de risco, pois é cardíaca, hipertensa e idosa, ela procurou fazer o teste rápido na farmácia no dia posterior (quarto dia de sintoma).

No teste rápido da minha mãe foi diagnosticado positivo para COVID-19. Nesse dia ela teve muitos sintomas, dor de cabeça, cansaço, pressão baixa, temperatura corpórea baixa. Estive o tempo todo cuidando dela, pois meus sintomas eram bem leves e eu estava muito preocupada com a sua saúde. Decidimos então, passar por uma avaliação médica particular, uma médica amiga da nossa família. Ela foi muito atenciosa e considerou todas as queixas e dúvidas que tivemos em relação ao estado de saúde da minha mãe e suas comorbidades. Explicou como a doença tem se manifestado em pessoas com comodidades e quais cuidados precisam ser redobrados de acordo com as patologias.

Fonte: encurtador.com.br/fpDP4

Seguimos ao longo dos quatorze dias sendo medicados e recebendo o apoio de todos os amigos e familiares. Para muitos a chegada dos últimos dias de isolamento é esperada com alegria por vencer a doença, mas para mim foi cercada de muito medo e insegurança. A médica disse que os cuidados ao longo de todo o tratamento eram primordiais, pois algumas medicações precisavam ser tomadas por mais de duas semanas. Ela explicou que alguns pacientes com comorbidades ao longo dos quatorze dias apresentaram piora nos seus quadros clínicos devido a indisciplina no tratamento. Então, no décimo terceiro e décimo quarto dia fiquei bastante atenta a todos os sinais e comportamentos da minha mãe, para que eu tivesse certeza da real melhora dela. E assim, recebemos alta depois do período de isolamento.

Durante e após o período de isolamento, apresentei alguns sintomas neurológicos como falta de concentração, falta de memória, dificuldade em concluir frases verbalizadas, raciocínio lento. Provavelmente, esses sintomas foram intensificados devido às alterações emocionais durante esses dias. Solicitei afastamento por duas semanas das atividades da faculdade e dos grupos de estudos que participava, preferi me ausentar de esforços cognitivos nesse período para que eu pudesse me recuperar mais rápido. Afinal de contas, já estou no último semestre de faculdade, e sou responsável pela avaliação e tratamento psicológicos de pacientes na clínica-escola (com apoio e respaldo técnico de supervisores). Além de estar em processo de finalização do meu trabalho de conclusão de curso. Ao longo dos dias esses sintomas foram desaparecendo quase que por completo.

O apoio familiar e de amigos foi muito importante para manter o equilíbrio emocional e a saúde mental. Diariamente eles me mandavam mensagem para saber da nossa evolução e diziam palavras de carinho e esperança. Com alguns deles, troquei experiências de como foram os quatorze dias de sintomas e sobre situações que poderíamos passar. Isso foi, sem dúvidas, a parte que mais me fortaleceu, entender o que outras pessoas passaram e conseguir controlar o medo de que algo mais grave pudesse acontecer a qualquer instante.

Fonte: encurtador.com.br/xFGQ1

E por falar em medo, como foi assustador estar realmente inserida nessa experiência. A notícia do teste testar positivo foi um dos momentos mais assustadores da minha vida, sentir que você não tem controle sobre essa doença, não saber ao certo como ela reagirá no seu corpo, o que iria sentir, foram pensamentos constantes na minha mente. E ainda, outras pessoas da sua família também testarem positivo e esses mesmos medos se projetarem a eles, foi bem difícil de lidar. Foi um desafio psicológico dia após dia, para que não tivesse nenhum descontrole emocional, fora os sintomas físicos característicos da doença.

Passar por essa experiência de pandemia e estar contaminada, me fez repensar muito sobre os comportamentos humanos e como o ser humano leva a vida. Saber que o mundo está adoecido, muitas pessoas morrendo, famílias sendo devastadas pelo luto de um familiar, pessoas perdendo seus empregos, hospitais lotados e sem vaga de UTI, me fez refletir a respeito do quanto ainda precisamos compreender sobre responsabilidade social. Não dá para continuar sendo a mesma Jéssica de um ano e meio atrás. Não dá para ser indiferente a dor do outro em meio a tanto sofrimento. Empatia foi um dos grandes aprendizados que tive ao longo desses quase dois anos de pandemia.

Mesmo com tanta angústia e sofrimento, também percebi que ainda tem muita gente bacana e solidária nesse mundo. Vi muitas ações sociais sendo realizadas, muitos profissionais realizando assistências gratuitas às vítimas diretas e indiretas do COVID. Pude repensar à minha maneira de me relacionar, e principalmente, a demonstração de afeto com pessoas próximas. O isolamento social proporcionou que, por meio de palavras, vídeo chamadas e ligações, a distância física já não fosse tão distante assim. Perceber que evoluir também é repensar como você pensa, age e interage foi essencial para que eu entendesse os efeitos da pandemia na minha vida.

Além das mudanças pessoais, pude entender melhor a experiência de empatia com as outras pessoas no meio de tanto caos. Sei que serei uma psicóloga ainda mais dedicada a minha profissão e aos meus pacientes. Pois, o mundo precisa entender que a dor da perda, em qualquer área, causa muito sofrimento, e esse sentimento precisa ser respeitado. E eu, enquanto profissional de saúde mental desenvolvi ainda mais habilidades de compreensão e dedicação a técnicas científicas para melhoria da qualidade de vida dos meus pacientes.

Fonte: encurtador.com.br/IKTZ9
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O que o filme “Se enlouquecer, não se apaixone” nos ensina sobre a luta antimanicomial?

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O filme ‘Se enlouquecer, não se apaixone’ conta a história de Craig, um garoto de 16 anos que sofre com as difíceis decisões e situações da adolescência. Ao perceber que é um paciente com ideação suicida, decide se internar na ala psiquiátrica de um hospital, lá que se aproxima de Bobby um novo amigo que ajudará a compreender suas angustias e a conquistar Noelle que também está internada.

Essa trama leva a refletir que muitos conflitos internos, quando não resolvidos ou minimizados, podem prejudicar a saúde mental e reduzir a qualidade de vida não só de adolescente, mas em qualquer pessoa que não encontre recursos para elaborar suas demandas subjetivas. Apesar de tratar sobre o assunto de doenças mentais e internações psiquiátricas, o filme mostra que mesmo com diversos diagnósticos encontrados, ainda sim existe identidade, perspectivas de sonhos e desejos a serem conquistados.

A partir dos principais sintomas de cada colega do hospital, o adolescente passa a refletir e questionar, juntamente com a psiquiatra responsável pelos pacientes, quais recursos poderiam ser utilizados para resolver ou compreender os problemas de cada um deles. Então, o garoto também passa a analisar a real importância e influência das coisas que antes o perturbavam.

Entende-se que isso foi resultado de uma pressão e angústia intensificadas pelas decisões que precisavam ser tomadas em relação a sua vida, seus estudos, seus amigos e a sua paixão. Ao longo dos atendimentos com a psiquiatra, percebe quais eram seus verdadeiros sonhos, e a partir dessas identificações é que passa a planejar como alcançá-las. O principal ensinamento que o filme deixa é a sensibilidade e respeito com que são tratados o sofrimento e cada sintoma dos pacientes.

Fonte: encurtador.com.br/DRW25

Mas afinal, o que realmente o filme vem nos mostrar nos tempos atuais?

