O Homem Não é uma Máquina!

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Comumente ouvimos frases como “Homem que é homem é forte’’, “Faça isso igual um homem”, “Faltou um homem para colocar ordem aqui” e por último uma das frases mais famosas “Homem não chora”, conceitos como este externalizados através da fala se tornaram regras extensamente difundidas na sociedade, indicando que o homem deve seguir um padrão de comportamento estando sua conduta pré-definida em conceitos culturais que a sociedade criou.

Apesar de essas referências terem evoluído ao longo do tempo, diversas culturas ainda seguem estritamente a regra que diferencia o comportamento de homens e mulheres pelo conceito da racionalidade e emoção. Dessa forma, infelizmente, homens e mulheres ainda são educados de forma diferente. Como resultado, muitos homens têm dificuldade em expressar sentimentos e emoções.

Santos (2015) acrescenta que a sociedade confere maior emoção às mulheres e maior racionalidade aos homens. Ao analisar a dicotomia entre racionalidade e emoção relacionada à identidade de gênero, enfatizou que expressões de determinadas emoções, como medo e vulnerabilidade, estão mais fortemente associadas às mulheres. Em vez disso, emoções como raiva ou agressão estão associadas aos homens. De uma perspectiva de tipologia emocional potencialmente relacionada ao gênero, espera-se que as mulheres experimentem uma variedade de emoções consideradas mais positivas, enquanto os homens as emoções negativas.

Fonte: encr.pw/NMDWu

Ao mesmo tempo, essa lógica binária tem efeitos colaterais para todos, com algumas pessoas ou grupos sociais defendendo a lógica da sensibilidade feminina e da racionalidade masculina. Portanto, é importante enfatizar que os homens têm sentimentos e que também são racionais. No entanto, ambos os sexos são ensinados a processar sentimentos por meio de regras sociais. Ou seja, os métodos de lidar com tais sentimentos geralmente são aprendidos por homens e mulheres com base nas consequências de tais atitudes para aqueles que ousam tentar.

Garcia et.al (2019) aponta que a masculinidade ainda é atrelada à cultura machista patriarcal.  Assim, as condutas desta cultura, impõe as regras da forma que um homem deve agir, dando a entender que ele é capaz de realizar todas as coisas sem passar por nenhum tipo de sofrimento. E aquele que requer um acolhimento de uma escuta, a sociedade não o deixa ter, transformando-o e exigindo que este seja uma máquina indestrutível, que não admite que entre em contato com suas emoções, com suas dores e com seus limites.

Pode não ser novidade pensar que porque sempre (embora menos hoje), muitos meninos são punidos e envergonhados socialmente por demonstrarem aquilo que sentem. Penalizar a demonstração de sentimentos de um homem pode ocasionar comportamentos evitativos relacionados à expressão de suas emoções, o que pode ocasionar sofrimento psíquico entre outras consequências.

É indiscutível que a polarização de gênero é ruim para todos. É fato que as mulheres são prejudicadas e estigmatizadas. Ao mesmo tempo, porém, a rigidez que a sociedade impõe aos papéis masculinos não abre espaço para que os homens expressem plenamente seus sentimentos e emoções.

Como resultado, eles se sentem culpados e punidos socialmente quando expressam seus sentimentos. Por esse motivo, é mais comum que os homens apresentem níveis mais elevados de estresse e sofram de transtornos relacionados à ansiedade, dificuldades nos relacionamentos sociais e românticos.

Em conformidade com Silva (2021), ao analisar índices relacionados à saúde mental, é identificado que há uma prevalência de transtornos mentais em mulheres, no entanto é observado que homens têm mais tendências suicidas que as mulheres, estando outros tipos de transtornos ligados. Uma causa associada a este fenómeno pode estar ligada a tendência que o homem possui em atrelar doença a fraqueza, além de possuírem maior dificuldade em expor suas ansiedades e sentimentos de tristeza.

Fonte: l1nq.com/V5sVT

Somos todos seres humanos independentemente do gênero e, em muitos casos, somos castrados e limitados por dogmas socialmente construídos. Portanto, não faz sentido distinguir entre comportamento masculino e feminino, especialmente quando se trata da expressão de sentimentos e emoções.

Assim, é importante estar ciente de que muitas vezes um amigo, colega de trabalho, namorado ou marido pode estar em grande desespero emocional. Muitos deles sofrem e escondem seus sentimentos por causa de habilidades comportamentais subdesenvolvidas. Além disso, pode até explicar o comportamento suicida de muitos homens que vivenciaram algum fracasso ou foram estigmatizados socialmente ao falar sobre suas emoções e não podem arcar com tal punição pública. Desse modo, é compreensível que os homens tenham mais dificuldade em se expressar. Talvez isso mostre a necessidade de mais troca e desconstrução de regras socialmente impostas.

REFERÊNCIAS

SANTOS, Luís Homens e expressão emocional e afetiva: vozes de desconforto associadas a uma herança instituída, Revista Ciências Sociais, São Paulo, v 40, n.1,p 1-14, Setembro de 2015, acessado em 11 março de 2022. URL: http://journals.openedition.org/configuracoes/2593.

GARCIA, L. H. C.; CARDOSO, N. DE O. BERNARDI, C. M. C. DO N. Autocuidado e Adoecimento dos Homens: Uma Revisão Integrativa Nacional. Revista Psicologia e Saúde, v. 11, n. 3, p. 19-33, 9 out. 2019.

