FJP está com inscrições abertas para competição no ‘Olé Drogas’
30 de setembro de 2022 Secretaria Municipal de Comunicação de Palmas
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A Fundação Municipal de Juventude de Palmas (FJP) está com inscrições abertas até o dia 19 de outubro para o projeto ‘Olé nas Drogas de Futebol de Base’, que tem o objetivo de promover o intercâmbio entre equipes de jovens atletas, evitar que eles se envolvam com drogas e criminalidade, além de estimular a adoção de um estilo de vida saudável, a cooperação, a amizade e a disciplina. As inscrições podem ser solicitadas pelo e-mail olenasdrogas@gmail.com.
Os jogos estão previstos para acontecer entre 29 de outubro e 3 de dezembro deste ano, sempre aos finais de semana. A expectativa é que 864 crianças e adolescentes, com idades entre 11 e 15 anos participem. Além da faixa etária, os interessados ainda precisam participar de alguma escola ou time de futebol, associações públicas e particulares da cidade de Palmas ou de todo o Estado do Tocantins.
O presidente da FJP, Nélio Nogueira Lopes, diz que está muito animado para o resultado desse Campeonato. “Este grande evento esportivo ‘Olé nas Drogas’, será um marco para o futebol tocantinense e para os garotos que aqui vivem e precisam sair de seu estado para jogar competições Brasil a fora. Será um evento que será fixado no calendário para acontecer todos os anos”, afirmou.
Já o gerente de Políticas sobre Drogas, da FJP, Bruno Mendes, disse acreditar que o esporte é umas das ferramentas mais eficazes de prevenção contras as drogas. “Sabemos que o esporte é um balizador para a igualdade social e a idéia é que o projeto seja mais uma ferramenta para evitar que os jovens se envolvam com a criminalidade e drogas, além de prevenir sentimentos depressivos”, destacou Bruno.
O Projeto vai contemplar as grandes regiões do Município e abrange a região central de Palmas, no Campo Oficial da quadra Arse 62 (606 Sul ou 1BPM), região de Taquaralto e Aurenys no Campo Oficial da Aureny I, região norte no Complexo Esportivo da Arne 51 (404 Norte) e região de Taquarussu no Campo de Taquarussu.
As equipes de competidores serão organizadas em categorias SUB-11, SUB-13 e SUB-15, sendo que cada categoria poderá ter 16 equipes. O Congresso Técnico será realizado na semana de início dos jogos, na sede da FJP, localizada no Parque Cesamar. As equipes vencedoras em primeiro e segundo lugar receberão troféus e medalhas e os atletas destaques, artilheiros e melhores goleiros receberão troféus.
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Charlie – um grande garoto: reflexões da medicalização em adolescentes
Fonte: encurtador.com.br/npzN5 / Tradução: “pessoas como você são a razão pessoas como eu precisam de medicação”
O filme Charlie – um grande garoto retrata a vida do adolescente de classe alta, de 17 anos, Charlie Bartlett, que após ser expulso da sua escola por fabricar carteiras de identidade falsas, é mandado pela sua mãe para uma escola pública. Sua maior ambição sempre foi a popularidade, após uma consulta com um psiquiatra que lhe passa ritalina, o adolescente sofre uma psicose com o uso do medicamento, descobrindo então a oportunidade perfeita para poder atrair seus colegas.
Numa parceria com o valentão do colégio sugere a venda dos comprimidos em uma festa, o que dá muito certo, logo seus colegas começam a procurá-lo, contando de seus problemas. Charlie começa a frequentar vários psiquiatras e mentir sobre seus sintomas, de acordo com que cada pessoa lhe fala, os diferentes médicos passam diversas medicações a qual ele repassa, juntamente com Murphy. Em um negócio lucrativo e perigoso, o garoto começa a revolucionar o modo de se comportar dos adolescentes, se tornando a pessoa mais influente do colégio, roubando assim o respeito do diretor.
A série traz a problemática do uso da medicação, quando um de seus colegas que passava por uma depressão severa, faz a ingestão de vários medicamentos de uma vez, com a intenção de tirar sua própria vida. Sofrendo uma intoxicação medicamentosa, o que fez com que Charlie refletisse sobre o que a sua influência propagava. O diretor lhe destaca uma frase: “Juntar drogas psiquiátricas com adolescentes é como colocar uma barraca de limonada no deserto.”
Fonte: encurtador.com.br/ailpI
Para Foucault a medicalização é uma forma de controle no cotidiano das pessoas, ele acredita que a medicina é o que une a biopolítica com a disciplina, da vida, atuando por meio da noção de norma. Destaca ainda que os transtornos psiquiátricos se expandem e passam a abarcar os problemas cotidianos do comportamento humano a partir da expertise psiquiátrica. Essa expertise está ligada não só a irresponsabilidade de falsos diagnósticos como também ao lucro.
No filme o pai de Charlie está preso, e quando questionado sobre ele pelos amigos o mesmo o considera morto, quando interrogado pelo psiquiatra ele desconversa. Ao passar os remédios por causa da sua indisciplina, com a hipótese diagnóstica de TDAH , o médico dispara a seguinte fala: “Se o remédio fizer efeito você tem, se não fizer você não tem” demonstrando a negligência e falta de avaliação psicológica e multidisciplinar. O controle através de medicamentos, é uma via mais fácil do que o uso e respeito de outras ferramentas, talvez seus problemas de concentração e desvios de comportamentos pudessem ser advindos da sua relação com o pai, não sendo necessário o uso de psicofármacos.
Nenhum psiquiatra no filme chega a investigar, ou adotar uma postura educadora, apenas lidam com receitas, causando todo o efeito dominó. O filme nos faz refletir que o remédio aplicado de forma negligente tem suas consequências. Ao jogar todos os comprimidos no vaso, o garoto sugere que os colegas continuem indo desabafar com ele no banheiro como de costume, onde começa a propor outras soluções, preservando a subjetividade e a fase do desenvolvimento que é adolescência, composta por inúmeros conflitos, dúvidas e amadurecimento.