Foi por volta de 1970 que o Brasil começou a perceber mudanças no cenário psiquiátrico, assim como um novo olhar para as pessoas em sofrimento mental. Foram diversas modificações ao longo do tempo que atingia a toda sociedade (PORTELA, 2005). O autor ainda cita que:

Compreendida como um conjunto de transformações de práticas, saberes, valores culturais e sociais, é no cotidiano da vida das instituições, dos serviços de saúde e saúde mental e das relações interpessoais que o processo da Reforma Psiquiátrica avança, marcado por impasses, tensões, conflitos e desafios (POPRTELA, 2005, p. 5).

Denunciava além do preconceito e da cristalização dos corpos das pessoas com transtornos mentais, mas também aos maus tratos, muitas vezes, sofridos durante a internação, que eram medidas comumente tomadas naquela época, aos valores limitantes e anuladores aos pacientes psiquiátricos, entre outros. Esse movimento no Brasil teve grande inspiração aos acontecimentos vindos da Itália, que enfrentava um episódio que passou por uma revolução antimanicomial. E a primeira vitória brasileira foi por meio do II Congresso Nacional do Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM) quando houve a criação do CAPS em São Paulo em 1987 (PORTELA, 2005).

Fonte: encurtador.com.br/zBJ12

Atualmente, sob fortes influências da Reforma Psiquiátrica, a partir da criação de Centro de Atenção Psicossocial, CAPS, apoio aos familiares e cuidados dos pacientes, foi possível recuperar de forma mais harmônica a identidade e qualidade de vida dos usuários dos serviços de saúde mental oferecidos de forma privada e pública (PORTELA, 2005).

Conquistar espaço para valorização à saúde mental nem sempre foi prioridade para sociedade. E para tratar da de saúde mental, não basta apenas uma área do conhecimento, pois abrange a psiquiatria, psicologia, enfermagem, assistência social, técnico em enfermagem, entre outros profissionais, além da colaboração dos amigos e familiares, bem como o meio social em que o paciente vive. Pois um transtorno psiquiátrico vai além de um diagnóstico, é preciso compreender que em primeiro lugar existe uma pessoa com sua personalidade, seus valores, desejos e sentimentos, que posteriormente, possui psicopatologia (AMARANTO, 2007).

A partir das conquistas ao longo do tempo, que foi e continua sendo permitido a modificação dos padrões de comportamento, julgamento e percepção sobre o saber psiquiátrico. Assim como no filme demonstra claramente que para além de uma doença, existe uma potência de conquistas e mudanças a serem alcançadas. Para que essa luta continue sendo conquistada a cada dia, é fundamental a participação de todos, para que em conjunto com políticas públicas e serviços oferecidos possam alcançar ainda mais visibilidade a causa.

Fonte: encurtador.com.br/EQRT3

FICHA TÉCNICA DO FILME

Direção: Ryan Fleck, Anna Boden

Roteiro: Ryan Fleck, Anna Boden

Elenco: Keir Gilchrist, Zach Galifianakis, Emma Roberts

Título original: It’s Kind of a Funny Story

REFERÊNCIAS

AMARANTO, Paulo. Saúde Mental e Atenção Psicossocial. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2007.

PORTELA, Pietro Navarro. A Reforma Psiquiátrica no Brasil sua história e impactos na saúde brasileira. Centro Educacional Novas abordagens terapêuticas. 2005.

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Automutilação: a dor das cicatrizes

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A automutilação também conhecida por lesão auto infligida, lesão autoprovocada e autolesão pode ser caracterizada através de práticas intencionais de lesões no próprio corpo sem considerar o suicídio. Este comportamento se desenvolve por fatores ambientais, culturais, psicológicos e fisiológicos, identificados, na maior parte, entre adolescentes e jovens (WALSH, 2012, apud QUESADA, 2020a).

Culturalmente, a automutilação é pouco discutida entre as pessoas devido a facilidade em esconder as cicatrizes e machucados provocados, e por ser constrangedor para a vítima. Assim, foi recém estudado no campo científico, sendo definida nos anos 60 como a “Síndrome do cortador de punhos”. Assim, quem a pratica busca o alívio das suas angústias e dores, e quando este comportamento não resulta nos efeitos de alívio desejados, sua frequência tende a aumentar para que a solução seja alcançada (QUESADA, 2020a).

Algumas situações podem contribuir para o desenvolvimento da prática de automutilação como abuso sexual, emocional e físico, traumas na infância, bullying, uso e abuso de álcool e outras drogas, transtornos psicológicos, transtornos alimentares, entre outros (QUESADA, 2020a).

As lesões autoprovocadas podem ser classificadas de acordo com a gravidade dos ferimentos. São elas: categoria leve, definidas como práticas de pouca frequência e lesões leves; categoria moderada, são ferimentos com maior intensidade e frequência, e por vezes, surge necessidade de intervenção médica. Já na categoria grave, há ferimentos de alta intensidade que podem ocasionar sequelas nas vítimas (QUESADA, 2020c).

Esta ação nem sempre é fácil de ser percebida devido às regiões das lesões estarem escondidas. Porém, alterações em certos comportamentos podem ser indícios dessa prática, como baixa autoestima ou julgamento de si próprio, desmotivação para atividades que anteriormente eram executadas, alteração de apetite, vítimas de bullying, baixa interação entre familiares e amigos (QUESADA, 2020a).

Fonte: encurtador.com.br/kJKR9

A colaboração dos familiares e da sociedade

Receber e respeitar a notícia de automutilação são princípios fundamentais e diferenciais para que a vítima possa se sentir acolhida e protegida diante de tal sofrimento. Assim como, considerar que o indivíduo que realiza a automutilação a prática pela falta de habilidades no controle emocional dos sofrimentos e resolução de problemas, e por isso, encontra nessa prática alívio de seu sofrimento. A todas as pessoas que convivem e conhecem pessoas que fazem a automutilação, é de extrema importância que possam ter compreensão e saibam conversar sobre o assunto com as vítimas, a fim de planejarem estratégias de tratamento (QUESADA, 2020a).

O meio familiar é o primeiro e principal ambiente que a pessoa é inserida no contexto de relacionamento, contribuindo para a construção e formação de seus princípios e valores de vida. É a partir desses vínculos que também se forma estratégias e habilidades de controle emocional diante de sofrimentos e estressores, e consequentemente, diminui-se as chances do adoecimento psíquico. Entretanto, a família também pode ser considerada um fator de adoecimento, quando esta não contribui para a qualidade de vida e bem-estar do familiar (QUESADA, 2020b).

A rede de apoio e assistência é fundamental para que a vítima tenha segurança e consciência de que existem maneiras mais adaptativas de seus problemas. Podem ser classificadas como profissionais de saúde, familiares, amigos, instituições religiosas, instituições de ensino, colegas de trabalho etc (QUESADA, 2020a).

Os profissionais de saúde envolvidos no tratamento de pacientes que se automutilam, devem levantar algumas informações para identificar as características das práticas de lesões autoprovocadas. Tais como, a frequência e intensidade dos machucados, circunstâncias que motivaram, formas e objetos utilizados, planejamentos e execuções, existência de intenção e ideação suicida. Compreender essas características auxilia na agilidade do planejamento e da execução do tratamento das vítimas. Pois quem mantém a prática autolesiva, muitas vezes, sentirá constrangimento e receio de que outras pessoas possam descobrir (QUESADA, 2020a).

Diversas instituições são consideradas determinantes para a colaboração da prevenção e cuidado ou como potencializadora dos atos de autoagressões. As relações interpessoais influenciam no controle emocional das pessoas que se automutilam, por isso é recomendado cultivar bons relacionamentos e convivência cordial para com as pessoas inseridas nesses contextos. Outro ponto a ser pensando é o papel da sociedade, contribuindo para a saúde mental coletiva com campanhas educativas como o “Setembro Amarelo” que aborda assuntos como automutilação e suicídio (QUESADA, 2020b).