Silva, Rafael Pereira e Melo, Eduardo Alves Masculinidades e sofrimento mental: do cuidado singular ao enfrentamento do machismo. Ciência & Saúde Coletiva [online]. v. 26, n. 10 [Acessado 11 Março 2022], pp. 4613-4622. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/1413-812320212610.10612021>. ISSN 1678-4561. https://doi.org/10.1590/1413-812320212610.10612021.

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Cruella – o alter ego de uma criança traumatizada

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Quem nasceu no século passado tinha alguns filmes e animações bem característicos para o público infantil, um destes fora os 101 Dálmatas. No enredo da história uma pacata família possui uma “pequena” ninhada de cachorros da raça dálmatas que são perseguidos pela vilã Cruella De Vil, que almeja criar uma peça de roupa de moda com o pelo dos pobres animaizinhos.

Recentemente foi lançado o filme da própria vilã, titulado de Cruella (2021). O filme, dirigido por Craig Gillespie, conta a história da pequena Estella (Emma Stone) e sua transformação na poderosa Cruella De Vil.

Estella é uma criança hiperativa, que sofre de uma condição rara chamada Piebaldismo, que faz com seja alvo de bullying na infância, fazendo com que esta tenha um comportamento agressivo como defesa das agressões e uma personalidade histriônica, que utiliza de sua aparência física de forma provocadora para chamar atenção dos seus pares. Esta condição da Estella é tão forte em sua personalidade que esta é fascinada pelo mundo da moda e suas pirotecnias.

Essa forma de agir é facilmente percebida pelo público no primeiro ato, quando a pequena Estella modifica seu uniforme escolar de uma forma pitoresca e extravagante, arrumando confusões sem fim.

Fonte: https://images.app.goo.gl/Jg6owZSEq1pAmMYW9

A personalidade de Estella em sua infância foi muitas vezes “contida” pela presença da mãe adotiva da garotinha, Catherine Miller (Emily Beecham), que consegue controlar as impulsividades da jovem personagem.

O filme busca apresentar ao público o lado oculto da vilã, os aspectos por trás de sua aversão pelos animais da raça Dálmatas, além de outras condições mentais que a personagem apresenta nos clássicos da Disney. Por esta razão, temos o arco do maior trauma da vida de Estella.

Sua mãe adotiva viaja uma longa distância para casa de uma “velha amiga” em busca de ajuda, e, ao chegar ao local, pede para a pequena Estella ficar no carro para que não arrume confusões, mas, no local que estavam ocorria uma grande e luxuosa festa de moda, tudo que a jovenzinha gostaria de vivenciar, razão pela qual entra de penetra e causa o maior alvoroço.

No meio desta confusão, os cachorros da anfitriã avançam atrás da Estella e esta foge para os jardins da propriedade, porém, estes continuam avançando e acabando assassinando a mãe adotiva de Estella que fica traumatizada com o ocorrido e foge, passando a morar na rua com seus novos amigos Jasper (Joel Fry) e Horácio (Paul Walter Hauser). Fato interessante é que, após o falecimento de sua mãe adotiva, Estella torna-se mais “contida”, evitando chamar atenções para si, inclusive tingindo o cabelo para uma coloração “discreta”.

Estella cresce nas ruas, aplicando pequenos golpes para sobreviver com seus amigos, mas sempre manteve em sua mente o desejo de trabalhar para ser uma estilista famosa. Sua audácia como Estella é notável, entrando em confusões e causando problemas em uma loja de roupas de luxo, com sua visão exótica e excêntrica, acaba chamando atenção da poderosa Baronesa Von Hellman (Emma Thompson), que a convida para trabalhar em sua equipe, dando início a trama principal.

No início de seu trabalho com a Baronesa, Estella cria uma relação afetiva muito forte, com grande admiração pela poderosa e influente estilista, buscando sempre se destacar nas atividades que são ordenadas.

Ocorre que, em um diálogo entre as personagens, Estella descobre que a pessoa que causara toda a tragédia de sua vida tinha sido a própria Baronesa, que acusa a mãe adotiva de Estella de ladra por ter apresentado um joia como forma de pedir ajuda.

Essa situação faz aflorar em Estella todos os sentimentos reprimidos, trazendo à tona a poderosa Cruella, apresentando neste momento os traços do transtorno bipolar que a personagem tem consigo. Cruella é o alter ego de Estella, ambas em pleno processo de simbiose atuando em conjunto, mas em momentos distintos.

Fonte: https://images.app.goo.gl/fV84FqxtX5V1kqU16

Importante destacar que, apesar de aparentar ser outra pessoa, Cruella sempre fez parte da personalidade de Estella, sendo, no entanto, reprimida muitas vezes, o que é diferente do Transtorno Dissociativo de Identidade – TDI, onde a pessoa muitas vezes não tem noção daquela “pessoa” que vive em sua mente (como é o caso de Jack e Tyler Durden do clássico Clube da Luta).

No bipolarismo, possui uma oscilação muitas vezes entre o maníaco e o melancólico, sendo que em alguns casos uma dessas condições prevalece por mais tempo sobre a outra. Interessante sobre este ponto é quanto a personagem diz “Voilà! Cruella passou muito tempo em uma caixa. Agora é a Estella quem vai fazer participações especiais”, mostrando os fortes indícios da bipolaridade da personagem e os aspectos individuais de cada personalidade.

Cruella, com seu transtorno histriônico e sua bipolaridade aflorada por uma vilã que possui fortes traços de psicopatia e narcisismo, é uma personagem marcante, irreverente, única em toda a trama, que consegue cativar o público de formas inimagináveis.

No arco final do filme, a personagem principal descobre ter parentesco com a vilã Baronesa, descobre ainda que durante toda a gestação fora uma criança rejeitada, sem o amor de sua mãe biológica e que esta havia fingido sua morte para todos.

