Aquarius: o asco que a sociedade ocidental sustenta pela velhice

No filme Aquarius, tendo como protagonista a fenomenal artista Sônia Braga, temas relevantes sobre a terceira idade são levantados. A obra se passa em um apartamento no bairro de Boa Viagem, em Recife. Grandes corporações imobiliárias estão interessadas em demolir o prédio a fim de expandir seus negócios e tem apenas Clara como a única resistente do prédio inteiro, na qual não aceita qualquer tipo de negociação da empresa. 

 

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Quando a grande corporação imobiliária percebe a inexorável resistência de Clara, começa a tramar estratégias corruptas e libertinas para enfim a inquilina desistir e ceder à proposta deles. Mas ela incansavelmente resiste, chegando até a um certo momento, a recorrer por meio de causas judiciais. Contudo, o que é intrigante na obra é como a fase em que a protagonista está passando mostra a percepção distorcida e deturpada do Ocidente sobre isso. 

Em um dado momento, Clara tenta investir em um flerte sexual com um salva-vidas que trabalha em frente à praia na qual o prédio do seu apartamento se fixa. Ele, desconfiado da proposta, pergunta abertamente se ela está interessado nele, e ela, sem graça da sua reação, desmente e logo em seguida o salva-vidas demonstra uma expressão de alívio, denotando que senhoras daquela idade não poderiam ter ainda algum tipo de atração sexual. 

 

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Isso mostra como a sociedade ocidental desumaniza a velhice, descaracterizando aspectos básicos de um ser humano em suas funções integrais, como o sexo. Além dessa cena, há outro momento em que Clara chega a pagar para obter um serviço sexual, pois percebeu-se que ao decorrer do filme suas investidas para desfrutar de um momento prazeroso com um parceiro eram limitados ou pela sua idade ou pela sua retirada da mama, no qual a repugnavam. 

Além disso, o filme retrata Clara tendo um círculo social bastante diversificado e amplo, o que a torna bastante ativa socialmente. Isto é, ela recebe visita de velhos amigos, sai para festas noturnas com suas amigas, regadas de danças e drinques, sai para programações diurnas com seus familiares e funcionários que trabalham em sua casa e revive momentos de sua antiga profissão como jornalista no interior da sua casa com amigos. 

De cera forma, é uma realidade chocante para os telespectadores, na qual já esperavam uma rotina melancólica, rotineira e pacata por já estar desfrutando da velhice, pois seus filhos já estão todos independentes e com suas próprias famílias. Mas Clara quebra esta expectativa e mostra que mesmo após os 50 anos, é possível ainda manter uma vida social ativa, desfrutando da agitação como os mais jovens demonstram. 

Simbolicamente o filme demonstra que a protagonista não irá abrir mão do seu lar na qual formou seus filhos, teve um ótimo casamento e ótimas lembranças do seu ofício como jornalista. Logo, princípios simples para Clara são inegociáveis, como suas memórias. Por fim, o filme expõe de forma sutil e em pequenos detalhes que a terceira idade não significa esperar passivamente a morte, mas de que pode-se ter apego a vida e ter o apego a uma causa assim como na juventude. 

REFERÊNCIAS

MARCELLO, M. Aquarius- papo de cinema. Disponível em: https://www.papodecinema.com.br/filmes/aquarius/

Revista Piauí. AQUARIUS: O FILME EM QUESTÃO. Disponível em: https://piaui.folha.uol.com.br/aquarius-o-filme-em-questao/