Deve compreender que o tratamento é multiprofissional, e que quanto antes for iniciado, mais chances de sucesso o paciente terá. Podendo ser interprofissional entre médicos, enfermeiros, psicólogos, pedagogos, entre outros, além da colaboração de familiares e amigos (QUESADA, 2020a).

O ambiente escolar pode ser primordial para a psicoeducação e prevenção das práticas de automutilação entre crianças e adolescentes. É nele que a criança passa boa parte do seu tempo, onde também aprende sobre relações interpessoais, valores morais, regras. Nesse sentido, é que cada vez mais percebe-se a necessidade de uma equipe multiprofissional capacitada no que tange a saúde mental nas escolas, visando a qualidade de vida e o fortalecimento de vínculos saudáveis nesse contexto social. Juntamente com os familiares, a escola tem um papel de colaboração da identificação nas ocorrências de automutilação e na transmissão de informações necessárias nesses casos, principalmente para a elaboração e execução dos planos terapêuticos para o tratamento (QUESADA, 2020b).

Deve-se compreender como parte da sociedade, as redes sociais e serviços midiáticos por terem um alcance maior e mais rápido em relação a outros meios de comunicação. Assim, existem fatores que colaboram com a prevenção das práticas de autoagressão, ideação e tentativas de suicídio e outros que potencializam o acesso a informações distorcidas podendo incentivar a esses atos. Publicar conteúdo na internet que incentive a prática da automutilação é configurado como crime pelo artigo 122 do Código Penal (QUESADA, 2020b).

É entre os 13 e 16 anos a idade de maior frequência das autoagressões, sendo o corte o mais usado na autoagressão, localizados geralmente nas pernas, braços e barriga. Diante disso, é preciso observar os comportamentos e a rotina dos adolescentes, para que então, possam conversar e deixá-los confortáveis diante dessa circunstância (QUESADA, 2020c).

Em 2019 foi criada a Política Nacional de Prevenção da Automutilação e do Suicídio através da Lei nº13.819/19, com o objetivo de promover saúde mental, prevenir a automutilação e conscientizar a população sobre essas práticas, que constituem questão de saúde pública (QUESADA, 2020c). Por se tornar política pública, foram criados alguns serviços para que colaborassem no auxílio e orientações sobre autolesões, ideação, planejamento, tentativa suicida. O Serviço Telefônico Estatal é uma central telefônica de recebimento de ligações sem custos e com sigilo para as pessoas que buscam ajuda (QUESADA, 2020b).

Fonte: encurtador.com.br/gjrxW

 Identificando sinais de alerta e prevenção

Escolas, faculdades e universidades são ambientes onde surgem demandas de acolhimento, orientação e apoio ao adoecimento psíquico, por isso os profissionais que atuam em tais instituições precisam estar preparados e capacitados para lidar com esse fenômeno. A identificação de alguns comportamentos e vínculos afetivos podem orientar a equipe escolar para as medidas cabíveis, como a relação da pessoa com seus familiares, relacionamento com seus colegas de trabalho e meio acadêmico e relação com o meio social, a fim de encontrar recursos e uma possível rede de apoio diante dos resultados encontrados (QUESADA, 2020b).

Alguns fatores podem ter grande influência no aumento da frequência de autoagressão e tentativa de suicídio, que são: episódio anterior de tentativa de suicídio, transtornos mentais e histórico familiar e/ou genético de auto violência (OMS, 2014 apud QUESADA, 2020c). Outros fatores de risco também podem contribuir para a prática ou aumento das autoagressões como violência física, sexual, psicológica (QUESADA, 2020c).

Já os fatores de proteção e prevenção podem ser considerados habilidades do indivíduo em resolver conflitos, controle emocional diante de circunstâncias de problemas, suporte familiar, acesso a grupos terapêuticos ou equipe multiprofissional em saúde, prática de atividades físicas, entre outros recursos que possam contribuir na sua qualidade de vida. Algumas medidas podem reforçar o trabalho preventivo aos atos de automutilação, tais como desenvolver cada vez mais vínculos afetivos saudáveis, a psicoeducação no ambiente escolar, apresentar os serviços sociais de apoio às pessoas com adoecimento mental, desenvolver habilidades de recursos próprios para o fortalecimento e equilíbrio emocional (QUESADA, 2020c).

Por se tratar de um assunto tão delicado e denso, muitas vezes a violência autoprovocada não é discutida no meio social, e por isso as pessoas que não são especialistas ou trabalhadores da saúde sentem dificuldade em abordar esse assunto com as pessoas que apresentam tal prática. As orientações gerais para esse tema podem ser definidas como conversar com as pessoas praticantes de forma leve e mais acolhedora possível, a fim de que a vítima possa se sentir respeitada e apoiada. O mais importante diante de todo esse contexto é poder compreender as alternativas de resolução de problemas para a pessoa e identificar os meios que possam tratar e minimizar seus sofrimentos.

Fonte: encurtador.com.br/befrw

Referências:

QUESADA, Andrea Amaro; NETO, Carlos Henrique de Aragão; OLIVEIRA, Josianne Martins; GARCIA, Marina Saraiva. Noções gerais sobre a automutilação. Fortaleza: Fundação Demócrito Rocha, 2020a. 15 p.: il. color. (Curso Prevenção da Automutilação; fascículo 1). ISBN 978-65-86094-35-0.

QUESADA, Andrea Amaro; NETO, Carlos Henrique de Aragão, OLIVEIRA, Josianne Martins; GARCIA, Marina Saraiva. Automutilação: abordagem prática de prevenção e intervenção. Fortaleza: Fundação Demócrito Rocha, 2020b. 15 p.: il. color. (Curso Prevenção da Automutilação; fascículo 2). ISBN 978-65-86094-34-3.

QUESADA, Andrea Amaro; FIGUEIREDO, Carlos Guilherme da Silva; SILVA, Antônio Geraldo; FIGUEIREDO, Renata Nayara da Silva; FIGUEIREDO, Karine da Silva; GUIMARÃES, Isabella Sallum. ilustrações: Rafael Limaverde. Cartilha para prevenção da automutilação e do suicídio: orientações para educadores e profissionais da saúde. Fortaleza: Fundação Demócrito Rocha, 2020c. 124 p.: il. color.

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Violência autoprovocada – (En)Cena entrevista a psicóloga Laurilândia Silva

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Violência autoprovocada é um assunto que requer muita atenção e precisa ser discutido entre o meio social, pois a cada dia as ocorrências desta prática ficam mais frequentes. Compreender sobre o processo, desenvolvimento e tratamento é fundamental para a qualidade de vida de quem apresenta essa demanda. Por isso, o Portal (En)Cena convidou a psicóloga Laurilânida O. Silva, Especialista em Saúde da Família Comunidade e atuante no atendimento de pessoas com comportamentos suicidas para uma entrevista sobre o tema.

Fonte: Arquivo Pessoal

Laurilândia O Silva, é psicóloga formada pelo Centro Universitário Luterano de Palmas/Universidade Luterana do Brasil e Especialista em Saúde da Família e Comunidade pelo Programa de Residências Integradas/PIRS FESP Palmas -TO. Possui experiência na área da saúde atuando em diferentes cenários como no Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB), no NUPAV – Núcleo de Prevenção de Violência e Acidentes e Promoção da Saúde, Centro de Educação Inclusiva com crianças e adolescentes com deficiência como bolsista do programa “Palmas Para Todos” no município de Palmas – TO.  Atualmente atua como psicóloga, bolsista-pesquisadora do programa “Palmas para Todos”, em um projeto voltado ao público que apresenta comportamento suicida em Palmas – TO e no Nasf-AB.