Esta informação é recebida por Estella/Cruella cheia de muitos significados, com isso há um monólogo magnífico onde há a transformação completa da jovem Estella para a vilã Cruella:

“Hoje é um dia confuso. Minha inimiga é a minha verdadeira mãe. E ela matou a minha outra mãe.

Acho que você sempre teve medo. Não é? Temia que eu fosse uma psicopata como a minha mãe de verdade. Isso explica aquela história de ‘controle-se, tente se adaptar’. ‘Moldar-me com amor’, creio eu, era a ideia.  E eu tentei. Eu realmente tentei porque eu te amava.

Mas a verdade é que eu não sou a doce Estella. Por mais que eu tentasse. Eu nunca fui. Eu sou Cruella. Eu nasci brilhante. Eu nasci má e meio maluquinha. Eu não sou como ela. Eu sou melhor. Enfim, é vida que segue. Há muito que vingar, reivindicar e destruir. Mas eu te amo. Sempre.”

O trecho acima da narrativa reforça que a personagem tem conhecimento e aceita, ao final, sua insanidade, assumindo o manto de Cruella De Vil, a horrível vilã perseguidora de Dálmatas para fazer casacos de pele.

Pelo pode ser extraído do filme, a transformação de Estella em Cruella leva em consideração seus aspectos genéticos e também seus estresses pós-traumáticos que influenciaram na sua forma de perspectiva de vida e ainda na construção de todo os mecanismos de defesa psicológicos que a vilã apresentou durante a trama.

FICHA TÉCNICA

Título: Cruella (Original)

Ano produção: 2021

Dirigido por: Craig Gilespie

Duração: 134 minutos

Classificação: 12 anos

Gênero: Aventura – Comédia – Família

País de Origem: Estados Unidos da América

 

REFERÊNCIAS

ALDA, Martin. Transtorno bipolar. Brazilian Journal of Psychiatry [online]. 1999, v. 21, suppl 2 [Acessado 2 Março 2022] , pp. 14-17. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S1516-44461999000600005>. Epub 04 Out 2000. ISSN 1809-452X. https://doi.org/10.1590/S1516-44461999000600005.

ZANIN, Carla Rodrigues e VALERIO, Nelson Iguimar. Intervenção cognitivo-comportamental em transtorno de personalidade dependente: relato de caso.Rev. bras. ter. comportamento. cogno. [on-line]. 2004, vol.6, n.1, pp. 81-92. ISSN 1517-5545.

De Oliveira Pimentel, F., Della Méa, C.P., & Dapieve Patias, N. (2020). Vítimas de Bulliyng, sintomas depressivos, ansiedade, estresse e ideação suicida em adolescentes. Acta Colombiana de Psicología, 23(2), 205-216. http://www.doi. org/10.14718/ACP.2020.23.2.9

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O Ódio que você semeia e o Racismo Estrutural

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“Ter coragem não quer dizer que você não esteja com medo. (…) Quer dizer que você segue em frente apesar de estar com medo”. Esta é uma das frases marcantes mencionadas no decorrer do longa “O ódio que você semeia” do diretor George Tillman Jr, baseado no livro da autora Angie Thomas. O filme retrata sobre os impactos do racismo através da história de Starr (Amandla Stenberg) que vê o seu amigo khalil (Alger Smith) ser assassinado por um policial que supôs que o jovem estava com uma arma, no entanto ele estava apenas com uma escova.

Partindo desse momento crucial do filme, a trama se desenvolve no confronto interno da jovem Star entre se entregar ao sentimento do medo, ou fazer aquilo que é correto. Em uma sociedade permeada pelo racismo estrutural, e por muitas vezes velado, evidenciar um filme como este é de uma grande importância, pois expõem uma realidade que ainda é vivenciada diariamente por diversas pessoas que por sua cor experiencia situações constrangedoras e por vezes humilhante, o que pode interferir diretamente na saúde mental desse grupo específico.

As pessoas alvo do racismo experimentam diariamente vários sintomas físicos e psicológicos causados ​​por estados permanentes de estresse emocional, angústia e ansiedade, bem como características transitórias de distúrbios comportamentais e de pensamento. Por fim, a exposição diária a situações humilhantes e constrangedoras desencadeia um processo caótico com muitos componentes psicológicos e emocionais 1.

Fonte: encurtador.com.br/dvKQY

A violência com que as autoridades policiais operam, repercute de forma direta na interrupção da vida de pessoas negras, pois em sua grande maioria a sua atuação é aliada à brutalidade direcionada em grande parte às pessoas negras pelo simples fato da pele da sua cor.

Segundo estudo da Fundação João Pinheiro em colaboração com o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), pessoas negras são quatro vezes mais propensas do que brancos a sofrer violência policial durante abordagem. Os pesquisadores traçaram o perfil dos envolvidos e determinaram que quase 7 das 10 pessoas abordadas pela polícia que foram mortas ou feridas eram negras. 36% dos mortos ou feridos pela polícia estavam desarmados. Em 65% dos casos, a vítima não atirou contra os policiais, que geralmente estavam mais presentes 2.

Atualmente a forma da abordagem policiais está sendo discutida de forma intensa, em decorrência de diversos casos de atuação violenta voltada às pessoas negras, tais como em casos como o de George Floyd, Breona Taylor e seu namorado, Kenneth Walker, o adolescente Guilherme Silva Guedes entre diversos outros casos ocorridos. Esses acontecimentos trágicos reforçaram os debates sobre o fenômeno do racismo e a discriminação institucional experimentada por uma das minorias que é a população negra.

