No último mês de junho a Rádio Band News FM (uma das líderes de audiência no estado do Rio de Janeiro) chamou a atenção, em sua programação matinal, para o lançamento de um livro direcionado ao público infantil, de título curioso: o Livro vermelho das crianças. A obra, divulgada pelo Canal Ciência do Ibict, faz parte das comemorações pelo Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado no dia 5 de junho.
As informações veiculadas na rádio cumpriram seu papel: aguçaram a curiosidade. Daí, a motivação para a elaboração desta resenha. Além da análise do próprio livro em questão, outras matérias e teóricos complementam este breve artigo.
O Livro vermelho: uma abordagem para crianças
O livro conta com a cooperação da UNESCO através de um projeto, que visa “atualizar e implementar processos organizacionais e de Gestão da Informação em Ciência, Tecnologia e Inovação, para consolidar as políticas públicas de descentralização e democratização da produção e do acesso aos conhecimentos científicos e tecnológicos”, afirma uma nota introdutória.
O trabalho conta com a autoria e coordenação de Otávio Borges Maia, Analista em Ciência e Tecnologia do Ibict, e Tino Freitas, jornalista e escritor infantojuvenil. As 76 ilustrações tem uma particularidade: foram realizadas por crianças de diversas regiões do Brasil, que participaram do Concurso de Desenhos Infantojuvenis “Animais em Perigo”, realizado em 2014.
Segundo Cecília Leite Oliveira, diretora do Ibict, “os livros infantojuvenis são valiosos parceiros da divulgação científica, pois oferecem informação e conhecimento, influenciando a conscientização do leitor sobre temáticas de relevante interesse da sociedade” (MAIA; FREITAS, 2015, p. 13).
Uma das ideias é fazer com que as crianças tenham mais proximidade com as espécies e a terminologia utilizada para a avaliação de seu estado de conservação. “Os objetivos são alcançados por meio de conteúdo produzido em linguagem de fácil compreensão, adequada aos estudantes de ensino fundamental”, ressalta Cecília, na apresentação da obra.
Produzir para crianças: um desafio
O autor e coordenador Otávio Maia afirmou ao site O eco que a concepção da obra não foi uma tarefa simples: “produzir o livro foi tão desafiador e exaustivo quanto escrever ou adequar os textos lúdicos à luz da zoologia, da biologia da conservação e da divulgação científica”.
Ainda segundo o site, o livro terá a impressão de mil exemplares, que serão distribuídos gratuitamente entre os participantes do concurso de desenhos. Já as instituições interessadas em utilizar ou distribuir a publicação deverão solicitar ao Ibict autorização de reprodução da obra original e arcar com os custos de impressão e distribuição. A ênfase, no entanto, é a distribuição gratuita. A versão digital já está disponível através do endereço livroaberto.ibict.br.
Antes das narrativas principais existem definições que são pertinentes ao entendimento do leitor. Perguntas do tipo Você sabe o que é o Livro Vermelho? O que é uma espécie da fauna ameaçada de extinção? O que é uma Lista de Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção? e Por que a Lista de Espécies Ameaçadas é importante? constam na parte inicial da obra.
Em matéria publicada no site EBC, Maia, que também é conteudista do Canal Ciência, explica que a ideia de um livro sobre as espécies ameaçadas surgiu em 2012, enquanto selecionava desenhos para outra publicação do Ibict, o Vocabulário Ambiental Infantojuvenil. “Após encantar-me com dezenas de desenhos feitos pelas crianças da Escolinha de Criatividade (Biblioteca Pública) sob a batuta da professora Beatriz Almeida e sua trupe docente liguei para Tino Freitas e disse algo como: ‘precisamos fazer um livro sobre as espécies ameaçadas de extinção. Temos desenhos sensacionais aqui!’ (VERDÉLIO, 2015).
A publicação também apresenta explicações, curiosidades e citações de autores como Guimarães Rosa, Helmunt Sick, Manoel de Barros e Orlando e Cláudio Villas Bôas. Há também “um desenho feito por um dos filhos do naturalista britânico Charles Darwin no verso de uma das folhas do manuscrito original A Origem das Espécies, de 1859, livro que apresenta a teoria da evolução”(VERDÉLIO, 2015).
Sobre o que seria, de fato, a versão tradicional do Livro Vermelho, o autor salienta que se trata de uma publicação organizada a partir de uma lista de espécies ameaçadas de extinção, reunindo diversas informações científicas, com o objetivo de informar e alertar a sociedade sobre aquelas que correm o risco de desaparecer (MAIA; FREITAS, 2015, p. 15).
Considerações finais: algumas concepções sobre divulgação científica
Clareza, simplicidade a partir de frases curtas e planejamento sobre o conteúdo que será produzido são alguns dos pontos abordados por Oswaldo Frota-Pessoa (2003, p. 58-59) como relevantes para a compreensão do leitor. O Livro vermelho das crianças é apresentado a partir de boa estrutura textual e elementos imagéticos, que auxiliam a compreensão do conteúdo proposto. Lembremos que as ilustrações foram feitais por crianças, emprestando ainda mais identificação aos interlocutores.
Outros critérios que atribuem qualidade às publicações destinadas à divulgação científica também podem ser lembrados aqui, tais como: conhecimento sobre o público; função educativa do texto; motivação de novos interesses; valorização do pesquisador e o benefício da população (DESTÁCIO, 2003, p.72-78).
Em seu artigo intitulado Ciência, escrita e responsabilidade, Mauro Celso Destácio ressalta que “divulgar ciência por meio da escrita não se resume a colocar em palavras fáceis conceitos provenientes do meio científico” (2003, p. 71).
Para Destácio, cabe ao divulgador científico procurar recursos pelos quais se deixe claro ao público que a ciência é o pilar vital da sociedade e da humanidade, buscando fazer vislumbrar ao leitor as perspectivas futuras (2003, p. 74). Parece que o Livro vermelho das crianças, através de suas narrativas e imagens, cumprirá bem esta função.
Iniciativas, como a que foi analisada aqui, poderiam se repetir com mais frequência, uma vez que se caracterizam como instrumentos de propagação de assuntos que, por vezes, parecem distantes do público em geral. Transformar informações complexas para o universo infantojuvenil requer, além de prática, sensibilidade.