(En)Cena – Defina o conceito de violência autoprovocada e suas formas.

Laurilândia O. Silva – O termo violência autoprovocada, também conhecido como violência autoinfligida é o ato de provocar algum dano a si mesmo, é uma autolesão deliberada, intencional que pode ser dividida em comportamento suicida e autoabuso.

O comportamento suicida é subdivido em pensamentos ou ideação suicida, tentativa de suicídio e o suicídio completo. Alguns autores definem o autoabuso como os atos de automutilação. Giusti, (2013) define a automutilação como “qualquer comportamento que envolva a agressão intencional ao próprio corpo, sem que haja intenção consciente de suicídio”.

A política Nacional de prevenção da automutilação e do Suicídio de abril de 2019, define por violência autoprovocada, o suicídio consumado, a tentativa de suicídio e o ato de automutilação, com ou sem ideação suicida. A pessoa que comete violência contra si próprio, pode não ter uma intenção suicida, ou seja, não apresentar a vontade de causar a morte.

Fonte: encurtador.com.br/dFL35

(En)Cena – Quais os fatores desencadeantes para as práticas de autoagressão?

Laurilândia O. Silva – O suicídio e as outras formas de violência autoinfligida “é um fenômeno multifatorial, multideterminado e transacional que se desenvolve por trajetórias complexas, porém identificáveis”, essa é a definição da organização das nações unidas em 1960.

Essas trajetórias complexas, podem ser chamadas de fatores de risco, de acordo com Botega (2015) a natureza desses fatores de risco é variável, há influência da genética, de elementos da história pessoal e familiar, de fatores culturais e socioeconômicos, de acontecimentos estressantes, de traços de personalidade e de transtornos mentais.

(En)Cena – Como ocorre o atendimento psicológico emergencial para quem pratica?

Laurilândia O. Silva – É importante estar atento aos sinais que a pessoa que tem a intenção de cometer suicídio emite, o suicídio pode ser previsível. Sinais como pedidos de desculpa e de perdão aos familiares, pequenos bilhetes, versículos da Bíblia e poesias, compras de certos objetos como cordas e escadas.

Se a pessoa apresenta ideação suicida, ou seja, ela tem pensado em cometer suicídio, ou tenha um plano elaborado para executar o suicídio e fala frases do tipo: “Tenho vontade de dormir e não acordar mais”, “sou um fracasso”, com planejamento ou não, é importante que a pessoa procure ajuda profissional.

Fonte: encurtador.com.br/blnx6

No serviço público essa pessoa pode procurar atendimento em uma Unidade Básica de Saúde ou CAPS- Centro de Atenção Psicossocial. Casos em que a pessoa realizou a tentativa de suicídio, a orientação é que ela procure, seja levada por alguém ou pelo SAMU ou Corpo de Bombeiros a um serviço de urgência e emergência como Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e HGP- Hospital Geral de Palmas.

Recomenda-se que um familiar acompanhe o intento suicida nas consultas iniciais para receber orientações. No primeiro atendimento é importante avaliar o risco da intencionalidade em cometer o suicídio, realizar orientações para afastar meios letais, sensibilizar para a importância de seguir as orientações médicas e tratamento medicamentoso, identificar pessoas significativas para o intento suicida e obter apoio, essas são ações que são tomadas de imediato para prevenir uma nova tentativa com sucesso.

(En)Cena – Como pode ser constituída a rede de apoio desses pacientes?

Laurilândia O. Silva – O apoio de familiares e amigos, instituições religiosas, escolas e universidades, profissionais de saúde e trabalhadores do Sistema Único de Assistência Social, pode constituir a rede de apoio ao intento suicida.

(En)Cena – Quando e como os profissionais devem verificar se alguém está praticando a automutilação? E como as pessoas em geral, podem analisar? Se essa suspeita é confirmada, como deve proceder?

Laurilândia O. Silva – Muitos profissionais de saúde, amigos e familiares sentem receio em abordar o tema do suicídio e da automutilação, mas a estratégia é perguntar, é questionar em uma linguagem clara e direta. Muitas pessoas acreditam que perguntar sobre a intenção de tirar a própria vida, pode contribuir para que o suicídio aconteça, isso é um mito muito comum. Algumas sugestões de perguntas são: você pensa muito sobre morte, sobre pessoas que já morreram, ou sobre sua própria morte? Você pensou em suicídio durante essa última semana?

Fonte: encurtador.com.br/cfTY9

Outra estratégia para verificar se alguém está praticando a automutilação é observar cicatrizes nas partes do corpo, observar se houve mudança na forma como a pessoa se veste, por exemplo, começa vestir roupas de mangas compridas em um ambiente quente, na intenção de esconder machucados e cicatrizes. Ao perceber esses sinais os profissionais, familiares e amigos, podem perguntar sem julgamentos sobre o que está acontecendo e ofertar ajuda, procurando algum serviço de saúde.

(En)Cena – Como a família, escola, sociedade e instituições religiosas podem contribuir como rede de apoio a essas pessoas?

Laurilândia O. Silva – A família, escola, sociedade e instituições religiosas como dito anteriormente compõem a rede de apoio de uma pessoa que apresenta comportamento suicida. Essa rede pode contribuir na desmistificação de preconceitos e estigmas em torno da violência autoprovocada. Evitar compartilhar em redes sociais vídeos, fotos, cartas de despedidas e formas de praticar o suicídio, também são estratégias de contribuir para prevenção e apoio aos familiares do intento suicida. Promover espaços de reflexão e aprendizagem sobre o tema, com profissionais de saúde e estudiosos do tema. Incentivar a busca por ajuda.

(En)Cena – A partir da sua experiência, considera que o ensino acadêmico no curso de psicologia é eficaz para a prática profissional do psicólogo?

Laurilândia O. Silva – Com base na minha experiência acadêmica, percebi que o que aprendi sobre violência autoprovocada, aprendi na prática profissional, em supervisões, apoio técnico e leituras. O ensino acadêmico abordou pouco sobre o tema e não foi eficaz para a minha prática. Acredito que seja importante que o acadêmico de psicologia aprenda e desenvolva competências para atuação com o comportamento suicida, principalmente se o acadêmico pretende atuar na rede pública de saúde, no SUS.

(En)Cena – Deixo um espaço livre para indicações de leituras, orientações e sugestões.

Laurilândia O. Silva – Minha sugestão é que quem tiver curiosidades existem algumas organizações que trabalham ofertando apoio a sociedade, fazer parte dessas organizações ou procurar conhecer pode ajudar no entendimento sobre o tema:

Referências:

Botega, Neury José. Crise Suicida: avaliação e manejo. Porto Alegre: Artmed, 2015.

BRASIL. Lei Nº 13.819, de 26 de abril de 2019. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato20192022/2019/Lei/L13819.htm. Acesso em: 29 de abril de 2021.

GIUSTI, Jackeline Suzie. Automutilação: características clínicas e comparação com pacientes com transtorno obsessivo-compulsivo. Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5142/tde-03102013-113540/publico/JackelineSuzieGiusti.pdf. Acesso em 27 de abril de 2021.