Desse modo maiores discussões acerca da temática são necessárias, pois deve haver maior conscientização e compreensão de como o racismo funciona, a diversidade de suas manifestações e seu impacto nas pessoas. É importante estudar e reconhecer esse impacto para que as consequências da agressão racial não continuem sendo ignoradas, subestimadas e invisíveis.

Ficha Técnica

Título: O ódio que você semeia,  The Hate U Give (Original)

Ano produção: 2018

Dirigido por:  George Tillman Jr.

Estreia: 6 de dezembro de 2018

Duração: 132 minutos

Gênero:  Drama

Países de Origem: Estados Unidos da América

Referências

1 – FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. Violência contra população negra. Minas Gerais: Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), 2018.Disponível em: <http://www.fjp.gov.br/index.php/servicos/81-servicos-cei/70-violenciapoluçãonegral-nobrasil>. Acesso em: 20 de fevereiro de 2021.

2 – Damasceno, Marizete Gouveia e Zanello, Valeska M. Loyola Saúde Mental e Racismo Contra Negros: Produção Bibliográfica Brasileira dos Últimos Quinze Anos. Psicologia: Ciência e Profissão [online]. 2018, v. 38, n. 3 [Acessado 20 fevereiro 2022], pp. 450-464. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/1982-37030003262017>. ISSN 1982-3703. https://doi.org/10.1590/1982-37030003262017.

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O Empoderamento (invisível) feminino: a rotina de uma mãe solteira empreendedora

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Uma mulher que tem o árduo dever de criar e educar seus filhos sozinha, muitas vezes, não tem o devido reconhecimento de suas habilidades. Quando esta se arrisca, enfrenta as dificuldades e adversidades no campo empreendedor, seus feitos passam desapercebidos, mesmo que tenham impacto extremamente significativo na sociedade diante de suas contribuições.

Pensando nisto, o Portal (En)Cena entrevista Luciene Vieira Mota, mãe, recém formada em Pedagogia, e empreendedora, para que esta conte um pouco de sua experiência profissional e das dificuldades e sucessos adquiridos durante sua jornada como mulher.

(En)Cena – A Covid-19 alterou o modo de vida de quase toda humanidade. Medidas de restrição, uso de máscaras, dentre outras ordens para conter sua propagação e evitar, com isto, maiores prejuízos para a sociedade em geral. Quando iniciou a quarentena, qual era sua realidade familiar e profissional?

Luciene Mota: Então, sem dúvida que a Covid-19 modificou a vida e a rotina de todos (as) nós. Porém, a minha realidade diante da quarentena era: um contrato de auxiliar de sala no município, com data para finalizar, isso em 2020. Seria uma situação que expressava preocupação diante daquela realidade, e, para a minha surpresa tudo melhorou no âmbito profissional e financeiro, pois comece a dar aulas particulares e alfabetização.

(En)Cena – Sua profissão, pedagoga, é essencial para a sociedade, pois tem como finalidade o preparo das jovens mentes para o futuro. Você consegue descrever os principais desafios da sua profissão neste cenário pandêmico?

Luciene Mota: Bem, eu consigo descrever cada um dos meus desafios vividos. Porém, vou abreviar aqui o mais importante: desde quando decidi me tornar Pedagoga, foi um desafio atrás do outro. Cursar Pedagogia seria uma válvula de escape para ter trabalho como professora de educação infantil, na qual sempre me identifiquei. Então, com a pandemia montei uma sala para alfabetizar. No começo, não foi fácil, mas, aos poucos presenciei a mudança e amei o resultado da mesma. Redescobri-me como educadora e tive a plena certeza do que quero ser, Pedagoga, educadora, para fazer a diferença na vida das crianças e viver essa mesma diferença em minha vida.

Fonte: Acervo pessoal da entrevistada

(En)Cena – Para solucionar os problemas financeiros de uma mãe solo, como foi a forma que encontrou para ter renda com seu curso superior?

Luciene Mota: Montando a minha salinha de aula em minha residência, ao passo que ao mesmo tempo, faço meu papel de mãe, pai, dona de casa, mulher, empreendedora, pedagoga e etc.

(En)Cena – Quais são seus planos para o futuro, em que área (as) pretende atuar, e porque escolheu atuar na área da educação?

Luciene Mota: Meus planos para o futuro??…eu vejo a minha escolha e vejo a mesma sendo modelo de transformação no cenário da educação, e sem dúvida pretendo sim atual e me aperfeiçoar cada vez mais nessa área, por que foi a descoberta de um amor tão grande por ensinar, por aprender, por mudar e promover a mudança, e tudo isso é o que me faz seguir adiante, é minha base.

(En)Cena – Você acha que é possível ir além da sala de aula, além de outros papéis que desempenha como mãe, mulher, etc., e se engajar em estudos externos para se aperfeiçoar na docência?

Luciene Mota: Acho???…tenho a mais plena certeza que sim, que posso ser muitas coisas sem deixar de ser mãe, mulher, enfim. E, afirmo que busco todos os dias me aprimorar. E, assim como foi um desafio a escolha do tema do meu TCC pelo qual eu defendi com esplendor (Libras e inclusão social no ensino regular”), um desafio que deu certo e que me trouxe a certeza de que “sou capaz de fazer o que eu quiser”.

(En)Cena – Há algo a mais que você gostaria de dizer aos estudantes não só do curso que escolheu como de outras áreas? E, baseado em tudo o que você disse até aqui até onde pretende chegar com seus estudos?

