O Pequeno Hans e os conceitos centrais da Psicanálise

Compartilhe este conteúdo:

O presente texto tem por finalidade apresentar o caso analisado e discutido por Sigmund Freud em 1909, “O Pequeno Hans”, como também, os conceitos da abordagem psicanalítica, que tem relação com este caso. Neste período, Freud retoma seus estudos clínicos da histeria de angústia, analisando a história do pequeno Hans para exemplificar o funcionamento fóbico considerando as vivências sexuais na infância (SILVA, 2016).

A seguir, é apresentado a descrição do caso conforme os relatos de Freud (1909), considerando a sua teoria para análise teórica.

Em seu trabalho, Freud (1909) discute o percurso do adoecimento assim como o restabelecimento do paciente, que apresenta uma história de ansiedade fóbica na infância relacionada à sexualidade.

O pequeno Hans era uma criança de cinco anos de idade quando o seu pai procurou Freud para analisar e intervir no caso, relatando acontecimentos desde os três anos de idade do seu filho. Freud (1909, n.p.), diz que as interpretações foram possíveis devido às observações do pai: “É verdade que assentei as linhas gerais do tratamento e que numa única ocasião, na qual tive uma conversa com o menino, participei diretamente dele; no entanto, o próprio tratamento foi efetuado pelo pai da criança”.

Fonte: encurtador.com.br/dBHO9

Ainda muito novo, Hans demonstrava curiosidade a respeito da sexualidade. Certo dia sua mãe o encontrou em atividade masturbatória que foi duramente repreendida com a ameaça de chamar o Dr. A. para cortar fora seu “pipi” se continuasse a tocá-lo. Em seguida sua mãe perguntou como ele faria para fazer pipi, e a solução para Hans seria fazê-lo, “com o meu traseiro”. Neste instante, percebe-se que Hans parecia livre do conflito que levaria à formação de sua fobia e a ameaça de castração, a qual segundo Freud (1909), teria tido seu efeito adiado, articulando-se a neurose da criança tempos depois.

A história começou quando Hans desenvolveu um temor por sair de casa, e isso aconteceu depois do nascimento da irmã Hanna. O menino começou a ficar amuado e só então descobriram que ele tinha medo de sair e ser mordido por um cavalo. Tal fato intrigou seu pai, por que Hans nunca havia apresentado esse comportamento, ao contrário, o menino gostava de cavalos quando era mais novo e não tinha receios quanto a eles. Então Freud procurou investigar o que o menino associava aos cavalos que lhes fazia sentir tanto medo e descobriu que é por que os cavalos mordem. Hans lhe contou que uma vez o cuidador de cavalos falou para ele não colocar a mão muito perto da boca deles pois era perigoso. Assim, Freud associou essa fala como se fosse um protótipo de ameaça corporal que estaria ligado à fantasia de castração, ou seja, o medo de perder o falo.

Além disso, Hans começou a trazer cada vez mais, elementos de sua investigação sobre sexualidade, tentando descobrir por que a mãe e a irmã não possuíam falo, e imaginando se havia a possibilidade do pai perder o seu. Foi nesse ponto que Freud tentou descobrir o porquê do cavalo.

Fonte: encurtador.com.br/cmxP4

Em um dos encontros com o menino, Freud pediu para que Hans desenhasse o cavalo. O desenho refletia o animal com traços destacados na região da boca e ao olhar para o pai, Freud reparou que o mesmo ostentava um bigode e disse em tom de brincadeira que as marcas do cavalo parecia um bigode. O menino confirmou dizendo, inclusive, que era semelhante ao do seu pai. Diante disso, percebeu-se que Hans começou a dar sinais de uma transferência em relação a Freud, considerando-o como uma figura importante que ajudava o seu pai.

A gênese da fobia estava ligada ao momento em que Hans, o pai e a mãe foram passar a temporada de férias em uma cidade. O pai do pequeno voltou para trabalhar, mas periodicamente ia visitá-los. A partir desse fato, Hans desenvolveu uma ambiguidade por que ele dizia que gostava de ficar sozinho com a sua mãe, dormir com ela, quando ela o lavava e o tocava. Logo, percebeu-se várias declarações das passagens de cuidados que as mães e os pais possuem, em geral. Mas um cuidado que vai se infiltrando e num determinado momento gera uma relação sensual com a descoberta de prazeres. Dessa forma, Hans começou a perceber que existia uma figura que o atrapalhava. Por exemplo: quando o pai chegava, não era mais o menino que dormia com a mãe.

Nesse instante, então, começaram os primeiros sentimentos de angústia. O pequeno Hans passou a acordar a noite com medo do cavalo e sonhando, ou seja, cada vez mais a fobia ganhava espaço. Para Freud, a fobia era uma espécie de solução de sintoma primário que ele estava construindo para entender qual era o lugar dele entre o pai, a mãe e Hanna.

Fonte: encurtador.com.br/dAG28

Percebeu-se que o pequeno estava tendo a fantasia de que o pai, a quem ele gostava, admirava, companheiro de jogos, grande protetor era também aquela figura com quem ele tinha sentimentos hostis e queria que fosse embora de vez.

O nascimento da irmã expôs a diferença no corpo que remetia à sexualidade. Ele viu Hanna numa bacia com sangue (no seu nascimento), e associou aquilo à uma situação agressiva, que ofende o corpo e isso lhe apresentou como elemento para a sua fobia.