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O simbolismo do filme “Ensaio Sobre a Cegueira”

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O filme ‘Ensaio sobre a cegueira’ mostra a contaminação da perda de visão que assola uma cidade. Adaptado da obra original “Ensaio sobre a cegueira”, de José Saramago (1995), a obra propõe uma situação onde uma cidade, sem nome definido pelo autor, é acometida subitamente por uma condição de cegueira, esta denominada de “mal branco”. A partir daí você acompanha diversos personagens, estes também sem nome definido, lidando com as consequências dessa endemia.

 A primeira vítima da cegueira é um motorista que procura um médico oftalmologista, no qual também se contamina. A única pessoa que não perde a visão é a esposa do médico, que em compensação, é quem fica responsável por gerenciar muitas decisões e situações práticas por ainda conseguir enxergar, pois todas as pessoas contaminadas foram levadas para um manicômio abandonado e passaram a ficar em isolamento.

A trama se desenvolve mostrando as tentativas de adaptação e sobrevivência das pessoas a partir da nova condição de cegueira, conforme os dias passam, os instintos primitivos como fome, sono, desejo sexual afloram nos personagens e tudo isso os leva a embates civilizatórios contundentes.

Assim, os aspectos levantados serão analisados através da abordagem psicológica psicanalítica interpretando a perda de visão como um processo psíquico de luto e suas possíveis formas de elaboração e buscando possíveis associações simbólicas psicanalíticas relacionadas ao mal branco que atinge os personagens.

Fonte: encurtador.com.br/uvRZ9

 Luto e Inclusão

            Ao observar o filme, o espectador pode compreender a importância de trabalhar a inclusão para a construção de uma nova mentalidade que exige mudança de todos indivíduos que convivem em uma sociedade, e não somente dos personagens; mas também dos próprios espectadores. De acordo com Mesquita (2017), a proposta da inclusão tem como parâmetro o princípio das diferenças, não  o princípio da igualdade; essa proposição exige muito mais que oferecer recursos para sanar diferenças e igualar os sujeitos.

Diante desse fato, a política da inclusão vai ao encontro do respeito das diferenças e pela construção de caminhos alternativos e criativos para proporcionar desenvolvimento humano e superações de todos os envolvidos no processo. Assim, quando o espectador analisa o contexto do filme, pode inferir que eles próprios se colocam nessa sociedade de exclusão. O filme utiliza como metáfora a cegueira em que as pessoas estão cegas para valores básicos da solidariedade social e que evidência é  uma sociedade que exclui as diferenças (MESQUITA, 2017).

Segundo Gomes (2012, p. 687 apud MESQUITA), a diversidade é “compreendida como construção histórica, social, cultural e política das diferenças, que se faz por intermédio das interações de poder e do aumento das desigualdades e da crise econômica”, assim, é importante articulação de políticas para o  reconhecimento das diferenças.

Diante do que foi supracitado em relação à inclusão,no filme, o espectador percebe essa falta de articulação dos membros da sociedade, chefes de estados, cientistas em conhecer as diferenças, e a falta de conhecimento, compreende-se o  que deixa a humanidade extremamente fragilizada é uma sociedade não inclusa e não a cegueira biológica. Essa análise pode ser observada no trecho do filme, quando a mulher do médico faz um jogo de palavra agnosia, agnosticismo, ela infere que pode estar interligada com a com ignorância e a descrença; também pode interligar com a desesperança, a tristeza. Daí, o filme pode sugerir porque a esposa do médico é a única não contaminada; uma vez que no decorrer do filme, a esta se mostra uma pessoa extremamente empática com o próximo.

Fonte: encurtador.com.br/hAJPU

Diante do contexto do filme, compreende que os personagens perderam a visão e, em seguida, passaram por um processo de luto. Dessa forma, pode ser entendido como um conjunto  de sentimentos e comportamentos que normalmente se verificam depois uma perda, como o indivíduo experiencia essa nova realidade. É primordial que a pessoa se ajuste a viver com a ausência para que se possa elaborar de forma adaptativa essa situação (WORDEN, 2003, apud NAZARÉ et al., 2010, p. 36).

Sobre aspectos do luto, Elisabeth Kübler-Ross (1969), ganhou grande destaque ao aprofundar seus estudos sobre o tema, pois ela definiu tal situação em estágios de negação e isolamento, raiva, barganha, depressão e aceitação; sendo caracterizado como mecanismos de defesa psíquica para enfrentamento da situação dolorosa.

Em 1917, Sigmund Freud discute que o luto é uma experiência a partir da perda de vínculo emocional, físico e ou psíquico de alguma pessoa ou de uma ideia. Quando essa experiência é vivida através da melancolia, pode haver indícios de predisposição genética para tal desenvolvimento. Porém, o mesmo autor ainda afirma que o luto não deve ser compreendido como algo patológico, e que ao longo do tempo será vencido, e “achamos que perturbá-lo é inapropriado, até mesmo prejudicial” (FREUD, 1917, p. 128).

De acordo com Souza e Pontes (2016), através de seus estudos sobre Freud, durante o estado de melancolia, é percebido um comportamento de repreender-se que pode estar interligado a queda na autoestima caracterizado como o diferencial nesta situação. Isso se dá porque a pessoa não quer repreender a si mesma, mas o objetivo de amor que foi perdido. Então, o “empobrecimento do Eu” pode ser compreendido por uma identificação do sujeito com o objeto perdido, uma vez que o investimento objetal não foi forte o suficiente para deslocar-se para outro objeto, retornando, então, ao próprio sujeito.

O filme mostra que o médico mesmo possuindo muito conhecimento sobre oftalmologia não consegue solucionar certas situações que surgem ao longo do filme. Por exemplo, quando uma das vítimas pela cegueira bate a perna e tem um ferimento na perna que pode evoluir para uma infecção, pelo fato do médico também estar acometido pela doença, ele pede ajuda e orientação à esposa para que juntos possam acompanhar e intervir sobre o ferimento do rapaz. Assim, percebe-se que o médico tem recursos psíquicos e científicos para resolução de problemas, e nessa situação, controle emocional para tomada de decisão diante de um fator delicado.

Fonte: encurtador.com.br/xyBLM

Simbologia no Filme

A maneira como o filme conta a história levanta questionamentos acerca da origem da cegueira que assola a população daquela cidade. Na obra original Saramago (1995) e o diretor Fernando Meirelles em sua adaptação trazem ao público uma doença de causas misteriosas e de sintomática bastante simbólica. A cegueira é chamada no universo do filme de “mal branco” e em sua essência atinge os indivíduos cegando-os como uma luz que excede os limites da visão humana.

Numa visão simbólica, a cegueira poderia ser uma analogia ao excesso de informações e pela rotina aos quais somos expostos, o que inibiria a psique do acesso a subjetividade e a formas de pensamento mais complexas. Saramago é brasileiro, e é interessante as minúcias na sua obra quando este demonstra a primeira pessoa a ser acometida com a cegueira a um indivíduo no trânsito. O ato de dirigir em grandes metrópoles, estar preso em uma caixa de metal, alheio aos rostos dos pedestres e dos motoristas ao seu redor, é tudo muito significativo ao estado final de cegueira proposto.

“Por isso, supomos, a cegueira branca indica não uma cegueira, mas um excesso de visão. Encontramos um homem que perde seu anteparo criado pelo recalque e que se desorienta quando passa a ver demais, jogando por terra todos os construtos que mantêm sua estrutura social de pé. Ele vislumbra as consequências do fim do recalque e a explicitação desordenada das pulsões. Saramago não cegou o homem; ele o fez ver algo insuportável, abriu seus olhos e o fez ver demais: fez o homem ver a si mesmo.” (CAMARGOS, 2008, p.132).