Luciene Mota: O que eu gostaria de dizer para todos os estudantes é que tenham sonhos, que busquem à vontade, que saiam da sua zona de conforto, que lutem pela realização daquilo que querem e que aprendam sempre!

No momento, ainda estou fazendo uma pós na área da psicopedagogia. Mas, quero sim chegar no doutorado, e o principal motivo disso é desafiar-me cada vez mais e mais, sentir aquele frio na barriga, enfim, chegar ao título de Dra. Muito obrigada, Luciene Mota, “TIA LU”!

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Importância do trabalho multiprofissional em Psicologia da Saúde

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No âmbito da psicologia da saúde, deve haver um trabalho integrado, contínuo e compartilhado com toda equipe que faz parte do setor de saúde, seja nas áreas primárias de saúde como unidades básicas, Estratégia de Saúde da Família -ESF e Centro de Atenção Psicossocial-CAPS, ou em setores secundários (ambulatório e outras áreas), e em níveis terciários, como instituições hospitalares, centros de hemodiálise, UTIs etc.1

Mesmo que no contexto clínico a presença de uma equipe multidisciplinar não seja uma realidade tão vista, a presença dessa modalidade é fundamental na prática da psicologia da saúde, visto que pode ser uma das necessidades dos pacientes, pela requisição de um acompanhamento concomitante com outras especialidades, seja na área da psiquiatra, da nutrição ou quaisquer outras áreas. 1

Todo local de trabalho tem suas equipes e suas especificações na forma de atuação, um exemplo se refere a um hospital, que geralmente existe uma equipe com vários profissionais das mais diversas áreas, com cada setor com suas particularidades e forma de atuação. No entanto, quando se trabalha de forma multidisciplinar, o modelo de atuação deve ser realizado de forma coletiva, em prol de gerar benefícios para os pacientes, entendendo que o conceito de saúde é ampliado e dessa forma se transfere para o contexto da equipe multidisciplinar. ²

Quando se trata da atuação do profissional psicólogo(a) no contexto multidisciplinar, pode haver uma maior dificuldade em se tratando da interação desse profissional com as das demais áreas, resultante de uma carência na formação, que muitas vezes é de forma individualizada, baseada no modelo clínico em que a sua atuação ocorre apenas entre o (a) psicólogo(a) e o seu paciente. Em contrapartida entende-se que é necessário o trabalho de forma conjunta com todos os membros de uma equipe, através da discussão de casos bem como o planejamento na forma como se dará o tratamento dos usuários dos serviços de saúde. ²

A participação da psicologia nas equipes multiprofissionais vem ganhando destaque pela forma como o profissional atua nas diversas áreas da saúde, no entanto é necessário reafirmar a importância deste profissional nesse contexto, através de práticas e evidências que reforcem a importância desse profissional em quaisquer áreas de atuação da saúde, como parte fundamental da equipe multiprofissional. 1

REFERÊNCIAS

1- ALMEIDA, Raquel Ayres de; MALAGRIS, Lucia Emmanoel Novaes. A prática da psicologia da saúde. Rev. SBPH, Rio de Janeiro, v. 14, n. 2, p. 183-202, dez.  2011.Disponívelem<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-08582011000200012&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 12 fev.  2022.

2- Carvalho, Liliane Brandão, Bosi, Maria Lúcia M. e Freire, José Célio A prática do psicólogo em saúde coletiva: um estudo no município de Fortaleza (CE), Brasil. Psicologia: Ciência e Profissão [online]. 2009, v. 29, n. 1 [Acessado 12 fevereiro 2022], pp. 60-73. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S1414-98932009000100006>. Epub 19 Jun 2012. ISSN 1982-3703. https://doi.org/10.1590/S1414-98932009000100006.

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Relato de parto: desabafo de uma mãe, um relato da alma

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O parto é um dos momentos mais intensos que uma mulher pode vivenciar, o mix de sentimentos e sensações nunca poderá ser explicado ou simulado fidedignamente, mas a visão da futura mamãe sobre os detalhes deste momento tão mágico e intenso podem ser descritas com palavras em um relato como este que se faz a seguir.

Resolvi escrever um pouco da minha experiência com o meu parto, pois são poucas as gestantes que tem acesso a esse tipo de informação. Eu mesma não fazia ideia da dor que passaria naquele momento.

Então, dia 18 de fevereiro de 2021, estava em minha residência, muito cansada, a barriga já era tão grande e pesada que eu mal saía da cama. Estava esperando meu esposo chegar do trabalho. Quando ele chegou, pedi que me ajudasse com alguns exercícios para ajudar o bebê encaixar e eu ter um parto tranquilo. Nós dançamos, fizemos agachamento e brincamos, foi muito bom!

Durante a madrugada eu não dormi, senti muitas dores, contrações e falta de ar, pois no final da gestação não se acha posição para dormir.

Fonte: encurtador.com.br/DERW4

Por estarmos iniciando nossa vida como casal, eu e meu marido não tivemos condições de contratar uma doula na busca de orientação, o que não me impediu de estudar o máximo que pude, devorei o máximo de livros, artigos científicos, além de acompanhar diversos profissionais especializados.

Às 06h20minh da manhã do dia seguinte (dia 19/02/21), eu levantei para ir ao banheiro urinar, então notei que desceu um líquido mais forte que o de costume, mas foi muito rápido não dei muita bola.

Fui até a cozinha beber um pouco de água na intenção de voltar para o quarto e tentar dormir um pouco, no entanto, no caminho do banheiro até a cozinha desceu mais líquido sem eu conseguir segurar.