Fonte: encurtador.com.br/qrEHZ
Ficha técnica
Ano de produção: 2007
Dirigido por: Jon Poll
Estreia: 2007
Duração: 97 minutos
Gênero: comédia/ drama
País de origem: Estados Unidos
Referências
Adorocinema ficha técnica completa Charlie um grande garoto (encurtador.com.br/mwLNU)
CHARLIE um grande garoto. Jon Poll. EUA. – 2007. Amazon Prime vídeos.
Zorzanelli, Rafaela Teixeira e Cruz, Murilo Galvão Amancio conceito de medicalização em Michel Foucault na década de 1970. Interface – Comunicação, Saúde, Educação [online]. 2018, v. 22, n. 66 [Acessado 15 Setembro 2021] , pp. 721-731. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/1807-57622017.0194>. Epub 21 Maio 2018. ISSN 1807-5762. https://doi.org/10.1590/1807-57622017.0194.
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Caos 2021: A importância de grupos de orientação familiar para usuários de álcool e outras drogas
O minicurso “A importância de grupos de orientação familiar para usuários de álcool e outras drogas” acontecerá no dia 04 de novembro, será online via Google Meet no horário de 9h às 12h, na sala poderá ter até 100 participantes onde a convidada Maísa Carvalho Moreira irá compartilhar com os telespectadores a sua experiência com as famílias e os usuários de álcool e outras drogas, irá comentar também como funciona a mediação entre sujeito e a família e qual o objetivo e a importância da família no tratamento.
Existem fatores que contribuem para o uso de álcool e outras drogas, os gatilhos acionam comportamentos que levam o usuário a recair e ir em busca da substância de sua preferência. A dependência é uma patologia, não muito bem esclarecida para a sociedade que ainda fortalece o discurso onde o usuário pode sim escolher e manter a escolha de não usar. Ao ser marginalizado pela família e pela sociedade, o sujeito se afasta cada vez mais do tratamento.
O CAPS – AD é uma instituição que acolhe todos os usuários que recorrem ao serviço. Por ser um local onde é de acesso a toda comunidade, além de atender os profissionais desenvolvem meios que informam a comunidade sobre o tema drogas e o que acarreta, fornecem novos meios e ferramentas para que o sujeito resgate sua autonomia. Tanto a comunidade quanto a família são catalisadores para que exista qualidade de vida para o usuário de álcool e outras drogas.
A rede de apoio é fundamental para que sejam percebidos os gatilhos que levam ao consumo maléfico de drogas em geral. A família também está adoecida e a ausência de conhecimento das formas que engatilham o usuário acaba mantendo todos os membros envolvidos adoecidos, vivendo em um sistema onde a melhora se torna ainda mais difícil. A interação desses membros promove qualidade de vida para o usuário.
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Dia Nacional de Combate às Drogas e ao Alcoolismo: aumento no consumo durante a pandemia reforça importância da data
10 de fevereiro de 2021 CEJAM - Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim”
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Em 20 de fevereiro, o país chama a atenção para as consequências geradas pelo uso excessivo dessas substâncias
Ao longo dos últimos meses, pesquisas confirmaram o aumento no consumo de álcool e drogas provocado pelo isolamento social, durante a pandemia de Covid-19. Estudo da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), por exemplo, reportou que 35% dos entrevistados com idades entre 30 e 39 anos relataram ter ampliado o número de ocasiões em que consumiram mais de cinco doses de álcool. Como resultado, a OMS (Organização Mundial da Saúde) chegou a recomendar que os países limitassem a venda de bebidas alcoólicas no período. Nesse sentido, ganha ainda mais importância a data de 20 de fevereiro, considerada o Dia Nacional de Combate às Drogas e ao Alcoolismo.
“Uma campanha deste tipo chama a atenção para uma problemática recorrente, que nos acompanha todos os dias”, avalia Guilherme Campanhã, psicólogo do CAPS AD (Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e Drogas) Jardim Ângela, gerenciado pelo CEJAM – Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim” em parceria com a Prefeitura Municipal de São Paulo.
“Poder dedicar um dia para falar especificamente sobre as drogas possibilita repensar nossa relação com as substâncias psicoativas e promover maior consciência no papel que elas ocupam na vida de todos”, completa.
Em seu atendimento clínico diário, o psicólogo também observou um agravamento no quadro de usuários de álcool e drogas. De acordo com o profissional, esse aumento no consumo ocorre principalmente em uma tentativa de “suportar” as incertezas e transformações trazidas pela pandemia.
“Ocorre que, muitas vezes, o caminho conhecido para lidar com angústias é justamente o uso abusivo destas substâncias. Construir novas formas de elaborar e encarar as dificuldades é o que permite a ressignificação do papel das substâncias na realidade destes usuários”, afirma.
Para auxiliar a população neste momento difícil, São Paulo disponibiliza o atendimento através dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e das Unidades Básicas de Saúde (UBS). A rede municipal conta, atualmente, com 95 CAPS, sendo 31 deles sobre Álcool e Drogas (AD), 32 Infanto-juvenis e 32 Adultos.
No entanto, ainda assim, é preciso ampliar o debate sobre o assunto. “Ainda que, hoje em dia, a questão das drogas seja discutida mais abertamente, temos muito o que avançar. Se por um lado os adolescentes têm mais acesso à informação, por outro as dificuldades econômicas, sociais e a falta de perspectivas empurram os jovens para um consumo cada vez maior das substâncias”, avalia.
