The Boys: Heróis Ou Vilões?

“Os heróis são aqueles que tornam magnífica uma vida que já não podem suportar.” – Jean Giraudoux

Imagine heróis fora do comum, não apenas por terem super poderes, salvarem vidas e fazerem do mundo um lugar melhor. Heróis contemporâneos, controlados por uma grande corporação, que pensa nos heróis como algo rentável, cuidam do marketing para eles gerarem filmes, produtos com sua marca e procuram gerenciar toda a vida dos superes, desde sua popularidade com as pessoas, até tentam reparar seus erros na sociedade.

Esses são os heróis retratados na nova série da Amazon Prime Video. The Boys é uma série adaptada dos quadrinhos de Garth Ennis e Darick Robertson, é tida como uma das mais polêmicas e mais criticadas séries de 2019. Mesmo que não seja nem tão violenta e nem tão política quanto os quadrinhos em que é baseada, The Boys ainda assim é uma série que contempla muita tragédia e ao mostrar de forma explícita como heróis podem ser vítimas de violência extrema, ao mesmo tempo em que não se esquivam de discutir questões sociais importantes associadas à cultura de heróis. (FALANGE, 2019).

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No início a narrativa aparenta ser uma boa e velha adaptação de super heróis, contudo quanto mais se assiste, mais se percebe que os heróis na verdade podem ser os verdadeiros vilões da história. O que não seria nada mal em um mundo com muita violência, corrupção e injustiça, mas o que choca mesmo no enredo é o fato de que as pessoas parecem precisar dessa “esperança” que os heróis pregam e não importa tudo de ruim que façam, desde que no fim salvem o dia e possam postar fotos.

É inegável o fato de que os super hérois viraram moda, e embora eles sejam retratados como figuras grandiosas e repletas de moral, nem sempre suas performances foram dignas de heroísmo. Mas porque eles são tão atrativos nos dias de hoje, mesmo após péssimas adaptações de suas histórias ou quando eles não são retratados como super herois? Isso se deve ao fato deles carregarem a bandeira do bem e se consideram acima do mal.  Porém, seria errado imaginar que todos tenhamos um lado sombrio? Obscuro, que absorva o lado egoísta e primitivo de nossa personalidade? Jung categorizou a sombra como um dos principais arquétipos do inconsciente.

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Dentro da perspectiva do desenvolvimento simbólico, e através do conceito unificado de sombra, vista na dimensão religiosa como pecado; na jurídica, como crime; na médica, como sintoma; na ciência, como erro; e na dimensão ética, como o mal (BYINGTON, 2006). Segundo Oliveira (2010), aquilo que rompe o papel instituído na coletividade e vivido na subjetividade se configura como o mal, o amoral e a sombra, o que não é aceito pela consciência. Assim, no mundo real ela é reconhecida na violência, na guerra, na exclusão e na criminalidade.

Na mitologia o herói seria o guardião, o defensor, o que nasceu para servir. Já na linguagem contemporânea ele tem o sentido de guerreiro, está ligado à luta e as outras funções como a adivinhação, a fundação de cidades além de introduzir invenções aos homens, como a escrita e a metalurgia. (BRANDÃO, 1987). Para Jung (1975) o herói seria o mais nobre de todos os símbolos da libido, a idealização de um ser física e espiritualmente superior aos homens, que o representaria em sua totalidade arquetípica. Por mais que tenhamos ideia de como é ou deveria ser um herói, para a Psicologia Analítica, somos nós que construirmos o nosso próprio arquétipo de herói com base em nossas vivências pessoais.

Os heróis da série retratam apenas o que pensamos ou fazemos nos dias de hoje, um mundo com pessoas mais ricas e poderosas do que outras e que são protegidas por grandes corporações, que controlam a mídia, o governo e até a justiça. e se preocupam apenas com a imagem que transmitem na frente das câmeras. Para Aristóteles (2007), no fim, quem escolhe e tenta combater um mal que ninguém imagina, são apenas pessoas tidas como “normais”, eles arregaçam as mangas para expor a fraude que são os “heróis” e o resultado não podia ser nada bom.

FICHA TÉCNICA

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Título Original: The Boys

Direção: Dan Trachtenberg, Jennifer Phang, Philip Sgriccia.

Elenco: Erin MoriartyKarl UrbanChace CrawfordAntony Starr.

Gênero:  Ação,Drama, Ficção Científica.

País: EUA

Ano: 2019

 

REFERÊNCIAS:

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. 2ª edição. Tradução Edson Bini. Bauru, SP: Edipro, 2007.

BRANDÃO, J.S. Mitologia grega. Rio de Janeiro, Petrópolis. Vozes, 1987.

BYINGTON. C. A. B. Psicopatologia Simbólica Junguiana.

FALANGE. [Crítica] The Boys: Que Morram Os Heróis. 2019. Disponível em: https://falange.net/critica-the-boys/. Acesso em: 14 de agosto de 2019.

JUNG, C.G. The practice of psychoterapy. Princenton: Princenton University Press, 1975. 2nd edition.

OLIVEIRA. A. W. SOCIEDADE E SOMBRA: EXPRESSÕES NA CRIMINALIDADE. 2010. Disponível em: http://www.symbolon.com.br/artigos/SOCIEDADE%20E%20SOMBRA-%20ALINE%20WERLE%20DE%20OLIVEIRA.pdf. Acesso em 15 de agosto de 2019