Foi aí que eu soube que era a bolsa que havia estourado, fui até meu esposo (Alcides), o acordei e lhe comuniquei o ocorrido. Então, fui tomar banho e ele foi se arrumar, não sabíamos se era alarme falso. Pegamos tudo e fomos para a maternidade, no Hospital e Maternidade Dona Regina de Palmas. Chegando lá, às 07h08minh dei entrada para fazer os exames e descobrir se era mesmo a bolsa que havia estourado. Até esse momento eu ainda estava tranquila, sem sentir dores nem nada, somente o líquido descendo.

Dei entrada na maternidade sozinha, pois não estavam permitindo acompanhante devido a atual situação de Covid-19. O que já foi uma violência, pois pela lei, temos o direito a um acompanhante desde a entrada à maternidade.

Fonte: encurtador.com.br/htOPW

Até às 11h da manhã estava tudo bem, não senti nada mais que algumas leves contrações, estava com um cm de dilatação apenas. Então, segui fazendo exercícios como, dançar, caminhar e fazer agachamentos pelo hospital, na esperança de que dilatasse mais, pois tinha muito receio de precisar fazer uma cesariana, por mais que soubesse que o parto natural é doloroso, eu sempre quis e não me arrependo, e continuei sozinha.

Por volta das 15:00h desse dia, eu comecei a sentir as contrações de fato. “Meu Deus, como dói”, parecia que uma pessoa de 150kg pulava com toda força nas minhas costas.

Lá estava eu, que apenas com a ajuda das gestantes que estavam comigo, também sem acompanhantes, todas nos sentindo solitárias, eu nem se fala, quem me conhece sabe que há alguns anos venho tratando de caso de depressão, e como estava me sentindo só nesse momento, esse quadro piorou muito, precisei ir ver o psicólogo do hospital que só às 17:00h da tarde conseguiu autorizar para que eu pudesse ter um acompanhante.

Mesmo após está com essa autorização, meu esposo não pôde entrar devido ao fato de eu estar à espera de uma vaga no PPI (Pré-parto induzido). E, como eu estava a 10 horas soltando líquido e nada de dilatar, precisei ir para essa sala para induzirem o parto para que eu conseguisse alcançar a dilatação com ajuda de remédio.

Às 20:00h do dia 19, conseguiram uma vaga para mim nessa sala, e lá fui eu sozinha novamente. Como lá só tinha mulheres, não podia ter acompanhante homem no local. Mas eu sentia tanta dor que já estava fora de mim, não sabia que horas eram, o médico que estava fazendo o exame de toque foi extremamente invasivo, uma das piores sensações que tive, de ser invadida, foi horrível e muito doloroso, só aí já sofri com a falta de acompanhante e o excesso de exames de toques sem necessidade e com violência.

Às 23:00h mais ou menos não me recordo bem, penso que pelo fato de já ter sofrido tanto, segundo meu relatou meu esposo, foi que liberam sua entrada para me acompanhar. Nesse intervalo, eu caí tentando ir ao banheiro, e daí por diante, não me deixaram mais levantar da cama, pois não tinha mais forças nas pernas para nada, só sentia dor e muita dor o tempo todo.

Meu esposo conseguiu cronometrar minhas contrações e me ajudava segurando na minha mão para que eu pudesse apertá-lo no momento das dores. Umas 3:00h eu não lembro bem, comecei a dilatar sem ajuda dos comprimidos que me deram, então me levaram para outra sala (a de pré-parto), onde eu só poderia ir depois que tivesse com 6cm de dilatação. Fui levada de cadeira de rodas pois não conseguia mais ficar em pé.

Na sala de parto, me lembro de ter ficado em uma maca que desmontava, então sempre que as contrações vinham eu derrubava um pedaço da cama por não conseguir me apoiar em lugar algum para fazer a força de parir.

Eu não faço ideia de quantos médicos foram até mim, impossível recordar depois de tanto sofrimento. Mas, lembro que próximo das 6 horas, na manhã do dia 20, uma médica veio e me disse que eu estava na posição errada e fazendo a força errada que daquela forma não iria conseguir fazer o neném sair. Hoje, paro penso e me pergunto: porque antes dela nenhum profissional ou médico não me orientaram ou me ensinaram?

Enfim, logo após o que essa médica me ensinou, aí sim foi muito bom, pois eu senti que conseguiria, porém, não tinha mais forças devido estar fazendo esforço há muitas horas e de maneira errada (como ela falou), aí vieram e aplicaram uma injeção de força (oxitocina).

Às 7:08h do dia 20, o Theodoro nasceu, de parto natural, e eu posso afirmar que quando ele saiu não doeu!

Definitivamente, depois que me ensinaram a maneira correta de fazer força e a posição, não doeu mais. Quando o neném saiu, colocaram-no em cima de mim, mas ele não estava chorando, eu fiquei com medo, daí alguns segundos depois ele chorou e o pediatra levou-o juntamente com meu esposo para fazer os exames de praxe.

Fonte: encurtador.com.br/lBLY2

Após o nascimento do Theodoro, quando o trouxeram eu não senti muita coisa, eu não estava entendendo o que aconteceu, não acreditava que tinha dado à luz a uma criança minha, pensei que a partir daquele momento ela iria precisar de mim e me perguntava, como eu faria para cuidar desse ser que eu nunca tinha visto da vida? A maternidade, a gestação são muito romantizadas, não acredito em amor à primeira vista, acho que isso não existe. Eu o amava, mas não foi aquilo tudo o que dizem quando nasce. Eu queria protegê-lo de todo mal, mas, não senti amor incondicional por ele assim que saiu de dentro de mim.

