Elke Maravilha: o legado da mulher multifacetada

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Muitas pessoas conhecem o seu nome, o seu rosto e sua estética exagerada digna de ser chamada de drag queen, mas quem de fato foi essa mulher multifacetada, com uma filosofia de vida e sabedoria invejáveis?

Elke com seu acervo de objetos [Imagem: Divulgação/Guillermo Giansanti].

Filha de um pai russo e mãe alemã, Elke Grünupp nasceu em 1945 na Alemanha, apesar de sempre ter alegado ter nascido na Rússia. Fugindo com seus pais da pobreza causada pela Segunda Guerra Mundial, mudou-se para o Brasil aos 6 anos, onde sua família se dedicou ao cultivo de plantas para o sustento da família.

Foi professora, atriz, modelo, cursou cadeiras nos cursos de filosofia, medicina e letras, se formando como tradutora e intérprete de línguas estrangeiras. Era fluente em 8 idiomas e possuia um vasto conhecimento sobre filosofia e cultura, sendo uma verdadeira obra ambulante, tanto esteticamente quanto pelo seu conteúdo. Muitos se chocavam com a extravagância de suas maquiagens e roupas, comparando seu estilo com as de drag queens, mas se chocavam ainda mais com a suas reflexões sobre o mundo e o seu espírito livre e resiliente, se tornando uma das figuras mais simbólicas da cultura pop e das grandes lutas por direitos em sua época.

Elke era o tipo de mulher que não temia. Vivia de forma plena, cheia de significados, afetos, ponderações e, acima de tudo, uma relação verdadeiramente sagrada com a natureza e o universo, sem se submeter ou temer o julgamento dos outros. Muitos de nós teríamos sorte de ser 1% da pessoa incrivelmente sábia e resiliente que Elke foi, ou de ter vivido 1% dessa vida carregada de significado e simbolismos que ela viveu. Ela era politeísta, e constantemente falava que sua religião era a natureza.

Elke possuía grandes críticas sobre os papéis de gênero e reflexões étnicas, sendo uma ativista presente em diversas (se não todas) pautas da época. Ela chegava a dizer por exemplo que se negava a ser chamada de mulher, pois entendia que os homens são colocados como melhores, sempre. E isso gerou tanta angústia que ela decidiu quebrar todo tipo de expectativa que tinham sobre ela. Elke não era mulher – era pessoa, como ela já dizia. Era à frente de seu tempo, chegando até a celebrar e realizar um casamento homoafetivo em seu programa de tv no ano de 1993, muito antes de sequer imaginarmos a legalização de tal.

Morou em diversos países, passou por 8 casamentos com homens de diversas nacionalidades, e fez 3 abortos após ter sido enganada por maridos que queriam ser pais, mostrando que apesar de seu jeito rebelde e diferente de ser, ela possuia uma noção sobre a grande responsabilidade de ser mãe, um papel que ela nunca quis cumprir.

Elke foi o tipo de pessoa que, quando lemos sobre, nos aprofundamos sobre, apenas pensamos sobre como de fato ela cumpriu sua missão na terra. Sua história de vida, sua sabedoria, a riqueza cultural imbuída em seu ser foram seu grande e maior legado. Não há textos, livros ou documentários que consigam mensurar a grandiosidade de Elke, uma verdadeira bruxa natural, símbolo de resistência, luta, resiliência e paz, o verdadeiro significado de viver uma vida plena.

Mais Informações:

https://g1.globo.com/pop-arte/musica/blog/mauro-ferreira/post/2024/11/23/elke-maravilha-tem-militancia-identitaria-investigada-em-livro-que-vai-alem-das-perucas-saltos-e-batons-da-artista.ghtml

https://pt.wikipedia.org/wiki/Elke_Maravilha

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Aprovados: um besteirol americano que revela a pressão dos adolescentes para o ensino superior

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“Aprovados” é uma comédia americana de 2006 que gira em torno de um grupo de estudantes do ensino médio que, após serem rejeitados por diversas universidades, decidem criar uma instituição de ensino fictícia para enganar os pais e se livrarem de possíveis castigos e humilhações entre seus pares. Apesar do filme ser de comédia e trazer diversas temáticas diferentes, ela também me levou a refletir sobre os papéis que nos são dados desde a infância: o que devemos ser, quando ser, de que forma, para quem, e por aí vai. 