Na medida em que eles falavam sobre esse medo fóbico, a fobia também ia se transformando. Hans passou não apenas a ter medo do cavalo, mas ter medo quando o animal estava com uma carroça, medo que ela se desacoplasse e virasse numa curva, por exemplo. Freud (1909), compreendeu que essa relação entre o cavalo e a carroça refletia um progresso na simbolização, na qual a carroça representava a mãe, a qual se encaixava no pai. Assim, passou a ser protótipo da sua angústia. Hans acreditava que isso não deveria acontecer e por isso sentia medo.

Começou a ficar claro, para Freud, como o Pequeno Hans podia progredir na sua descoberta sobre o desejo e ao mesmo tempo tratar a sua fobia, a qual tinha relação com fantasias. Foi nesse ponto que o menino chegou na fantasia do encanador, imaginando que podemos estar numa banheira (lembra da banheira da irmã), vem o encanador aperta e afrouxa um cano, ou seja, uma alusão à retirada e reposição do pênis de um corpo. Essa simbolização, caracterizava-se por uma fantasia expressa, com uma função de solucionar a fobia. Por fim, Hans voltou a ir para a rua e reconciliou-se com os cavalos, confirmando a eficácia das conversas que ele estava tendo com o pai apoiado por Freud.

 

Fonte: encurtador.com.br/lmBD9

 

CONCEITOS PSICANALÍTICOS

  • Histeria de Angústia

Freud (1894) propôs que a causa da fobia seria uma “acumulação de tensão sexual produzida pela abstinência ou pela excitação sexual não consumada” (FREUD, 1894, p.83). O contato de Hans com sua mãe era diminuído quando seu pai estava em casa, o que provavelmente causou uma falta dos cuidados para com ele, acumulando assim a tensão sexual, gerando posteriormente a fobia por cavalos em que o cavalo representava seu pai. Freud (1894), ainda expôs que o estado emocional da fobia será sempre o de “angústia”.

A angústia de castração está relacionada à perda ou separação, em que Hans apresentava uma angústia neurótica já que os impulsos primitivos do Id faziam-o pensar que seu falo seria retirado (JORGE, 2007).

O significado de medo da separação, da perda do objeto, se estende além do ponto da separação da mãe, pois a transformação seguinte do conteúdo da situação perigosa e da angústia, que pertence à fase fálica, também constitui o medo da separação e está ligado ao mesmo determinante – nesse caso, o perigo de se separar de seus órgãos genitais (FREUD, 1923 apud, JORGE, 2016).

  • Fase fálica – complexo de Édipo

Freud (1996) ressalta que todas as fases do desenvolvimento psicossexual produzem conflitos internos, sendo considerado também como uma defesa. Na fase fálica o conflito se dá com o desejo pela mãe, que antecede o Complexo de Édipo. A fase fálica envolve somente a parte genital masculina, na qual o menino acredita que todos tenham pênis.

O pequeno Hans manifestava interesse e curiosidade por órgãos genitais, tanto o seu quanto o da sua família. Apresentando características da fase denominada por Freud como Complexo de Édipo, que segundo ele toda criança nessa idade passa por essa fase e desenvolve grande desejo pela mãe e conflito com o pai, pois entende que a mãe pertence ao pai e para conquistá-la precisa eliminar o pai. A criança passa por um momento de ambivalência, pois apesar de amar e admirar a figura paterna enxerga-o como um obstáculo em sua relação com a mãe (SILVA; LIMA, 2018).

  • Identificação

Passos e Polak (2004) discutem que o menino se identifica com o pai desde o princípio, tendo-o como modelo ideal, em que tal identificação é ambivalente, pois a criança expressa ternura e hostilidade para com o pai.

Sendo que, a identificação é um mecanismo de defesa desenvolvido pela criança para enfrentar a fantasia de castração que é reforçada pelos adultos. Se identificando como pai para conquistar a mãe (SILVA, 2016).

Fonte: encurtador.com.br/krtwR
  • Recalque (desejo recalcado)

O desejo do pequeno Hans era de ficar com a mãe, porém, pelo medo da castração, e sendo a relação incestuosa proibida, ele recalca as suas fantasias, bem como os impulsos hostis contra o pai, o que deu início à formação do sintoma (SILVA, 2016).

  • Repressão

Laplanche & Pontalis (1988), dizem que para Freud a repressão está localizada entre o consciente e o pré-consciente e caracteriza-se pela exclusão de algum material do campo da consciência. Vale ressaltar que as motivações morais desempenham um papel predominante na repressão. No caso do pequeno Hans, ocorreu que os seus desejos em relação à mãe, bem como a sua hostilidade para com o pai, eram sentimentos moralmente inaceitáveis e por isso foram reprimidos.

  • Deslocamento

No caso de Hans, primeiro houve uma repressão de sua afeição erótica pela mãe, o que posteriormente converteu-se em ansiedade. Desse modo, gerou-se um deslocamento para o medo de cavalos, bem como para sentimentos hostis em relação ao pai, a qual resultou no medo do cavalo mordê-lo.

Dessa forma, o menino “restringe a situação de angústia ao encontro com o cavalo que pode ser evitado ao contrário do contato com o pai” (SILVA,2016, p.5). Assim, afirma Silva, 2016, por meio da fobia é possível que a castração seja contornada pelo sujeito e o confronto com ela seja evitado, o que também se configura como defesa já que o fim da angústia ganha significação através da escolha de um objeto, o cavalo.

  • Sublimação

A sublimação consiste, no investimento da pulsão sexual em outros alvos socialmente valorizados. No caso do Pequeno Hans, a criança ativa outro mecanismo de defesa, a sublimação, transferindo a energia de atração sexual pela mãe para a construção social e intelectual, sendo este, um escape para repressão do amor sexual pela mãe (SILVA, 2016).