Por fim, sobre o parto, meu filho Theodoro nasceu às 7:08 do dia 20/02/2021, após 30 minutos do seu nascimento, logo já consegui ficar de pé, e fui tomar banho.

Confesso que sofri muito pela falta de atenção da maternidade, dos profissionais, pela falta de um acompanhante, e não pelo parto em si.

Não me arrependo de ter optado pelo parto normal, minha recuperação foi muito tranquila, não tive nenhuma intercorrência, somente o Theodoro devido ter ficado quase 24h com a bolsa estourada que como consequência disso, ele contraiu uma bactéria e precisou ficar sete dias internado tomando antibiótico na veia, fora isso, depois de tudo, graças a Deus ficamos bem.

Esse foi um breve resumo do meu relato de parto, meu nome é Yrranna Stefanny Martins Santos, casada com Dr. Alcides Ferreira (Advogado), mãe do Theodoro com muito orgulho.

Fonte: Acervo pessoal da entrevistada
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A família Mitchell e a revolta das máquinas: o uso desenfreado de psicofármacos no trânsito

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O filme nos apresenta de uma maneira extremamente original a maneira como lidamos com o mundo que nos cerca quase que propriamente acelerado e avassalador. A medicalização no trânsito reflete parte desse processo, ao analisarmos os avanços científicos das indústrias farmacêuticas na estabilização emocional, desde aspectos de ansiedade, estresse e insegurança à aspectos relacionados à agressividade humana.

Os aspectos sociais no mundo moderno envolvem inclusive a utilização de psicofármacos na busca por estimularem positivamente suas condutas, desde o seio familiar ao âmbito social. O ser humano no mundo moderno está cada vez mais sujeito ao uso de psicofármacos, sendo que para muitos, estas tidos como problemáticos são acometidos por transtornos que são descritos a partir das suas atitudes ou rendimento pessoal e social.

Fonte: encurtador.com.br/swY89

O filme traz uma revolta de máquinas, mas assimila-se à revolta medicamentosa que vivemos atualmente. Xavier et al (2014) destaca que:

O uso racional de medicamentos permite aos pacientes receber a medicação adequada às suas necessidades clínicas, nas doses correspondentes aos seus requisitos individuais, durante período e tempo adequados, ao menor custo possível para eles e para a comunidade. Ainda menciona que a utilização regular dos psicofármacos representa um dos maiores desafios no tratamento das pessoas com transtornos mentais, as causas da rejeição à medicação variam de acordo com as singularidades dos indivíduos, mas, frequentemente, devem-se aos efeitos colaterais desagradáveis, que afetam vários aspectos da vida pessoal, ou a não aceitação do uso diário destes fármacos, por um período prolongado de tempo.

Rocha e Werlang (2013) ressaltam que a utilização de psicofármacos tem aumentado nas últimas décadas, e este crescimento pode ser atribuído à maior frequência de diagnósticos de transtornos psiquiátricos na população, à introdução de novos medicamentos no mercado farmacêutico e às novas indicações terapêuticas dos psicofármacos já existentes.

Fonte: encurtador.com.br/dyMW5

O crescente uso de psicofármacos no mundo moderno está ligado diretamente aos diversos diagnósticos de transtornos psiquiátricos criados na atualidade, objetivando compreender e explicar parte dos comportamentos tidos como inadequados pela sociedade. Ambos ainda citam que os psicofármacos, assim como todos os medicamentos, devem ser utilizados de uma forma racional, tendo em vista que podem produzir diversos efeitos adversos, causar dependência e o seu uso prolongado pode gerar diversos problemas à saúde da população.

Rosa e Winograd (2011, p.2) mencionam em seus achados que a medicalização do mal-estar é uma realidade efetiva, atual e crescente, que se expande, inclusive, para campos diversos do médico-científico. Ao oferecerem produtos que prometem alívio ou melhoramento de estilo ou condição de vida, diversos meios de comunicação, tais como a literatura e os programas de televisão, funcionam como verdadeiros manuais de autoajuda, atendendo a uma crescente demanda de cuidado para cada sofrimento ao qual podemos estar submetidos.

A medicalização no mundo moderno está inserida em um contexto amplamente capitalista onde a singularidade do indivíduo é deixada em segundo plano, relevando-se a necessidade de expandir ligeiramente a indústria farmacêutica, tornando o indivíduo um ser dependente da medicalização, consequentemente, de uma forma quase irônica, gerando uma receita financeira dentro do quadro de conduta e sanidade humana.

Referências:

Rocha, B.S; Werlang, M.C (2013). Psicofármacos na estratégia saúde da família: Perfil de utilização, acesso e estratégias para a promoção do uso racional. Porto Alegre- RS

Rosa, B.P.G.D; Winograd, M.(2011). Palavras e Pílulas: Sobre a medicalização do mal estar psíquico na atualidade. Rio de Janeiro-RJ.

Xavier, L.; Galera, S.A.F (2014). Adesão ao tratamento psicofarmacológico. Ribeirão Preto- Sp.

FICHA TÉCNICA:

A FAMÍLIA MITCHELL E A REVOLTA DAS MÁQUINAS

Título: The Mitchells vs. The Machines

Distribuidora Original Netflix

Ano produção: 2021

Dirigido por: Jeff Rowe – Michael Rianda

Gênero: Animação – Aventura

País de Origem: Estados Unidos da América

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A ida ao céu de Dona Terezinha

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Especificamente no ano de 1954, morava em uma cidade no interior do Tocantins uma senhora de meia idade conhecida como Dona Terezinha, entre 60 a 65 anos, que era bastante devota em sua fé e religião. Todos do seu bairro reconheciam que era muito fervorosa nas programações da igreja que frequentava. Ela ia constantemente a uma igreja evangélica, um dos ramos do protestantismo e que contemporaneamente se denominava “crente evangélica”. Depois de ter feito mais uma de seus vários pedidos repetindo o mesmo desejo, que era de conhecer o céu como ele realmente é, em uma visão, naquela manhã, ela passou por uma experiência sobrenatural semelhante concretizando seu desejo.

