Adaline Bowman torna-se imortal, aos 29 anos de idade, após um acidente de carro combinado à uma descarga elétrica causada por um raio. Para muitos a imortalidade é vista como uma benção, porém para Adaline, ela é apenas um infortúnio. Devido a sua nova forma de vida, ela abdica-se de relacionamentos afetivos profundos, para que não sofra ainda mais e nem faça outras pessoas sofrerem também.
Apesar de tal privação, Adaline não deixa de aproveitar sua existência de outras maneiras. Percebe-se que ela passa a olhar a vida com mais valorização, com o objetivo de fazer dela a mais produtiva possível, já que será eterna. Dentre a sua gama de aprendizados, estão a capacidade de falar vários idiomas, ter lido livros a perder de vista, ter trabalhado nas mais variadas áreas de atuação, ter viajado para diversos lugares no mundo e ter visto culturas nascendo e desaparecendo.
Ao assistir a performance de Adaline, passa-se a experimentar um olhar mais poético do fenômeno da existência. Tal fenômeno vai muito além do que os humanos têm costumado perceber no dia-a-dia. O olhar diferenciado da protagonista é permeado de grande angústia na maior parte do tempo, porém isso não lhe impede de ressignificar cada momento da sua existência eterna.
Para Novaes de Sá e Barreto “Há na angústia um sentimento de estranheza, retirando o homem da aparente segurança e da experiência de bem-estar proveniente do nivelamento de seu ser a partir daquilo com que se ocupa no mundo ( 2011, pág. 5).” Esse sentimento de estranheza incentiva o indivíduo a se mover à favor dos seus desejos e ambições terrenos.
Adaline é uma personagem que provoca reflexão no mais profundo quesito da vida, que são “as escolhas feitas dia após dia na existência de cada ser humano”. Existem vários momentos no filme que exemplificam claramente a importância que ela dá a cada decisão e um deles é retratado na cena em que sua filha lhe faz uma ligação telefônica. Para muitas pessoas uma ligação de alguém querido pode ser um evento simples, no entanto, para nossa protagonista, aquele momento merecia a mais atenciosa resposta possível. Cada palavra trocada, cada evento externo ignorado que pudesse lhe fazer dividir o foco de atenção, era significativo para si mesma e para a demonstração de afeto prestada à filha.
A angústia vivenciada por Bowman perpassa o telespectador em todo o filme, e o questionamento constante é sobre a esperança de que ela consiga envelhecer novamente. Quando o telespectador sente esse desejo e percebe-o, passa a reconsiderar tudo aquilo que já tenha visto, sobre os benefícios de ser imortal. Esse momento é único, e faz com que você passe a olhar para o seu próprio ser no mundo e as relações que estabeleceu com as pessoas a sua volta, assim como as formas de existir definidas por si mesmo.
Ressignificar, é a palavra que define o filme A incrível história de Adaline Bowman! Para Gáspari e Schwartz (2005) ressignificar a vida, as relações, os laços, os comportamentos, os erros, os acertos, a história construída, é o passo para verdadeiro encontro de si mesmo. É olhar para além de um calendário que se traduz nos dias de vida, e sim, olhar para si como um ser inserido em um espaço-tempo com tantos outros seres e possibilidades, que podem ser exploradas da forma mais linda e autêntica possível!
FICHA TÉCNICA
A incrível história de Adaline Bowman
Título original: The age of Adaline
Direção: Lee Toland Krieger
Elenco: Blake Lively,Michiel Huisman,Harrison Ford
Ano: 2015
País: EUA
Gênero: Romance, Fantasia, Drama
REFERÊNCIAS:
Novaes de Sá e Barreto, Roberto e Carmém Lúcia. A noção fenomenológica de existência e as práticas psicológicas clínicas. Estudos de Psicologia, vol. 28, núm. 3, julio-septiembre, 2011, pp. 389-394 Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Campinas- SP.
GÁSPAR, Jossett Campagna de; SCHWARTZ, Gisele Maria. O Idoso e a Ressignifi cação Emocional do Lazer. Psicologia: Teoria e Pesquisa, São Paulo, v. 21, n. 1, p.69-76, abr. 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/%0D/ptp/v21n1/a10v21n1.pdf>. Acesso em: 03 dez. 18.