  • Transferência

Santos (1994) salienta que a transferência positiva é um fenômeno que facilita o processo analítico, no qual o paciente passa a ser mais facilmente influenciado pelo analista, além de nutrir por ele sentimentos de empatia, respeito, admiração etc., ou seja, ele terá menos resistência e fará menos esforço para associar livremente.

Além da confiança entre Hans e Freud, importante para a investigação da origem fóbica do menino, deve-se considerar que de fato houve transferência do pai de Hans com Freud, a qual segundo Rosenberg (2002, p.34) “foi a própria transferência do pai de Hans com o “professor” que inaugurou esse campo analítico”, em outras palavras, o tratamento de Hans só foi possível devido a confiança que Freud despertou nos pais em relação ao seu lugar de saber.

 

REFERÊNCIAS

FREUD, Sigmund. Duas histórias clínicas (O “Pequeno Hans” e o “Homem dos ratos”): VOLUME X. 1909. Disponível em: <http://www.valas.fr/IMG/pdf/Freud_portigaisB_10-19_pdf.pdf>. Acesso em: 22 out. 2018.

Freud, S. (1996). A ORGANIZAÇÃO GENITAL INFANTIL: uma interpolação na teoria da sexualidade. In J. Strachey (Ed. e Trad.). Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. 19, pp. 325-342). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1923).

Laplanche, J. & Pontalis, J. B. Vocabulário de psicanálise. São Paulo: Martins Fontes. 1998.

ROSENBERG, A. O lugar dos pais na psicanálise de crianças. Porto Alegre: Escuta, 2002.

SANTOS, M.A. A transferência na clínica psicanalítica: a abordagem freudiana. Temas psicol. vol.2 no.2 Ribeirão Preto ago. 1994.

SILVA, Mariana Luíza Becker da. O CASO DO “PEQUENO HANS”: relação entre fobia e sexualidade infantil. Copyright, [s.l.], p.1-8, nov. 2016. Disponível em: <http://www.psicologia.pt/artigos/textos/A1034.pdf>. Acesso em: 22 out. 2018.

SILVA, Jônata Alves da; LIMA, Gleici Mar Machado de. CASO HANS: um marco na psicanálise com crianças. Revista Científica da Fasete. Bahia, p. 147 – 154, 2018. Disponível em: <https://www.fasete.edu.br/revistarios/media/revistas/2018/18/caso_hans.pdf>. Acesso em: 27 out. 2018.

PASSOS, Maria Consuêlo; POLAK, Pia Maria. A instituição como dispositivo da constituição do sujeito na família. Mental Barbacena, v.2, n.3, nov.2004. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-44272004000200004>. Acesso em: 26 out. 2018.

 

Compartilhe este conteúdo:

A cultura na ‘Civilização do Espetáculo’

Compartilhe este conteúdo:

O livro “A Civilização do Espetáculo” escrito por Mario Vargas Llosa no ano de 2012, relata a crise de conceitos ligados à cultura e como a mesma se tornou um espetáculo diante de uma civilização sensacionalista. Llosa deixa claro no início o objetivo do livro, que segundo ele é mostrar a transformação que a cultura teve ao longo do tempo. Ao decorrer do livro, o autor pontua também o conceito de cultura e questiona qual o verdadeiro papel da cultura na sociedade.

Llosa apresenta antes das suas considerações o trabalho de outros autores que também abordaram o tema cultura em diversas perspectivas ao longo do tempo. Foi verificado por ele que apesar das diferenças existentes entre os conceitos expostos por cada autor, encontra-se uma pequena semelhança. Todos acreditam que a cultura está percorrendo uma grande crise e tornou-se decadente.

O primeiro autor citado por ele foi T.S. Eliot, criador da obra Notas para uma definição de cultura, em 1948. Eliot além de conceituar o termo cultura, também critica o sistema cultural da época, afirmando que o modelo de cultura está mudando gradativamente. Logo após surge a obra de Guy Debord, A Sociedade do Espetáculo criada em 1967. Apesar da semelhança dos títulos, a obra de Debord refere-se a concepções diferentes da cultura do livro de Llosa. Debord acreditava que “espetáculo” seria tradução de “alienação” onde o ser humano é levado a crer em necessidades capitalistas.

Fonte: goo.gl/H6LU6L

A publicação de George Steiner, No castelo do Barba Azul: Algumas notas para a redefinição da cultura, de 1971, relaciona a cultura com a religião, onde o autor cita que a grande arte surge da transcendência. Próximo à obra de Llosa, foi publicado o livro Mainstream, de Frédéric Martel, mostrando a “nova cultura” relatada em tempos atrás por outros autores, que já foi deixada para trás com a velocidade do tempo.

Já a obra de Mario Llosa A Civilização do Espetáculo, apresentada neste trabalho, acredita que a cultura não é entendida como algo ligado a economia e ao social, mas sim feita de obras literárias e artísticas, de valores éticos e estéticos que se relacionam com a vida social do homem.

