Um Senhor Estagiário: idoso e mercado de trabalho

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O filme Um Senhor Estagiário consiste na vida de Ben Whittaker, um viúvo de 70 anos que durante sua aposentadoria e sem sua mulher, fazia de tudo para poder sair de casas e ter atividades para realizar no dia a dia. Entre cafés no Starbucks e aulas de meditação no parque, ele encontrou um anúncio para contratar um estagiário idoso.

O anúncio pertencia a empresa de Jules Osten, uma empresa de venda de roupas on-line que com 18 meses já possuía centenas de funcionários. A empresa resolveu realizar um projeto de reintegração de idosos no mercado de trabalho. Ben prontamente respondeu o anúncio e foi para a fase de entrevistas, porém resolveu que participaria de um processo seletivo em diversas empresas.

Foi aceito na empresa de Jules e foi designado para trabalhar diretamente com Jules, que já era conhecida na empresa como uma pessoa de difícil convivência. A verdade, é que Jules não gostava de perceber que alguém estava conseguindo enxergá-la verdadeiramente e quebrando as barreiras que ela colocava para o estabelecimento de contato.

O marido de Jules estava tendo um caso e era um “pai de tempo integral”, ela tem uma filha que mesmo com pouca idade é parecida com ela, uma mãe que não demonstra amá-la e desenvolveu uma vida de pesquisas com base na vida de Jules, e ela estava na busca por um CEO para sua empresa pensando que de alguma forma isso salvaria seu casamento e melhoraria sua vida.

Jules por diversas vezes tentou mudar Ben de setor. Primeiro porque achou que ele não gostaria de trabalhar com ela devido a sua fama de difícil de lidar, também por não acreditar que Ben poderia desenvolver-se no trabalho, depois por ver que Ben era muito observador e estava começando a enxergá-la de verdade. Porém, quando mudaram-no de setor, Jules percebeu que tudo que precisava era de alguém como ele trabalhando com ela e como seu amigo pessoal, pois não possuía esse tipo de convivência com outras pessoas.

Fonte: http://zip.net/bytNZq

De acordo com o dicionário trabalho é um conjunto de atividades realizadas, o esforço feito por indivíduos, com o objetivo de atingir uma meta. Segundo Kubo e Gouvêa (2012) o trabalho tem sido visto não somente como forma de obter renda, mas também como atividade que proporciona realização pessoal, status social e possibilidade de estabelecer e manter contatos interpessoais, entre outros.

Conforme o filme, a inserção de Ben ao mercado de trabalho na aposentadoria foi de muita importância, pois houve possibilidades de novas interações, e um novo olhar para vida a partir das relações interpessoais, que é deixado claro como uma necessidade de Ben desde o início do filme, por exemplo quando Ben ia ao café só para poder se sentir importante em conviver com outras pessoas.

Fonte: http://zip.net/bytNZr

Saindo do contexto do filme a importância de agregar os idosos ao mercado de trabalho leva-o a sair da condição de isolamento expandindo o seu convívio com pessoas de outras idades e culturas diferentes. Para Maria Angelica, presidente do departamento de gerontologia da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia “quando o aposentado entra novamente no mercado, ele tem a possibilidade de interagir e participar da vida social. Ele sai das condições de isolamento a que se submetia e tem a oportunidade de convívio com pessoas de outras idades”.

Pôde-se presenciar como a interação entre o idoso (Ben) com um ambiente de trabalho mais jovem não trouxe benefícios somente para a a retirada de condição de isolamento de Ben, pois este ao chegar na empresa viu como ela estava adoecida e prejudicada. Ele só conseguiu ampliar seu olhar e ver dessa forma porque a sua experiência de vida profissional e pessoal condizia com a necessidade da empresa.

Ben havia sido vice-CEO de uma empresa de lista telefônicas por anos, então possuía muita experiência com administração. Ao ver que poderia contribuir para a melhoria do desempenho da empresa, Ben resolveu que conquistaria seu espaço e interviria. A sua criatividade foi novamente despertada para a elaboração de estratégias para melhorias de condições de trabalho e produção.