No livro, o médico explica a cegueira para um personagem, e esclarece que é como se as vias que levam as imagens dos olhos para o cérebro tivessem ficado congestionadas. Para a psicanálise são essenciais para a sobrevivência da espécie as funções que produzem os sonhos, através da digestão das nossas emoções e do conteúdo sensorial enviado para nosso cérebro, como fica claro em texto de Freud (1914, p. 145-157).

Fonte: encurtador.com.br/bOW78

O indivíduo deve ser capaz de fazer a elaboração adequada para digerir adequadamente conteúdos psíquicos, e as imagens e a capacidade visual são parte fundamental desse processo. Ou seja, os indivíduos ali estariam sujeitos a uma distorcida representação da realidade, onde sem a função da visão estes teriam de rearranjar a maneira como abstraem o mundo a sua volta, com diversas funções psíquicas prejudicadas devido a  situação atípica.

A cegueira pode também ser uma maneira de se observar a natureza do ser humano para além do véu da civilização. O filme propõe essa reflexão à medida que te põe em companhia de uma personagem que de maneira misteriosa não é afetada pelo mal em questão, e ela, como um último bastião de qualquer noção de civilização, observa toda a jornada a sua volta, sendo muitas vezes obrigada a ceder a barbárie.

“Desde Sófocles e a cegueira de Édipo, o olho foi simbolizado como órgão máximo para o deslocamento da castração genital concreta. Talvez não apenas porque, diante da consumação real do drama edípico, o Tyrannos de Tebas tenha furado seus olhos como punição pela culpa por ter concretamente satisfeito o desejo incestuoso. A cegueira também é mais que uma metáfora da prévia incapacidade de Édipo de ver sua origem e a causa de seus atos.” (LOPES, 2019, p. 25-46)

Mesmo desejando não ser capaz de ver muitas coisas nesses momentos, a personagem esposa do médico (Julianne Moore) embarca em uma jornada desagradável em um mundo incapaz de ver a razão do mal que o atinge, ou mesmo uma solução para este problema.

Fonte: encurtador.com.br/hpqOT

Conclusão

É notável que a personagem principal passa por uma mudança significativa na vida e, na metáfora do filme, ela precisa se adaptar a um contexto totalmente diferente, onde sua condição de pessoa capaz de enxergar a obriga a buscar maneiras de se incluir nessa nova configuração social.

O grande ponto da obra é a perda da visão generalizada, então esta perda gera um estado de luto coletivo, a personagem de Moore observa os indivíduos em sua jornada em estado de negação, enraivecidos, barganhando com o mundo, depressivos com tudo aquilo e por fim, se reorganizando num estado social primitivo, regido pelas pulsões do ser humano e por líderes déspotas, enquanto a esposa do médico assiste a tudo embasbacada.

Tudo é muito simbólico no filme, José Saramago põe nas páginas do livro muitos significados e Fernando Meirelles adapta com primazia para a mídia audiovisual; a perda da visão se dando como um “mal branco”, onde a visão não escurece mas sim é tomada a uma situação análoga a uma luz muito forte, que cega.

Os indivíduos afetados pela cegueira serem isoladas em um manicômio é uma prévia dos horrores que viriam a seguir, as pessoas se rendendo a suas pulsões primitivas enquanto organizam de maneira rudimentar, a personagem de Moore assiste, como uma mera testemunha de um mundo civilizado acompanhando a morte da civilização.

O esforço que a personagem faz para se incluir nesse mundo novo acaba por custar muito a ela. E no final da obra, os personagens mesmo voltando a enxergar, ficam com um gosto amargo após toda a experiência vivida, como o homem que Platão tira da caverna, a visão retorna de repente para que tudo aquilo seja ressignificado.

Conclui-se que, na analogia proposta, o luto mal elaborado pela perda de algo tão precioso no dia-a-dia somado a incapacidade de enxergar e ressignificar os processos, aliados a toda a simbologia por trás do mal branco culminam na ruína daquela sociedade, um provável alerta de Saramago a quem quer que se aventure por sua obra original.

FICHA TÉCNICA

Ensaio sobre a cegueira

Título original: Blindness

País: EUA

Ano: 2008

Gênero: Thriller/Ficção científica

Direção: Fernando Meirelles

Elenco: Julianne Moore, Mark Ruffalo, Alice Braga

REFERÊNCIAS

CAMARGOS, Liliane. A psicanálise do olhar: do ver ao perder de vista nos sonhos, na pulsão escópica e na técnica psicanalítica. 2008.

FREUD, Sigmund. Luto e melancolia. Trad., introdução e notas /Marilene Carone. São Paulo: Cosac Naify, 2013.

FREUD, Sigmund. Recordar, repetir e elaborar. Obras completas, v. 12, 1914.

KUBLER-ROSS, Elisabeth, 1926. Sobre a morte e o morrer; o que os doentes têm para ensinar a médicos, enfermeiros, religiosos e aos seus próprios parentes. 7ª ed.- São Paulo: Martins Fontes, 1996.

LOPES, Anchyses Jobim. Cabeça de Medusa: de Caravaggio a Freud e Lacan-sobre pintura e psicanálise. Estudos de Psicanálise, n. 51, 2019.

MESQUITA, Raquel. Inclusão na impossibilidade da educação: Uma proposta de intervenção psicanalítica. UFMG, 2017.

NAZARÉ, Bárbara; FONSECA, Ana; PEDROSA, Anabela Araújo. CANAVARRO, Maria Cristina.  Avaliação e Intervenção Psicológica na Perda Gestacional.  Peritia | Edição Especial: Psicologia e Perda Gestacional 2010.

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Palhaçoterapia: reinventando a experiência hospitalar

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O ambiente hospitalar pode ser lembrado como um local triste e com muito sofrimento, porém essa experiência pode ser minimizada, e até mesmo transformada através dos atendimentos da equipe multiprofissional, e como parte integrante deste grupo podemos citar  serviço voluntário da palhaçoterapia hospitalar. Os palhaços podem ter formação na área da saúde ou serem formados em outra área, assim todos contribuem para essa vivência renovadora do hospital.

Muitas pessoas passam por experiências dolorosas e desagradáveis podendo ser marcantes em suas vidas. Mas através do serviço de palhaçoterapia esse cenário pode ser transformado em um lugar mais alegre, leve e acolhedor. Existem vários grupos que se dispõem no serviço voluntário no hospital, sendo seu principal objetivo a humanização dos atendimentos aos pacientes, além da minimização de sofrimento diante do processo de hospitalização.

Os primeiros relatos de palhaços nos hospitais surgiram em 1980, através do oncologista pediátrico Patch Adams, com intuito de levar um atendimento médico com mais empatia, bom humor e carinho aos pacientes, acompanhantes, e a todos os profissionais do hospital. E foi assim que seu trabalho virou inspiração a milhares de pessoas do mundo inteiro, e foi assim que produziram o filme “Patch Adams, o amor é contagioso” que conta sua trajetória.

Fonte: encurtador.com.br/mnsJ8

Já no Brasil, esse movimento foi trazido por Wellington Nogueira, em meados de 1991, depois de passar uma temporada trabalhando em Nova Iorque no  Clown Care Unit. Retornando às suas atividades em solos brasileiros, fundou os Doutores da Alegria, que influenciou o surgimento de vários outros grupos. Entre seus valores, estão a Arte e cultura como direito; Liberdade de expressão, cooperação e respeito à diversidade; Ética, transparência e coerência na ação; Arte, educação e pesquisa como caminho para estimular um novo olhar e impactar realidades; Busca pela simplicidade e excelência; Alegria é um estado que se constrói a partir do outro – afetar e ser afetado; Busca pela multidisciplinaridade entre cultura, saúde, educação e assistência social.