Em 2023, foi realizada uma pesquisa no Brasil que apontou um nível preocupante de ansiedade entre os jovens de 18 à 24 anos, faixa etária que geralmente está em busca de aprovação em uma instituição de ensino superior (o que não é mera coincidência). Os dados dizem que 31,6 % dessa população é ansiosa, sendo líder dentre todas as faixas etárias no Brasil, dado que é confirmado por educadores e professores. 

Segundo o Hospital Oswaldo Cruz, o estresse decorrente do processo de aplicação nas universidades pode impactar diversas áreas do corpo, afetando cabelos, unhas, boca, dentes e cérebro. Ele também pode prejudicar a memória e enfraquecer o sistema imunológico. No cérebro, o estresse pode levar a mudanças funcionais e no tamanho do hipocampo, que é a parte responsável pela memória, devido ao aumento dos hormônios do estresse, como o cortisol.

O grupo de amigos que protagonizam o filme “Aprovados” são jovens, todos recém formados do ensino médio (que por si só já é uma conquista muitas vezes não reconhecida), e que, apesar da filósofa Hannah Arendt ter afirmado que o ser humano é de infinitas possibilidades, passíveis de transformações e adaptações, ainda somos encurralados com expectativas limitantes sobre quem devemos ser. Em determinado momento, eles são descobertos e são levados à justiça, mas conseguem comprovar que, apesar de terem iniciado como algo “falso”, estabeleceram um senso de pertencimento e comunidade, além de terem adquirido conhecimentos práticos.

O filme “Aprovados” não se passa no Brasil, nem é habituado no ano de 2025, mas é a realidade de muitos jovens que se veem pressionados a entrarem na faculdade assim que finalizam o ensino médio, uma realidade onde o valor e esforço do jovem em processo de aprendizado é medido por quantas e quais aprovações ele recebe por instituições de ensino superior. A pressão é tão nauseante que muitos acreditam de fato que sair do ensino médio sem aprovações significa um fracasso descomunal que determina que tipo de adulto ele será. Não ser aprovado de imediato virou sinônimo de fim do caminho, não há futuro, não há plano B, não há alternativas de carreira ou percurso.

APROVADOS

Diretor: Steve Pink

Elenco: Justin Long, Adam Herschman, Jonah Hill, Blake Lively

Gênero: Comédia

Ano: 2006

MAIS INFORMAÇÕES 

https://www.cnnbrasil.com.br/saude/mais-de-26-dos-brasileiros-tem-diagnostico-de-ansiedade-diz-estudo/#:~:text=Um%20terço%20(31%2C6%25),mulheres%20(34%2C2%25).

https://www.hospitaloswaldocruz.org.br/imprensa/releases/pressao-pre-vestibular-pode-afetar-saude-e-bem-estar-dos-estudantes/

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(En)Cena promove roda de conversa sobre desafios e afetos em famílias com pessoas dependentes

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O evento recebe o professor e mestre James Stefison, que é enfermeiro e gestor em aprendizagem.

No próximo dia primeiro, sexta-feira, o Portal (En)Cena irá realizar a roda de conversa “Laços de Cuidado: Afetos e Desafios em Famílias com Pessoas Dependentes”. O evento ocorrerá às 19 horas no miniauditório 543, e contará com a presença da psicóloga e professora da Ulbra Palmas, Isaura Rossatto, e do enfermeiro e gestor de aprendizagem James Stefison Sousa. Ambos compartilham de experiências e conhecimento na área.

O encontro parte de uma necessidade de abordar e promover espaços de discussão sobre a temática, em vista que as difíceis experiências muitas vezes são silenciadas e pouco compartilhadas na sociedade. Os convidados devem abordar a experiência do cuidado com pessoas dependentes dentro da família, destacando os processos afetuosos e os possíveis desafios.

A roda de conversa ocorrerá como parte dos eventos de divulgação do Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia – CAOS 2025, que está previsto para o mês de fevereiro do próximo ano. Os eventos Pré-CAOS acontecem ao longo do mês de novembro, e irão abordar os laços familiares em diversos contextos, bem como seus efeitos.

O lançamento do CAOS 2025 acontecerá na noite do dia 07/11, durante os Diálogos Clínicos. O evento, organizado pela Clínica Escola de Psicologia da Ulbra Palmas (SEPSI), promove a discussão de um caso clínico pelos acadêmicos estagiários de diferentes linhas teóricas e abordagens.

