O filme Charlie – um grande garoto retrata a vida do adolescente de classe alta, de 17 anos, Charlie Bartlett, que após ser expulso da sua escola por fabricar carteiras de identidade falsas, é mandado pela sua mãe para uma escola pública. Sua maior ambição sempre foi a popularidade, após uma consulta com um psiquiatra que lhe passa ritalina, o adolescente sofre uma psicose com o uso do medicamento, descobrindo então a oportunidade perfeita para poder atrair seus colegas.
Numa parceria com o valentão do colégio sugere a venda dos comprimidos em uma festa, o que dá muito certo, logo seus colegas começam a procurá-lo, contando de seus problemas. Charlie começa a frequentar vários psiquiatras e mentir sobre seus sintomas, de acordo com que cada pessoa lhe fala, os diferentes médicos passam diversas medicações a qual ele repassa, juntamente com Murphy. Em um negócio lucrativo e perigoso, o garoto começa a revolucionar o modo de se comportar dos adolescentes, se tornando a pessoa mais influente do colégio, roubando assim o respeito do diretor.
A série traz a problemática do uso da medicação, quando um de seus colegas que passava por uma depressão severa, faz a ingestão de vários medicamentos de uma vez, com a intenção de tirar sua própria vida. Sofrendo uma intoxicação medicamentosa, o que fez com que Charlie refletisse sobre o que a sua influência propagava. O diretor lhe destaca uma frase: “Juntar drogas psiquiátricas com adolescentes é como colocar uma barraca de limonada no deserto.”
Para Foucault a medicalização é uma forma de controle no cotidiano das pessoas, ele acredita que a medicina é o que une a biopolítica com a disciplina, da vida, atuando por meio da noção de norma. Destaca ainda que os transtornos psiquiátricos se expandem e passam a abarcar os problemas cotidianos do comportamento humano a partir da expertise psiquiátrica. Essa expertise está ligada não só a irresponsabilidade de falsos diagnósticos como também ao lucro.
No filme o pai de Charlie está preso, e quando questionado sobre ele pelos amigos o mesmo o considera morto, quando interrogado pelo psiquiatra ele desconversa. Ao passar os remédios por causa da sua indisciplina, com a hipótese diagnóstica de TDAH , o médico dispara a seguinte fala: “Se o remédio fizer efeito você tem, se não fizer você não tem” demonstrando a negligência e falta de avaliação psicológica e multidisciplinar. O controle através de medicamentos, é uma via mais fácil do que o uso e respeito de outras ferramentas, talvez seus problemas de concentração e desvios de comportamentos pudessem ser advindos da sua relação com o pai, não sendo necessário o uso de psicofármacos.
Nenhum psiquiatra no filme chega a investigar, ou adotar uma postura educadora, apenas lidam com receitas, causando todo o efeito dominó. O filme nos faz refletir que o remédio aplicado de forma negligente tem suas consequências. Ao jogar todos os comprimidos no vaso, o garoto sugere que os colegas continuem indo desabafar com ele no banheiro como de costume, onde começa a propor outras soluções, preservando a subjetividade e a fase do desenvolvimento que é adolescência, composta por inúmeros conflitos, dúvidas e amadurecimento.
Fonte: encurtador.com.br/qrEHZ
Ficha técnica
Ano de produção: 2007
Dirigido por: Jon Poll
Estreia: 2007
Duração: 97 minutos
Gênero: comédia/ drama
País de origem: Estados Unidos
Referências
Adorocinema ficha técnica completa Charlie um grande garoto (encurtador.com.br/mwLNU)
CHARLIE um grande garoto. Jon Poll. EUA. – 2007. Amazon Prime vídeos.
Zorzanelli, Rafaela Teixeira e Cruz, Murilo Galvão Amancio conceito de medicalização em Michel Foucault na década de 1970. Interface – Comunicação, Saúde, Educação [online]. 2018, v. 22, n. 66 [Acessado 15 Setembro 2021] , pp. 721-731. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/1807-57622017.0194>. Epub 21 Maio 2018. ISSN 1807-5762. https://doi.org/10.1590/1807-57622017.0194.