Além de existir um legado de humanização e amor no serviço dos palhaços nos hospitais, por trás disso, também existe muita dedicação, estudos e preparação para a formação dos voluntários. Por se tratar de um ambiente hospitalar é preciso maiores cuidados e estratégias em como funcionará a dinâmica dos atendimentos, a maneira de abordar os pacientes e seus acompanhantes, brincadeiras com as crianças, as orientações e restrições médicas, são alguns dos fatores a serem planejados antes de dar início às visitas.

Vivenciar esta experiência da palhaçoterapia no ambiente hospitalar pode ser carregada de boas lembranças, a oportunidade de ressignificação de um momento mais delicado que possa estar passando. Preservar e manter a saúde mental tanto dos pacientes quanto dos profissionais envolvidos são essenciais para a qualidade e na harmonia do ambiente hospitalar.

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Solitude e Solidão: a diferenciação do estar só

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A solitude é compreendida no ato de estar só e poder desfrutar do prazer da própria companhia. Quando escolhe, de forma consciente, podendo desfrutar de si mesmo, aproveitando para refletir, descansar e aproveitar o momento para um autoconhecimento e bem estar. Já  solidão  advinda do latim solitudnem, solus, que consiste no ato de estar só de forma a gerar sentimentos negativos, como o de abandono e exclusão. Na maior parte das vezes, na solidão não há escolha em estar sozinho. Estar ciente dessas condições nos faz compreender mais sobre nossas escolhas e direcionamentos a serem tomados.

A sociedade moderna está cercada de informações instantâneas, de interação social virtual, e ao mesmo tempo a redução da qualidade dos contato pessoais, que são cada vez menos recorrentes. A psicanálise discorre sobre o tema através das relações sociais, quando um desejo surge  precisa ser interpretado e compreendido pelo outro, é a partir dos vínculos afetivos que se desenvolvem os desejos, e por consequência, suas demandas precisam ser satisfeitas.

No contexto atual, onde enfrentamos um cenário de pandemia a ideia de isolamento pode despertar o medo e angústia. Não ter contato frequente com outras pessoas pode ser algo naturalizado em nosso cotidiano devido a rotina acelerado em que vivemos, porém viver a solidão de maneira imposta, principalmente por uma questão que está fora do nosso controle, pode gerar inúmeros desconfortos. Por isso é preciso trabalhar maneiras de minimizar as consequências negativas e desenvolver inteligência emocional para o controle da qualidade de vida; isso requer esforços diários na manutenção dessas estratégias.

Fonte: encurtador.com.br/iAPS4

“Portanto devemos conceder a certos indivíduos a sua solidão e não ser tolos a ponto de lastimá-los, como frequentemente sucede” (Nietzsche, Humano, Demasiado Humano,  § 625).

Parafraseando o filósofo Friedrich Nietzsche, a solidão não precisa ser vista como algo a ser lamentado, mas necessária à condição do homem, basta compreender sua genuína significação. Transcender da solidão à solitude humana.

Através da psicanálise, abordagem da psicologia e a filosofia um dos caminhos para abranger o conhecimento e domínios da solidão. Para a teoria psicanalítica o sujeito precisa desenvolver habilidades de manejo do ego, que é a própria personalidade da pessoa. Contudo, o ego enfrentará três instâncias, id, ego e superego; o id é responsável pelos impulsos do desejo, o ego é a percepção da realidade e o superego representa as leis e morais da sociedade. Já a filosofia coloca o sujeito em constante reflexão sobre a sua existência, valores e desejos a partir da experiência da solidão.

Assim, por mais que sejamos pessoas sociáveis e com intensos desejos de vínculos afetivos, realizações de prazer e conquistas, também precisamos passar por vivências opostas a essas para entendermos quais são nossos verdadeiros anseios. Conforme isso acontece, aprendemos então a diferenciar a solidão e solitude, de quando há ou não necessidade de estar consigo mesmo ou com o outro.

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Médicos Sem Fronteiras e a ajuda humanitária ao redor do mundo

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O projeto de atuação internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF)  é uma organização com ações de auxílio direcionado à populações vítimas de crises humanitárias.

Tudo começou na França em 1971, quando um grupo de médicos e jornalistas se voluntariaram sem serviços nos anos anteriores em Biafra- Nigéria. A assistência profissional para vítimas da guerra civil naquela região fez com que eles percebessem a necessidade de maiores cuidados e acompanhamento dessa causa. Após 29 anos da criação deste grupo, recebe a premiação do Nobel da paz pela contribuição à população e a visibilidade de inúmeras causas que ajudam de prevenção a pessoas com baixos auxílios.

Além de ações médicas assistenciais às populações vulneráveis, como na maioria da atuação do projeto em diversos países, quando há necessidade a ajuda do MSF se dá através de fornecimento de alimentação, abrigos temporários, água e saneamento básico. Isso costuma acontecer em locais que estão no auge da crise econômica, política e conflitos civis, onde as pessoas correm, constantemente, risco de vida ou agravamento da saúde por falta de assistência e socorro.

Fonte: www.msf.org.br/

O projeto Médicos Sem Fronteiras é gerenciado de forma não governamental sem fins lucrativos. A política interna direciona cerca de 80% de toda a arrecadação para atividades humanitárias de campo, os outros 20% são revertidos para despesas administrativas e na aplicação de captação de recursos. Anualmente disponibiliza relatórios auditados da prestação de contas à população e para acesso de todos, sendo detalhada informações de seus 21 escritórios.

A equipe profissional é constituída de oncologistas, enfermeiros neonatal, enfermeiro chefe, cirurgiões plásticos, anestesistas, ginecologistas, médicos, pediatras, epidemiologistas, obstetras, enfermeiro obstetra, farmacêuticos, psicólogos, psiquiatras, administrador financeiro, fisioterapeutas, administradores, especialistas em água e saneamento, logística de suprimentos, logística, promoção a saúde, coordenador de projetos, coordenador financeiro, coordenador de recursos humanos.

Os princípios básicos da organização devem ser cumpridos por toda a equipe profissional vinculada ao Médicos Sem Fronteiras, são eles:

“Independência, não está atrelada a poderes políticos, militares, econômicos ou religiosos e tem liberdade de ação, decidindo onde, como e quando atuar com base em sua própria avaliação do contexto e das necessidades. Essa independência de ação é garantida por sua independência financeira, já que, de todo o financiamento de MSF, 96% é proveniente de doações de indivíduos e da iniciativa privada.

Imparcialidade, Médicos Sem Fronteiras oferece ajuda humanitária e cuidados de saúde àqueles que mais precisam, sem discriminação de raça, religião, nacionalidade ou convicção política […] A possibilidade de aliviar o sofrimento de indivíduos por meio da ação médica é o que determina a norteia as atividades de Médicos Sem Fronteiras.

Fonte: www.msf.org.br/

Neutralidade, a neutralidade é crucial para as equipes conseguirem chegar a qualquer pessoa afetada, independentemente do lado do conflito em que esteja. A neutralidade de MSF é possibilitada pela sua total independência financeira de governos ou partes envolvidas em conflitos. 

Transparência, MSF avalia constantemente os projetos que implementa e presta contas à sociedade e aos doadores sobre a gestão dos recursos captados e resultados de suas ações […] Para reforçar esse compromisso, os relatórios financeiros são auditados por empresas independentes e redigidos em conformidade com os padrões da International Financial Reporting Standards (IFRS). São também publicados relatórios anuais, que trazem o resumo das atividades desenvolvidas em campo e análise crítica dos progressos, obstáculos e aprendizados. MSF também preza pela transparência na relação com seus pacientes e, coerente com essa transparência, informa-os sobre as escolhas que faz e sobre as decisões que toma no que se refere à sua atuação médica.