Atenção com familiares
No processo de atendimento, acolhimento e tratamento dos dependentes químicos é muito importante que a família esteja envolvida em uma rede de proteção. Muitas vezes cabe aos próprios familiares perceberem os sinais que indicam uma possível dependência, como mudanças bruscas no padrão do humor, dificuldades em manter uma rotina e sustentar as relações.
“Precisamos encarar a dependência química de forma aberta e sem preconceitos. Os familiares podem sempre buscar ajuda e orientações nos equipamentos de saúde, em especial os CAPS, que mantêm plantão de acolhimento ‘porta aberta’, sem necessidade de encaminhamento prévio. É importante ressaltar que, ainda que o paciente apresente resistência em se tratar, os CAPS estão aptos a acolher e atender os familiares”, explica o psicólogo.
“A melhor forma de ajudar uma pessoa nesta situação é não julgá-la, colocando-se ‘ao lado dela’. Ocorre que muitas famílias ainda enxergam a dependência química como um desvio de caráter e não como uma doença e isso, certamente, dificulta o processo de aceitação e o próprio tratamento em si”, completa.
Principalmente em relação ao álcool, os familiares podem avaliar se o consumo deixou de ser eventual para se tornar um hábito, a partir da frequência e da quantidade ingerida. “De forma geral, quando o uso de determinada substância começa a se sobressair em detrimento da rotina de vida da pessoa, além do surgimento de conflitos e prejuízos nas mais diversas áreas da vida, é preciso acender o sinal de alerta e buscar ajuda profissional”, conclui Guilherme Campanhã.
Na pandemia, houve o triste aumento de casos de violência contra a mulher. Devemos reforçar que violência é qualquer tipo de agressão, seja ela física, psicológica, sexual, patrimonial ou moral e deve ser combatida.
Alguns fatores como o aumento do consumo de álcool e drogas, problemas financeiros e com a saúde mental, podem ser gatilhos para revelar indivíduos agressivos ou expor mais o lado violento da pessoa. Temos que levar em consideração que o indivíduo não se tornou violento ou agressor durante a pandemia. A violência é um comportamento aprendido em casa ou na sociedade.
Muitos acreditam que no período pós-pandemia as agressões vão diminuir, caso isso ocorra, a queda não corresponde à realidade. Em lares que ocorrem essas agressões, as relações e os laços familiares já apresentam fragilidades, muitas vezes por conta de históricos de violência verbal e até física.
Fonte: encurtador.com.br/artOR
Para combater é importante dar voz e credibilidade a vítima. Muitas vezes, ela fica desacreditada, pois parte dos agressores são sociáveis, bons amigos e prestativos. Isso faz com que estejam acima de suspeitas, mas em seu lar são opressores, violentos e agressores. Também é importante que vizinhos não se calem ao perceber algo, porque a vítima, em geral, sente vergonha ou medo de buscar ajuda.
Alguns serviços acessíveis são a DEAM (Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher) com atendimento voltado para demanda da violência doméstica, dando o suporte e encaminhando a vítima para a rede de apoio, também às medidas protetivas e aos abrigos sigilosos. Além disso, tem a campanha “sinal vermelho”, que a mulher pode receber auxílio em farmácias imediatamente ao exibir um “X” na mão.
Fonte: encurtador.com.br/gnvI7
No artigo 35 da Lei nº 11.340/06 prevê que a União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios poderão criar e promover, no limite de suas competências, centros de educação e de reabilitação para os agressores; e o artigo 45 estabelece que nos casos de violência doméstica contra a mulher, o juiz poderá determinar o comparecimento obrigatório do agressor aos programas de recuperação e reeducação. Para casos urgentes, existem o Disque 180, da Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência, e o 190, da Polícia Militar.
Dedico parte do meu tempo divulgando esses serviços em minhas redes sociais, sendo voluntária do Projeto Justiceiras, acolhendo, auxiliando, empoderando e fazendo com que essa vítima perceba que pode estar em situação de violência. Para combater a violência precisamos de uma rede de apoio, com medidas e ações educacionais, sociais e jurídicas. Denuncie qualquer tipo de violência contra a mulher.
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Palmas recebe o I Fórum Tocantinense de Redução De Danos
23 de outubro de 2019 Bruna Medeiros Freitas
Notícias
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O objetivo é construir um espaço de diálogo coletivo para o debate das ações e estratégias para o fortalecimento da RD no Estado do Tocantins e fortalecer a política no Brasil.
O I Fórum Tocantinense de Redução de Danos, promovido pela Associação Brasileira de Redução de Danos (ABORDA), Coletivo Antimanicomial de Palmas (COLAPA) e Universidade Estadual do Tocantins (UNITINS), com o apoio da Fundação Escola de Saúde Pública de Palmas (FESP), do Serviço Social da Indústria (SESI), do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC) e do Conselho Regional de Psicologia 23ª Região (CRP-23), e acontecerá no dia 25 de outubro de 2019, das 8:00 às 18:00, no auditório da sede administrativa da UNITINS.
Nesse espaço, pretende-se debater a atual situação da política de Redução de Danos e Saúde Mental com a rede intersetorial da Assistência Social, Educação, Justiça e Saúde, bem como entidades não governamentais, sociedade civil, Conselhos de Classe e setores do controle social. Compreendendo o cenário de retrocessos que as políticas públicas estão vivenciando, em especial no que tange à Política de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas, e as necessidades para uma construção de uma política sobre drogas humanitária que respeite os direitos humanos, a Associação Brasileira de Redução de Danos (ABORDA) vem debatendo, ao longo desse ano, os 30 anos da Redução de Danos no Brasil, seus limites e desafios.
Fonte: Divulgação
Para isso, vão se reunir instituições e atores importantes no Estado do Tocantins envolvidas com a execução da política de drogas, que executam ações de Redução de Danos e trabalham pautadas na lógica de cuidado que respeita as singularidades individuais, os direitos humanos e o exercício da cidadania, especialmente junto às populações-chave.
