Cartas a um Jovem Terapeuta: Calligaris faz uma ponte magistral entre a teoria e a prática

Bruna Magalhães S Bozolli (Acadêmica de Psicologia)- brunamagalhaes@rede.ulbra.br

O livro traz em seu conteúdo dúvidas de dois jovens em início de carreira, enfatizando sobre o perfil de um psicoterapeuta, essa vocação profissional é útil que o terapeuta possua alguns traços de caráter ou de personalidade que não aprende na faculdade de psicologia, o que eu achei muito válido. Geralmente os pacientes não tem tanta gratidão e reconhecimento pelo terapeuta, então se faço meu trabalho esperando ser amado e admirado, talvez seja contraindicado essa profissão, assim como, esperar presentes de natal, páscoa, ou outras datas comemorativas, vou me frustrar.

A narrativa hábil de Calligaris constrói uma ponte entre teoria e prática, dando vida aos princípios psicanalíticos e psicoterapêuticos, o que foi de muito aprendizado. Seu olhar experiente destaca a importância da empatia, da escuta ativa e da constante auto-reflexão na arte da terapia. Ao abordar desde a dinâmica terapêutica até as nuances da busca por compreensão e transformação, o livro se torna um guia abrangente e inspirador. “Cartas a um Jovem Terapeuta” não se contenta em ser um manual de técnicas; ele transcende as expectativas ao oferecer uma síntese magistral de teoria e prática terapêuticas. Calligaris compartilha sabedoria acumulada, proporcionando ao leitor uma visão holística da profissão que ressoa não apenas com terapeutas em formação, mas também com qualquer indivíduo interessado na intricada interseção entre psicologia, humanidade e compreensão profunda. A escolha do profissional pode ser em grande maioria uma inferência do próprio paciente, importante quando ele fala sobre a sexualidade do terapeuta.

Nos primeiros capítulos, Calligaris responde a 4 bilhetes sobre o início do trabalho do terapeuta, para pacientes escolher um terapeuta o importante é a confiança que se tem por ele, e não é relevante a aparência ou até a orientação sexual. Ele fala sobre pacientes que se deve ou não tratar. O grande analista francês, Jacques Lacan, disse que durante uma supervisão, “que a gente não deveria oferecer tratamento aos parricidas”. Mas não explicou por quê. Ou seja, que cada terapeuta tem seus próprios limites para oferecer análise. Entendo que existe uma linha limiar de auto avaliação quanto ao assunto abordado pelo paciente, se isso me de maneira irreversível, é melhor que eu o encaminhe para outro profissional.

A narrativa hábil de Calligaris constrói uma ponte entre teoria e prática, dando vida aos princípios psicanalíticos e psicoterapêuticos. Seu olhar experiente destaca a importância da empatia, da escuta ativa e da constante auto-reflexão na arte da terapia. Relacionando o livro com a prática, pode-se perceber que agrega e traz um olhar voltado para o terapeuta, o que é importante, já que na faculdade nosso olhar é voltado, na maioria das vezes, para o próprio paciente. Ao abordar desde a dinâmica terapêutica até as nuances da busca por compreensão e transformação, o livro se torna um guia abrangente e inspirador.

Me deixou mais tranquila quanto aos primeiros atendimentos após a formatura quando ele conta que seu primeiro atendimento foi feito em um cômodo de sua própria casa, onde arrumou tudo de forma que sua primeira paciente não sentisse que era a primeira experiência dele com pacientes. Deixou cinzas no cinzeiro, e tempos depois descobriu pela amiga que a paciente procurou por alguém que justamente não tivesse experiências ainda. Então sugere ao longo que livro que pacientes tem suas preferencias diversas, e nem sempre é pelo tempo de experiência. Isso é para estudantes, acolhedor.

A psicoterapia é uma experiência que transforma. Pode-se sair dela sem o sofrimento do qual a gente se queixava inicialmente, mas ao custo de uma mudança. Na saída, não somos os mesmos sem dor, somos outros, diferentes. Para Calligaris, os argumentos apresentados até aqui nos encorajam a redefinir o que é a cura que pode ser esperada de uma psicoterapia e sugerem que, justamente para curar, o psicoterapeuta não deve se apressar.

O livro é uma reflexão ética e uma exploração envolvente das complexidades humanas. Revela-se uma leitura imprescindível para todos que buscam desbravar os caminhos da mente e do coração, oferecendo insights que transcendem os limites da prática clínica, permeando a essência da condição humana.