Concorreu com 3 indicações ao OSCAR:
Melhor atriz, Melhor Ator Coadjuvante e Melhor Roteiro Adaptado
Baseado em fatos reais, o filme ‘Poderia me Perdoar?’ conta a história de Lee Israel, de 51 anos, jornalista e escritora que passa por problemas financeiros e encontra a saída em um negócio um tanto quanto duvidoso: falsificação de cartas literárias de escritores proeminentes. Inicialmente o negócio tem grande sucesso, mas logo começam a surgir os primeiros problemas, o que faz com que Lee procure uma nova forma de continuar lucrando, e acaba enroscada por um emaranhado de teia sem saída.
Lee já foi uma escritora de sucesso, mas na trama a protagonista experimenta o sabor amargo da ruína, sem nenhum insight para um novo livro atrativo, assim como sem prestígio na editora em que faz parte; acaba circulando de bar em bar. Com um humor lamurioso, Israel não acredita nem no seu próprio potencial, vive em uma casa com mínima higiene, e de modo a preferir uma casa cheia de gatos, ao invés da companhia de alguém.
Desempregada, com seu gato de 12 anos doente e com 3 meses atrasados de aluguel, Lee vê a saída da funesta condição financeira, e para isto teria de falsificar cartas de autores famosos. Inicialmente, de modo receoso tenta vender a primeira carta, e diante do alto valor recebido, decide continuar forjando. Isto por que Lee tinha míseros inteiros 14 dólares em sua bolsa, e a primeira carta lhe proporcionou ter 175 dólares pela venda, o que é visto com empolgação e combustível para a prática, sem se preocupar tanto com o cunho moral de seus atos.
Sentido no trabalho: encontrando sentido de vida na prática ilegal
As sociedades antigas designaram trabalho usando o termo tripalium – antigo instrumento de tortura –, isto por que perceberam que o trabalho muitas vezes era uma prática de tortura. Logo, trabalho não era visto como um ato de liberdade, muito pelo contrário, filósofos como Platão e Aristóteles associavam o trabalho ao sentido de necessidade, e a necessidade o faz se tornar obrigatório. Geralmente o que se é obrigatório tem como consequência a retirada de prazer da prática (ENRIQUEZ, 1999). Tal cenário é perceptível na vida de Lee. Sem grandes perspectivas em sua carreira de escritora, se vê obrigada a trabalhar em um ambiente em que não gostaria de estar, que visivelmente não a faz feliz, mas se sujeita devido à necessidade par ter o mínimo para conseguir viver.
Pode-se notar, também, que Lee vive em estado de estresse, o que pode ser explicado pela sua situação financeira, dificuldades nos relacionamentos com os colegas de trabalho, o ‘abandono’ da ex-companheira, a falta de valorização por parte de sua editora, assim como o bloquei da escrita criativa. Segundo Guevara & Dib (2005, p.209), as situações acima, geralmente causam falta de perspectiva e de motivação e isto “vêm afetando diretamente o dia-a-dia das pessoas e empresas, produzindo stress físico e intelectual e doenças afetivas que terminam minando a saúde pessoal e organizacional”.
Dessa forma, para favorecer a saúde da empresa e do trabalhador, se faz necessário a construção de qualidade de vida no trabalho. Vasconcelos (2001) lista alguns fatores que abrangem a QVT, são estes: vida emocional satisfatória; autoestima; oportunidades e perspectivas de carreira; e possibilidade de uso do potencial. Indo de encontro com Lee, é mostrado no filme, uma mulher com conflito emocional, com autoestima baixa, sem perspectiva de carreira na empresa em que trabalha, assim como na editora em que faz parte. É visto, também, que o local de trabalho não possibilita uso de artifícios para aflorar seu potencial.
Outro fator bem importante para ter uma boa QVT é a construção de comunicação. Para Torquato (2007), uma boa comunicação contribui para a melhoria no ambiente de trabalho, assim como na valorização pessoal do trabalhador. No filme é notado que Lee não tem boa comunicação com seus colegas de trabalho, de modo a falar em tom grosseiro, o que resulta em sua demissão abrupta, e é descartada como um objeto qualquer.
A força humana de trabalho é descartada com a mesma tranquilidade com que se descarta uma seringa. Assim faz o capital, e há então uma massa enorme de trabalhadores e trabalhadoras que já são parte do desemprego estrutural, são parte do monumental exército industrial de reserva que se expande em toda parte. Essa tendência tem se acentuado, em função da vigência do caráter destrutivo da lógica do capital, muito mais visível nesses 20, 30 anos (ANTUNES, 1999, p. 200).
No entanto, diante de sua decadência financeira, apesar de ser um ato ilegal, Lee encontra sentido para a vida. De acordo com Vitor Frankl o homem tem capacidade e poder de transformação de perceber infinitas possibilidades no caos. A logoteoria de Frankl acredita que “um homem está disposto a viver por um sentido e por um valor, e mais, está disposto a expor sua vida por eles”. Lee se sente motivada com o prestígio pessoal e financeiro inicial, mesmo sabendo que é um ato ilegal se mostra disposta a se expor ao perigo de ser condenada, pois encontra sentido para viver.
FICHA TÉCNICA DO FILME:
PODERIA ME PERDOAR?
Título original: Can you ever forgive me?
Direção: Marielle Helle
Elenco: Melissa McCarthy, Richard E. Grant, Julie Ann Emery, Jane Curtin
Ano: 2018
País: EUA
Gênero: Drama, Comédia , Biografia
Referências:
GERHARDT, F e ATHAYDES, A. A Influência da Comunicação Interna na Qualidade de Vida dos Colaboradores. Acessado em < http://www.intercom.org.br/papers/regionais/sul2009/resumos/R16-0831-1.pdf > no dia 24/02/2019.
GUEDES, K. e GAUDÊNCIO, E. TRABALHO E LOGOTEORIA: ANÁLISE EXISTENCIAL DA SITUAÇÃO DE DESEMPREGO. Acessado em < http://www.periodicos.ufpb.br/index.php/le/article/viewFile/12569/8063 > no dia 24/02/2019.
AQUINO, P. e CAGOL, F. O SENTIDO DE VIDA NO TRABALHO: CONTRIBUIÇÕES DA LOGOTEORIA PARA A QUALIDADE DE VIDA DO TRABALHADOR. Acessado em < http://www.periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/le/article/download/17269/10095 > no dia 24/02/2019.