Diante disso, o que seria essa Civilização do Espetáculo, segundo Llosa? Para ele (2012), é a supervalorização do entretenimento, onde a sociedade busca incessantemente divertir-se e fugir do tédio. Somente uma pessoa muito rigorosa em seus princípios reprovaria essa população que busca relaxar e descontrair por terem vidas rotineiras e deprimentes. Mas, nem só de diversão vive o homem, colocar o entretenimento como supremacia acarretaria, segundo Llosa, na “banalização da cultura, generalização da frivolidade e, no campo da informação, a proliferação do jornalismo irresponsável da bisbilhotice e do escândalo.” (LLOSA, 2012, p. 30)

Fonte: goo.gl/5EgFuy

De acordo com Llosa (2012), há também outro fator importante para que essa realidade se tornasse duvidosa, a democratização da cultura. Tal fator surgiu de intenções altruístas, na qual, a cultura precisava estar ao alcance de todos, por meio da educação e das diversas manifestações culturais, e não somente pertencendo a um grupo, sendo patrimônio de uma elite. Entretanto, essa ideia de fazer com que a cultura chegasse a todos, tornou a vida cultural medíocre, devido a facilitação formal e superficialidade dos conteúdos.

Llosa (2012, p. 31) então define cultura como, “… todas as manifestações da vida de uma comunidade: língua, crenças, usos e costumes, indumentária, técnicas e, em suma, tudo que nela se pratica, evita, respeita e abomina”. A cultura logo, não pode ser entendida apenas como um passatempo agradável, visto que isso causará a sua desnaturalização e seu depreciamento. Tudo que pertence a ela se iguala ao extremo, de forma que uma apresentação de ópera e um espetáculo de circo, possuem o mesmo significado.

Na civilização contemporânea é perceptível que a culinária e a moda preenchem um espaço significativo nas seções que são destinadas à cultura, assim como chefs e estilistas se tornaram protagonistas, papel que antes era conferido à cientistas, filósofos e compositores. Dessa forma, fornos, fogões e passarelas, confundem-se com livros, concertos, laboratórios e óperas. Assim como artistas da televisão e jogadores exercem uma grande influência sobre os gostos e costumes, influência essa que antes era exercida apenas por professores, pensadores e teólogos (LLOSA, 2012).

Fonte: goo.gl/8d3WPC

Segundo Llosa (2012), algumas características dessa época são o vazio deixado pelo desaparecimento da crítica, a massificação aliada à frivolidade da cultura do nosso tempo, e o empobrecimento das ideias como força motriz da vida cultural. O desaparecimento da crítica proporcionou que a publicidade se tornasse um vetor determinante na vida cultural, exercendo influência significativa sobre os gostos e costumes. A massificação, corresponde ao culto do corpo ser maior que o trabalho para fortalecer o conhecimento intelectual. O empobrecimento é o ato de deixar-se os livros para trás, dando espaço para cinema, televisão e internet.

Para Llosa (2012), a civilização do espetáculo é cruel. A sociedade esquece rapidamente os acontecimentos, não guarda remorsos, assim não possuem consciência e passam sem perceber por cenas de morte e destruição. Estão sempre buscando novidades, não importa qual seja, mas que seja uma inovação, algo atual.
Ao longo da história foram atribuídos diferentes significados para a “cultura”, sendo esta considerada parte da religião e do conhecimento teológico. Mesmo com as várias mudanças, a cultura sempre significou uma soma de fatores e disciplinas, diante de um amplo consenso social que a construiu e que, por ela, era implicado.

Fonte: goo.gl/f1YzLq

Nos tempos atuais, é possível verificar ainda a ocorrência de mudanças que ampliaram a noção de cultura. Antropólogos estabeleceram que “cultura” é a soma de crenças, conhecimentos, linguagens, costumes e sistema de parentesco, sendo assim considerada tudo aquilo que o povo diz, faz, teme ou adora.  O livro “À Cultura na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais” de Mikhail Bakhtin propunha raciocínios sutis sobre a “cultura popular” que teve como foco se contrapor a cultura oficial. Esta última, nasceu de salões, palácios, conventos e bibliotecas, e, já a popular, nasce e vive nas ruas, nas tabernas e em festas. A cultura popular diferencia-se da cultura oficial por mostrar o que estava oculto na mesma, como o sexo, funções excrementícias, a descortesia, e opunha-se ao “mau gosto”, e ao suposto “bom gosto” das classes dominantes.

É válido mencionar que além das concepções de Bakhtin sobre a cultura popular e a oficial, existem várias outras no mundo, o que implica na não consideração de uma única como verdade absoluta, mas sim considerando um “mix” de cultura, pois cada povo possui um tipo de conhecimento e não se pode saber sobre tudo. Depreende-se então que a cultura é de suma importância para que se possa compartilhar conhecimentos.

Nesse interim, a cultura precede e sustenta o conhecimento, pois o orienta e confere-lhe uma função precisa, podendo ser entendida como um preceito para a dissociação do conhecimento para outros povos distintos que não partilham do mesmo. A cultura pode e deve ser uma experimentação para que se ampliem os horizontes, mediante as experiências de vida, a fim de que se revelem os segredos e consequentemente, se revolucionem as sensibilidades diante da condição humana. É necessário que se tenha pensamentos, sonhos, paixão, e além de tudo, que se tenha uma revisão crítica profunda de todas as certezas, convicções, teorias, crenças, sem que se afaste a vida da vida, para que assim, a cultura também possa ser um processo de reflexão.

Fonte: goo.gl/FXzhwA

Para o autor, não há maneira de saber o que é cultura, tudo é cultura e nada é cultura. Ainda que alguém questione o fato de que, nunca na história houve acúmulo tão grande de descobertas científicas, realizações tecnológicas, nunca foram publicados tantos livros, abertos tantos museus nem oferecidos preços arrebatadores pelas obras de artistas antigos e modernos. O mesmo enfatiza a diferença de cultura e especialização, já que se discute a época em que as naves espaciais construídas pelo homem e a porcentagem de analfabetos é a mais baixa de toda a história, mas isso não é obra de pessoas cultas, e sim de especialistas. Explicando que o número de alfabetizados é um aspecto quantitativo e a cultura não tem relação com a quantidade, mas com a qualidade.