 Dona Terezinha desde muito pequena foi muito devota e fervorosa aos preceitos cristãos, de tal modo que abdicou de muitos prazeres mundanos, profanos e vãos porque segundo ela, era tudo vaidade. Contudo, ao mesmo tempo, no auge da sua terceira idade, acreditava que se morresse e não tivesse de fato céu, inferno, ou alguma realidade após sua morte, viveria com um eterno arrependimento dentro de si. 

Fonte: Freepik

Dessa forma, começou a pedir várias e várias vezes o mesmo pedido: enxergar o céu como ele, conhecê-lo por dentro para verificar de que sua vida e sacrifícios não foram em vão. Quando ela começa a pensar de que tudo aquilo que viveu e que se abdicou por causa da sua fé, e que se tudo for enganoso, ela sente uma tremenda angústia, uma dor no peito profunda e muita tristeza.

 Mas logo converte seus pensamentos imaginando como seria o céu descrito exatamente como está na bíblia sagrada. Dona Terezinha, em mais um dia rotineiro de orações e preces dentro da igreja sozinha por volta da metade da manhã, após terminar, sentiu uma leve tontura e fraqueza em seu corpo. Depois de alguns segundos em pé, ela instantaneamente desmaia e tudo em sua volta se torna um breu. Em seguida, um feixe de luz branca radiante começa a vir em sua direção de forma intensa. 

Ela tenta acordar, levantar, se despertar, mas não consegue. Seu corpo fica petrificado, estirado ao chão, e enfim começa a receber a visão de que tanto esperava e pedia. Um anjo robusto, jovem, e alto, com cabelos encaracolados e pretos, e com um par de asas enorme, surge diante dela e estende a mão. Em seguida, pergunta se ela realmente quer ver o céu como ele é. Ela disse que sim com a cabeça pois fica perplexa com tanta beleza, com o que está acontecendo em sua volta e com aquela realidade paralela.

O anjo pede para o acompanhar e ela segue rente atrás dele. Quanto mais eles se aproximam de uma saída estreita, mais a luz se intensifica, mas em nenhum momento chega a incomodar sua visão, e ela se surpreende com isso. Em seguida, eles adentram em um lugar vasto, verdejante, com pássaros, rios com águas cristalinas, animais de todas as espécies e tamanhos, árvores de todos os tipos. Uma rica fauna e flora em seu perfeito estado natural como nunca tinha visto antes. 

Em seguida, fica perplexa e maravilhada com tanta beleza e formosura. Pergunta discretamente ao anjo se aquele lugar tem outras pessoas e ele aponta para um grupo que estava sentado no chão, rindo e cantarolando na mais perfeita harmonia. Depois, o anjo pede para ela o acompanhar e ambos começam a conhecer o céu. Passeia sobre ruas feitas de ouro e marfim, além de ter em vários lugares pedras preciosas que refletiam um brilho intenso e puro. Dona Terezinha ficava cada vez mais encantada e embasbacada por cada detalhe. 

Fonte: Freepik

Após feita a apresentação, o anjo afirma naturalmente que ela pode se sentir à vontade para se unir ao grupo de pessoas que estavam próximo a um bosque, rindo e cantarolando. Ela inocentemente, sem entender, perguntou se não iria voltar a sua igreja e casa novamente. O anjo respondeu dizendo que para conhecer o céu, você precisa estar morto. E foi exatamente o que ela pediu há muito tempo. Agora não poderia mais voltar. Ela apenas se conforma, e segue em direção ao grupo. Seu coração ficou extremamente aliviado por saber que nada foi em vão. Fim. 

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O mito de Sísifo e o desenho “Tom e Jerry”

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O desenho animado conhecido por Tom e Jerry criado no ano de 1940 basicamente apresenta um gato, chamado Tom e Jerry que é o rato no qual ambos armam armadilhas e ciladas entre os dois, pois o gato sustenta uma insaciável perseguição contra o rato. O desenho começou apresentado em cores preto e branco, e atraiu um extenso público de telespectadores por ser mudo, emitindo sons e ruídos de onomatopeia, o que traz mais humor ao enredo. Ao decorrer da evolução das artes visuais e digitais, o desenho passou a ser colorido e expandindo cada vez mais seus espectadores. 

Fonte: Divulgação/ HBOMax

 

É sabido que a perseguição entre o gato e o rato é de ordem natural na biologia, pois ambos fazem parte da cadeia alimentar um do outro. Dessa forma, as peripécias que cada um trama contra o outro é que contém a trama do desenho. Ambientado majoritariamente em ambientes urbanos, os ocorridos apresentam um desfecho no qual o gato nunca consegue capturar esse rato especificamente. 

Fonte: Divulgação/ HBOMax

 

Por meio disso, pode-se fazer um paralelo com o mito de Sísifo, no qual como castigo carrega uma pedra gigante do início de uma subida até o seu final e então a pedra rola da subida ao início e novamente ele irá efetuar a carga incessamente. Caso o Tom capturasse o Jerry, o desenho enfim teria um final e não faria mais sentido continuar com a animação. Logo, assim como esse mito, o desenho para fazer sentido precisa continuar com essa trama específica: capturar o rato Jerry incansavelmente. 

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