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Como potencializar seus estudos por meio das redes sociais

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Mídias sociais têm sido utilizadas como ferramentas para auxiliar no processo de aprendizagem e de desenvolvimento de novas habilidades.

Quando pensamos em educação e no desenvolvimento de novas habilidades, muitas pessoas associam esses processos a modelos tradicionais de ensino, às vezes sem saber que o mesmo smartphone ou computador que eles usam para a comunicação e entretenimento pode também ser utilizado para potencializar seus estudos e desenvolver novas habilidades. Essa ideia tem sofrido desconstruções nos últimos anos devido ao contexto global de pandemia, quando profissionais da educação e alunos precisaram adaptar-se e transformar o único meio de comunicação viável em ferramenta de estudo e aprendizado: a internet.

Durante a pandemia, uma das ferramentas mais utilizadas para a facilitação do ensino a longa distância foi o Google Classroom, que permite que os professores postem atividades, entrem em contato com seus alunos, além de anexar documentos e outros materiais como vídeos do YouTube, entre outros. Com uma interface intuitiva, o Google Classroom possibilitou que pessoas em diferentes faixas etárias pudessem continuar seus estudos e processos de aprendizagem mesmo em um contexto complexo de pandemia global.

Fonte: Google

Entrando em outros saberes, a plataforma social Twitch oferece o contato entre “streamers” e seu público-alvo. Os streamers são aqueles que iniciam um vídeo ao vivo, e apesar da plataforma ser majoritariamente composta por conteúdos de jogos digitais, muitos streamers focam em passar seus conhecimentos de arte, música, e até gastronomia para seu público. Ao iniciar uma gravação ao vivo, o streamer é capaz de realizar um passo a passo com seu público e ensinando técnicas únicas que foram aprendidas ou desenvolvidas ao longo dos anos, transmitindo seus conhecimentos para iniciantes e aspirantes.

Outras plataformas sociais que têm feito sucesso são aquelas que possuem o objetivo de ensinar outras línguas a partir de conversas em tempo real com pessoas nativas, trazendo uma aproximação de quem aprende para contextos reais e mais possíveis de acontecerem em uma determinada cultura ou população. Algumas das redes sociais mais famosas para tais fins são: Duolingo, Cambly, Tandem, Preply, Open English, entre outras. Além disso, muitos usuários de redes sociais acabam entrando em contato com pessoas de outras nacionalidades e ao fazer amizades virtualmente, praticam suas habilidades de comunicação e idiomas a partir de tal correspondência, trocando experiências e conhecimentos sobre suas culturas, costumes, gírias e idiomas.

Atualmente, o Instagram também tem sido uma grande ferramenta para professores, mentores, e outros profissionais, divulguem e realizem cursos para seu público-alvo. Em sua maioria, o Instagram é uma forma de divulgação, contato inicial e breve introdução ao que será ensinado em seus cursos, e após efetuação de pagamento ou demonstração de interesse, migram para outra plataforma que eles possuem maior habilidade e contato com seu público, passando um filtro em quem de fato quer aprender e os adicionando em grupos de Telegram ou Whatsapp por exemplo para receberem aulas e dicas de forma exclusiva.

Outra ferramenta que tem sido bastante utilizada por professores e alunos, é o ChatGPT, uma plataforma que utiliza inteligência artificial. A ferramenta funciona a partir das interações dos usuários com a I.A., que acumula dados coletados e aprende cada vez mais de forma mais profunda sobre diversos assuntos diferentes, sendo utilizada para corrigir textos e explorar novas ideias, entre outras funções. Ela responde às demandas dos usuários de forma direta e objetiva, otimizando o trabalho de quem a utiliza e aumentando a produtividade.

Finalmente, apesar dos riscos que algumas tecnologias e mídias possam ter e suas influências negativas, também é possível transformar tais plataformas para outras finalidades de fatores positivos para seus usuários.

Referências

AFONSO, Lucas. Novas ferramentas digitais para professores. Disponível em: <link>

FIA, Business School. ChatGPT: o que é, como funciona e dicas para usar a ferramenta. Disponível em :<link>

POLIEDRO, Colégio. Tecnologia na educação: como as ferramentas digitais são utilizadas nas escolas? Disponível em: <link>

KENAN, Jamia. 15 ways to use social media for education. Atlanta-GA. Disponível em: <link>

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A busca de “Drácula” pela modernidade e o amor eterno

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Uma das obras mais importantes da literatura gótica é “Drácula”, publicado em 1897 pelo autor irlandês Bram Stoker, que narra a história de um romance trágico e a busca incessante do vampiro Drácula por poder e vingança. A trama se desenrola em duas localidades, Transilvânia e Londres, sendo a última uma grande potência mundial na época. Drácula é um vampiro estudioso, metódico e estrategista de guerra, que busca deixar de lado a antiga Valáquia e dominar o mundo, começando pelo grande centro econômico que Londres era.

Durante a narrativa, o advogado Jonathan Harker é encarregado de ir até a Transilvânia para convencer o conde a obter terras em Londres, enquanto isso Drácula estudava a língua inglesa por meio de Jonathan, com o objetivo de aprender mais sobre o local em que planeja se estabelecer e dominar.

Por um acaso do destino, o conde se depara com uma foto da noiva de Jonathan, Mina, que possui uma semelhança assustadora com sua falecida amada, morte a qual o levou a loucura e o tornou no temível conde Drácula. Tal acontecimento leva a uma mudança de planos de Drácula, o que aos poucos o advogado Jonathan percebe e teme, mas ainda sem saber sobre a verdadeira natureza do conde.

Com muitas voltas e reviravoltas, o conde consegue chegar a Londres e finalmente ir ao encontro de Mina, que naturalmente não o reconhece, mas que se vê seduzida pelo hipnótico príncipe da noite. Em muitos momentos da narrativa, é natural que os leitores vejam Drácula como um temível vilão que busca poder e dominação, o que apesar de não ser uma mentira, é apenas uma faceta das várias outras do personagem, que “atravessou os oceanos dos tempos” para encontrar novamente sua amada.

É interessante pensar nesta dualidade do Drácula como uma analogia a nossa existência e a realidade atual que enfrentamos, em que desejamos desesperadamente sermos amados e experimentar o amor. À mesma medida que as relações se tornam mais distantes em função da ganância, lucro, poder, e uma exaustiva luta por reconhecimento no mundo capitalista. Seria essa dualidade o que nos levará a ruína de não possuir nada? O que faremos das dores da solidão em meio a conquistas materiais e de poder hierárquico? Como podemos buscar o amor em uma sociedade de lógica competitiva, em que amar é uma fraqueza?

Drácula não conseguiu resgatar o amor que perdeu, talvez por operar dentro de uma lógica de domínio e poder, o que vai de enfrentamento com o amor real. Talvez o conde apenas desejava possuir Mina, sem ao menos considerar os desejos de seu coração.  É irônico que o amor intenso e desesperador que o levou a sua maldição, também se tornaria o amor inalcançável que o destruiu, pois diferentemente do conde, Jonathan Harker amou verdadeiramente Mina, mesmo quando cegada e tomada pelas trevas.

 

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A queda do Twitter e seus impactos nas comunidades virtuais

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A plataforma online Twitter foi fundada em 2006 na Califórnia, EUA, e era conhecida por seus memes, discussões e brigas virtuais, fofocas, fake news, e muito mais. Infelizmente a plataforma sofreu diversas modificações no decorrer dos anos, onde a maior das mudanças foi a venda da plataforma para o bilionário Elon Musk. A partir da venda que ocorreu em 2022, a rede social tornou-se cada vez mais populada por usuários com discursos repletos de ódio e preconceito, e a garantia que não seriam punidos pelo novo CEO da plataforma.

Esse foi o início de uma cadeia de reações, a internet dividida em suas opiniões e sem saber qual seria o destino da rede social. O clima se tornava cada vez mais pesado, já que a rede social era utilizada por muitos como um espaço pessoal, um local seguro para desabafar sobre o seu dia a dia e entrar em contato com outras comunidades e pessoas – e isso parecia não ser mais possível. Apesar de todas as mudanças que Elon Musk realizou na plataforma, deixando parte dos usuários insatisfeitos, a rede social ainda era popular, especialmente entre jovens.

À medida que mudanças eram implementadas, os posts que atingiam maior público eram em sua maioria robôs e spam, o que estava enfurecendo o público da rede social, que aos poucos migraram para outras plataformas sob o discurso de que “o twitter morreu faz tempo”. No entanto, foi a recente polêmica da plataforma (que agora assume o nome de “X”) que gerou repercussões na internet devido à falta de vigilância por parte de Elon Musk, que se recusava a restringir publicações com informações falsas. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) do Brasil, Alexandre de Moraes tentou persuadir Elon, já que o funcionamento e políticas da plataforma iam contra as leis do Brasil – o que Elon recusou a modificar.

Com a recusa de Elon, o ministro Alexandre de Moraes suspendeu as atividades da plataforma no Brasil, o que apesar de ter gerado burburinho entre internautas, já era algo esperado de acontecer eventualmente. Com a decisão de Alexandre, alguns usuários se viram passando por uma “desintoxicação” e desespero diante a possibilidade de estar isolado do resto do mundo devido a popularidade da plataforma, recorrendo a tentativa de adaptarem-se a outras redes sociais que possuem funções semelhantes – sem nenhum sucesso. Muitos relatam que seus perfis eram antigos, comparando com a “destruição da biblioteca de Alexandria”, além de temerem não conseguir manter contato com as amizades previamente feitas pela rede social.

Já não é de se estranhar que existam especialistas que se preocupam com os efeitos das redes sociais em geral, apontando que muitos usuários possam estar vivenciando a síndrome de “FOMO” (Fear Of Missing Out), que pode ser traduzida de modo literal como “medo de perder”. O FOMO seria o medo de perder atualizações ou notícias, sendo uma forma de ansiedade gerada pelo uso constante de mídias sociais.

Para finalizar, é importante sinalizar que outros internautas relatam estarem contentes com o fim das atividades no Brasil, relatando que a plataforma já não era mais um espaço seguro, além de não conseguirem se desvencilhar da rede social devido ao uso diário.  Alguns usuários já esperam que Elon se readapte e aplique as modificações necessárias para que ela volte a funcionar no país, o que pode vir a ser realidade, já que o número de usuários brasileiros faz uma grande diferença para o CEO.

 

Referências: 

MOURA, Débora Ferreira et al . Fear of missing out (FoMO), mídias sociais e ansiedade: Uma revisão sistemática. Psicol. Conoc. Soc.,  Montevideo ,  v. 11, n. 3, p. 99-114,    2021 .   Disponível em <link>. acessado em  28  set.  2024.  Epub 01-Dic-2021.  https://doi.org/10.26864/pcs.v11.n3.7.

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Modernidade líquida: uma análise do episódio “Nosedive” da série Black mirror

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  A cada momento que passa, as tecnologias sofrem diversos avanços e trazem novas formas de se conectar com o mundo, formas mais acessíveis e rápidas. O processo de globalização trouxe também uma grande ironia para o atual contexto que vivemos, onde cada vez mais parecemos nos afastar e nos individualizar em nossa existência. Isso é o que pode ser descrito como modernidade líquida.

  Zygmunt Bauman em seu livro “Modernidade líquida” publicado em 1999, descreve como vivemos em mundo moderno de relações líquidas, utilizando uma analogia entre os relacionamentos as ligas formadas pelos átomos em seus diferentes estados. O estado líquido sugere uma ligação mais distante, enquanto o sólido sugere a maior proximidade entre os átomos para levarem tal forma. Nesta obra ele também fala sobre uma “modernização da modernidade”, onde acontece uma desintegração ou modificação de padrões de relacionamentos, além da liquefação dos padrões de dependência e interação. Quando pensamos em uma obra que trazia essa temática em 1999 sobre o distanciamento das pessoas e o aumento dos processos de individualização devido aos novos padrões estabelecidos na modernidade, nos faz pensar se agora, 25 anos de tecnologias depois, nós não estamos vivendo uma nova fase nas relações: a modernidade gasosa.

  Atualmente a temática da liquidez das relações colocada por Bauman, é amplamente retratada em filmes e séries. Entre elas destacamos a série antológica Black Mirror, que busca contar várias histórias independentes entre si que retratam um futuro não tão distante, onde a tecnologia se transforma em um “vilão”, causando impactos a nível mundial. Cada episódio retrata isso de uma forma diferente, em como nós humanos podemos ser facilmente corrompidos e como nós somos capazes de abrir mão até mesmo daqueles mais amados em nossas vidas pessoais.

   Em um de seus episódios mais famosos é o primeiro episódio da terceira temporada, chamado de “Queda Livre” ou “Nosedive”, que narra sobre a queda da protagonista Lacie, em uma realidade que avalia uns ao outros por meio da tecnologia, podendo elevar ou descer a posição de um membro da sociedade. Apesar de ser retratada como uma pessoa “louca” durante o episódio, Lacie é uma pessoa comum, que busca não apenas uma validação em meio a sociedade, mas uma aproximação de sua amiga Jayne.

  Lacie demonstra ir além de tudo que a sociedade retratada avalia como “bom” ou “aceitável” desde que isso signifique poder comparecer ao casamento de sua amiga, deixando sua máscara cair durante o processo e resgatando sua humanidade a cada vez que caia de posição e classificação. 

  Em dado momento, a protagonista Lacie publica uma foto de um brinquedo que possuía grande afeto e relação com a amizade com Jayne, mostrando uma busca por validação. Alguns podem pensar que a busca seria por uma validação em meio e a sociedade e boas avaliações, mas eu particularmente vejo que a felicidade de Lacie ao ver que Jayne deu a melhor avaliação possível para a foto, se dá pelas “migalhas de afeto” que busca em meio a uma modernidade líquida.

  Ao contrário do que os demais prezavam ser importante, Lacie demonstra um real desespero para reatar ou estreitar laços de uma amizade antiga com Jayne, que revela para Lacie que sua intenção ao convidá-la não era uma demonstração de afeto e consideração, mas sim uma tentativa de elevar sua própria classificação. Quando Jayne vê que a classificação de Lacie caiu drasticamente, ela imediatamente desconvida de seu casamento, jogando a fora com apenas uma ligação. Jayne não faz ideia e sequer quer saber as distâncias que sua amiga foi para poder comparecer no casamento, porque os laços não significam nada sem uma boa avaliação da sociedade. 

  O desfecho do episódio se dá com um breve diálogo entre Lacie e um homem, ambos na prisão. No primeiro momento Lacie se mostra irritada com a situação e troca “ofensas” com o homem na cela da frente, o que nos leva de volta ao conceito de avaliar uns aos outros de forma negativa mesmo que seja a primeira impressão sobre alguém que não conhecem profundamente. A cada “avaliação ruim”, tanto Lacie quanto o homem da cela na frente parecem se divertir com a ideia de falarem o que quiserem sem precisar temer uma “má reputação”, finalizando com os dois sorrindo e rindo um para o outro enquanto desbravam sua angústia e raiva pela sociedade com um “vá se foder”.

      Fonte: Reprodução Netflix

  A história de Lacie e Jayne nos coloca para pensar sobre como os valores que cada um de nós colocamos em nossas relações em uma sociedade que a cada dia que passa se torna mais tecnológica e líquida. O que Lacie poderia ter feito de diferente, diante um contexto que se nega a ouvi-la e acolhê-la por suas qualidades? Se Lacie se sentisse sozinha e abandonada, a solução seria tentar subir de classificação? Ou deveria Lacie jogar fora completamente a ideia de classificações, buscando pessoas que valorizem mais relações do que ser “bem” avaliado e visto na sociedade? Teria Lacie finalmente encontrado uma verdadeira conexão mesmo que talvez breve com seu parceiro de cadeia? Isso tudo podemos apenas imaginar.

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Mini-influenciadores: os perigos do Sharenting no relacionamento parental

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Estudiosos apontam possíveis consequências da exposição de filhos nas redes sociais no relacionamento entre pais e filhos.

Com a ascensão das redes sociais no século 22, o comportamento que nós temos diante delas passou por diversas modificações, com cada vez mais pessoas entrando no mundo digital e tornando-se parte das redes. De acordo com um levantamento realizado pela We Are Social e Meltwater, há cerca de 144 milhões de usuários de redes sociais no Brasil, ou seja, 66,3% da população nacional. Dentro desse número crescente de perfis em redes sociais, existe também uma nova “tendência” nas redes sociais: os mini-influenciadores.

Apesar de que a maioria das redes sociais atuais possuírem uma restrição de idade para seus usuários, é difícil realizar um monitoramento eficaz e amplo dos perfis ativos, fazendo com que muitas crianças adotem um comportamento de auto-exposição através de perfis pessoais, comportamento este muitas vezes sendo incentivado e aprovado por pais ou responsáveis. Tal incentivo por parte dos pais ou responsáveis é muitas vezes motivado pelo lucro gerado pela quantidade de curtidas, cliques e visualizações, se fazendo necessário questionar os efeitos a curto e longo prazo de tal prática.

Fonte: Freepik

O compartilhamento de informações e exposições acerca do filho pode ser chamado de sharenting, palavra do inglês que provém da união entre as palavras share (compartilhar) e parenting (parentalidade), comportamento que pode impactar o relacionamento entre pais e filhos e também os processos de individuação dessa criança e os adultos envolvidos. Ao realizar o sharenting, pais e responsáveis estão não apenas facilitando o acesso a imagem e informações privadas para pessoas má intencionadas, mas também estão tornando crianças alvos de possíveis críticas e comparações relacionadas ao comportamento e a auto-imagem.

Os “mini-influenciadores”, por estarem em processo de maturação neurológica e aprendizado acerca às normativas sociais, não possuem a capacidade de compreender que ela não apenas está sendo manipulada e modelada para atender às expectativas de seu público, e nem de que sua infância está sendo deturpada pelas responsabilidades e atividades associadas à sua “atuação” enquanto influenciador digital. Para Diane E. Papalia, a maturação é um desdobramento de uma sequência natural de mudanças físicas e comportamentais, incluindo o comportamento em meio a sociedade. Erik Erikson irá ressaltar que a infância é dividida em estágios de desenvolvimento psicossocial, experimentando a vergonha e dúvida durante o estágio pré-operatório (2-7 anos), por exemplo, além do desenvolvimento de um sistema para representar pessoas, lugares, eventos em pequenas “pastas”. Seu pensamento ainda não é lógico e necessita de processos  de jogos imaginativos, por exemplo, devido a grande fantasia da perspectiva da criança. Já a partir dos 11 anos, é comum que nós seres humanos passemos por momentos de confusão da identidade, o que pode ser amplificado e vivenciado de forma patológica em um contexto onde necessita performar uma “persona” na internet.

Além disso, há um claro impacto relacional, onde os pais ou responsáveis assumem o comportamento e imagem de um “agente”, “empresário”, distorcendo a imagem que essas crianças possuem em relação aos adultos envolvidos. De acordo com a psicanalista e vice-diretora de Relações Interdisciplinares do Instituto Brasileiro de Direito de Família  Claudia Pretti para a revista digital do instituto, os filhos precisam do acolhimento através de bons laços afetivos e o cuidado, trazendo a importância de repensar os conceitos de liberdade e de laço social. Para Erikson, as influências sociais na criança são um grande fator no desenvolvimento da personalidade, ressaltando também a importância dos primeiros estágios da vida da criança e o que ela entende sobre o mundo, os afetos, sua segurança, entre outros.

Por fim, é necessário questionar de que forma o cuidado, afeto, aprendizado, privacidade e liberdade são capazes de tomar espaço necessários para uma vida plena e saudável de uma criança em um contexto onde certos comportamentos são expostos sem sua autorização e muitas vezes, ridicularizados. 

 

Referências: 

ANUNCIAÇÃO, Débora. Sharenting: especialistas avaliam os riscos da exposição infantil nas redes sociais. Belo Horizonte-MG. Disponível em <link>. Acessado em 08 ago. 2024. 

PAPALIA, Diane E; MARTORELL, Gabriela. Desenvolvimento humano. 14ª edição. Editora Artmed. Porto Alegre, 2022. 

SILVA, L. C. da; VIEIRA PEREIRA SANTOS, I.; NASCIMENTO PEREIRA, L.; JARDIM PFEILSTICKER, F. O IMPACTO DAS MÍDIAS DIGITAIS EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES. Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences, [S. l.], v. 6, n. 1, p. 1773–1785, 2024. DOI: 10.36557/2674-8169.2024v6n1p1773-1785. Disponível em: <link>. Acesso em: 22 ago. 2024.

SMOLINSKI, Bree. Think before you post: the impact of sharing photos of your child online. Austrália: Curtin University, 2021. Disponível em <link>. Acessado em 08 ago. 2024.

 

 

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