A cultura é ou era, quando existia, a conexão entre povos diferentes que, com o avanço dos conhecimentos, eram obrigados a especializar-se, distanciando uns dos outros e deixando de comunicar-se. A cultura também era uma bússola possibilitando os seres humanos a orientação dos conhecimentos sem perder a direção.
Na era da especialização e da derrubada da cultura, as hierarquias desapareceram numa mistura monstruosa. A confusão que iguala as inumeráveis formas de vida batizadas como culturas, onde todas as ciências e técnica se justificam , não havendo maneira de distinguir o que é belo em artes e o que não é.

O texto afirma que a especialização, que existiu desde os primórdios da civilização, foi aumentando com o avanço dos conhecimentos. As elites,eram as minorias cultas, que, além de estender pontes entre os diferentes campos do saber, ciência, letras, artes e técnicas, exerciam influência, religiosa ou leiga, carregada de conteúdo moral, para que a evolução intelectual e artística não se afastasse demais da finalidade humana, garantindo melhores oportunidades e condições materiais de vida.

Fonte: goo.gl/ZJDpQy

Eliot enxergava nos valores da religião cristã a base do saber e da conduta humana, que ele chamava de cultura. Mas para o autor, a fé religiosa não é o único suporte possível para que o conhecimento não se torne vago e autodestrutivo. Nesse processo, seria confuso atribuir funções iguais à ciências, às letras e às artes. Sendo exatamente o esquecimento de discrimina-las, o que contribuiu para a confusão presente no campo da cultura atualmente.

As letras e as artes se renovam, mas não progridem, não destroem o passado, constroem sobre ele. Por esse motivo, as letras e as artes constituíram até agora o denominador comum da cultura, o espaço no qual era possível a comunicação entre seres humanos, apesar das diferenças de línguas, tradições, crenças e épocas.

Segundo o texto, a cultura pode ser experimentação e reflexão, pensamento e sonho, paixão e poesia e uma revisão crítica constante e profunda de todas as certezas, convicções, teorias e crenças. Mas para o autor a impressão é de que a cultura foi sendo construída de forma tão frágil, assim como os castelos de areia, que desmancham como a primeira ventania.

A partir do exposto, foi possível observar uma diferença relevante na cultura do passado e no entretenimento dos dias de hoje. Antes tudo que era produzido tinha o intuito de permanecer presente para as futuras gerações, até começarem a ir perdendo espaço para outras coisas novas e mais vantajosas. O autor afirma aqui “A cultura é diversão, e o que não é diversão não é cultura” (LLOSA, 2012, p. 27).

Vive-se, então, a civilização do espetáculo, onde tudo é entretenimento, é diversão, é a busca pela evitação do tédio, da tristeza. Em consequência ocorre a democratização da cultura. Esta deixa de pertencer a elites e passa a fazer parte da realidade de todos, gerando, assim, uma cultura medíocre e superficial. Entendendo que a mesma define-se como qualquer “manifestação da vida de uma comunidade” (LLOSA, 2012, p. 31).

* Trabalho resultante da disciplina de Sociedade e Contemporaneidade, ministrada pelo prof. Sonielson Sousa

FICHA TÉCNICA DO LIVRO

Fonte: goo.gl/36ibjp

Título: A civilização do espetáculo
Autor: Mario Vargas Llosa
Editora: Objetiva
Ano: 2013
Páginas: 208

 

REFERÊNCIA:
LLOSA, Mario Vargas. A Civilização do Espetáculo: Uma radiografia do nosso tempo e da nossa cultura. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.

 

Compartilhe este conteúdo:

Atendimento de Crianças com TDAH à Luz da Fenomenologia Existencial

Compartilhe este conteúdo:

O presente artigo foi construído a partir de um levantamento bibliográfico, que consistiu na busca por pesquisas acerca do tema, como também na leitura base do livro, “Descobrindo Criança” de Violet Oaklander.A Gestalt-terapia tem como precursor principal o psicólogo alemão Frederick Perls, o qual assim nomeou uma nova terapia que havia desenvolvido desde 1946, juntamente com o grupo de intelectuais, denominado de “Grupo dos Sete”. O grupo era composto por: Isadore From, Paul Goodman, Paul Weisz, Sylvester Eastman, Ellliot Shapiro, Ralph Hefferline, Laura e Fritz Perls (DACRI; LIMA; ORGLER, 2012).

De acordo com Antony & Ribeiro (2004), a Gestalt-terapia é uma abordagem de origem holística-existencial-fenomenológica, a qual reúne elementos da Teoria do Campo, da Teoria Organísmica, da Psicologia da Gestalt e das concepções filosóficas do Humanismo, Existencialismo e da Fenomenologia. Essa teoria se caracteriza da dinâmica que é assumida pelo sujeito a partir das suas pretensões, anseios e necessidade que dão impulso para uma tensão interna, que ao se destacar gera uma figura, a qual instiga a energia do organismo. Caso isto necessite dos recursos oferecidos pelo meio que está inserido para que haja a realização. As funções de contato do indivíduo são acionadas e a consciência é despertada, fazendo com que o ser humano organize as experiências estabelecendo o tipo de contato.

