Tropa de Elite: um retrato do adoecimento gerado pelo poder

Giovanna Bernardo Serra (Acadêmica de Psicologia) – giovannabernardo@rede.ulbra.br

Em Outubro de 2007 chegou às telas do cinema brasileiro um dos filmes que marcou a cinematografia nacional, o filme “Tropa de Elite – Missão Dada é Missão Cumprida”. A película policial foi dirigida por José Pardilha, roteirizado juntamente com Braulio Mantovani e Rodrigo Pimentel e produzido por Marcos Prado conta a história pelo ponto de vista do Capitão Nascimento das operações do BOPE na cidade do Rio de Janeiro.

Por diversas vezes o filme retrata o adoecimento psíquico desse profissional que sua recusa ir em busca de um tratamento e ajuda devido a diversos motivos, podemos interpretar como alguns desses motivos como a organização policial é feita no Brasil e a cultura machista que perpetua a ideia de que pedir ajuda é sinal de fraqueza.

                                                                                                       Fonte: pixabay.com

 

Desde o início da criação do Estado fez-se necessário o surgimento de formas que regularizem o comportamento em sociedade para que o crescimento e organização se expandisse a medida que a sociedade tomasse novas proporções, sabemos que no Brasil os caminhos da história nos trouxeram para o quadro em que o Governo é nosso mediador nessa organização, sobre isso Tavares dos Santos (2012) aponta que a constituição da governabilidade estabelece-se a partir das práticas de poder e Foucault (1996) vai pontuar dois principais exercícios de poder: a Razão de Estado e a Polícia. Nessa visão entendemos que a polícia vai estar ligada à expansão do poder do Estado e a medida que ambos vão crescendo o poder que está em suas mãos também vai crescendo, e com isso a polícia que era vista como símbolo de justiça, igualdade, proteção em que enxergava como principal objetivo a vivência dos homens começa a se corromper e passa a buscar interesses não mais voltados para o bem comum social.

                                                                                                     Fonte: pixabay.com

 

Com isso o poder e proteção se transformam em violência que acaba por ser normalizada na cultura brasileira. José Padilha, diretor do filme, em entrevista dada ao canal do YouTube “Trip TV” aponta que um dos objetivos que buscava passar na trama era mostrar a violência presente no meio policial, não como forma de apoio e sim de barbaridade, diz ainda que o Brasil acabou por perder o senso do absurdo, em suas palavras diz que “as pessoas para assaltar uma bicicleta esfaqueiam, fazendo um paralelo, se estivessemos em Nova York e alguém fosse esfaqueado Nova York iria fechar, porque o sujeito de lá consegue ver o absurdo, mas a gente não consegue ver o absurdo”.

Podemos ainda somar a essas questões que o indivíduo que ingressa nessa atuação acaba por não buscar ajuda, Costa et al (2020) mostra em sua pesquisa que a maioria dos profissionais com o tempo passam a adquirir hábitos que não possuíam antes como fumo e consumo exagerado de álcool, além de problemas cardiovasculares, mas sem busca de um tratamento adequado. Parte disso pode-se dizer que é pelo medo de perder sua posição na profissão e

assim seus status de poder.

Referências

(1996) Michel Foucault, um pensador das redes de poder e das lutas sociais. Revista Educação, Subjetividade e Poder, Porto Alegre, NESPE/ PPG-Educação da UFRGS, Ed. UNIJUI, 3: 7-16, janerio-junho.

Tavares dos Santos, José Vicente. A arma e a flor: formação da organização policial, consenso e violência. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, IFCH , Departamento de Sociologia, Rio Grande do Sul, Brazil. Junho, 2012.

Costa, Francis Ghignatti da. et al. Qualidade de vida, condições de saúde e estilo de vida de policiais civis. Junho, 2020.