Expectativas sobre as relações e novas maneiras de viver

Heloysa Dantas Martins – lolo@rede.ulbra.br

 

À medida que as gerações vão passando novas maneiras de viver vão sendo estabelecidas, e as antigas percepções vão se transformando, mas ainda sim, quando se trata de relacionamentos amorosos, muitos de nós somos levados a acreditar que a nossa felicidade terá início quando encontrarmos alguém para passar o resto de nossas vidas, e isso pode nos levar a pensar que uma vez que encontramos esse alguém, nossa satisfação enfim será concretizada. Muitos de nós ainda somos levados pela ideia de que o sucesso, no âmbito relacional, está associado à formação daquilo que conhecemos como a família tradicional (pai, mãe e filhos), e tudo o que foge desse padrão acaba sendo taxado como um fracasso pessoal.

O Filme “Ele não está tão a fim de você” originalmente conhecido como “He’s just not That into you”, dirigido por Ken Kwapis e lançado nos cinemas no ano de 2009 veio para trazer uma reflexão de maneira leve e até certo ponto cômica sobre esses padrões estabelecidos sobre a vida amorosa. O filme vai contar quatro histórias diferentes que estão ao mesmo tempo interligadas, nelas encontramos Gigi, interpretada por Ginnifer Goodwin, que é uma romântica incurável buscando encontrar o grande amor da sua vida, nessa busca acaba se tornando amiga de Alex, interpretado por Justin Long, logo após não receber a ligação de Connor um cara que ela saiu na semana anterior, Alex apresenta a ela uma visão mais realista sobre relacionamentos amorosos e como eles funcionam. Também conhecemos a história de Beth e Neil, interpretados respectivamente por Jennifer Aniston e Ben Affleck que namoram há sete anos, Beth sempre demonstrava desejo pelo casamento, mas Neil nunca concordou com a ideia. As outras duas histórias que conhecemos são as de Connor (Kevin Connolly) que é apaixonado por sua amiga Anna (Scarlett Johansson), uma cantora que o vê apenas como um bom amigo, Anna por sua vez acaba se interessando por Ben (Bradley Cooper) que está casado com Janine (Jennifer Connelly).

Fonte: Divulgação HBO

Trazendo um enfoque na história da Gigi e da Janine, podemos refletir um pouco sobre os diferentes processos emocionais na vida de ambas as personagens. Vemos que a busca de Gigi desde sempre foi estabelecer uma relação amorosa algo que já havia se estabelecido na vida de Janine, que era casada com um homem dentro dos padrões de beleza e aparentemente bem sucedido financeiramente, ou seja, estava em uma relação que se encontrava dentro dos padrões construídos socialmente, mas mesmo assim não se via satisfeita devido vários problemas matrimoniais que possuíam.

Janine se coloca em um lugar de lutar pelo casamento, acreditando na melhoria da fase que se encontravam, isso é muito comum, pois uma vez que estamos em uma relação aquela realidade na maioria das vezes é considerada como nossa homeostase, ou seja, nosso equilíbrio e uma vez que isso precisa ser quebrado, nosso equilíbrio também precisará ser refeito, e nós naturalmente buscamos nos esquivar disso.

No final esperamos por vários desfechos, sendo que alguns personagens acabam conseguindo o que queriam, Gigi por exemplo encontra aquilo que ela tanto buscava, um grande amor, Beth é finalmente pedida em casamento por seu namorado Neil. Mas quando olhamos para o desfecho de Janine somos tentados a pensar que foi algo triste, pois o casamento que ela estava tentando “fazer dar certo” acaba chegando ao divórcio após a descoberta de uma traição.

Da mesma maneira, trazemos essas interpretações para a realidade que nos cerca ao impor que a satisfação e felicidade está em um relacionamento e acabamos perdendo a percepção de que muitas vezes há uma maior felicidade em fins do que em começos. Como por exemplo, alguém que há tempos se encontra sem saída dentro de algum relacionamento tóxico, o sentimento de realização ao conseguir sair dele pode vir a ser muito maior do que o de alguém que está prestes a se casar.

Fonte: Divulgação HBO

Não podemos nos encaixotar em ideias tão simplistas na construção da satisfação emocional e achar que apenas um modelo estático pode trazer essa felicidade, mas assim como apontado no filme devemos entender que cada pessoa vive um processo diferente, e buscar a cada dia mais nos afastar da ideia de que existe um modelo de relacionamento ideal e até mesmo de um momento ideal para entrar em um relacionamento, o que precisamos fazer é sempre levar em consideração que cada pessoa possui uma história de vida diferente, logo cada um terá processos diferentes.

Essa mudança de pensamento vem a partir das nossas reflexões sobre a realidade e a flexibilidade dos conceitos a nós apresentados ao decorrer da vida, por isso precisamos refletir sobre a rigidez dos padrões a nós apresentados e abrir portas para novos modelos de realidade.