Trata-se do trabalho como uma realização pessoal, no Estatuto do Idoso (art 3º) garante o direito ao trabalho, mostra que o trabalho, a cidadania e a dignidade são direitos do idoso:

“Profissionalização especializada para os idosos, aproveitando seus potenciais e habilidades para atividades regulares e remuneradas; preparação dos trabalhadores para a aposentadoria, por meio de estímulo a novos projetos sociais, conforme seus interesses, e de esclarecimento sobre os direitos sociais e de cidadania; estímulo às empresas privadas para admissão de idosos ao trabalho” (ESTATUTO DO IDOSO, capítulo VI, artigo 28, 2003).

Houve alguns entraves de inicio quanto a reinserção de Ben no mercado de trabalho no que diz respeito à sensibilização da empresa ao receber esse novo integrante, é possível perceber um déficit em ações que promovam essa reinserção no mercado de trabalho, trazendo em um olhar fora da ficção.

Porém, ao voltarmos a ficção do filme, é válida levantar a hipótese que a inclusão do projeto sobre idosos estagiários provavelmente não partiu de Jules, a dona da empresa, pois está deixou claro em diversos momentos que não se sentia confortável com um idoso ali e muito menos o achava capaz de desenvolver-se no trabalho.

Fonte: http://zip.net/bmtNn9

Uma das maiores vantagens para o idoso é o aumento da autoestima, optando muitas vezes por não se aposentar e seguir no mercado de trabalho, assim afirma Irani Argimon “Sentir-se valorizado e ainda capaz reforça os seus relacionamentos familiares e sociais e consequentemente os do trabalho”.

No filme Ben começou a encontrar-se com a massagista da empresa e também virou uma espécie de “paizão” para os demais estagiários, sempre dando dicas de como agir educadamente com as damas, se vestir e chegou a dar morada a um deles por um tempo. Também fez de sua meta particular ajudar a Jules em sua vida completamente adoecida, sua sensibilidade o levou a notar esse fator e procurar formas de poder ajudá-la, como dirigir pelo caminho mais curto, levar almoço a ela e se envolver com a família dela.

O Estatuto do Idoso traz esse amparo quanto à estimulação de programas (art 28º)

O Poder Público criará e estimulará programas de:
I – profissionalização especializada para os idosos, aproveitando seus potenciais e habilidades para atividades regulares e remuneradas;
II – preparação dos trabalhadores para a aposentadoria, com antecedência mínima de 1 (um) ano, por meio de estímulo a novos projetos sociais, conforme seus interesses, e de esclarecimento sobre os direitos sociais e de cidadania;
III – estímulo às empresas privadas para admissão de idosos ao trabalho.

Apesar de o trabalho do idoso estar segurado por seu estatuto, as empresas ainda possuem dificuldades em aceitá-lo em seu meio de trabalho. A sua exigência por super-homens que produzam cada vez mais em um curto espaço de tempo não está de acordo com o desenvolvimento do idoso e faz com que as empresas manipulem suas normas para contratação, assim eliminando o idoso em seus pré-requisitos, por exemplo ter menos de 30 anos (BARRETO, 2009).

Ao restringir o seu público de contratação a somente um tipo de pessoa, as empresas perdem em criatividade, inovação, aceitação e estratégias que talvez nunca possam ter sido pensadas antes. Ben não somente contribuiu para a melhoria da empresa como também contribuiu para a vida pessoal de Jules, que era estigmatizada na empresa como um pessoa difícil de conviver e extremamente exigente com a vida pessoal prejudicada.

Fonte: http://zip.net/bbtNqN

Ao se aproximar de Jules, mesmo com a resistência existente, Ben mostrou a Jules que não precisava ser daquela determinada forma. De forma resumida, Ben interviu de forma quase imperceptível. Ben realizou coisas simples como dirigir pelo caminho mais curto, mostrar que a organização pessoal era necessária no trabalho, dar assistência a outros estagiários que precisavam de ajuda e acima de tudo ajudar Jules a achar um equilíbrio entre pessoal e trabalho.

Ben teve a percepção também obtida por Heloani e Capitão (2003), ao falarem que “as condições laborais, bem como as relações diretas entre os trabalhadores, influenciam diretamente a qualidade de vida”, e isso se torna uma estratégia para sobrevivência e o futuro desenvolvimento das organizações.