O objetivo é construir um espaço de diálogo coletivo para o debate das ações e estratégias para o fortalecimento da RD no Estado do Tocantins e fortalecer a política no Brasil com objetivo de minimizar os danos decorrentes do uso de drogas, diminuir o índice de contaminação pelo vírus Hiv/Aids/Hepatites Virais/Tuberculose e outras vulnerabilidades nas populações-chave (usuários e usuárias de álcool e outras drogas, pessoas vivendo com HIV, pessoas em situação de rua, pessoas em sofrimento psíquico e com transtornos mentais, trabalhadores e trabalhadoras do sexo, população periférica e outras).
Fonte: Divulgação
Para alcançar esses objetivos, o Fórum contará com uma mesa dialogada composta por representantes de instituições e movimentos sociais importantes na história da Redução de Danos no Estado, para construir uma linha do tempo da RD no Tocantins e em Palmas. No período vespertino, serão formados grupos de trabalho para discutir as dificuldades da efetivação da Redução de Danos em três eixos temáticos: Estratégias de cuidado em Redução de Danos; Redução de Danos nos espaços de Ensino e Pesquisa; Processos de gestão e garantia de direitos.
O evento é destinado aos trabalhadores, gestores, usuários e familiares das redes intersetoriais (saúde, assistência social, justiça e educação), coletivos e movimentos sociais, Conselhos de Classe, sociedade civil, Universidades e outras instituições de formação, órgãos do controle social e demais atores envolvidos na construção do cuidado pautado nos direitos humanos, respeito à liberdade individual e redução dos danos e vulnerabilidades sociais, psicológicos, biológicos.
Fonte: Divulgação
A inscrição para o evento está sendo realizada por meio do link. Os participantes receberão certificação pela Universidade Estadual do Tocantins, mediante assinatura na lista de frequência.
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Nasce uma Estrela: Lady Gaga se despoja de artifícios e traz música à superfície
Melhor Filme, Melhor Ator, Melhor Atriz, Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Fotografia, Melhor Mixagem de Som, Melhor canção original
Em todos os bons momentos me vejo desejando uma mudança E, nos momentos ruins, tenho medo de mim mesma (Tradução de versos da música Shallow, de Lady Gaga e Bradley Cooper)
Star is Born é a quarta versão da história de uma estrela que nasce enquanto outra se apaga. Até 1970, a cada duas décadas esta história era novamente contada. A primeira produção ocorreu em 1937, quando William Wellman dirigiu Janet Gaynor como a jovem atriz que se apaixonava por Fredric March, o ídolo alcoólatra e desiludido. Judy Garland e James Mason reprisaram os papéis no clássico de Cukor em 1954, quando novamente a estrela era uma atriz, e sua estreia em um musical ocupou 15 minutos do filme. Só em 1976, no remake de Frank Pierson, que há uma mudança de cenário, os bastidores do cinema dão espaço ao mercado musical, com Barbra Streisand no papel principal e Kris Kristofferson como uma estrela de rock em declínio.
Fonte: Live Nation Productions, LLC; Malpaso Productions.
Depois de mais de 40 anos, nossa geração finalmente ganha sua versão de Star is Born, e a espera não poderia ter um resultado mais interessante. Bradley Cooper estreia na direção (além de ser co-roteirista, ter o papel masculino principal do filme e colaborar na composição da canção principal) e traz como estrela da sua versão de Star is Born nada menos que a rainha do pop, Lady Gaga, até então vista, na maior parte de suas apresentações e saídas públicas, com adereços espetaculares, roupas inusitadas (quem não lembra daquele vestido de carne?) e performances acrobáticas (vide o show no Super Bowl https://www.youtube.com/watch?v=txXwg712zw4). Além disso, Gaga é dona de uma voz poderosa, toca vários instrumentos e compõe suas próprias músicas (grande parte das composições do filme tem sua assinatura). Isso, mais sua personalidade intrigante, sempre a colocaram em um patamar elevado nesse competitivo e implacável cenário musical do século XXI.
Mas, voltando ao filme, Jackson, o country-roqueiro que passa grande parte da sua vida alcoolizado (interpretado por Bradley Cooper) tem uma visão bem particular sobre a música. Sua visão parece ser a metáfora ideal para explicar porque uma história tão batida ainda chama tanto a atenção e é tão aclamada pelo público e pela crítica. Ele dizia que “a música é essencialmente 12 notas entre qualquer oitava. 12 notas e a oitava se repete. É a mesma história contada várias vezes, para sempre. Tudo que um artista pode oferecer ao mundo é como ele vê essas 12 notas. Só isso.” E acrescentou que amava como Ally (Lady Gaga) as via. Talvez aí esteja o segredo do sucesso do filme, a história tem um mesmo esqueleto, mas quando vemos Ally aparecer em um palco de um bar cantando “La Vie en Rose”, e Jackson é atraído por aquela voz, aceitamos embarcar na história novamente, mesmo já presumindo o inevitável final. A química entre eles, citada em toda crítica e entrevista sobre o filme, salta da tela. Isso e mais uma Ally tão diferente da imagem que temos da Lady Gaga, ou seja, mais vulnerável (sem ser fraca), quase nenhuma maquiagem e com um cabelo sem produção tornaram essa versão de Star is Born especial e, por que não, única.
Fonte: Live Nation Productions, LLC; Malpaso Productions.
