Por meio das vivências de seis indivíduos vibrantes, o documentário revela a plenitude da vida após os 60 anos, demonstrando como a rotina pode ser repleta de atividades e bom humor
O documentário “Envelhecência” mergulha profundamente na complexa e multifacetada experiência do envelhecimento. Com uma mistura envolvente de histórias pessoais e análises de especialistas, o filme oferece uma visão abrangente e perspicaz das diversas facetas desse estágio da vida. Através de relatos comoventes de indivíduos idosos e suas famílias, o documentário aborda uma variedade de questões enfrentadas pela população idosa, desde desafios de saúde até questões emocionais e sociais. São explorados temas como a solidão, a busca por propósito e significado na terceira idade, e as dificuldades enfrentadas para se manterem socialmente ativos e engajados na comunidade.
“Envelhecência” também oferece percepções valiosas de profissionais da área da saúde, psicologia e assistência social, que compartilham suas experiências sobre como lidar com os desafios específicos enfrentados pelos idosos. Dentre tais assuntos, o filme destaca a importância da conexão intergeracional e da valorização da sabedoria e experiência dos mais velhos na sociedade contemporânea. Ao longo do documentário, somos levados a refletir sobre como podemos criar ambientes mais inclusivos e solidários para os idosos, promovendo sua qualidade de vida e respeitando sua dignidade. “Envelhecência” nos inspira a reconhecer o valor intrínseco da velhice e a redefinir nossas percepções sobre o envelhecimento, oferecendo uma poderosa celebração da vida em todas as suas fases.
Casos da vida real
O documentário explora o conceito de envelhecimento com vitalidade e liberdade, mergulhando na revolução da longevidade e seu impacto tanto individualmente quanto na sociedade. Através de narrativas inspiradoras, o filme destaca pessoas que desafiam as expectativas sociais, encontrando alegria e realização em atividades como corrida e surfe, independentemente da idade. Enfatizando a importância da atividade física para a saúde e a superação das limitações associadas ao envelhecimento, ele também compartilha histórias tocantes de perseverança e autodescoberta. “Envelhescência” encoraja uma vida vivida segundo os próprios termos, incentivando a quebra de tabus e estereótipos sociais sobre o envelhecimento.
Judit Gaggiano exibe um corpo adornado com tatuagens e mais de 20 piercings, enquanto compartilha momentos em um moto clube ao lado de seu filho. Após escapar de um relacionamento abusivo, a morte do esposo desencadeou uma transformação profunda em Judit. Ela emergiu como uma versão completamente diferente de si mesma. Decorando seu corpo com tatuagens e piercings, trocando o blazer por uma jaqueta de couro, e se integrando a um moto clube, ela abraçou uma nova identidade com fervor.
Aos 84 anos, Oswaldo Silveira, maître de profissão, mantém uma rotina disciplinada ao acordar cedo todos os dias para calçar seus tênis e enfrentar de 10 a 15 quilômetros de corrida antes do trabalho. Em seu relato, ele compartilha as dificuldades de sua infância, marcada pela perda precoce da mãe, o que resultou na separação dos irmãos ao redor do Brasil. Iniciando sua jornada profissional aos 10 anos como garçom, ele gradualmente ascendeu a barman e hoje continua como maître. Desde tenra idade, Oswaldo demonstrou paixão pelos esportes, especialmente corrida e futebol. Aos 50 anos, decidiu abandonar o futebol para se dedicar inteiramente à corrida, rapidamente se destacando como maratonista.
Ono Sensei, mestre de Aikidô, entra em sua nona década com a destreza e agilidade de um jovem, continuando a lecionar sua arte marcial com maestria. Sua vida é marcada por uma atitude ativa e saudável, estendendo-se além das práticas marciais. Além de ser um mestre de Aikidô, Ono Sensei também é acupunturista e dedica-se a ensinar técnicas de respiração diárias, com sessões que duram duas horas. Desde cedo, ele reconheceu a fugacidade da vida e a importância de mantê-la ocupada. Sua filosofia de vida reflete a crença de que a verdadeira felicidade reside na ocupação constante e significativa do próprio tempo.
Mesmo aos 74 anos, Luiz Schirmer continua a desafiar os céus com a mesma paixão que o impulsionou desde a adolescência: o paraquedismo. Em uma idade em que muitos optam por atividades mais calmas e seguras, Schirmer destaca-se ao persistir nessa aventura extraordinária. Cada salto é um testemunho não apenas de sua coragem e determinação, mas também de sua vitalidade e espírito indomável. É um exemplo inspirador de como a idade não precisa ser um obstáculo para perseguir paixões e conquistar novos horizontes.
Edmea Corrêa descobriu sua paixão pelas ondas após ultrapassar a metade de um século de vida. Aos 58 anos, iniciou sua jornada como surfista motivada pelo filho, que aos 24 anos enfrentou uma doença rara que o deixou cego. Inspirada por um projeto de surf adaptado para pessoas com deficiência visual, Edmea decidiu experimentar as ondas junto com seu filho. Desde a primeira aula, foi um encontro transformador. Ela se apaixonou pelo surf instantaneamente, descrevendo-o como “amor à primeira onda”.
Edson Gambuggi, aos 76 anos, tornou-se calouro na faculdade de Medicina, realizando um sonho que fomentou ao longo de toda sua vida. Apesar das tentativas durante sua juventude, as dificuldades do processo e as responsabilidades familiares o levaram a adiar esse objetivo. Em 1971, optou por cursar Direito, buscando estabilidade financeira e uma melhor qualidade de vida para sua família. No entanto, com a chegada da aposentadoria, o tempo ocioso trouxe à tona o desejo inabalável de estudar medicina. Para Edson, essa jornada representa não apenas a busca por conhecimento, mas também a realização de um propósito adiado por décadas.
O receio do envelhecimento é algo comum a todos nós, mas é mais recompensador aceitar esse processo em vez de lutar pela perfeição e juventude eterna. Envelhecer é uma parte natural e inevitável da vida e, embora apresente desafios, devemos sempre considerar a alternativa – morrer jovem, mesmo velho. Para tal, faz-se necessário manter um senso de humor e vitalidade, pois isso nos permite surpreender os outros e manter conexões sociais vivas. Oswaldo, por exemplo, destaca os benefícios da corrida e como ela contribui para uma vida longa e saudável. A sensação de realização e triunfo ao completar uma maratona é descrita por ele como indescritível, trazendo orgulho e impulsionando a autoestima. Abraçar o processo de envelhecimento e manter uma mentalidade positiva pode levar a uma vida gratificante e satisfatória.
O segredo, segundo “Envelhecência”, reside em concentrar-se na busca por interesses e em manter uma qualidade de vida elevada ao longo de toda a jornada, inclusive na velhice. Devemos evitar nos sentir perdidos ou inativos e é essencial aproveitar ao máximo o tempo que nos é dado, resistindo à ideia de nos considerarmos “velhos” prematuramente. Devemos valorizar a importância de permanecer ativos, buscando a felicidade e realizando atividades que nos tragam alegria. Faz-se importante lembrar também, que a velhice é uma etapa universal da vida, inevitável para todos, independentemente de outros aspectos sociais. Assim, é fundamental que construamos desde já uma base sólida para um envelhecimento futuro pleno e gratificante.
FICHA TÉCNICA
Um documentário de ProacSP (Incentivo de Cultura do Estado de São Paulo)
Direção: Gabriel Martinez
Produção: Samarah Kojima
Direção de fotografia: Daniel Dias
Montagem: Caio Rodrigues
Duração: 1:24:00
Disponível em:<https://www.youtube.com/watch?v=i4cLyLdK5EA>