Fonte: http://zip.net/bftLqL

O diverso tipo de contatos, que tem origem a partir de uma sensação, faz com que ocorram crescimento e desenvolvimento na vida do homem e para Gestalt-terapia contato é considerado um conceito chave. É importante ressaltar que toda formação de figura cria um novo saber fazendo com que o sujeito acumule mais vivências e com isso se modifique e o contato apenas encerra quando o organismo consegue chegar ao equilíbrio e com isso novas figuras são elaboradas para um novo processo se formar. Dessa maneira, diz-se que este processo que ocorre para formar uma figura fundo, alicerçado no campo organismo-meio, provoca o organismo como um todo e não de modo separado, gerando o contato.

Contatar é, em geral, o crescimento do organismo. Pelo contato queremos dizer a obtenção de comida, amar e fazer amor, agredir, entrar em conflito, comunicar, perceber, aprender, locomover-se, a técnica em geral toda função que tenha de ser considerada primordialmente como acontecendo na fronteira, num campo organismo/ambiente (PERLS, HEFFERLINE & GOODMAN, 1997, p. 179).

Segundo Dacri, Lima e Orgler (2012), a Gestalt-terapia é uma filosofia existencial autêntica que possui uma forma peculiar de conceber as relações do homem com o mundo, visando a manutenção e o desenvolvimento de um bem-estar harmonioso. Valoriza a criatividade e a originalidade do ser humano, com um olhar para além da cura. Já Antony e Ribeiro (2005), afirmam que a Gestalt-terapia estando inserida neste meio filosófico, possui uma compreensão ontológica do sujeito como um ser no mundo, vivendo sua existência com e para o outro. Fazendo parte de um mundo compartilhado, a existência manifesta a intersubjetividade como criadora do ser, buscando a constituição da sua essência.

Fonte: http://zip.net/bwtKXQ

Para essa abordagem a concepção existencial de ser humano é entendido como a capacidade do mesmo de se refazer, podendo escolher e organizar sua realidade e existência de forma criativa, porque para esta teoria, entende-se que o conhecimento humano o leva a capacidade de escolher seu próprio destino, transcendendo fronteiras, limites e até mesmo condicionamentos que foram impostos. Concernente a essa concepção, o funcionamento saudável pode-se dizer que, o indivíduo é entendido como um ser totalmente relacional, que está sempre em um processo de troca de vivências com o meio.

A Gestalt-terapia possui uma visão do comportamento humano como sendo o resultado da interação com o campo organismo/ambiente. Dessa forma, o indivíduo pode manifestar diversas possibilidades de comportamento de acordo com o campo ao qual está inserido, mantendo assim, uma relação de reciprocidade (ANTONY; RIBEIRO, 2005). “No viés gestáltico, o homem é visto como um ser de infinitas potencialidades para crescer e se desenvolver, estando diariamente em construção e, portanto, inacabado” (GUISSO; FABRO, 2016, p. 543).

Em seu aspecto clínico, a Gestalt-terapia se apresenta como uma terapia existencial-fenomenológica que objetiva aumentar a awareness do cliente, no aqui e agora da relação terapêutica, e, para isso, utiliza recursos como experimentos, frustração, fantasias dirigidas, e outros, facilitando o desenvolvimento do auto suporte, a capacidade de fazer escolhas e a organização da própria existência (DACRI; LIMA; ORGLER, 2012, p. 139).

Perls (1997) diz que palavra “awareness” está co-relacionada com a palavra consciência, podendo também expandir seu significado para os termos: compreensão, percepção, ampliação e até mesmo para “tomada de consciência”. Segundo Cavalcanti (2014) “awareness” ocorre no espaço que o corpo ocupa e na amplitude dos seus sentidos ancorado no momento do tempo presente. Em Gestalt-terapia o conceito de “awareness”, pode expressar a ideia central desta abordagem, “…trata-se de estar plenamente atento à situação em que se vive percebendo-se no conjunto daquilo que se está fazendo e como se está vendo a situação, no campo marcado pela interação entre organismo e meio em todos os seus níveis…” (CAVALCANTI, 2014, p.122).

Fonte: http://zip.net/bctLlT

Dessa maneira, percebe-se que ao desenvolver este conceito o organismo pode ser ajustado ao ambiente que está inserido, afim de que as condutas que se repetem não ocorra mais, pois a awareness é influenciada através das experiências que oportuna as relações de introspecção. A consequência deste ajustamento, que ocorre somente quando há ampliação da consciência, é o não bloqueio de contato com a realidade, possibilitando o ajustamento do aqui-agora.

Na gestalt-terapia, como nos mostra Cavalcanti (2014), a instigação que é feita a partir da awareness pode ajudar na localização de bloqueios e resistências que possam vir a ter após as experiências vivenciadas de sentimento de impotência e limitação, por exemplo. Pode-se afirmar que todo processo contínuo de tomada de consciência é acompanhado de novas informações. A configuração de novas formas de atuação que o sujeito adquire é decorrente da auto percepção e da sua capacidade de mudar a si mesmo.

 Para Fagali, este seguimento da awareness é:

Processo em que se leva em conta o valor da experiência no aqui e agora, a dinâmica intersubjetiva, as articulações entre a subjetividade e a objetividade e as diferentes dimensões de consciência tendo em vista os níveis de contato e de resistência das pessoas, sejam as que aprendem, sejam as que ensinam ou orientam (FAGALI, 2007, p.104).

No que se diz respeito ao awareness, conclui-se que quanto maior for este processo, maior será a possibilidade do indivíduo atuar como sujeito da sua intrínseca história, ou seja, protagonista da sua própria existência. Não se pode esquecer as contribuições que advém do meio social que tanto contribui, manifestando forte influência na formação das experiências, e ainda é importante ressaltar que o ser humano não pode ser apenas visto como um produto resultante do seu meio.