A impressão que temos é que os dois se apaixonam, especialmente, pelo talento um do outro. Para Jackson, um artista precisa ter algo a dizer, não basta ser apenas uma voz, e ele via isso em Ally, pela forma natural que a música nascia dela. Shallow, a música tema, é apresentada pela primeira vez em um estacionamento, na noite que eles se encontraram. Na música, Ally mostra que em pouco tempo já entendeu a falta de sentido e o desassossego que marcam a vida dele (Diga-me uma coisa, garoto, você não está cansado de tentar preencher esse vazio? Ou você precisa de mais? Não é difícil manter isso tão extremo?). Na próxima vez que a música vem à tona, é no show dele, quando a convida para cantar no seu show de surpresa e começa a entoar um verso que compôs para ela: “Diga-me uma coisa, garota, você está feliz neste mundo moderno? Ou precisa de mais? Há algo mais que está procurando?”. E nestes versos são apresentados como um vê o outro, mas, especialmente, como a história de cada um fatalmente os separará.
Fonte: Live Nation Productions, LLC; Malpaso Productions.
Segundo Peter Travers, da Rolling Stone [1], o papel de Ally foi geralmente interpretado como uma moça ingênua à procura de orientação em um mundo de predadores masculinos. Mas, sorte a nossa – e do filme – Gaga não faz a ingênua. Ally sabe de seu potencial, sabe que é boa, apesar de ter sido preterida por uma indústria que gosta de seu som, da sua voz, mas não da sua aparência.
Dois outros relacionamentos são trazidos à tona no filme: a relação da Ally com seu pai, um cantor frustrado, mas amável e presente; e de Jackson com seu irmão mais velho, Bobby (Sam Elliott), que também tinha sido um cantor, mas abriu mão de sua carreira para apostar no irmão mais talentoso, que além da voz, também criava suas composições. A bebida não fez de Jackson um homem violento ou fanfarrão, como em algumas das versões anteriores do filme, mas levou-o a um estado mais autodestrutivo, presenciado, em alguns momentos, por seu irmão.
Fonte: Live Nation Productions, LLC; Malpaso Productions.
Na segunda parte do filme temos conhecimento do passado do Jackson, da sua vida com o pai alcoólatra e da sua tentativa de suicídio aos 13 anos, também vemos Ally atingir o estrelato de forma meteórica. Meteoros iluminam, mas também destroem. Nem sempre o amor ou a arte são capazes de mudar a direção de uma pessoa. A jornada obscura que Jackson travava em sua mente e em seu organismo enfraquecido pelo vício mostrou-se, muitas vezes, uma jornada solitária e, em alguns aspectos, doentia.
Assim, cada vez mais distantes da parte rasa e, talvez, por isso mesmo, estupidamente tranquila da vida, tem-se o ápice da jornada de ambos. A ícone pop e o artista em declínio parecem, em um dado momento, vivenciar um dos aspectos mais estranhos da física quântica, o entrelaçamento quântico, aquilo que Einstein nomeou uma vez como uma “ação fantasmagórica à distância” [2]. Isso é notado quando dois objetos estão em uma espécie de paralelo infinito, mas em um dado ponto (neste caso, a música), misteriosamente, se encontram. De certa forma, algumas músicas podem tocar vários pontos equidistantes e heterogêneos, podem até ultrapassar nossa noção de espaço e, especialmente, de tempo. Talvez para Ally e Jackson, a música é a constante em meio a turbulência, conectando-os a muitos outros que são tocados pelas suas composições, mesmo que todos pareçam estar sempre em um infinito e angustiante movimento.
FICHA TÉCNICA:
NASCE UMA ESTRELA
Título original: A Star Is Born Direção: Bradley Cooper Elenco: Lady Gaga, Bradley Cooper, Sam Elliott; Ano: 2018 País: EUA Gênero: Drama, Música
A faca se aproximou da minha garganta novamente, eu quase voltei a ligar o gás, mas quando os bons momentos chegaram, não lutei contra eles como um adversário. Deixei-os me levarem, deleitei-me com eles, fiz com que fossem bem-vindos em casa. “Let It Enfold You,” by Charles Bukowski
Beautiful Boy (Querido Menino) é uma adaptação de dois livros de memórias: Beautiful Boy (2008), de David Sheff; e Tweak: Growing Up on Methamphetamines (2009), de Nic Sheff. Ambos são pai e filho e mostram na descrição de suas memórias como as consequências do vício podem produzir feridas profundas no indivíduo e em sua família. O filme traz à tona a história real de David e Nic, interpretados respectivamente por Steve Carell e Timothée Chalamet a partir da perspectiva de David, o pai, em sua tentativa de entender e ajudar o filho Nic, de 18 anos, em sua complexa jornada de dependente químico.
O desafio do diretor Felix Van Groeningen foi distinguir este filme de tantos outros sobre o mesmo tema (como os espetaculares Trainspotting e Requiem for a Dream, ou o drama adolescente estrelado por DiCaprio, The Basketball Diaries). Assim, quando o diretor concentrou-se na relação pai e filho, apresentou alguns diferenciais na trajetória por vezes tão repetitiva do vício (uso, reabilitação, sobriedade e recaída). Nessa direção, ao acompanharmos as angústias de David, vimos as indagações de tantos pais antes e depois dele: “Por quê?” Por que seu filho inteligente, sensível e carinhoso se tornou um dependente químico? Que momento ativou a mudança de comportamento? De quem é a culpa? Nenhuma dessas indagações tem uma resposta satisfatória, muitas delas nem têm respostas.
Várias gerações leram na adolescência o livro O Estudante, de Adelaide Carraro, publicado pela primeira vez em 1975. O livro é um alerta a pais, jovens e professores sobre as múltiplas faces do dependente químico, mostrando que qualquer pessoa pode se envolver nesse universo, logo não há distinção de classe social, idade etc., e muitas vezes, não há um porquê, por exemplo, um trauma na infância ou adolescência motivador da mudança de comportamento. Em Beautiful Boy é essa ausência de motivo que torna a jornada do pai ainda mais angustiante. Ele é um escritor, sempre buscou elementos em suas histórias que fossem condutores dos seus personagens, estava acostumado a identificar estímulos que geravam mudanças de comportamento. E justamente na história protagonizada por seu filho, esses estímulos lhe pareciam obscuros. Talvez porque o ambiente e suas variáveis são assimilados diferentemente por cada indivíduo, o que para o pai não parecia ter sentido, para Nic, estar sob o efeito de uma droga que lhe permitisse ter sensações novas, aflorava sua sensibilidade e sua percepção.