Ética médica, o trabalho da organização é norteado pelas regras da ética médica universal. Em primeiro lugar, vem o dever de prestar assistência a quem precisa, sem prejudicar indivíduos ou grupos. A ética médica fala de respeito à autonomia e à confidencialidade dos pacientes, e também de seu direito a acessar todas as informações necessárias para que possam consentir procedimentos e tomar decisões com respaldo. Cada indivíduo é tratado com dignidade e respeito e recebe cuidados médicos de qualidade”.

Fonte: www.msf.org.br/

A psicologia é uma área de extrema importância na ajuda humanitária às pessoas em situação de vulnerabilidade extrema. A atuação dos (as) psicólogos (as) está relacionada ao auxílio emergencial à população, redução e controle de danos, resolução e formulação de estratégias de acordo com a realidade do local onde é prestado seus serviços. Sua realidade, na maioria das vezes, está ligada a conflitos armados, guerras civis, surtos de doenças, precariedade, catástrofes naturais, e diversas situações que não estão sendo esperadas.

E o principal cuidado que os profissionais de psicologia têm a partir desse cenário é cuidado com a saúde mental de cada paciente. A fragilidade psicológica diante de tantas experiências traumáticas, muitas vezes potencializam fatores de adoecimento, não só psíquico mas também físico. Aliados a uma vasta equipe multiprofissional, buscam então, a melhoria da qualidade de vida e recursos práticos para a manutenção da saúde física, psicológica  e emocional onde quer que vão prestar seus serviços.

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A Luta contra o estigma da Aids e o papel da Psicologia

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A psicologia auxilia na relação e elaboração de estratégias na rede de apoio com o paciente, relação paciente e equipe multiprofissional e ainda em questões pessoais que possam ocorrer durante o recebimento do diagnóstico.

A Assembleia Mundial de Saúde, juntamente com a colaboração da Organização Mundial das Nações Unidas, em 27 de outubro de 1988, definiram que dia 1 de dezembro seria a data para enfatizar a conscientização sobre os cuidados preventivos e o tratamento do HIV e AIDS. E no Brasil constituiu pela  Lei 13.504  a Campanha Nacional de Prevenção ao HIV/Aids e outras infecções sexualmente transmissíveis (Dezembro Vermelho).

A campanha Dezembro Vermelho tem o objetivo de assistência, prevenção e promoção da garantia dos direitos dos paciente que vivem com HIV/Aids. São disponibilizados conteúdos informativos e orientações sobre o tema, através de divulgação nas redes sociais, mídias, palestras educativas etc.

Fonte: encurtador.com.br/qrLX3

HIV x AIDS

HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana) é o vírus causador da aids, que atinge os linfócitos, células do sistema imunológico responsáveis pela defesa do corpo. No qual este não consegue se curar do vírus. Já a AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) é a doença desenvolvida pelo vírus HIV.

Sua transmissão é por meio de relações sexuais sem proteção, materiais não esterilizados e contaminados, por meio da gravidez pela transmissão vertical, transfusão de sangue, parto e amamentação.

Seu tratamento se dá através de medicamentos antirretrovirais, o HIV usa essas células do sistema imunológico para reproduzir outros vírus e as destroem, tornando o organismo incapaz de lutar contra outras infecções e doenças. Se o tratamento for realizado de modo correto, a aids não se desenvolve e o HIV permanece controlado.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, no Brasil há aproximadamente 866 mil pessoas vivendo com HIV,  e em torno de 40 mil novos de HIV casos são registrados a cada ano, principalmente pela população jovem. Durante seu levantamento em 2017, 940 mil pessoas morreram de causas relacionadas ao HIV e 1,8 milhão foram infectadas pelo vírus, o equivalente a cinco mil novos casos todos os dias. A contaminação mundial chega a 36,9 milhões de pessoas, dentre essas, 1,8 milhão são crianças com menos de 15 anos de idade. Dois terços do total de pessoas infectadas pelo HIV vivem em países da África.

Fonte: encurtador.com.br/acfmV

HENFIL- Palmas

Localizado na região norte de Palmas, o Centro de Testagem e Aconselhamento – Núcleo de Assistência Henfil, é uma unidade municipal de saúde que além doenças infecciosos, como Doença de Chagas, Hepatites Virais, Toxoplasmose, Leishmaniose e Brucelose. Disponibiliza os testes laboratoriais de hepatite B, hepatite C, HIV, sífilis e o teste rápido de HIV. E Conta com uma equipe multiprofissional de Serviço Social, Nutrição Farmácia, Enfermagem, Clínica Médica, Infectologia, Urologia, Ginecologia/Obstetrícia, Pediatria, Psicologia.

No CTA ainda está disponível o SAE – Serviço de Assistência Especializada, onde as pessoas diagnosticadas com HIV e AIDS recebem tratamento e acompanhamento com a equipe multiprofissional para dar continuidade ao tratamento de forma efetiva. Além do acompanhamento dos profissionais em saúde, recebem de forma gratuita todos as medicações e exames direcionados ao tratamento da doença. E ainda, realizam um trabalhos às mulheres grávidas para que não ocorra a transmissão vertical, que é transmitida da mãe para o filho no ato do parto.

PSICOLOGIA NA PROMOÇÃO DE SAÚDE

O papel da psicologia junto a campanha Dezembro Vermelho visa colaborar com a garantia dos direitos para os portadores do vírus. Discutir sobre HIV e AIDS no campo da psicologia é transcender o olhar para além do corpo, são aspectos emocionais, psicológicos, sociais, fisiológicos, culturais, religiosos que entrelaçam o caminho dessa questão. O reconhecimento da importância desta causa, é a garantia de espaço e respeito desta população à qualidade de vida e ressignificação de sua história, através da informação e apoio de familiares, amigos e equipe multiprofissional para o combate, principalmente do preconceito diante desta situação.

Fonte: encurtador.com.br/hipIT

Os avanços no acesso à informações e ao tratamento e controle do HIV/AIDS foram primordiais para a contribuição dos direitos das pessoas que vivem com o vírus, mas principalmente na qualidade de vida e bem-estar dessa população.

Porém, muitos estigmas ainda são encontrados durante este caminho, o medo da discriminação ainda paira sobre o pensamento de muitos pacientes, até mesmo para a adesão e dedicação ao tratamento oferecido de forma gratuita pelo SUS. O receio de contar seu diagnóstico aos familiares, amigos e até mesmo aos parceiros de como vão reagir e isso interferirá na relação e vínculo após a notícia recebida, faz com que muitos não compartilhe a ninguém.

Os comportamentos discriminatórios podem ser vinculados à crenças, atos, pensamentos limitantes, bem como a própria exclusão social que o portador pode sofrer. Outro fator que ainda predomina sobre o imaginário popular é a correlação de HIV/AIDS a relações homoafetivas, travestis, transexuais e aos profissionais do sexo.

A psicologia auxilia na relação e elaboração de estratégias na rede de apoio com o paciente, relação paciente e equipe multiprofissional e ainda em questões pessoais que possam ocorrer durante o recebimento do diagnóstico, aceitação da notícia e acompanhamento do tratamento realizado. A atuação do profissional em psicologia é contribuir para a redução e controle de danos diante de tal experiência, e no manejo da saúde mental do paciente.

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