Diante destas conceituações, conforme Antony e Ribeiro (2005) a Gestalt Terapia ver o adoecer como decorrência de certo desequilíbrio relacional existente entre o individuo e o ambiente, visando ter um olhar holístico do adoecimento. “O enfoque gestáltico, assim, visa ir além da descrição dos sintomas, busca o sentido da patologia e as vivências subjetivas da pessoa adoecida” (p.187).

Fonte: http://zip.net/bttL8d

A abordagem fenomenológica existencial tem um papel importante na construção do pensamento psicológico, referindo a relação descrição do fenômeno, isto é, sentimento, pensamento ou fala que faz parte da totalidade do sujeito. O Transtorno do Deficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) vem sendo foco de pesquisas para se conhecer sua etiologia e com isso aprimorar os critérios diagnósticos, visto que, a hiperatividade é muitas vezes analisada a partir de um olhar biologicista desconsiderando aspectos vivenciais do sujeito (ANTONY & RIBEIRO 2004, 2005).

De acordo Antony & Ribeiro (2004, p. 128):

Pesquisas mais recentes têm apontado para uma etiologia multidimensional diante da complexidade desse transtorno e da falta de evidências científicas sólidas que sustentem uma etiologia única e de base exclusivamente biológica. Estudiosos passaram a afirmar que a vulnerabilidade biológica e os fatores psicossociais interagem de um modo circular com relação à causa, gravidade e resultado do transtorno.

Nota-se que na sua etiologia, é um distúrbio que envolve a interação de aspectos biológicos e ambientais. No que concerne os fenômenos biológicos é tangível as contribuições genéticas para a ocorrência deste transtorno; e no que diz respeito aos fatores ambientais, deve-se considerar as questões psicossociais dentre eles os conflitos familiares, baixo poder aquisitivo, criminalidade dos pais dentre outros (CARVALHO, 2015).

Esse tipo de transtorno normalmente apresenta em crianças que estão em idade escolar, e durante muito tempo era tratado de maneira erronia por pessoas não capacitadas, que se baseavam somente nas queixas relatadas pelos pais e professores da criança. Porém nos últimos anos, surgiram pesquisas que aprimoraram os estudos nessa área, contribuindo de forma significativa para o entendimento da doença (SOUZA et al., 2007).

Fonte: http://zip.net/bctLlV

Souza et al. (2007) apresenta estudos que comprovam a complexidade do diagnóstico e do tratamento do TDAH, vendo mais além dos sintomas evidentes de desatenção e hiperatividade, mas também as comorbidades psicológicas que o paciente apresenta. O profissional responsável pelo diagnóstico e tratamento de crianças diagnosticada ou com suspeitas dessa patologia deve conter um bom embasamento teórico e está apto para atuar na prática.

Para diagnosticar o TDAH é necessária uma investigação clínica bastante apurada de toda a história do cliente, e também a utilização de alguns instrumentos, como os testes psicológicos, que facilitam ao profissional a identificar a existência ou não da patologia e as condições psicológicas, sociais e familiares do paciente (CALEGARO, 2002).

De acordo com Guisso e Fabro (2016) os processos de atenção e hiperatividade tem mudado ao decorrer do tempo, as crianças de tempos atrás viviam e brincavam de forma mais ativa que atualmente, tinham tempo e espaço para descarregar suas energias. Já com as crianças de hoje pode-se perceber que vivem cada vez mais envolvidas com atividades realizadas em ambientes fechados, sem muito contato com o ar livre. Produzindo assim uma atenção mais distante.

Fonte: http://zip.net/bgtLnT

Embasado nos referidos acima é possível verificar que o Transtorno do Deficit de Atenção com Hiperatividade é analisado a partir do aspecto histórico e do desenvolvimento individual de cada individuo, por meio das suas experiências de contato. Uma vez que, a Gestalt-Terapia compreende o TDAH como um problema do indivíduo em manter contato e/ou relações saudáveis com algo ou alguém (OAKLANDER, 2008).

A autora afirma em um de seus livros “Descobrindo crianças: a abordagem gestáltica com crianças e adolescentes” traz suas experiências e técnicas terapêuticas em atendimento com crianças, trabalhando de forma criativa para que o cliente expresse seus sentimentos e fantasias proporcionando um espaço livre, a fim de que os conflitos existentes possam emergir. Deste modo, para compreender a criança é importante que o terapeuta entre no seu mundo fantasioso, visto que, o processo de fantasia vivenciado por ela estar diretamente relacionado com a sua vida real. Ela evidencia os benefícios da atenção dada para a criança hiperativa, segundo ela quando alguém as ouve e as levam a sério é possível que haja uma redução nos sintomas hiperativos.

No trabalho com crianças hiperativas, o terapeuta utiliza-se de técnicas que buscam tranquilizar as crianças propondo atividades com materiais que proporcione uma experiência tátil, tendo como exemplo o uso de areia, água, argila, pinturas com os dedos, no processo terapêutico, Oaklander (1980) afirma ainda, que as experiências táteis auxiliam na concentração da criança possibilitando uma consciência de si mesmo e do próprio corpo.