Para mostrar como funciona a mente do pai nessa jornada em entender os motivos que levaram seu querido menino ao vício, o diretor trabalha com flashbacks dos momentos da infância à adolescência de Nic, sempre mostrando a relação dos dois. O filme não tem uma sequência linear, todo esse vai e vem de lembranças, ao final, reforçam a tentativa de David em entender em que momento perdeu o filho, ou em que momento algo foi potencialmente acionado e que transformou de forma aparentemente definitiva o menino que ele criou, que ele ama.
A metanfetamina, que é a principal droga usada por Nic, é um estimulante extremamente potente que afeta várias áreas do Sistema Nervoso Central (SNC). Segundo Gouveia (2017, apud LINEBERRY and BOSTWICK, 2006; ALAM-MEHRJERDI et al, 2015):
Há vários efeitos sistêmicos associados ao consumo de metanfetamina, destacam-se no nível psiquiátrico: ansiedade, irritabilidade, paranoia e o comportamento compulsivo e obsessivo; no nível cardíaco: taquicardia, hipertensão, palpitações, arritmias e síndrome coronário agudo; no sistema pulmonar: taquipneia, dispneia e edema agudo do pulmão; no sistema renal: insuficiência renal aguda e rabdomiólise; no nível dermatológico: escoriações, úlceras e queimaduras químicas; e, por fim, no nível metabólico: hipertermia e acidose metabólica.
Para entender o que se passava no organismo do filho, especialmente como a droga afetava sua mente, David procurou ajuda de um médico, e a resposta que recebeu foi devastadora. Segundo o psiquiatra, a metanfetamina muda fisicamente o cérebro, pois há uma perda dos receptores de dopamina. Além disso, o médico mostrou uma imagem do cérebro de um viciado em metanfetamina e apontou para dois pontos vermelhos, que representavam uma hiperatividade na amígdala, a região do cérebro ligada à ansiedade e ao medo. No caso de um viciado nesta droga, “a amígdala está gritando”, segundo o psiquiatra “isso mostra que há uma base biológica que pode fazer com que os usuários desta droga sejam incapazes, não sem vontade, mas sim incapazes de participar de programas de reabilitação tradicionais”.
Enquanto David sai em sua cruzada para entender as consequências da droga no organismo do seu filho na esperança de encontrar algum meio para ajudá-lo, Nic se afasta cada vez mais do garoto que ele foi. Usa várias drogas até se viciar em metanfetamina. Nesse percurso é mostrado desde o garoto de personalidade introspectiva, muito inteligente e sensível, brincalhão e carinhoso com seus irmãos mais novos, fã de David Bowie e um leitor voraz das poesias de Charles Bukowski até o rapaz fragmentado, confuso, sem forças para lidar contra o vício e com uma aparência modificada pelo uso excessivo da droga. Ao final, pouco lembra o “beautiful boy” que dá título ao filme.
Na poesia de Charles Bukowski, lida por Nic, há um trecho que diz “paz e felicidade para mim eram sinais de inferioridade, inquilinas de uma mente fraca e confusa, mas enquanto eu prosseguia com minhas lutas no beco, meus anos suicidas, […] me ocorreu que eu não era diferente dos outros, eu era o mesmo, eram todos cheios de ódio, encobertos por pequenas queixas”. A homogeneização potencializada pelo uso de drogas favorece uma interpretação mais perturbadora dessa poesia. Nic e sua namorada, assim como outros viciados que aparecem no filme, começam a evidenciar angustiantes semelhanças, até no aspecto físico.
Um dos pontos mais emocionantes do filme ocorre no depoimento de uma mãe em uma reunião de apoio a familiares de dependentes químicos. Ela inicia o depoimento dizendo que sua filha tinha morrido de overdose naquela semana, e depois acrescenta: “Estou de luto, mas eu percebi outra coisa, na verdade estou de luto há anos, porque, mesmo quando viva, ela não estava lá. Quando você fica de luto pelos vivos, é um jeito duro de viver.” Além de todos os problemas causados no organismo do dependente químico, as drogas também deixam um rastro de dor, desespero, vergonha e culpa. Nas reuniões com os familiares, há uma tentativa de minimizar tais sentimentos negativos por meio do compartilhamento de vivências.
Ao final, talvez a mensagem mais contundente seja a transmitida por alguns versos do Bukowski em sua poesia “Let It Enfold You”: “Cautelosamente me permiti sentir-me bem às vezes. Eu encontrei momentos de paz em quartos baratos apenas olhando para os botões de alguma cômoda ou ouvindo a chuva no escuro, quanto menos eu precisasse, melhor me sentia.” Mas, sentir-se bem nem sempre é possível, nem sempre é algo que dependa somente da pessoa, nem sempre nosso organismo contribui com nossos lampejos de enfrentamento. Assim tão relevante quanto apreciar as coisas simples da vida, é importante ter empatia com o outro. E, neste contexto, prestar atenção ao outro que sofre compreende a atenção ao dependente químico e aos seus familiares, cujas relações foram fragmentadas em meio a resíduos de dor, violência e desesperança.
FICHA TÉCNICA DO FILME
BEAUTIFUL BOY
Título original: Beautiful boy Direção: Felix Van Groeningen Elenco: Steve Carell, Timothée Chalamet, Maura Tierney, Amy Ryan Ano: 2018 País: EUA Gênero: Drama
Referências ALAM-MEHRJERDI, Z., MOKRI, A., DOLAN, K. Methamphetamine use and treatment in Iran: A systematic review from the most populated Persian Gulf country. Asian journal of psychiatry. 2015; 16:17-25.
GOUVEIA, P. J. B. Psicoses induzidas por anfetaminas: Um trabalho de revisão. Dissertação de Mestrado. Março, 2017. Disponível em: https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/104590/2/195181.pdf.
LINEBERRY, T.W., BOSTWICK, J.M. Methamphetamine abuse: a perfect storm of complications. Mayo Clinic proceedings. 2006; 81(1):77-84.
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Cidade de Deus: o poder das narrativas cinematográficas no retrato da realidade comunitária
Cidade de Deus pode ser considerada uma das maiores obras do cinema nacional, seja pela sua importância na denúncia da violência, pelas atuações memoráveis, ou por, infelizmente, ainda retratar um cenário atual nas favelas
Cidade de Deus é um filme de 2002 dirigido por Fernando Meirelles, inspirado no romance homônimo escrito por Paulo Lins. Após seu lançamento, o filme ganhou grande repercussão nacional e internacional sendo indicado em quatro categorias no Oscar de 2004 [1], por retratar a guerra entre traficantes ocorrida na favela Cidade de Deus entre as de 70 e 80. Porém, a adaptação de Meirelles, assim como a obra de Paulo Lins, atraíram também críticas negativas, acusadas de fortalecer o estigma e o preconceito sobre a população da comunidade.
Fonte: https://bit.ly/2U4jHrn
Atrás das faces da violência há uma comunidade
A partir do lançamento do livro Cidade de Deus, Paulo Lins se tornou um nome de destaque na literatura nacional. A narrativa sobre a realidade da comunidade no rio de janeiro foi retratada sob o ponto de vista de quem sofre com suas mazelas, viabilizando uma rede que procurou dar voz a quem estava no “não lugar” dessas discussões [2]. Essa sensibilidade também pode ser percebida na obra de Meirelles, que contratou vários jovens de comunidades do Rio de Janeiro, inclusive de Cidade de Deus, resultando em personagens mais próximos da realidade [3].
O filme se passa inicialmente no conjunto habitacional Cidade de Deus, construído entra 1962 e 1965, pelo então governador Carlos Lacerda [3]. Com a transformação de Distrito Federal para Estado da Guanabara, Lacerda executou um projeto de remoção das favelas da Zona Sul da cidade, situadas no entorno da Lagoa Rodrigo de Freitas. As comunidades foram deslocadas para um grande conjunto habitacional, a Cidade de Deus, ou CDD [4].
O processo de afastamento das comunidades pobres para a periferia no Rio de Janeiro não data apenas da década de 60, mas sim de um processo de higienização social iniciado no séc. XIX, com a tentativa do governo de deixar o Distrito Federal como uma Europa possível, inspirada em Paris. Porém, essa higienização apenas expulsou os pobres da região central, sem solucionar os problemas sociais, que se fazem presentes há mais de um século [5].
As 63 comunidades que foram agrupadas revelam a heterogeneidade dos moradores de Cidade de Deus, composta de operários, trabalhadores não-especializados, comerciantes, e profissionais liberais. O crescimento desordenado do conjunto habitacional propiciou o processo de favelização ao longo dos canais do Rio Grande e do Rio Estiva [4]. Essa transformação é mostrada no filme, juntamente com o aumento da criminalidade e do tráfico de drogas.
Fonte: https://bit.ly/2tByA8N
A intensa frequência com que a comunidade foi mostrada pela mídia com o sucesso do filme, reforçou o estigma sobre os moradores, associados à violência e ao perigo. Apesar de não abordado no filme, nos anos 70 e 80 surgiram no bairro associações de moradores, agremiações de samba [4], e outras manifestações culturais como a Revista Nós, o Grupo Cultural Projeto (teatro), Grupo Liderança Cristã da Igreja Pai eterno São José, o Grupo Perspectiva de Teatro, o Jornal O Amanhã, a ONG Taidokan Karate Club – Centro de Estudos de Artes Marciais, Grupo de Cinematografia do CIMPA, Grupo Acorda Crioulo, porta voz do Movimento Negro na Cidade de Deus, entre outras [6].
Abaixo, um poema escrito por um morador da comunidade em 2017, publicado pelo blog “CDD na Web”:
Você Sabe Quem Eu Sou
Eu sei que você me conhece
Você sabe quem eu sou
Não?
Então vou te lembrar
Eu sou aquele que te chama a atenção na faculdade
Ou melhor, aquele que não está numa faculdade
Eu sou aquele que senta no fundão
Aquele que entra por trás
Aquele que sempre está atrás
De você
Sem pejoratividade
Sem representatividade
Aquele que é difícil chegar na melhor idade
Eu sou o filho da empregada
O menino do sinal
O vendedor de bala
Aquele cujo futuro é uma hipótese afinal
Difícil de lembrar?
Então leia com atenção
Você sabe muito bem quem eu sou
Eu sou a mancha que suja sua visão.
– Jonathan Benedicto [7]
Acusado de retratar apenas a violência na comunidade, Meirelles se pronunciou: “(…) a gente não inventou aquela história. É como um espelho: a culpa não é do reflexo, é da realidade que está sendo refletida” [2]. De certa forma, o filme Cidade de Deus faz-se positivo ao denunciar a difícil realidade na comunidade em meio à violência, mas também negativo ao aumentar o estigma e o preconceito sofrido pelos moradores. Para tanto, é necessário que as narrativas cinematográficas dêem ênfase também à comunidade e aos projetos sociais realizados, como um meio de diminuir a violência, que quando encenada chocou o país em 2002.
Fonte: https://bit.ly/2E4a1WZ
Buscapé e sua arma que só disparava fotos
Ao fazer paralelos com reportagens exibidas pela televisão nos anos 80, o filme revela sua influência do gênero documental. Por ser inspirada na realidade vivida pelo autor do livro, a narrativa conta com personagens que existiram na realidade, como Zé Pequeno, Mané Galinha e Bené. E Buscapé, personagem narrador do filme, existiu na vida real? Ele realmente conheceu os maiores traficantes da comunidade?
Sim! Buscapé foi um personagem inspirado no fotógrafo free-lancer José Wilson dos Santos. As principais semelhanças com a vida de José no filme foram as tentativas frustradas em se tornar um assaltante, ter ficado no fogo cruzado entre quadrilhas rivais e o fato de ter conhecido os chefões do tráfico na Cidade de Deus. Uma das histórias que José também viveu foi o assalto no mercado em que trabalhava, e por não querer identificar nenhum dos assaltantes, foi demitido [8]
Após mais de 16 anos de lançamento do filme, os números da violência na Cidade de Deus são similares. Em 2002, ano de lançamento do filme, foram registradas 84 mortes violentas no bairro. Com a criação da Unidade de Polícia Pacificadora, as mortes foram reduzidas para 49 em 2010 e 2011, mas voltaram a subir nos anos seguintes, chegando a 99 em 2016 [9].
Fonte: https://bit.ly/2GKai5c
Dados clínicos e análises históricas demonstram o grande impacto do cotidiano do espaço habitado sobre a auto-estima, o corpo, a saúde o bem-estar psicológico e físico, bem como nos relacionamentos afetivos, profissionais e demais fatores envolvidos na qualidade de vida [10]. “As armas estão muito mais potentes, os bandidos são mais jovens que os antigos. Os antigos tinham certa sabedoria. Não estou defendendo, nem banalizando. Acredito que havia menos mortes antes do que hoje. A violência antes era menor que hoje”, declara o ator Alexandre Rodrigues, que interpretou o personagem Buscapé, ao G1 [9].
Cidade de Deus pode ser considerada uma das maiores obras do cinema nacional, seja pela sua importância na denúncia da violência, pelas atuações memoráveis, ou por, infelizmente, ainda retratar um cenário atual nas favelas do Rio de Janeiro. O envolvimento com a película deixou grandes marcas na vida de todos os envolvidos nessa produção, principalmente para os moradores, que vivem essa realidade no cotidiano. O espectador que desligar a televisão, o computador, ou sair da sala de cinema após ver o filme deve ter consciência disto: a comunidade Cidade de Deus vai muito além do que falam sobre ela.
FICHA TÉCNICA DO FILME:
CIDADE DE DEUS
Título original: Cidade de Deus Direção: Fernando Meirelles Elenco: Alexandre Rodrigues, Leandro Firmino, Seu Jorge, Alice Braga; País: Brasil Ano: 2002 Gênero: Drama
REFERÊNCIAS:
[1] MURARO, Cauê. Quase lá: relembre indicações do Brasil ao Oscar; país nunca ganhou. G1. 2015. Disponível em: <http://g1.globo.com/pop-arte/oscar/2015/noticia/2015/02/quase-la-relembre-indicacoes-do-brasil-ao-oscar-pais-nunca-ganhou.html>. Acesso em: 22 fev. 2019.
[2] RIBEIRO, Paulo Jorge. “Cidade de Deus” na zona de contato: Alguns impasses da crítica cultural contemporânea. Revista de crítica literaria latinoamericana, p. 125-139, 2003. Disponível em: < http://as.tufts.edu/romlang/rcll/pdfs/57/9-RIBEIRO.pdf>. Acesso em: 21 fev. 2019.
[3] PENKALA, Ana Paula. Cidade de Deus e o olhar documental: Estratégias formais para a denúncia da violência. XI Colóquio Internacional sobre a Escola Latino-Americana de Comunicação, 2007. Disponível em: < http://www.academia.edu/download/3371043/99l8hhz0sgzhb7t.pdf>. Acesso em: 21 fev. 2019.
[4] CDD NA WEB (Rio de Janeiro) (Ed.). História da Cidade de Deus. 2015. Disponível em: <http://cddnaweb.com.br/28/>. Acesso em: 22 fev. 2019.
[6] WELLINGTON MORAES FRANÇA (Rio de Janeiro). REVISTA NÓS da CDD: Não estávamos sós na CDD dos anos setenta e oitenta!. 2012. Disponível em: <https://revistanosdacdd.blogspot.com/search?updated-max=2013-10-27T00:36:00-07:00&max-results=7>. Acesso em: 22 fev. 2019.
[7] BENEDICTO, J. Você Sabe Quem Eu Sou. In: CDD NA WEB. 2017. (Rio de Janeiro) (Ed.). Disponível em: <http://cddnaweb.com.br/voce-sabe-quem-eu-sou/>. Acesso em: 22 fev. 2019.
[8] ALVES FILHO, Francisco; MAGNO, Carlos. Fotógrafo, José Wilson dos Santos inspirou o personagem Buscapé, de Cidade de Deus.2017. ISTOÉ Cultura. Disponível em: <https://istoe.com.br/21469_IDENTIDADE+REVELADA/>. Acesso em: 22 fev. 2019.
[9] TORRES, LÍvia; TITO, FÁbio; GRANDIN, Felipe. Filme ‘Cidade de Deus’ faz 15 anos em meio a aumento da violência na comunidade: ‘Convulsão social’, diz ‘Zé Pequeno’. G1 Rio de Janeiro. 2017. Disponível em: <https://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/filme-cidade-de-deus-faz-15-anos-em-meio-a-aumento-da-violencia-na-comunidade-convulsao-social-diz-ze-pequeno.ghtml>. Acesso em: 22 fev. 2019.
[10] VASCOCELOS, N. A. Qualidade de Vida e Habitação. In: DE FREITAS CAMPOS, Regina Helena. Psicologia Social Comunitária: da solidariedade à autonomia. Editora Vozes Limitada, 2017.