Algumas empresas no sul e sudeste do país como o Grupo Pão de Açúcar e a franquia Pizza Hut está dando a oportunidade a idosos voltarem ao mercado de trabalho como é previsto no estatuto do idoso, provavelmente surgirão mais “Ben” nas empresas, mostrando que a inovação e a criatividade independem da idade.

REFERÊNCIAS:
BARRETO, Margarida. Saúde mental e trabalho: a necessidade da escuta e olhar atentos. Cod. Bras. Saúde Mental, vol.1, no1, jan-abr. 2009 (CD-ROM)

Estatuto do Idoso. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.741.htm Acesso em: 03/04/2017

HELOANI, José; CAPITÃO, Claúdio. Saúde mental e psicologia do trabalho. São Paulo em Perspectiva, vol 17, no 2. São Paulo, abr-jun, 2003.

KUBO, Sergio Hideo; GOUVEA, Maria Aparecida. Análise de fatores associados ao significado do trabalho. Rev. Adm. (São Paulo), São Paulo, v. 47, n. 4, Dezembro. 2012. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0080-21072012000400003&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 03/04/2017

Significado de trabalho. Disponível em: https://www.significados.com.br/trabalho/ acesso em: 02/04/2017
Vantagens e desvantagens do trabalho na terceira idade. Disponível em: http://opiniaoenoticia.com.br/brasil/vantagens-e-desvantagens-do-trabalho-na-terceira-idade/. Acesso em: 03/04/2017

 

Este trabalho foi solicitado na disciplina de Saúde Mental e Trabalho, ministrada pela professora Carolina Cótica, a partir do filme Um Senhor Estagiário passado na sala de aula, foi produzido por Sara Gonçalves estudante do 8 º período e Michelle Zukowski estudante do 10º período.

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O Feminino na era Vitoriana na Fotografia de Julia Cameron

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Julia Margaret Cameron recebeu sua primeira câmera aos 48 anos de sua filha e de seu genro para poder se ocupar e distrair enquanto seu marido viajava. É assim que começam todas as narrativas encontradas sobre a fotógrafa. O que torna meio frustrante, pois apesar de diversas fontes nacionais e internacionais pesquisadas, parece que nenhuma realmente mostrou quem essa fotógrafa foi, somente um emaranhado de informações sobre sua primeira câmera, a época em que começou a fotografar e suas fotos borradas.

Fonte: https://goo.gl/pvyVdi

Reconheço que cada indivíduo é construído pela sua história e é isso que me traz mais frustração ao pesquisar sobre a vida dessa fotógrafa por quem criei grande admiração, informações gerais não são a história de alguém. Informações gerais não representam a vida e as vivências obtidas por essa pessoa, mas as complementam. Sendo assim, irei compartilhar a falsa história de informações gerais sobre Julia M. Cameron, mas também o que eu conheci sobre ela através de suas fotografias. Por sua história ser narrada mais comumente em blogs, sites de pessoas interessadas na arte da fotografia, sites de museus e livros de difícil acesso, será difícil colocar cada referência nas informações que irei fornecer, mas todos os links estarão disponíveis no final desse trabalho para melhores esclarecimentos.

Fonte: https://goo.gl/XrHqY8

Julia nasceu em Calcutá, 1815 e faleceu em Ceilão, 1879. Ela foi uma mulher britânica que tomou a fotografia como uma aventura pessoal. Dizem que ela era a irmã solteira de uma família de seis meninas lindas, porém o seu charme e inteligência a destacava entre as irmãs. Seu marido era um grande funcionário britânico, o que os fez ter amizades com grandes personalidades da era vitoriana, dentre eles Charles Darwin, o poeta Henry Taylor, sir John Herschel, entre outros. Consequentemente, ela retratou cada um deles e essas foram algumas de suas fotografias mais famosas. Após receber sua câmera, Julia se dedicou inesgotavelmente a fotografia. Na era vitoriana, seus retratos saíam do convencional e chegou a ser criticada por isso, mas com dois anos fotografando já havia vendido algumas de suas obras e doadas outras para o South Kesington Museum, atualmente conhecido como Victoria and Albert Museum.

No site do Victoria and Albert Museum (V&A), é relatado que apesar das críticas por suas técnicas não convencionais, a beleza de suas composições era comemorada o que mostrava que para ela a fotografia era claramente uma forma de arte. Julia transformou o quarto que abrigada o carvão de sua casa em seu quarto escuro e a sua casa de aveia se tornou um estúdio.

Ainda no site do V&A Museum vemos que a história de Julia com a fotografia começou antes dela ganhar a sua câmera. Ela já havia compilado álbuns e impresso fotografias. Realizou um trabalho híbrido entre uma imagem fotográfica com uma técnica sem câmera. Ao revelar um negativo o envolveu com samambaias, assim criou uma moldura de fotograma ao redor da foto. A fotografia que Cameron considerou seu primeiro sucesso foi um retrato de Annie Philpot e mesmo assim, ela atribuiu o mérito a garota, pois acreditava que ela havia feito a maior parte do trabalho.

Julia Cameron Fotografias

https://goo.gl/3W5ELs

Cameron não possuía interesse em estabelecer um estúdio comercial e também nunca fez retratos comissionados, ela sempre gostou de fotografar amigos e família. Suas fotografias, marcadas pela subjetividade, tem a característica de sempre estar representando algo. Ela chegou a construir personagens para encarnar figuras clássicas, modernas, religiosas e literárias. Para realizar a arte da fotografia ela se envolvia na arte do teatro, assim seus retratos eram compostos.

Fonte: https://goo.gl/akzhaz

Transformou crianças em Cristo, Cupido e anjo representando a Madonna Sistina de Raphael. Ela nunca pretendeu realizar fotografias formais de estúdio muito menos retratos comerciais, sua aspiração era enobrecer a fotografia, assim assegurando-a o caráter do uso de altas artes, trabalhando o real e o ideal, mostrando o verdadeiro e sendo devota a poesia e à beleza. A sua meticulosidade em montar os seus retratos muitas vezes cansava os seus modelos, porém mesmo com a sua suposta falta de técnica e o cansaço dos modelos, suas fotos são extremamente lindas e significantes. Nas imagens apresentadas conseguimos ver as duas características principais das fotografias de Cameron, a representatividade do poético e religioso, e a técnica peculiar utilizada pela fotógrafa.

Fonte: https://goo.gl/YJaEh6

Basicamente todas as suas fotos tem o que era considerado problemas com a iluminação e manchas, representando a suposta ausência de técnica. Para mim, Julia nunca teve ausência de técnica, apenas não se manteve presa a técnica comum da época, se permitiu ser conduzida pela arte, sem barreiras, isso fez com que surgisse a sua técnica em particular. É claro que essas características das fotos de Cameron não eram acidentes, eram propositais e para conseguir reproduzi-las dessa forma ela criou sua própria técnica e a manteve.

Fonte: https://goo.gl/G2xNEL

O que eu conheci de Julia pelas suas fotografias e a sua história superficial é que ela era uma mulher independente, criativa, e que mesmo com as críticas sofridas na época, como não ser aceita na sociedade dos fotógrafos, não se deixou abater e muito menos mudou o seu jeito de fotografar. Manteve o seu olhar, manteve as suas ideias, manteve os seus princípios. Julia Cameron é um símbolo ímpar feminino na era vitoriana e infelizmente não tem a sua história contada. Sua personalidade parece ser fantástica, afinal poucas mulheres do século XIX conseguiram receber o reconhecimento e ser respeitada por pessoas ilustres como ela foi. Julia Margaret Cameron é inspiração.

REFERÊNCIAS:

VICTORIA AND ALBERT MUSEUM. Julia Margaret Cameron: Working Methods. 2016. Disponível em: <http://www.vam.ac.uk/content/articles/j/julia-margaret-cameron-working-methods/>. Acesso em: 10 mai. 2017.

SZARKOWSKI, John. Julia Margaret Cameron. 2016. Disponível em: <http://www.atgetphotography.com/The-Photographers/Julia-Margaret-Cameron.html>. Acesso em: 10 mai. 2017.

REVISTA LA FUNDACIÓN. Julia Margaret Cameron: Pioneira do Reconhecimento da Fotografia como Arte. 2016. Disponível em: <https://revistalafundacion.com/marzo2016/pt-pt/exposicao/>. Acesso em: 10 mai. 2017.

THE MET. Julia Margaret Cameron. 2015. Disponível em: <http://www.metmuseum.org/toah/hd/camr/hd_camr.htm>. Acesso em: 10 mai. 2017.

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