Fonte: http://zip.net/bktLrL

No livro, a autora relata experiências e várias técnicas utilizadas com crianças hiperativas como por exemplo:

“Penso que qualquer experiência tátil ajuda essas criança a se concentrarem e se tornarem mais conscientes de se mesmas – de seus corpos e de seus sentimentos. Quando trabalhava em escolas com crianças emocionalmente perturbadas (“hiperativas” é “antissociais”),  empregava frequentemente a pintura com os dedos, com excelentes resultados. Pedia emprestadas bandejas de almoço do refeitório, colocava um pouco de goma líquida em cada uma, é respingava uma ou duas cores de tinta em pó sobre a goma. As crianças trabalhavam (geralmente em pé ao lado de mesas) lado a lado, com grande prazer. Nos seis anos que trabalhei nesse programa, usei esta atividade frequentemente, com muitos grupos etários é combinações diversas de crianças, bem como com os meus próprios grupos de terapia é sessões individuais. Nunca uma criança jogou tinta em outra ou nas paredes. Trabalhavam absortas, fazendo belos desenhos é experimentando misturas de cores, conversando entre si e comigo enquanto trabalhavam. Quando era ora de parar, pegávamos um grande pedaço de papel, é fazíamos uma maravilhosa impressão que deixávamos secar; depois a ajeitávamos é fazíamos uma moldura com uma cartolina de cor deferente. Cada criança limpava sua área  de trabalho é lavava a bandeja.

O valor desta atividade era amplo. As impressões feitas eram realmente bonitas, e naturalmente as crianças tinham muito orgulho delas e de si próprias… Devido a natureza tátil é cinestésica da atividade, as crianças experienciavam um elevado senso de seus próprios corpos. Pelo fato de se distraírem facilmente, e muitas vezes ficarem confusas pelos estímulos, essas crianças têm uma grande necessidade de experienciar uma volta ao senso de si próprias. Acredito que qualquer experiência tátil é cinestésica promove uma nova é mais forte consciência do eu é do corpo. Com um aumento de consciência de si mesmo, surge uma nova consciência dos sentimentos, pensamentos é ideias.”(OAKLANDER, 1980, p. 251 a 252).

O papel do terapeuta, de acordo com Oaklander (1980), é ajudar as crianças a ter consciência de si mesmo e da sua existência para fortalecer o seu eu e as funções de contato, ajudando-as a perceber o mundo real a sua volta, as diversas possibilidades de escolhas quanto a forma de se viver, apontando quando as escolhas são impossíveis.

Fonte: http://zip.net/bvtLSX

Violet Oaklander (1998), na sua prática clínica, também emprega outro método para se trabalhar com crianças hiperativas.

Se uma criança está irrequieta, passando de uma coisa para outra, etc., posso observá-la fazendo isso por algum tempo, e então estimular este comportamento – encorajá-la a olhar isto olhar aquilo. Chamarei sua atenção para o que ela está fazendo, de forma que não dê a entender um julgamento. Quero fixar aquilo que está fazendo, ajudá-la a tomar consciência e talvez reconhecer o que faz (p. 253).

Podemos concluir que, abordagem fenomenológica existencial tem o papel importante na construção do sujeito quando se trata da descrição do mesmo em sua totalidade. Pois o Transtorno de Deficit de Atenção e Hiperatividade muitas vezes é analisado a partir de um olhar biologicista, assim desconsiderando as vivências do sujeito. É sabido que por meio da relação terapêutica que se alcança a descrição desses fenômenos utilizando-se do método fenomenológico que busca a compreensão do homem em sua essência. No que podemos verificar a importância das técnicas utilizadas pela autora Violet Oaklander.

REFERÊNCIAS:

ANTONY, Sheila; RIBEIRO, Jorge Ponciano. A Criança Hiperativa: Uma Visão da Abordagem Gestáltica. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Brasília, v. 20, n. 2, p.127-134, maio 2004.

ANTONY, Sheila; RIBEIRO, Jorge Ponciano. Hiperatividade: Doença ou Essência Um Enfoque da Gestalt-Terapia. Psicologia Ciência e Profissão, Brasília, v. 2, n. 25, p.186-197, jan. 2005.

CARVALHO, Mariana Coelho. PROGRAMA DE INTERVENÇÃO PSICOMOTORA PARA CRIANÇAS COM TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE – TDAH. 2015. 147 f. Tese (Mestrado) – Curso de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, 2015.

CAVALCANTI, Adriane. Gestalt-Terapia e Psicopedagogia. Construção Psicopedagógica, São Paulo, v. 22, n. 23, p.121-129, jan. 2014.

D’ACRI, Gladys; LIMA, Patricia; ORGLER, Sheila. Dicionário de Gestalt-Terapia: Gestaltês. 2. ed. São Paulo: Sumus Editorial, 2012.

GUISSO, Luciane; FABRO, Ana Carla. Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade: o olhar da Gestalt-terapia. Revista da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 14, n. 2, p.540-551, ago. 2016.

OAKLANDER, V. El Tesoro escondido. Chile: Cuatro Vientos, 2008.

PERLS, F.S. Gestalt-terapia Explicada. Trad. Br. George Schlesinger. São Paulo: Summus, 1997.

SOUZA, Isabella G. S. de et al. Dificuldades no diagnóstico de TDAH em crianças. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, Rio de Janeiro, p.14-18, 2007. Disponível em: <https://www.researchgate.net/profile/Camilla_Pinna/publication/262635391_Challenges_in_diagnosing_ADHD_in_children/links/540f0bab0cf2f2b29a3dc3cf.pdf>. Acesso em: 07 jun. 2017.

ARAÚJO, Ariana Maria Leite – O diagnóstico na abordagem fenomenológica existencial.
Revista IGT na Rede, V.7, Nº 13, 2010, Página 315 de 323. Disponível em: <http://www.igt.psc.br/ojs/>. Acesso em 12 de maio de 2017.

Compartilhe este conteúdo: